Minha história com esse livro é uma sucessção de “milagres”.

Eu o encontrei em um sebo. Na verdade, em uma livraria evangélica que estava vendendo uns livros do irmão que a havia arrendado. Estranhamente, um irmão que aprecia muito o autor deste livro, Watchman Nee. Curioso…

Bem, o livro é muito feio. Uma capa com nuvens verdes (!) e miolo em papel jornal. Ar de livro velho, muito velho. Mas como era de Watchman Nee, eu o comprei.

Ele ficou guardado em minha estante até que, um dia, sem nada para ler, bati com os olhos nele. Comecei a devorá-lo.

Nessa época, eu estava saindo do movimento da igreja local (Árvore da Vida, Witness Lee, Dong Yu Lan…). Por isso, eu passava por um perí­odo de extrema luta espiritual, de muitas dificuldades exteriores, perseguições por parte de irmãos, questionamentos em relação a minha vida toda com o Senhor e com aquilo que eu cria e praticava. Mas, de maneira muito doce e profunda, Ele me foi conduzindo passo a passo, bem como a outros irmãos que passavam pela mesma situação, por meio das mensagens do livro.

Ele discorre sobre o ministério de Pedro, de Paulo e de João, sobre suas características peculiares e como se complementam. A cada um desses homens Deus comissionou algo específico, que é complementado pelos demais. Naquela época, isso foi uma afirmação muito salvadora, pois eu ouvia do líder da denominação a que eu pertencia que Paulo havia falhado e que João, sim, era “o” homem… É que o tal apóstolo se comparava a João… Ele chegou a dizer que, se pudesse mudar de nome, adotaria o de João.

Detalhando cada ministério, Nee destaca em Pedro a pregação do evangelho, o alcançar das pessoas. O capítulo “Jesus, o amigo dos pecadores” é alguma das coisas mais ternas, doces, libertadoras e profundas que já tive o prazer de ler. Já li esse capítulo, sem exagero, pelo menos duas dezenas de vezes, para muitas pessoas, em muitas oportunidades. Ele mostra que o que Deus mais procura é um coração sincero, e que essa é a chave para a pregação do evangelho. (Curiosamente, tive de dar uma cópia desse capítulo para o antigo dono do livro…)

O capítulo “O Filho intervém” é de outra de imensurável praticidade. Também foi a direção divina para mim naquele período. Nee fala do conflito que pode haver entre uma vontade A e uma vontade B de Deus para nós. Ambas são de Deus, mas existe um conflito entre elas. Como proceder? Qual delas realizar primeiro?

Ao falar do ministério de Paulo, Nee destaca a edificação da igreja, e muitos tópicos relativos a ela. Seu discernimento sobre a natureza celestial da igreja é maravilhoso! Ele afirma (citação livre): “A igreja não tem de chegar a algum lugar, pois ela já está lá. A igreja é celestial!”

A leitura cuidadosa dessa seção do livro mostra quão diferente era a visão de Nee daquela de seus seguidores no que diz respeito à igreja na cidade. Ele repudiava o localismo, como uma ênfase excessiva na delimitação da cidade como base de reunião dos cristãos, pois via o perigo sectarista de isso excluir alguns filhos de Deus. Aqueles que se dizem seus continuadores deveriam ler com atenção e vergonha esse livro…

Ao falar do ministério de João, ele destaca o processo de Deus de remendar a obra da edificação, de cuidar das brechas. Fala dos vencedores, citados em Apocalipse 2 e 3, como aqueles que cumprem o que Deus havia planejado para todo o Seu povo.
Apesar da horrível apresentação visual, o livro merece cinco estrelas por seu conteúdo inestimável.

Obs.: Já foi publicado em português pela Editora dos Clássicos com o nome A Direção de Deus para o Homem, que não faz jus ao nome original nem ao conteúdo.

Qué haré, Señor?
Watchman Nee
Editorial Hebron, Argentina

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