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A. W. Pink Estudo bíblico Vida cristã

Lições de um fiel desconhecido

“E um homem veio de Baal-Salisa, e trouxe ao homem de Deus pães das primícias.”

(2Rs 4.42)

Repare a naturalidade com que a conduta desse homem anônimo é apresentada. Ali estava alguém que se compadeceu do servo do Senhor num tempo de necessidade, que pensou nele naquela época de escassez e necessidade e que se dispôs a passar dificuldades para ministrar a Eliseu. Salisa ficava próxima do monte Efraim (1Sm 9.4), e era provavelmente necessária uma jornada de considerável distância para chegar até o profeta. Ah, mas havia mais coisas por trás da ação desse homem do que parece; temos de olhar mais atentamente se quisermos descobrir as causas daquilo que ele fez. Está escrito: “Os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor, e [o Senhor] deleita-se no seu caminho” (Sl 37.23). E foi isso o que aconteceu no caso que estamos considerando. Esse homem auxilia Eliseu nesse momento, porque Deus operou nele “tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade” (Fp 2.13). É somente por meio da comparação de Escritura com Escritura que podemos descobrir o significado completo de cada versículo.

Antes de seguir adiante, apliquemos a nós mesmos a verdade a que acabamos de chamar a atenção. Ela tem estreita ligação com cada um de nós, e é uma verdade que precisa ser destacada nestes dias de ateísmo corrente. Está inteiramente na moda, em nossa perversa geração, estar tão envolvido nas chamadas “leis da natureza”, que as ações do Criador se perdem de vista; o homem e seus feitos são tão elogiados e deificados, que a mão de Deus na providência fica totalmente obscurecida. Deve ser diferente com o santo. Quando algum amigo vem e supre suas necessidades, embora você fique grato a ele, olhe acima dele e da sua bondade para Aquele que o enviou. Talvez eu ore assim: “O pão nosso de cada dia nos dá hoje”, e então, por estar tão absorto com as causas secundárias e com os instrumentos que Ele talvez empregue, eu deixo de ver a mão de meu Pai, quando Ele graciosamente atende à minha petição. Deus é o doador de tudo, tanto o que é temporal, como o que é espiritual, mesmo que Ele use agentes humanos para transportar Suas bênçãos.

“E um homem veio de Baal-Salisa”. Essa cidade era originalmente chamada “Salisa”, mas o poder maligno exercido por Jezabel cunhou sobre ela o nome do seu falso deus [Baal], como foi o caso com outros lugares (cf. “Baal-Hermon”; 1Cr 5.23). Mas até mesmo nesse lugar de idolatria havia pelo menos um que temia o Senhor, que se regulava por Sua Lei e que tinha um coração sensível para com Seu servo. Isso deveria ser motivo de conforto para os santos, num tempo como o nosso, em que prevalece tão terrível e freqüente decadência.

Por mais trevosas que se tornem as coisas – e cremos que elas haverão de tornar-se muito mais trevosas antes que haja qualquer melhora –, Deus haverá de preservar para Si mesmo um remanescente.

Ele sempre fez isso, e sempre haverá de fazê-lo. No mundo antediluviano, havia um Noé que, pela graça, era justo no meio da sua geração e andava com Deus. No Egito, quando o nome Jeová se tornara desconhecido entre os hebreus, foi levantado um Moisés, que recusou ser chamado filho da filha de faraó (Hb 11.24). Assim também agora, um aqui outro ali são como voz no deserto. Embora não nos seja informado o nome desse homem de Salisa, não temos dúvida de que seu nome esteja escrito no Livro da Vida.

“E um homem veio de Baal-Salisa, e trouxe ao homem de Deus pães das primícias” (2Rs 4.42). Outra vez destacamos que encontramos aqui mais do que um olhar descuidado pode perceber ou do que aquilo que fica óbvio a um exame descuidado. Se quisermos aprender o significado mais profundo do que está registrado nessa porção, temos de examinar e comparar outras passagens que fazem menção das “primícias”. Assim descobriremos que o gesto desse homem significou algo mais do que mera consideração e bondade para com Eliseu. “As primícias dos primeiros frutos da tua terra trarás à casa do Senhor, teu Deus” (Êx 23.19; 34.26). As “primícias”, então, pertencem ao Senhor. Elas são um reconhecimento tanto de Sua bondade como de Seu direito de propriedade. Uma bela e mais completa passagem nós encontramos em Deuteronômio 26.1-11. Aprendemos, de Números 18.8-13, que as primícias se tornavam a porção dos sacerdotes. “Os primeiros frutos de tudo que houver na terra, que trouxerem [eles, o povo] ao Senhor, serão teus [de Arão e dos filhos dele]; todo o que estiver limpo na tua casa os comerá.” (Nm 18.13). A mesma coisa valia no templo reconstruído: “E as primícias de todos os primeiros frutos de tudo serão dos sacerdotes” (Ez 44.30).

Esse homem de Salisa, então, estava agindo, em princípio, em obediência à Lei de Deus. Dizemos “em princípio”, porque estava escrito que as primícias deviam ser levadas à “casa do Senhor” e que elas se tornassem a porção dos sacerdotes. Mas esse homem pertencia ao reino de Israel, e não ao de Judá; ele vivia em Samaria e não tinha acesso a Jerusalém, e, mesmo que fosse até lá, ser-lhe-ia proibida a entrada no templo. Em Samaria não havia sacerdotes do Senhor, apenas os de Baal. Mas, embora ele não seguisse à risca a letra da Lei, ele certamente o fazia quanto ao espírito, pois reconheceu que essas primícias não serviam para seu próprio uso; e, embora Eliseu não fosse sacerdote, ele era um profeta, um servo do Senhor. É por essa razão, cremos, que está escrito que o homem trouxe as primícias não a “Eliseu”, mas ao “homem de Deus”. Esse nome aparece a primeira vez em Deuteronômio 33.1, referindo-se a Moisés, e descreve não seu caráter, mas seu ofício: alguém totalmente dedicado a Deus, alguém cujo tempo é totalmente empregado no Seu serviço. No Antigo Testamento, esse nome aplica-se somente aos profetas e aos mestres excepcionais (1Sm 2.27; 9.6; 1Rs 17.18). Já no Novo Testamento, parece que se aplica a todos os servos de Deus (1Tm 6.11; 2Tm 3.17).

Aquilo que destacamos acima deveria lançar luz sobre um problema que no presente é motivo de perturbação para muitas almas conscienciosas e deveria trazer conforto nestes dias maus. A situação de muitos do povo de Deus se assemelha bastante à situação que prevalecia quando ocorreram os fatos que estamos comentando. Era um tempo de apostasia, quando tudo estava fora de ordem. É essa a situação presente da cristandade. É a clara obrigação dos filhos de Deus prestar obediência à letra de Sua Palavra onde quer que isso seja possível; mas, quando isso não é possível, eles podem fazê-lo em espírito. Daniel e seus companheiros hebreus não podiam observar a festa da Páscoa na Babilônia, e, sem dúvida, isso era motivo de profundo pesar para eles. Mas esse mesmo pesar significava o desejo deles de observar a festa, e nesses casos Deus considera o desejo como se fosse a prática daquilo que é desejado. Por muitos anos, no passado, este escritor e sua esposa se viram incapacitados de celebrar a Ceia do Senhor. Contudo, pela graça, fizemos isso em espírito, ao lembrarmos a morte do Senhor pelo Seu povo em nosso coração e em nossa mente. “Não deixando a nossa congregação” (Hb 10.25) está muito longe de significar que as ovelhas de Cristo precisam freqüentar um lugar onde predominam os “bodes”, ou um lugar onde a presença delas encorajaria aquilo que desonra seu Senhor.

Antes de prosseguir, devemos destacar outra lição instrutiva e animadora, aqui, para o santo humilde. Esse homem de Salisa, agindo segundo o espírito da Lei de Deus, dirigindo-se com suas primícias ao lugar onde Eliseu estava, não podia nem imaginar que por meio dessa ação ele contribuiria para um milagre extraordinário. Contudo foi exatamente isso o que aconteceu, pois esses pães dele se tornaram o meio de alimentar um grande número de pessoas, por intermédio da poderosa intervenção de Deus. E essa é uma simples ilustração de um princípio que, sob o governo de Deus, ocorre com freqüência, como provavelmente a maioria de nós já deve ter testemunhado. Ah, meu leitor, nós nunca sabemos a extensão dos efeitos e quais frutos podem provir para a eternidade do mais modesto ato feito para a glória de Deus ou para o bem de alguém do Seu povo.

Quantas vezes algum cristão desconhecido, na bondade do coração, fez alguma coisa ou deu alguma coisa que Deus se agradou de abençoar e multiplicar de tal forma e em tal extensão que nunca nem passou pela mente daquele cristão.

“E um homem veio de Baal-Salisa, e trouxe ao homem de Deus pães das primícias, vinte pães de cevada, e espigas verdes na sua palha” (2Rs 4.42). A impressão que temos é que o Espírito Santo se agradou em descrever essa oferta nos mínimos detalhes. Quando nos lembramos que naquele tempo havia grande escassez de alimentos, não podemos ver, na variedade das ofertas, consideração e cuidado da parte daquele que as fez? Se a oferta consistisse apenas em “pães”, é possível que alguns deles mofassem antes de serem consumidos. Na melhor das hipóteses, teria sido necessário consumi-los rapidamente. Para que isso não acontecesse, parte da cevada foi trazida no alforje. Por outro lado, se tudo tivesse sido trazido em forma de espiga, teria sido necessário tempo para moer e assar, e nesse meio tempo o profeta poderia padecer fome e fraqueza. Mas, ao dividir as coisas como fez esse homem, evitou tanto um problema como o outro. Disso tudo, somos ensinados que, ao presentear alguém ou ao ministrar às suas necessidades, deveríamos ser cuidadosos para que isso aconteça da melhor forma que a situação requer. A prática desse princípio abrange tanto as coisas espirituais como as temporais.

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A. W. Pink Estudo bíblico Sofrimento

Deus cura hoje?


A cura divina é bíblica ou anti-bíblica? O Senhor é “socorro bem presente na angústia” (Sl 46.1): isso significa apenas que o cristão deve buscar Dele graça para, pacientemente, suportar aflições? As Escrituras têm muito mais a dizer com relação ao corpo; será uma grande perda se ignorarmos isso.

1. Nossos deveres na enfermidade

É claro para nós que muitos cristãos estão vivendo abaixo de seus privilégios nessa questão. Jeová-Rafah (“o Senhor que te sara” [Êx 15.26]) é, verdadeiramente, um dos Seus títulos tanto quanto Jeová-Tsidkenu (“o Senhor justiça nossa” [Jr 23.6]).

Quais são os deveres e privilégios do cristão quando ele adoece? Primeiro, esforçar-se para determinar a ocasião e a causa de sua enfermidade. É fácil descobrir se a doença advém de ignorar as ordens da prudência comum (Pv 23.21; Gl 6.7,8). Se não conseguimos atribuir nosso atual problema de saúde à negligência física ou à insensatez, então, procuremos identificar a causa moral. “Esquadrinhemos nossos caminhos, e provemo-los” (Lm 3.40), fazendo um esforço honesto para descobrir o que tem entristecido o Espírito (Ef 4.30). É provável que haja algo contrário em mim sobre o que Ele está indicando Sua desaprovação (Mc 7.21-23), e pelo que Ele requer que eu me humilhe (Sl 139.23,24). O ponto de lepra de minha alma que precisa ser purificado pode ser um espírito de egoísmo, a permissão ao orgulho, as obras da vontade própria, as agitações da rebeldia quando a providência divina cruza meu caminho, o exercício da justiça própria.

Se nós temos estabelecido algum ídolo, ele precisa ser lançado fora (1Co 10.14; Sl 32.5);
se nós temos cedido à lascívia, isso precisa ser mortificado (Cl 3.5);
se nós tomamos um caminho proibido, ele precisa ser abandonado (Pv 14.12);
se nós temos intencionalmente deixado um dever, ele precisa ser retomado.

Se temos sido descuidados, então, não devemos nos surpreender se ficarmos acamados por algum tempo. Isso é a fim de que haja tempo para relações estreitas entre a alma e Deus, para que as “coisas ocultas das trevas” sejam trazidas à luz e tratadas fielmente (1Co 4.5).

Algumas aflições são produzidas pelo diabo. Nós lemos em Jó, e de uma mulher “a qual há dezoito anos Satanás a tinha presa” (Lc 13.16). Está escrito: “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4.7) – ao que deve ser adicionado “Ao qual resisti firme na fé” (1Pd 5.9).

Algumas enfermidades físicas são enviadas sobre os santos para seu aperfeiçoamento em vez de correção, para que eles produzam algum fruto espiritual superior (Gl 5.22,23). Portanto, o crente que deseja luz sobre sua situação deve esperar no Senhor para que este lhe mostre por que contende com ele (Jó 10.2).

2. 2Crônicas 7.14

“E se o Meu povo, que se chama pelo Meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a Minha face e se converter dos seus maus caminhos, então, Eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.”

Alguns podem contestar que tal passagem não é aplicável a nós, pois Deus lidava com Israel de acordo com a Lei, ao passo que lida conosco de acordo com as riquezas da graça. Essa afirmação é completamente anti-bíblica. Manter os requisitos de santidade e exercer misericórdia com respeito ao penitente sempre caracterizou os caminhos de Deus em todas as épocas. O ensino do Novo Testamento nesse assunto é precisamente o mesmo que o do Antigo.

“Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem [que morreram]” (1Co 11.29,30).

Os coríntios eram culpados de transformar a Mesa do Senhor em um banquete carnal. Deus não toleraria tal irreverência. Ele os visitou com um julgamento temporal, punindo-os fisicamente. Portanto, esta passagem é estritamente análoga àquela em 2Crônicas 7.

Porém, tanto na primeira, quanto nesta o remédio é graciosamente revelado: “Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados.” (1Co 11.31). Se os coríntios se condenassem honestamente por sua conduta indecorosa diante de Deus, o julgamento divino seria removido e os muitos enfermos, curados. “Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (v. 32). Deus está nos castigando aqui para que escapemos da dor eterna futuramente.

Ora, em 2Crônicas 7.14 nós encontramos o povo de Deus sendo tratado por seus pecados. Como a libertação seria obtida? Primeiro, eles deveriam “se humilhar”. Isso tem o mesmo significado da expressão “julgar a nós mesmos” em 1Coríntios 11.31. Uma palavra em Levítico 26.41,42 fornecerá a ajuda necessária: “Se então o seu coração incircunciso se humilhar, e então tomarem por bem o castigo da sua iniqüidade, também Eu Me lembrarei da minha aliança”.

Humilharmos a nós mesmos sob a vara de Deus é parar de perguntar: “O que eu fiz para merecer isso?”, é parar de resistir à vara e curvar-se humildemente, reconhecendo que minha conduta vil merece isso. Davi se humilhou quando declarou: “Bem sei eu, ó Senhor, que os Teus juízos são justos, e que segundo a Tua fidelidade me afligiste” (Sl 119.75). Julgar a nós mesmos é tomar posição do lado de Deus contra nós mesmos. Enquanto não o fizermos, a vara não terá completado o efeito para o qual foi designada (Hb 12.11).

“E orar” é a próxima coisa. Nós oramos com um senso mais profundo da santidade divina e de nossa vileza, por um coração contrito e quebrantado (Sl 34.18; 51.17), por fé na misericórdia de Deus, por purificação e restauração para comunhão.

“E buscar a Minha face”. Isso é um passo adicional. Expressa termos ainda mais diligência e fervor. O Onisciente não pode ser enganado por meras palavras. Ele requer uma busca de coração, para que nós tenhamos, de fato, um encontro face a face com Aquele a quem desagradamos. Deus não encobrirá nossos pecados; nós também não deveríamos fazê-lo.

“E se converter dos seus maus caminhos”. Se eles precisam ser libertados do julgamento de Deus, eles devem necessariamente abandonar seus pecados, sem nenhuma reserva secreta, com o firme propósito no coração de não retornar para eles jamais (Sl 85.8). Arrependimento é mais do que lamentar pelo passado. Inclui a resolução de que não haverá repetição no futuro.

“Então, Eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.” Aqui está a graciosa promessa: é certo que será ouvido por Deus, o perdão é assegurado e a cura está disponível para ser reivindicada por fé. Deus concederá cura imediata e completa em toda situação? Não; 2Crônicas 7.14 não se compromete nem com a cura imediata nem completa.

Auxílio de médicos e uso de medicamentos

Os homens de Jericó buscaram a Eliseu dizendo: “As águas são más” (2Rs 2.19). E o profeta disse: “‘Trazei-me um prato novo, e ponde nele sal’. E lho trouxeram. Então, saiu ele ao manancial das águas, e deitou sal nele e disse: ‘Assim diz o Senhor: Sararei a estas águas; e não haverá mais nelas morte nem esterilidade’” (2Rs 2.20,21).

Deus podia ter curado aquelas águas sem qualquer sal, assim como Ele poderia ter tornado doce as águas amargas de Mara sem ordenar que Moisés lançasse certa árvore nelas (Êx 15.23-35). Às vezes o Senhor se agrada de usar meios (tais como médicos e medicamentos), e, em outros momentos, Ele os dispensa, pois exerce Sua soberania tanta de uma forma como de outra.

A doutrina da soberania torna o assunto mais intrigante, e Deus assim o deve ter planejado. O homem natural quer que tudo lhe seja facilitado. Mas o modo de Deus é manchar o orgulho humano, fazer-nos perceber nossa insuficiência, colocar-nos de joelhos. “Ó minha alma, espera somente em Deus, porque Dele vem a minha esperança” (Sl 62.5). Deus é soberano e não age de modo uniforme. Nós somos agentes responsáveis e dependentes Dele, e portanto não devemos agir nem irracional nem presunçosamente.

Quando sarou a terra de Israel, Deus por vezes usou certos meios; em outros momentos, foi sem o uso de qualquer meio. O mesmo se dá quando Ele cura nosso corpo. A um homem cego Cristo deu visão instantaneamente (Mc 10.46-52), mas, a outro, Ele colocou as mãos nos olhos do homem uma segunda vez antes da completa restauração (8.22-25).

Longe de nós afirmar que todos os que recorrem a médicos e a remédios estão perdendo o melhor do Senhor. Mas é Sua vontade que alguns O glorifiquem “em meio ao fogo” (Is 24.15). Deus enviou um anjo para libertar Pedro da prisão, mas permitiu que Estêvão fosse apedrejado até a morte.

Nós devemos nos apropriar da promessa de 2Crônicas 7.14, humildemente e não presunçosamente. Tendo corrigido qualquer erro diante de Deus, agora implore com Sua Palavra:

“Senhor, eu tenho buscado me humilhar diante de Ti e orar, buscar Tua face e renunciar a meus caminhos iníquos. E Tu me asseguraste que irás me perdoar e me curar. Faz como disseste. Mas, Senhor, eu não conheço Teus pensamentos. É Tua vontade pôr Tua mão restauradora sobre mim neste momento? Caso seja, habilita-me a confiar em Ti de todo o coração. Ou Tu gostarias que eu usasse alguns recursos, como médicos e medicamentos? Sendo assim, faz com que eu conte que Tu os torna eficazes para mim, para que eu confie em Ti e não neles, para que a glória seja toda Tua”.

Dois aspectos da fé

“Seja-vos feito segundo a vossa fé” (Mt 9.29). Deus promete honrar a fé onde quer que Ele a encontre. Mas qual é a fé aqui mencionada? É aquela que descansa sobre a segura Palavra de Deus e é composta por dois elementos principais: submissão e expectativa.

Alguns supõem que submissão – como expressa em: “Todavia não se faça a Minha vontade, mas a Tua” (Lc 22.42) – faz de expectativas reais coisas impossíveis. Mas isso está errado e se deriva de uma concepção equivocada do que consiste a expectativa espiritual. Comecemos por afirmar que onde não há uma genuína submissão à vontade de Deus não pode haver uma expectativa verdadeira. Submissão espiritual é apresentar uma causa diante do Senhor e pedir-Lhe que lide com ela da maneira que Ele achar melhor. Se há dependência de Sua sabedoria e de Sua bondade, isso é o exercício da fé. E se houver confiança de que Ele assim o fará, isso é a expectativa de fé, a expectativa, não de que Ele conceder o que a natureza carnal deseja, mas que Ele dará o que Lhe trará mais glória e será para o bem maior de quem pede. Qualquer coisa além disso é presunção.

3. Tiago 5.14-16

“Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (vv. 14,15).

Uma lista de dons sobrenaturais durante o período apostólico é encontrada em 1Coríntios 12.9,10, incluindo o de cura. Os reformadores consideraram [que a função desses] dons sobrenaturais era principalmente autenticar o cristianismo e confirmá-lo em países pagãos. O propósito deles foi apenas temporário; assim que as Escrituras foram escritas, eles foram revogados (1Co 13.8). Mas Tiago 5.14-16 é colocado à parte. Cremos que esse princípio e essa promessa gerais são válidos para todas as gerações, com exceção apenas dos períodos de grande declínio espiritual. Em tempos normais, é privilégio do santo, quando gravemente doente, chamar os presbíteros (pastores, ministros) da igreja local à qual pertence. Os que pregam a Palavra de Deus a ele certamente seriam os mais aptos para apresentar sua causa diante do Senhor (Jó 42.8). Eles devem orar por ele, encomendando-o à misericórdia de Deus e buscando restauração para ele, se isso estiver de acordo com a vontade divina. Se o enfermo deseja ser ungido com óleo, seu pedido deve ser atendido.

Deve-se ressaltar que essas promessas de Deus relacionadas às misericórdias temporais e terrenas são diferentes daquelas relativas às coisas eternas e espirituais. As primeiras são gerais e indefinidas, e não incondicionais e absolutas como são muitas das últimas. Portanto, nós devemos pedir em completa submissão à soberana vontade de Deus, com a qual Ele tem a liberdade para torná-las reais quando e a quem Ele quer.

Desse modo, a oração de fé aqui não é uma expectativa definida de que Deus irá curar, mas uma garantia pacífica de que Ele fará o que Lhe dá mais glória e para o bem do enfermo.

Fé é confiança e submissão, bem como expectativa. Não há fé mais forte do aquela que tem tanta confiança na sabedoria e na bondade de Deus que conduz a pessoa a dizer: “Faze-nos aquilo que te pareça bom e reto” (Js 9.25). Naqueles aspectos em algumas necessidades específicas não estão cobertas por uma promessa expressa, a fé deve contar com a misericórdia e o poder do próprio Deus (Sl 59.16).

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A. W. Pink Disciplina Encorajamento

Receba o castigo de Deus

Não tema!

“Filho meu, não menosprezes a correção do Senhor, e não desmaies quando por Ele fores repreendido” (Hb 12.5).

Nem todo castigo traz benefício àquele que o sofre. Algumas pessoas são endurecidas pelo castigo; já outras são esmagadas por ele. Depende muito do espírito com que as aflições são recebidas. Não há mérito nas provações e tribulações em si mesmas; é somente por serem abençoadas por Deus que o cristão tira proveito delas. Conforme nos diz Hebreus 12.11, apenas aqueles que são “exercitados” pela vara de Deus produzem “fruto pacífico de justiça”. Uma consciência sensível e um coração tenro são os acessórios necessários.

Em nosso texto, o cristão é advertido contra dois perigos inteiramente diferentes: não desprezar e não desmaiar. Esses são dois extremos contra os quais é sempre necessário manter estrita vigilância. Assim como qualquer verdade da Escritura tem seu equivalente de equilíbrio, assim todo mal tem seu oposto. Por um lado, há o espírito arrogante que ri da vara, uma vontade teimosa que se recusa a humilhar-se debaixo da vara. Por outro, há um abatimento que, sob a vara, se afunda completamente e dá lugar ao desespero. Spurgeon disse: “O caminho da justiça é uma passagem difícil entre duas montanhas do erro, e o grande segredo da vida cristã é serpear seu caminho ao longo desse vale estreito”.

I. Menosprezar a vara

Há diversas maneiras pelas quais os cristãos podem “menosprezar” os castigos de Deus. Citaremos quatro delas:

  1. Pela insensibilidade. Agir de forma estoica é o plano de ação a partir do entendimento carnal: “Faça do limão uma limonada”. O homem deste mundo não conhece plano melhor do que cerrar os dentes e encarar as dificuldades. Como não tem nenhum Consolador, nenhum Conselheiro, nem Médico Divino, ele precisa valer-se dos próprios pobres recursos. É muito triste ver um filho de Deus portando-se como os filhos do diabo. Pois, quando o cristão resiste abertamente às adversidades, ele “despreza” o castigo. Em vez de se endurecer, agüentando estoicamente a situação, ele deveria quebrantar o coração.
  2. Pela reclamação. Foi isso que os hebreus fizeram no deserto; e ainda há muitos murmuradores nos campos de Israel. Uma pequena enfermidade, e ficamos tão mal-humorados que nossos amigos ficam com medo de chegar perto. Alguns poucos dias na cama, e nos irritamos e nos enfurecemos como um touro desabituado à canga. De forma impertinente, perguntamos: “Por que essa aflição? O que é que eu fiz para merecê-la?” Olhamos a nossa volta, invejosos e descontentes porque o fardo dos outros é mais leve. Tome cuidado, leitor: murmurar custa caro. Deus sempre castiga outra vez se não nos humilharmos na primeira. Lembre-se de quanto refugo existe ainda no meio do ouro. Contemple as depravações de seu coração, e maravilhe-se de que Deus não o tenha castigado duas vezes mais severamente. “Filho meu, não menosprezes a correção do Senhor”.
  3. Pelas críticas. Quantas vezes colocamos em dúvida a utilidade do castigo. Como cristãos, parece que não temos bom senso espiritual em quantidade maior do que a sabedoria natural que tínhamos quando crianças. Como meninos, pensávamos que a vara era a última coisa necessária em casa. Assim acontece também com os filhos de Deus. Quando as coisas acontecem como gostamos, quando recebemos alguma bênção material inesperada, não temos dificuldade nenhuma em atribuir tudo à bondosa Providência. Mas, quando nossos planos são frustrados, quando sofremos perdas, a coisa é muito diferente. Mas não está escrito: “Eu formo a luz e crio as trevas; Eu faço a paz e crio o mal; Eu, o Senhor, faço todas estas coisas” (Is 45.7)? Quantas vezes a coisa criada reclama: “Por que me fizeste desta forma”? Dizemos: “Não vejo como isto pode ser útil para minha alma. Se minha saúde fosse melhor, eu poderia ir à casa de oração com mais freqüência! Se eu tivesse sido poupado dessas perdas em meus negócios, teria mais dinheiro para o trabalho do Senhor! Qual é o bem que pode resultar desta calamidade”? À semelhança de Jacó, exclamamos: “Todas essas coisas vieram sobre mim!” (Gn 42.36). O que é isso senão “desprezar” a vara? Sua ignorância vai desafiar a sabedoria de Deus? Sua miopia vai censurar a onisciência?
  4. Pela indiferença. Há muitos que não emendam seus caminhos. Todos nós precisamos muito da exortação vinda de nosso texto. Há muitos que têm “desprezado” a vara, e como consequência não têm se beneficiado com ela. Muitos cristãos têm sido corrigidos por Deus, mas em vão. Doenças, contratempos, perdas vêm, mas eles não têm sido santificados por meio de um sincero e cuidadoso auto-exame.

Ó irmãos e irmãs, tomem cuidado! Se Deus os está castigando, “considerai os vossos caminhos” (Ag 1.5), “pondera a vereda de teus pés” (Pv 4.26). Descubram a razão do castigo. Muitos cristãos não teriam sido castigados nem com a metade do rigor se tivessem, com diligência, investigado a causa de seus castigos.

II. Desmaiar sob a vara

Depois de sermos advertidos contra “menosprezar” a vara, somos agora alertados a não dar lugar ao desespero quando estivermos sob a ação dela. Existem, pelo menos, três maneiras pelas quais o cristão pode “desmaiar” sob as repreensões do Senhor:

  1. Quando ele desiste. Isso acontece quando nos afundamos em desânimo. A pessoa castigada conclui que não consegue agüentar mais. Seu coração enfraquece; as trevas a engolem; o sol da esperança se obscurece, e se cala a voz das ações de graças. “Desmaiamos” quando nos tornamos incapazes de executar os deveres que nos dizem respeito. Quando uma pessoa desmaia, ela fica inerte. Quantos cristãos desistem por completo da luta quando a adversidade se apresenta em sua vida! Quantos se tornam totalmente inertes quando a tribulação aparece em seu caminho! Quantos, por sua atitude, dizem: “A mão de Deus se fez pesada sobre mim: eu nada consigo fazer”! Ah, meus amados, “não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança” (1Ts 4.13). “Não desmaies quando por Ele fores reprendido” (Hb 12.5). Dirija-se ao Senhor a respeito do assunto: reconheça a mão Dele em toda a situação. Lembre-se de que suas aflições fazem parte de “todas as coisas” que cooperam juntamente para seu bem.
  2. Quando ele duvida de sua filiação. Não são poucos os cristãos que, quando a vara desce sobre eles, concluem que, no final das contas, não são filhos de Deus. Eles esquecem que está escrito: “Muitas são as aflições do justo” (Sl 34.19), e que “por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus” (At 14.22). Talvez alguém argumente: “Mas se eu fosse filho de Deus, não estaria em pobreza, miséria e dor”. Preste atenção em Hebreus 12.8: “Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, logo, sois então bastardos, e não filhos”. Aprenda, então, a ver as provações como provas do amor de Deus limpando, podando, purificando você. O pai de família não se preocupa muito com os que não pertencem a sua casa; são aqueles que pertencem a ela que ele guarda e dirige, alimenta e conforma a sua vontade. O mesmo acontece com Deus.
  3. Quando ele se desespera. Algumas pessoas cedem diante da ideia de que sua tribulação nunca mais terá fim. Uns dizem: “Eu já orei e orei, mas as nuvens não se vão”. Console-se, então, com o seguinte pensamento: É sempre a hora mais escura que antecede o amanhecer. Por isso, não desmaie quando for repreendido por Deus. “Mas”, diz outro, “eu me apeguei a Sua promessa, e as coisas não melhoram. Eu pensei que Ele livrasse aqueles que O invocam; eu O invoquei, e Ele não me atendeu, e eu temo que Ele nunca vá me responder”. Por que, filho de Deus, você fala dessa maneira de seu Pai?! Você diz que Ele não vai parar nunca de feri-lo pelo fato de tê-lo ferido por tanto tempo?! Em vez disso, diga: “Ele tem-me ferido há tanto tempo que, logo, logo, devo ser liberto!”

Não menospreze nem desmaie. Que a graça divina preserve desses dois extremos tanto este autor como o leitor.

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A. W. Pink Deus vontade de Deus

Inimizade: atitude inerente do homem contra o Criador

Como você reage ao soberano Deus?

“Sucedeu que, ouvindo isto todos os reis que estavam aquém do Jordão, nas montanhas, e nas campinas, em toda a costa do grande mar, em frente do Líbano, os heteus, e os amorreus, os cananeus, os perizeus, os heveus e os jebuseus, se ajuntaram eles de comum acordo para pelejar contra Josué e contra Israel” (Js 9.1,2).

Esses dois versículos nos apresentam um assunto de profunda importância, algo que deve ser levado em conta especialmente pelos ministros que querem ser fiéis a seu chamado. O fato de o Espírito Santo mencionar essa confederação dos reis cananeus para combaterem Josué e Israel logo depois de descrever aquilo que tinha ocorrido nos montes Ebal e Gerizim (veja 8.30-35) obviamente tem o propósito de nos fornecer uma ilustração simbólica e um exemplo solene da inerente hostilidade humana contra a Lei de Deus. A expressão “ouvindo isto” (9.1) indica que, imediatamente após chegar aos ouvidos desses reis que Josué havia levantado um altar em Ebal e inscrito nas pedras desse altar o Decálogo de Deus – o qual, daí por diante, seria a Lei daquela terra –, eles juntaram forças contra o povo de Deus e se propuseram a usar de violência contra ele. A necessidade de reconhecer os direitos e a autoridade do Deus Supremo e de submeter-se a Sua vontade revelada é algo que ofende os não-regenerados e eles se opõem a isso. Seu desejo é serem senhores de si mesmos e estão decididos a seguir seu próprio caminho. A linguagem expressa pelas ações de todos eles, e pela boca de muitos, é a mesma do obstinado e arrogante faraó: “Quem é o Senhor, cuja voz eu ouvirei?” (Êx 5.2). Estão decididos a agradarem a si mesmos.

Aqui está a própria essência da depravação humana. O pecado é uma revolta contra Deus, uma recusa de sujeitar-se a Ele. O pecado não é apenas uma decisão de seguir nossas próprias inclinações, mas é uma luta contra nosso Criador e Governador. A mente carnal é inimiga de Deus. Essa declaração é terrivelmente séria, e é uma das mais detestáveis aos melindres humanos. Apesar disso, é um fato que não há como desconsiderar. A prova disso aparece na seguinte declaração: “Não é sujeita à lei de Deus [a mente do homem natural], nem, em verdade, o pode ser” (Rm 8.7). Não há nada que evidencie de forma tão clara a inveterada hostilidade contra Deus da pessoa não-regenerada do que sua insubordinação e oposição contra a Lei de Deus. Na verdade, são poucos os que admitem abertamente que odeiam a Deus, e menos ainda aqueles que estão conscientes desse fato terrível, pois o pecado é muito enganoso (Hb 3.13) e cega o entendimento (Ef 4.18).

A idolatria é o campo onde mais claramente se demonstra essa realidade. Se os homens estivessem satisfeitos com o Deus verdadeiro, não teriam fabricado tantos deuses falsos. Eles querem um Deus e um sistema religioso condizentes com suas inclinações depravadas. Existem milhões de pessoas que não se inclinam diante de alguma imagem de madeira ou de pedra; no entanto, crêem num Deus inventado por seus próprios sentimentos e imaginações, e contra esse deus (ou essa coisa) eles não sentem nenhuma inimizade!

Mas, assim que o Deus verdadeiro e vivo é apresentado de acordo com Seu caráter que nos é mostrado nas Escrituras, essa inimizade se torna evidente. Basta que Ele seja apresentado como o Deus Soberano que faz um vaso para honra e outro para desonra segundo Sua própria vontade, como o Santo que não pode contemplar a iniquidade e que odeia aqueles que a praticam e como o justo Juiz de todos que de forma alguma inocenta o culpado, e o ódio das criaturas decaídas contra Ele aparecerá sem disfarces.

Basta que Ele dê a essas criaturas a Sua Lei e requeira irrestrita obediência, que elas imediatamente se rebelam.

Se Deus renunciasse a Seus direitos soberanos, elas reprimiriam a oposição; se Ele pusesse de lado Seu cetro, os homens parariam de lutar contra Ele. Mas, pelo fato Dele não fazer isso, a vontade da criatura se opõe à vontade do Criador e se recusa a sujeitar-se a Seu trono. Podemos ver uma prova conclusiva de que a natureza do pecador é diametralmente oposta à de Deus na mortal oposição daquele ao governo divino. A lei moral é tanto uma revelação do caráter de seu Autor como também uma expressão de Sua vontade, e o repúdio do homem a essa lei mostra o antagonismo do pecado à santidade.

Aquilo que expusemos acima foi exemplificado de maneira clara e solene quando o Legislador se encarnou e habitou aqui no mundo, pois a má vontade dos religiosos e também dos não-religiosos se levantou contra Ele. Não só foi desprezado e rejeitado pelos homens, mas Ele declarou abertamente: “Odiaram-me sem causa” (Jo 15.25). Eles nem se esforçavam para disfarçar suas más intenções. Enquanto Ele curava os doentes e alimentava a multidão com pães e peixes, suspenderam a hostilidade; mas, quando Ele lhes impôs as exigências de Seu senhorio, quando especificou os termos do discipulado e tornou conhecido o caráter e as exigências de Seu reino, os pecadores imediatamente manifestaram indignação contra Ele. Ele não só “veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam” (Jo 1.11), mas também “Seus concidadãos odiavam-no, e mandaram após Ele embaixadores dizendo: ‘Não queremos que este reine sobre nós’” (Lc 19.14). Não esqueçamos que foi como “Rei dos Judeus” que Cristo foi crucificado! “Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o Senhor e contra o Seu ungido, dizendo: ‘Rompamos as Suas ataduras e sacudamos de nós as Suas cordas’” (Sl 2.2,3; cf. At 4.25-27) – irritando-se contra a Lei de Deus, recusando submeter-se à autoridade Dele.

Nesse ajuntamento dos reis de Canaã “para pelejar contra Josué e contra Israel”, imediatamente após a promulgação da Lei de Deus nos montes Ebal e Gerizim, temos uma solene descrição daquilo que aconteceu nas horas que precederam a crucificação de nosso Senhor, e temos também uma figura da oposição do homem contra a Lei. Até esse momento, os cananeus tinham estado na defensiva, mas em Josué 9.1,2 nós os vemos preparando-se para assumir a ofensiva e desferir um ataque conjunto contra o povo de Deus. Os reis mencionados nesse texto pertenciam a nações diversas, tinham interesses variados e ocupavam territórios amplamente espalhados, mas aqui nós os vemos deixando de lado suas diferenças e juntando-se “de comum acordo”!

Exatamente como os sacerdotes e os escribas, os fariseus e os saduceus se uniram em oposição ao Legislador que assumiu forma humana. E exatamente como acontece hoje, pois tanto arminianos dispensacionalistas como calvinistas antinomianos repudiam o Decálogo como regra de vida do cristão. Todo servo verdadeiro de Cristo vai descobrir isso. Basta que ele conceda à Lei, em seu ministério, o lugar que ela ocupa nas Escrituras, basta que seja fiel no desempenho da comissão que recebeu de Deus (e lembre-se de que “todo o conselho de Deus” abrange bem mais do que aquilo que se chama de “doutrinas da graça”!), e imponha a descrentes e crentes as exigências do Reino de Cristo, e o rigor e a espiritualidade do Decálogo, e ele também será desprezado e injuriado.

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A. W. Pink Citações Gotas de orvalho

Gotas de Orvalho ― Arthur W. Pink (163)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

O mundano nunca chora em segredo sobre o esfriamento do coração ou por atos de incredulidade. Os “gemidos” ou os “suspiros” são a prova da vida espiritual, o caminhar atrás da santidade, a fome e sede de justiça.

O verdadeiro amor é intensamente prático: não considera vil qualquer empreendimento, nem julga humilhante qualquer tarefa, sempre que pode aliviar os sofrimentos de algum irmão em Cristo. Quando o Senhor do amor esteve na terra, Seus pensamentos se voltaram para a fome física das multidões e para o conforto dos pés de Seus discípulos!

Nenhum pecador jamais foi salvo por entregar o coração a Deus. Não somos salvos por nossa entrega, somos salvos pelo que Deus entregou.

O sucesso de um falsificador de moedas depende de quão parecida a moeda falsa se torna com a genuína. A heresia não é uma negação completa da verdade, e sim uma perversão da verdade.

Assim como a desesperança do pecador de receber qualquer ajuda de si mesmo é o primeiro requisito para uma conversão real, também a perda de toda confiança em si mesmo é o principal fator para o crescimento do crente na graça.

Ah, se pudéssemos sentir-nos mais preocupados com o estado de inanição em que se encontra hoje a causa de Cristo na terra, com os avanços do inimigo em Sião e com a devastação que o diabo tem efetuado nela! Mas, infelizmente, um espírito de indiferença vem imobilizando muitos de nós.

O fundamento de todo verdadeiro conhecimento de Deus deve ser uma clara apreensão mental de Suas perfeições como reveladas nas Escrituras. Não se pode confiar em um Deus desconhecido, nem adorá-Lo ou servir a Ele.

Deus não pode mudar para melhor, pois é perfeito, e, sendo perfeito, não pode mudar para pior.

Ele [Deus] é solitário em Sua majestade, único em Sua excelência, incomparável em Suas perfeições. Ele tudo sustenta, mas Ele mesmo é independente de tudo e de todos. Ele dá bens a todos, mas não é enriquecido por ninguém.

A preocupação com a pobreza é tão fatal para o fruto espiritual quanto a alegria maligna por causa de riquezas.

Nossa leve tribulação que é para um momento, “produz para nós um peso eterno de glória mui excelente” (2Co 4.17). O presente está influenciando o futuro. Não é para nós argumentarmos e filosofarmos sobre isto, mas submeter-nos a Deus e a Sua Palavra e crer nisso. Experiências, sentimentos, observação da vida dos outros podem parecer negar esse fato. Aflições muitas vezes só parecem nos amargurar e nos fazer mais rebeldes e descontentes. Mas deixe-me lembrá-lo que aflições não são enviadas por Deus com a finalidade de purificar a carne ― elas são intencionadas para o benefício do novo homem. Além disso, aflições nos ajudam a nos preparar daqui por diante para a glória. Aflição afasta nosso coração do amor pelo mundo; faz-nos almejar mais por aquele tempo em que seremos tirados desse mundo de pecado e tristeza; vai nos permitir apreciar as coisas que Deus tem preparado para os que O amam. Então, é para isso que a fé é convidada: a colocar em um prato da balança a aflição presente, no outro, a glória eterna. Eles merecem ser comparados? Não, realmente. Um segundo de glória vale mais do que o contrapeso de uma vida inteira de sofrimentos. O que são anos de labuta, de doença, de lutar contra a pobreza, de perseguição, sim, da morte como mártir, quando comparado com as glórias que estão à mão direita de Deus, que é eterno! Uma respiração no céu extinguirá todos os ventos adversos da terra. Um dia na casa do Pai vale mais que o contrapeso dos anos que passamos neste triste deserto terreno. Que Deus nos conceda a fé que nos habilite a esperançosamente nos agarrarmos a esse futuro e a viver alegremente no presente com essa promessa.


Nascido em 1° de abril de 1886, em Nottingham (Inglaterra), Arthur Walkington Pink abandonou o teosofismo em 1908, quando experimentou a conversão ao evangelho. Em 1910, aceitou o chamado para trabalhar como pregador num campo de minas em Silverton (Colorado, EUA). Chegou a pregar mais de 300 vezes ao ano. Mais tarde, viajou para a Austrália, onde suas pregações foram muito bem recebidas. Ali pastoreou uma igreja batista até que, em 1928, regressou à terra natal, onde, devido à perseguição que sofreu por causa da fidelidade às Escrituras, foi obrigado a se dedicar à escrita e ao aconselhamento de crentes por correspondência, tendo, em 1946, já escrito 20.000 cartas à mão.

Leitor incansável que era, em 1932 já havia lido toda a Bíblia mais de 50 vezes e milhares de livros teológicos, especialmente de autores reformados e puritanos.

Pink é o que todo bom leitor de teologia procura: erudição misturada com piedade. Seus comentários são inspiradores, não somente demonstrando a reverência do autor a Deus e à Escritura, mas também incitando o leitor a fazer o mesmo. Sua maneira cativante de descrever as verdades divinas, sua capacidade extraordinária de expor as mais difíceis passagens e seu rico e belo linguajar dificilmente encontram paralelo em toda a história do cristianismo.

Em 1922, ele começou a publicar uma revista mensal intitulada Studies in Scriptures (Estudos nas Escrituras), que circulava entre os cristãos de língua inglesa ao redor do mundo, porém em pequena tiragem. Em 1934, Pink retornou a Inglaterra e dedicou-se a escrever livros e panfletos. Ele morreu de anemia aos 66 anos em Stornoway, Escócia, em 15 de julho de 1952.

Após sua morte, suas obras foram republicadas pela Banner of Truth Trust, alcançando um público muito maior. O biógrafo Iain Murray observa que “a grande difusão de seus escritos depois de sua morte o tornou o mais influente autor evangelista da segunda metade do século 20”. Seus escritos despertaram um reavivamento da pregação expositiva e chamaram os leitores a viverem pela Palavra.

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A. W. Pink Cruz Vida cristã

Tomar a cruz


Então, disse Jesus a Seus discípulos: “Se alguém quiser…”. A palavra “quiser” aqui significa “desejam”, como no versículo “todos os que piamente querem viver” (2Tm 3.12). Isso significa “estar determinado”. “Se alguém quiser [desejar] vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si sua cruz [não uma cruz, mas a sua cruz] e siga-Me”. E em Lucas 14.27, Cristo declarou: “E qualquer que não levar a sua cruz e não vier após Mim, não pode ser Meu discípulo”. Portanto, não é uma opção. A vida cristã é muito mais do que subscrever um sistema de verdades, adotar um código de conduta ou submeter-se a ordenanças religiosas. Acima de tudo, a vida cristã é uma experiência pessoal de comunhão com o Senhor Jesus. E, apenas na proporção em que sua vida é vivida em comunhão com Cristo, você estará vivendo a vida cristã – somente nesta medida.

A vida cristã é uma vida que consiste em seguir a Jesus. “Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si sua cruz e siga-Me”. Espero que você e eu ganhemos distinção pela proximidade com que seguimos a Cristo, e então teremos de fato comunhão íntima com Ele. Existe um grupo descrito nas Escrituras do qual é dito: “Estes são os que seguem o Cordeiro por onde quer que vá”. Mas, infelizmente, há um grupo, um grande grupo, que parece seguir o Senhor de forma irregular, espasmódica, ocasional e distante, não de todo o coração. Há muito do mundo e deles mesmos na vida deles, e tão pouco de Cristo. Três vezes mais feliz será aquele que, como Calebe, perseverar em seguir o Senhor.

Acima de tudo, a vida cristã é uma experiência pessoal de comunhão com o Senhor Jesus.

Ora, amados, nosso principal interesse e objetivo é seguir a Cristo, mas existem dificuldades pelo caminho. Existem obstáculos na vereda, e é a eles que a primeira parte de nosso texto se refere. Você nota que a palavra “siga-Me” vem no final. “A si mesmo” fica no caminho, e o mundo com suas milhares de atrações e distrações é um obstáculo; portanto, Cristo diz: “Se alguém quiser vir após Mim [primeiro], renuncie-se a si mesmo [segundo], tome sobre si a sua cruz e [terceiro] siga-Me”. E aí nós aprendemos a razão pela qual tão poucos cristãos professos seguem a Cristo de perto, clara e consistentemente.

O primeiro passo em direção ao seguir diário a Cristo é o negar a si mesmo. Há uma grande diferença, meus irmãos e irmãs, entre negar-se a si mesmo e a assim chamada auto-negação. A idéia popular, tanto para o mundo como entre os cristãos, é a de desistir das coisas que gostamos. Existe uma grande diversidade de opiniões sobre o que deveria ser abandonado. Há alguns que limitariam isso ao que é caracteristicamente mundano, como ir ao cinema, dançar e assistir às corridas. Há outros que limitariam isso a determinado período de tempo quando a diversão e outras coisas que são seguidas durante o resto do ano são rigidamente evitadas naquela época. Mas tais métodos, assim como os outros, só promovem o orgulho espiritual, pois certamente eu mereço algum crédito se desisto de tanta coisa! Ah, meus amigos, o que Cristo fala em nosso texto (que o Espírito de Deus aplique isso a nossa alma) como sendo o primeiro passo para segui-Lo é a negação do próprio eu, não simplesmente algumas coisas que agradam o eu, não algumas coisas que o eu deseja, mas a negação do próprio eu.

O que significa “Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo”? Significa, em primeiro lugar, abandonar sua própria justiça, mas quer dizer muito mais que isso. Significa parar de insistir sobre os próprios desejos, significa repudiar o próprio eu. Significa parar de considerar o próprio conforto, o sossego, a satisfação, o engrandecimento, os próprios benefícios. Significa acabar com o eu. Significa, amados, dizer com o apóstolo: “Para mim, o viver é…” , não o eu, mas “Cristo”. Para mim, o viver é obedecer a Cristo, servir a Cristo, honrar a Cristo, gastar-me para Ele. Esse é o significado! E, “se alguém quiser vir após Mim”, diz nosso Mestre, “renuncie-se, a si mesmo se negue”, ou seja, deixe o eu ser repudiado, ser aniquilado. Vemos isso, em outras palavras, em Romanos 12.1: “Apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”.

Para mim, o viver é obedecer a Cristo, servir a Cristo, honrar a Cristo, gastar-me para Ele.

Agora o segundo passo para seguirmos a Cristo é tomar a cruz. “Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz”. Ah, meus amigos, viver a vida cristã é algo mais do que ter uma vida fácil e tranqüila; é um compromisso sério. É uma vida que tem de ser disciplinada com sacrifício. A vida de discipulado começa com a auto-renúncia e continua com a auto-mortificação. Em outras palavras, nosso texto se refere à cruz não apenas como um objeto de fé, mas como um princípio de vida, como um distintivo do discipulado, como uma experiência da alma. E, atentem! Assim como é verdade que a cruz foi o único caminho de Jesus de Nazaré para o trono do Pai, o único caminho para uma vida de comunhão com Deus, e da coroa ao final para o crente, é pela cruz. Os benefícios legais do sacrifício estão assegurados pela fé, quando a culpa do pecado é cancelada; mas a cruz só se torna eficaz sobre o poder do pecado que habita em nós quando nós a tomamos diariamente.

Eu quero chamar sua atenção para o contexto. Mateus 16.21 diz: “Desde então, começou Jesus a mostrar a Seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muitas coisas dos anciãos, e dos principais sacerdotes e dos escribas, e ser morto e ressuscitar ao terceiro dia. E Pedro, tomando-O de parte, começou a reprendê-Lo”. Pedro vacilou e disse: “Tem compaixão de Ti, Senhor”. Isso expressa a lógica do mundo. Este é o teor da filosofia do mundo: auto-proteção e egoísmo. Mas o que Cristo pregou não foi “poupar-se”, e sim “sacrificar-se”. O Senhor Jesus viu na sugestão de Pedro uma tentação de Satanás e afastou-o de Si: “Então, disse Jesus aos Seus discípulos: Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a Si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-Me”. Em outras palavras, o que Cristo disse foi: “Eu estou subindo para Jerusalém, para a cruz; se algum de vocês quiser Me seguir, há uma cruz para ele. E, como Lucas 14 diz: “Qualquer que não levar a sua cruz […] não pode ser Meu discípulo” (v. 27). Não apenas Jesus devia subir para Jerusalém e ser morto, mas todo aquele que o seguir deve tomar sua cruz. O “deve” é tão imperativo em um caso como no outro. A cruz de Cristo permanece única em seu caráter expiatório, mas, no viver diário, ela é compartilhada por todo aquele que passou da morte para a vida.

Assim como é verdade que a cruz foi o único caminho de Jesus de Nazaré para o trono do Pai, o único caminho para uma vida de comunhão com Deus, e da coroa ao final para o crente, é pela cruz.

Então, o que “a cruz” significa? O que Cristo quis dizer com “qualquer que não levar a sua cruz”? Meu amigos, se é deplorável que nesses últimos tempos uma pergunta como esse precise ser feita, é ainda mais deplorável que a grande maioria do próprio povo de Deus tenha concepções anti-bíblicas da razão da existência da “cruz”. O crente em geral parece considerar a cruz a que se refere o texto como qualquer aflição ou dificuldade que possa lhe sobrevir. Qualquer coisa que venha perturbar nossa paz, que seja desagradável à carne, que nos irrita, é vista como uma cruz. Um diz: “Bem, essa é minha cruz!”; outro diz que outra coisa é a cruz dele. Meus amigos, a palavra nunca é utilizada dessa forma no Novo Testamento. A palavra “cruz” nunca é encontrada na forma plural, nem precedida por um artigo indefinido: “uma cruz”. Note também que no texto, nossa cruz está ligada a um verbo na voz ativa, e não na passiva. Não é uma cruz que é colocada sobre nós, mas uma cruz que deve ser “tomada”. A cruz significa realidades definidas que incorporam e expressam as principais características da agonia de Cristo.

Outros entendem que “a cruz” se refere a deveres desagradáveis que eles cumprem sem disposição ou a hábitos carnais que rejeitam. Eles imaginam que tomam “a cruz” quando, empurrados pela consciência, se abstêm de coisas realmente desejadas. Tais pessoas invariavelmente transformam suas “cruzes” em armas para agredir outras. Elas ostentam sua auto-negação e andam por aí insistindo que as demais deveriam imitá-las. Tais concepções da “cruz” são tão farisaicas quanto falsas, e tão prejudiciais quanto errôneas.

Agora, na medida em que o Senhor me permitir, deixem-me mencionar três coisas que a cruz significa.

Primeiro, a cruz é a expressão do ódio do mundo. O mundo odiou o Cristo de Deus, e seu ódio foi plenamente manifesto na crucificação. Em João 15, sete vezes Cristo faz referência ao ódio do mundo contra Si e contra Seu povo; e apenas na proporção em que você e eu seguimos a Cristo, em que nossa vida seguir a Dele, em que deixarmos o mundo e estivermos em comunhão com Ele, então, o mundo nos odiará.

Ninguém pode segui-Lo e permanecer em harmonia com o mundo.

Nós lemos no Evangelho que um homem veio e apresentou-se a Cristo para ser Seu discípulo e pediu que primeiro pudesse ir e enterrar o pai, um pedido muito natural, realmente louvável, e a resposta do Senhor é quase atordoante. Disse Ele àquele homem: “Segue-me. […] Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos” (Lc 9.59,60). O que teria acontecido àquele jovem se ele tivesse obedecido a Cristo? Eu não sei se ele obedeceu ou não, mas, se obedecesse, o que aconteceria? O que teriam pensado dele seus parentes e amigos? Seriam capazes de apreciar o motivo, a devoção que fez com que ele seguisse a Cristo e negligenciasse o que o mundo chamaria de um dever filial? Ah, meus amigos, se vocês seguem a Cristo o mundo pensará que estão loucos, e algumas pessoas encontram muita dificuldade em suportar as censuras contra sua sanidade. Sim, algumas que encontram na reprovação dos vivos uma provação mais difícil do que a perda dos mortos.

Outro jovem apresentou-se a Cristo para o discipulado e pediu ao Senhor que primeiro lhe deixasse ir despedir-se dos seus, um pedido muito natural. Então, o Senhor apresentou a “cruz”: “Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus” (vv. 61,62). Pessoas de temperamento afetuoso se ressentem dos puxões que desatam os laços do lar, e os acham difíceis de suportar; mais difíceis ainda são as suspeitas dos amados e amigos de terem sido desprezados. Sim, a censura do mundo se torna muito real se estivermos seguindo a Cristo de perto. Ninguém pode segui-Lo e permanecer em harmonia com o mundo.

Outro jovem veio e apresentou-se a Cristo e, ajoelhando-se a Seus pés, O adorou e disse: “Bom Mestre, que hei de fazer …?”, e o Senhor apresentou-lhe a cruz: “Vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres […] vem e segue-me” (18.18,22). E o jovem retirou-se triste. E Cristo ainda continuou a dizer, a vocês e a mim, hoje: “E qualquer que não levar a sua cruz, e vier após Mim, não pode ser Meu discípulo”. A cruz significa a reprovação e o ódio do mundo. Mas, assim como a cruz foi voluntária para Cristo, ela é voluntária para Seu discípulo. Ela tanto pode ser evitada quanto aceita, ignorada quanto “tomada”.

Mas, em segundo lugar, a cruz significa uma vida que é voluntariamente rendida à vontade de Deus. Do ponto de vista do mundo, a morte foi um sacrifício voluntário. Em João 10.17,18, lemos: “Por isto o Pai me ama: porque dou a Minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém a tira de Mim, mas Eu de Mim mesmo a dou. Tenho poder para a dar e poder para tornar a tomá-la”. Porque Ele deu a vida? Veja o final do versículo 18: “Este mandamento recebi de Meu Pai.” A cruz foi a última exigência de Deus sobre a obediência de Seu Filho. Por isso, em Filipenses 2 é dito que Ele, “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a Si mesmo, tomando a forma de escravo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a Si mesmo, sendo obediente até a morte…” – esse foi o clímax, esse foi o fim do caminho da obediência – “… e morte de cruz.”

Cristo nos deixou exemplo para que seguíssemos Seus passos. A obediência de Cristo deve ser a obediência do cristão – voluntária, não compulsória – voluntária, contínua, fiel, sem nenhuma reserva, até a morte. A cruz, portanto, significa obediência, consagração, rendição, uma vida à disposição de Deus. “ Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a Si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-Me”, e: “Qualquer que não levar a sua cruz […] não pode ser Meu discípulo”. Em outras palavras, caros amigos, a cruz significa o principio do discipulado, nossa vida sendo dirigida pelo mesmo principio que dirigiu a vida de Cristo: Ele veio aqui e não agradou a Si mesmo, nem devo eu procurar agradar a mim mesmo. Ele a Si mesmo se esvaziou; então, assim devo eu fazer. Ele ia por toda parte fazendo o bem: o mesmo deveria eu fazer. Ele não veio para ser servido, mas para servir: assim deveríamos agir. Ele se tornou obediente até a morte, e morte de cruz. É isto que a cruz significa: primeiro, a reprovação do mundo, porque nós nos opomos a ele e incitamos sua ira por nos separarmos dele, e por andarmos por uma direção diferente e por sermos dirigidos por princípios diferentes daqueles pelos quais ele é dirigido. Segundo, significa uma vida sacrificada a Deus – devotada a Ele.

Em terceiro lugar, a cruz significa sacrifício e sofrimento vicários. Vejamos 1João 3.16: “Conhecemos o amor nisto: que Ele [Cristo] deu a Sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos”. Essa é a lógica do Calvário. Nós somos chamados à comunhão com Cristo, e devemos viver segundo os mesmos princípios que Ele: obediência a Deus e sacrifícios pelos outros. Ele morreu para que tivéssemos vida e, meus amigos, nós temos de morrer para que vivamos. Mateus 16.25 diz: “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á” – isso diz respeito a todo cristão, pois Cristo estava ali falando aos discípulos. Todo o crente que tem vivido uma vida egocêntrica, preocupado com seu próprio conforto, sua própria paz de consciência, seu próprio bem-estar, suas próprias vantagens e benefícios, essa “vida” irá se perder para sempre – tudo desperdiçado à luz da eternidade; madeira, feno e palha, que virarão fumaça. Mas, “quem perder a sua vida por amor de Mim, achá-la-á”, que quer dizer, alguém que não tem vivido considerando seu próprio bem-estar, seus próprios interesses, seu próprio benefício, sua própria promoção, mas tem sacrificado e gastado a vida a serviço dos outros por causa de Cristo; esse achará – o quê? –, ele a achará, não alguma outra coisa a mais: sua vida, não outra – a sua vida. Essa vida foi imortalizada, perpetuada, foi feita de materiais imperecíveis que sobreviverão ao teste do fogo do dia por vir. Ele “a” achará. Cristo morreu para que pudéssemos viver, e nós devemos morrer se quisermos viver! “Quem perder a vida por minha causa, achá-la-á”.

Novamente, em João 20, Cristo disse a Seus discípulos: “Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio” (v. 21). Para que Cristo foi enviado? Para glorificar ao Pai, para expressar o amor de Deus, para manifestar a graça de Deus, para lamentar sobre Jerusalém, para ter compaixão do ignorante e daqueles que estão fora do caminho, para labutar tão diligentemente que Ele não tinha tempo nem para comer, para viver uma vida de tão alto sacrifício que Seus familiares disseram: “Está fora de Si”, e: “Assim como o Pai Me enviou”, Ele diz, “também Eu vos envio”. Em outras palavras, “Eu vos envio de volta para o mundo do qual vos salvei. Eu vos envio de volta para o mundo para viverdes com a cruz estampada em vós”. Ó irmãos e irmãs, quão pouco “sangue” há em nossa vida! Quão pequeno é o levar o morrer de Jesus em nosso corpo (2Co 4.10)!

Estamos surpresos pelo fato de termos tão pouca vitória sobre o pecado que habita em nós?

Já começamos, de algum modo, a “tomar a cruz”? Estamos surpresos com o fato de estarmos seguindo Cristo tão de longe? Estamos surpresos pelo fato de termos tão pouca vitória sobre o pecado que habita em nós? Há uma razão para tudo isso. Em seu caráter expiatório, a cruz de Cristo permanece única, mas no viver diário a cruz deve ser compartilhada por todos os Seus discípulos. Legalmente, a cruz do Calvário anulou e afastou de nós nossa culpa, a culpa de nosso pecado, mas, meus amigos, eu estou perfeitamente convencido de que a única maneira de nos libertarmos do poder do pecado sobre nossa vida e de obter domínio sobre o velho homem dentro de nós é tornando a cruz parte da experiência de nossa alma. Foi na cruz que o pecado foi tratado legal e judicialmente; somente na medida em que a cruz for “tomada” pelo discípulo é que ela se torna uma experiência – matando o poder e a corrupção do pecado que habita em nós. E Cristo diz: “Qualquer que não tomar a sua cruz […] não pode ser Meu discípulo!”. Oh, que necessidade tem cada crente de ficar a sós com o Senhor e consagrar-se a Seu serviço!

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A. W. Pink

Ansiedade

Não há ansiedade quando há fé.

“Não estejais inquietos por coisa alguma” (Fp 4.6).

A ansiedade é tão claramente proibida por Deus como é o roubo. Isso exige uma cuidadosa reflexão e um claro entendimento de nossa parte, a fim de não nos desculparmos por considerá-la uma simples “fraqueza”. Quanto mais estivermos convencidos da pecaminosidade da ansiedade, mais cedo perceberemos que ela desonra grandemente a Deus, e haveremos de “lutar contra” esse pecado (Hb 12.4). Mas como lutar contra o pecado da ansiedade?

Primeiro, supliquemos ao Espirito Santo que nos conceda uma convicção mais profunda da enormidade desse pecado. Segundo, façamos disso assunto de oração específica e séria, a fim de sermos libertados desse mal. Terceiro, fiquemos atentos ao começo da ansiedade e, tão logo estejamos conscientes da perturbação da mente, tão logo detectemos algum pensamento de incredulidade, elevemos o coração a Deus, suplicando-Lhe libertação desse pecado.

O melhor antídoto para a ansiedade é meditar com freqüência na bondade de Deus, em Seu poder e em Sua suficiência. Quando o santo consegue perceber confiantemente que o Senhor é seu pastor, forçosamente ele conclui: “Nada me faltará!” (Sl 23.1).

No texto de Filipenses, imediatamente após a exortação “Não estejais inquietos por coisa alguma”, lemos: “Antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ações de graças”. Não há nada grande demais nem pequeno demais para ser apresentado a Deus e lançado sobre Ele. A expressão “com ações de graças” é da maior importância; contudo, é o exato ponto em que muitas vezes falhamos. Ela significa que, antes de recebermos a resposta da parte de Deus, nós Lhe agradecemos por essa resposta. É uma confiança infantil, na expectativa de que o Pai será gracioso.

“Por isso, vos digo: não andeis cuidadosos quanto a vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que vestuário? […] Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.25,33).

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Gotas de orvalho (86)

Gotas de orvalho que alimentam a fé!

Acolher a Bíblia de forma meramente teórica, especulativa, gera um travesseiro desconfortável para a hora da morte. E é impressionante e solene refletir como cada assunto, cada tema, cada questão que surge da história, na filologia ou do objetivo da Palavra de Deus, naquele terrível momento dá lugar ao único assunto de fato importante: a sublime salvação nela revelada, por meio da qual a alma pode escapar do inferno e subir ao céu. Quem, nessa hora, deseja ouvir tratados, por mais cultos que sejam, a respeito da literatura, da eloqüência, da poesia ou da sublimidade da Bíblia? Quem, quando a natureza estiver se dissolvendo, a terra sumindo, a eternidade se abrindo, quem estará em condições de ponderar, examinar e verificar as evidências da inspiração das Escrituras? A linguagem ardente, a súplica de alguém nessa situação, cônscio do pecado e do perigo, é esta: “Haverá perdão, haverá salvação, haverá esperança para um pecador como eu? Será que a Palavra de Deus me diz como posso ser salvo? Leia para mim a respeito de Cristo. Fale-me do Salvador. Aponte-me o Cordeiro de Deus. Direcione meus olhos para a cruz, e ajude-me a ver Aquele cujo sangue purifica de todo pecado. Leia, fale, conte-me unicamente sobre Jesus!”.

(Otávio Winslow)

Não há nada mais inadequado do que pronunciar verdades solenes com um espírito brincalhão!

(Samuel Davies)

Existem, portanto, muitos homens e mulheres batizados que praticamente nada sabem sobre Cristo. A fé deles consiste em algumas noções vagas e expressões vazias. “Mas eles crêem, não são piores que outros; eles se mantêm na igreja, tentam fazer suas obrigações; não prejudicam a ninguém; esperam que Deus seja misericordioso para com eles! Eles confiam que o Poderoso perdoará seus pecados e os levará para o céu quando morrerem”. Isso é quase a totalidade de sua fé. Mas o que essas pessoas sabem de fato sobre Cristo? Nada! Nada mesmo! Que relação experiencial eles têm com os ofícios e a obra de Cristo, com Seu sangue, Sua justiça, Sua mediação, Seu sacerdócio, Sua intercessão? Nenhuma! Nenhuma mesmo! Pergunte-lhes sobre a fé salvífica; pergunte-lhes sobre nascer de novo do Espírito; pergunte-lhes sobre ser santificado em Cristo Jesus. Que resposta você terá? Você é um bárbaro para eles. Você lhes perguntou questões bíblicas simples, mas eles não sabem mais sobre elas, experimentalmente, do que um budista ou um muçulmano. E, mesmo assim, essa é a fé de centenas de milhares de pessoas por todo o mundo que são chamadas de cristãs.

(J. C. Ryle)

É terrível pensar que multidões de pessoas que se professam cristãs haverão de acordar no inferno para então descobrir que o conhecimento da verdade divina que possuíam não era mais sólido que um mero sonho!

(A. W. Pink)

Foi a certeza de que o homem terá de prestar contas a seu Criador que fez da América uma grande nação. Entre os antigos líderes encontrava-se Daniel Webster, cujos olhos flamejantes e cuja oratória ardente muitas vezes fascinou o Senado. Naqueles dias, o Congresso era composto de estadistas fortes, nobres, que carregavam no próprio coração e mente o peso da nação. Perguntaram, certa vez: “Sr. Webster, qual foi o pensamento mais sério que já lhe passou pela mente?” “O pensamento mais sério que já entrou em minha mente é minha responsabilidade de prestar contas a meu Criador”, replicou ele. Homens desse calibre não há como corromper nem comprar. Eles não precisam preocupar-se com escutas telefônicas. Aquilo que eram, em caráter e conduta, era resultado da convicção que tinham que no final teriam de prestar contas a Deus.

(A. W. Tozer)

Para alcançarmos o conhecimento proveitoso, a coisa mais necessária é temer a Deus. Não somos capazes de aproveitar as instruções que nos são dadas a não ser que nossa mente esteja possuída de santa reverência por Deus e que cada pensamento nosso seja trazido à obediência Dele. […] Da mesma forma que todo o nosso conhecimento precisa originar-se do temor de Deus, assim também ele precisa conduzir-nos ao temor de Deus como seu aperfeiçoamento e centro. Somente aqueles que sabem como temer a Deus, aqueles que são cuidadosos para em tudo agradá-Lo e que temem ofendê-Lo de qualquer forma, têm conhecimento adequado.

(Matthew Henry)

A idéia corrente sobre a oração parece ser que eu me achego a Deus e Lhe peço alguma coisa que quero, e minha expectativa é que Ele me dê aquilo que pedi. Mas essa é uma concepção que muito desonra e deprecia a oração. Essa crença popular reduz Deus a um servo, nosso servo: fazendo o que ordenamos, executando nossos desejos, concedendo-nos o que desejamos. Não, não! A oração consiste em aproximar-me de Deus, apresentar-lhe minhas necessidades, entregando-Lhe meu caminho e deixando que Ele lide com a situação como Lhe parecer melhor.

(A. W. Pink)

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Gotas de orvalho (85)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

Quando o pecado influencia nossas preferências, ele parece agradável e bom. A mente é naturalmente predisposta a pensar que tudo o que é agradável é correto. Portanto, quando um desejo pecaminoso vence a vontade, também lesa o entendimento.

(Jonathan Edwards)

“Deus falar” é o mesmo que “Deus agir”; para Ele, dizer e fazer são a mesma coisa.

(Matthew Henry)

Que esta seja a nossa regra sacra: não procurar saber nada mais, senão o que a Escritura nos ensina. Naquilo em que o Senhor fecha Seus próprios lábios que igualmente impeçamos nossa mente de avançar um passo a mais.

(João Calvino)

Abandonar o pecado é a própria essência do verdadeiro arrependimento. O arrependimento que consiste apenas em sentimentos, confissão verbal, desejos, esperança e decisão é indigno aos olhos de Deus. Os atos é que constituem a essência do “arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar”. Até que um homem cesse de fazer o mal e abandone seus pecados, ele não se arrependeu. Se queremos saber se realmente somos convertidos a Deus e se experimentamos tristeza pelo pecado e o arrependimento que causa “jubilo nos céus”, examinemo-nos e vejamos se, na verdade, abandonamos o pecado. Não descansemos até que sejamos capazes de dizer, como se estivéssemos na presença de Deus: “Odeio o pecado, e não quero mais pecar”.

(J. C. Ryle)

Guarde-se de estudar a Bíblia como mero amante de história, ou de ciência ou de poesia. Estude-a como um pecador, ansioso por saber como pode ser salvo. Leia a Bíblia para saber como Deus pode perdoá-lo, justificá-lo e conduzi-lo ao céu quando você morrer. Deixe de lado suas críticas, discussões e especulações, e aproxime-se da Bíblia como uma criancinha, como um sincero investigador, como um aluno humilde, desejoso de conhecer as Escrituras, que podem torná-lo sábio para a vida eterna. Nessa busca tão séria, deixe de lado todos os outros livros, e torne-se estudante desse único Livro de Deus. A salvação é o grande e principal tema da Bíblia, e isso é tudo que você, como pecador que vai enfrentar o trono do juízo de Deus, precisa conhecer.

(Otávio Winslow)

A hipocrisia é uma erva daninha que naturalmente brota em todo terreno. O melhor coração não está perfeitamente limpo nem livre dela.

(John Flavel)

A oração não é tanto um ato, mas é uma atitude; uma atitude de dependência, dependência de Deus.

(A. W. Pink)

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Regeneração – o novo nascimento

Há duas coisas que são absolutamente essenciais para poder receber a salvação: a libertação da culpa e do castigo do pecado e a libertação do poder e da presença do pecado. Um se efetua na obra de reconciliação de Cristo, e o outro se realiza nas operações efetuadas do Espírito Santo. Um é o bendito resultado do que o Senhor Jesus fez para o povo de Deus, e o outro é a conseqüência gloriosa do que o Espírito Santo fez no povo de Deus. Um ocorre quando, depois de haver nascido como mendigo destituído, a fé toma posse de Cristo e, então, Deus o justifica de todas as coisas, e o pecador crente, receoso e penitente, recebe o perdão completo e gratuito. O outro sucede paulatinamente em diferentes etapas sob a divina bênção da regeneração, da santificação e da glorificação. Na regeneração, o pecado recebe sua ferida mortal ainda que não morra totalmente. Na santificação, mostra-se na alma regenerada a cova de corrupção que mora dentro dele e que lhe ensina a desprezar e odiar a si mesmo. Na glorificação, a alma e o corpo são libertados para sempre de todo vestígio e efeito do pecado.

A regeneração é absolutamente necessária para que uma alma entre no céu. Para poder amar as coisas espirituais, um homem tem de ser transformado espiritualmente. “E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem” (2Ts 2.10). O homem natural pode ouvir estas coisas, porém não pode amá-las nem achar alegria nelas. Ninguém pode morar com Deus e estar feliz para sempre em Sua presença até que se tenha feito uma mudança radical nessa pessoa para realizar uma transformação do pecado à santidade; e essa mudança tem de se realizar aqui mesmo na terra.

Como alguém pode entrar no mundo de santidade inefável depois de haver passado toda sua vida em pecado (agradando-se dele)? Como poderá cantar o cântico do Cordeiro (Ap 15.3) se o coração não está sintonizado nele? Como poderá contemplar a grande majestade de Deus face a face se nem sequer houvera visto “pelo espelho na escuridão” com os olhos da fé? Tal como dóem os olhos de alguém quando sai a luz do sol do meio-dia depois de estar na escuridão, assim também será quando os inconversos contemplarem Aquele que é a luz. Em vez de querer tal visão, “todo o olho o verá, até os mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele” (1.7). Sim, tão aterradora será sua angústia que clamarão aos montes e as rochas: “Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto Daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro” (6.16). Meu querido leitor, essa será sua experiência a menos que Deus regenere você.

O que ocorre na regeneração é o contrário do que ocorreu na queda. A pessoa que nasce de novo é restaurada a uma união e comunhão com Deus por meio de Cristo e a operação do Espírito Santo: o que estava morto espiritualmente antes agora está vivo espiritualmente (Jo 5.24). Tal como a morte espiritual veio pela entrada de um princípio mau no ser do homem, da mesma maneira se introduz um princípio bom na vida espiritual. Deus lhe comunica um princípio novo, tão real e tão potente como é o pecado. Agora lhe é dada a graça divina, e uma disposição santa se desenvolve em sua alma. Dá-se lhe um espírito diferente ao homem interior. Porém não se criam novas faculdades dentro dele, mas, melhor que isso, se enriquecem suas faculdades originais, e essas adquirem nobreza e poder.

Uma pessoa regenerada é uma nova criatura (2Co 5.17). Meu caro leitor, isso se aplica a sua vida? Que cada um de nós se examine na presença de Deus a respeito destas perguntas! Como está meu coração a respeito do pecado? Existe uma humilhação profunda e uma tristeza segundo Deus, agora que me consagrei? Existe de modo genuíno ódio contra o pecado? Tenho uma consciência imatura para que me perturbem essas coisas que o mundo denomina “pequenas”? Sinto-me humilde quando estou consciente do surgimento do orgulho e da minha vontade própria? Aborreço as minhas corrupções internas? Estão os meus desejos mortos para o mundo e vivos para Deus? Em que medito em meu tempo livre? Parecem-me os exercícios espirituais tempos de alegria e prazer ou incômodos como uma pesada carga? Posso dizer: “Quão doces são ao meu paladar as Tuas palavras! Mais do que o mel na minha boca (Sl 119.103)”? É a comunhão com Deus meu maior gozo? É a glória de Deus mais preciosa para mim do que tudo o que o mundo me oferece?

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Gotas de Orvalho (41)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

Ah, se pudéssemos sentir-nos mais preocupados com o estado de inanição em que se encontra hoje a causa de Cristo na terra, com os avanços do inimigo em Sião e com a devastação que o diabo tem efetuado nele! Mas infelizmente um espírito de indiferença vem imobilizando muitos de nós.

(A.W. Pink)

Dá-me o tipo de amor que segue à frente de todos, a fé que não desanima à vista de nada, a esperança que não morre mesmo sofrendo decepções, o fervor que arde como fogo. Que eu nunca fique estagnada como um torrão no chão. Torna-me o Teu combustível, Chama Divina!

(Amy Carmichael)

Como você tem reagido nas horas de aflição? Você está bebendo da taça do tremor, sentindo-se débil, sem poder para resistir ao inimigo? É hora de sacudir as amarras pesadas e levantar mãos santas em louvor a seu Redentor. Você está livre, não importa qual seja a prova – então, alegre-se e se regozije, sabendo que o Quarto Homem está na fornalha com você. Cristo se revelará em seu sofrimento, e o fogo queimará todas essas cordas que lhe atam.

(David Wilkerson)

Quando buscamos a Deus em oração, o diabo sabe que estamos querendo mais poder para lutar contra ele, e por isso procura lançar contra nós toda a oposição que é capaz de arregimentar.

(Richard Sibbes)

O principal requisito de um missionário não é, como temos ouvido tantas vezes, ter paixão pelos perdidos, mas ter amor por Cristo.

(Vance Havner)

A natureza da salvação de Cristo é deploravelmente deturpada pelos evangelistas de hoje. Eles anunciam um Salvador do inferno em vez de um Salvador do pecado. E é por isso que muitos são fatalmente enganados, pois há multidões que desejam escapar do lago de fogo que não têm nenhum desejo de ficar livres de sua carnalidade e de seu mundanismo.

(A. W. Pink)

As riquezas do ministério na Palavra serão proporcionais às provações pelas quais passarmos. Somente podemos dispensar aos filhos de Deus aquilo que tivermos ganho pela experiência. Somente podemos transmitir a eles o que efetivamente aprendemos do próprio Deus.

(Watchman Nee)

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Gotas de Orvalho (40)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

Se você não deseja santidade, não vejo que tenha qualquer direito de pensar que é cristão.

(Martyn Lloyd-Jones)

É difícil ver como o cristianismo pode ter um efeito positivo na sociedade, se não pode transformar sua própria casa.

(John F. MacArthur Jr.)

É possível falar de amor pelos homens de tal maneira que Deus sai de cena. É possível começar a justificar sua vida unicamente na base do quão “bom” você é para os homens. E, gradualmente, a diferença entre um cristão e a falsa ética humanista desaparece. Não porque o humanismo tornou-se centrado em Deus, mas porque o cristão tornou-se o centro de tudo.

(John Piper)

Satanás ofereceu a Adão um fruto, e Adão perdeu o paraíso. Por isso, em todas as tentações considere não o que ele oferece , mas o que você vai perder.

(Richard Sibbes)

Ah, que alegria é ter nada, ser nada e ver nada além de um Cristo vivo em glória e não se importar com nada além de Seus interesses aqui na terra!

(John Nelson Darby)

Não perguntamos: “Cristo é seu Salvador?”, mas: “Ele é real e verdadeiramente seu Senhor?” Se Ele não for seu Senhor, então, com a mais absoluta certeza, Ele não é seu Salvador.

(A.W. Pink)

É bom desmascarar nossos pecados, para que eles não nos desmascarem.

(Thomas Watson)

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