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George Müller Testemunho

Fé real

“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Pela fé entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente” (Hb 11.1-3).

Primeiro: o que é fé?

Na maneira mais simples em que eu seria capaz de expressar, eu responderia: Fé é a certeza de que as coisas que Deus disse em Sua Palavra são verdade, e de que Deus agirá de acordo com o que Ele disse em Sua Palavra. Essa segurança, essa certeza na Palavra de Deus, essa confiança é fé.

Impressões não devem ser consideradas em conexão com a fé

Impressões não têm qualquer relacionamento com a fé. Fé relaciona-se à Palavra de Deus. Não são impressões, fortes ou fracas, que farão qualquer diferença. Temos de nos relacionar com a Palavra escrita e não conosco ou com nossas impressões, com nossos sentimentos.

Probabilidades não devem ser levadas em conta.

Muitas pessoas preferem crer naquilo que lhes pareça provável. Fé não tem relação nenhuma com probabilidades. O campo da fé começa onde as probabilidades cessam, onde o visível e o senso falham. Uma grande parte dos filhos de Deus decaem e lamentam sua falta de fé. Eles escrevem para mim e dizem que não possuem nenhuma impressão, nenhum sentimento, e alegam não ver probabilidade de que aquilo que desejam ocorrerá. As aparências não devem ser levadas em consideração. A questão é: o que Deus falou a respeito disso em Sua Palavra.

E, agora, amados amigos cristãos, há grande necessidade de questionarem a si mesmos se vocês, no recôndito da alma, praticam o hábito de tal confiança naquilo que Deus disse e se estão procurando francamente descobrir se aquilo que pedem está de acordo com o que Deus disse em Sua Palavra.

Segundo: como a fé pode ser desenvolvida.

Deus se deleita em desenvolver a fé de Seus filhos. Nossa fé, inicialmente fraca, é desenvolvida e fortalecida mais e mais dentro de nós. Em vez de evitarmos qualquer provação antes da vitória, sem qualquer exercício de paciência, devemos ter a disposição de considerar tais instrumentos como vindos das mãos de Deus. Eu digo, e o faço deliberadamente, que provações, obstáculos, dificuldades e, até mesmo derrotas, são o verdadeiro alimento da fé.

Recebo cartas de vários queridos filhos de Deus que dizem: “Querido irmão Müller, escrevo-lhe esta carta porque estou muito fraco na fé”. Pois, da mesma forma como pedimos que nossa fé seja fortalecida, devemos ter a disposição tomar como vindos das mãos de Deus os meios para fortalecê-la. Precisamos permitir que Ele nos eduque mediante provações, lutas e dificuldades. É por meio de provações que a fé é exercitada e desenvolvida mais e mais.

Carinhosamente, Deus permite dificuldades que possam desenvolver permanentemente o que Ele quer fazer por nós, e, ao fim das quais, não devemos nos retrair, mas, se Ele nos permitir tristeza, obstáculos, perdas e aflições, devemos tomá-las de Suas mãos como evidências de Seu amor e cuidado por nós em desenvolver mais e mais a fé que Ele procura fortalecer em nós.

A Igreja de Deus não está despertada para ver quão belo e amável Ele é; daí a pequenez da bem-aventurança. Oh, amados irmãos e irmãs em Cristo, procurem aprender por si mesmos, pois não posso lhes transmitir tal bem-aventurança! Nos momentos mais sombrios sou capaz de confiar Nele, pois sei quão belo e que amável Pessoa Ele é. E, caso seja a vontade de Deus colocar-nos na fornalha, deixemos que o faça, para que nos familiarizemos com Ele conforme Ele se revele, para que o conheçamos ainda melhor. Chegaremos, então, à conclusão de que Deus é um Ser amável, e estaremos contentes com Ele, e diremos: “Esse é meu Pai! Que Ele faça o que Lhe agradar”.

Quando comecei a permitir que Deus tratasse comigo, confiando Nele, tomando-O em Sua Palavra, e quando parti, cinquenta anos atrás, simplesmente confiando Nele no que dizia respeito a mim, a minha família, a custos, despesas de viagem e todas as demais necessidades, eu descansei nas simples promessas que encontrei no sexto capítulo de Mateus. Leia Mateus 6.25-34, atentamente. Eu cri na Palavra, descansei nela e a pratiquei. Eu tomei Deus em Sua Palavra. Um estranho, estrangeiro na Inglaterra, eu sabia sete idiomas e poderia tê-los usado talvez como atividade remunerada, mas eu havia me consagrado a trabalhar para o Senhor; eu pus minha confiança no Deus que havia prometido, e Ele agiu de acordo com Sua Palavra. Eu não tinha absolutamente nada. Tive minhas provações, minhas dificuldades e minha bolsa vazia, mas as entradas agregaram milhares de dólares, 51 anos desde que a obra se iniciou. Portanto, com relação a meu trabalho pastoral, nos últimos 51 anos, tive grandes dificuldades, grandes provações e perplexidades. Sempre haverá dificuldades, sempre provações. Mas Deus tem-me sustentado sob elas e delas me livrou, e a obra prossegue.

Contudo, isso não se dá, como alguns disseram, porque sou um homem de grande poder mental, ou dotado de energia e perseverança – esses não são os motivos. A razão é que confiei em Deus; porque busquei a Deus e Ele cuidou da Instituição, que, sob direção Dele, tem cem turmas de alunos, com mestres e mestras, e outros departamentos que já mencionei em outra ocasião.

Eu não carrego fardos. E, agora, em meus 67 anos, tenho força física e vigor mental para tanto trabalho da mesma forma de quando eu era um jovem na universidade, estudando e preparando prédicas em latim. Sinto tanto vigor quanto naquele tempo. Como pode ser isso? Porque no último meio século de labor fui capaz, com a simplicidade de uma criança, de confiar em Deus. Sim, eu tive minhas provações, mas me apeguei a Deus, e por meio disso fui sustentado. Não é mera permissão, mas direção específica, que Ele dá de lançarmos os fardos sobre Ele. Oh, façamos isso! Meus amados irmãos e irmãs em Cristo: “Lança teu fardo sobre o Senhor, e Ele te sustentará” (cf. 1Pd 5.7). Dia a dia eu o faço. Hoje de manhã, levei perante o Senhor sessenta assuntos relacionados à igreja que pastoreio, e, assim é: dia após dia faço isso, e ano após ano; dez anos, trinta anos, quarenta anos.

Todavia, não imaginemos obter fé completa de uma só vez. Todas essas coisas, como salto de pleno exercício da fé, eu menosprezo. Eu não creio nisso. Eu não creio nisso. Não creio nesse tipo de fé, e desejo que você compreenda claramente que eu não creio nisso.

Essas coisas todas [relativas à fé] acontecem de maneira natural. O pouco que obtive, não o obtive todo de uma só vez. Digo tudo isso de modo particular, porque cartas chegam a mim cheias de perguntas daqueles que procuram ter sua fé fortalecida. Comece de novo, mantendo sua alma na Palavra de Deus, e você terá um aumento de sua fé conforme a exercitar.

Uma coisa mais. Alguns dizem: “Oh, nunca terei o dom da fé que o sr. Müller tem!” Isso é um erro; é o maior erro; não há nisso uma partícula de verdade. Minha fé é o mesmo tipo de fé que todos os filhos de Deus tiveram. É o mesmo tipo de fé que Simão Pedro tinha, e todos os cristãos podem obter a mesma fé. Minha fé é a fé deles, embora possa haver mais dela porque minha fé tenha sido um pouco mais desenvolvida pelo exercício do que a deles; mas a fé deles é exatamente a fé que eu exercito, possivelmente, em relação ao grau, a minha possa ser mais fortemente exercitada.

Agora, amados irmãos e irmãs, comecem aos poucos.

Inicialmente, eu era capaz de confiar no Senhor com respeito a dez dólares, depois com respeito a cem dólares, depois com respeito a mil dólares, e agora, com grande facilidade, eu posso confiar Nele com respeito a um milhão de dólares, se fosse o caso. Mas, antes de tudo, eu deveria examinar em silêncio, com critério, por vontade própria, e ver se aquilo em que eu confiava era algo conforme Suas promessas em Sua Palavra escrita.

“Como cooperadores com Ele” (cf. 2Co 6.1).

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Bíblia Comunhão com Deus George Müller

Os benefícios de meditar na Palavra de Deus

Não leia apenas. Medite!

Muitos anos atrás, o Senhor me ensinou uma verdade, até onde sei sem a instrumentalidade humana, cujo benefício conservo até hoje, mais de quarenta anos depois.

O caso é o seguinte: eu vi mais claramente do que nunca que a principal e fundamental ocupação a que eu precisava me dedicar todos os dias era que minha alma sentisse prazer na presença e no favor de Deus. A primeira coisa com que me preocupar não era o quanto eu devia servir ao Senhor, como eu deveria glorificar o Senhor, mas como eu conseguiria levar minha alma a um estado de alegria e como meu homem interior podia ser alimentado. Porque eu poderia apresentar a verdade aos não-convertidos, poderia tentar beneficiar os crentes, procurar socorrer os aflitos, poderia de outras maneiras tentar comportar-me como convém a um filho de Deus neste mundo, mas, não estando alegre no Senhor e não estando alimentado e fortalecido em meu homem interior dia a dia, tudo isso poderia ser desempenhado sem um espírito correto.

Antes desse tempo, pelo menos nos últimos dez anos, minha prática habitual havia sido dedicar-me à oração depois de me levantar pela manhã. Agora eu via que a coisa mais importante que eu devia fazer era entregar-me à leitura da Palavra de Deus e meditar nela para meu coração ser confortado, alertado, encorajado, reprovado, instruído, e que, assim, ao meditar, meu coração fosse trazido a uma comunhão prática com o Senhor.

Comecei, então, a meditar no Novo Testamento cedo de manhã. A primeira coisa que fiz, depois de pedir em poucas palavras a bênção do Senhor sobre Sua preciosa Palavra, foi começar a meditar na Palavra de Deus, investigando por assim dizer cada versículo para extrair dele alguma bênção – não com a finalidade de ministrar publicamente a Palavra, não para pregar com base no que eu tinha meditado, mas com a finalidade de conseguir comida para minha própria alma. O resultado que tenho obtido quase sempre é o seguinte: depois de poucos minutos, minha alma tem sido levada a confessar, dar graças, interceder ou suplicar; de forma que, embora eu não tenha me entregado à oração e sim à meditação, mesmo assim ela se voltou quase que de imediato à oração, às vezes com mais, às vezes com menos intensidade. Depois de algum tempo em confissão, intercessão ou súplica ou ações de graças, prossigo para as próximas palavras ou o próximo versículo, transformando tudo, à medida que avanço, em oração por mim mesmo ou pelos outros, conforme a Palavra oriente, mas sempre tendo diante de mim que o objetivo da minha meditação é obter alimento para minha própria alma.

O resultado disso é que sempre tenho, misturados com minha meditação, bons motivos para fazer confissão, dar graças, suplicar ou interceder – e que meu homem interior quase invariavelmente é alimentado e fortalecido, e por volta da hora do café da manhã, com raras exceções, eu encontro meu coração cheio de paz e alegria.

Dessa forma, o Senhor também se agrada em dar-me aquilo que, logo depois, se torna alimento para outros crentes, embora não tenha sido por causa da ministração pública da Palavra que eu tenha me entregado à meditação, mas sim para o benefício de meu próprio homem interior.

A diferença, então, entre minha prática anterior e a de agora é que anteriormente, quando me levantava, eu começava a orar assim que me fosse possível, e geralmente gastava em oração todo ou quase todo o tempo antes do café da manhã. De todo jeito, eu quase sempre começava com oração, exceto quando sentia minha alma seca mais do que o normal, casos em que eu lia a Palavra de Deus em busca de alimento, ou de refrigério, ou de reavivamento e renovação de meu homem interior, antes de entregar-me à oração.

Mas qual era o resultado disso? Muitas vezes, eu gastava quinze minutos ou meia hora ou mesmo uma hora de joelhos, antes de perceber que tinha recebido algum conforto, encorajamento, humilhação de alma, etc.; e, muitas vezes, depois de sofrer muito nos primeiros dez, quinze ou trinta minutos com pensamentos que se dispersavam, somente então eu realmente começava a orar.

Raramente eu tenho dificuldades com isso agora. Por ter sido meu coração despertado pela verdade e trazido à comunhão experimental com Deus, eu falo com meu Pai e com meu Amigo (por mais vil que eu seja e indigno de disso tudo!) a respeito das coisas que Ele trouxe diante de mim em Sua preciosa Palavra.

Muitas vezes, fico admirado de não ter visto isso antes. Não li isso em livro nenhum. Não ouvi nenhuma pregação a respeito desse assunto. Não conversei com ninguém que me incentivasse quanto a isso. Mas agora, uma vez que Deus me ensinou esse ponto, para mim ficou mais claro do que nunca:

a primeira coisa que o filho de Deus deve fazer todos os dias de manhã é conseguir alimento para seu homem interior.

Assim como o homem exterior não está pronto para trabalhar sem se alimentar, e assim como essa é uma das primeiras coisas que fazemos de manhã, assim deve ser com o homem interior. Não há como negar que precisamos alimentar nosso homem interior.

Mas o que é esse alimento para o homem interior? Não é a oração, mas sim a Palavra de Deus. E também não é a simples leitura da Palavra de Deus, de forma que passe pela nossa mente assim como a água passa por um cano. Mas devemos considerar e meditar aquilo que lemos, ponderar na Palavra e aplicá-la ao nosso coração.

Quando oramos, nós falamos com Deus. Mas a oração, para durar algum tempo que não seja cheio de formalidades, requer, falando-se de forma geral, uma medida de vigor ou de desejo piedoso. Por isso, o momento em que esse exercício da alma pode ser executado de forma mais efetiva é depois que o homem interior foi alimentado pela meditação na Palavra de Deus, na qual o Pai fala conosco, nos encoraja, conforta, instrui, humilha e reprova. Por essa razão é que podemos meditar de forma proveitosa nas Escrituras com a bênção de Deus, por mais fracos que estejamos espiritualmente. Pelo contrário, quanto mais fracos estamos, mais precisamos meditar para o fortalecimento do nosso homem interior. Teremos muito menos dificuldade com pensamentos dispersos se orarmos depois da meditação do que quando nos dedicamos à oração sem gastar antes algum tempo meditando.

Insisto tanto nesse assunto porque sei o proveito e o alívio que recebi dessa prática, e carinhosa e solenemente imploro aos meus companheiros cristãos que considerem-na. Pela bênção de Deus, atribuo a esse costume a ajuda e a força que obtive de Deus para atravessar em paz profundas provações, mais do que eu tinha anteriormente. E, depois de provar esse caminho por mais de quarenta anos, posso recomendá-lo de forma mais plena, no temor de Deus.

Como é grande a diferença quando a pessoa é refrigerada e se alegra cedo de manhã, da situação em que ela, sem preparação espiritual, já se depara com o serviço, as provações e as tentações do dia!
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Bíblia Charles Spurgeon Citações Espírito Santo George Müller Gotas de orvalho Osvald Chambers Santidade Vida cristã

Gotas de orvalho (98)

Cedo de manhã, o orvalho do céu!

Você já ouviu Jesus proferir-lhe uma palavra dura? Se não, duvido que O tenha ouvido dizer alguma coisa.

(Oswald Chambers)

Deus não pode exigir o pagamento duas vezes: primeiro, da mão ensangüentada de meu Fiador, e, então, de novo, de mim.

(A. M. Toplady)

Hoje em dia ouvimos alguém extrair de seu contexto uma frase isolada na Bíblia e clamar: “Eureka!”, como se tivesse descoberto uma nova verdade; no entanto, não achou um diamante, mas um pedaço de vidro quebrado.

(C. H. Spurgeon)

O vigor de nossa vida espiritual está na proporção exata do lugar que a Bíblia ocupa em nossa vida e em nossos pensamentos.

(George Müller)

Não podemos fazer progresso na santidade a menos que empreguemos mais tempo lendo e ouvindo a Palavra de Deus e meditando sobre ela; pois é ela que é a verdade pela qual somos santificados.

(Charles Hodge)

O homem pode despedir a compaixão de seu coração, mas Deus nunca fará isso.

(William Cowper)

Sem a presença do Espírito Santo não há convicção, nem regeneração, nem santificação, nem purificação e nem obras aceitáveis. A vida está no Espírito vivificante.

(W. A. Criswell)

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Charles Spurgeon Citações D. L. Moody D. M. Panton George Müller Gotas de orvalho Robert Chapman

Gotas de orvalho (75)

Gotas de orvalho que alimentam a fé!

Você, irmão, que treme de medo, se sentiria em perfeita segurança caso tivesse os olhos abertos para ver as companhias de anjos em seu derredor. Você se regozijaria em sua segurança se visse cavalos e carros de fogo a sua volta. Contudo, semelhantes defesas são como nada em comparação com a que está sempre ao seu redor. Deus é melhor do que miríades de carros. “As carruagens de Deus são vinte milhares, milhares de milhares” (Sl 68.17), mas a glória é o Senhor estar entre eles.

(Charles H. Spurgeon)

A maior angústia em quase todas as provações não é tanto o sofrimento em si, mas nosso espírito de resistência a ele.

(Jean Nicolas Grou)

Antes que nosso conhecimento possa ser de muito proveito para outros, deve tornar-se um canal de comunhão secreta entre nossa alma e Deus.

(Robert C. Chapman)

Lamentamos sempre a brevidade de nossos dias, mas agimos como se não houvesse fim para eles.

(D. L. Moody)

O resumo áureo de nossa vida deve ser este: quanto ao passado, um registro de gratidão; quanto ao presente, um registro de serviço; quanto ao futuro, um registro de confiança.

(D. M. Paton)

Em mil aflições, não são quinhentas delas que cooperam para o bem do crente, mas novecentas e noventa e nove e mais uma – as mil.

(George Muller)

Ficar desapontado consigo mesmo é ter acreditado em si mesmo.

(William R. Newell)

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Amor a Deus Citações Evangelho George Müller Gotas de orvalho Martinho Lutero Pecado Santidade Vários

Gotas de orvalho (50)

Cedo de manhã, o orvalho do céu!

Um pequeno feixe da vontade de Deus está sempre atado a cada hora.

(F. W. Faber)

Aquele que crê no Senhor não se preocupa com o amanhã, mas labuta alegremente com o coração sereno.

(Martinho Lutero)

Antes que nosso conhecimento possa ser de muito proveito para outros, deve tornar-se um canal de comunhão secreta entre nossa própria alma e Deus.

(Robert C. Chapman)

A fé são os pés que nos levam a Jesus. Pés aleijados ainda são pés. Aquele que vem vagarosamente, de alguma forma vem.

(George Müller)

Aqueles que apreciam a graça com mais profundidade não continuam no pecado. Além disso, o medo produz a obediência dos escravos; o amor gera a obediência dos filhos.

(J. W. Sanderson Jr.)

Devemos nos aproximar da Palavra de Deus não apenas com fé e com amor, mas com o desejo de obedecer.

(Ruth Paxon)

O evangelho tem de ser antagonista a tudo o que é contrário a Deus.

(C. A. Fox)

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George Müller Vida cristã

Preparar meu coração para aquele dia

Aprouve ao Senhor ensinar-me uma verdade, que tem beneficiado a minha vida por mais de catorze anos.

É a seguinte: percebi, muito mais claramente do que antes, que o assunto mais importante e mais urgente com que tenho de me ocupar a cada dia é conservar a minha alma muito feliz no Senhor.

A primeira coisa com que devo me preocupar não é tanto o quanto eu posso servir ao Senhor, mas o quanto posso colocar minha alma num estado de felicidade no Senhor e alimentar meu homem interior. Eu poderia procurar servir ao Senhor pregando a verdade aos incrédulos; poderia procurar beneficiar os crentes; poderia cuidar de aliviar os oprimidos. Poderia ainda procurar proceder de tal maneira a me comportar como um filho de Deus neste mundo e, contudo, por não estar feliz no Senhor e não ser alimentado e nutrido no meu homem interior dia a dia, tudo isto poderia não ser praticado corretamente ou no espírito certo.

Até então minha prática tinha sido, por pelo menos dez anos antes disso, de habitualmente me entregar à oração logo depois de me vestir de manhã cedo. Agora eu vejo que a coisa mais importante que eu deveria fazer era me entregar à leitura da Palavra de Deus, e nela meditar, de tal maneira que meu coração pudesse ser confortado, encorajado, aquecido, reprovado, instruído. Percebi que assim, por meio da Palavra de Deus, enquanto meditava nela, meu coração poderia ser levado a uma experiência de comunhão com o Senhor. Comecei, a partir de então, a meditar no texto do Novo Testamento desde o começo, cedo de manhã.

A primeira coisa que eu fiz, depois de pedir em poucas palavras a bênção do Senhor sobre Sua preciosa Palavra, foi começar a meditar na Palavra de Deus, pesquisando em cada versículo para obter dele uma bênção, não para exercitar o ministério público da Palavra, não para pregar sobre aquilo em que eu estava meditando, mas para obter alimento para minha própria alma. Descobri que, como resultado disso, invariavelmente logo depois de alguns minutos minha alma era levada à confissão, ou à ação de graças, ou à intercessão ou à súplica; de tal modo que, embora eu não tivesse inicialmente me dedicado à oração e sim à meditação, contudo eu era levado quase imediatamente de um jeito ou de outro à oração.

Percebi que o assunto mais importante e mais urgente com que tenho de me ocupar a cada dia é conservar a minha alma muito feliz no Senhor

Então, quando eu terminava com a minha súplica, ou intercessão, ou ação de graças ou confissão, eu seguia para os outros versículos, e novamente mergulhava na oração por mim mesmo ou pelos outros, de acordo com o que me guiava a Palavra, mas ainda mantendo diante de mim aquele objetivo da minha meditação: o de obter alimento para minha alma. A diferença, então, entre minha prática anterior e esta atual é isto: antes, quando eu me levantava, eu começava a orar o mais cedo possível, e geralmente gastava quase todo o meu tempo até o café da manhã em oração, ou até todo o tempo. Em todas as ocasiões eu quase invariavelmente começava com oração, a não ser quando eu sentia a minha alma desnutrida, estéril, casos em que eu lia a Palavra de Deus para alimento, ou para refrigério, ou para renovação ou reavivamento do meu homem interior, antes de me entregar à oração propriamente dita. Mas qual era o resultado disto?

Geralmente eu ficava de joelhos quinze minutos, ou meia hora, ou até uma hora, antes de alcançar a consciência de estar recebendo conforto, encorajamento, humildade de espírito, etc., e muitas vezes, depois de ter sofrido com a divagação da minha mente pelos primeiros dez minutos, ou quinze, ou até mesmo meia hora, e então somente aí é que eu começava realmente a orar. Raramente me acontece isso agora. Com meu coração alimentado pela verdade, experimentando uma comunhão real com Deus, eu falo com meu Pai e com meu Amigo (por mais vil que eu seja e indigno disto) acerca das coisas que Ele me trouxe na Sua preciosa Palavra. Muitas vezes eu me admiro agora de que não tenha percebido isto antes. Pegue esta chave de ouro. Ele chama você. Entre em Seu Santo Lugar.

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C. H. Mackintosh George Müller História Igreja Irmãos Testemunho Watchman Nee

A igreja em Filadélfia (Watchman Nee)

Leitura Bíblica: Ap 3:7-13; Mt 23:8-11; Jo 20:27; 1 Co 12:13; Gal 3:28

Neste capítulo apresentamos um diagrama sistemático que pode ajudar-nos a entender melhor o que temos falado. A primeira parte representa a Igreja na era dos apóstolos. Embora Éfeso seja uma Igreja que tenha enfraquecido, ela ainda está na mesma linha reta, uma vez que o Senhor reconheceu a igreja de Éfeso como continuação da igreja apostólica. Então veio Esmirna, que também continuou na mesma linha. Esmirna é realmente uma igreja sofrida. Não há louvor nem censuras para ela. Depois de Esmirna, algo ocorreu quando pareceu Pérgamo. Ela não continuou a ortodoxia dos apóstolos, mas se uniu ao mundo e iniciou uma curva descendente. Ela sucedeu a igreja em Esmirna, mas não continuou na ortodoxia dos apóstolos. Uma vez que Pérgamo fez essa curva, Tiatira seguiu seus passos. Ela tomou a mesma linha de Pérgamo, mais não a mesma dos apóstolos. Sardes saiu de Tiatira, e ela também regrediu. Tiatira e Sardes continuarão até a volta do Senhor.

Filadélfia é a igreja que retorna à ortodoxia dos apóstolos. Filadélfia também fez uma curva, desta vez, de volta à posição inicial da Bíblia. A virada da restauração começou com Sardes e foi completada com Filadélfia. Agora a igreja está de novo na mesma linha reta que a era dos apóstolos. Filadélfia saiu de Sardes. Ela nem a Igreja Católica Romana nem as Igrejas Protestantes, mas continua a igreja da era dos apóstolos. Mas tarde veio Laodicéia, a qual veremos no próximo capítulo. Agora gastaremos algum tempo para ver o que Filadélfia é, a fim de termos clareza com relação ao seu significado.

Entre as sete igrejas, cinco são repreendidas e duas não. As duas não repreendidas são Esmirna e Filadélfia. O Senhor aprova só essas duas. É realmente notório que as palavras faladas pelo Senhor a Filadélfia são muito parecidas com as que foram faladas a Esmirna. O problema de Esmirna era o judaísmo, e em Filadélfia também havia judaísmo. À Igreja em Esmirna o Senhor diz: “Para serdes postos a prova”, enquanto para em Filadélfia o Senhor diz: “Eu te guardarei da hora da provação que deve vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra”. O Senhor também fala às duas igrejas com relação à coroa. Para Esmirna ele diz: “Dar-te-ei a coroa da vida”, enquanto para Filadélfia ele diz: “Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”. As duas igrejas têm estes dois pontos semelhantes para mostrar que elas estão na mesma linha, isto é, na linha da ortodoxia da igreja apostólica. A Igreja em Sardes foi uma restauração, mas não completa (foi uma restauração que não foi bem feita). Mas Filadélfia restaurou até o ponto de satisfazer o desejo do Senhor. A igreja em Filadélfia não só não é censurada como também é louvada. A linha reta que desenhamos é a linha dos escolhidos, sabemos, evidentemente, que aquela que o Senhor escolheu foi Filadélfia. Filadélfia continua a ortodoxia dos apóstolos. Ela recuperou Esmirna. Portanto, as palavras do Senhor a ela são para guardar e obedecer. A virada de Pergamo e Tiatira foi tão grande que quando Sardes apareceu, embora agisse extraordinariamente bem, não recobrou a perfeição. Embora se voltasse em direção à restauração, ela não conseguiu atingir o alvo. Filadélfia é uma restauração completa. Precisamos ver isso claramente.

Filadélfia, em grego, é composta de duas palavras: o significado de uma é amar um ao outro, e o significado da outra é irmão. Assim, Filadélfia significa amor fraternal. Amor fraternal é a profecia do Senhor. Sacrifício é a característica principal de Tiatira e é cumprida na Igreja Católica Romana. Restauração é a característica de Sardes e é cumprida nas igrejas protestantes. Agora o Senhor diz-nos que há uma igreja que está completamente restaurada e é por Ele louvada. Os que lêem a Bíblia levantarão a questão: ” quem é ela na atualidade? Onde podemos encontrá-la na historia?” Não deixemos esta questão passar facilmente.

Já falamos do comportamento dos nicolaítas e do ensinamento dos nicolaítas nas Igrejas em Éfeso e Pergamo. Além disso, já mostramos que eles representam uma casta de sacerdotes. Entre os israelitas, os levitas podem ser os sacerdotes e o restante não pode. Mas na igreja todos os filhos de Deus são sacerdotes. A primeira Epístola de Pedro 2 e Apocalipse 5 nos dizem claramente que todos os comprados com o sangue são sacerdotes (vs. 9,10). Todavia, os nicolaítas criaram o emprego de sacerdote. O Laicato (crentes comuns ou leigos) deve ir ao mundo ter uma ocupação e executar negócios seculares. Os sacerdotes estão acima do laicato e encarregam-se dos negócios espirituais. Os judeus têm o judaísmo, e os nicolaítas desenvolveram o comportamento, tornando-o ensinamento. Veja a classe dos padres. Eles podem encarregar-se dos assuntos espirituais, enquanto outros cuidam de assuntos seculares. A imposição de mãos é assunto deles; somente eles podem abençoar. Se tenho de indagar sobre certo assunto, eu mesmo não posso perguntar a Deus, antes devo pedir-lhes que perguntem a Deus por mim. Na época de Sardes a situação melhorou. O sistema de padres foi abolido, mas o sistema clerical surgiu para tomar o seu lugar. Nas Igrejas protestantes, há as rigorosíssimas igrejas estatais, e há também as igrejas privadas dispersas. Contudo, quer seja na igreja do estado ou na igreja privada, a existência da classe mediadora é sempre vista. A primeira tem o sistema clerical, enquanto a ultima tem o sistema pastoral. Em relação a esse sistema de classe sacerdotal, quer sejam chamados de padres, clérigos ou de pastores, é algo rejeitado pelo Senhor. As igrejas protestantes são uma mudança de forma na continuação do ensinamento nicolaíta de Pérgamo. Embora nas igrejas protestantes ninguém seja chamado de padre, todavia os clérigos e os pastores são exatamente iguais em princípio. Mesmo se mudarmos o nome deles e chamá-los obreiros, enquanto permanecerem na mesma posição, eles tem o mesmo sabor.

Já expusemos bastante as Escrituras como base para mostrar que todos somos sacerdotes. Mas agora há uma controvérsia entre Deus e os homens. Desde que Deus diga que cada um na igreja está qualificado para ser sacerdote, por que os homens dizem que a autoridade espiritual está unicamente nas mãos de uma classe mediadora, tal como a dos padres? Todos os redimidos com o sangue são sacerdotes. Por que o Senhor não repreendeu Filadélfia, mas antes a louvou? Lembre-se que o inicio da classe mediadora foi em Pérgamo e a prática foi em Roma. Eles têm o papa que exerce domínio sobre eles, têm os altos oficiais exercendo autoridade sobre eles, e têm altos oficiais do Vaticano (a igreja-palácio) etc. Mas o Senhor diz: “Vós todos sois irmãos.” Apeguem-se a Mateus 20:25;23:8. É verdade que na Bíblia há pastores, mas a Bíblia não tem o sistema de pastores. Além disso, a palavra pastor é uma tradução; no texto original significa guardador de gado. Você pode chamá-lo de guardador de ovelhas ou guardador de gado. O Senhor diz: “Vocês não devem ter mestres entre vocês, e não devem ter padres”. Mas vejam como a Igreja Católica Romana chama os padres de “padre”, e as igrejas protestantes chamam os pastores de “pastor”. No século dezenove realizou-se um grande reavivamento que aboliu a classe mediadora. Após Sardes, uma grande restauração aconteceu: na igreja os irmãos amavam um ao outro e a classe mediadora foi abolida. Esta é Filadélfia.

Em 1825, em Dublin, capital da Irlanda, houve muitos crentes cujo coração foi movido por Deus para amar todos os filhos do Senhor, não importando em qual denominação estivessem. Este tipo de amor não foi frustrado pelos muros da denominação. Eles começaram a ver que a Palavra de Deus diz que há apenas um corpo de Cristo, não obstante em quantas seitas os homens possam dividi-lo. Eles continuaram lendo as Escrituras e viram que o sistema de um homem administrando a igreja e de um homem pregando não é bíblico. Então eles começaram a reunir-se a cada domingo para partir o pão e orar. O ano de 1825 foi (após mais de mil anos de Igreja Católica Romana e várias centenas de anos de igrejas protestantes) a primeira vez em que houve um retorno à adoração simples, livre e espiritual conforme as Escrituras. No inicio eram duas pessoas; mais tarde, quatro ou cinco.

Esses crentes, aos olhos do mundo, eram inferiores e desconhecidos. Mas eles tinham o Senhor no meio deles e a consolação do Espírito Santo. Eles permaneceram sobre a base de duas claras verdades: primeiramente, que a igreja é o Corpo de Cristo e que este Corpo é apenas um; em segundo lugar, no Novo Testamento não havia sistema clerical. Portanto, todos os ministros da palavra estabelecidos pelos homens não são bíblicos. Eles acreditavam que todos os verdadeiros crentes são membros deste único Corpo. Recebiam calorosamente todos os que vinham para o seu meio, não importando a que denominação pertencessem. Não tinham preconceito contra qualquer seita. Eles criam que todos os verdadeiros crentes tinham a função de sacerdote; portanto todos podem entrar livremente no Santo dos Santos. Eles também acreditavam que o Senhor Ascenso concedera diversos dons à igreja para o aperfeiçoamento dos santos, para a edificação do Corpo de Cristo, Portanto, eles foram capazes de renunciar aos dois pecados do sistema clerical (oferecer sacrifício e pregar a Palavra). Estes princípios capacitaram-nos a dar boas vindas a todos os que estão em Cristo como seus irmãos e a estarem abertos a todos os ministros da Palavra ordenados pelo Espírito Santo para servir.

Durante essa época, havia um clérigo na Igreja Anglicana, chamado John Nelson Darby, que estava muito insatisfeito com sua posição na sua própria igreja, acreditando que ela não era bíblica. Ele também se reunia freqüentemente com os irmãos, embora nessa época ele ainda usasse as vestes do clero e fosse um clérigo da Igreja Anglicana. Ele era um homem de Deus, um homem de grande poder e um homem disposto a sofrer. Ele também era um homem espiritual que conhecia a Deus e a Bíblia, e julgava a carne. Em 1827 ele, oficialmente, deixou a Igreja Anglicana, tirou o uniforme de Clérigo e tornou-se um simples irmão reunindo-se com os irmãos. Originalmente o que os irmãos viram foi um tanto limitado, mas quando Darby se juntou oficialmente a eles, a luz do céu verteu como uma torrente. Em muitos aspectos a obra de Darby foi parecidas com a de Wesley, mas suas atitudes em relação à Igreja Anglicana foram totalmente diferentes. No século anterior, Wesley sentiu que não poderia ter paz deixando a igreja estatal; um século mais tarde, Darby sentiu que não poderia ter paz continuando na Igreja Anglicana. Mas quanto ao zelo, à sinceridade e à fidelidade, eles foram muito parecidos em muitos aspectos.

Foi neste mesmo ano que J.G.Bellett também compareceu às reuniões. Ele também era um homem extraordinariamente profundo e espiritual. Essas reuniões, que eram simples, contudo bíblicas, comoveram-no profundamente. A respeito da condição nessa época, ele disse:

Um irmão acabou de dizer-me que lhe ficou óbvio nas Escrituras que os crentes reunindo-se juntos como discípulos de Cristo, eram livres para partir o pão juntos, como o Seu Senhor os advertira; e que, até onde a prática dos apóstolos pode ser um guia, todo domingo deve ser separado para assim lembrar a morte do Senhor e obedecer o que Ele exigiu ao partir.

Em outra ocasião J.G. Bellett disse:

Caminhando certa ocasião com um irmão, enquanto descíamos a rua Lower Pembroke, ele me disse: Não tenho dúvidas de que este é o propósito de Deus com relação a nós – devemos estar juntos com toda simplicidade como discípulos, não servindo em qualquer púlpito ou ministério, mas confiando que o Senhor nos edificará ministrando, uma vez que Ele se agradou de nós e nos viu com bons olhos”. No momento que ele falou estas palavras, fiquei certo de que minha alma recebeu o entendimento correto, e aquele momento eu lembro como se fosse ontem, e posso descrever-lhe o lugar. Foi o dia da grande revelação da minha vida, permitam-me falar assim, como um irmão.

Foi assim que os irmãos gradativamente prosseguiam, recebiam revelação e viam a luz.

Depois de um ano, em 1828, Darby publicou um livrete chamado A natureza e a unidade da Igreja de Cristo. Este livrete foi o primeiro entre milhares de livros publicados pelos irmãos. Neste livro Darby declara claramente que os irmãos não tinham intenção de fundar uma nova denominação ou união de igrejas. Ele disse:

Em primeiro lugar, não é uma união formal de grupos publicamente conhecidos que é desejável; realmente é surpreendente que protestantes ponderados possam desejá-la: longe de estar fazendo o bem, creio que seria impossível que tal corpo fosse pelo menos reconhecido como a Igreja de Deus. Seria uma cópia da unidade da Católica Romana; perderíamos a vida da Igreja e o poder da Palavra, e a unidade da vida espiritual seria totalmente eliminada(…) A unidade verdadeira é a unidade do Espírito, e ela deve ser trabalhada pelo operar do Espírito(…) Nenhuma reunião, que não concebe incluir todos os filhos de Deus na base completa do Reino do Filho, consegue encontrar a plenitude da benção, porque ela não a contempla – porque a sua fé não a inclui(…) Onde dois ou três estão reunidos em Seu nome, Seu nome é lembrado ali para benção(…)

Além do mais, a unidade é a glória da Igreja; mas a unidade para assegurar e promover nossos próprios interesses não é a unidade da Igreja, mas uma confederação e negação da natureza e esperança da Igreja. A unidade, que é da Igreja, é a unidade do Espírito e somente pode estar nas coisas do Espírito; e, portanto, só pode ser aperfeiçoada nas pessoas espirituais.

Mas que deve fazer o povo do Senhor? Deixe-os esperar no Senhor, e esperar de acordo com o ensinamento do Seu Espírito, e em conformidade à imagem, pela vida do Espírito, do Seu Filho. Deixe-os seguir seu caminho pelas pegadas do rebanho, se quiserem saber aonde o bom pastor alimenta Seu rebanho ao meio-dia.

Em outro lugar Darby disse:

Porque a nossa mesa é a mesa do Senhor, não a nossa, recebemos todos os que Deus recebe, todos pobres pecadores fugindo para o Senhor como refúgio, não descansando em si mesmos, mas somente em Cristo.

Foi neste mesmo tempo que Deus operou simultaneamente na Guiana Inglesa e na Itália, levantando o mesmo tipo de reuniões. Em 1829 havia também reuniões na Arábia. Em 1830, em Londres, Plymouth e Bristol, na Grã-Bretanha também havia reuniões. Mais tarde, muitos lugares nos Estados Unidos tinham reuniões, e no continente da Europa havia também muitas reuniões.Não muito depois, em quase todo lugar no mundo, todos os que amavam o Senhor estavam se reunindo desta maneira. Embora não houvesse união exterior, contudo todos foram levantados pelo Senhor.

Uma característica que marcou o aparecimento desses irmãos foi que aqueles que tinham títulos e domínio abandonaram seus títulos e domínio, os com posição abandonaram a posição, aqueles que tinham diplomas rejeitaram seus diplomas, e todos abandonaram qualquer classe ou posição mundanas na igreja e tornaram-se simplesmente os discípulos de Cristo e irmãos uns dos outros. Exatamente como a palavra padre é largamente usada na Igreja Católica Romana e reverendo nas igrejas protestantes, assim a palavra irmãos é comumente usada no meio deles. Eles foram atraídos pelo Senhor e então reuniam-se; por causa do amor deles pelo Senhor, eles espontaneamente amavam uns aos outros.

Com o passar dos anos, entre estes irmãos Deus deu muitos dons para Sua Igreja. Além de J.N. Darby e J.G. Bellett, Deus também concedeu ministérios especiais para muitos irmãos para que Sua Igreja pudesse ser suprida. George Muller, que estabeleceu um orfanato, restaurou a questão de orar com fé. Durante sua vida ele recebeu 1.500.000 vezes respostas de orações. C.H. Mackintosh, que escreveu as notas sobre o Pentateuco, restaurou o conhecimento dos tipos, as prefigurações. D.L. Moody disse que se todos os livros do mundo inteiro fossem queimados, ele ficaria satisfeito em ter apenas uma cópia da Bíblia e uma coleção das notas de C.H.Mackintosh sobre o Pentateuco. James G. Deck deu-nos muitos bons hinos. George Cutting restaurou a certeza da salvação. Seu livrete “Segurança, Certeza e Desfrute” teve trinta milhões de cópias vendidas, em 1930; além da Bíblia este foi o livro mais vendido. William Kelly foi um expositor; ele foi descrito por C.H. Spurgeon como aquele que tinha a mente tão grande quanto o universo. F.W. Grant foi o mais entendido sobre a Bíblia nos séculos dezenove e vinte. Robert Anderson foi o homem que melhor conheceu o Livro de Daniel recentemente. Charles Stanley foi quem melhor levou as pessoas à salvação pregando a justiça de Deus. S.P. Tregelles foi o famoso filologista do Novo Testamento. A história da igreja por Andrew Miller foi a mais bíblica entre as muitas histórias da igreja. R.C. Chapman foi um homem grandemente usado pelo Senhor. Estes foram os irmãos daquela época. Além desses, se fôssemos contar minuciosamente outros entre os irmãos, o número de todos os que foram muito usados pelo Senhor ultrapassaria a mil.

Agora veremos o que esses irmãos nos deram: eles nos mostraram quanto o sangue do Senhor satisfaz a justiça de Deus; a certeza da salvação; como o mais fraco crente pode ser aceito em Cristo, assim como Cristo foi aceito, e como crer na Palavra de Deus, como a base da salvação. Desde que começou a história da Igreja, nunca houve um período em que o evangelho tenha sido mais claro do que naquela época. Além disso, também foram eles que nos mostraram que a Igreja não pode ganhar o mundo inteiro, que a Igreja tem um chamamento celestial e que a Igreja não tem esperança terrena. Foram eles também que abriram as profecias pela primeira vez, fazendo-nos ver que a volta do Senhor é a esperança da Igreja. Foram eles que abriram o livro de Apocalipse e o livro de Daniel e mostraram-nos o Reino, a tribulação, o arrebatamento e a noiva. Sem eles conheceríamos hoje uma pequena porcentagem das coisas futuras. Foram eles também que nos mostraram o que é a lei do pecado, o que é ser libertado, o que é ser crucificado com Cristo, o que é ser ressuscitado com Cristo, como ser identificado com o Senhor pela fé e como ser transformado diariamente por contemplar o Senhor. Eles nos mostraram o pecado das denominações, a unidade do Corpo de Cristo e a unidade do Espírito Santo. Foram eles que nos mostraram a diferença entre o judaísmo e a Igreja. Na Igreja Católica Romana e nas igrejas protestantes, esta diferença não é facilmente vista, mas eles fizeram-nos vê-la de maneira nova. Eles também nos mostraram o pecado da classe mediadora, mostraram que todos os filhos de Deus são sacerdotes e que todos podem servir a Deus. Foram eles que restauraram o princípio de reuniões de 1 Coríntios 14, expondo-nos que profetizar não está baseado em ordenação, mas no dom do Espírito Santo. Se fôssemos enumerar tudo o que eles restauraram, poderíamos muito bem dizer que nas genuínas igrejas protestantes de hoje não há sequer uma verdade que não tenha sido restaurada por eles ou que não tenha sido eles quem as restauraram ainda mais.

Não é de admirar-se que D.M. Panton tenha dito: “O movimento dos irmãos e seu significado é muito maior que o da Reforma.” Thomas Griffith disse: “Entre os filhos de Deus, eles foram os mais qualificados para corretamente dividir a palavra da verdade.” Henry Ironside disse: “Quer sejam os que conheceram os irmãos, quer sejam os que não conheceram os irmãos, todos os que conheceram a Deus têm recebido ajuda deles direta ou indiretamente.

Esse movimento foi maior do que o movimento da Reforma. Podemos também dizer que a obra de Filadélfia é maior que a obra da Reforma. Filadélfia nos dá aquilo que a Reforma não nos deu. Agradecemos ao Senhor que o problema da igreja foi solucionado pelo movimento dos irmãos. A posição dos filhos de Deus foi, por ele, praticamente restaurada. Portanto, tanto em quantidade como em qualidade ela é maior que a Reforma. Por outro lado, notamos que o movimento dos irmãos não é tão famoso quanto a Reforma. A Reforma foi realizada com espada e lança, enquanto o movimento dos irmãos foi realizado pela pregação. Por causa da Reforma muitos perderam a vida nas guerras da Europa. Outra razão pela qual a Reforma é famosa foi seu relacionamento com a política. Muitas nações, por meio da Reforma, livraram-se politicamente do poder de Roma. Qualquer coisa que não seja relacionada à política não é facilmente conhecida pelos homens. Além disso, os irmãos viram duas coisas: uma, é o que chamamos de mundo organizado, isto é, o mundo psicológico, mas também, ao mesmo tempo, o mundo do cristianismo, que é representado pelas igrejas protestantes. Essa é a razão porque eles nem mesmo eram conhecidos nas igrejas protestantes, pois eles não apenas saíram do mundo do pecado, mas também do mundo do cristianismo.

A partir da época deles os homens conheceram o que é a Igreja, que a Igreja é o Corpo de Cristo, que os filhos de Deus são uma Igreja e que não deveriam estar divididos. A ênfase deles era nos irmãos e no verdadeiro amor de uns pelos outros. O Senhor Jesus diz que uma igreja aparecerá cujo nome é Filadélfia.

Agora observemos Apocalipse: “Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve”. Filadélfia é amor fraternal. Por que o Senhor louva Filadélfia? Ele diz que ela é amor fraternal; assim, a posição mediadora foi completamente anulada.

Em Cristo não há homem nem mulher, em Cristo não há irmãs. Somos irmãos, não irmãs. Então, as irmãs perguntarão: “Quem somos nós?” Somos todos irmãos. Por que somos irmãos? Porque todos temos a vida de Cristo. Hoje há muitos homens no mundo, mas eles não são nossos irmãos. Um homem é um irmão, não porque é um homem, mas porque há nela a vida de Cristo. Desde que eu também tenha a vida de Cristo em mim, somos irmãos.Quando ressuscitou e estava para ascender aos céus, o Senhor disse:” subo para o meu Pai e vosso Pai” (Jo 20:17). Em João 1, Ele é o Filho unigênito de Deus; em João 20, Ele é o Filho primogênito de Deus. No capítulo 1 Deus o tem como o único filho; no capitulo 20 sua vida foi dada aos homens, por isso, Ele é o Filho primogênito e todos nós somos irmãos. Pela morte e ressurreição o Filho unigênito de Deus tornou-se o filho primogênito. Podemos ser irmãos porque recebemos sua vida. Porque todos temos recebido a vida de Cristo, somos todos irmãos.Um homem é um irmão porque recebeu a vida de Cristo; uma mulher é um irmão porque também ela recebeu a vida de Cristo; então, todos são irmãos. Todas as epístolas foram escritas aos irmãos, não as irmãs. Individualmente falando, há irmãs, mas em Cristo há somente irmãos. Por causa desta vida todos nos tornamos os filhos de Deus. Todos os “filhos” e “filhas” do Novo Testamento deveriam ser traduzidos como “filhos”. Além da menção em 2 Coríntios 6:18, Deus não tem filhos e filhas. Em Cristo todos estão na posição de irmãos. Em Xangai havia um irmão que era pedreiro. Certa vez, quando eu estava lá, eu lhe disse: “Vá e chame algum irmão para entrar”; Ele replicou: “Você quer que eu chame os irmãos masculinos ou femininos?” Este foi um homem ensinado por Deus. Dirigimo-nos as irmãs, quando nos dirigimos a indivíduos, mas em Cristo não há distinção entre homem e mulher.

Na Igreja também não há escravo nem livre. Não é porque alguém é um mestre, que a vida que ele recebeu é maior, ou porque eu sou um escravo, portanto a vida que recebi é menor. No passado, lembro-me que certo irmão me disse: “Os locais de reuniões tem um aspecto pobre. É melhor prepararmos um lugar especialmente aos oficiais do governo.” Repliquei: “Que você colocaria sobre a placa?” Esta não seria a Igreja de Cristo; seria a Igreja dos oficiais e da alta sociedade. Quando vimos para a Igreja, não há oficiais nem alta sociedade. Na Igreja todos somos irmãos. Quando nossos olhos forem abertos pelo Senhor, veremos que estar acima dos outros é uma gloria no mundo, mas na Igreja não há tal distinção. Paulo diz que em Cristo não há grego nem judeu, escravo ou livre, homem ou mulher. A Igreja posiciona-se não na distinção, mas no amor fraternal.

Essa passagem é igual a outras nas quais o Senhor mencionou Seu próprio nome; aqui Ele diz:”Estas coisas diz o Santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre e ninguém fechará, e que fecha e ninguém abrirá.” Santidade é sua vida; Ele próprio é santidade. Ele é a Verdade diante de Deus; Ele é a Realidade de Deus, e a realidade de Deus é Cristo. Sua mão segura a chave. Aqui, devemos destacar um fato: quando Sardes (referindo-se ao movimento da Reforma N.T.) se levantou para testemunhar pelo Senhor, havia os dominadores deste mundo que a ajudaram a travar a batalha. A luta prosseguiu no continente da Europa por muitos anos e depois na Grã-Bretanha por muitos anos. Mas, e o movimento dos irmãos? Não havia poder por trás deles para sustentá-los. Então, que poderiam eles fazer? O Senhor diz que Ele segura a chave de Davi, que significa autoridade. (A Bíblia chama Davi de rei.) Não se trata de força dos braços nem de propaganda, mas uma questão de abrir a porta. Houve certo editor jornalístico na Grã-Bretanha que disse: “Eu nunca pensei que houvesse tantos irmãos e nunca entendi como esse povo cresceu tão rápido”. Viajando por todo o mundo você descobrirá que em cada lugar há muitos irmãos. Embora entre eles alguns conheçam as doutrinas profundamente e alguns superficialmente, a posição dos irmãos ainda é a mesma. Ao vermos isso, precisamos agradecer o Senhor. O Senhor diz que ele é aquele que “abre e ninguém fechara e que fecha e ninguém abrirá.”

“Conheço as tuas obras (…) que tens pouca força”. Quando chegamos neste ponto, nossos pensamentos espontaneamente retornam ao tempo da volta de Zorobabel (do cativeiro babilônico N.T.), sobre quem certo profeta disse: “Pois quem despreza o dias dos humildes começos” (Zc 4:10). Não despreze o dia das pequenas coisas, isto é, o dia da edificação do templo. Nas Escrituras há uma grande prefiguração da Igreja _ o templo. Quando Davi reinava, o povo de Deus era unido. Mais tarde, eles se dividiram em reino de Judá e reino de Israel. Os filhos de Deus começaram a dividir-se e, ao mesmo tempo, começaram a idolatria e a prostituição. Como resultado, foram capturados e levados para a Babilônia. Todos reconhecem que o cativeiro na Babilônia tipifica Tiatira, a Igreja Católica Romana. Desde que a Bíblia faz da Babilônia um símbolo de Roma, então também a igreja tem um cativeiro babilônico. Que fez o povo de Deus quando retornou do seu cativeiro? Eles voltaram debilmente, grupo por grupo, e edificaram o templo. Parece que eles tipificaram o movimento dos irmãos. Havia muitos judeus, os mais velhos, que viram o templo antigo; agora eles viam com os próprios olhos o estabelecimento do fundamento do templo e choraram em alta voz, porque o templo era inferior em gloria se comparado com aquele do tempo de Salomão. Contudo, Deus falou por intermédio do profeta menor, dizendo: “Não despreze o dia das pequenas coisas, porque este é o dia da restauração”. Aqui , o Senhor diz as mesmas palavras: “tens pouca força”. O testemunho da igreja hoje no mundo, comparado com os dias de Pentecoste, é realmente o dia das pequenas coisas.

“Guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome”. O Senhor os reconhece por duas coisas: não negar o nome do Senhor e não negar a sua Palavra. Na historia da igreja, nunca houve uma era na qual os homens conheceram tanto a Palavra de Deus quanto os irmãos. A luz era como a chuva de uma grande enchente impetuosa. Uma noite, quando eu estava em Xangai, encontrei um irmão que me disse ser cozinheiro em uma embarcação. Falei com ele demoradamente. Receio que muito poucos missionários conhecem a Palavra de Deus tão bem quanto ele. Na verdade, esta é uma das suas características mais evidentes_ eles conhecem a Palavra de Deus. Mesmo se encontrarmos o mais simples entre eles, ele terá mais clareza que muitos missionários.

O Senhor diz: “Não negaste o meu nome”. Desde 1825, os irmãos diziam que somente seriam chamados cristãos. Se alguém lhes perguntasse quem eram eles, eles diriam: “Eu sou cristão”. Mas se alguém perguntar a um membro da igreja metodista, ele dirá: “eu sou um metodista”; se encontrar alguém da Igreja dos Amigos, ele dirá: “Eu pertenço a igreja dos amigos”; alguém da Igreja Luterana dirá: “Eu sou Luterano”; alguém da Igreja Batista vai dizer: ” Eu sou Batista”. Alem de Cristo, os homens ainda usam muitos nomes pelos quais se autodenominam. Mas os filhos de Deus tem um único nome pelo qual chamam a si mesmos. O Senhor Jesus diz: “Orai em Meu nome” e “Reunidos em Meu nome”. Temos somente o nome do Senhor. Whitefield disse: “Sejam todos os outros nomes abandonados; seja somente o nome de Cristo exaltado”. Esses irmãos foram levantados para fazer exatamente isso. A profecia do Senhor diz a mesma coisa, que eles honraram o nome do Senhor. O nome de Cristo é o centro deles. Eles ouvem muito freqüentemente entre eles esta palavra: “O nome de Cristo não é suficiente para separar-nos do mundo? Não é suficiente simplesmente termos o nome do Senhor?”

Certa vez encontrei um crente num trem, que me perguntou que tipo de cristão eu sou. Respondi-lhe que sou apenas um cristão. Ele disse: “Não há tal cristão no mundo. Dizer que você é um cristão não significa nada; você tem de dizer que tipo de cristão você é. Isso é que faz sentido.” Repliquei-lhe: “Eu sou simplesmente um homem que é cristão. Você diz que um homem ser cristão não significa nada? Que tipo de cristão você diria que faz sentido ser? Quanto a mim, só posso ser um cristão _ nada mais”. Naquele dia tivemos uma conversa muito boa.

Devemos observar uma coisa: o pensamento fundamental de muitas pessoas é que o nome do Senhor não é suficiente. Muitos pensam que precisam do nome de uma denominação; eles acham que devem ter outro nome além do nome do Senhor. Não considere que nossa atitude em relação a isto seja exagerada demais. Aqui o Senhor diz: ” Não negaste o meu nome”. Se o meu sentimento está correto, todos os outros nomes são uma vergonha para Ele. Esta palavra “negaste” é a mesma palavra usada para referir-se a negação de Pedro ao Senhor. Que tipo de cristão sou eu? Eu sou um cristão. Não quero ser chamado por outro nome. Muitos não querem honrar o nome de Cristo e não estão dispostos a serem chamados apenas de cristãos. Mas, graças a Deus, a profecia de Filadélfia foi cumprida nos irmãos. Eles mesmo não tem qualquer outro nome característico. Eles são irmãos; eles não são “A Igreja dos irmãos”.

“Eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar”. O Senhor fala à igreja em Filadélfia sobre a porta aberta. Os homens freqüentemente dizem que se você andar de acordo com as Escrituras, a porta será logo fechada. A mais difícil barreira a ultrapassar ao submeter-se ao Senhor é o fechamento da porta. Mas aqui, na verdade, a uma promessa: “Eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar”. No tocante aos irmãos, isto é um fato. No mundo todo, seja ao expor a Bíblia ou a pregar o evangelho, nenhum outro grupo de pessoas, teve as oportunidades que eles tiveram. Fosse na Europa, América ou África, era sempre a mesma coisa. Não há necessidade de sustento humano, de anuncio, propaganda ou contribuições; eles sempre têm muitas oportunidades para trabalhar, e a porta para trabalhar ainda está aberta.

“Eis farei que alguns dos que são da sinagoga de satanás, desses que a si mesmo se declaram judeus, e não são, mas mentem, eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que eu te amei”. Já vimos pelo menos quatro coisas as quais têm feito o cristianismo tornar-se judaísmo: os sacerdotes mediadores, a lei de letras, o templo material e as promessas terrenas. Que diz o Senhor? “Eis que farei vir e prostrar-se aos teus pés”. O judaísmo é destruído nas mãos dos irmãos. Em todo lugar, no mundo inteiro há tal movimento. Onde eles estão o judaísmo é derrotado. Entre os que hoje realmente conhecem a Deus, a principal força do judaísmo tornou-se algo do passado.

“Porque guardaste a palavra da minha perseverança”. Isto está relacionado com “companheiro na tribulação, no reino e na perseverança em Jesus”, em Apocalipse 1. Perseverança aqui é usada como um substantivo. Hoje é tempo da perseverança de Cristo. Hoje o Senhor encontra muitos que escarnecem dele, mas Ele é perseverante. Um dia o julgamento virá, mas ele hoje é perseverante. Sua palavra hoje é a palavra da perseverança. Aqui Ele não tem reputação, ele é uma pessoa humilde, ainda um nazareno, ainda o filho de um carpinteiro. Quando seguimos o Senhor, ele diz: “Guarda a palavra da minha perseverança”.

“Também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a Terra”. Podemos usar Tchankin (cidades da china N.T.) como ilustração: dizer que o guardarei do bombardeio significa que você estará em Tchankin, mas será guardado do bombardeio. Se digo que o guardarei da hora, isto significa que antes daquela hora você acabou de partir para Chengtu. Quando o mundo todo estiver sendo testado (se refere à grande tribulação), não enfrentaremos a tribulação. Antes que aquela hora chegue, já teremos sido arrebatados. Em toda a Bíblia há somente duas passagem que falam da promessa do arrebatamento: Lucas 21:36 e Apocalipse 3:10. Hoje devemos seguir o Senhor, não viver frouxamente, aprender a viver no caminho de Filadélfia e pedir ao Senhor para livrar-nos de todas as provações que vêm.

“Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”. O Senhor diz: “Venho sem demora”, portanto, esta igreja deve continuar até a volta do Senhor. Tiatira não passou, Sardes não passou e Filadélfia ainda não passou também. “Conserva o que tens”, ou seja “A minha Palavra” e o “Meu nome”. Não devemos esquecer a palavra do Senhor e não devemos envergonhar o nome do Senhor. “Para que ninguém tome tua coroa”: todos em Filadélfia já têm a coroa. Nas outras igrejas há o problema de ganhar-se a coroa; aqui o problema é perdê-la. O Senhor diz que já temos a coroa. Em toda a Bíblia apenas uma pessoa sabia que tinha a coroa: Paulo (2Tim 4:8). Assim também entre as igrejas, somente Filadélfia sabe que tem a coroa. Não permita, agora, que nenhum homem tome sua coroa; não saia de Filadélfia deixando sua posição. Aqui diz: “Conserva o que tens para que nenhum homem a tome”.

Isto nos diz claramente que Filadélfia corre um perigo em particular; de outra maneira, o Senhor não lhe teria dado tal advertência. Além disso, esse perigo é bastante real; essa é a razão porque o Senhor lhes deu ordens de modo tão sério. Qual é o perigo que eles correm? O perigo está em perder o que já conseguiram. Assim, o Senhor pede a eles para conservarem o que têm. O perigo não está em não progredirem; antes, está no retrocesso. Eles estão agradando o Senhor porque amam uns aos outros e são fieis à Palavra do Senhor e a seu nome. O perigo está em perder este amor e fidelidade. Que terrível! Mas de fato isto foi o que realmente aconteceu. Após 20 anos, os irmãos também dividiram-se em dois grupos: os “exclusivos” e os “abertos”, e dentro das duas divisões há muitas facções. Portanto, em Filadélfia também há o chamado aos vencedores.

Qual foi a razão desse problema? Devemos ser muitos cuidadosos e humildes; do contrario, seremos envolvidos no mesmo erro. Cremos que qualquer tipo de divisão é resultado da perda de amor de um pelos outros; quando o amor não existe ou está faltando, as pessoas dão atenção às leis, enfatizam comportamentos forçados e perdem-se em detalhes procurando falhas. Uma vez que o amor está em perigo, as pessoas ficaram orgulhosas de si mesmas e invejosas das outras, gerando, então, controvérsias e disputas. O Espírito Santo é a força da unidade, enquanto a carne é a força da divisão. A menos que a carne seja tratada, cedo ou tarde ocorrerá a divisão.

Além do mais, creio que a carência dessa época foi que os Irmãos Unidos não viram a base e o limite da igreja. Eles viram claramente, do lado negativo, os pecados da igreja, mas do lado positivo, quanto à igreja deve amar um ao outro a ser unânime quanto á base e limite da cidade, eles não viram adequadamente. A Igreja Católica Romana dá atenção á união de uma igreja nesta terra, enquanto os Irmãos Unidos deram atenção a uma união idealista de uma igreja espiritual nos céus. Eles não viram ou, pelo menos, não viram tão claramente que o amor de uns pelos outros nas epistolas é o amor de uns pelos outros na igreja em uma cidade; a unidade é a unidade da igreja em uma cidade; o ajuntamento é o ajuntamento da igreja em uma cidade a edificação é a edificação da igreja na cidade; e até mesmo a excomunhão é a excomunhão da igreja em uma cidade. De qualquer forma somente dois tipos de pessoas falam sobre a unidade da igreja: a Igreja Católica Romana fala da unidade de todas as igrejas na terra, enquanto os Irmãos Unidos falam da unidade espiritual nos céus. Como resultado, a primeira não é senão a unidade em aparência exterior, enquanto a ultima é a unidade idealista; na verdade, porem, é divisiva. Ambas não atentaram para a unidade da igreja em cada e toda cidade como registrado na Bíblia.

Desde que os Irmãos Unidos não deram tanta atenção ao fato de que a igreja tem a cidade como seu limite, os “Irmãos Exclusivos” exigiram ação unificadora por todo o lugar, resultando na quebra do limite da cidade e caindo no erro da igreja unida; enquanto os “Irmãos Abertos” exigiram a administração independente de cada reunião, cujo resultado em muitas cidades foi muitas igrejas em uma cidade, caindo assim no erro da igreja congregacional, que torna cada congregação uma unidade independente. Os “Irmãos Exclusivos” excedem o limite da cidade, enquanto os “Irmãos Abertos” são menores que os limites da cidade. Eles esquecem que na Bíblia a uma e apenas uma igreja em cada cidade. As palavras na Bíblia para a igreja são dirigidas para esse tipo de igreja. É muito estranho que a tendência de hoje seja mudar as palavras que, na Bíblia, são ditas para a igreja em uma cidade, para palavras faladas para a igreja espiritual. Além disso, alguns irmãos estabelecem uma igreja que é menor que a cidade _ a igreja “casa” é um exemplo. Mas na bíblia não há nenhuma “união de igrejas” das igrejas de todo lugar nem há igrejas de congregações e de reuniões em uma cidade como igrejas independentes. Uma igreja para varias cidades, ou várias igrejas em uma cidade _ ambas não são ordenadas por Deus. A palavra de Deus claramente revela que uma cidade pode ter uma só igreja, e somente pode haver uma igreja em cada cidade. Ter uma igreja do tamanho de muitas cidades exige uma unidade que a Bíblia não exige, e ter várias igrejas em uma cidade divide a unidade que a Bíblia exige.

A dificuldade dos Irmãos unidos naqueles dias foi que eles não tinham suficiente clareza a respeito do ensinamento da Bíblia sobre a cidade. O resultado é que desde que aqueles que tomaram o tipo de unidade “União de Igrejas” uniram-se a irmãos em outros lugares, eles não mais temeram estar divididos com os irmãos na mesma cidade. E os que tomavam a reunião como uma unidade e não tinham problema com os irmãos da mesma reunião, não temeram estar dividido com os irmãos que estivessem em outras reuniões na mesma cidade. Porque eles não perceberam a importância dos ensinamentos da Bíblia a respeito da cidade, resultaram divisões em cada caso. O Senhor não exigiu a unidade impraticável de todos os lugares. O Senhor não permitiu tomar-se uma reunião como limite da unidade _ isso é livre demais; é licencioso, sem restrição ou instrução. Apenas uma palavra de desacordo e imediatamente outra reunião é estabelecida com três ou cinco como um grupo, e isso é considerado como unidade. Pode haver somente uma unidade em cada cidade. Que restrição para aqueles com licenciosidade carnal!

O movimento dos irmãos ainda continua. E a luz sobre a “cidade” está cada vez mais clara. Até que ponto o Senhor irá trabalhar, nós não sabemos. Podemos somente aguardar pela história; então teremos clareza. Se nossa consagração ao Senhor é absoluta e nós mesmos somos humildes, receberemos misericórdia para sermos guardados do erro.

“Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais saírá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome”. Durante a Época de Filadélfia tem havido muitos casos de excomunhão de irmãos. Mas aqui eles não podem mais ser excomungado; eles serão uma coluna no templo de Deus. Se a coluna é removida, o templo não permanece em pé. Filadélfia faz com que o templo de Deus permaneça em pé. Há três nomes gravados sobre o vencedor: o nome de Deus, o nome da Nova Jerusalém e o novo nome do Senhor. O plano eterno de Deus está cumprido. As pessoas em Filadélfia retornam ao Senhor e O satisfazem.

“Quem tem ouvidos, ouça o que o espírito diz as igrejas”. Lembre-se, Deus não manteve em segredo o desejo do Seu coração; Ele tem indicado muito claramente o caminho diante de nós.

(A Ortodoxia da Igreja, Watchman Nee)

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George Müller

George Müller – O apóstolo da fé

“Pela fé, Abel… Pela fé, Noé… Pela fé, Abraão…” Assim é que o Espírito Santo conta as incríveis proezas que Deus fez por intermédio dos homens que ousavam confiar unicamente nEle. Foi no século XIX que Deus acrescentou o seguinte a essa lista: “Pela fé, George Müller levantou orfanatos, alimentou milhares de órfãos, pregou a milhões de ouvintes ao redor do globo e ganhou multidões de almas para Cristo”.

George Müller nasceu em 1805, de pais que não conheciam a Deus. Com a idade de dez anos, foi enviado a uma universidade, a fim de preparar-se para pregar o evangelho, não, porém, com o alvo de servir a Deus, mas para ter uma vida cômoda.

Aos vinte anos de idade, contudo, houve uma completa transformação na vida desse moço. Assistiu a um culto onde os cristãos, de joelhos, pediam que Deus fizesse cair a Sua bênção sobre a reunião. Ficou profundamente comovido com o ambiente espiritual a ponto de buscar também a presença de Deus.

Foi nesses dias, depois de sentir-se chamado para ser missionário, que passou dois meses hospedado no orfanato do famoso A. H. Frank. Mais ou menos no mesmo tempo em que George Müller hospedou-se no orfanato, um certo dentista, o senhor Graves, abandonou as suas atividades que davam um salário de 7.500 dólares por ano, a fim de ser missionário na Pérsia, confiando só nas promessas de Deus para suprir todo o seu sustento.

Logo depois chegou a reconhecer o erro, mais ou menos universal, de ler muito acerca da Bíblia e quase nada da Bíblia. Esse livro tornou-se a fonte de toda a sua inspiração e o segredo do seu maravilhoso crescimento espiritual. “O Senhor me ajudou a abandonar os comentários e a usar a simples leitura da Palavra de Deus como meditação. O resultado foi que, quando, a primeira noite, fechei a porta do meu quarto para orar e meditar sobre as Escrituras, aprendi mais em poucas horas do que antes durante alguns meses”. E acrescentou: “A maior diferença, porém, foi que recebi, assim, força verdadeira para a minha alma”.

George Müller achava quase impossível ajuntar e guardar dinheiro para qualquer imprevisto, e não ir direto a Deus. “Sem me aperceber, tenho sido levado a confiar no braço da carne, mas o melhor é ir diretamente ao Senhor”.

Certo dia, quando só restavam oito xelins, Müller pediu ao Senhor que lhe desse dinheiro. Esperou muitas horas sem qualquer resposta. Então chegou uma senhora e perguntou: – “O irmão precisa de dinheiro?” Foi uma grande prova de sua fé, porém, o pastor respondeu: – “Minha irmã, eu disse aos irmãos, quando abandonei meu salário, que só informaria o Senhor a respeito de minhas necessidades”. – “Mas”, respondeu a senhora, “Ele me disse que lhe desse isto”, e colocou 42 xelins na mão do pregador.

Nessa ocasião, George Müller fez para si a seguinte regra, da qual nunca mais se desviou: “Não nos endividaremos, porque achamos que tal coisa não é bíblica (Rm. 13:8). Assim sempre saberemos quanto realmente possuímos e quanto temos o direito de gastar”.

Um outro segredo que o levou a alcançar tão grande bênção de confiar em Deus, foi a sua resolução de usar o dinheiro que recebia somente para o fim a que era destinado.

“Sentindo grande necessidade ontem de manhã, fui dirigido a pedir com insistência a Deus e, em resposta, à tarde, um irmão me deu dez libras”. Muitos anos antes de sua morte, afirmou que, até aquela data, tinha recebido da mesma forma 5.000 vezes a resposta, sempre no mesmo dia em que fazia o pedido.

Era seu costume, e recomendava também aos fiéis, guardar um livro. Numa página assentava seu pedido com a data e no lado oposto a data em que recebera a resposta. Desse modo, foi levado a desejar respostas concretas aos seus pedidos e não havia dúvida acerca dessas respostas.

“Ao orar, estava lembrado de que pedia a Deus o que parecia impossível receber dos fiéis, mas que não era demasiado para o Senhor conceder”. Ele orava com noventa pessoas sentadas às mesas: “Senhor, olha para as necessidades de teu servo”. Essa foi uma oração que Deus abundantemente respondeu. Antes de morrer, testificou que, pela fé, alimentava 2.000 órfãos, e nenhuma refeição se fez com atraso de mais de 30 minutos.

Muitas pessoas perguntavam a George Müller como conseguia ele saber a vontade de Deus, pois nada fazia sem antes ter a certeza da vontade do Senhor. Ele respondia:

1) “Procuro manter o coração em tal estado que ele não tenha qualquer vontade própria no caso. De dez problemas, já temos a solução de nove, quando conseguimos ter um coração entregue para fazer a vontade do Senhor, seja essa qual for. Qaundo chegamos verdadeiramente a tal ponto, estamos, quase sempre, perto de saber qual é a Sua vontade.

2) “Tenho o coração entregue para fazer a vontade do Senhor, não deixo o resultado ao mero sentimento ou a uma simples impressão. Se o faço, fico sujeito a grandes enganos”.

3) “Procuro a vontade do Espírito de Deus por meio de Sua Palavra. É essencial que o Espírito e a Palavra acompanhem um ao outro. Se eu olhar para o Espírito, sem a Palavra, fico sujeito, também, a grandes ilusões”.

4) “Depois considero as circunstâncias providenciais. Essas, ao lado da Palavra de Deus e do Seu Espírito, indicam claramente a Sua vontade”.

5) “Peço a Deus em oração para que me revele a Sua própria vontade”.

6) “Assim, depois de orar a Deus, estudar a Palavra e refletir, chego à melhor resolução deliberada que posso com a minha capacidade e conhecimento; se eu continuar a sentir paz, no caso, depois de duas ou três petições mais, sigo conforme essa direção. Nos casos mínimos e nas transações de maior responsabilidade, sempre acho esse método eficiente”.

George Müller, três anos antes de sua morte, escreveu: “Não me lembro, em toda a minha vida de cristão, num período de 69 anos, de que eu jamais buscasse, SINCERAMENTE E COM PACIÊNCIA, saber a vontade de Deus pelo ENSINAMENTO DO ESPÍRITO SANTO POR INTERMÉDIO DA PALAVRA DE DEUS, e que não fosse guiado certo. Se me faltava, porém, SINCERIDADE DE CORAÇÃO E PUREZA PERANTE DEUS, ou se eu não olhava para Deus, com PACIÊNCIA, ou se eu preferia o CONSELHO DO PRÓXIMO AO DA PALAVRA DO DEUS VIVO, então errava gravemente”.

Em resposta a muitos que queriam saber como o cristão pode adquirir tão grande fé, deu as seguintes regras:

1) “Lendo a Bíblia e meditando sobre o texto lido, chega-se a conhecer a Deus, por meio da oração”.

2) “Procurar manter um coração íntegro e uma boa consciência”.

3) Se desejamos que nossa fé cresça, não devemos evitar aquilo que a prove e por meio do que ela seja fortalecida”.

“Ainda mais um ponto: para que a nossa fé se fortaleça, é necessário que deixemos Deus agir por nós ao chegar a hora da provação, e não procurar a nossa própria libertação”.

(Extraído da Revista Plenitude, Ano 5, nº 31, de agosto de 1986).

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