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Exposição da Epístola aos Hebreus

Algumas partes das vestes do sumo sacerdote descritas por Moisés eram meros “memoriais”, ou lembretes das maiores e eternas coisas por vir. As doze pedras preciosas do peitoral do sumo sacerdote eram meramente “pedras de memória”. Elas testificavam sobre os fundamentos de doze pedras preciosas (Ap 21.19,20) da cidade eterna na qual os santos ressurretos de Deus habitarão (Êx 28.12,29; 39.7). O testemunho de Moisés sobre Melquisedeque, o sacerdote-rei, é a base do argumento sobre a intenção de Deus de deixar de lado o sacerdócio de Arão. E, por fim, o argumento sobre o descanso futuro do sétimo dia do Altíssimo se volta para o testemunho de Moisés em relação à obra da criação e à observância do descanso do sétimo dia sob a lei. O testemunho de Moisés, como afirma o Espírito de Deus, é incontestável – e os judeus estavam prontos para confessar isso. Nesta base, então, o apóstolo1 enquadraria seu argumento aos hebreus. Como poderiam eles se recusar a ouvir Moisés, sua testemunha confiável, quando ele testificou de um Mestre, Líder e Sumo Sacerdote maior?

Na afirmação “Cristo, como Filho, sobre a Sua própria casa” (Hb 3.6) não se destaca Sua fidelidade a um superior, e esse é o ponto agora diante de nós. “Tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus” (10.21; 1Pd 2.5; 4.17). De Moisés fora dito: “Fiel em toda a Minha casa”. Mas Cristo está sobre ela (10.21). Jesus estava aqui tipificado por José, tanto em sua humilhação como em sua exaltação. “José achou graça em seus olhos [de Potifar], e servia-o; e ele o pôs sobre a sua casa, e entregou na sua mão tudo o que tinha” (Gn 39.4). Deus “me tem posto [diz José novamente] por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa e como regente em toda a terra do Egito” (45.8). Faraó, diz Estêvão, “o constituiu governador sobre o Egito e toda a sua casa” (At 7.10).

 

“Cuja casa somos nós.”

Aqui, o sentido de “casa” é estreitado para significar “família”. Deus não está agora habitando “em templos feitos por mãos de homens” (17.24), pois qual edifício na terra poderia o homem construir que servisse à grandeza Daquele que enche o céu e a terra? Mas, enquanto isso, Deus olha para os redimidos de Cristo e habita neles, e a Igreja é a “morada de Deus em Espírito” (Ef 2.22), uma casa de pedras vivas (1Pe 2.5). É a nova criação espiritual, na qual o Altíssimo tem prazer. Os que crêem constituem o povo e a casa de Deus, sobre os quais Cristo preside. Mas é sob esta condição que habitam Nele: se retiverem firmemente o que já possuíam como crentes (e Paulo inclui a si mesmo, pois usa o pronome nós; Hb 3.14).

Eles deviam conservar “firmes a confiança e a glória da esperança até ao fim”. Qual é a esperança em questão? É aquela ligada ao chamamento celestial: a vinda de Cristo para reinar em Sua glória, e a associação de Sua fiel irmandade a Ele naquele dia. O esplendor dessa esperança foi ofuscada na mente deles devido à longa demora e pela pressão da perseguição. Esqueceram que “se sofrermos [com Cristo], também com Ele reinaremos” (2Tm 2.12). A vida de Cristo é o modelo a que os cristãos devem se moldar: primeiro sofrer; então, entrar na glória.

Que essa é a esperança é estabelecido por muitas provas. Esse é o propósito dos prévios dois capítulos de Hebreus, que apresentam Cristo como um segundo período a ser trazido à terra habitável. É o reino de justiça que alguém deve, como Seu seguidor, desfrutar com Cristo, no dia em que a perversidade dos inimigos de Cristo for abatida com mão forte e as obras de Deus forem postas em sujeição ao homem; é a grande salvação, o descanso de Deus, a primeira ressurreição (Hb 2.3; 4.1,3,10; Ap 20.5,6). É a vinda do reino milenar de Deus, de que Cristo tão frequentemente testificou. Porém nossa esperança é somente uma (Ef 4.4): sermos apreciados por patriarcas e profetas, e pelos aceitos por Deus mediante a Lei, assim como por aqueles julgados dignos mediante o Evangelho. É a esperança originada na liderança do Senhor. O desfrute da boa terra era a esperança ligada à missão de Moisés; a nossa é a glória de mil anos. Em Cristo “os gentios esperarão. Ora, o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pelo poder do Espírito Santo” (Rm 15.12,13). “A graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador, Jesus Cristo” (Tt 2.11-13).

Aumentar a fé dos cristãos no retorno de nosso Senhor e encorajar sua esperança do reino são os principais objetos desta epístola.

Vislumbres daquele dia foram dadas por Moisés nos descansos ligadas aos setes da Lei. Vemos isso também anunciado na promessa de Moisés ao subir a montanha; e após o banquete dos setenta anciãos na presença de Deus, quando ele os manda ficar onde estavam, pois retornaria para eles (Êx 24.14). Aumentar a fé dos cristãos no retorno de nosso Senhor e encorajar sua esperança do reino são os principais objetos desta epístola.

Quando no início creram, eles retiveram com alegre confiança interior a expectativa do breve retorno e reino de Cristo; e todo coração transbordava para os outros com exultação da glória a ser manifesta, e sua própria participação nela. “Venha, junte-se ao povo do Senhor! Ele virá brevemente para nos fazer Seus companheiros na glória!” Mas, com a demora de ano após ano, a confiança interior decaiu e o testemunho exterior, em conseqüência, enfraqueceu (Pv 13.12).

Em quarenta dias, a expectativa do reaparecimento de Moisés se foi, e, com sua extinção, despontou a idolatria; enquanto Arão, que deixara o alto posto que lhe fora dado e descera para a planície, tornou-se o culpado fabricante de um ídolo e seu sumo sacerdote.

O Espírito de Deus, então, nos ordena a nos mantermos firmes interiormente e a, exteriormente, testificar com ousadia aos demais acerca do retorno e do reino de nosso Senhor Jesus Cristo. Devemos ter firmeza até o fim – não até a nossa morte, mas até Seu reaparecimento. O enfraquecimento e o abalo dessa esperança produziram, quanto a seus efeitos, o endurecimento, a esterilidade e a desobediência dos cristãos hebreus, dos quais Paulo reclama.

“Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a Sua voz, não endureçais o vosso coração, como na provocação, no dia da tentação no deserto, onde vossos pais me tentaram, me provaram e viram por quarenta anos as minhas obras” (Hb 3.7-9).

O argumento que segue a 4.12 é uma exortação aos crentes buscarem o descanso milenar e a se guardarem de provocar Deus, como fez Israel, pois o mesmo Deus que excluiu Israel da terra da promessa excluirá os ofensores no dia da recompensa, quando Cristo tomar o reino. Paulo aplica a esse propósito as advertências de Salmos 95. Assim, essa passagem corre paralelamente com as advertências do Sermão do Monte, que foi também endereçado aos crentes, e com outras passagens que tratam da entrada no reino da glória. Muitas são as passagens que tratam da recompensa vindoura, que testificam da necessidade de diligência a fim de obtê-la e da probabilidade de ser perdida.

O apóstolo caracteriza a passagem que está prestes a dar como decisiva, pois é inspirada pelo Espírito Santo, o qual fala em Salmos e em toda a Santa Escritura. Então, nosso Senhor ensina: “O próprio Davi disse pelo Espírito Santo” (Mc 12.36). “A Escritura não pode ser anulada” (Jo 10.35).

A presente dispensação é descrita como hoje. É um período especial, (1) do chamado de Deus para a obediência a Cristo e (2) do julgamento de Seu povo a caminho da glória. Com a fé no sangue de Cristo, como o Cordeiro da verdadeira Páscoa, começa nosso resgate de Satanás, do mundo e da maldição. Então, vem a passagem pelas águas do batismo, após as quais o deserto tem início. Mas multidões de crentes preferem continuar no Egito, a despeito da ordem de avançar.

 

“Se ouvirdes […] a Sua voz”

Jesus é nosso Moisés, o Líder para a glória. “E o lugar do Seu repouso será glória” (Is 11.10, lit.). “Por que Me chamais ‘Senhor, Senhor’, e não fazeis o que Eu digo?” (Lc 6.46). “Este é o Meu amado Filho […] escutai-O” (Mt 17.5). A obediência ao Filho é obediência também ao Pai. Essa foi a palavra que veio de Deus, quando o quadro em miniatura do reino da glória foi dado [no monte da transfiguração]. “Nem todo o que Me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos céus” (7.21). Hoje é o convite e o dia do julgamento; amanhã, a glória.

Não obstante, no deserto Israel desobedeceu às ordens de provas de Deus. Jeová disse aos israelitas: “Eis que tenho posto esta terra diante de vós; entrai e possui-a” (Dt 1.8). Moisés reitera a palavra: “Eis aqui o Senhor, teu Deus, tem posto esta terra diante de ti; sobe, toma posse dela” (v. 21). Eles se recusaram, afirmando que não poderiam entrar por causa dos perigos.

 

“Não endureçais o vosso coração”

O obediente escuta, pois é a Palavra de Deus. Porém aqueles que são rebeldes desprezam as promessas, contestam as ameaças, não obedecerão às ordens. Eles se fortalecem em sua resistência ao Altíssimo. Quantos crentes vêem o batismo, no entanto, com vários pretextos desprezam a ordem e se recusam a confissão de Cristo que ele carrega consigo!

Quem, a não ser os crentes professos, desobedecem a Cristo?

 

“Como na provocação, durante o dia da tentação no deserto”

Logo após deixar o Mar Vermelho, e antes de chegar ao Sinai, Israel começou a provocar Deus pela murmuração por causa da necessidade de comida no deserto. Em Refidim, os israelitas murmuraram novamente. Estavam quase prontos a apedrejar Moisés, pois pensavam que a culpa fosse dele. O Senhor ajuda em ambos os casos, mas o lugar é chamado “Tentação” e “Luta” (Êx 17). Outra vez há um clamor por água, em Cades, e o lugar também é chamado de “Luta” (Nm 20). Moisés é conduzido a fazer menção disso, mesmo em sua palavra de bênção diante da morte: “E de Levi disse: Teu Tumim e teu Urim são para o teu amado, que tu provaste [tentaste] em Massá, com quem contendeste junto às águas de Meribá” (Dt 33.8).

Contudo parece, na passagem de que estamos tratando, que o Senhor considerou todo o tempo da jornada no deserto como um tempo de provocação e tentação. A maior crise ocorreu como registrada em Números 13 e 142, que analisaremos agora.

 

“Eles viram as Minhas obras por quarenta anos”

As obras da criação de Deus já haviam há muito sido completadas, e Seu repouso ali foi quebrado. Na criação, os anjos romperam em louvores e cantando hinos de alegria. Mas agora Deus trabalhava no interesse de novas obras de redenção para os israelitas: eles eram livres, eram povo de Deus. Ele os sustentou por quarenta anos, ainda que murmurassem contra Ele. Sua punição, então, seria que, quando o descanso de Deus chegasse, assim como com Seu antigo descanso na criação, eles não teriam parte nele.

Por quarenta anos o Senhor fora provocado; apesar de Suas obras maravilhosas a favor do povo, este não confiou e desobedeceu. Deus realizou as maravilhas da criação por apenas seis dias. Seus sinais redentores foram feitos por quarenta anos: sinais de poder contra os inimigos dos israelitas; sinais de favor para os israelitas, misturados com juízos contra os desobedientes que havia entre eles. As maravilhas da redenção são relatadas muito mais amplamente do que as da criação, pois elas diziam respeito a nós mais de perto, e são consideradas por nosso Deus como mais importantes e de maior glória para Ele. Mas Israel não percebeu seu significado; ele não se sujeitou ao Grande Governador.

O obediente escuta, pois é a Palavra de Deus.

Então, finalmente temos o efeito dessa contínua provocação ao Altíssimo. Ele foi ofendido. O mau comportamento de Seu próprio povo O tocou mais intimamente do que o dos egípcios. Ele descobre a fonte das provocações dos ofensores: “Estes sempre erram em seu coração” (Hb 3.10). Pois o coração por natureza é “inimigo de Deus” (Rm 8).

 

Eles não conheceram os caminhos de Deus

Os “caminhos” de uma pessoa significam sua conduta como consequência de seu caráter. Suponhamos que haja alguém que foi muito gentil para com um pobre homem em sua doença. Desse ato afirmo sua disposição permanente. Diria que é de um caráter benevolente. Então, de observarmos os efeitos afirmamos a natureza das coisas. […] Assim, os israelitas deveriam ter aprendido sobre o caráter de Jeová, sobre Seus atos com respeito a eles. Eles deveriam tê-Lo amado por Sua bondade e O temido por Sua impressionante justiça.

Eles não viram Sua razão nas várias provas acontecidas pelo caminho. Pensaram que, se Deus os guiasse, não haveria problemas. Porém, essa não era a mente divina. Ele condescendeu explicar-lhes Suas razões nessas provações. “E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os Seus mandamentos ou não” (Dt 8.2). Eles prometeram obediência perfeita; porém eram ignorantes a respeito de seu orgulho, de sua perversidade e de sua inimizade conta Deus, e o Altíssimo exibiria o mal do coração deles, o mal em suas palavras e ações. “Sabes, pois, no teu coração que, como um homem castiga a seu filho, assim te castiga o Senhor, teu Deus” (v. 5). Moisés, no fim, assume o mesmo procedimento. “Tendes visto tudo quanto o Senhor fez perante vossos olhos, na terra do Egito, a Faraó, e a todos os seus servos e a toda sua terra; as grandes provas que os teus olhos têm visto, aqueles sinais e grandes maravilhas; porém não vos tem dado o Senhor um coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de hoje” (Dt 29.2-4).

 

“Assim, jurei na Minha ira que não entrarão no Meu repouso”

Eis aqui – aquilo em que muitos não acreditarão – a ira de Deus contra Seu povo por causa da contínua desobediência. Não pode nem mesmo um pai estar de modo justo zangado com a desobediência e a provocação de um filho? Por fim, ocorreu Seu juramento de exclusão.

Olhemos um pouco mais de perto para a crise que suscitou esse juramento.

O povo propôs enviar doze espias para ver a terra antes de entrar nela. A proposta emergiu em parte da descrença; mas Moisés e o Senhor a sancionaram. Os espias retornaram após quarenta dias, trazendo testemunho da fertilidade da terra, e também exemplares de uvas, romãs e figos encontrados nela. “Vamos possuir a boa terra”, disse Calebe. Então, os espias sem fé se opuseram a ele. Tão gigantescos eram os habitantes, tão fortificadas e grandes eram as cidades que eles não poderiam possuí-la. Todo o povo tomou o partido da descrença. Pesaram seus próprios poderes contra os obstáculos a serem superados, e deixaram o poder de seu Deus. Cada um encorajou o outro a não crer, até imaginaram e disseram que Jeová somente os havia guiado pelo deserto com o propósito de entregá-los à espada dos cananeus! Calebe e Josué foram encorajá-los. “A terra é boa! Se nosso Deus for conosco, os cananeus não poderão se opôr a nós. Não se rebelem contra o Senhor!” “Mas toda a congregação disse que os apedrejassem; porém a glória do Senhor apareceu na tenda da congregação a todos os filhos de Israel. E disse o Senhor a Moisés: Até quando Me provocará este povo? E até quando não crerá em Mim, apesar de todos os sinais que fiz no meio dele?” (Nm 16.10,11). Moisés intercedeu, ou toda a congregação seria destruída. Em resposta, “disse o Senhor: Conforme à tua palavra lhe perdoei. Porém, tão certamente como Eu vivo e como a glória do Senhor encherá toda a terra,3 e que todos os homens que viram a Minha glória e os Meus sinais, que fiz no Egito e no deserto, e Me tentaram estas dez vezes e não obedeceram à Minha voz, não verão a terra de que a seus pais jurei, e nenhum daqueles que Me provocaram a verá” (vv. 20-23).

Agora segue uma íntima aplicação dessa história para os crentes hoje.

“Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel [de incredulidade], para se apartar do Deus vivo” (Hb 3.12).

Três vezes a expressão “qualquer de vós”4 é trazida para alertar os crentes hebreus daquele tempo. “Para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (v. 13). “Pareça que algum de vós fica para trás” (4.1). O Espírito Santo previu que a objeção seria feita: “Apliquem todo tipo de advertência aos professos: eles não são dos nossos! Como podem os crentes ser acusados de incredulidade no coração?” Mas como poderiam crentes apartarem-se, no coração, do Deus vivo? Vejamos um exemplo. “Por que o Senhor nos traz a esta terra, para cairmos à espada e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos ao Egito? E diziam uns aos outros: Constituamos um líder e voltemos ao Egito” (Nm 14.3,4). Era o voltar atrás do coração, não realizado em ato porque Deus chegou para impedir.

Ao ouvir isso, deveríamos supor que uma negativa deve ter, por algum acidente, caído do texto, e que deveríamos ler: “Vede, irmãos, que não há em qualquer de vós um coração mau e infiel”. “Nenhum de vós se endureceu pelo engano do pecado”. Mas não: é endereçado aos descrentes entre os crentes! Em qual coração não há um pouco desse velho fermento? Os israelitas deixaram o Egito por fé na mensagem de Deus dada por Moisés, mas a alma deles recuou quando foram colocados face a face com os obstáculos na terra. “Então eu vos disse: Não vos espanteis nem os temais. O Senhor, vosso Deus, que vai adiante de vós, Ele pelejará por vós, conforme a tudo o que fez convosco, diante de vossos olhos […] Mas nem por isso crestes no Senhor, vosso Deus“ (Dt 1.29,30,32).

“Mas por que comparar um povo que anda segundo a carne com o agora povo regenerado de Deus?”

Porque assim Deus faz aqui! Porque, mesmo no regenerado, estão os remanescentes do velho Adão.

“Mas a igreja de Cristo não está debaixo da lei, mas debaixo da graça, e nenhum perigo pode ameaçá-la.”

Se é assim, esta epístola é um erro, pois é baseada no princípio oposto: que, embora os crentes estejam agora salvos pela graça, eles, no aspecto do galardão, devem, como o antigo povo de Deus, ser tratados “de acordo com as obras”. A Epístola aos Hebreus é de Deus?

 

“Um coração mau e infiel [de incredulidade], para se apartar do Deus vivo”

O “Deus vivo” desta passagem é o Senhor Jesus. Foi declarado que Ele é o Criador e o Sustentador de tudo. [No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.1-3).] “Eis que Deus é grande, e nós não O compreendemos, e o número dos Seus anos não se pode esquadrinhar” (Jó 36.26). Pedro assim confessou Cristo: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16). E o Filho é da mesma natureza de Seu Pai. Assim Jesus, em ressurreição, descreve a Si mesmo: “Eu sou o primeiro e o último, e o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno” (Ap 1.17,18). Ele é o Senhor da vida; provou assim ser na ressurreição; [Aquele que irá] introduzir outros no reino pela primeira ressurreição, por meio de Seus méritos (5.9,10). O Novo Testamento nos diz também que os israelitas no deserto tentaram a Cristo (1Co 10.9).

“Não seria melhor voltarmos ao Egito? E diziam uns aos outros: Constituamos um líder e voltemos ao Egito” (Nm 14.3,4). Esse foi o afastamento de coração entre eles e Jeová. E um risco semelhante estava assaltando os cristãos hebreus. Eles foram tentados a retornar a Moisés e à Lei, deixando Jesus, o Senhor, por causa da perseguição e dos perigos do caminho para Seu reino milenar.

A fé amolece o coração; a incredulidade o endurece.

“Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (Hb 3.13).

O remédio a ser oposto a esse perigo é uma constante exortação de uns aos outros. Quanto quer que dure o perigo da queda, esse é o período que Deus chama de Hoje. “Hoje não endureçais vosso coração”. Estamos em constante perigo; apliquemos constantemente essa arma da exortação. Vigiemos para não deixar de confiar em Deus e para não retrocedermos com medo dos inimigos a serem encontrados, assim perdendo o dia de especial glória para o qual fomos chamados. Busquemos o prêmio de nosso chamado. Busquemos “em primeiro lugar o reino de Deus e sua [ordenada] justiça” como o meio para isso (Mt 6.33).

Aquele que ouve a Palavra de Deus não deve endurecer o coração. A fé amolece o coração; a incredulidade o endurece. A fé nos faz tremer de Sua Palavra; a incredulidade faz pouco das promessas e dos avisos do Senhor. “Desprezaram a terra aprazível; não creram na Sua palavra” (Sl 106.24). Quando os israelitas foram mandados a subir, eles não foram, apesar de Deus estar com eles. Quando foram proibidos, eles subiram, ainda que Deus estivesse contra eles. Tudo vai bem conosco quando reverenciamos a autoridade de Deus manifestada em Sua Palavra. Mas permanecer em oposição a toda ordenação Dele é perigoso. O pecado se espalha pela alma como um câncer. Nós podemos nos fazer de surdos às ameaças de Deus, mas, por fim, elas se provarão verdadeiras. Podemos nos encorajar ou consolar com o número daqueles que, como nós, desobedecem; mas a multidão dos desobedientes em Israel era teve desculpa. Seiscentos mil homens, e um igual número de mulheres, pereceram: foram apenas dois que entraram.

Essa palavra de advertência é também como um espelho para nós na história apresentada. Calebe acalma os murmúrios dos israelitas diante de Moisés, e exorta-os a subirem de uma vez e possuírem a terra. Mais tarde, Calebe e Josué exortam o povo a obedecer; mas a multidão furiosamente resiste ao apelo e clama que os dois fiéis sejam apedrejados. Então, toda esperança de restauração do povo se vai, quando a exortação é rejeitada e o coração está endurecido a ponto de procurar a morte dos servos fiéis. O pacto de Deus, assim, vai adiante contra os descrentes e rebeldes, e, enquanto eles tentam, presunçosamente, subir, são abatidos diante do inimigo, pois o Senhor não estava com eles. Quantos estão agora endurecendo-se contra o batismo, “o Reino Pessoal”, e a recompensa segundo as obras!

Notas

1O autor acredita que Paulo, chamado de “o apóstolo”, é o autor de Hebreus. Essa é a opinião mais comum entre os cristãos, mas não é unânime. (N. do R.)

2É notável que a referência aos capítulos 13 e 14 ocorra logo após a referência, em Hb 2.2, a Moisés como o “servo fiel” em Nm 12. (N. do E.)

3Eis aqui uma pista de “Meu descanso”. Eis aqui uma intimação do dia milenar, quando toda a terra será cheia da glória de Deus e o “Filho do homem” será seu centro (Sl 8). (N. do E.)

4Nos três versículos citados, as mesmas palavras gregas são usadas, apesar da diferente tradução em cada um deles. (N. do R.)

(Publicado originalmente em 16.6.16. Atualizado e republicado em 25.12.23.)

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Cristo

Doze pérolas (18)

Três tríades sobre o amor

O Novo Testamento três vezes diz que

O Senhor Jesus amou:

  1. Uma família (Jo 11.3,5)
  2. Um discípulo (Jo 13.23; 19.26; 20.2; 21.7,20)
  3. Um incrédulo (Mc 10.21)

O Novo Testamento faz três referências ao

Amor de Cristo

  1. Romanos 8.35: destaca a segurança do cristão em Cristo
  2. 2Coríntios 5.14: destaca o serviço do cristão a Cristo
  3. Efésios 3.19: destaca o alvo da vida do cristão

O Novo Testamento faz três referências ao fato de que

Cristo amou:

  1. À igreja (Ef. 5.25)
  2. A vós (Ef 5.2)
  3. A mim (Gl 2.20)

(Adaptado por Francisco Nunes)

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Criação Deus Francisco Nunes

Vida em 4,3 milímetros


O filho de minha sobrinha tem 4,3 milímetros.

Pegue a régua. Comece com o zero. Conte quatro tracinhos. Avance a unha só um nadinha mais. Pare. Aí está ele. Quatro vírgula três milímetros. Menos da metade do caminho tão curto, tão ínfimo entre o 0 e o 1. Menos de meio centímetro. Um tiquinho de nada. Um pedacinho de uma régua. Não, nada disso. É o filho de minha sobrinha.

E ele tem coração! Ela o ouviu. É o que mostra a imagem acima. Ela ouviu o coração de 4,3 milímetros de vida. Ela ouviu a vida pulsando naqueles 4,3 tracinhos. Há um coração batendo naquele tiquinho de existência!

Minha sobrinha tem um coração. Os 4,3 milímetros têm um coração. Portanto, são duas pessoas, dois corpos, dois seres. Não é mais o corpo dela, não é mais ela. É alguém. É outro. É um ser vivo. É um ser humano, mistura de minha sobrinha e seu marido. É uma imagem e semelhança de Deus com 4,3 milímetros. É um ser totalmente dependente de outro, e esse outro o ama, dele cuida, com ele se importa, nele pensa, vive para interceder por ele… (Sim, há um tanto de Deus nisso tudo!)

Naquela extensão tão pequenina de vida há uma alma, há uma personalidade. É um ser completo e, ao mesmo tempo, ainda em desenvolvimento. É uma gente, bem minúscula, e ainda assim gente. Ser humano. O filho de minha sobrinha. Outro, não ela. Um corpo dentro do corpo dela. E, naquele corpinho que ainda não é bem um corpinho, mas já é alguém, há uma alma, a individualidade inegociável do ser, a unicidade que o caracteriza, aquilo que o faz ser só quem é, como nenhum outro jamais foi e jamais será. Mesmo que minha sobrinha tenha outros, muitos, filhos.

Menos de cinco milímetros. Não pode ser pego no colo. Não pode ser tocado. Não pode tomar banho. Não pode ser levado ao parquinho. Não pode ficar de castigo. Não pode trocar as letras das palavras e fazer todo mundo achar tão bonitinho. Mas já é filho, plenamente filho, absolutamente filho. Um outro já tão insubstituivelmente amado, seu lugar definitivamente estabelecido na história, à mesa, na família, em nosso amor. E não tem nem cinco milímetros. E ainda não o vimos. E ainda não tem nome. E já é. Por ser.

O filho de minha sobrinha tem o “corpo ainda informe”, como disse Davi (Sl 139.16). E o rei disse que aquilo era ele. Não era parecido com gente ainda, nem visível era, mas já era alguém, um ser, uma pessoa. Enquanto ele estava no ventre da mãe, já era alguém (v. 13). Sim, aquele que está no ventre de minha sobrinha não é ela, não é o corpo dela: é outro! Feito de um modo assombroso e tão maravilhoso (v. 14)! O filho de minha sobrinha é um milagre, mais um realizado pelo Autor e Sustentador da vida!

Como dizer de outra maneira? Uma vida de 4,3 milímetros!

Que esta vida cresça para a glória Daquele que a entreteceu. E que o filho de minha sobrinha ensine muitos que, desde antes dos cinco milímetros, ele já era ele, outro, único, criado e amado por Deus. E por nós, que o esperamos com muita e babona expectativa!

 

(Artigo adaptado do original publicado em 2.2.16, pois é outro sobrinheto, outra sobrinha, mas a mesma alegria em Deus. Embora difira bastante do que normalmente é publicado no Campos, esse singelo texto é uma manifestação de louvor Àquele que a tudo criou, a tudo sustenta e que é merecedor de toda a glória.)

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Cristo Deus G. Campbell Morgan

O Filho: a palavra final de Deus para o homem

“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho” (Hb 1.1).

A Epístola aos Hebreus tem um valor especial para os dias de hoje porque existe uma difundida concepção de Cristo que é mais baixa do que aquela do Novo Testamento. Ao nos voltarmos para a carta aos hebreus, vemos quão separado Cristo está de todas as outras coisas, e a razão disso é Seu ser e Sua obra. Duas vezes na carta, o escritor chama seus leitores para “considerá-Lo” [a Cristo]. Na primeira ocasião, ele diz: “Considerem o apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão” (3.1), e, mais tarde, acrescenta: “Considerai, pois, Aquele que suportou tais contradições dos pecadores” (12.3). É evidente que essa carta foi escrita para os hebreus, porém seus ensinamentos são para todos os cristãos. O escritor estava supremamente consciente do fato de que o povo hebreu foi criado e escolhido por Deus a fim de ser Seu instrumento para alcançar todas as nações; e, quando trata dessa grande verdade do ponto de vista dos hebreus, assim o fazia no interesse de todos aqueles que estavam no propósito de Deus. Portanto, embora a carta seja um documento hebreu, ela também é preeminentemente um documento humano; e, embora Cristo seja apresentado a nós tendo como pano de fundo o que aconteceu com os hebreus, Ele permanece em primeiro plano claramente revelado como relacionado ao propósito de Deus para a humanidade. Nas sentenças de abertura do livro somos conduzidos a estar frente a frente com uma declaração decisiva. Ali há dois fatos definidos: o primeiro: Deus; o segundo: Deus fala.

O primeiro indica a realidade de que Deus é a verdade de toda a literatura bíblica. Não podemos ler a primeira sentença em Hebreus sem sermos lembrados da primeira frase em Gênesis: “No princípio, Deus”. Aqui, e na verdade em qualquer outro lugar da Bíblia, a realidade de Deus é reconhecida e referida sem nenhum argumento. O segundo fato definido é que Deus se faz conhecido a nós, que Ele fala. Isso imediatamente apresenta Deus como mais do que uma energia ou uma idéia, antes como tendo inteligência e fazendo-nos conhecido Seu pensamento.

Posteriormente na carta, o escritor diz: “É necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que é galardoador dos que O buscam” (11.6). Essa declaração acompanha as declarações a que nos referimos, isto é, a existência de Deus e o fato de que Ele se aproxima da humanidade para se fazer conhecido. As declarações são de que Deus falou na história de duas maneiras.

Lembremo-nos novamente que a carta foi dirigida aos cristãos hebreus. Necessariamente sua perspectiva é limitada por esse fato. Podemos parar por um momento e ter um panorama mais amplo. Não há dúvida que Deus falou a outras pessoas, e de outras formas, as quais prestarão contas por certos elementos da verdade a serem descobertos em cada forma de pensamento religioso. Todavia, cremos que Seu discurso supremo e central a todas as pessoas veio por meio do povo hebreu. Desse ponto de vista, o escritor, olhando a história humana, diz: “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneira, aos pais, pelos profetas”, referindo-se a toda a economia passada, e continua: “A nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho” (1.1).

Se pesquisarmos a literatura do Antigo Testamento, que nos dá uma ideia daquilo a que o escritor se refere pela frase “no passado”, descobriremos que, em Seu tratamento com a humanidade, está registrado que Deus falou primeiro por intermédio de anjos ― nenhum profeta ou sacerdote é encontrado em Gênesis. Depois, Ele falou pelos líderes Moisés e Josué. Ele nunca falou aos homens diretamente, com respeito a Seu governo, por meio de reis. Então, vieram os profetas, e devemos encontrar todas essas referências ao longo da carta. Devemos pesquisar a carta imaginando ser um hebreu cristão lendo-a e encontrando uma resposta às coisas que ele pode estar inclinado a dizer, se fosse tentado a pensar que, na passagem do esplendoroso ritual da economia mosaica para a simplicidade encontrada em Cristo, algo vital fosse perdido.

“As coisas de nossa religião foram ministradas por anjos”, ao que o escritor responde: “Isso é verdade, mas o Filho é superior aos anjos”. “Mas”, diz o hebreu cristão, “tivemos um grande líder dado por Deus, Moisés”. “Isso”, diz o escritor, “é igualmente verdadeiro, mas ele foi um servo na casa, e o Filho é maior que o servo, e, além disso, ao guiar o povo para sair, Moisés foi incapaz de guiá-los para a possessão”. “Que sendo confirmada”, diz o hebreu, “Josué nos guiou para a terra”. “Ele o fez”, diz o escritor, “mas não pôde dar descanso. O Filho não somente guia para sair, mas guia para entrar, e dá descanso.”

Continuando, o hebreu poderá se referir ao sacerdócio e ao sistema ritualístico do passado. “Isso”, responde o escritor, “é verdade, e foi divinamente arranjado, mas não tornou nada perfeito, e a vinda do Filho foi a vinda do Sacerdote com a melhor aliança e a melhor adoração.” “E ainda”, o hebreu pode dizer, “tivemos profetas que nos falaram a palavra de Deus”. “Isso é verdade”, é o argumento do escritor da carta, “mas tudo o que eles falaram foi parcial. A Palavra de Deus por meio do Filho é completa e final”. Por isso, vemos que a declaração de que Deus falou em tempos passados, de várias formas, é reconhecida por toda parte como sendo verdadeira. Deus certamente estava fazendo a Si mesmo e a Seu caminho conhecidos ao longo de todo esse período, mas finalmente falou em Seu Filho.

A questão que se levanta é: por qual razão Deus adotou esse método de tratar com o povo? Podemos encontrar ajuda nas palavras que nosso Senhor ofereceu aos discípulos no final de Seu ministério: “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora” (Jo 16.12). Dessas palavras vemos que o método divino caracteriza-se sempre por um processo e uma progressão. Deus tinha coisas para dizer no passado, porém somente as falou quando o povo foi capaz de suportá-las. Isso continuou até o tempo em que Deus falou em Seu Filho, e a diferença entre o passado e este é a diferença entre o processo e o final. A finalidade da fala de Deus por meio de Seu Filho é assim sugerida nas sentenças inicias e arguidas ao longo de toda a escrita. Aqui deveria ser dito que, embora a fala do Filho fosse final, o povo não compreendeu completamente aquela fala. Apesar de ainda sê-lo conforme estamos capacitados a suportar, agora, sob a liderança do Espírito da verdade, é o da interpretação da fala final de Deus.

Agora voltemos a considerar Aquele referido como “o Filho”. No parágrafo de abertura (Hb 1.2,3) temos uma sétupla descrição. Primeiro Ele é declarado ter sido apontado por Deus “herdeiro de todas as coisas”, e, em conexão a isso, é feita uma declaração de que, por meio Dele, o universo foi moldado (“por quem fez também o mundo”), uma declaração revelando-O como o que rege todos os movimentos na história humana.

Passando dessa declaração concernente à posição de Cristo, o escritor fala do fato essencial de Seu ser, e declara que Ele é “o resplendor da glória de Deus”, ou seja, Aquele mediante o qual houve a manifestação daquela glória. Assim sendo, Ele é descrito como “a expressa imagem do Seu ser”. A idéia é que o mistério fundamental da divindade, que não pode ser compreendido ou completamente interpretado pelo intelecto humano, foi visto no Filho.

Voltando dessa sublime referência, o autor então diz do Filho: “Sustentando todas as coisas pela palavra do Seu poder” (v. 3). Isso pode se referir à ordem material do universo, como na referência de Paulo de que todas as coisas se fundamentam ou convergem Nele, mas eu tendo a crer que a referência é antes ao mundo da autoridade moral. Uma vez mais, naquilo que é apenas uma referência passageira, o mistério redentor da cruz é reconhecido nas palavras: “Havendo feito por Si mesmo a purificação dos nossos pecados” (v. 3), até que por fim é declarado que, tendo Ele feito isso, “assentou-se à destra da Majestade nas alturas”.

Este é o Cristo; este é o Filho; este é Aquele por quem Deus agora falou.

Tendo assim descrito o Filho, o escritor diz: “Quando introduz no mundo o Primogênito” (v. 6). Aqui, os tradutores verteram uma palavra grega como “mundo”, mas há quem sugira que, em vez de “mundo”, deveria ser “a terra inabitada”. Sugiro que seria muito melhor transliterar a palavra grega: “Quando introduz na economia o Primogênito”. Esta palavra, “economia”, era de uso comum nos tempos de nosso Senhor e dos escritores do Novo Testamento, e referia-se ao Império Romano. Agora, diz o escritor, o Filho é vindo à economia que Ele estabeleceu, e, quando Ele vem, todos os anjos O adoram. Este é o Filho por quem Deus falou, e ainda está falando. Quando Deus falou ao povo em Cristo, Ele disse tudo o que tinha a dizer, o que significa que Ele disse tudo o que precisamos ouvir para nossa vida terrena. Sou cuidadoso em colocar isso dessa forma porque existem coisas não ditas em Cristo durante a vida presente. Paulo, escrevendo aos coríntios, disse: “Agora conhecemos em parte”, e o que é certo é que em Cristo podemos saber tudo o que precisamos para os dias de hoje.

Para retornar àquela idéia limitada, pergunto: “Quais são as coisas que precisamos saber? Quais coisas são essenciais para o bem-estar da natureza humana?” A primeira é a autoridade. Não há nada de que o mundo mais precise hoje do que autoridade, porém deve ser uma autoridade que traga o consentimento do governado. Os métodos humanos constantemente têm sido de coação às pessoas para fazerem coisas sem seu consentimento. No final, isso sempre falha. Quando Deus falou no Filho, Ele nos deu um Rei, no qual, sendo conhecido em Si mesmo e cujas palavras sendo corretamente compreendidas, encontraremos a autoridade à qual podemos nos render em perfeito acordo. Esse mesmo caráter final da autoridade traz consigo um senso de deficiência, e, além disso, suscita o próximo elemento da necessidade humana. É a de um mediador ou árbitro, que deve estar entre Deus e a humanidade e agir de forma a provocar uma reconciliação. Isso é perfeitamente provido no Filho.

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Cristo Francisco Nunes

Há um rei!

O Rei-Cordeiro!

“Há outro rei, Jesus” (At 17.7).

Não mais o príncipe deste mundo, que escraviza e nos rouba a razão de viver, iludindo-nos com o prazer transitório do pecado. Não mais o pecado, senhor exigente e implacável, que nos obrigava a fazer aquilo de que agora nos envergonhamos. Não mais o mundo, que nos fazia servi-lo sob o látego feroz, tirando-nos a palha todo dia e exigindo cada vez mais de nós.

Há outro rei! Aleluia!

Um rei bondoso, que governa com um cetro de justiça sustentado por mãos feridas. Um rei que governa da cruz, coroado de espinhos, vestido de sangue.

Um rei que desceu à miséria do povo, gerada pelos outros reis, para dela resgatá-lo e fazê-lo Consigo governar. Um rei que lava pés sujos, que abençoa criancinhas, que toca leprosos, que chama mortos, que resgata pecadores, que é digno de que por Ele se desperdice nardo puro.

Um rei que caminha com os Seus, sem se envergonhar de lhes chamar irmãos, e com eles estará até a consumação do século.

Um rei que, ao vê-los cometer tantas tolices, ora ao Pai: “Perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem.” Um rei, cuja beleza da santidade constrange nosso coração a amá-Lo por nos ter amado primeiro.

Um rei por quem vale a pena viver e morrer.

Oh, que maravilhosa notícia: “Há outro rei, Jesus”!

Que o Rei conquiste você a deixá-Lo reinar completamente em sua vida.

(Francisco Nunes, 28.10.2005)

 

(Publicado em 15.11.07; atualizado em 25.6.19)

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Deus Encorajamento John Nelson Darby

Deus está pensando em nós

Ele cuida de você!

Que conforto é saber que Deus pensa em nós e prepara tudo para nós, embora falhemos em pensar Nele! Não há um dia, nem um momento, em que Deus não esteja pensando em nós, e que Ele esteja acima de toda a conspiração de Satanás. Ele cuidará de Seu povo.

Eles querem comida? Ele lhes envia maná. Orientação? Há uma coluna indo diante deles. Eles vêm para o Jordão? Existe a arca lá. Eles têm inimigos na terra? Há Josué para vencer por eles.

Deus lida com os de Seu povo por meio da disciplina quando eles precisam, como fez com Jacó. Ele o humilhou, mas deu-lhe a bênção no final.

Que conceito isso deve nos dar do amor de Deus, quando assim vemos Sua atividade em bondade para conosco todo o tempo!

Que conforto saber que Ele é por nós, e que isso brota de Seu amor e nele principia.

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Consolo Cristo Desconhecido

Jesus, um amigo!

Em quem você pode confiar a todo tempo?

“Há um amigo mais chegado do que um irmão” (Pv 18.24).

Quem será este Amigo? Jesus! Isso mesmo. Sabia que você não hesitaria: é, de fato, o homem Cristo Jesus. “Debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens” ao qual essa personalidade se ajuste tão adequadamente (cf. At 4.12). Homens elevados são sinônimo de vaidade; homens inferiores são sinônimo de mentira; homens de qualquer posição são canas quebradas – de nenhum deles se pode depender. Falam com cortesia e quase se passam por honestos, mas acabam por falhar. Seja pela inconstância ou pela fragilidade, por não serem sinceros ou por não serem hábeis, falham conosco quando mais precisamos de sua ajuda. Mas não nosso “irmão mais velho”, nosso Amigo divino. Ele é Cristo Jesus, o mesmo ontem, hoje e para sempre (Hb 13.8).

Diga, cristão: poderia eu ter mencionado alguém cuja companhia você desejaria mais? Sei que Ele é precioso para você; precioso o tempo todo.

Jesus Cristo é o amigo mais antigo. Este é um fato que, por si só, já O aproxima de nós. “Não deixes o teu amigo, nem o amigo de teu pai” (Pv 27.10), indicando que alguém assim, que tem sido um amigo próximo de nossa família por muito tempo, deve, de fato, ser valorizado.

Aqui, Cristo supera infinitamente o amigo mais antigo que tivermos. Veja o que Ele diz sobre Si mesmo: “Quando [Deus] compunha os fundamentos da terra, então Eu estava com Ele, e era Seu arquiteto; era cada dia as Suas delícias, alegrando-Me perante Ele em todo o tempo; regozijando-Me no Seu mundo habitável e enchendo-Me de prazer com os filhos dos homens” (Pv 8.30,31). Eis aqui uma inigualável amizade altruísta!

No Antigo Testamento, nós O vemos freqüentemente como “Anjo do Senhor” e “Anjo da aliança” transmitindo mensagens de amor para Seu povo. Mas nenhuma expressão é mais enfática que Sua própria palavra. “Em toda a angústia deles Ele foi angustiado, e o anjo da Sua presença os salvou; pelo Seu amor, e pela Sua compaixão Ele os remiu; e os tomou e os conduziu todos os dias da antiguidade” (Is 63.9).

Se um completo estranho viesse em nosso favor em meio à angústia e nos oferecesse alívio, não saberíamos ao certo se confiar nele é seguro. “Como posso saber quem ou o que ele é? Talvez só queira zombar de minha dor. Se ele fizer o que diz, vou agradecer-lhe; mas não é seguro acreditar antes de ver se faz o que promete.”

Agora, a respeito de Cristo, essa refutação não existe. Ele não é um estranho. Ele é alguém com quem estamos familiarizados há muito tempo. Tem sido um amigo da família há mais dias do que conseguimos nos lembrar; e pelos dias posteriores também. Nós “temos ouvido e sabido, e nossos pais nos têm contado” (Sl 78.3) quão amável Ele lhes foi, além de termos recebido milhares de provas de Sua gentileza para conosco. Deveria eu deixar de confiar Nele agora? Não! Embora minha provação presente seja mais difícil que qualquer outra pela qual tenha passado antes, posso confiar Nele. “Eu me lembrarei dos anos da destra do Altíssimo, lembrarei das Tuas maravilhas da antiguidade” (Sl 77.10,11), e não tenho a menor dúvida de que Ele, que tem sido meu amigo e amigo de meu pai por tantos anos, continuará a ser um amigo para mim, quando e o quanto eu precisar Dele.

Jesus Cristo é um amigo carinhoso. Encontramos pessoas que falam com muita gentileza e respeito; nada além de expressões como “querido amigo” a cada palavra e afirmações sobre “como estariam felizes em nos servir” – embora, ao mesmo tempo, tenhamos razão para pensar que não há sinceridade real em sua consideração, mas um desgosto verdadeiro. Preferiam, furtivamente, agir com grosseria para conosco.

No entanto, Jesus não é um desses. Jamais engano algum foi ouvido em Sua boca.

Sempre que professa amor, Seu coração e Suas mãos acompanham o que diz. Teste-O acerca dessas coisas, das expressões comuns de consideração entre amigos, e verá como Cristo tem supremacia em todas elas.

Por exemplo: amigos sinceros compadecem-se mutuamente um do outro e compartilham alegrias e pesares. Cristo o faz: “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno” (Hb 4.15,16).

Amigos sinceros amam a companhia uns dos outros e aproveitam cada oportunidade de estarem juntos. E, quando forçados a se separarem, planejam encontrar-se outra vez o mais rápido possível. Cristo age assim. Ele “anda no meio dos sete castiçais de ouro” (Ap 1.13) e “ama as portas de Sião, mais do que todas as habitações de Jacó” (Sl 87.2).

Amigos sinceros preocupam-se com os interesses uns dos outros. Faça uma gentileza a um, e o outro a valorizará como se tivesse sido feito a si. Prejudique a um, e o outro se ressentirá como se tivesse sido feito a ele. Cristo sentiu a ira de Saulo contra a Igreja: “Saulo, Saulo, por que Me persegues?” (At 9.4).

Amigos sinceros abrem o coração com liberdade uns aos outros. São atenciosos uns para com os outros, ainda que distantes. Em tudo isso, e de várias outras formas, Jesus mostra-se o Amigo mais carinhoso e mais cheio de afeto.

Jesus Cristo é um amigo leal. Alguns seriam considerados amigos muito bons por não fazerem nada além de nos elogiar, aplaudir nossas palavras e ações – mesmo quando são erradas – e nos divertir em nossas folias e vícios. Contudo, não há amizade em nada disso. Às vezes, é muito difícil ser o lado que age com lealdade, bem como é difícil ser o lado que recebe a lealdade.

Mas Cristo é um amigo leal. “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo” (Ap 3.19).

Jesus Cristo é um amigo poderoso. Talvez tenhamos muitos amigos sinceros – e, ainda assim, nunca sermos o melhor amigo para eles. Eles podem nos desejar o bem, mas isso é tudo o que podem fazer. São pobres, fracos e também precisam de ajuda. Mas, se tivermos um Amigo tão rico quanto amável, então, nos consideramos favorecidos; e, se algum dia estivermos em uma situação difícil, saberemos a que fonte recorrer.

E quem é rico como Cristo? Ele é o herdeiro de todas as coisas. “Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude Nele habitasse” (Cl 2.19).

Ele é um amigo constante. “Como havia amado os Seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13.1). Não é o que costuma acontecer em amizades humanas. Às vezes, uma mera bobeira pode dissolvê-las. Aqueles que uma vez foram amigos sinceros por anos podem tornar-se inimigos amargos um do outro.

Mas, uma vez que Cristo estabelece Seu amor, Ele nunca mais o toma. Sua afeição não muda por causa de nossa condição. Ele nunca se envergonha de nós por sermos pobres e estarmos em sofrimento.

A amizade de Cristo não somente se estende por todas as mudanças da vida, como também pela morte e pela eternidade. Permita que amigos terrenos caminhem o mais perto possível; partirão após a morte. Se nos acompanharem até a beira do túmulo, ali deverão partir e despedirem-se. Mas Cristo é um amigo que estará ainda mais próximo quando todo o conforto terreno for deixado.

Se temos um tal amigo como Jesus, mostremo-nos gratos e carinhosos a Ele. Ele se compadece de nós em nossos pesares e em nossas alegrias. Será que fazemos o mesmo com Ele? Preferimos a Ele a nossa maior alegria terrena?

“Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu” (Ct 6.3).

“Não temas, porque Eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és Meu. Quando passares pelas águas estarei contigo, e, quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque Eu sou o Senhor, teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador” (Is 43.1-3).

“Quem tenho eu no céu senão a Ti? E na terra não há quem eu deseje além de Ti. A minha carne e o meu coração desfalecem; mas Deus é a fortaleza do meu coração, e a minha porção para sempre” (Sl 73.25,26).

“E assim para vós, os que credes, [a Pedra principal, que é Cristo] é preciosa” (1Pd 2.7).

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A. W. Pink Deus vontade de Deus

Inimizade: atitude inerente do homem contra o Criador

Como você reage ao soberano Deus?

“Sucedeu que, ouvindo isto todos os reis que estavam aquém do Jordão, nas montanhas, e nas campinas, em toda a costa do grande mar, em frente do Líbano, os heteus, e os amorreus, os cananeus, os perizeus, os heveus e os jebuseus, se ajuntaram eles de comum acordo para pelejar contra Josué e contra Israel” (Js 9.1,2).

Esses dois versículos nos apresentam um assunto de profunda importância, algo que deve ser levado em conta especialmente pelos ministros que querem ser fiéis a seu chamado. O fato de o Espírito Santo mencionar essa confederação dos reis cananeus para combaterem Josué e Israel logo depois de descrever aquilo que tinha ocorrido nos montes Ebal e Gerizim (veja 8.30-35) obviamente tem o propósito de nos fornecer uma ilustração simbólica e um exemplo solene da inerente hostilidade humana contra a Lei de Deus. A expressão “ouvindo isto” (9.1) indica que, imediatamente após chegar aos ouvidos desses reis que Josué havia levantado um altar em Ebal e inscrito nas pedras desse altar o Decálogo de Deus – o qual, daí por diante, seria a Lei daquela terra –, eles juntaram forças contra o povo de Deus e se propuseram a usar de violência contra ele. A necessidade de reconhecer os direitos e a autoridade do Deus Supremo e de submeter-se a Sua vontade revelada é algo que ofende os não-regenerados e eles se opõem a isso. Seu desejo é serem senhores de si mesmos e estão decididos a seguir seu próprio caminho. A linguagem expressa pelas ações de todos eles, e pela boca de muitos, é a mesma do obstinado e arrogante faraó: “Quem é o Senhor, cuja voz eu ouvirei?” (Êx 5.2). Estão decididos a agradarem a si mesmos.

Aqui está a própria essência da depravação humana. O pecado é uma revolta contra Deus, uma recusa de sujeitar-se a Ele. O pecado não é apenas uma decisão de seguir nossas próprias inclinações, mas é uma luta contra nosso Criador e Governador. A mente carnal é inimiga de Deus. Essa declaração é terrivelmente séria, e é uma das mais detestáveis aos melindres humanos. Apesar disso, é um fato que não há como desconsiderar. A prova disso aparece na seguinte declaração: “Não é sujeita à lei de Deus [a mente do homem natural], nem, em verdade, o pode ser” (Rm 8.7). Não há nada que evidencie de forma tão clara a inveterada hostilidade contra Deus da pessoa não-regenerada do que sua insubordinação e oposição contra a Lei de Deus. Na verdade, são poucos os que admitem abertamente que odeiam a Deus, e menos ainda aqueles que estão conscientes desse fato terrível, pois o pecado é muito enganoso (Hb 3.13) e cega o entendimento (Ef 4.18).

A idolatria é o campo onde mais claramente se demonstra essa realidade. Se os homens estivessem satisfeitos com o Deus verdadeiro, não teriam fabricado tantos deuses falsos. Eles querem um Deus e um sistema religioso condizentes com suas inclinações depravadas. Existem milhões de pessoas que não se inclinam diante de alguma imagem de madeira ou de pedra; no entanto, crêem num Deus inventado por seus próprios sentimentos e imaginações, e contra esse deus (ou essa coisa) eles não sentem nenhuma inimizade!

Mas, assim que o Deus verdadeiro e vivo é apresentado de acordo com Seu caráter que nos é mostrado nas Escrituras, essa inimizade se torna evidente. Basta que Ele seja apresentado como o Deus Soberano que faz um vaso para honra e outro para desonra segundo Sua própria vontade, como o Santo que não pode contemplar a iniquidade e que odeia aqueles que a praticam e como o justo Juiz de todos que de forma alguma inocenta o culpado, e o ódio das criaturas decaídas contra Ele aparecerá sem disfarces.

Basta que Ele dê a essas criaturas a Sua Lei e requeira irrestrita obediência, que elas imediatamente se rebelam.

Se Deus renunciasse a Seus direitos soberanos, elas reprimiriam a oposição; se Ele pusesse de lado Seu cetro, os homens parariam de lutar contra Ele. Mas, pelo fato Dele não fazer isso, a vontade da criatura se opõe à vontade do Criador e se recusa a sujeitar-se a Seu trono. Podemos ver uma prova conclusiva de que a natureza do pecador é diametralmente oposta à de Deus na mortal oposição daquele ao governo divino. A lei moral é tanto uma revelação do caráter de seu Autor como também uma expressão de Sua vontade, e o repúdio do homem a essa lei mostra o antagonismo do pecado à santidade.

Aquilo que expusemos acima foi exemplificado de maneira clara e solene quando o Legislador se encarnou e habitou aqui no mundo, pois a má vontade dos religiosos e também dos não-religiosos se levantou contra Ele. Não só foi desprezado e rejeitado pelos homens, mas Ele declarou abertamente: “Odiaram-me sem causa” (Jo 15.25). Eles nem se esforçavam para disfarçar suas más intenções. Enquanto Ele curava os doentes e alimentava a multidão com pães e peixes, suspenderam a hostilidade; mas, quando Ele lhes impôs as exigências de Seu senhorio, quando especificou os termos do discipulado e tornou conhecido o caráter e as exigências de Seu reino, os pecadores imediatamente manifestaram indignação contra Ele. Ele não só “veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam” (Jo 1.11), mas também “Seus concidadãos odiavam-no, e mandaram após Ele embaixadores dizendo: ‘Não queremos que este reine sobre nós’” (Lc 19.14). Não esqueçamos que foi como “Rei dos Judeus” que Cristo foi crucificado! “Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o Senhor e contra o Seu ungido, dizendo: ‘Rompamos as Suas ataduras e sacudamos de nós as Suas cordas’” (Sl 2.2,3; cf. At 4.25-27) – irritando-se contra a Lei de Deus, recusando submeter-se à autoridade Dele.

Nesse ajuntamento dos reis de Canaã “para pelejar contra Josué e contra Israel”, imediatamente após a promulgação da Lei de Deus nos montes Ebal e Gerizim, temos uma solene descrição daquilo que aconteceu nas horas que precederam a crucificação de nosso Senhor, e temos também uma figura da oposição do homem contra a Lei. Até esse momento, os cananeus tinham estado na defensiva, mas em Josué 9.1,2 nós os vemos preparando-se para assumir a ofensiva e desferir um ataque conjunto contra o povo de Deus. Os reis mencionados nesse texto pertenciam a nações diversas, tinham interesses variados e ocupavam territórios amplamente espalhados, mas aqui nós os vemos deixando de lado suas diferenças e juntando-se “de comum acordo”!

Exatamente como os sacerdotes e os escribas, os fariseus e os saduceus se uniram em oposição ao Legislador que assumiu forma humana. E exatamente como acontece hoje, pois tanto arminianos dispensacionalistas como calvinistas antinomianos repudiam o Decálogo como regra de vida do cristão. Todo servo verdadeiro de Cristo vai descobrir isso. Basta que ele conceda à Lei, em seu ministério, o lugar que ela ocupa nas Escrituras, basta que seja fiel no desempenho da comissão que recebeu de Deus (e lembre-se de que “todo o conselho de Deus” abrange bem mais do que aquilo que se chama de “doutrinas da graça”!), e imponha a descrentes e crentes as exigências do Reino de Cristo, e o rigor e a espiritualidade do Decálogo, e ele também será desprezado e injuriado.

(Fonte da imagem)

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