Categorias
Almir Andrade Bíblia Estudo bíblico Livros

A prova da fé


Este é o segundo livreto que publicamos com mensagem da exposição sobre a Epístola aos Hebreus que está sendo apresentada à igreja em Santo André pelo irmão Almir Andrade. (O primeiro está aqui.)

Segundo o autor, “a única coisa que nos capacita a obedecer a um mandamento desta magnitude [a ordem dada a Abraão de sacrificar Isaque], quando nos for requerido algo que Deus mesmo nos deu e em que não há nada de errado, é conhecer profundamente a Deus, conhecer Seu caráter e confiar inteiramente Nele. É a única base para nossa obediência”.

O livreto, em formato pdf, pode ser baixado aqui. Sua comercialização é expressamente proibida. Ele pode ser livremente impresso e/ou distribuído no formato digital, desde que não sofra nenhuma alteração e que sua página de créditos seja mantida.

Nós o apresentamos com a oração de que Deus use essa mensagem simples para despertar muitos de Seus filhos a desenvolverem uma fé robusta que se alegra com o que Deus exige.

Categorias
Almir Andrade

A fé de Abel e de Enoque

Com este livreto, damos início à publicação de algumas mensagens da exposição sobre a Epístola aos Hebreus que está sendo apresentada à igreja em Santo André pelo irmão Almir Andrade.

Segundo o autor, “se queremos aprender o que é a fé e como podemos crescer na fé, temos de começar pelo exemplo de Abel. Não é à toa que ele está aqui relacionado em primeiro lugar. Temos de nos lembrar que, sem nos apropriarmos pela fé daquilo que o Senhor Jesus realizou como oferta de Si mesmo, não alcançaremos nada de Deus. Não há outro caminho para Deus a não ser o caminho do sacrifício, e nós nos apropriamos das bênçãos da salvação, do perdão dos pecados, pela fé no sacrifício que o Senhor Jesus realizou.”

O livreto, em formato pdf, pode ser baixado aqui. Sua comercialização é expressamente proibida. Ele pode ser livremente impresso e/ou distribuído no formato digital, desde que não sofra nenhuma alteração e que sua página de créditos seja mantida.

Nós o apresentamos com a oração de que Deus use essa mensagem simples para despertar muitos de Seus filhos a viverem por fé com base no sacrifício definitivo do Senhor Jesus.

Categorias
C. H. Mackintosh

Somente Cristo


Salmo 3. Salmo de Davi, quando fugiu diante da face de Absalão, seu filho

Senhor, como se têm multiplicado os meus adversários!
São muitos os que se levantam contra mim.
Muitos dizem da minha alma: ‘Não há salvação para ele em Deus!’ (Selá.)
Porém Tu, Senhor, és um escudo para mim; a minha glória e o que exalta a minha cabeça.
Com a minha voz clamei ao Senhor, e ouviu-me desde o Seu santo monte.
Eu me deitei e dormi; acordei, porque o Senhor me sustentou.
Não temerei dez milhares de pessoas que se puseram contra mim e me cercam.
Levanta-Te, Senhor; salva-me, Deus meu; pois feriste a todos os meus inimigos no queixo; quebraste os dentes aos ímpios.
A salvação vem do Senhor; sobre o Teu povo seja a Tua bênção. (Selá.)

Confiar no Senhor ou nos meios – Saul e Davi

Em que depositava Saul mais confiança: no Senhor ou na armadura? Na armadura, sem dúvida; e é assim com todos aqueles que não andam verdadeiramente por fé: apoiam-se nos meios, e não em Deus.

O homem dos meios e o homem da fé estão realmente diante de nós, e nós percebemos imediatamente como o último está longe de agir segundo os meios. Ora, Davi sentiu que as vestes e a couraça de Saul representavam esses meios, e portanto recusou-os. Se Davi tivesse partido com eles, a vitória não teria sido tão claramente do Senhor. Mas Davi havia confessado sua fé na libertação do Senhor, e não na armadura de Saul.

Tem-se dito, e muito bem, que o perigo para Davi não foi quando se encontrou com o gigante, mas quando se viu tentado a usar a armadura de Saul. Se o inimigo tivesse sido bem-sucedido em induzi-lo a ir com ela, tudo estava perdido; mas, mediante a graça, ele a rejeitou, e assim entregou-se inteiramente nas mãos do Senhor, e nós sabemos qual a segurança que encontrou nelas. É isto que a fé sempre faz: deixa tudo, inteiramente, ao cuidado de Deus. Não se trata de confiar no Senhor e na armadura de Saul, mas somente no Senhor.

E não podemos aplicar esse princípio ao caso de um pobre pecador desamparado a respeito do perdão dos seus pecados? Creio que sim. Satanás procura tentar o pecador a acrescentar alguma coisa à obra consumada de Cristo – alguma coisa que diminua a glória do Filho de Deus como o único Salvador de pecadores. Ora, àqueles que assim fazem eu gostaria de dizer que seja o que for que acrescentem à obra de Cristo só conseguem inutilizá-la.

Em resumo: devemos ter, portanto, somente Cristo; e não Cristo e as nossas obras, mas simplesmente Cristo, porque Ele é suficiente; não precisamos de nada mais, e não podemos passar com menos. Desonramos a suficiência do Seu sacrifício expiatório sempre que procuramos ligar alguma coisa nossa com ele, precisamente como Davi teria desonrado o Senhor indo ao encontro do gigante filisteu com a armadura de Saul.

(Publicado originalmente em 19.10.17. Revisado e republicado em 16.10.23.)

Categorias
Octavius Winslow

Uma fé confiante

“Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores” (Mc 2.17).

O Espírito glorifica a Cristo revelando, para uma alma humilde, contrita e esvaziada de si mesma, o que Ele é. E isso Ele o faz evidenciando a grande verdade bíblica: Jesus morreu por pecadores. Não pelos justos, nem pelos merecedores, mas pelos pecadores, por serem o que são. Sua morte foi pelos injustos, pelos indignos, pelos culpados, pelos perdidos. Precioso momento é quando o Espírito Eterno, o grande Glorificador de Jesus, traz ao coração essa verdade com poder!

“Nisto cri”, diz a alma, “que Jesus morreu somente por aqueles que eram dignos de tamanho sacrifício e de tão imenso amor. Pensava trazer em minhas mãos algum valor meritório, algum preparo, alguma adequação prévia, algo que tornasse meu caso digno de Sua atenção e o fizesse considerar-me com bondade. Mas, agora, vejo que Sua salvação é para o vil, para o pobre, para o miserável.”

Li que “estando nós ainda fracos”, Cristo “morreu a Seu tempo pelos ímpios”, que, “sendo nós ainda pecadores, Cristo morreu por nós”, e “sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho” (Rm 5.6,8,9). Li que “é uma palavra fiel e digna de toda a aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores” (1Tm 1.15), que é “sem dinheiro e sem preço” (Is 55.1), que “pela graça [somos] salvos” (Ef 2.5) e que “é pela fé, para que seja segundo a graça” (Rm 4.16).

Essa boa e jubilosa notícia, essa gloriosa mensagem da gratuita misericórdia para com o mais vil dos vis, quando crida, recebida e acolhida, faz todas as nuvens desaparecerem em um instante, dissipa toda a neblina, e a face de Deus resplandece em brando e suave brilho, entre luz e alegria, satisfação e louvor, conduzindo a alma ao júbilo.

Oh, que glória agora cerca o Redentor! Aquela alma ousando estar diante Dele com nada mais além da fé confiante, caminhando em Sua direção coberta das próprias fraquezas, e diante de tamanho contraste, traz mais glória a Seu nome do que todos os aleluias entoados pelos menestréis celestiais um dia já trouxeram.

Categorias
Andrew Murray

“Minha alma espera somente em Deus”

“A minha alma espera somente em Deus; Dele vem a minha salvação. Só Ele é a minha rocha e a minha salvação; é a minha defesa; não serei grandemente abalado” (Sl 62.1,2).

É possível estar continuamente esperando em Deus, mas não somente Nele. Pode haver outra confiança secreta interferindo e impedindo a bênção que era esperada, e por isso a Palavra deve vir apenas para lançar sua luz no caminho para a plenitude e a certeza da bênção. “Minha alma espera somente em Deus. Só Ele é minha rocha”. “Minha alma espera somente em Deus”. Há apenas um Deus, apenas uma fonte de vida e alegria para o coração, e só Ele é minha rocha. Minha alma espera somente Nele.

Você deseja ser bom: “Não há nenhum bom senão Deus”, e nada é bom senão aquilo que é recebido diretamente Dele. Você busca ser santo: “Não há nenhum santo senão o Senhor”, e não há santidade senão no que Ele por Seu Espírito de santidade a cada momento sopra no interior do que crê. Você poderia viver e trabalhar para Deus e Seu reino, por outros e pela salvação deles? Ouça o que Ele diz: “O Deus eterno, o criador dos confins da terra”, só Ele “não fracassa, nem se cansa. Ele dá força para o cansado e para aqueles que não têm poder Ele acrescenta força”. “Aqueles que esperam no Senhor renovarão suas forças”. Só Ele é Deus, só Ele é sua rocha. “Minha alma espera somente em Deus”.

“Minha alma espera somente em Deus”. Você será muito atraído para colocar sua confiança em igrejas e doutrinas, nos esquemas e planos e dispositivos humanos, em recursos da graça e em instrumentos divinos. Mas minha alma só espera no próprio Deus. Os compromissos mais sagrados se tornam um laço quando confiamos neles. A serpente ardente se torna apenas metal, a arca e o templo, uma confiança vã. Deixe apenas o Deus vivo ser sua esperança e mais nada ou ninguém além Dele.

“Minha alma espera somente em Deus”. Os olhos e as mãos, a mente e o pensamento podem estar intensamente envolvidos nas obrigações da vida, mas “minha alma espera somente em Deus”. Você, que é um espírito imortal, não criado para este mundo e sim para a eternidade, para Deus, deve compreender seu destino. Conheça seu privilégio e espere somente em Deus. Não permita que os interesses pelos pensamentos e exercícios religiosos o enganem, porque eles freqüentemente tomam o lugar da espera em Deus. Que o seu próprio eu, seu mais profundo ser, com todo poder, espere somente em Deus. Deus é para você, você é para Deus; espere somente Nele.

Sim, “minha alma espera somente em Deus”. Tome cuidado com dois inimigos: o mundo e o ego.

Tome cuidado para que nenhuma satisfação terrena, embora pareça inocente, o impeça de dizer: “Seguirei a Deus, minha indescritível alegria”. Lembre e estude o que Jesus disse sobre negar a si mesmo: “Que o homem negue a si mesmo”. Agradar o ego nas pequenas coisas pode fortalecê-lo para sua afirmação nas coisas grandes.

“Minha alma espera somente em Deus”; deixe que Ele seja toda a sua salvação e todo o seu desejo. Diga continuamente e com um inteiro coração: “Dele vem minha expectativa; somente Ele é minha rocha; não serei movido”. Qualquer que seja sua necessidade espiritual ou temporal, qualquer que seja o desejo ou oração de seu coração, qualquer que seja seu interesse em conexão com a obra de Deus, na igreja ou no mundo, na solidão ou na correria do mundo: “Minha alma espera somente em Deus”.

Deixe suas expectativas serem somente Dele. Somente Ele é a sua rocha. “Minha alma espera somente em Deus”. Nunca se esqueça das duas verdades fundamentais sobre as quais essa abençoada espera descansa. Se você já está inclinado a pensar que esta espera é muito difícil, elas lhe farão lembrar. São elas: sua impotência absoluta e a total suficiência de Deus.

Considere profundamente a total pecaminosidade de tudo o que é do ego e não pense em deixá-lo ter qualquer fala. Considere profundamente a total pecaminosidade de tudo aquilo que é do ego e nunca permita que ele tenha lugar. Faça profundo seu relacionamento com a dependência de Deus, a fim de receber a cada momento o que Ele dá. Faça ainda mais profunda Sua aliança de redenção, com Sua promessa de restaurar mais gloriosamente do que nunca o que você perdeu e por Seu Espírito, dar interiormente a presença real e o poder divino do Filho.

E assim, espere contínua e exclusivamente em seu Deus. “Minha alma espera somente em Deus”. Nenhuma palavra pode expressar, nem coração algum conceber as riquezas da glória desse mistério do Pai e de Cristo. Nosso Deus, na infinita ternura e onipotência de Seu amor, espera ser a vida e a alegria em você.

Categorias
Francisco Nunes Sofrimento

Da manjedoura à piscina


“O Senhor Jesus nasceu numa manjedoura!”

Este era o pensamento que consolava meu coração aflito. A sujeira e a escuridão eram angustiantes.

“Senhor, cuida do meu filho!”

Alguns meses antes, eu e minha esposa havíamos visitado o lugar. Instalações novas e modernas, recém-inauguradas, equipamento novo, completo, profissionais jovens e simpáticos, bem dispostos e de cara amiga. Excelente! “Já sabemos onde nosso filho irá nascer!” A maternidade pública próxima de nossa casa era resposta às orações. Sem convênio médico, numa cidade grande e nova, longe de minha irmã médica, era a segurança de que precisávamos. “Graças a Deus!”

– Liga pro Carlos!
Eram 3h da madrugada de 26 de agosto de 1991. As contrações se tornavam cada vez mais próximas uma da outra, a bolsa se rompera. Chegara a hora: Calebe queria nascer!
Carlos, um querido e tranqüilo irmão, morava relativamente perto de nós. Gentilmente havia se prontificado a nos levar para a maternidade. Ele nos acompanhara naquela visita que fizemos ao local.
– Carlos? Desculpe ligar a essa hora… É, o Calebe tá chegando!

Todo o período da gravidez havia sido cercado dos cuidados de Deus por meio de Seus filhos. Eu, minha esposa e dois filhotes viéramos de Porto Alegre para São Paulo há quatro meses. Terceira gravidez, cidade grande, muitas promessas e promessas quebradas (“Não foi isso que tinham nos falado!”), moradia num local de reuniões, sem plano de saúde, distância de tudo e de quase todos: tempo de provação em que a alma lutava para descansar e confiar em Deus.
Mas Ele, em Sua sempre infinita e imerecida bondade, nos cobriu de mimos. Entre os irmãos com quem nos reuníamos havia uma pediatra, uma médica, um dono de farmácia (o Carlos!), um casal sem filhos e dois dentistas, além de muitos outros amados santos. Resultado: compramos apenas uma chupeta para o Calebe.
E, para coroar todo aquele cuidado tão minucioso, a maternidade vizinha e reluzente. A única dor que havia eram as contrações. O coração estava tranqüilo, ansioso apenas para ver o guri que estava chegando.

Carlos chegou.

– Mas como?!
– Senhor, não podemos fazer nada. Todos os leitos estão ocupados e há quatro pacientes esperando vaga antes de sua esposa.
“Mas como? Por quê? Senhor, tava tudo tão certinho?! E meu filho?”

O ambiente era um caos. Pessoas correndo, mulheres e maridos preocupados de um lado para o outro, funcionários dando explicações, pacientes em macas no corredor, unhas sendo roídas, angústia palpável no ar, telefonemas sendo dados para todas as maternidades públicas da cidade, olhares pedindo socorro, os olhos do coração procurando Deus.
– Não tem vaga? Tá ok. Obrigado.
– Sem vagas? Todo mundo resolveu nascer hoje, né?! Então, tá.
– Uma vaga? Segura pra mim. Tô mandando uma paciente.

Carlos foi embora. Precisava trabalhar. Assegurou-nos de que tudo ia ficar bem, ia dar certo, pois Deus estava no controle. Confiei nele meio desconfiando de Deus. Custava ter deixado um leito para minha esposa?

Mais demora, mais hospitais sem vagas, menos tempo entre uma contração e outra. Não havia muito o que dizer! Quão rapidamente o tempo demora a passar em tempos de aflição.

– Duas vagas? Ótimo. Vão duas pacientes: Janisse e Celuta.
Aleluia! Nossa vez. Fim do sofrimento. Olhei aliviado para ela e sua barriga. Lindas.

– Calma, senhor, a ambulância está chegando.

Como um cretino desses ousa me pedir calma? Já faziam quase quatro horas que a bolsa de líquido de minha esposa tinha-se rompido, as contrações aumentando, ela sentada há horas numa recepção de maternidade, essa droga de ambulância não chega, e esse… me pede calma?! É fácil porque não é a esposa ou o filho dele.
O coração me jogava de um lado para o outro. “Tenho de dar um bom testemunho! Meu filho vai morrer. Senhor Jesus, socorro! Que droga de atendimento. Preciso encorajar minha amada…”.

A ambulância. Finalmente! De novo, um pouco de tranqüilidade.
Minha esposa e a outra grávida entraram com uma enfermeira. Prevendo o que poderia acontecer, a enfermeira pediu material para fazer o parto enquanto estivéssemos a caminho. Mas o quê ela faria se as duas crianças resolvessem nascer ao mesmo tempo?

– Maternidade do Brás? Não, não sei onde fica. Mas a gente descobre. Sobe aí, pai.
“Para que serve um motorista destes? Não me faltava mais nada?! Do Butantã para o Brás, e o cara não sabe o caminho?! Senhor!?”

– Acho que é por aqui.
E lá ia ele, como quem saiu para um piquenique com um cumpadre e duas cumadres barrigudas. Feliz, descansado, olhando o Tietê, sem pressa, sem sirene e filosofando.
– Correr? Não, não precisa. O que tem de ser será. Tudo tem seu tempo e só vai acontecer quando chegar a hora.
Seria pecado ou crime jogá-lo para fora e seqüestrar a ambulância com duas grávidas e uma enfermeira?

– Pronto. Chegamos. Não falei?
Bem seguro, ele entrou na rua estreitinha. Não seguiu muito adiante. Deu ré e retomou a viagem. Até hoje os funcionários daquela fábrica se perguntam o que fazia uma ambulância no meio do pátio onde tomavam café da manhã.

– Agora, sim! Taí! Pronto, pai. Chegamos.
Antes que eu fechasse a boca dele com um murro, desci e fui ajudar minha esposa. Levei-a até a recepção. Então, eu vi. “Meu Deus! Meu Deus!”

– Eu não disse? Tudo tem seu tempo. Chegamos na hora que Deus quis.

O hospital lembrava uma casa mal-assombrada. Abandonado, sujo, luzes apagadas. Não havia cadeiras de rodas para as grávidas, não havia papel higiênico nos banheiros cheios de teia de aranha, as macas frias, sem lençol, tinham pêlos e sangue de outras mulheres. Com a mesma lâmina usada sabe-se lá em quem, depilaram as duas novas vítimas que chegaram.

O único pensamento que me vinha ao coração e me trazia algum consolo e esperança era: “O Senhor Jesus nasceu numa manjedoura. E sobreviveu. Não teve infecção. Senhor, guarda meu filho! Por favor!”

Corri para o telefone, liguei para um irmão com quem eu trabalhava, pedi orações, socorro, esperança. Ele convocaria outros para orar. Ao desligar, senti-me sozinho, abandonado, num imenso e horrível açougue. E minha esposa e meu filho…

Lá dentro, a luta prosseguia. Não havia médico, apenas enfermeiras. Parteira. Os funcionários estavam em greve há três meses. O estado não fornecia praticamente nenhum material. As poucas pessoas disponíveis faziam seu melhor em meio à sujeira e falta do essencial.

Sem receber cuidados higiênicos, com o vestido com que viera da rua, minha esposa entrou em trablaho de parto. Sem perguntar-lhe nada, tentaram furar-lhe a bolsa com um objeto pontiagudo qualquer. Foi só o tempo de ela gritar que não precisava – um pouquinho mais e o Calebe terminaria ali. Então, para ajudá-la, fizeram a episiotomia… sem anestesia. A dor do parto impediu-a de sentir mais dor.

“… numa manjedoura. Senhor…”.

“Força!” Dor. Exaustão. Uma vez mais. Quase. Agora… Nasceu! Calebe. Lindo. Com arranhões na cabeça. Forte. Chorando. Vivo. Lágrimas. Carinho. Abraço. Graças a Deus!

– Parabéns, pai. Seu filho nasceu.

O aviso sem emoção me encheu de alegria, risos, lágrimas, gratidão. De joelhos no meu coração, agradeci porque o milagre de sobrevivência à manjedoura havia se repetido.
O Calebe nasceu a primeira vez.

Outra madrugada. Pesadelo. Medo. A pequenez diante das coisas inexplicáveis.
– MÃÃÃÃÃEE!
O mesmo bebê que lhe roubara aquela distante noite de sono precisava de ajuda novamente. A mãe atendeu-lhe o chamado. Ao lado dele, ouve o que o assustara. Abraça-o. Chora com ele. Afaga-o. Protege com seus invencíveis braços de carne frágil. É mãe.

– Mãe, eu quero entregar a minha vida pro Senhor Jesus. Ora comigo?

A luz brilhou nas trevas daquela madrugada. Repetia-se o milagre.
O Calebe nasceu a segunda vez.

Sábado, 26 de novembro de 2005. Ao completar 14 anos, como um presente para si mesmo e para Deus, Calebe foi batizado na piscina da casa de seus melhores amigos. Quanta alegria! Quanto louvor Àquele que tão bem cuidou dele ao longo desse tempo. A grande cicatriz no braço é mais um testemunho do mesmo amor de Deus por ele, cicatriz que não se compara àquelas que seu Senhor carrega por tê-lo salvo.

O frio, o vento que parou no momento adequado, a singeleza da cena, a emoção de quem estava presente – tudo e todos proclamavam a fidelidade Daquele que preserva a vida, da manjedoura à piscina.

(Mogi das Cruzes, 29.11.05. Publicado originalmente em 19.10.07. Revisado e republicado em 24.12.19)

Categorias
George Müller Testemunho

Fé real

“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Pela fé entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente” (Hb 11.1-3).

Primeiro: o que é fé?

Na maneira mais simples em que eu seria capaz de expressar, eu responderia: Fé é a certeza de que as coisas que Deus disse em Sua Palavra são verdade, e de que Deus agirá de acordo com o que Ele disse em Sua Palavra. Essa segurança, essa certeza na Palavra de Deus, essa confiança é fé.

Impressões não devem ser consideradas em conexão com a fé

Impressões não têm qualquer relacionamento com a fé. Fé relaciona-se à Palavra de Deus. Não são impressões, fortes ou fracas, que farão qualquer diferença. Temos de nos relacionar com a Palavra escrita e não conosco ou com nossas impressões, com nossos sentimentos.

Probabilidades não devem ser levadas em conta.

Muitas pessoas preferem crer naquilo que lhes pareça provável. Fé não tem relação nenhuma com probabilidades. O campo da fé começa onde as probabilidades cessam, onde o visível e o senso falham. Uma grande parte dos filhos de Deus decaem e lamentam sua falta de fé. Eles escrevem para mim e dizem que não possuem nenhuma impressão, nenhum sentimento, e alegam não ver probabilidade de que aquilo que desejam ocorrerá. As aparências não devem ser levadas em consideração. A questão é: o que Deus falou a respeito disso em Sua Palavra.

E, agora, amados amigos cristãos, há grande necessidade de questionarem a si mesmos se vocês, no recôndito da alma, praticam o hábito de tal confiança naquilo que Deus disse e se estão procurando francamente descobrir se aquilo que pedem está de acordo com o que Deus disse em Sua Palavra.

Segundo: como a fé pode ser desenvolvida.

Deus se deleita em desenvolver a fé de Seus filhos. Nossa fé, inicialmente fraca, é desenvolvida e fortalecida mais e mais dentro de nós. Em vez de evitarmos qualquer provação antes da vitória, sem qualquer exercício de paciência, devemos ter a disposição de considerar tais instrumentos como vindos das mãos de Deus. Eu digo, e o faço deliberadamente, que provações, obstáculos, dificuldades e, até mesmo derrotas, são o verdadeiro alimento da fé.

Recebo cartas de vários queridos filhos de Deus que dizem: “Querido irmão Müller, escrevo-lhe esta carta porque estou muito fraco na fé”. Pois, da mesma forma como pedimos que nossa fé seja fortalecida, devemos ter a disposição tomar como vindos das mãos de Deus os meios para fortalecê-la. Precisamos permitir que Ele nos eduque mediante provações, lutas e dificuldades. É por meio de provações que a fé é exercitada e desenvolvida mais e mais.

Carinhosamente, Deus permite dificuldades que possam desenvolver permanentemente o que Ele quer fazer por nós, e, ao fim das quais, não devemos nos retrair, mas, se Ele nos permitir tristeza, obstáculos, perdas e aflições, devemos tomá-las de Suas mãos como evidências de Seu amor e cuidado por nós em desenvolver mais e mais a fé que Ele procura fortalecer em nós.

A Igreja de Deus não está despertada para ver quão belo e amável Ele é; daí a pequenez da bem-aventurança. Oh, amados irmãos e irmãs em Cristo, procurem aprender por si mesmos, pois não posso lhes transmitir tal bem-aventurança! Nos momentos mais sombrios sou capaz de confiar Nele, pois sei quão belo e que amável Pessoa Ele é. E, caso seja a vontade de Deus colocar-nos na fornalha, deixemos que o faça, para que nos familiarizemos com Ele conforme Ele se revele, para que o conheçamos ainda melhor. Chegaremos, então, à conclusão de que Deus é um Ser amável, e estaremos contentes com Ele, e diremos: “Esse é meu Pai! Que Ele faça o que Lhe agradar”.

Quando comecei a permitir que Deus tratasse comigo, confiando Nele, tomando-O em Sua Palavra, e quando parti, cinquenta anos atrás, simplesmente confiando Nele no que dizia respeito a mim, a minha família, a custos, despesas de viagem e todas as demais necessidades, eu descansei nas simples promessas que encontrei no sexto capítulo de Mateus. Leia Mateus 6.25-34, atentamente. Eu cri na Palavra, descansei nela e a pratiquei. Eu tomei Deus em Sua Palavra. Um estranho, estrangeiro na Inglaterra, eu sabia sete idiomas e poderia tê-los usado talvez como atividade remunerada, mas eu havia me consagrado a trabalhar para o Senhor; eu pus minha confiança no Deus que havia prometido, e Ele agiu de acordo com Sua Palavra. Eu não tinha absolutamente nada. Tive minhas provações, minhas dificuldades e minha bolsa vazia, mas as entradas agregaram milhares de dólares, 51 anos desde que a obra se iniciou. Portanto, com relação a meu trabalho pastoral, nos últimos 51 anos, tive grandes dificuldades, grandes provações e perplexidades. Sempre haverá dificuldades, sempre provações. Mas Deus tem-me sustentado sob elas e delas me livrou, e a obra prossegue.

Contudo, isso não se dá, como alguns disseram, porque sou um homem de grande poder mental, ou dotado de energia e perseverança – esses não são os motivos. A razão é que confiei em Deus; porque busquei a Deus e Ele cuidou da Instituição, que, sob direção Dele, tem cem turmas de alunos, com mestres e mestras, e outros departamentos que já mencionei em outra ocasião.

Eu não carrego fardos. E, agora, em meus 67 anos, tenho força física e vigor mental para tanto trabalho da mesma forma de quando eu era um jovem na universidade, estudando e preparando prédicas em latim. Sinto tanto vigor quanto naquele tempo. Como pode ser isso? Porque no último meio século de labor fui capaz, com a simplicidade de uma criança, de confiar em Deus. Sim, eu tive minhas provações, mas me apeguei a Deus, e por meio disso fui sustentado. Não é mera permissão, mas direção específica, que Ele dá de lançarmos os fardos sobre Ele. Oh, façamos isso! Meus amados irmãos e irmãs em Cristo: “Lança teu fardo sobre o Senhor, e Ele te sustentará” (cf. 1Pd 5.7). Dia a dia eu o faço. Hoje de manhã, levei perante o Senhor sessenta assuntos relacionados à igreja que pastoreio, e, assim é: dia após dia faço isso, e ano após ano; dez anos, trinta anos, quarenta anos.

Todavia, não imaginemos obter fé completa de uma só vez. Todas essas coisas, como salto de pleno exercício da fé, eu menosprezo. Eu não creio nisso. Eu não creio nisso. Não creio nesse tipo de fé, e desejo que você compreenda claramente que eu não creio nisso.

Essas coisas todas [relativas à fé] acontecem de maneira natural. O pouco que obtive, não o obtive todo de uma só vez. Digo tudo isso de modo particular, porque cartas chegam a mim cheias de perguntas daqueles que procuram ter sua fé fortalecida. Comece de novo, mantendo sua alma na Palavra de Deus, e você terá um aumento de sua fé conforme a exercitar.

Uma coisa mais. Alguns dizem: “Oh, nunca terei o dom da fé que o sr. Müller tem!” Isso é um erro; é o maior erro; não há nisso uma partícula de verdade. Minha fé é o mesmo tipo de fé que todos os filhos de Deus tiveram. É o mesmo tipo de fé que Simão Pedro tinha, e todos os cristãos podem obter a mesma fé. Minha fé é a fé deles, embora possa haver mais dela porque minha fé tenha sido um pouco mais desenvolvida pelo exercício do que a deles; mas a fé deles é exatamente a fé que eu exercito, possivelmente, em relação ao grau, a minha possa ser mais fortemente exercitada.

Agora, amados irmãos e irmãs, comecem aos poucos.

Inicialmente, eu era capaz de confiar no Senhor com respeito a dez dólares, depois com respeito a cem dólares, depois com respeito a mil dólares, e agora, com grande facilidade, eu posso confiar Nele com respeito a um milhão de dólares, se fosse o caso. Mas, antes de tudo, eu deveria examinar em silêncio, com critério, por vontade própria, e ver se aquilo em que eu confiava era algo conforme Suas promessas em Sua Palavra escrita.

“Como cooperadores com Ele” (cf. 2Co 6.1).

Categorias
Encorajamento Richard Wurmbrand

Fé e sofrimento

Categorias
Encorajamento T. Austin-Sparks

O descanso e a coragem da fé

Você almeja o descanso?

“Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus” (Hb 4.9).

“E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade” (Hb 3.19).

“Então, os filhos de Judá chegaram a Josué em Gilgal; e Calebe, filho de Jefoné, o quenezeu, lhe disse: Tu sabes o que o SENHOR falou a Moisés, homem de Deus, em Cades-Barneia por causa de mim e de ti. Quarenta anos tinha eu, quando Moisés, servo do SENHOR, me enviou de Cades-Barnéia a espiar a terra; e eu lhe trouxe resposta, como sentia no meu coração.

“Mas meus irmãos, que subiram comigo, fizeram derreter o coração do povo; eu, porém, perseverei em seguir ao SENHOR, meu Deus. Então Moisés naquele dia jurou, dizendo: Certamente a terra que pisou o teu pé será tua e de teus filhos, em herança perpetuamente; pois perseveraste em seguir ao SENHOR, meu Deus.

“E agora eis que o SENHOR me conservou em vida, como disse; quarenta e cinco anos são passados, desde que o SENHOR falou esta palavra a Moisés, andando Israel ainda no deserto; e agora eis que hoje tenho já oitenta e cinco anos; e ainda hoje estou tão forte como no dia em que Moisés me enviou; qual era a minha força então, tal é agora a minha força, tanto para a guerra como para sair e entrar. Agora, pois, dá-me este monte de que o Senhor falou aquele dia; pois naquele dia tu ouviste que estavam ali os anaquins, e grandes e fortes cidades. Porventura o SENHOR será comigo, para os expulsar, como o SENHOR disse.

“E Josué o abençoou, e deu a Calebe, filho de Jefoné, a Hebrom em herança. Portanto Hebrom ficou sendo herança de Calebe, filho de Jefoné, o quenezeu, até o dia de hoje, porquanto perseverara em seguir ao SENHOR, Deus de Israel” (Js 14.6-14).

Estou certo de que isso soará para muitos como voltar por um longo caminho e entrar em um reino muito vasto quando digo que nós, cristãos, estamos sendo constantemente confrontados com nosso cristianismo e desafiados por ele. Muitos de nós ainda não entraram realmente no cristianismo. O que quero dizer? Bem, por um motivo: a única porta para o verdadeiro cristianismo é a porta do descanso, o descanso da fé. O modo muito simples pelo qual o Senhor colocou isso em Seu apelo foi: “Vinde a Mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Isso foi dirigido a uma multidão, e essas palavras geralmente são usadas nas mensagens evangelísticas para os não-salvos. O sentido do que o Senhor disse com essas palavras é dado na Epístola aos Hebreus – um significado muito mais profundo e completo do que aquele que é geralmente reconhecido no uso do singelo convite: “Vinde a mim […] e vos darei descanso”. Existe algo que devemos ouvir e detectar na frase: “Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus” (Hb 4.9).

Uma presente entrada no descanso

Se olharmos o contexto, a referência é a algo no qual o povo de Deus não entrou. “E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade” (3.19). Eles não puderam entrar. Quem eram eles? O povo de Deus. É para o povo de Deus que ainda resta um descanso. Não coloquemos isso no futuro, pois esse não é o significado de modo algum; como se depois, quando nós chegarmos em Casa na glória, então, chegaremos no dia de descanso sabático, entraremos no repouso. Não é algo que acontece na tumba: a pessoa entrou no descanso. É, antes, alguma coisa que resta agora como algo presente para o povo de Deus, não na morte, mas na vida. Resta ainda o descanso.

Não me julguem elementar, pois vocês sabem no coração, assim como sei no meu, que esse assunto de descanso do coração, o descanso da fé, é uma questão continuamente viva, que está vindo à tona em todo o tempo. Uma das coisas que está faltando em muitos de nós é o repouso, ou, colocando de outra maneira, as coisas que mais nos caracterizam são a agitação frenética, a ansiedade e a incerteza – e todas elas são o oposto da tranqüila segurança, da quieta confiança, do espírito, da atitude e da atmosfera que diz a todo tempo: “Não se preocupem, não se precipitem, está tudo bem”. Uma coisa que nosso grande inimigo está sempre tentando fazer é perturbar, destruir isso e nos roubar isso, agitar-nos, afligir-nos, conduzir-nos, atormentar-nos, qualquer coisa que roube nosso descanso ou nos impeça de entrar nele.

É o descanso da fé, não o descanso da passividade, da indiferença e da falta de cuidado. Há muita diferença entre falta de cuidado e falta de preocupação. Resta, ainda deve ser alcançado, deve ser obtido, ainda existe, ainda está preservado um descanso para o povo de Deus – para o povo de Deus. Não temos o direito de ir aos não-salvos e persuadi-los a chegarem-se a Cristo e achar descanso até, e a menos, que nós próprios conheçamos esse descanso. Nosso testemunho e nosso ministério estão ameaçados, enfraquecidos, limitados e desacreditados se nós mesmos não estivermos no repouso; e este é o objetivo da ação do inimigo com respeito a isso: tirar nosso crédito removendo de nós a primogenitura de nossa união com Cristo, Aquele que nunca está perturbado, nunca ansioso, nunca com dúvidas em qualquer questão a a respeito Daquele que reina. O repouso é o resultado exterior prático de nossa crença de que Ele é o Senhor, e de que o senhorio de Cristo está comprometido pela falta de descanso do povo de Deus.

Não temos o direito de ir aos não-salvos e persuadi-los a chegarem-se a Cristo e achar descanso até, e a menos, que nós próprios conheçamos esse descanso.

O descanso da fé deve ser nossa posição, não apenas na grande questão da justificação – mas se não estivermos alicerçados nela, não estaremos alicerçados em qualquer outro fundamento. Oh, o inimigo está atacando isso, mesmo com respeito ao povo de Deus; ele está sempre buscando desvalorizar isso; de certa forma buscando erguer novamente a questão da justificação, de estarmos apenas com Deus em nosso posicionamento, em nossa aceitação – que ainda não é plena e final em nosso estado apenas em Cristo; ou seja, não estamos finalmente perfeitos em nós mesmos, mas somente naquela união em relação ao que Cristo é. O inimigo nunca cessa de tentar diminuir isso, seus métodos são incontáveis, muito persistentes e muito vigorosos. O descanso da fé está nisso, mas também em cento e um outros aspectos das coisas práticas da vida cotidiana, coisas que não estão em nosso poder para arrumar, assegurar, estabelecer e fazer acontecer. Cada dia traz centenas de situações nas quais há a oportunidade de permanecermos no descanso da fé, naquela fé no Senhor que traz repouso. Assim, sutis são os modos do inimigo que sempre nos dirá que é algo muito pequeno com que preocuparmos o Senhor; “é um mero incidente, por que levar ao Senhor? Ele é maior e tem coisas mais importantes do que essa aí para fazer! Por que tentar fazer do Senhor nosso garoto de recados (digo-o com reverência), apenas para fazer todas as coisinhas que queremos que sejam feitas?” Se nessas coisas o testemunho é preservado pelo descanso, então, é algo grande para o Senhor, não algo pequeno. Se nessa questão a glória do Senhor corre risco de sofrer, então, é algo realmente muito grande. Talvez seja um incidente do dia-a-dia – sim, de muitas, muitas maneiras no cotidiano, você e eu podemos perder o equilíbrio, o descanso e a tranqüila confiança como se perdêssemos nossa espiritualidade, e o Senhor perde muito, pois isso prova que em algum lugar faltou fé, e, com isso, o repouso se foi. Esse é um lado. É um desafio para nós, um real desafio.

A necessidade de fé

“E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade.” Não puderam – incredulidade paralisadora, desqualificante e incapacitante. Isso significa que, o quanto antes encararmos toda essa questão e a resolvermos, tanto quanto possível, melhor. Por 38 anos Israel esteve trancado, detido, andando em círculos, por assim dizer, nesta única questão de crer ou não em Deus. Ela foi levantada, digo novamente, de diversas formas. Ela apareceu em questões físicas, pois uma vida no deserto era fisicamente um grande desafio. O Senhor não mudou as condições físicas. Ele chamou os filhos de Israel a uma grande mudança neles mesmos primeiramente; as condições físicas seriam ajustadas quando Ele obtivesse a mudança dentro deles. Quando a questão da fé Nele foi resolvida, então, o Senhor tratou com o que era físico. A questão fora levantada nas áreas circunstancial, emocional, intelectual e volitiva; o desafio fora feito a todas elas de várias maneiras. Podemos considerar toda a experiência deles e ver como cada um tinha uma forma peculiar de desafiar a fé, e esse desafio mudava quase diariamente em seus aspectos e formas, porém era sempre o mesmo. Ocorreu em todas as áreas, e o Senhor jamais o mudou, ou impediu nem permitiu que toda a gama de condições fosse alterada, focando sempre apenas em um ponto: o que importava era o homem interior, e, enquanto esse ponto não fosse decidido, o Senhor lidava com todas as outras coisas.

A coisa é mais profunda: é uma questão de simplesmente crer em Deus; fé resoluta, confiança em Deus.

Bem, isso é muito compreensível. Não pensemos que é necessariamente essa ou aquela coisa que contribui para nossa condição. Podem ser fatores contribuidores, podem ser uma grande prova, podem ter muito peso sobre nós. As questões físicas – sim, elas pesam, tornam a situação extremamente difícil, fazem um monte de diferença. As circunstâncias nas quais temos de viver fazem muita diferença, tornando a situação demasiadamente difícil. Dizemos: “Se tão-somente o Senhor tratasse com essa questão física ou com essas circunstâncias ou algo mais! Tudo acontece por causa disso, que é sua causa, sua razão”. Essa é nossa maneira de arrazoar, mas de maneira nenhuma é o pensamento do Senhor. A coisa é mais profunda: é uma questão de simplesmente crer em Deus; fé resoluta, confiança em Deus. O Senhor está tentando nos tirar de nossa variável e volátil vida da alma, na qual estamos à mercê de todos os nossos sentimentos, pensamentos, razões e todas essas coisas, e nos colocar em um reino em que, em espírito, somos firmes. Este é o ponto sobre o qual tudo ficaria fixado, segundo o salmo: “Seu [do povo] coração não estava firme nele [em Deus]” (78.37), e em torno disso todos aqueles quarenta anos transcorreram. A chave para isso é espiritual; testados por todas as outras circunstâncias, por todos os outros meios, por fim constataram que era uma questão espiritual. Ser fortalecido com poder por Seu Espírito no homem interior (Ef 3.16) é a resposta a isso tudo. O outro modo de agir, então, dá lugar a esse; pelo menos devemos ganhar ascendência sobre o outro enquanto não é removido.

Fé em Deus, o segredo da coragem

Voltemos à palavra em Josué. Daquela primeira geração, apenas dois homens saíram do reino da alma: Josué e Calebe. Eles triunfaram nesse reino e sobre ele primeiro, e depois o Senhor os trouxe para fora, mas o fato é que o descanso da fé, que era o segredo do triunfo deles enquanto estavam nele, foi trazido tão bela e magnificentemente à luz em Josué 14. Penso que é algo excelente. Calebe, um dos dois, vem a Josué. Ele é agora um homem velho, mas ainda vivendo pela fé na posição que tomou com o Senhor anos antes. Ele tomou essa posição quando foi um dos espias e quando a grande maioria, a esmagadora maioria, trouxe seu péssimo testemunho. Os demais olharam para Deus através de suas circunstâncias, esses dois homens contemplaram suas circunstâncias através de Deus – e isso fez toda a diferença. Calebe tomou essa posição de olhar para tudo através de Deus, e ainda vive nessa posição; e agora, como um homem velho, vem a Josué, e, enquanto todos os outros estão recebendo suas heranças em posições agradáveis, fáceis e prósperas, “em que cada paisagem era agradável”, Calebe diz: “Dê-me esta montanha onde estão os gigantes e as grandes cidades muradas, esse país montanhoso! Dê-me esta montanha!”

Oh, queridos amigos, existe muito a ser dito sobre isso, mas ficarei contente, por ora, em apresentar este desafio ao meu coração e ao de vocês: O que estamos buscando? Uma herança fácil, uma horta em que trabalhar, algo que responderá a nosso toque imediatamente e nos dará satisfação? Buscamos uma terra florescente? A fé que trouxe Josué e Calebe ao descanso de coração antes do descanso da terra era este tipo de fé: “Dê-me uma possibilidade difícil! Eis aqui uma situação cheia de dificuldades, cheia de ameaças, cheia de adversidades; não obstante ser quase uma proposta aterradora, dê-me uma chance ali!” Vemos o desafio. As dificuldades nos aterrorizam ou apenas apresentam uma grande oportunidade para o Senhor? “De que o Senhor falou aquele dia […] como o Senhor disse.” Como estamos encarando as grandes dificuldades? E elas existem! Existem problemas! E essas montanhas parecem se empilhar umas sobre as outras à medida que prosseguimos. Às vezes, o que está diante de nós parece ser uma perspectiva impossível, uma situação desesperadora. Talvez para nós individualmente, por alguma razão dentro de nós ou fora de nós, ou para a obra para a qual fomos chamados, para o ministério, o testemunho que está posto diante de nós, aquilo parece tão completamente desesperador, a montanha é impossível. Bem, e daí? “Dê-me esta montanha!” Nada a não ser uma fé real em Deus pode considerar as coisas desse modo e dizer: “Tudo bem. É difícil, não há dúvidas sobre isso, é uma proposta naturalmente aterradora, uma perspectiva desesperadora; não obstante, nós a tomaremos no nome do Senhor. Como o Senhor falou… O Senhor” olhando para a montanha através do Senhor, e não para o Senhor através da montanha.

As dificuldades nos aterrorizam ou apenas apresentam uma grande oportunidade para o Senhor?

Creio que esse seja o tipo de fé de que precisamos, que conduz ao descanso. Uma montanha – sim, uma montanha alta o bastante, uma montanha de fato, uma montanha circunstancial, uma montanha da perspectiva da obra. Naturalmente, faríamos a coisa certa, a sábia, a coisa do senso comum: “Não, não tocaremos nisso!” Mas a fé diz: “Não vou tentar contornar a montanha, não vou virar as costas para ela e fugir. Dê-me esta montanha!” Eu quero essa fé, você a quer. Não é apenas nossa coragem natural, nossa natureza tenaz, nossa pugnacidade que fará isso. Sabemos bem que nada temos; se deixados por nossa conta, seria melhor desistir. Mas o Senhor está desafiando, e Calebe vem como uma repreensão para nós. Ao final de uma longa vida – quando pensaríamos que talvez fosse o tempo dele herdar um belo jardinzinho e um chalé em algum lugar onde o trabalho fosse fácil e pudesse, então, descansar – ele diz: “Dê-me esse monte onde há gigantes e cidades muradas! Dê-me esta montanha!” Sua escolha foi uma coisa difícil, pois era uma oportunidade para o Senhor.

É provável que muito em breve sejamos trazidos, de modo muito prático, ao encontro de situações como as que temos descrito, mas consideremos o Senhor nelas. Vamos ter de enfrentar com naturalidade o que serão dificuldades aterradoras, por dentro e por fora, que querem arrancar nosso coração, mas, oh!, a essa quieta e repousante segurança e confiança em nosso Deus, a qual diz: “Dê-me esse monte como uma oportunidade de experimentar o Senhor!”

E assim fez Calebe – em Hebrom, e isso é outra história (Hebrom é uma longa história). Devemos conhecê-la, pois Hebrom foi um lugar maravilhoso nos propósitos de Deus. Davi fora primeiramente coroado rei lá, antes de o ser em Jerusalém. Hebrom significa “comunhão”. Há uma grande herança em Hebrom. Hebrom está assegurado para homens e mulheres com o tipo de fé de que falamos, que não querem escapar de suas dificuldades e do caminho árduo. Que a tomemos na força do Senhor, e que Ele tenha uma oportunidade de mostrar que pode fazer o que seria naturalmente impossível. O Senhor nos dê essa fé!

(Fonte da imagem)

Categorias
A. W. Pink

Ansiedade

Não há ansiedade quando há fé.

“Não estejais inquietos por coisa alguma” (Fp 4.6).

A ansiedade é tão claramente proibida por Deus como é o roubo. Isso exige uma cuidadosa reflexão e um claro entendimento de nossa parte, a fim de não nos desculparmos por considerá-la uma simples “fraqueza”. Quanto mais estivermos convencidos da pecaminosidade da ansiedade, mais cedo perceberemos que ela desonra grandemente a Deus, e haveremos de “lutar contra” esse pecado (Hb 12.4). Mas como lutar contra o pecado da ansiedade?

Primeiro, supliquemos ao Espirito Santo que nos conceda uma convicção mais profunda da enormidade desse pecado. Segundo, façamos disso assunto de oração específica e séria, a fim de sermos libertados desse mal. Terceiro, fiquemos atentos ao começo da ansiedade e, tão logo estejamos conscientes da perturbação da mente, tão logo detectemos algum pensamento de incredulidade, elevemos o coração a Deus, suplicando-Lhe libertação desse pecado.

O melhor antídoto para a ansiedade é meditar com freqüência na bondade de Deus, em Seu poder e em Sua suficiência. Quando o santo consegue perceber confiantemente que o Senhor é seu pastor, forçosamente ele conclui: “Nada me faltará!” (Sl 23.1).

No texto de Filipenses, imediatamente após a exortação “Não estejais inquietos por coisa alguma”, lemos: “Antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ações de graças”. Não há nada grande demais nem pequeno demais para ser apresentado a Deus e lançado sobre Ele. A expressão “com ações de graças” é da maior importância; contudo, é o exato ponto em que muitas vezes falhamos. Ela significa que, antes de recebermos a resposta da parte de Deus, nós Lhe agradecemos por essa resposta. É uma confiança infantil, na expectativa de que o Pai será gracioso.

“Por isso, vos digo: não andeis cuidadosos quanto a vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que vestuário? […] Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.25,33).

Categorias
Agostinho Citações D. L. Moody Gotas de orvalho Humildade J. C. Ryle Matthew Henry Oração Osvald Chambers Richard Sibbes Serviço cristão Thomas Brooks

Gotas de orvalho (97)

Cedo de manhã, o orvalho do céu!

A fé é uma inexprimível confiança em Deus. Uma confiança que nem sonha com a possibilidade de Deus não ficar ao nosso lado.

(Oswald Chambers)

Se você crê somente naquilo de que gosta no Evangelho e rejeita o de que não gosta, não é no evangelho que você crê, mas em si mesmo.

(Agostinho de Hipona)

Não te acanhes se tua oração é gaguejante e tuas palavras, fracas e imperfeitas. O Senhor te entende. Assim como uma mãe entende o balbuciar de seu filhinho, assim o amado Salvador te entende. Ele pode ler um suspiro e captar o significado de um gemido.

(J. C. Ryle)

Os que se afastam de Deus nunca podem achar repouso em nenhuma outra parte.

(Mathew Henry)

É um vício destrutivo adicionar qualquer coisa a Cristo.

(Richard Sibbes)

A alma humilde contempla a justiça de Cristo como sua única coroa.

(Thomas Brooks)

Pequenos números não fazem nenhuma diferença para Deus. Não há nada pequeno se Deus estiver ali.

(Dwight L. Moody)

Salvar

Categorias
Citações Corrie Ten Boom D. L. Moody Gotas de orvalho Leonard Ravenhill Modernismos Oração Ruth Paxon Samuel Chandwick Watchman Nee

Gotas de orvalho (93)

Cedo de manhã, o orvalho do céu!

A fé é como o radar, que enxerga através do nevoeiro; vê a realidade das coisas a uma distância que os olhos humanos não conseguem alcançar.

(Corrie Ten Boon)

Estar em Cristo é compartilhar o que Cristo tem. Tudo o que Cristo possui possuímos. Cada bênção espiritual Nele – alegria, paz, vitória, poder, santidade – é nossa aqui e agora. Se somos filhos de Deus, então, somos Seus herdeiros e co-herdeiros com Cristo, para que tudo o que o Pai tenha dado a Seu Filho, o Filho compartilhe conosco.

(Ruth Paxson)

A pior maldição que um povo pode sofrer é ter uma religião movida à base de mera emoção e sensacionalismo. A ausência de realidade espiritual já é trágica; mas o aumento da falsa espiritualidade é pecado mortal.

(Samuel Chadwick)

O custo de chegar perto do coração de Deus, de ouvir a voz de Deus e fazer a vontade de Deus não é pequeno. Deus não pode ser apressado. A região isolada do deserto, solitário, sem recursos, atrativos ou vozes, é o lugar onde a sarça arde, onde a voz de Deus é ouvida, onde a visão é transmitida, onde o casamento com a vontade divina acontece.

(Leonard Ravenhill)

A razão pela qual muitos cristãos não experimentam o poder do Espírito é que lhes falta reverência para com Ele. E falta-lhes reverência porque os olhos deles não foram abertos para o solene fato da presença divina habitando em nós. O fato é incontestável, porém eles ainda não se deram conta disso. Por que alguns filhos de Deus levam uma vida vitoriosa, enquanto outros se encontram em um estado de constante derrota? A diferença não se deve à presença ou ausência do Espírito (pois Ele habita em todo filho de Deus), mas a isto: alguns sabem que Ele habita em nós, e outros, não; e, conseqüentemente, alguns reconhecem a autoridade de Deus sobre sua vida, enquanto outros continuam sendo seus próprios mestres. Descobrir que seu coração é a habitação de Deus será uma revolução na vida de qualquer cristão.

(Watchman Nee)

O imenso poder da oração já sujeitou a força do fogo, amarrou a ira de leões, acalmou as insurreições de anarquia, pôs fim a guerras, aplacou as forças selvagens da natureza, expeliu demônios, rompeu os grilhões da morte, expandiu os limites do reino dos céus, aliviou enfermidades, afastou fraudes, resgatou cidadãos da destruição, parou o sol no seu curso e impediu o avanço do raio destruidor. A oração é uma armadura contra todo mal, um tesouro que nunca se diminui, uma mina que jamais poderá ser esgotada, um céu sem qualquer obstrução de nuvem, um horizonte imperturbado por tempestades. É a raiz, a fonte, a mãe de incontáveis bênçãos.

(Crisóstomo)

Quando alguém dá uma boa olhada no espelho de Deus, não encontrará ali as faltas dos outros; tem coisas demais a ver em si mesmo.

(Dwight L. Moody)

Sair da versão mobile