Categorias
Encorajamento Salvação

Entrar no descanso de Deus

A base eterna de nosso eterno descanso

O primeiro dia de Adão nesta Terra foi um sábado. Deus criou o homem no sexto dia, e o primeiro dia completo que o homem teve foi o sábado, que se tornou o primeiro dia para ele. Considerado no Novo Testamento ― em que Deus termina e aperfeiçoa Sua nova obra de criação no Senhor Jesus e entra em Seu descanso –, é o sábado de Deus, e lá nós começamos. Aquele é nosso primeiro dia: o descanso de Deus.

Começamos em algo que já é perfeito. Essa é a base do “pacto eterno”. Alcançar o significado disso é ver o que é o “pacto eterno”, é começar sobre a base perfeita e crescer a partir dela. O que importa não é como nos vemos ou como nos sentimos a esse respeito, mas é o lugar de Deus para nós. O fato é que em Jesus Cristo você e eu nunca seremos mais perfeitos do que somos agora. Esses aperfeiçoamentos podem ser lavrados em nós progressivamente; entretanto, no que diz respeito à base de nossa aceitação, somos “aceitos no Amado” (versão King James), e Ele satisfaz completamente ao Pai, que veio a descansar Nele. Essa obra é perfeita.

Nossa aceitação está sempre fundamentada em o objetivo de Deus ter sido alcançado. Até que isso esteja bem estabelecido, não temos nada em que nos firmar quando Deus começar a trabalhar em nós. Não se esqueça disso. Se, quando Deus começa a lidar conosco em disciplina e castigo, em treinamento, moldagem e formação, passamos em dado momento qualquer a dizer: “Isso está acontecendo porque sou tão mau, tão perverso, e o Senhor tem de fazer algo comigo para que eu seja aceitável”, então, já abandonamos nossa base. Nunca seremos mais aceitáveis; no entanto, Deus faz muito em nós. Fomos aceitos, não com base no que somos – não importando quão bons ou maus fôssemos –, mas com base no Amado. “Aceitos no Amado.”

Nós cantamos – e eu desejo que isso habite mais e mais profundamente em nosso coração – que Suas perfeições são a medida de nossa própria aceitação. É ali que começamos. Bendito seja Deus, que essa é a base de confiança! E, quando o Senhor começa a nos tomar em Sua mão e sentimos quão abomináveis criaturas somos, isso nunca implica por um instante sequer que não sejamos aceitos. O pacto eterno significa aqui, em primeiro lugar, que somos aceitos com base na satisfação de Deus com Seu Filho. Se fôssemos aceitos com base em nós mesmos, e permanecêssemos em nós mesmos, não haveria pacto eterno e absolutamente nenhuma base segura. Tudo dependeria de como estivéssemos a cada dia. Mas não, a questão não é quem somos ou seremos. A base está firmada em Cristo. Deus está apenas trabalhando para tornar real em nós o que é verdadeiro em Seu Filho, mas Ele não muda a base para isso. Que não abandonemos nossa base.

 

(Publicado em 2.8.14. Atualizado em 26.4.18)

Categorias
Robert Govett Salvação Segunda vinda

Esaú e a primogenitura

Que os santos podem se tornar culpados de fornicação é algo fora de qualquer dúvida; isso é confirmado tanto por tristes fatos quanto pelas Escrituras. “E chore por muitos que dantes pecaram e não se arrependeram da imundícia, e prostituição e lascívia que cometeram” (2Co 12.21). Qual será, então, o resultado de tais pecados cometidos após a fé e a confissão do nome de Cristo? Eles não afetarão a posição da parte culpada no futuro? Não existe nenhuma punição além da frieza e da morte espirituais agora? A Escritura nos dá um testemunho bastante diferente. Ela nos assegura que os tais, embora sejam salvos no final, não terão nenhuma parte no reino de mil anos do Salvador. “Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes nem os roubadores herdarão o reino de Deus” (1Co 6.9,10). “Porque bem sabeis isto: que nenhum devasso, ou impuro ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus” (Ef 5.5). O reino mencionado como sendo de Cristo (ou Messias) demonstra ser o reino temporário que Jesus receberá como Filho de Davi, o Messias dos judeus.

Parece que até mesmo punição positiva será aplicada aos santos culpados desse pecado. “Porque esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que vos abstenhais da fornicação; que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra; não na paixão da concupiscência, como os gentios, que não conhecem a Deus. Ninguém oprima ou engane a seu irmão em negócio algum, porque o Senhor é vingador de todas estas coisas, como também antes vo-lo dissemos e testificamos. Porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação. Portanto, quem despreza isto não despreza ao homem, mas sim a Deus, que nos deu também o seu Espírito Santo” (1Ts 4.3-8). “Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula; porém, aos que se dão à prostituição e aos adúlteros, Deus os julgará” (Hb 13.4)

A ira de Deus contra este pecado foi vista em Seu tratamento a ele dado sob a lei, conforme nos foi indicado no resumo de Paulo a respeito dos caminhos do Senhor com relação a Seu povo do passado (1Co 10). Moisés, da mesma forma, observa este ponto, quando recorda aos israelitas os tratos do Senhor com eles: “Os vossos olhos têm visto o que o Senhor fez por causa de Baal-Peor; pois a todo o homem que seguiu a Baal-Peor o Senhor, teu Deus, consumiu do meio de ti” (Dt 4.3).

Esaú é caracterizado como “profano”, e sua história confirma de modo real e completo a acusação. Ele “vendeu o seu direito de primogenitura”. O que estava contido no “direito de primogenitura” não está esclarecido em cada ponto. Sob a lei, uma porção dobrada das posses do pai pertencia ao primogênito (Dt 21.17). E, quando o pai era um rei, o reino era, naturalmente, dado a ele, a menos que o Senhor, como Governador Supremo, se agradasse em ordenar de outra forma (2Cr 21.3). Porém, no caso de Esaú, podemos ver o que ele perdeu, observando o que Jacó se tornou posteriormente. O Altíssimo inseriu o  nome de Jacó em Seu próprio nome. Jeová era “o Deus de Abraão, Isaque e Jacó”. Freqüentemente Ele é chamado apenas de “o Deus de Jacó” ou “o Deus de Israel”. Tal glória, então, foi rasgada de Esaú, o profano. De Jacó também nasceram os doze patriarcas e o próprio Messias. O reino de Deus é fundado na base das doze tribos, e o nome delas está  eternamente gravado nos portões da cidade eterna de Deus. Desistir das vantagens espirituais em troca daquelas que são terrenas é o ganho da profanação; e deste crime Esaú se tornou culpado ao vender seu direito de primogenitura.

Mas ele foi ainda mais culpado por ter aceitado em troca uma insignificante remuneração de categoria humana. Foi uma “única refeição”. Se ele tivesse exigido que Jacó o sustentasse durante toda a vida, como pagamento por sua rendição, teria sido profanação. Mas, desfazer-se do direito de primogenitura pela gratificação de uma hora, foi o extremo da profanação. Sua referência a tal direito revela desprezo enquanto efetua a venda: “Eis que estou a ponto de morrer; para que me servirá a primogenitura?” (Gn 25.32). Os homens em geral apregoam o valor dos bens que estão para vender; mas o próprio Esaú deprecia a primazia daquilo que estava para lançar fora. Ele o vendeu também com um juramento recorrendo a Deus para dar testemunho à ímpia transação (v. 33). Observe outro agravante do pecado! Levando em consideração a venda, o Espírito Santo acrescenta: “E ele comeu, e bebeu, e levantou-se e saiu” (v. 34). Ele foi cuidar das suas obrigações rotineiras quando terminou a refeição, como se nada de importância particular tivesse acontecido.

Observe, entretanto, a extensão do pecado. Não foi por ter caído em idolatria, ou por ter renunciado a Deus de seu pai, que Esaú perdeu seu direito de primogenitura. Também não foi por ter repudiado Isaque como pai. Isaque ainda o reconhecia como filho, embora fosse forçado a reter a bênção do primogênito. O exemplo de Esaú é, portanto, uma lição para o crente, para alguém que será reconhecido por Deus como Seu filho no dia da recompensa.

O desfecho do caso é transformado em aviso para nós. Esaú, por fim, desejou a bênção. Quando seu pai estava para concedê-la, ele se empenhou em consegui-la, mas foi negada a ele pela providência de Deus. (Não temos necessidade de defender a conduta de Jacó, tanto pela compra do direito de primogenitura como pela tentativa de obtê-lo fraudulentamente. Isso foi incorreto à vista de Deus e, como tal, foi punido. Mas este não é o ponto de que estamos tratando agora.)

O Senhor sustentou a barganha de Esaú. Deus foi  convidado como testemunha da venda, e, por Sua providência, impediu que Isaque concedesse a bênção a Esaú. Quando descobriu que seu irmão havia obtido a bênção para si, “ele [Esaú] bradou com grande e mui amargo brado, e disse a seu pai: Abençoa-me também a mim, meu pai!” Mas Isaque não foi persuadido a se arrepender de suas palavras ou a revogar a bênção. “Abençoei-o e ele será bendito! E levantou Esaú a sua voz e chorou.” Embora tivesse buscado no final a bênção com lágrimas, não a obteve. (O buscar pode se referir, gramaticalmente, à (1) bênção ou à (2) mudança no propósito do pai. Eu prefiro entender como sendo a última.) Esaú não pôde levar o pai ao arrependimento por ter dado a suprema honra a seu irmão mais novo. “Ele foi rejeitado” (a palavra grega indica alguém vindo a ser um “rejeitado”, coisa que Paulo temia para si mesmo, uma vez que usa uma palavra da mesma raiz em 1Co 9.27).

Mas como o exemplo se aplica a nós, cristãos?

Em primeiro lugar, Esaú era um descendente de Abraão e o filho circuncidado de Isaque. Nisso ele corresponde aos crentes agora. Ele era em verdade um filho tanto quanto Jacó. Em todos os aspectos, o direito de primogenitura era seu. Ele lhe teria sido dado oportunamente no final, exceto por sua má conduta. Nós, cristãos, estamos, portanto, numa posição semelhante. Como nascidos de novo de Deus, somos presumivelmente herdeiros do reino. Como crentes em Jesus, antes do dia milenar e antes da inclusão de Israel, nós somos os primogênitos. Assim, essa não é uma lição para os descrentes.

Uma conduta profana, como a de Esaú, causará a perda do direito de entrar no reino, que é o direito de primogenitura a nós proposto. Podemos trocar a bênção futura espiritual pelo presente e terreno. Em milhares de casos, essa venda profana tem acontecido, e até o dia presente é negociada das mais variadas formas:

  1. Um ministro crente vê que tais e tais doutrinas e práticas de sua denominação não têm apoio nas Escrituras. Elas ferem muito sua consciência. Mas o que ele fará se desistir de seu posto atual e dos benefícios que tira dele? Que proveito seu direito da primogenitura terá para ele, caso tenha de entregar sua posição atual e seu sustento? Assim argumenta sua incredulidade. E, sob a influência de tal motivo sem valor, ele continua numa posição que acredita ser pecaminosa. Em que tal procedimento difere do de Esaú? Em princípio, nada. Os benefícios mundanos que essa pessoa recebe por manter sua posição de infidelidade são como um prato de lentilhas e representam o preço que recebe pela venda de seu direito de primogenitura. Daí em diante, Deus o prenderá a sua barganha.
  2. Eis um negociante cristão. Ele descobre que algumas de suas práticas comerciais não são cristãs, e sim malignas. Mas como poderá agir de forma diferente de seus vizinhos incrédulos? Se ele deseja fazer fortuna, como é o caso deles, deve agir como eles; caso contrário, será deixado para trás na competição. Ele persevera em tais feitos, até que sua consciência se torna calejada. Que diremos, então? Não é a profana barganha de Esaú que se repete? Se esse homem recebe a realidade da troca ou não, Deus o prenderá à troca feita. Eles receberam suas boas coisas agora e as obtiveram pelo sacrifício dos interesses espirituais. Quando, portanto, vier o tempo da recompensa, sua venda real será lembrada. Foi uma barganha real, embora não tenha sido formal. Ela procede de pensamentos vulgares da prometida glória de Deus. É como o desprezo de Esaú pelo direito da primogenitura, manifestado em suas ações.
  3. Para esses, o dia da recompensa apresentará novamente a cena entre Esaú e seu pai. Esaú, apesar da venda e do juramento, ainda esperava receber plenamente a bênção do primogênito. Finalmente, quando rejeitado, podemos ouvi-lo falar como alguém que tivesse sido roubado naquilo que lhe era devido. Mas o Senhor cuidou para que ele fosse rejeitado. Assim serão tratados todos aqueles cristãos que, como Esaú, se mantém presos a suas trocas profanas das coisas espirituais pelas coisas temporais. No final, quando o reino e a glória de Cristo chegarem, eles despertarão para a percepção e valor da bênção e a desejarão ardentemente. Mas a troca permanecerá. O reino não poderá ser deles.

Observe o mais convincente ponto da representação: é uma transação entre pai e filho. O pai a recusa ao seu filho favorito. A despeito da ternura natural e especial, o choro e as lágrimas são inúteis.

Cuidado, cristão, para não desvalorizar seu direito de primogenitura e não vir finalmente a vendê-lo, embora sendo filho de Deus. Aquele que é imutável em justiça e santidade excluirá você como profano dos mil anos de glória do Messias. Pois, observe bem, Esaú não se retirou da presença do pai com uma maldição. Ele simplesmente perdeu a bênção que comerciou.

(Clique aqui para ver o primeiro artigo desta série.)

Fonte da imagem

Categorias
Citações Fénelon Gotas de orvalho J. C. Ryle Leonard Ravenhill Octavius Winslow Oração Pecado Richard Sibbes Salvação Thomas Brooks

Gotas de orvalho (96)

Cedo de manhã, o orvalho do céu!

Como Mediador de Seu povo, Jesus o guarda em perfeita segurança de dia e de noite. Ninguém, ninguém pode arrancar alguém de Seu povo de Suas mãos; Ele se responsabiliza pela completa salvação deles. Morrer pelos pecados deles e ressuscitar por causa de sua justificação, mas não prover-lhes a segurança enquanto jornadeiam num mundo de pecado e tentação – deixá-los por conta própria como presa desprotegida das corrupções do próprio coração, das maquinações de Satanás e do embaraço do poder do mundo – teria sido apenas uma salvação parcial de Seu povo. Sofrendo a oposição de um triplo inimigo – Satanás e o mundo, aliados a seu próprio coração imperfeitamente renovado e santificado, esse inimigo traidor que mora dentro do acampamento, sempre pronto a desencaminhar a alma diante dos inimigos –, como poderia um pobre e fraco filho de Deus resistir e lutar contra essa poderosa falange? Mas Cristo, que foi poderoso para salvar, também é poderoso para guardar. Nele foram feitas provisões para todas as provações, todas as circunstâncias complicadas e perigosas em que o crente possa se encontrar. A graça é suprida para sujeitar toda corrupção inata; uma armadura é providenciada para cada assalto do inimigo; sabedoria, força, consolação, compaixão, bondade: tudo, tudo de que um pobre pecador crente possivelmente possa precisar está ricamente armazenado em Jesus, o Cabeça da aliança de toda a plenitude de Deus para Seu povo.

(Otávio Winslow)

O arrependimento produzido pelo evangelho não é um ligeiro inclinar de cabeça. É uma obra no coração até que o pecado se torne mais odioso do que qualquer punição a ele.

(Richard Sibbes)

Cristo será responsivo a todos aqueles que Lhe foram dados, no último dia, e portanto não precisamos duvidar de que Ele certamente empregará todos os poderes de Sua divindade para assegurar e salvar todos pelos quais for responsável. A responsabilidade e o cuidado de Cristo pelos que Lhe foram dados se estendem até o dia da ressurreição, pois Ele não os perderá, mas reuni-los-á novamente e leva-los-á para a glória a fim de serem uma prova de Sua fidelidade; pois disse: “Nada perderei, mas ressuscitarei novamente no último dia”.

(Thomas Brooks)

Estou convencido de que o primeiro passo para se alcançar um padrão mais elevado de santidade está em reconhecer plenamente a tremenda pecaminosidade do pecado.

(J. C. Ryle)

Nunca pedi coisa alguma em oração sem um dia, afinal, recebê-la de alguma maneira, de alguma forma.

(Charles Muller)

A solução para este mundo tão insaciável por pecado é uma igreja insaciável por oração. Precisamos explorar novamente as “preciosas e mui grandes promessas” de Deus (2Pe 1.4). Naquele grande dia, o fogo do juízo haverá de provar o tipo, e não a quantidade, da obra que fizemos. Aquilo que nasceu em oração passará pela prova.

(Leonard Ravenhill)

Nosso orgulho sente desgosto por nossas falhas, e muitas vezes confundimos esse desgosto com o verdadeiro arrependimento.

(Fénelon)

Salvar

Categorias
Charles Spurgeon Citações D. L. Moody Encorajamento Gotas de orvalho J. C. Ryle Matthew Henry Pecado Richard Baxter Richard Sibbes Salvação Thomas Brooks

Gotas de orvalho (92)

Cedo de manhã, o orvalho do céu!

Nosso grande problema é o tráfico de verdades não vividas. Tentamos comunicar o que nunca experimentamos em nossa vida.

(Dwight L. Moody)

Eu peço a Deus que todos os cristãos professos destes dias apliquem essas coisas a seu coração. Que nunca esqueçamos que os privilégios sozinhos não podem nos salvar. Luz e conhecimento, pregações fiéis, meios abundantes de graça e a companhia de pessoas santas são grandes bênçãos e vantagens. Felizes aqueles que os têm! Mas, no final de tudo, há uma coisa sem a qual privilégios são inúteis: a graça do Espírito Santo. A esposa de Ló teve muitos privilégios, mas não teve a graça de Deus no coração.

(J. C. Ryle)

Quando percebemos nossa alma definhando, a melhor maneira de fortalecê-la na mesma hora é meditar em algo que a desperte, como, por exemplo, na presença de Deus, ou no fato de que haveremos de prestar contas a Ele, ou no infinito amor de Deus em Cristo e nos frutos provenientes desse amor; ou na grandeza do chamamento cristão; no curto e incerto tempo desta vida e no quão pouco proveito dentro em breve terão todas essas coisas que roubam nosso coração e o que fizermos aqui. Quanto mais dermos lugar a esse tipo de pensamento para que se aprofunde em nosso coração, mais nos aproximaremos do estado de alma que haveremos de gozar no céu.

(Richard Sibbes)

Há mais mal no mínimo pecado do que na maior aflição.

(Thomas Brooks)

Enquanto Roma queimava, Nero tocava música. Assim são alguns pregadores que, enquanto as almas se perdem, ficam falando coisas secundárias.

(Charles H. Spurgeon)

Os que amam as trevas, não a luz, terão sua ruína de acordo com essa preferência.

(Matthew Henry)

Não disponha do seu tempo em nada do que você saiba que terá de se arrepender; em nada pelo que você não possa orar pela benção de Deus; em nada que você não possa avaliar com a consciência tranqüila em seu leito de morte; em nada que você não possa ser segura e devidamente encontrado fazendo se a morte o surpreendesse em seu ato.

(Richard Baxter)

Categorias
A. W. Pink A. W. Tozer Bíblia Citações Evangelho Gotas de orvalho J. C. Ryle Matthew Henry Octavius Winslow Oração Pecado Salvação

Gotas de orvalho (86)

Gotas de orvalho que alimentam a fé!

Acolher a Bíblia de forma meramente teórica, especulativa, gera um travesseiro desconfortável para a hora da morte. E é impressionante e solene refletir como cada assunto, cada tema, cada questão que surge da história, na filologia ou do objetivo da Palavra de Deus, naquele terrível momento dá lugar ao único assunto de fato importante: a sublime salvação nela revelada, por meio da qual a alma pode escapar do inferno e subir ao céu. Quem, nessa hora, deseja ouvir tratados, por mais cultos que sejam, a respeito da literatura, da eloqüência, da poesia ou da sublimidade da Bíblia? Quem, quando a natureza estiver se dissolvendo, a terra sumindo, a eternidade se abrindo, quem estará em condições de ponderar, examinar e verificar as evidências da inspiração das Escrituras? A linguagem ardente, a súplica de alguém nessa situação, cônscio do pecado e do perigo, é esta: “Haverá perdão, haverá salvação, haverá esperança para um pecador como eu? Será que a Palavra de Deus me diz como posso ser salvo? Leia para mim a respeito de Cristo. Fale-me do Salvador. Aponte-me o Cordeiro de Deus. Direcione meus olhos para a cruz, e ajude-me a ver Aquele cujo sangue purifica de todo pecado. Leia, fale, conte-me unicamente sobre Jesus!”.

(Otávio Winslow)

Não há nada mais inadequado do que pronunciar verdades solenes com um espírito brincalhão!

(Samuel Davies)

Existem, portanto, muitos homens e mulheres batizados que praticamente nada sabem sobre Cristo. A fé deles consiste em algumas noções vagas e expressões vazias. “Mas eles crêem, não são piores que outros; eles se mantêm na igreja, tentam fazer suas obrigações; não prejudicam a ninguém; esperam que Deus seja misericordioso para com eles! Eles confiam que o Poderoso perdoará seus pecados e os levará para o céu quando morrerem”. Isso é quase a totalidade de sua fé. Mas o que essas pessoas sabem de fato sobre Cristo? Nada! Nada mesmo! Que relação experiencial eles têm com os ofícios e a obra de Cristo, com Seu sangue, Sua justiça, Sua mediação, Seu sacerdócio, Sua intercessão? Nenhuma! Nenhuma mesmo! Pergunte-lhes sobre a fé salvífica; pergunte-lhes sobre nascer de novo do Espírito; pergunte-lhes sobre ser santificado em Cristo Jesus. Que resposta você terá? Você é um bárbaro para eles. Você lhes perguntou questões bíblicas simples, mas eles não sabem mais sobre elas, experimentalmente, do que um budista ou um muçulmano. E, mesmo assim, essa é a fé de centenas de milhares de pessoas por todo o mundo que são chamadas de cristãs.

(J. C. Ryle)

É terrível pensar que multidões de pessoas que se professam cristãs haverão de acordar no inferno para então descobrir que o conhecimento da verdade divina que possuíam não era mais sólido que um mero sonho!

(A. W. Pink)

Foi a certeza de que o homem terá de prestar contas a seu Criador que fez da América uma grande nação. Entre os antigos líderes encontrava-se Daniel Webster, cujos olhos flamejantes e cuja oratória ardente muitas vezes fascinou o Senado. Naqueles dias, o Congresso era composto de estadistas fortes, nobres, que carregavam no próprio coração e mente o peso da nação. Perguntaram, certa vez: “Sr. Webster, qual foi o pensamento mais sério que já lhe passou pela mente?” “O pensamento mais sério que já entrou em minha mente é minha responsabilidade de prestar contas a meu Criador”, replicou ele. Homens desse calibre não há como corromper nem comprar. Eles não precisam preocupar-se com escutas telefônicas. Aquilo que eram, em caráter e conduta, era resultado da convicção que tinham que no final teriam de prestar contas a Deus.

(A. W. Tozer)

Para alcançarmos o conhecimento proveitoso, a coisa mais necessária é temer a Deus. Não somos capazes de aproveitar as instruções que nos são dadas a não ser que nossa mente esteja possuída de santa reverência por Deus e que cada pensamento nosso seja trazido à obediência Dele. […] Da mesma forma que todo o nosso conhecimento precisa originar-se do temor de Deus, assim também ele precisa conduzir-nos ao temor de Deus como seu aperfeiçoamento e centro. Somente aqueles que sabem como temer a Deus, aqueles que são cuidadosos para em tudo agradá-Lo e que temem ofendê-Lo de qualquer forma, têm conhecimento adequado.

(Matthew Henry)

A idéia corrente sobre a oração parece ser que eu me achego a Deus e Lhe peço alguma coisa que quero, e minha expectativa é que Ele me dê aquilo que pedi. Mas essa é uma concepção que muito desonra e deprecia a oração. Essa crença popular reduz Deus a um servo, nosso servo: fazendo o que ordenamos, executando nossos desejos, concedendo-nos o que desejamos. Não, não! A oração consiste em aproximar-me de Deus, apresentar-lhe minhas necessidades, entregando-Lhe meu caminho e deixando que Ele lide com a situação como Lhe parecer melhor.

(A. W. Pink)

Categorias
Bíblia Consolo Cristo Cruz Encorajamento Estudo bíblico G. E. Fenn Irmãos Pecado Salvação

O homem nos Salmos

O Homem fiel do salmo 1 se torna o Homem desamparado do salmo 22, para que o homem corrompido do salmo 14 possa ser o homem perdoado do salmo 32.

No salmo 1, temos uma descrição de nosso bendito Senhor. Ele é o Homem fiel que sempre seguiu um curso reto, sem se desviar para a direita ou para a esquerda. Do lado negativo, Ele não andou, não se deteve, não se assentou no caminho dos pecadores. Do lado positivo, Ele se deleitou na lei do Senhor, na qual meditava dia e noite.

O Homem fiel do salmo 1 é desamparado no salmo 22, levando sobre Si o castigo que nós merecíamos. Ele foi desamparado para que nós fôssemos recebidos. Ele sofreu para que nós pudéssemos cantar. Ele foi ferido para que nós pudéssemos ser sarados. Ele entrou nas trevas para que nós pudéssemos viver em eterna luz.

O homem corrompido (Sl 14) que encontra o perdão se transforma no homem do salmo 32, que pode declarar do fundo do coração: “Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, cujo pecado é coberto” (v. 1).

Lembremos sempre do elevado custo de nossa redenção, e, como o salmista, exclamemos: “Bem-aventurados todos aqueles que Nele confiam” (Sl 2.12).

Categorias
A. G. Doughty Amor Amor a Deus Cristo Deus Encorajamento Hinos & Poesia Irmãos Salvação

No passado e nas eras distantes

Senhor, no passado e nas eras distantes,
Muito antes daquilo que o homem pudesse ver,
Palavras de criação foram ditas,
Os céus e a terra começavam,
Tu estavas ali em toda a Tua glória –
Bendito Senhor, pomo-nos de joelhos –
Habitando, então, no amor irrestrito:
Com reverência agora nos rendemos a Ti.

Naquele amor nenhum pensamento pode penetrar;
Nem lábios humanos podem definir
Aqueles relacionamentos eternos,
Tão inescrutáveis, divinos!
Mas, no tempo, Tu irias, na humanidade,
Aqui o nome de Deus declarar,
Em uma maravilhosa, bendita relação
Que Tu poderias com outros compartilhar.

Toda a vontade Dele foi cumprida,
Toda a obra que Ele Te entregou foi feita;
Um em pensamento, plano e propósito:
Ele, o Pai, Tu, o Filho.
E na manhã da ressurreição,
Para Ti mesmo declaraste
Que Teu Pai era o Pai deles,
E de Teu amor eles agora poderiam partilhar.

Categorias
Evangelho James Haldane Salvação

O evangelho: o que é?

O evangelho é boas-novas de perdão ao culpado. É incalculável sua abrangência quanto aos diferentes níveis de culpa daqueles a quem ele é dirigido. O evangelho revela um sacrifício suficiente para todos; e a cada pecador da raça humana é ordenado recebê-lo como uma palavra fiel e digna de toda aceitação, a saber: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar até mesmo o pior dos pecadores.

O evangelho não nos ensina como devemos lançar o fundamento; ao contrário, esclarece-nos a respeito do firme fundamento que Deus lançou em Sião sobre o qual todos de igual forma são convidados e ordenados a edificar sua esperança, sem qualquer receio de serem repreendidos pelo gracioso Criador por causa de qualquer conduta do passado. De modo geral o Evangelho é um tanto mal compreendido por aqueles que nele professam crer. Esses o vêem como uma compensação para suas deficiências por meio dos méritos de Cristo, mas esse é outro evangelho. O evangelho de Cristo se destina aos que se acham longe da retidão, aos que são pobres, cegos e nus, os quais não têm dinheiro para comprar a salvação ou qualquer mérito que os recomende ao favor divino. Cristo veio, não para chamar os justos, mas os injustos ao arrependimento. Se não somos pecadores, nada temos a ver com o evangelho. Se somos pecadores, não rejeitamos o conselho de Deus contra nós supondo, em vão, haver em nós qualquer coisa que nos favoreceu diante Dele. Por outro lado, não imaginemos que nossos pecados são tão grandes que não podem ser perdoados. A justiça de Deus é totalmente independente de nossa obediência. O ladrão na cruz foi salvo pela fé em Cristo. Ninguém entrará no céu por qualquer outra maneira.

Tampouco devemos supor que temos ou viremos a ter em nós mesmos algo que nos recomende ao favor de Deus. “Eis agora o tempo sobremodo oportuno, eis agora o dia da salvação” (2Co 6.2). Portanto, cheguemo-nos a Deus com a oração do publicano: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador!” (Lc 18.13). Procuremos por essa misericórdia mediante o sacrifício de Cristo.

Apesar das Escrituras serem claras e objetivas quanto a esse assunto, ele serve de pedra de tropeço e de loucura para muitos daqueles que ouviram o evangelho. Ofende-lhes o orgulho serem colocados no mesmo nível dos “párias” da sociedade. Pensam eles que há alguma diferença a ser feita; mas enganam-se, por não conhecerem as Escrituras e por não compreenderem a malignidade do pecado nem a graça de Deus. Enxergam o fato como uma barganha que Deus se propõe a fazer com Suas criaturas: que, sob certas condições, Deus os aceitará. Todavia, o que existe de fato é a mensagem da reconciliação, dirigida a todos os homens, declarando que já foi feita, na cruz, uma expiação completa pelo pecado e convidando cada pecador da raça adâmica a aproximar-se de Deus com urgência e tê-Lo como amigo e Pai, mediante Cristo.

Quando Moisés levantou a serpente no deserto, esse ato serviu como um remédio, igualmente apropriado a todos os que haviam sido picado. Quer a pessoa acabasse de ter sido picada, quer tivesse o veneno já infectado o sangue, ao olhar para a serpente o enfermo era curado. Em referência a essa simbologia, Cristo dirigiu-se a toda a humanidade, sem discriminação e disse: “Olhai para Mim e sede salvos, vós, todos os termos da terra; porque Eu sou Deus, e não há outro… Deus justo e Salvador não há além de Mim” (Is 45.22,21).

Ao anunciar a promulgação do evangelho, o Senhor declarou pelo profeta: “Os olhos altivos dos homens serão abatidos, e a sua altivez será humilhada; só o Senhor será exaltado naquele dia” (Is 2.11).

Ao mesmo tempo em que o evangelho é uma proclamação do perdão enviado os pecadores, sem qualquer exceção, e um convite ilimitado aos culpados para que se refugiem no sangue do sacrifício, é também o poder de Deus para salvação apenas daqueles que crêem. Porém, é inútil falar em ser justificado pela retidão de Cristo, a menos que o coração seja purificado pela fé.

Podemos dizer que cremos em Cristo e sermos ainda escravos do pecado. Podemos enganar a nós mesmos e afirmar que cremos na justiça de Cristo, enquanto continuamos a viver segundo a carnalidade. Mas todo ramo da videira que não der fruto será lançado no fogo. Nós não podemos enganar a Deus; e se, com a Bíblia em mãos, enganamos a nós mesmos, então, somos indesculpáveis.

Se cremos no evangelho de Cristo, ele operará eficazmente em nosso coração (1Ts 2.13) e nos ensinará que, renegando a impiedade e as paixões mundanas, devemos viver sensata, justa e piedosamente no presente século. Se aquilo em que cremos não produz tal efeito, então, não é sobre a verdadeira graça de Deus que estamos firmados. Toda a doutrina cuja crença não produz esse efeito é falsa; e o iludirmos a nós mesmos com nossos próprios enganos é o conforto que obtemos dessa doutrina. “Os que pertencem a Cristo crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências” (Gl 5.24).

Categorias
Amor a Deus Citações Cristo George Mattheson Hinos & Poesia Humildade Salvação Testemunho

De Saulo para Paulo

Como imaginado por George Mattheson

Senhor, prendeste-me na estrada de Damasco; transformaste a autoconsciência em humildade. Lancei-me à jornada transbordando de confiança em mim mesmo; não teria qualquer obstáculo, não experimentava qualquer dificuldade. De repente, numa volta do caminho minha alma paralisou-se. A confiança feneceu. O mundo não mais se me apresentava campo de prazer. Uma sombra estendeu-se sobre a cena, e eu não podia mais encontrar o caminho. Tudo aconteceu por causa de um encontro com um homem – um homem de Nazaré. Antes de encontrá-Lo, meu orgulho pessoal era incomensurável. Meu coração clamava “Escreverei meu próprio destino!” Mas um simples olhar ao Homem de Nazaré me prostrou. Minha glória imaginária transformou-se em cinzas; minha pretensa força tornou-se fraqueza; bati em meu peito e gritei: “Imundo!” Devo queixar-me por ter encontrado aquele Homem? Devo chorar porque um raio de luz numa esquina lançou toda a minha grandeza na sombra? Não, Pai, pois a sombra é o reflexo do resplendor. Foi por ter visto Tua beleza que a humanidade se ofuscou. Foi o crescimento que me tornou humilde. Contemplei por um momento um ideal perfeito, e seu brilho eclipsou minha lâmpada. Não é a noite, mas o dia que me torna cego quanto àquilo que possuo. É a luz que me faz odiar a mim mesmo. É o sol que revela minha imundície. É a aurora que me fala de minhas trevas. É a manhã que descobre minhas vestes insignificantes. É o brilho que mancha meus trajes. É a claridade que enumera minhas nuvens.

Ó Deus, meu Deus, só perco meu caminho quando iluminado por Ti!

Categorias
A. W. Pink Evangelho Pecado Salvação Santidade

Regeneração – o novo nascimento

Há duas coisas que são absolutamente essenciais para poder receber a salvação: a libertação da culpa e do castigo do pecado e a libertação do poder e da presença do pecado. Um se efetua na obra de reconciliação de Cristo, e o outro se realiza nas operações efetuadas do Espírito Santo. Um é o bendito resultado do que o Senhor Jesus fez para o povo de Deus, e o outro é a conseqüência gloriosa do que o Espírito Santo fez no povo de Deus. Um ocorre quando, depois de haver nascido como mendigo destituído, a fé toma posse de Cristo e, então, Deus o justifica de todas as coisas, e o pecador crente, receoso e penitente, recebe o perdão completo e gratuito. O outro sucede paulatinamente em diferentes etapas sob a divina bênção da regeneração, da santificação e da glorificação. Na regeneração, o pecado recebe sua ferida mortal ainda que não morra totalmente. Na santificação, mostra-se na alma regenerada a cova de corrupção que mora dentro dele e que lhe ensina a desprezar e odiar a si mesmo. Na glorificação, a alma e o corpo são libertados para sempre de todo vestígio e efeito do pecado.

A regeneração é absolutamente necessária para que uma alma entre no céu. Para poder amar as coisas espirituais, um homem tem de ser transformado espiritualmente. “E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem” (2Ts 2.10). O homem natural pode ouvir estas coisas, porém não pode amá-las nem achar alegria nelas. Ninguém pode morar com Deus e estar feliz para sempre em Sua presença até que se tenha feito uma mudança radical nessa pessoa para realizar uma transformação do pecado à santidade; e essa mudança tem de se realizar aqui mesmo na terra.

Como alguém pode entrar no mundo de santidade inefável depois de haver passado toda sua vida em pecado (agradando-se dele)? Como poderá cantar o cântico do Cordeiro (Ap 15.3) se o coração não está sintonizado nele? Como poderá contemplar a grande majestade de Deus face a face se nem sequer houvera visto “pelo espelho na escuridão” com os olhos da fé? Tal como dóem os olhos de alguém quando sai a luz do sol do meio-dia depois de estar na escuridão, assim também será quando os inconversos contemplarem Aquele que é a luz. Em vez de querer tal visão, “todo o olho o verá, até os mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele” (1.7). Sim, tão aterradora será sua angústia que clamarão aos montes e as rochas: “Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto Daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro” (6.16). Meu querido leitor, essa será sua experiência a menos que Deus regenere você.

O que ocorre na regeneração é o contrário do que ocorreu na queda. A pessoa que nasce de novo é restaurada a uma união e comunhão com Deus por meio de Cristo e a operação do Espírito Santo: o que estava morto espiritualmente antes agora está vivo espiritualmente (Jo 5.24). Tal como a morte espiritual veio pela entrada de um princípio mau no ser do homem, da mesma maneira se introduz um princípio bom na vida espiritual. Deus lhe comunica um princípio novo, tão real e tão potente como é o pecado. Agora lhe é dada a graça divina, e uma disposição santa se desenvolve em sua alma. Dá-se lhe um espírito diferente ao homem interior. Porém não se criam novas faculdades dentro dele, mas, melhor que isso, se enriquecem suas faculdades originais, e essas adquirem nobreza e poder.

Uma pessoa regenerada é uma nova criatura (2Co 5.17). Meu caro leitor, isso se aplica a sua vida? Que cada um de nós se examine na presença de Deus a respeito destas perguntas! Como está meu coração a respeito do pecado? Existe uma humilhação profunda e uma tristeza segundo Deus, agora que me consagrei? Existe de modo genuíno ódio contra o pecado? Tenho uma consciência imatura para que me perturbem essas coisas que o mundo denomina “pequenas”? Sinto-me humilde quando estou consciente do surgimento do orgulho e da minha vontade própria? Aborreço as minhas corrupções internas? Estão os meus desejos mortos para o mundo e vivos para Deus? Em que medito em meu tempo livre? Parecem-me os exercícios espirituais tempos de alegria e prazer ou incômodos como uma pesada carga? Posso dizer: “Quão doces são ao meu paladar as Tuas palavras! Mais do que o mel na minha boca (Sl 119.103)”? É a comunhão com Deus meu maior gozo? É a glória de Deus mais preciosa para mim do que tudo o que o mundo me oferece?

Categorias
Cristo Deus Encorajamento Escatologia Espírito Santo Estudo bíblico Irmãos Pecado Profecias Robert Govett Salvação Segunda vinda Trindade divina

Exposição da Epístola aos Hebreus

Algumas partes das vestes do sumo sacerdote descritas por Moisés eram meros “memoriais”, ou lembretes das maiores e eternas coisas por vir. As doze pedras preciosas do peitoral do sumo sacerdote eram meramente “pedras de memória”. Elas testificavam sobre os fundamentos de doze pedras preciosas (Ap 21.19,20) da cidade eterna na qual os santos ressurretos de Deus habitarão (Êx 28.12,29; 39.7). O testemunho de Moisés sobre Melquisedeque, o sacerdote-rei, é a base do argumento sobre a intenção de Deus de deixar de lado o sacerdócio de Arão. E, por fim, o argumento sobre o descanso futuro do sétimo dia do Altíssimo se volta para o testemunho de Moisés em relação à obra da criação e à observância do descanso do sétimo dia sob a lei. O testemunho de Moisés, como afirma o Espírito de Deus, é incontestável – e os judeus estavam prontos para confessar isso. Nesta base, então, o apóstolo1 enquadraria seu argumento aos hebreus. Como poderiam eles se recusar a ouvir Moisés, sua testemunha confiável, quando ele testificou de um Mestre, Líder e Sumo Sacerdote maior?

Na afirmação “Cristo, como Filho, sobre a Sua própria casa” (Hb 3.6) não se destaca Sua fidelidade a um superior, e esse é o ponto agora diante de nós. “Tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus” (10.21; 1Pd 2.5; 4.17). De Moisés fora dito: “Fiel em toda a Minha casa”. Mas Cristo está sobre ela (10.21). Jesus estava aqui tipificado por José, tanto em sua humilhação como em sua exaltação. “José achou graça em seus olhos [de Potifar], e servia-o; e ele o pôs sobre a sua casa, e entregou na sua mão tudo o que tinha” (Gn 39.4). Deus “me tem posto [diz José novamente] por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa e como regente em toda a terra do Egito” (45.8). Faraó, diz Estêvão, “o constituiu governador sobre o Egito e toda a sua casa” (At 7.10).

 

“Cuja casa somos nós.”

Aqui, o sentido de “casa” é estreitado para significar “família”. Deus não está agora habitando “em templos feitos por mãos de homens” (17.24), pois qual edifício na terra poderia o homem construir que servisse à grandeza Daquele que enche o céu e a terra? Mas, enquanto isso, Deus olha para os redimidos de Cristo e habita neles, e a Igreja é a “morada de Deus em Espírito” (Ef 2.22), uma casa de pedras vivas (1Pe 2.5). É a nova criação espiritual, na qual o Altíssimo tem prazer. Os que crêem constituem o povo e a casa de Deus, sobre os quais Cristo preside. Mas é sob esta condição que habitam Nele: se retiverem firmemente o que já possuíam como crentes (e Paulo inclui a si mesmo, pois usa o pronome nós; Hb 3.14).

Eles deviam conservar “firmes a confiança e a glória da esperança até ao fim”. Qual é a esperança em questão? É aquela ligada ao chamamento celestial: a vinda de Cristo para reinar em Sua glória, e a associação de Sua fiel irmandade a Ele naquele dia. O esplendor dessa esperança foi ofuscada na mente deles devido à longa demora e pela pressão da perseguição. Esqueceram que “se sofrermos [com Cristo], também com Ele reinaremos” (2Tm 2.12). A vida de Cristo é o modelo a que os cristãos devem se moldar: primeiro sofrer; então, entrar na glória.

Que essa é a esperança é estabelecido por muitas provas. Esse é o propósito dos prévios dois capítulos de Hebreus, que apresentam Cristo como um segundo período a ser trazido à terra habitável. É o reino de justiça que alguém deve, como Seu seguidor, desfrutar com Cristo, no dia em que a perversidade dos inimigos de Cristo for abatida com mão forte e as obras de Deus forem postas em sujeição ao homem; é a grande salvação, o descanso de Deus, a primeira ressurreição (Hb 2.3; 4.1,3,10; Ap 20.5,6). É a vinda do reino milenar de Deus, de que Cristo tão frequentemente testificou. Porém nossa esperança é somente uma (Ef 4.4): sermos apreciados por patriarcas e profetas, e pelos aceitos por Deus mediante a Lei, assim como por aqueles julgados dignos mediante o Evangelho. É a esperança originada na liderança do Senhor. O desfrute da boa terra era a esperança ligada à missão de Moisés; a nossa é a glória de mil anos. Em Cristo “os gentios esperarão. Ora, o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pelo poder do Espírito Santo” (Rm 15.12,13). “A graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador, Jesus Cristo” (Tt 2.11-13).

Aumentar a fé dos cristãos no retorno de nosso Senhor e encorajar sua esperança do reino são os principais objetos desta epístola.

Vislumbres daquele dia foram dadas por Moisés nos descansos ligadas aos setes da Lei. Vemos isso também anunciado na promessa de Moisés ao subir a montanha; e após o banquete dos setenta anciãos na presença de Deus, quando ele os manda ficar onde estavam, pois retornaria para eles (Êx 24.14). Aumentar a fé dos cristãos no retorno de nosso Senhor e encorajar sua esperança do reino são os principais objetos desta epístola.

Quando no início creram, eles retiveram com alegre confiança interior a expectativa do breve retorno e reino de Cristo; e todo coração transbordava para os outros com exultação da glória a ser manifesta, e sua própria participação nela. “Venha, junte-se ao povo do Senhor! Ele virá brevemente para nos fazer Seus companheiros na glória!” Mas, com a demora de ano após ano, a confiança interior decaiu e o testemunho exterior, em conseqüência, enfraqueceu (Pv 13.12).

Em quarenta dias, a expectativa do reaparecimento de Moisés se foi, e, com sua extinção, despontou a idolatria; enquanto Arão, que deixara o alto posto que lhe fora dado e descera para a planície, tornou-se o culpado fabricante de um ídolo e seu sumo sacerdote.

O Espírito de Deus, então, nos ordena a nos mantermos firmes interiormente e a, exteriormente, testificar com ousadia aos demais acerca do retorno e do reino de nosso Senhor Jesus Cristo. Devemos ter firmeza até o fim – não até a nossa morte, mas até Seu reaparecimento. O enfraquecimento e o abalo dessa esperança produziram, quanto a seus efeitos, o endurecimento, a esterilidade e a desobediência dos cristãos hebreus, dos quais Paulo reclama.

“Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a Sua voz, não endureçais o vosso coração, como na provocação, no dia da tentação no deserto, onde vossos pais me tentaram, me provaram e viram por quarenta anos as minhas obras” (Hb 3.7-9).

O argumento que segue a 4.12 é uma exortação aos crentes buscarem o descanso milenar e a se guardarem de provocar Deus, como fez Israel, pois o mesmo Deus que excluiu Israel da terra da promessa excluirá os ofensores no dia da recompensa, quando Cristo tomar o reino. Paulo aplica a esse propósito as advertências de Salmos 95. Assim, essa passagem corre paralelamente com as advertências do Sermão do Monte, que foi também endereçado aos crentes, e com outras passagens que tratam da entrada no reino da glória. Muitas são as passagens que tratam da recompensa vindoura, que testificam da necessidade de diligência a fim de obtê-la e da probabilidade de ser perdida.

O apóstolo caracteriza a passagem que está prestes a dar como decisiva, pois é inspirada pelo Espírito Santo, o qual fala em Salmos e em toda a Santa Escritura. Então, nosso Senhor ensina: “O próprio Davi disse pelo Espírito Santo” (Mc 12.36). “A Escritura não pode ser anulada” (Jo 10.35).

A presente dispensação é descrita como hoje. É um período especial, (1) do chamado de Deus para a obediência a Cristo e (2) do julgamento de Seu povo a caminho da glória. Com a fé no sangue de Cristo, como o Cordeiro da verdadeira Páscoa, começa nosso resgate de Satanás, do mundo e da maldição. Então, vem a passagem pelas águas do batismo, após as quais o deserto tem início. Mas multidões de crentes preferem continuar no Egito, a despeito da ordem de avançar.

 

“Se ouvirdes […] a Sua voz”

Jesus é nosso Moisés, o Líder para a glória. “E o lugar do Seu repouso será glória” (Is 11.10, lit.). “Por que Me chamais ‘Senhor, Senhor’, e não fazeis o que Eu digo?” (Lc 6.46). “Este é o Meu amado Filho […] escutai-O” (Mt 17.5). A obediência ao Filho é obediência também ao Pai. Essa foi a palavra que veio de Deus, quando o quadro em miniatura do reino da glória foi dado [no monte da transfiguração]. “Nem todo o que Me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos céus” (7.21). Hoje é o convite e o dia do julgamento; amanhã, a glória.

Não obstante, no deserto Israel desobedeceu às ordens de provas de Deus. Jeová disse aos israelitas: “Eis que tenho posto esta terra diante de vós; entrai e possui-a” (Dt 1.8). Moisés reitera a palavra: “Eis aqui o Senhor, teu Deus, tem posto esta terra diante de ti; sobe, toma posse dela” (v. 21). Eles se recusaram, afirmando que não poderiam entrar por causa dos perigos.

 

“Não endureçais o vosso coração”

O obediente escuta, pois é a Palavra de Deus. Porém aqueles que são rebeldes desprezam as promessas, contestam as ameaças, não obedecerão às ordens. Eles se fortalecem em sua resistência ao Altíssimo. Quantos crentes vêem o batismo, no entanto, com vários pretextos desprezam a ordem e se recusam a confissão de Cristo que ele carrega consigo!

Quem, a não ser os crentes professos, desobedecem a Cristo?

 

“Como na provocação, durante o dia da tentação no deserto”

Logo após deixar o Mar Vermelho, e antes de chegar ao Sinai, Israel começou a provocar Deus pela murmuração por causa da necessidade de comida no deserto. Em Refidim, os israelitas murmuraram novamente. Estavam quase prontos a apedrejar Moisés, pois pensavam que a culpa fosse dele. O Senhor ajuda em ambos os casos, mas o lugar é chamado “Tentação” e “Luta” (Êx 17). Outra vez há um clamor por água, em Cades, e o lugar também é chamado de “Luta” (Nm 20). Moisés é conduzido a fazer menção disso, mesmo em sua palavra de bênção diante da morte: “E de Levi disse: Teu Tumim e teu Urim são para o teu amado, que tu provaste [tentaste] em Massá, com quem contendeste junto às águas de Meribá” (Dt 33.8).

Contudo parece, na passagem de que estamos tratando, que o Senhor considerou todo o tempo da jornada no deserto como um tempo de provocação e tentação. A maior crise ocorreu como registrada em Números 13 e 142, que analisaremos agora.

 

“Eles viram as Minhas obras por quarenta anos”

As obras da criação de Deus já haviam há muito sido completadas, e Seu repouso ali foi quebrado. Na criação, os anjos romperam em louvores e cantando hinos de alegria. Mas agora Deus trabalhava no interesse de novas obras de redenção para os israelitas: eles eram livres, eram povo de Deus. Ele os sustentou por quarenta anos, ainda que murmurassem contra Ele. Sua punição, então, seria que, quando o descanso de Deus chegasse, assim como com Seu antigo descanso na criação, eles não teriam parte nele.

Por quarenta anos o Senhor fora provocado; apesar de Suas obras maravilhosas a favor do povo, este não confiou e desobedeceu. Deus realizou as maravilhas da criação por apenas seis dias. Seus sinais redentores foram feitos por quarenta anos: sinais de poder contra os inimigos dos israelitas; sinais de favor para os israelitas, misturados com juízos contra os desobedientes que havia entre eles. As maravilhas da redenção são relatadas muito mais amplamente do que as da criação, pois elas diziam respeito a nós mais de perto, e são consideradas por nosso Deus como mais importantes e de maior glória para Ele. Mas Israel não percebeu seu significado; ele não se sujeitou ao Grande Governador.

O obediente escuta, pois é a Palavra de Deus.

Então, finalmente temos o efeito dessa contínua provocação ao Altíssimo. Ele foi ofendido. O mau comportamento de Seu próprio povo O tocou mais intimamente do que o dos egípcios. Ele descobre a fonte das provocações dos ofensores: “Estes sempre erram em seu coração” (Hb 3.10). Pois o coração por natureza é “inimigo de Deus” (Rm 8).

 

Eles não conheceram os caminhos de Deus

Os “caminhos” de uma pessoa significam sua conduta como consequência de seu caráter. Suponhamos que haja alguém que foi muito gentil para com um pobre homem em sua doença. Desse ato afirmo sua disposição permanente. Diria que é de um caráter benevolente. Então, de observarmos os efeitos afirmamos a natureza das coisas. […] Assim, os israelitas deveriam ter aprendido sobre o caráter de Jeová, sobre Seus atos com respeito a eles. Eles deveriam tê-Lo amado por Sua bondade e O temido por Sua impressionante justiça.

Eles não viram Sua razão nas várias provas acontecidas pelo caminho. Pensaram que, se Deus os guiasse, não haveria problemas. Porém, essa não era a mente divina. Ele condescendeu explicar-lhes Suas razões nessas provações. “E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os Seus mandamentos ou não” (Dt 8.2). Eles prometeram obediência perfeita; porém eram ignorantes a respeito de seu orgulho, de sua perversidade e de sua inimizade conta Deus, e o Altíssimo exibiria o mal do coração deles, o mal em suas palavras e ações. “Sabes, pois, no teu coração que, como um homem castiga a seu filho, assim te castiga o Senhor, teu Deus” (v. 5). Moisés, no fim, assume o mesmo procedimento. “Tendes visto tudo quanto o Senhor fez perante vossos olhos, na terra do Egito, a Faraó, e a todos os seus servos e a toda sua terra; as grandes provas que os teus olhos têm visto, aqueles sinais e grandes maravilhas; porém não vos tem dado o Senhor um coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de hoje” (Dt 29.2-4).

 

“Assim, jurei na Minha ira que não entrarão no Meu repouso”

Eis aqui – aquilo em que muitos não acreditarão – a ira de Deus contra Seu povo por causa da contínua desobediência. Não pode nem mesmo um pai estar de modo justo zangado com a desobediência e a provocação de um filho? Por fim, ocorreu Seu juramento de exclusão.

Olhemos um pouco mais de perto para a crise que suscitou esse juramento.

O povo propôs enviar doze espias para ver a terra antes de entrar nela. A proposta emergiu em parte da descrença; mas Moisés e o Senhor a sancionaram. Os espias retornaram após quarenta dias, trazendo testemunho da fertilidade da terra, e também exemplares de uvas, romãs e figos encontrados nela. “Vamos possuir a boa terra”, disse Calebe. Então, os espias sem fé se opuseram a ele. Tão gigantescos eram os habitantes, tão fortificadas e grandes eram as cidades que eles não poderiam possuí-la. Todo o povo tomou o partido da descrença. Pesaram seus próprios poderes contra os obstáculos a serem superados, e deixaram o poder de seu Deus. Cada um encorajou o outro a não crer, até imaginaram e disseram que Jeová somente os havia guiado pelo deserto com o propósito de entregá-los à espada dos cananeus! Calebe e Josué foram encorajá-los. “A terra é boa! Se nosso Deus for conosco, os cananeus não poderão se opôr a nós. Não se rebelem contra o Senhor!” “Mas toda a congregação disse que os apedrejassem; porém a glória do Senhor apareceu na tenda da congregação a todos os filhos de Israel. E disse o Senhor a Moisés: Até quando Me provocará este povo? E até quando não crerá em Mim, apesar de todos os sinais que fiz no meio dele?” (Nm 16.10,11). Moisés intercedeu, ou toda a congregação seria destruída. Em resposta, “disse o Senhor: Conforme à tua palavra lhe perdoei. Porém, tão certamente como Eu vivo e como a glória do Senhor encherá toda a terra,3 e que todos os homens que viram a Minha glória e os Meus sinais, que fiz no Egito e no deserto, e Me tentaram estas dez vezes e não obedeceram à Minha voz, não verão a terra de que a seus pais jurei, e nenhum daqueles que Me provocaram a verá” (vv. 20-23).

Agora segue uma íntima aplicação dessa história para os crentes hoje.

“Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel [de incredulidade], para se apartar do Deus vivo” (Hb 3.12).

Três vezes a expressão “qualquer de vós”4 é trazida para alertar os crentes hebreus daquele tempo. “Para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (v. 13). “Pareça que algum de vós fica para trás” (4.1). O Espírito Santo previu que a objeção seria feita: “Apliquem todo tipo de advertência aos professos: eles não são dos nossos! Como podem os crentes ser acusados de incredulidade no coração?” Mas como poderiam crentes apartarem-se, no coração, do Deus vivo? Vejamos um exemplo. “Por que o Senhor nos traz a esta terra, para cairmos à espada e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos ao Egito? E diziam uns aos outros: Constituamos um líder e voltemos ao Egito” (Nm 14.3,4). Era o voltar atrás do coração, não realizado em ato porque Deus chegou para impedir.

Ao ouvir isso, deveríamos supor que uma negativa deve ter, por algum acidente, caído do texto, e que deveríamos ler: “Vede, irmãos, que não há em qualquer de vós um coração mau e infiel”. “Nenhum de vós se endureceu pelo engano do pecado”. Mas não: é endereçado aos descrentes entre os crentes! Em qual coração não há um pouco desse velho fermento? Os israelitas deixaram o Egito por fé na mensagem de Deus dada por Moisés, mas a alma deles recuou quando foram colocados face a face com os obstáculos na terra. “Então eu vos disse: Não vos espanteis nem os temais. O Senhor, vosso Deus, que vai adiante de vós, Ele pelejará por vós, conforme a tudo o que fez convosco, diante de vossos olhos […] Mas nem por isso crestes no Senhor, vosso Deus“ (Dt 1.29,30,32).

“Mas por que comparar um povo que anda segundo a carne com o agora povo regenerado de Deus?”

Porque assim Deus faz aqui! Porque, mesmo no regenerado, estão os remanescentes do velho Adão.

“Mas a igreja de Cristo não está debaixo da lei, mas debaixo da graça, e nenhum perigo pode ameaçá-la.”

Se é assim, esta epístola é um erro, pois é baseada no princípio oposto: que, embora os crentes estejam agora salvos pela graça, eles, no aspecto do galardão, devem, como o antigo povo de Deus, ser tratados “de acordo com as obras”. A Epístola aos Hebreus é de Deus?

 

“Um coração mau e infiel [de incredulidade], para se apartar do Deus vivo”

O “Deus vivo” desta passagem é o Senhor Jesus. Foi declarado que Ele é o Criador e o Sustentador de tudo. [No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.1-3).] “Eis que Deus é grande, e nós não O compreendemos, e o número dos Seus anos não se pode esquadrinhar” (Jó 36.26). Pedro assim confessou Cristo: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16). E o Filho é da mesma natureza de Seu Pai. Assim Jesus, em ressurreição, descreve a Si mesmo: “Eu sou o primeiro e o último, e o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno” (Ap 1.17,18). Ele é o Senhor da vida; provou assim ser na ressurreição; [Aquele que irá] introduzir outros no reino pela primeira ressurreição, por meio de Seus méritos (5.9,10). O Novo Testamento nos diz também que os israelitas no deserto tentaram a Cristo (1Co 10.9).

“Não seria melhor voltarmos ao Egito? E diziam uns aos outros: Constituamos um líder e voltemos ao Egito” (Nm 14.3,4). Esse foi o afastamento de coração entre eles e Jeová. E um risco semelhante estava assaltando os cristãos hebreus. Eles foram tentados a retornar a Moisés e à Lei, deixando Jesus, o Senhor, por causa da perseguição e dos perigos do caminho para Seu reino milenar.

A fé amolece o coração; a incredulidade o endurece.

“Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (Hb 3.13).

O remédio a ser oposto a esse perigo é uma constante exortação de uns aos outros. Quanto quer que dure o perigo da queda, esse é o período que Deus chama de Hoje. “Hoje não endureçais vosso coração”. Estamos em constante perigo; apliquemos constantemente essa arma da exortação. Vigiemos para não deixar de confiar em Deus e para não retrocedermos com medo dos inimigos a serem encontrados, assim perdendo o dia de especial glória para o qual fomos chamados. Busquemos o prêmio de nosso chamado. Busquemos “em primeiro lugar o reino de Deus e sua [ordenada] justiça” como o meio para isso (Mt 6.33).

Aquele que ouve a Palavra de Deus não deve endurecer o coração. A fé amolece o coração; a incredulidade o endurece. A fé nos faz tremer de Sua Palavra; a incredulidade faz pouco das promessas e dos avisos do Senhor. “Desprezaram a terra aprazível; não creram na Sua palavra” (Sl 106.24). Quando os israelitas foram mandados a subir, eles não foram, apesar de Deus estar com eles. Quando foram proibidos, eles subiram, ainda que Deus estivesse contra eles. Tudo vai bem conosco quando reverenciamos a autoridade de Deus manifestada em Sua Palavra. Mas permanecer em oposição a toda ordenação Dele é perigoso. O pecado se espalha pela alma como um câncer. Nós podemos nos fazer de surdos às ameaças de Deus, mas, por fim, elas se provarão verdadeiras. Podemos nos encorajar ou consolar com o número daqueles que, como nós, desobedecem; mas a multidão dos desobedientes em Israel era teve desculpa. Seiscentos mil homens, e um igual número de mulheres, pereceram: foram apenas dois que entraram.

Essa palavra de advertência é também como um espelho para nós na história apresentada. Calebe acalma os murmúrios dos israelitas diante de Moisés, e exorta-os a subirem de uma vez e possuírem a terra. Mais tarde, Calebe e Josué exortam o povo a obedecer; mas a multidão furiosamente resiste ao apelo e clama que os dois fiéis sejam apedrejados. Então, toda esperança de restauração do povo se vai, quando a exortação é rejeitada e o coração está endurecido a ponto de procurar a morte dos servos fiéis. O pacto de Deus, assim, vai adiante contra os descrentes e rebeldes, e, enquanto eles tentam, presunçosamente, subir, são abatidos diante do inimigo, pois o Senhor não estava com eles. Quantos estão agora endurecendo-se contra o batismo, “o Reino Pessoal”, e a recompensa segundo as obras!

Notas

1O autor acredita que Paulo, chamado de “o apóstolo”, é o autor de Hebreus. Essa é a opinião mais comum entre os cristãos, mas não é unânime. (N. do R.)

2É notável que a referência aos capítulos 13 e 14 ocorra logo após a referência, em Hb 2.2, a Moisés como o “servo fiel” em Nm 12. (N. do E.)

3Eis aqui uma pista de “Meu descanso”. Eis aqui uma intimação do dia milenar, quando toda a terra será cheia da glória de Deus e o “Filho do homem” será seu centro (Sl 8). (N. do E.)

4Nos três versículos citados, as mesmas palavras gregas são usadas, apesar da diferente tradução em cada um deles. (N. do R.)

Categorias
Amor Bíblia Citações Comunhão Cristo Cruz Encorajamento G. Campbell Morgan Gotas de orvalho Oração Repreensão Robert Chapman Salvação Segunda vinda Sofrimento T. Austin-Sparks vontade de Deus Watchman Nee

Gotas de orvalho (53)

Cedo de manhã, o orvalho do céu!

A cruz de Cristo é o lugar de exposição. Ali, como em nenhum outro lugar, é revelado o ódio do homem por Deus e o amor de Deus pelo homem. Na cruz, o pecado é visto em sua pior maneira e o amor é visto em seu mais alto grau. O pecado do homem e o amor de Deus alcançam o auge no Calvário. Ali, a hediondez de um e a glória do outro são ressaltados com o mais aguçado relevo. A cruz de Cristo é o coração de Deus quebrado pelo pecado. Ela nos fala que Deus, que tem de julgar e punir o pecado, salvará e perdoará o pecador. Ela descobre para nós as insondáveis profundezas do amor de Deus.

(Ruth Paxson)

Há mistérios de graça e de amor em cada página da Bíblia. E próspera é a alma que vê no Livro de Deus uma preciosidade cada vez maior.

(Robert Chapman)

O Espírito Santo toma a Palavra de Deus e, em cooperação com nossa vontade, faz dela um espelho, no qual Ele nos revela a nós mesmos. E ali Ele nos mostra o contraste entre o que nós somos e o que nós devemos ser, e, conforme Ele lança luz em todos os esconderijos de nossa vida, expondo diante de nós o Senhor Jesus em toda a transparência e na pureza de Seu caráter, o que essa luz fará? Ela nos leva à confissão, na medida em que vemos a nós mesmos na luz de Cristo. A confissão nos leva ao sangue e nos traz para perto de Deus, em uma comunhão mais profunda e mais estreita. A única coisa a que você e eu temos direito neste mundo é o sangue de Cristo. E, graças a Deus, temos direito a ele a todo momento, todos os dias, e nós precisamos dele!

(Gordon Watt)

Oh! Quão esplêndida é a glória futura! Quão perfeita é a salvação que Deus preparou para nós! Levantemo-nos e elevemo-nos. Que o céu assim nos encha para que a carne não encontre mais base nem o mundo exerça nenhuma atração! Que o amor do Pai esteja assim em nós a fim de não mantermos mais nenhuma comunicação com Seu inimigo! Que o Senhor Jesus satisfaça nosso coração a fim de não desejarmos mais ninguém! E que o Espírito Santo gere em cada crente a oração: “Vem, Senhor Jesus!”

(Watchman Nee)

Não é triste que Deus nos dê Seu melhor – Seu Filho unigênito – e a Igreja manifeste mais interesse no acontecimento de Sua vinda do que na Pessoa que está lá? Deus deu Seu Filho na manjedoura, e a Igreja está ocupada com o Natal. Deus deu Seu Filho de volta em ressurreição triunfal, e a Igreja tem apenas uma Páscoa. Deus prometeu que Seu Filho vai voltar à terra, e muitos estão simplesmente buscando outro acontecimento. Você está esperando que Cristo volte ou está esperando a volta de Cristo?

(Will H. Houghton)

A primeira e única lei vital que liberta o homem de todas as forças que arruínam e destroem é a vontade de Deus. Mostre-me um homem que vive por um dia total e completamente, em palavras, pensamentos e atos, na vontade de Deus, e eu lhe mostrarei um homem que está antecipando o céu e que naquele dia alcança o plano de vida que é, ao mesmo tempo, o mais amplo, o mais livre e o mais feliz.

(G. Campbell Morgan)

É da maior importância que os filhos do Senhor reconheçam plenamente que Seu objetivo é, acima de tudo o mais, que eles O conheçam. Essa é a finalidade que governa todos os Seus tratamentos para conosco. Essa é a maior de todas as nossas necessidades.

(T. Austin-Sparks)

Não, o cristão não luta visando a uma possível vitória. Ele é mais que vencedor porque a sua vida flui da triunfante morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo.

(F. J. Huegel)

Sair da versão mobile