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Receba o castigo de Deus

Não tema!

“Filho meu, não menosprezes a correção do Senhor, e não desmaies quando por Ele fores repreendido” (Hb 12.5).

Nem todo castigo traz benefício àquele que o sofre. Algumas pessoas são endurecidas pelo castigo; já outras são esmagadas por ele. Depende muito do espírito com que as aflições são recebidas. Não há mérito nas provações e tribulações em si mesmas; é somente por serem abençoadas por Deus que o cristão tira proveito delas. Conforme nos diz Hebreus 12.11, apenas aqueles que são “exercitados” pela vara de Deus produzem “fruto pacífico de justiça”. Uma consciência sensível e um coração tenro são os acessórios necessários.

Em nosso texto, o cristão é advertido contra dois perigos inteiramente diferentes: não desprezar e não desmaiar. Esses são dois extremos contra os quais é sempre necessário manter estrita vigilância. Assim como qualquer verdade da Escritura tem seu equivalente de equilíbrio, assim todo mal tem seu oposto. Por um lado, há o espírito arrogante que ri da vara, uma vontade teimosa que se recusa a humilhar-se debaixo da vara. Por outro, há um abatimento que, sob a vara, se afunda completamente e dá lugar ao desespero. Spurgeon disse: “O caminho da justiça é uma passagem difícil entre duas montanhas do erro, e o grande segredo da vida cristã é serpear seu caminho ao longo desse vale estreito”.

I. Menosprezar a vara

Há diversas maneiras pelas quais os cristãos podem “menosprezar” os castigos de Deus. Citaremos quatro delas:

  1. Pela insensibilidade. Agir de forma estoica é o plano de ação a partir do entendimento carnal: “Faça do limão uma limonada”. O homem deste mundo não conhece plano melhor do que cerrar os dentes e encarar as dificuldades. Como não tem nenhum Consolador, nenhum Conselheiro, nem Médico Divino, ele precisa valer-se dos próprios pobres recursos. É muito triste ver um filho de Deus portando-se como os filhos do diabo. Pois, quando o cristão resiste abertamente às adversidades, ele “despreza” o castigo. Em vez de se endurecer, agüentando estoicamente a situação, ele deveria quebrantar o coração.
  2. Pela reclamação. Foi isso que os hebreus fizeram no deserto; e ainda há muitos murmuradores nos campos de Israel. Uma pequena enfermidade, e ficamos tão mal-humorados que nossos amigos ficam com medo de chegar perto. Alguns poucos dias na cama, e nos irritamos e nos enfurecemos como um touro desabituado à canga. De forma impertinente, perguntamos: “Por que essa aflição? O que é que eu fiz para merecê-la?” Olhamos a nossa volta, invejosos e descontentes porque o fardo dos outros é mais leve. Tome cuidado, leitor: murmurar custa caro. Deus sempre castiga outra vez se não nos humilharmos na primeira. Lembre-se de quanto refugo existe ainda no meio do ouro. Contemple as depravações de seu coração, e maravilhe-se de que Deus não o tenha castigado duas vezes mais severamente. “Filho meu, não menosprezes a correção do Senhor”.
  3. Pelas críticas. Quantas vezes colocamos em dúvida a utilidade do castigo. Como cristãos, parece que não temos bom senso espiritual em quantidade maior do que a sabedoria natural que tínhamos quando crianças. Como meninos, pensávamos que a vara era a última coisa necessária em casa. Assim acontece também com os filhos de Deus. Quando as coisas acontecem como gostamos, quando recebemos alguma bênção material inesperada, não temos dificuldade nenhuma em atribuir tudo à bondosa Providência. Mas, quando nossos planos são frustrados, quando sofremos perdas, a coisa é muito diferente. Mas não está escrito: “Eu formo a luz e crio as trevas; Eu faço a paz e crio o mal; Eu, o Senhor, faço todas estas coisas” (Is 45.7)? Quantas vezes a coisa criada reclama: “Por que me fizeste desta forma”? Dizemos: “Não vejo como isto pode ser útil para minha alma. Se minha saúde fosse melhor, eu poderia ir à casa de oração com mais freqüência! Se eu tivesse sido poupado dessas perdas em meus negócios, teria mais dinheiro para o trabalho do Senhor! Qual é o bem que pode resultar desta calamidade”? À semelhança de Jacó, exclamamos: “Todas essas coisas vieram sobre mim!” (Gn 42.36). O que é isso senão “desprezar” a vara? Sua ignorância vai desafiar a sabedoria de Deus? Sua miopia vai censurar a onisciência?
  4. Pela indiferença. Há muitos que não emendam seus caminhos. Todos nós precisamos muito da exortação vinda de nosso texto. Há muitos que têm “desprezado” a vara, e como consequência não têm se beneficiado com ela. Muitos cristãos têm sido corrigidos por Deus, mas em vão. Doenças, contratempos, perdas vêm, mas eles não têm sido santificados por meio de um sincero e cuidadoso auto-exame.

Ó irmãos e irmãs, tomem cuidado! Se Deus os está castigando, “considerai os vossos caminhos” (Ag 1.5), “pondera a vereda de teus pés” (Pv 4.26). Descubram a razão do castigo. Muitos cristãos não teriam sido castigados nem com a metade do rigor se tivessem, com diligência, investigado a causa de seus castigos.

II. Desmaiar sob a vara

Depois de sermos advertidos contra “menosprezar” a vara, somos agora alertados a não dar lugar ao desespero quando estivermos sob a ação dela. Existem, pelo menos, três maneiras pelas quais o cristão pode “desmaiar” sob as repreensões do Senhor:

  1. Quando ele desiste. Isso acontece quando nos afundamos em desânimo. A pessoa castigada conclui que não consegue agüentar mais. Seu coração enfraquece; as trevas a engolem; o sol da esperança se obscurece, e se cala a voz das ações de graças. “Desmaiamos” quando nos tornamos incapazes de executar os deveres que nos dizem respeito. Quando uma pessoa desmaia, ela fica inerte. Quantos cristãos desistem por completo da luta quando a adversidade se apresenta em sua vida! Quantos se tornam totalmente inertes quando a tribulação aparece em seu caminho! Quantos, por sua atitude, dizem: “A mão de Deus se fez pesada sobre mim: eu nada consigo fazer”! Ah, meus amados, “não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança” (1Ts 4.13). “Não desmaies quando por Ele fores reprendido” (Hb 12.5). Dirija-se ao Senhor a respeito do assunto: reconheça a mão Dele em toda a situação. Lembre-se de que suas aflições fazem parte de “todas as coisas” que cooperam juntamente para seu bem.
  2. Quando ele duvida de sua filiação. Não são poucos os cristãos que, quando a vara desce sobre eles, concluem que, no final das contas, não são filhos de Deus. Eles esquecem que está escrito: “Muitas são as aflições do justo” (Sl 34.19), e que “por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus” (At 14.22). Talvez alguém argumente: “Mas se eu fosse filho de Deus, não estaria em pobreza, miséria e dor”. Preste atenção em Hebreus 12.8: “Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, logo, sois então bastardos, e não filhos”. Aprenda, então, a ver as provações como provas do amor de Deus limpando, podando, purificando você. O pai de família não se preocupa muito com os que não pertencem a sua casa; são aqueles que pertencem a ela que ele guarda e dirige, alimenta e conforma a sua vontade. O mesmo acontece com Deus.
  3. Quando ele se desespera. Algumas pessoas cedem diante da ideia de que sua tribulação nunca mais terá fim. Uns dizem: “Eu já orei e orei, mas as nuvens não se vão”. Console-se, então, com o seguinte pensamento: É sempre a hora mais escura que antecede o amanhecer. Por isso, não desmaie quando for repreendido por Deus. “Mas”, diz outro, “eu me apeguei a Sua promessa, e as coisas não melhoram. Eu pensei que Ele livrasse aqueles que O invocam; eu O invoquei, e Ele não me atendeu, e eu temo que Ele nunca vá me responder”. Por que, filho de Deus, você fala dessa maneira de seu Pai?! Você diz que Ele não vai parar nunca de feri-lo pelo fato de tê-lo ferido por tanto tempo?! Em vez disso, diga: “Ele tem-me ferido há tanto tempo que, logo, logo, devo ser liberto!”

Não menospreze nem desmaie. Que a graça divina preserve desses dois extremos tanto este autor como o leitor.

(Fonte da imagem)

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