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Citações Gotas de orvalho Vários

Gotas de orvalho (280)

Um dos perigos mais graves que assola o ministério é a dispersão incansável de energias por uma incrível multiplicidade de interesses que não deixa margem de tempo e força para uma comunhão receptiva e arrebatadora com Deus.

(Andrew Bonar)

Há muitas coisas que o mundo chama de decepção, mas não existe essa palavra no dicionário de fé. O que para os outros são decepções, para os crentes, são indicações do caminho de Deus.

(John Newton)

Orei quinze anos pela conversão de meu irmão mais velho. Quando ele parecia estar ficando cada vez mais longe de qualquer esperança de conversão, eu orei.

(R. A. Torrey)

O mundo pergunta: “O que um homem possui?” Cristo pergunta: “Como ele o usa?”

(Andrew Murray)

Muitas pessoas, em seus sofrimentos e tristezas, consideram-se dignas de dó, ao mesmo tempo em que dão pouca atenção ao pecado causador do problema ou ainda continuam a cometê-lo!

(Richard Baxter)

Nunca devemos cessar de orar. Nenhum caso é sem esperança enquanto Cristo viver.

(Charles Spurgeon)

Que poderia em mim achar,
pra tais afrontas suportar?

(Hinário cristão, hino 66)

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A. W. Tozer Igreja Oração Serviço cristão

As melhores coisas demandam esforço

Muitas horas de comunhão deveriam preceder uma hora no púlpito.

Em nosso mundo distorcido, as coisas mais importantes muitas vezes são as mais difíceis de aprender e, inversamente, as coisas que vêm facilmente são, na maioria das vezes, de pouco valor real no longo prazo.

Isso se vê claramente na vida cristã. Muitas vezes acontece que aquilo que aprendemos a fazer sem dificuldade são as atividades mais superficiais e menos importantes, e os exercícios verdadeiramente vitais tendem a ser omitidos devido à dificuldade de pô-los em prática. Isso é mais facilmente visto em nossas variadas formas de serviço cristão, particularmente no ministério. Ali, as atividades mais difíceis são as que produzem maior fruto, e os serviços menos frutíferos são desempenhados com menor esforço. Essa é uma armadilha em que um ministro sábio não cairá, ou, se perceber que está preso nela, importunará céu e terra em sua luta para dela escapar. Orar com sucesso é a primeira lição que o pregador tem de aprender, se quiser pregar frutiferamente, embora a oração seja a tarefa mais difícil para a qual ele é chamado. Essa vai ser a atividade, mais do que qualquer outra, que, como homem, ele será tentado a menos pôr em prática. Ele tem de determinar o coração para vencer pela oração, e isso significa que primeiro tem de vencer a própria carne, porque é a carne que sempre atrapalha a oração.

Quase tudo que diz respeito ao ministério pode ser aprendido com uma porção média de esforço inteligente. Não é difícil pregar, ou gerenciar atividades da igreja ou atender a compromissos sociais; casamentos e funerais podem ser dirigidos sem problemas com um pouco de ajuda de um Manual do ministro. Pode-se aprender a fazer sermões tão facilmente como fazer sapatos – introdução, conclusão, e só. E assim é com todo a atividade do ministério como se tem levado na igreja normal de hoje.

Mas orar – isso é outro assunto. Aqui de nada serve a ajuda de um Manual do ministro. Aqui, o solitário homem de Deus tem de combater sozinho, às vezes com jejuns e lágrimas e fadigas indizíveis. Ali cada homem tem de ser original, porque a verdadeira oração não pode ser imitada nem pode ser aprendida de outrem. Cada um tem de orar como se só ele pudesse orar, e sua aproximação de Deus tem de ser individual e independente; independente de todos, menos do Espírito Santo.

Thomas à Kempis[1] diz que o homem de Deus deve sentir-se mais à vontade em seu quarto de oração do que diante do público. Não é exagero dizer que é raro que o pregador que gosta de estar diante do público se encontra espiritualmente preparado para estar diante dele. É mais provável que a oração correta torne o homem hesitante em aparecer diante de uma audiência. O homem que realmente se sente à vontade na presença de Deus se verá preso numa espécie de contradição interior: ele provavelmente sentirá de forma tão aguda sua responsabilidade que preferiria fazer qualquer outra coisa a encarar um auditório; contudo, a pressão sobre seu espírito pode ser tão grande que nem cavalos selvagens o poderiam arrancar do púlpito.

Nenhum homem deveria se colocar diante de uma audiência sem antes ter estado diante de Deus. Muitas horas de comunhão deveriam preceder uma hora no púlpito. O quarto de oração deveria ser mais familiar do que a plataforma pública. A oração deveria ser contínua; a pregação, intermitente.

É de notar que as escolas ensinam tudo sobre a pregação, exceto a parte importante: a oração. Não se deve censurar as escolas por causa dessa fraqueza, pois a oração não pode ser ensinada; ela somente pode ser praticada. O melhor que qualquer escola ou qualquer livro (ou qualquer artigo) pode fazer é recomendar a oração e exortar a que seja praticada. A oração mesma tem de ser trabalho do indivíduo.

E é justamente o trabalho religioso que, feito com pouco entusiasmo, se torna uma das grandes tragédias de nossos dias.


 

[1] Autor de A imitação de Cristo. (N. do E.)

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A. W. Tozer Agostinho Bíblia Citações Gotas de orvalho Horatius Bonar João Calvino Martinho Lutero Matthew Henry Pecado Sofrimento

Gotas de orvalho (73)

Gotas de orvalho que alimentam a fé!

A civilização moderna é tão complexa que torna a vida de devoção quase impossível. Cansa-nos multiplicando distrações e nos prostra destruindo a nossa soledade, quando, doutro modo, poderíamos beber da Fonte de água vida e renovar as nossas forças antes de sair para enfrentar de novo o mundo. A ciência, que propiciou aos homens certas comodidades materiais, roubou-lhes as almas, cercando-os com um mundo hostil à sua existência.

(A. W. Tozer)

Proximidade de Cristo, intimidade com Ele, assimilação de Seu caráter: esses são os elementos de um ministério de poder.

(Horatius Bonar)

Vamos, portanto, em todas as coisas crer na Palavra de Deus que nos foi entregue pelas Escrituras. Vamos pensar que é o próprio Senhor, que é o próprio Deus vivo e eterno, a falar-nos pelas Escrituras. Vamos para sempre louvar o nome e a bondade Dele, que tem outorgado tão fiel, plena e claramente abrir para nós, miseráveis homens mortais, todos os meios para vivermos bem e santamente.

(Henrique Bullinger)

As aflições, muitas vezes, possuem o notável poder de fazer-nos lembrar de nossos pecados.

(William S. Plummer)

As Escrituras Sagradas, por serem uma regra tanto de nossos deveres para com Deus como de nossas expectativas a respeito Dele, são de muito maior utilidade e benefício para nós do que o dia ou a noite, do que ar que respiramos ou a luz do Sol.

(Matthew Henry)

Creio firmemente que nenhum daqueles autores [da Bíblia] errou em qualquer aspecto quando escreveu.

(Agostinho)

Aprendi a atribuir infalibilidade apenas aos livros chamados canônicos, de forma que creio confiantemente que nenhum de seus autores cometeu erros.

(Martinho Lutero)

A não ser que a Palavra de Deus ilumine o caminho, toda a vida dos homens estará envolta em trevas e nevoeiro, de forma que eles inevitavelmente irão se perder.

(João Calvino)

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Igreja John Nelson Darby Ministério

A fonte do ministério (J. N. Darby)

“Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação” (2Co 5.19).

Aqui há três coisas que resultam da vinda de Deus em Cristo: “reconciliando”, “não lhes imputando” e “pôs em nós a palavra da reconciliação”. Sem este último ponto, a obra da graça ficaria imperfeita em sua aplicação, pois Jesus, que, em Sua vinda ao mundo, reconciliava e não imputava, devia ser feito pecado por nós (v. 21), morrer e ir-se. A obra consumada ficaria, assim, suspensa em sua aplicação. O complemento desta obra gloriosa da graça de Deus era confiar aos homens “a palavra da reconciliação“, segundo Seu poder e Seu agrado. Desta maneira, introduzia dois elementos no ministério:

1. Uma profunda convicção, um sentimento poderoso do amor manifestado nesta obra de reconciliação;

2. Os [homens-]dons que eram capazes de anunciar aos homens, segundo suas necessidades, as riquezas desta graça que animava o coração daqueles que a anunciavam.

É o que a parábola dos talentos nos apresenta (Mt 25). Tanto o que tinha cinco talentos como o que tinha dois eram movidos pela confiança que a graça dá e pela segurança produzida pelo conhecimento do caráter de seu Mestre. As capacidades e os dons deles não eram iguais. Deus é soberano a este respeito. Àquele que tinha só um talento, em proporção a sua capacidade, faltava esta confiança que inspira o conhecimento de Deus em Cristo. Ele estava equivocado sobre o caráter de seu Mestre. Foi inativo por causa do estado de sua alma, como os outros dois foram ativos pela mesma razão.

Aqui vemos que o princípio do ministério é a energia do amor, da graça, que se origina na fé que nos faz conhecer a Deus. Atacar isso é fazer cair tudo de sua base fundamental. Em sua essência, o ministério emana do conhecimento individual do caráter do Mestre. Conhecer a graça, sentida profundamente, torna-se a graça ativa em nosso coração, única fonte verdadeira, a única possível, na natureza das coisas, para um ministério segundo Deus.

Além disso, vemos que em Sua soberania Deus distribui como Lhe parece bem, quer seja a capacidade natural como utensílio para conter o dom, ou o próprio dom, conforme a medida do dom de Cristo, tirado de Seus tesouros que se encontram Nele e que recebeu para dar aos homens.

Encontramos o ministério baseado no mesmo princípio quando o Senhor disse a Pedro: “Simão, filho de Jonas, amas-me […]?” e, à resposta dele, acrescenta: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21.15,16). Isso leva a duas partes essenciais do ministério: primeira, a livre atividade do amor que motiva a chamar as almas e, segunda, o serviço que não cessa em seus esforços para edificá-las quando elas são chamadas.

Com respeito ao ministério da Palavra (pois há outros dons), estas duas partes são-nos apresentadas claramente em Colossenses 1. No verso 23, Paulo é ministro do evangelho, “o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu”, e, nos versos 24 e 25, é ministro da igreja, “para cumprir a palavra de Deus”.

Como energia e fonte de todo ministério estão, portanto, estas duas coisas:

1. O amor que a graça produz no coração, o amor que impulsiona a atividade, e

2. A soberania de Deus que comunica dons segundo Seu querer e chama para este ou aquele ministério, chamamento este que faz do ministério um assunto de fidelidade e de dever por parte daquele que é chamado.

Devemos notar que estes dois princípios supõem, um e outro, uma inteira liberdade em relação aos homens, que não deveriam intervir dando origem ou autorização ao ministério sem neutralizar, por um lado, o amor como fonte da atividade nem fazer, por outro, intrusão na soberania de Deus que chama, que envia e cujo chamamento é um dever. A cooperação e a disciplina segundo a Palavra permanecem sempre no lugar que lhes corresponde.

Todo ministério que não está fundamentado nos dois princípios que acabamos de enunciar não é, de fato, ministério. Não há nenhuma outra fonte cristã de atividade além do amor de Cristo e do chamamento de Deus.

(Traduzido por Francisco Nunes do artigo “La fuente del ministerio”, revista Creced, n. 2/2014, marzo-abril, publicada por Ediciones Bíblicas, Perroy, Suíça.)

(O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, exclusivamente de forma gratuita, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria como de tradução.)

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Biografia T. Austin-Sparks Testemunho

Uma consideração sobre T. Austin-Sparks (Harry Foster)

Publicado pela primeira vez na revista A Witness and A Testimony, jul/ago de 1971, vol. 49-4.

 

Depois de quarenta anos de associação ativa com o irmão Austin-Sparks nas coisas de Deus, coube a mim liderar o laudatório culto funeral em 19 de abril de 1971, quando um grande número de irmãos se reuniu em Honor Oak1 para magnificar ao Senhor pela vida longa e serviço frutífero de nosso irmão. Durante a maior parte desses anos, fui um colaborador de A Witness and A Testimony; assim, aceitei com gratidão a oportunidade de escrever uma pequena consideração sobre nosso irmão e seu trabalho para Deus.

Aqueles que estão familiarizados com seus livros vão lembrar que um deles é intitulado The School of Christ (A Escola de Cristo, disponível gratuitamente aqui). O próprio título sugere sua concepção do que a vida cristã é, pois ele ensinou que o principal propósito de Deus para todos nós é direcionado para a eternidade e direcionado para nos conformar à imagem de Seu Filho. O irmão Sparks foi capaz de ajudar muitos discípulos na escola de Cristo, pois, ao longo de seus muitos anos de serviço, ele estava pronto para assumir o lugar do aluno bem como do professor.

Seu discipulado começou quando, com dezessete anos, ele andava desanimado por uma rua de Glasgow, em uma tarde de domingo, e parou para ouvir alguns jovens testemunhando ao ar livre. Naquela mesma noite, ele entregou a vida ao Salvador, e no domingo seguinte encontrou-se com os mesmos ávidos jovens cristãos em sua reunião ao ar livre. Ele continuou com eles e, em pouco tempo, abriu a boca para falar algumas palavras simples de testemunho, entrando, assim, em uma vida de pregação do Evangelho que durou 65 anos.

Aqueles anos foram preenchidos com muitas atividades para Deus, mas a pregação era seu maior dom e sua maior alegria. Ele lia avidamente em seu desejo de compreensão espiritual e, acima de tudo, estudava a Bíblia, sempre em uma busca ansiosa pelos tesouros novos e antigos que podem ser encontrados lá por aqueles que são instruídos no reino dos céus. Uma de suas primeiras escolhas para o hinário suplementar que ele preparou para o uso no Honor Oak Christian Fellowship Centre foi o hino que tem como refrão o famoso lembrete do pastor John Robinson aos peregrinos do Mayflower: que “o Senhor ainda tem mais luz e verdade para irromper de Sua Palavra”2. Quantas vezes cantamos essas palavras inspiradoras no início de uma conferência em Honor Oak! E quantas vezes elas provaram ser verdadeiras aos ouvintes que as apreciavam!

O irmão Sparks sempre atribuiu grande importância à “revelação”, não se referindo ao desvendamento original de verdade pelos escritores inspirados das Escrituras, mas à iluminação e percepção dada pelo Espírito sobre o que a Palavra realmente ensina. Por essa razão, a maioria de seus livros, e quase todos os artigos publicados nesta revista, eram transcrições de mensagens faladas que haviam sido dadas com algum sentimento real de capacitação divina: pareciam-lhe ser mais aptas a ter um impacto espiritual se viessem não só do estudo, mas também do envolvimento em alguma situação prática. Provavelmente, sua maior utilidade foi quando ele estava falando de suas próprias experiências, tirando lições do que havia aprendido, não só do estudo, mas do que tinha acontecido com ele na escola de Cristo, onde o Pai trata Seus filhos com aquela correção, ou treinamento de filhos, pela qual somente pode prepará-los para a verdadeira filiação de acordo com o padrão do Filho perfeito. Ele foi muitas vezes capaz de interpretar para as pessoas o significado do que elas vinham atravessando, mostrando-lhes a importância e o propósito dos tratamentos, do lidar de Deus com eles.

Especialmente em seus primeiros anos, o irmão Sparks costumava dar grande ênfase sobre a necessidade da aplicação interior da Cruz na vida do crente. Ele pregou um evangelho da plena salvação pela fé simples no sacrifício de Cristo, mas ele ressaltou adicionalmente que o homem que conhece a purificação pelo sangue de Jesus deve também permitir que a mesma cruz trabalhe nas profundezas de sua alma, a fim de libertá-lo de si mesmo e levá-lo para um caminhar menos carnal e mais espiritual com Deus. Ele próprio havia passado por uma crise de auto-ruína por sua aceitação do veredito da Cruz sobre sua velha natureza, e viu nessa crise a introdução a um desfrute completamente novo da vida de Cristo, tão grande que ele só conseguia descrevê-lo como “um céu aberto”. Na igreja, a vida de pessoas entre as quais ministrava, ele também viu uma transformação impressionante produzida por essa mensagem da Cruz para o crente. Não é de admirar, portanto, que ele tenha aproveitado cada oportunidade de afirmar que não há outro caminho para a experiência plena da vontade de Deus a não ser pela união com Cristo em Sua morte. Repetidamente ele voltava ao ensino de Romanos 6, não apenas como um tópico favorito, mas com a convicção de que tal união era o meio seguro de conhecer o poder da ressurreição de Cristo.

A Cruz é sempre dolorosa; assim, podemos compreender que o irmão Sparks freqüentemente considerou os tratos de Deus com ele difíceis de suportar. Até 1950, ele era seguidamente prostrado com dor e incapaz de continuar seu trabalho; no entanto, vez após vez ele foi erguido [ressuscitado]3, às vezes literalmente do leito de doença, e ninguém podia deixar de reconhecer o impacto espiritual adicional que veio de tal situação. Nós oramos muito por ele durante esses anos, mas sem alívio duradouro, até que ele pôde ter o tratamento cirúrgico, que provou ser um meio da graça de Deus para responder a nossas orações, a fim de que, a partir de então, ele tivesse mais vinte anos de atividade em muitos países, e até sua última doença foi um exemplo notável de como a vida divina pode energizar o corpo mortal.

Por várias razões, padeceu de muitos outros sofrimentos, mas isso era coerente com seu próprio ensino de que, na Escola de Cristo, a pessoa aprende mais pelo sofrimento do que pelo estudo ou por ouvir mensagens. Se, no entanto, a Cruz envolve sofrimento, é também o segredo da graça abundante, como ele certamente provou. Seu último lema anual, elaborado para 1971, foi dedicado ao tema da suficiência da graça de Deus. Em novembro, ele escreveu um editorial nesta revista, registrando o fato de que, para ele, 1970 tinha sido um ano de pressão e dificuldade incomuns. Talvez como um espectador, pode-me ser permitido comentar que, aos olhos daqueles mais próximo a ele, também foi um ano de nova e mais plena evidência da graça de Deus, e que, de minha parte, me foram deixadas abençoadas lembranças de comunhão em conversa e oração que nunca teria sido possível entre nós sem o triunfo da graça divina. A Deus seja a glória!

A Cruz não é apenas dolorosa, é unificadora. O irmão Sparks cria e pregava que, por meio dela, o crente não é apenas levado a um mais amplo gozo pessoal da vida de ressurreição, mas também a uma verdadeira integração na comunhão da Igreja, que é o Corpo de Cristo. Ele nunca poderia pensar em si mesmo como um cristão isolado, nem nas assembléias como grupos isolados, mas tentou manter diante de si o propósito divino da redenção, que é a incorporação de todos os crentes numa membresia vital de um só corpo. Tem acontecido algumas vezes que cristãos muito ansiosos para expressar essa unidade têm, no entanto, contradito o espírito dela por traírem-na em uma atitude de superioridade em relação aos outros cristãos, assim se permitindo estar erradamente divididos de seus companheiros em Cristo. Nós aqui tivemos de confessar nossas próprias falhas a esse respeito, percebendo que nossa própria ânsia de ser fiel à revelação bíblica do que a Igreja deveria ser pode ter produzido intencionalmente uma espécie de separação entre o povo de Deus. Se o irmão Sparks, por vezes, tendeu nessa direção, ele certamente se moveu cada vez mais para longe disso conforme se aproximava da eternidade, aumentando progressivamente seu cuidado de mostrar uma apreciação adequada por todos os verdadeiros crentes, independentemente da conexão deles.

Ele deve ter sido tentado, por vezes, a afastar-se da comunhão prática com a igreja aqui em Honor Oak, pois talvez nós o limitássemos e, ocasionalmente, o irritávamos, mas Deus lhe deu a graça de nunca sucumbir a essa compreensível tentação. Ele ficou conosco até o final, mantendo o vínculo de comunhão intacto, mostrando um interesse amoroso pela próxima geração e participando conosco em adoração e oração, enquanto tinha condições físicas. Devemos muito a suas orações para nós, e ele apreciava profundamente o apoio em oração que pudemos lhe dar, especialmente nas conferências que ministrou em muitos lugares. Suas últimas mensagens à igreja, que me foram confiadas em seu leito, foram de grande gratidão por nossas orações. Nos últimos dias de grande fraqueza, quando muitas vezes ele parecia incapaz de lidar com qualquer tipo de comunicação, ele nunca deixou de dar um sussurrado “Amém” quando orações eram feitas, mostrando que, enquanto tudo o mais estava se tornando cada vez mais irreal, ele ainda poderia responder à grande realidade da oração “no Nome”.

Na verdade, a oração tinha sido sua vida, mais do que a pregação. Nesse assunto, ele estabeleceu um fundamento para o trabalho e estabeleceu um padrão que, pela graça de Deus, vamos procurar manter. Enquanto ainda era pastor da igreja batista local, ele costumava viajar toda terça-feira a fim de passar a hora do almoço orando com seus dois colegas, George Paterson e George Taylor, que trabalhavam secularmente na cidade naquela época. Após a igreja haver se mudado para as atuais instalações em 1926, primeiro Paterson e, em seguida, o Taylor renunciaram a seus cargos, a fim de serem totalmente livres para o trabalho espiritual, o que deixou ainda mais oportunidades para a oração unida, que se tornou uma característica proeminente tanto na vida da igreja como também na vizinha Guest House4.

Para o irmão Sparks, a oração tinha muitos aspectos, como é demonstrado por seu livro In Touch with the Throne (Em contato com o trono; disponível gratuitamente aqui). Ele nos deu o exemplo da oração que é adoração, não pedindo ou intercedendo, mas apenas oferecendo a Deus a adoração e o amor que Lhe são devidos. Frisou constantemente a importância do que chamou de “oração executiva”, que significava não apenas um pensamento anelante com o carimbo de “Amém” no final, mas a reivindicação ousada das promessas de Deus em nome do Senhor. Ele introduziu muitos de nós na realidade da “batalha de oração”, pois sabia que, só por chegar ao confronto com os inimigos invisíveis da vontade de Deus, é que a Igreja pode aplicar a vitória de Cristo a situações reais. Porque a oração é uma batalha, às vezes ele ficava muito triste quando nossas reuniões de oração tendiam a enfraquecer, mas ele nos reunia de novo para a luta e estava sempre pronto para se alegrar quando parecíamos romper na vitória da fé e estar “em contato com o trono”.

Talvez um de seus primeiros livros possa melhor nos dar uma indicação real para toda a sua vida e ministério. Ele é chamadoThe Centrality and Supremacy of the Lord Jesus Christ (A centralidade e a supremacia do Senhor Jesus Cristo). Foi aí onde ele começou, e foi aí onde ele terminou, pois se tornou perceptível em seus anos finais que perdeu o interesse em assuntos e concentrou sua atenção na pessoa de Cristo. Cristo é central! Nenhum de nós vai alegar ter estado sempre “no centro”, e ele certamente não faz tal afirmação, mas era o objetivo de sua vida e o alvo de toda a sua pregação e ensino reconhecer aquela centralidade e reverenciar [e submeter-se à]5 aquela supremacia. Em seu funeral, havia centenas que responderam plenamente à sugestão de que o irmão Sparks os tinha ajudado a conhecer Cristo de forma mais plena e mais satisfatória. Se alguém pode fazer homens perceberem algo mais do valor e da maravilha de Cristo, de modo que O amem mais e O sirvam melhor, então, tal pessoa não viveu em vão. Muitos no mundo inteiro podem dizer sinceramente que, por meio das palavras escritas ou faladas de “T. A-S.” [ou TAS], foi isso que lhes aconteceu e, especialmente com aqueles que vieram à fé em Cristo como Salvador graças a seu ministério, serão sua alegria no dia de Jesus Cristo. Além disso, algumas das verdades, que não eram de forma alguma aceitas quando proclamou-as anos atrás, já se tornaram amplamente aceitas entre os cristãos evangélicos. Por isso, é possível que, no longo prazo, seu ministério possa provar ter sido mais frutífero do que pareceu para ele ou para outros. É função do mordomo ser fiel, e isso ele buscou ser: apenas o Mestre é competente para julgar seu sucesso.

A primeira mensagem que eu o ouvi dar, em 1924, foi um apelo aos presentes para se apressarem em direção ao alvo para o prêmio, e concluiu com uma referência à entrada abundante no reino eterno que é prometida em 2Pedro 1:11. Agora, depois de mais de 47 anos de alegrias e provações por viver para Cristo, ele terminou sua carreira, e nós confiamos que sua entrada tenha sido de fato rica e abundante. Embora ele tenha ido embora, sua mensagem ainda traz o desafio para nós, que fomos deixados para trás, e, embora seus lábios estejam agora em silêncio, suas orações por nós ainda serão respondidas.

Parece algo significativo o fato de que ele foi para estar com Cristo imediatamente após o feriado da Páscoa, pois o culto de encerramento de nossas Conferências de Segunda-feira da Páscoa sempre foram um destaque, como muitos dos que estavam presentes concordarão. O irmão Sparks poderia dar mensagens longas, e muitas vezes o fez, mas sua mensagem de encerramento na ocasião era invariavelmente breve e direta ao ponto. O ponto era freqüentemente a Segunda Vinda de Cristo, e, à medida que nos reuníamos em grande número ao redor da mesa do Senhor e concluíamos com uma música triunfante sobre “A esperança da vinda do Senhor”, realmente o céu desceu e a glória encheu nossa alma. Naquela segunda-feira de Páscoa não houve essa reunião, mas na manhã seguinte cedo, nosso irmão passou tranquilamente para a presença de Cristo, a fim de aguardar ali o momento em que a esperança se tornará uma realidade gloriosa e vamos todos juntos encontrar o Senhor “nos ares”.

A voz do irmão Sparks não é mais ouvida entre nós, mas no culto de sepultamento a voz de seu Senhor e a nossa pareciam soar pelas salas, gritando: “Certamente, venho sem demora!” Como um só homem, toda a multidão respondeu: “Vem, Senhor Jesus.” Nesse ambiente, nós saímos para a luz do sol a fim de colocar o corpo de nosso irmão para descansar e cantar triunfantemente em torno de seu túmulo aberto: “Um dia Ele virá. Oh, glorioso dia!”

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(Traduzido por Francisco Nunes de An Appreciation of T Austin-Sparks by Harry Foster, original aqui. Se houver qualquer sugestão para aprimoramento deste trabalho, por favor, deixe um comentário.)

1The Honor Oak Christian Fellowship & Conference Centre, geralmente chamado de Christian Fellowship Centre ou Honor Oak, era uma construção para conferências cristãs e treinamento localizada na rodovia Honor Oak, na região sudeste de Londres. O centro foi a base para o ministério de seu fundador, o evangelista e escritor britânico T. Austin-Sparks, que havia sido anteriormente o ministro da igreja batista Honor Oak, de 1921 a 1926. Mais informações aqui. (N.T.)

2Este é o refrão do hino We limit not the truth of God (Não limitemos a verdade de Deus), letra de George Rawson. A letra completa e a melodia estão aqui.

3Raised up, no original, permite ambas traduções. (N.T.)

4Local de hospedagem junto ao Honor Oak. (N.T.)

5Bow, no original, permite ambas traduções. (N.T.)

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Citações Igreja John Wesley Ministério Serviço cristão

Sermão para o clero (John Wesley)

Trechos

Não deveria um ministro ter, primeiramente, uma boa compreensão, uma apreensão clara, um julgamento sadio e uma capacidade de argumentar com um pouco de competência? […] Não seria determinado conhecimento (a metafísica) chamado de a segunda parte da lógica, se não tão necessário como [a própria lógica], ainda assim altamente apropriado? Não deveria um ministro se familiarizar ao menos com os fundamentos gerais da filosofia natural?

1) Como alguém que se esforça para explicar a Escritura a outras pessoas, tenho o conhecimento necessário para que ela possa ser luz nos caminhos das pessoas?… Estou familiarizado com as várias partes da Escritura; com todas as partes do Antigo Testamento e do Novo Testamento? Ao ouvir qualquer texto, conheço o seu contexto e os seus paralelos?… Conheço a construção gramatical dos quatro evangelhos, de Atos, das epístolas; tenho domínio sobre o sentido espiritual (bem como o literal) do que leio?…Conheço as objeções que judeus, deístas, papistas, socinianos e todos os outros sectários fazem às passagens das Escrituras, ou a partir delas?… Estou preparado para oferecer respostas satisfatórias a cada uma dessas objeções?

2) Conheço grego e hebraico? De outra forma, como poderei (como faz todo ministro) não somente explicar os livros que estão escritos nessas línguas, mas também defendê-los contra todos os oponentes? Estou à mercê de cada pessoa que conhece, ou pelo menos pretende conhecer o original?…Entendo a linguagem do Novo Testamento? Tenho domínio sobre ela? Se não quantos anos gastei na escola? Quantos anos na universidade? E o que fiz durante esses anos todos? Não deveria ficar coberto de vergonha?

3) Conheço meu próprio ofício? Tenho considerado profundamente diante de Deus o meu próprio caráter?O que significa ser um embaixador de Cristo, um enviado do Rei dos céus?

4) Conheço o suficiente da história profana de modo a confirmar e ilustrar a sagrada? Estou familiarizado com os costumes antigos dos judeus e de outras nações mencionadas na Escritura? …Sou suficientemente (se não mais) versado em geografia, de modo a conhecer a situação e dar alguma explicação de todos os lugares consideráveis mencionados nela?

5) Conheço suficientemente as ciências? Fui capaz de penetrar em sua lógica? Se não, provavelmente não irei muito longe, a não ser tropeçar em seu umbral… ou, ao contrário, minha estúpida indolência e preguiça me fizeram crer naquilo que tolos e cavalheiros simplórios afirmam: “que a lógica não serve para nada?” – Ela é boa pelo menos… para fazer as pessoas falarem menos – ao lhes mostrar qual é, e qual não é, o ponto de uma discussão; e quão extremamente difícil é provar qualquer coisa. Conheço metafísica; se não conheço a profundidade dos eruditos – as sutilezas de Duns Scotus ou Tomás de Aquino – pelo menos sei os primeiros rudimentos, os princípios gerais dessa útil ciência? Fui capaz de conhecer o suficiente dela, de modo que isso clareie minha própria apreensão e classifique minhas ideias em categorias apropriadas; de modo que isso me capacite a ler, com fluência e prazer, além do proveito, as obras do Dr. Henry Moore, “A Busca da Verdadede – de Malenbranche”, “A Demonstração do Ser e dos Atributos de DEUS – do Dr. Clark?” Compreendo a filosofia natural? Tenho alguma bagagem de conhecimento matemático?… Se não avencei assim, se ainda sou um noviço, que é que eu tenho feito desde os tempos em que saí da escola?

6) Estou familiarizado com os Pais da Igreja, aqueles veneráveis homens que viverem aqueles tempos, aqueles primeiros dias? Li e reli os restos dourados de Clemente de Roma, de Inácio de Antioquia, Policarpo, dei uma lida, pelo menos rápida nos trabalhos de Justino Mártir, Tertuliano, Orígenes, Clemente de Alexandria e de Cipriano?

7) Tenho conhecimento adequado do mundo? Tenho estudado as pessoas (bem como os livros), e observado seus temperamentos, máximas e costumes? […] Esforço-me para não ser rude ou mal-educado…sou afável e cortês para com todas as pessoas? Se sou deficiente mesmo nas capacidades mais básicas, não deveria me arrepender frequentemente dessa falta? Quão frequentemente…tenho sido menos útil do que eu poderia ter sido!

“A idéia que Wesley faz de um pastor é notável: um cavalheiro qualificado nas Escrituras e familiarizado com a história, a filosofia e a ciência de seus dias. Como ficam os pastores que se formam em nossos seminários quando comparados a esse modelo?” (J. P. Moreland & William Lane Craig, in Filosofia e cosmovisão cristã. Editora Vida Nova, 2008; pág. 19)

(Fonte; fonte; texto completo)

Sou contra a idéia de clero, por entender que ela não é bíblica. Não reconheço o clero instituído, os títulos distribuídos, auto-atribuídos, votados… Reconheço, sim, irmãos que sejam chamados pelo Senhor para exercer funções na igreja, entre estas a de pregar (ministrar) a Palavra, a de pastorear os irmãos, a de presidir a assembléia, etc. Para estes irmãos chamados, considero oportuníssimo e necessário o sermão de Wesley. Na verdade, ele se aplica a todos os cristãos. Não somos chamados a colocar o cérebro, os pensamentos, a avaliação crítica de lado (como o exigem as seitas em geral), mas a usá-las ao máximo para compreender a fé e saber como apresentá-la. Nenhum cristão, alegando ser espiritual, tem desculpa para ser mentalmente preguiçoso, vazio, raso, despreparado.

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Ministério Oração

A Confissão do Ministro

Uma Oração Puritana

Ó DEUS,
Reconheço que muitas vezes faço a tua obra sem o teu poder,
e peco por causa do meu culto morto, frio e cego;
por causa da minha falta de luz interior, amor e deleite;
por causa da minha mente, coração e língua movendo-se sem o teu auxílio.

No meu coração vislumbro o pecado ao buscar a aprovação dos outros;
É essa a minha vileza, ter na opinião dos homens a minha regra, ao passo que
deveria contemplar o bem que tenho feito,
e dar-te glória,
considerar o pecado que tenho cometido e lamentar por ele.

A minha fraude diária é pregar, e orar,
e estimular os sentimentos espirituais dos outros
para auferir louvores,
quando a minha regra deveria ser considerar-me diariamente mais vil
que qualquer outro homem a meus próprios olhos.

Nada obstante tu mostras o teu poder mediante a minha fraqueza,
de tal modo que quanto mais débil sou, tanto mais apto estou para ser usado,
pois tu armas uma tenda de graça na minha fraqueza.

Ajuda-me a me regozijar nas minhas fraquezas e te louvar,
a reconhecer as minhas deficiências diante dos outros
e não ser desencorajado por eles,
para que possam enxergar a tua glória mais claramente.

Ensina-me que eu tenho de agir mediante um poder sobrenatural,
pelo qual posso tentar realizações acima da minha força,
e suportar males acima do meu poder,
agindo por Cristo em tudo, e
tendo o seu poder superior para me socorrer.

Que eu aprenda de Paulo
cuja presença era fraca,
cuja fraqueza era grande,
cuja palavra era desprezível,
mas tu o consideraste fiel e bendito.
Senhor, deixa que me ampare em ti assim como ele,
e ache o meu ministério teu.

Tradução: Marcos Vasconcelos
Extraído de: The Valley of Vision:
A Collection of Puritan Prayers & Devotions
,
organizado por Arthur Bennett, p.187.

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Ministério Serviço cristão Vida cristã Watchman Nee

Ministrar ao Senhor ou à casa? (Watchman Nee)

Leitura da Bíblia: Ez 44.15-18

Notemos, a principio, que há aparentemente pouca diferença entre ministrar à casa e ministrar ao Senhor. Muitos de vocês estão fazendo o máximo para ajudar seus irmãos e estão labutando para salvar pecadores e administrar as questões relacionadas à igreja, mas deixem-me perguntar-lhes: vocês têm procurado ir ao encontro das necessidades ao seu redor ou têm procurado servir ao Senhor? Vocês têm em vista o seu próximo ou Ele?

Sejamos bem francos. Trabalhar pelo Senhor, sem dúvida, tem suas atrações para a carne. Você pode achar isso muito interessante e ficar empolgado quando multidões se juntam para ouvi-lo pregar, e quando muitas almas são salvas. Se tiver de ficar em casa, ocupado de manhã à noite com coisas seculares, você, então, haverá de pensar: “Como a vida é sem sentido! Que bom seria se eu pudesse sair e servir ao Senhor! Se pelo menos eu fosse livre para andar por aí pregando ou mesmo conversando com as pessoas a respeito Dele!”
Isso, porém, não é espiritualidade; é meramente uma preferência natural. Oh, se ao menos pudéssemos ver que muita obra feita para Deus não é realmente ministrar a Ele! Ele próprio nos disse que havia uma classe de levitas que, diligentemente, serviam no templo e assim mesmo não O serviam, mas meramente serviam à casa. Serviço ao Senhor e serviço à casa parecem ser tão semelhantes que freqüentemente é difícil fazer diferença entre ambos.
Se um israelita viesse ao templo e quisesse adorar a Deus, aqueles levitas viriam em seu auxílio e o ajudariam a oferecer sua oferta pacífica e seu holocausto. Eles o ajudariam a levar 0 sacrifício ao altar e lá o imolariam. Certamente aquela era uma grande obra na qual eles deviam se envolver – restaurar pecadores e conduzir crentes para mais perto do Senhor! E Deus levou em conta o serviço daqueles levitas, que ajudavam as pessoas a trazer suas ofertas pacíficas e seus holocaustos ao altar. Ainda assim, Deus disse que isso não era ministrar a Ele.

Irmãos e irmãs, há um pesado encargo em meu coração para fazê-los perceber o que Deus está querendo. Ele quer ministros que ministrem a Ele. “Se chegarão a Mim, para Me servirem, e estarão diante de Mim, para Me oferecerem a gordura e o sangue (…) para Me servirem”.
O que eu mais temo é que muitos de vocês saiam e ganhem pecadores para o Senhor e edifiquem crentes, sem, no entanto, ministrar ao próprio Senhor. Muito do assim chamado serviço a Ele é simplesmente estarmos seguindo nossas próprias inclinações naturais. Temos tanta disposição para atividades que não suportamos ficar em casa; por isso corremos e corremos para nosso próprio alívio. Podemos estar servindo pecadores e estar servindo crentes, mas estamos a todo tempo servindo a nossa propria carne.

Tive uma querida amiga que agora está com o Senhor. Um dia, depois de termos passado juntos algum tempo em oração, lemos essa passagem em Ezequiel. Ela era bem mais velha do que eu e dirigiu-se a mim deste modo: “Meu jovem irmao, há vinte anos estudei pela primeira vez essa passagem da Escritura”. “Como você reagiu a ela?”, perguntei. Ela replicou: “Tão logo terminei de lê-la, fechei minha Biblia e, ajoelhando-me diante do Senhor, orei: ‘Senhor, faz com que eu seja alguem que ministre a Ti, não ao templo”‘. Será que nós também poderíamos fazer esta oração?

Mas o que nós realmente queremos dizer quando falamos em servir a Deus ou servir ao templo? Aqui está o que a Palavra diz: “Mas os sacerdotes levíticos, os filhos de Zadoque, que cumpriram as prescrições do Meu santuário, quando os filhos de Israel se extraviaram de Mim, eles se chegarão a Mim, para Me servirem, e estarão diante de Mim, para Me oferecerem a gordura e o sangue, diz o Senhor Deus”. As condições básicas para qualquer ministério que realmente possa ser chamado de ministério ao Senhor são: chegar-se a Ele e estar diante Dele.

Freqüentemente, como achamos difícil chegar a Sua presença! Recuamos diante da solidão, e, mesmo quando nos separamos fisicamente, nossos pensamentos ainda ficam vagando. Muitos de nós gostam de trabalhar entre pessoas, mas quantos de nós se achegam a Deus no Santo dos Santos? Entretanto, é somente quando nos aproximamos Dele que podemos ministrar a Ele. Entrar na presença de Deus e ajoelhar-se diante Dele por uma hora exige toda a força que possuímos. Temos de ser rigorosos para manter essa posição. Contudo, todo aquele que serve ao Senhor conhece a preciosidade de tais momentos – a doçura de acordar à meia-noite e gastar um tempo em oração, ou acordar bem cedo de manhã e levantar-se para um tempo de oração, antes de terminar o sono noturno. Deixem-me ser bem franco com vocês: a menos que realmente saibamos o que é achegar-se a Deus, não poderemos saber o que é servi-Lo. É impossível permanecer distante e ainda ministrar a Ele. Não podemos servi-Lo à distância. Há somente um lugar onde é possível ministrar a Ele, e esse é o Lugar Santo. No átrio exterior você se aproxima das pessoas; no Lugar Santo você se aproxima do Senhor.

A passagem que citamos enfatiza a necessidade de nos achegarmos a Deus, se quisermos ministrar a Ele. Também fala de permanecer diante Dele para ministrar. Parece-me que hoje todos estamos querendo nos movimentar; não conseguimos permanecer quietos. Há tantas coisas reclamando nossa atenção que estamos constantemente ocupados, não conseguimos parar por um instante. Uma pessoa espiritual, entretanto, sabe como permanecer quieta. Ela consegue permanecer diante de Deus até que Ele torne Sua vontade conhecida. Ela consegue ficar quieta e esperar as ordens.

Quero dirigir-me especialmente a meus cooperadores. Posso perguntar-lhes: todo o seu trabalho não é invariavelmente organizado e executado de acordo com um cronograma? E ele não tem de ser feito com grande pressa? Vocês podem ser persuadidos a fazer uma parada e não se mover por algum tempo? Isso é o que se menciona aqui: “chegarão (…) para Me servirem”.

Ninguém pode realmente ministrar ao Senhor e não conhecer o significado desta expressao: “Se chegarão a Mim, para Me servirem”. Tampouco pode alguém ministrar a Ele e não entender também esta expressão: “Estarão diante de Mim, para Me oferecerem”. Irmãos, vocês não acham que todo servo deve aguardar as ordens de seu amo antes de procurar servi-Lo?

Há somente dois tipos de pecado diante de Deus. Um é o pecado de rebelar-se contra os Seus mandamentos, isto é, recusar-se a obedecer quando Ele dá ordens. 0 outro é o pecado de avançar quando o Senhor não deu as ordens. 0 primeiro é rebelião; o segundo é presunção. Um é não fazer o que o Senhor exigiu; o outro é fazer o que o Senhor não exigiu. Ficar diante do Senhor trata com o pecado de fazer o que Ele não ordenou.

Irmãos e irmãs, quanto do trabalho que vocês fizeram foi baseado numa ordem clara do Senhor? Quanto vocês fizeram por causa de Suas instruções diretas? E quanto vocês fizeram simplesmente porque aquilo que fizeram era bom de se fazer? Deixem-me dizer-Ihes que nada prejudica tanto os interesses do Senhor como uma “coisa boa”. “Coisas boas” são o maior empecilho para o cumprimento de Sua vontade. Quando nos deparamos com qualquer coisa maligna ou impura, imediatamente reconhecemos nisso algo que o cristão deve evitar, e, por essa razão, as coisas que são evidentemente malignas não são tanto uma ameaça ao propósito de Deus como as coisas boas. Vocês podem pensar: “Isso não seria errado”, ou: “Aquilo é a melhor coisa que poderia ser feita”. Assim, vocês vão em frente e agem sem parar para perguntar se isso é a vontade de Deus. Oh, todos nós que somos Seus filhos sabemos que não devemos fazer nenhum mal, mas pensamos que uma vez que nossa consciência não proíbe tal coisa, ou se algo nos parece positivamente bom, isso é motivo suficiente para irmos em frente e fazê-lo.

Aquilo que vocês pensam fazer pode ser muito bom, mas vocês estão permanecendo diante do Senhor, aguardando Sua ordem a respeito daquilo? “Estarão diante de Mim” envolve permanecer na Sua presença e recusar a mover-se até que Ele dê Suas ordens. Ministrar ao Senhor significa isso. No átrio exterior é a necessidade humana que governa. Simplesmente permita que alguém venha para sacrificar um boi ou uma ovelha, e há trabalho para você fazer. No Santo dos Santos, entretanto, há completa reclusão. Alma nenhuma entra. Aqui, nenhum irmão ou irmã nos governa, nem alguma comissão determina nossas ações. No Santo dos Santos há somente uma autoridade – a do Senhor. Se Ele me designa uma tarefa, eu a realizo; se Ele nada me designa, eu nada faço.

Algo, porem, é exigido de nós quando permanecemos diante do Senhor e ministramos a Ele. Requer-se de nós que Lhe ofereçamos “a gordura e o sangue”. 0 sangue responde às exigências de Sua santidade e justiça; a gordura vai ao encontro de Sua glória. O sangue trata com a questão de nosso pecado; a gordura trata com a questão de Sua satisfação. O sangue remove tudo o que pertence à velha criação; a gordura introduz a nova. E isso é algo mais do que doutrina espiritual. Nossa vida da alma foi envolvida no derramamento de Sua alma até a morte. Quando derramou Seu sangue eternamente incorruptível, Ele não só estava derramando a própria vida, mas também toda a vida que o homem tinha por nascimento natural. Ele não só morreu, mas ressuscitou dentre os mortos e “a vida que agora vive, vive para Deus”. Ele vive para a satisfação de Deus. Ele oferece “a gordura e o sangue”. Nós tambem, que queremos ministrar ao Senhor, precisamos oferecer a gordura e o sangue. E o impossível é possível com base no que Ele fez.

Tal ministério, porém, está confinado a certo lugar: “Eles entrarão no Meu santuario, e se chegarão a Minha mesa, para Me servirem, e cumprirão as Minhas prescrições” (v. 16). 0 ministrar que é “a Mim” é no santuário interior, no lugar oculto, não no átrio exterior, exposto à vista pública. As pessoas podem pensar que não estamos fazendo nada, mas o serviço a Deus dentro do Lugar Santo transcende em muito o serviço ao povo no átrio exterior. Irmãos e irmãs, aprendamos o que significa permanecer diante do Senhor aguardando Suas ordens, servindo somente sob Seu comando e sendo governados por nenhuma outra coisa senão a Sua vontade.

A mesma passagem nos fala como devem se vestir os que ministram ao Senhor: “Usarão vestes de linho; não se porá lã sobre e1es, quando servirem nas portas do átrio interior, dentro do templo. Tiaras de linho lhes estarão sobre as cabeças, e calções de linho sobre as coxas”. Os que ministram ao Senhor não podem usar lã. Por que não? A razão é dada a seguir: “Não se cingirão a ponto de lhes vir suor” (vv. 17,18). Nenhuma obra que produz suor é aceitáve1 ao Senhor. Afinal, que significa suor? Todos sabemos que a primeira vez que suor é mencionado nas Escrituras foi quando Adão foi expulso do jardim do Éden. Depois que Adão pecou, Deus pronunciou esta sentença: “Maldita é a terra por tua causa: em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida (…) no suor do rosto comerás o teu pão” (Gn 3.17,19). Está claro que suor é uma condição de maldição. Porquanto a maldição estava na terra, ela cessou de dar seu fruto sem o esforço do homem, e tal esforço produzia suor. Quando a bênção de Deus é retirada, torna-se necessário o esforço carnal, e isso causa suor.

Toda obra que produz suor é positivamente proibida àque1es que ministram ao Senhor. Ainda hoje que dispêndio de energia há em obras feitas para Ele! Ah! poucos cristãos hoje podem fazer qualquer obra sem suor. A obra deles envolve planejamento e esquematização, exortações e instâncias, e muita correria.

Não pode ser feita sem grande zelo carnal. Hoje em dia, se não houver suor, não poderá haver obra. Antes de ser empreendida qualquer obra para Deus, há muita correria para lá e para cá, fazendo-se muitos contatos; há consultas e discussões, obtendo-se, por fim, a aprovação de diversas pessoas antes de ir em frente. Quanto a esperar quieto na presença de Deus e buscar Suas instruções, isso está fora de questao. No entanto, numa obra espiritual, o único fator a
ser levado em conta é Deus. A única Pessoa que se deve contatar é Deus. Oh! esta é a preciosidade da obra espiritual: ela está relacionada com Deus. E em relação a Ele há uma obra a ser feita, mas é obra que não produz suor. Se tivermos de divulgar a obra e utilizar grande esforço para promovê-la, então, é  óbvio que ela não brota da oração na presença de Deus. Por favor, acompanhe-me quando digo que toda obra que é realmente espiritual é feita na presença de Deus. Se você trabalhar realmente na presença de Deus, ao entrar na presença dos homens, eles responderão. Você não terá de usar meios sem fim para ajudá-los. Obra espiritual é obra de Deus, e quando Deus trabalha, o homem não precisa despender muito esforço, a ponto de suar.

Irmãos e irmãs, vamos, com toda honestidade, examinar a nós mesmos diante de Deus hoje. Vamos perguntar-Lhe: “Estou servindo a Ti ou estou servindo à obra? 0 meu ministério é ‘para o Senhor’ ou é ‘para a casa’?” Se você está suando o tempo todo, então, você mesmo pode chegar à conclusão de que está servindo à casa e não ao Senhor. Se toda a sua atividade está relacionada com a necessidade humana, você pode ficar ciente de que está servindo a homens, não a Deus. Não estou desprezando o trabalho de imolar sacrifícios no altar; é uma obra para Deus e alguém tem de fazê-la, mas Deus quer algo mais do que isso.

Deus não pode garantir todos para o serviço a Si mesmo, porque muitos dos que são Seus relutam em abandonar a emoção e a excitação do átrio exterior. Eles são propensos a servir às pessoas. Mas, e quanto a nós? Oh, que digamos hoje ao Senhor: “Eu estou disposto a renunciar às coisas; eu estou disposto a renunciar à obra; eu estou disposto a renunciar ao átrio exterior e quero servir-Te no santuário interior”.

Quando Deus não conseguiu trazer todos os levitas ao local onde deviam ministrar a Ele, Ele escolheu os filhos de Zadoque dentre eles para este serviço especial. Por que Ele selecionou os filhos de Zadoque? Porque, quando os filhos de Israel se desviaram, eles reconheceram que o átrio exterior ficara irreparavelmente corrompido e por isso não procuraram preservá-lo, mas encarregaram-se de preservar a santidade do Lugar Santo.

Irmãos e irmãs, vocês conseguem suportar a idéia de abandonar a estrutura externa ou persistirão em montar uma proteçãao para preservá-la? É o Lugar Santo que Deus deseja preservar – um lugar totalmente separado para Ele, um lugar em que o padrão é absoluto. Oh! eu lhes suplico, diante de Deus, que ouçam Seu chamado para renunciar ao átrio exterior e a se devotar a Seu serviço no Lugar Santo.

Gosto de ler em Atos 13 sobre os profetas e mestres na igreja em Antioquia: “Servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse 0 Espirito Santo: Separai-me agora a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado”. Ali vemos o único princípio que governa a obra para Deus na dispensação do Novo Testamento. 0 Espírito Santo comissiona homens para a obra somente quando eles estão ministrando ao Senhor. Se o ministrar ao Senhor não for a única coisa que nos governa, a obra ficará em confusao. No início da história da igreja em Antioquia, o Espírito Santo disse: “Separai-Me agora a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado”. Deus não quer voluntários para Sua obra; Ele quer convocados. Ele não terá você pregando o evangelho só porque você quer. A obra do Senhor hoje está sofrendo sério dano nas mãos de voluntários; faltam aqueles que podem dizer como Ele: “Aquele que Me enviou”. Oh, irmãos e irmãs, a obra de Deus é Sua própria obra e não uma obra que você pode abraçar a seu bel-prazer. Nem igrejas, nem sociedades missionárias, nem equipes de evangelização podem enviar homens para trabalhar para Deus. A autoridade para comissionar homens não está nas mãos de homens, mas tão-somente nas mãos do Espírito de Deus.

Servir ao Senhor não significa que não servimos ao nosso próximo, mas significa que todo serviço a homens tem o serviço ao Senhor como sua base. É o serviço a Deus que nos impele a servir ao homem.

Lucas 17.7-10 nos diz claramente o que o Senhor quer. Há dois tipos de obra mencionadas aqui: arar o campo e guardar o gado. Ambas são ocupações muito importantes, ainda que o Senhor diga que, até mesmo quando um servo retorna de tal trabalho, espera-se que ele providencie a satisfação de seu amo antes de sentar-se para desfrutar sua própria comida. Quando voltamos de nossa labuta no campo, estamos aptos para complacentemente meditar no muito trabalho que executamos, mas o Senhor poderá dizer: “Prepara-Me a ceia, cinge-te”. Ele exige o ministrar a Ele. Podemos ter labutado num campo bem grande e cuidado de muitas ovelhas, mas toda a nossa labuta no campo e junto ao gado não nos isenta de ministrar à propria satisfação pessoal do Senhor. Essa é a nossa suprema tarefa.

Irmãos e irmãs, estamos realmente atrás de quê? Somente trabalhar no campo? Somente pregar o evangelho aos incrédulos? Somente cuidar do gado? Somente cuidar das necessidades dos salvos? Ou será que estamos cuidando a fim de que o Senhor coma para Sua plena satisfação e beber até que Sua sede seja saciada? Realmente, é-nos necessário também comer e beber, mas isso só deve acontecer após o Senhor estar satisfeito. Nós também precisamos ter nosso desfrute, mas isso jamais poderá ocorrer antes que o gozo do Senhor seja pleno. Perguntemo-nos: nosso trabalho ministra para nossa satisfação ou para a satisfação do Senhor? Temo que, ao trabalharmos pelo Senhor, freqüentemente ficamos satisfeitos antes que Ele fique satisfeito. Muitas vezes ficamos tão felizes com nossa obra enquanto Ele não encontra prazer algum nela.

Irmãos e irmãs, quando fizemos o melhor, ainda temos de admitir que somos servos inúteis. Nosso objetivo não é ministrar ao mundo, nem à igreja, mas ministrar ao Senhor. E bem-aventurados aqueles que conseguem diferenciar entre ministrar aos pecadores ou aos santos e ministrar a Ele. Tal discernimento não é facilmente adquirido. Somente mediante um tratamento drástico aprenderemos a diferença entre ministrar ao próprio Senhor e ministrar à casa.
No entanto, se o Espírito Santo tiver Seu caminho em nossa vida, Ele proverá de acordo com a necessidade. Busquemos a graça de Deus a fim de que Ele nos revele o que realmente significa ministrar a Ele!

(Doze Cestos Cheios, vol. 2, Editora Árvore da Vida)

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Chamado para apóstolo (Dr. David Martyn Lloyd-Jones)

“Servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho…” (Romanos 1:1)

Neste texto vemos três declarações:

1) SERVO DE CRISTO – Paulo enfatiza a pessoa de Cristo. Jesus é o centro da vida do apóstolo e por isso ele O serve. Antes ele o perseguia quando perseguia os cristãos (“Saulo, Saulo, por que me persegues?” Atos 9:4).

Mas Paulo não apenas fala de ser servo de Jesus, mas que Jesus é o Messias, O Cristo, O Ungido de Deus para realizar a obra salvífica do seu povo. Paulo sempre fala de Jesus como aquele que padeceu na cruz; era sua pregação: Cristo crucificado! Este era o propósito de Jesus ao vir ao mundo. Mas o apóstolo sempre dizia que este Jesus Salvador era o Messias prometido, o Cristo.

Por isso Paulo afirma que Jesus Cristo é o tema da sua pregação – Cristo e este crucificado. Este é um grande ensino para nós pois o que deve caracterizar um servo do Senhor é que ele proclame Cristo crucificado. Deve ser esta a nossa prova de fé. Ele é o centro da nossa vida? O centro da nossa mensagem ao mundo? Paulo era assim. Só nos primeiros 14 versículos da Epístola aos Efésios Paulo menciona a palavra Jesus 15 vezes. Acontece isso conosco? Ou preferimos contar nossas experiências achando que com isso pregamos o evangelho? Isto não é evangelho! Evangelho é Cristo. Quanto mais crescemos na graça, menos falamos de nós e mais falamos de Jesus Cristo.

Por isso Paulo se vangloriava em ser servo de Jesus . A palavra correta no original é “escravo” (servo). O que ele está afirmando é que é “escravo de Cristo”. Quando Paulo diz em I Co 6:19-20, que somos templo do Espírito Santo conclui dizendo que não somos mais de nós mesmos porque fomos “comprados por preço”. É como se ele estivesse dizendo: “Vocês não percebem que seus corpos são templo do Espírito Santo e não são de vocês mesmos? Que não têm o direito de fazer o que bem desejarem com seus corpos pois foram comprados pelo preço do sangue de Cristo? Não percebem que foram libertos da escravidão pelo precioso sangue de Cristo? Foram livres da escravidão de satanás para servirem ao Deus vivo e verdadeiro?”. Isto é o que significa ser redimido.

Nós nascemos escravos do diabo (Ef. 2:1-3) e fomos libertos por aquele que é o único que pode nos libertar por aquele que é o caminho que pode nos libertar – Cristo e seu precioso sangue. É o que Pedro diz em I Pedro 1:18-19. Somos agora livres de Satanás e pertencemos a Cristo. Ele nos comprou, agora somos cativos dEle. Ele é nosso Senhor. Concluímos que jamais somos livres. Livres, sim, de Satanás e do pecado, mas escravos de Cristo, a Ele servimos.

Possivelmente quando Paulo disse: “Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Cl 2:20), estava se referindo a esta escravidão à pessoa a quem se ama e se honra. Em II Co 2:14, Paulo usa a figura dos súditos de um grande general que depois de ter feito uma grande conquista, entra triunfante na cidade em um desfile militar com as pessoas capturadas na guerra por este general que estão em volta dele.

Paulo diz que ser escravo de Cristo o constrange a pregar e o que seria dele se não pregasse o evangelho. Tudo por devoção a Cristo, porque Ele o livrou do mercado de escravos, o conquistou para Si. Agora é um escravo voluntário. Um escravo que ama seu Senhor. Este é um grande exemplo para nós. Aliás esto aconteceu conosco. Aconteceu mesmo? Você sente-se assim? Você não mais se pertence, mas pertence ao seu Senhor?

2) “CHAMADO PARA SER APÓSTOLO”.

Temos de entender bem estas duas palavras. Isso por causa do contexto em que vivemos hoje. Há muita confusão na Igreja de hoje.

O que um apóstolo? Paulo, no sentido geral era um servo de Cristo, mas num sentido especial era um apóstolo.

Por que diz que foi “chamado” para ser apóstolo? Porque Paulo se preocupa logo no início desta Epístola em dizer que foi chamado para ser apóstolo? Bem, muitas pessoas naquela época estavam questionando Paulo como apóstolo, eram seus opositores e assim Paulo era difamado. Era considerado um falso apóstolo. Estava apenas representando. Diziam que ele nunca havia estado com Jesus. Mas Paulo diz claramente e com vigor que era tão apóstolo como os doze.

O que é um apóstolo? É um ofício muito especial e peculiar. Uma prova disto é que Jesus chamou os 12 discípulos (Mt 10) e “…deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para expulsarem, e para curarem toda enfermidade e todo mal”. No v.1, Mateus os chama de discípulos e no versículo 2 muda para apóstolos. Por que isso? Porque nem todo discípulo era apóstolo. Só alguns discípulos tornaram-se apóstolos.

Provamos isso ao ler Lucas 6:12-13. “…chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze dentre eles, aos quias deu também o nome de apóstolos”. Somente doze dos discípulos foram nomeados e escolhidos.

A palavra “apóstolo” vista nos dicionários é alguém “enviado”. Às vezes este termo é usado com este significado no Novo Testamento, porém é mais que isto. O termo diz que é um enviado com uma missão a quem são dados poderes para cumpri-la. Na Bíblia, “apóstolo” é alguém escolhido e enviado a uma missão especial como representante autorizado de quem o envia.

Quais as marcas e sinais de um apóstolo?

1. Teria que ser testemunha do Senhor ressurreto.

Em Atos vemos os apóstolos reunidos no cenáculo conversando sobre quem substituiria a Judas Escariotes. No cap. 1:21-22 lemos: “É necessário pois, que, dos homens que nos acompanham todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós , começando no batismo de João, até ao dia em que dentre vós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição”.

Paulo diz que viu Jesus ressurreto: “Não sou, porventura livre? Não sou apóstolo? Não vi a Jesus, Nosso Senhor?” (I Co 9:1). Era ele dizendo que vira Jesus ressurreto no caminho de Damasco e era testemunha disto.

2. O apóstolo tinha de ter um chamado especial para exercer este ofício. Ele foi chamado pelo próprio Senhor.

3. Era alguém a quem foi dada autoridade e comissão de operar milagres. Isso fica bem claro em II Co 12:12 – “Pois as credenciais do meu apostolado foram manifestados no meio de vós com toda a persistência, por sinais prodígios e poderes miraculosos”. Era como se ele dissesse: “Como vocês podem questionar meu ofício de apóstolo se as minhas credenciais foram apresentadas claramente entre vós”. Sinais, milagres e atos maravilhosos.

4. Os apóstolos tinham poder para dar e comunicar dons espirituais a outros; podiam transmitir o Espírito Santo pela imposição das mãos (Atos 8:17). Isso significava sinal de autoridade da sua comissão.

5. O apóstolo tinha autoridade para ensinar e definir a doutrina firmando as pessoas na verdade.

6. Tiveram autoridade para estabelecer a ordem nas igrejas. Nomeavam os presbíteros, decidiam questões disciplinares e questões doutrinárias ( ensino e doutrina. Falavam com autoridade do próprio Jesus: “…mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito”(Jo 14:26).

Tudo isso tem conseqüências importantes:

a) Falavam com autoridade vinda de Deus.

b) Eram representantes de Cristo e as pessoas os ouviam como quem falava da parte de Deus. Por isso Paulo diz aos crentes da igreja de Tessalônica: “…é que tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homens e, sim, como em verdade é a palavra de Deus…”(I Ts 2:13). Paulo está lembrando que eles não estavam ouvindo (lendo) palavras de homens. Deus dera autoridade para edificar não só aos crentes de Tessalônica, mas de Corinto: “…a respeito da nossa autoridade, a qual o Senhor nos conferiu para edificação…” (II Co 10:8). Ou ainda: “Portanto, escrevo estas cousas, estando ausente, para que, estando presente, não venha a usar de rigor segundo a autoridade que o Senhor me conferiu para edificação…” (II Co 13:10). Era uma autoridade excepcional que somente Deus podia dar; uma palavra inspirada, infalível.

Uma prova disso se vê quando Pedro diz: “…como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada…nas quais há certas cousas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras”… (outras Escrituras) – II Pedro 3:16. Aqui Pedro está igualando o que Paulo escreveu às demais Escrituras do VT. Pedro está dizendo que Paulo escreveu Bíblia.

As palavras escritas pelos apóstolos têm autoridade divina – Os apóstolos foram comissionados pelo Senhor Jesus Cristo e foram guiados e dirigidos pelo Espírito Santo. São palavras divinamente inspiradas. Lembremo-nos que foi Jesus que deu autoridade aos seus servos, os apóstolos, como Paulo. Se alguém disser que só crê no que Jesus disse, responda dizendo que esta afirmação é contraditória pois o próprio Jesus que deu autoridade ao Seu servo, aos apóstolos que reconheceram, como Pedro, que Paulo escrevera de forma tão inspirada como o VT.

Quando a igreja primitiva chegou a definir e determinar o Cânon do Novo Testamento, pois havia muitos escritos cristãos, o Espírito Santo levou a Igreja a decidir desta maneira: ela dizia que, se um documento que pretendesse ser um Evangelho ou Epístola, e não pudesse ser rastreado direta ou indiretamente, até as suas raízes num apóstolo, alguém com autoridade apostólica, ele não devia ser incluído. A prova era a apostolicidade, o caráter apostólico na determinação do Cânon do Novo Testamento. Por que? Porque um apóstolo é um homem dotado de autoridade única, autoridade de fazer doutrina, de fazer Bíblia. O Senhor guiou a Paulo pelo Seu Espírito Santo, o Senhor o chamou para ser apóstolo.

Por que Paulo se diz “chamado para apóstolo” e logo no início da Epístola? Sem dúvida Paulo queria deixar bem claro para os crentes de Roma que ele era verdadeiramente um apóstolo. Como seria bom que hoje, os que se dizem apóstolos mostrassem as credenciais que Paulo mostrou. Sem dúvida não teriam estas credenciais e por isso não são Apóstolos. Na carta que ele escreve à igreja da Galácia, Paulo é mais enfâtico ainda quando diz: “Paulo, apóstolo, não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos…” (Gl. 1:1).

Paulo aqui está dizendo àqueles crentes que não pensem de forma errada que ele mesmo havia se declarado apóstolo como hoje se faz. Não! Os falsos mestres é que fazem isso. Ele diz claramente que é apóstolo, “não da parte de homens, nem por intermédio de homens, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai”. Paulo foi “chamado”, escolhido pelo ato soberano de Jesus Cristo. Havia sido chamado da mesma forma que os doze e tinha a mesma autoridade. Paulo diz isso de si mesmo.

Há algo admirável aqui. O Senhor escolhe um homem para apóstolo, quando antes este mesmo homem tinha sido um dos seus maiores inimigos. Um homem com quem Jesus não estivera durante Seu período aqui no mundo, quando encarnado; alguém que não ouvira Seu ensino, não vira Seus milagres, que não O vira na cruz, que não estivera com os doze no cenáculo quando lhes apareceu após a ressurreição; era um blasfemador, um perseguidor do cristianismo. Como pode ser isto? Mas o Senhor se revela a Paulo e o chama, exatamente como chamou aos outros. Lemos em 1Co 15:7 – “Depois, foi visto por Tiago, mais tarde, por todos os apóstolos e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo”. Ele está dizendo como Jesus lhe aparecera e o comissionara para ser apóstolo, mesmo depois do Pentecoste, mesmo depois do Senhor fazer várias revelações a pessoas especialmente escolhidas. Paulo vai a Damasco “respirando ameaças e mortes” e o Senhor aparece e o comissiona dizendo: “Mas levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isto te apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto das coisas em que me viste como daquelas pelas quais te aparecerei ainda, livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio para lhes abrir os olhos e convertê-los das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim” (Atos 26:16-18). Ele mesmo diz que não foi “desobediente à visão celestial” que teve. Um comissão de proclamar a verdade de forma autoritativa.

7. Não podemos esquecer desta outra marca do apostolado: A verdade lhe foi ensinada pessoalmente pelo Senhor. Em Gálatas 1:11-12 Paulo diz: “Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo”. Este evangelho não foi ensinado por outra pessoa,; se fosse ele não seria apóstolo. Ele ainda diz nesta epístola aos Gálatas que foi separado desde o ventre materno pela graça de Deus, quando revelou Jesus para que O pregasse entre os gentios e para isso não consultou a “carne e sangue”, nem subiu à Jerusalém para os que já eram apóstolos antes dele mas partiu para a Arábia e depois voltou para Damasco. Três anos depois vai à Jerusalém para avistar-se com Pedro (Gl.1:15-18). Ele vaia a Pedro, mas não para aprender com Pedro pois era igual aos demais apóstolos pois a verdade lhe fora dada pessoalmente por Cristo.

Por que isto é importante? Porque esta é uma credencial apostólica: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei…” (Co.11:23). Recebe diretamente de Jesus. Ele se iguala aos demais apóstolos nisso: “Porque eu sou o menor dos apóstolos….mas pela graça de Deus sou o que sou…portanto, seja eu, ou sejam eles, assim pregamos e assim crestes” (I Co 15:9-11). Ele foi tão apóstolo como Pedro. Ao comissioná-lo o Senhor o chamou para ir aos gentios: “Dirijo-me a vós outros, que sois gentios! Visto, pois, que eu sou apóstolo dos gentios, glorifico o meu ministério” (Rm 11:13).

O que Paulo deseja, é que os crentes de Roma compreendam que ele é realmente apóstolo de fato e de direito. Por que esta ênfase? Porque muitos naquela época estavam se dizendo apóstolos. Em Apocalipse 2:2: “…puseste à prova os que a si mesmo se declaram apóstolos e não são, e os achastes mentirosos”. Isto ér muito prático pois estamos vivendo uma época em que muitos estão se dizendo apóstolos ou que são da sucessão apostólica. Isso não existe. A Igreja Católica não só afirma que o Papa é o vigário de Cristo, como também faz outra reivindicação: da sucessão apostólica. Mas não só a Igreja Católica, outros ramos ditos cristãos reivindicam esta sucessão apóstólica e isso é um grande argumento para terem bispos, terem um episcopado. É verdade que muitos que acreditam em bispos não aceitam a sucessão apostólica. Mas os Bispos da Alta Igreja Anglicana e Católicos costumam dizer que não existe igreja sem bispos, que isto é a essência da igreja.

Esta foi uma grande questão no século XVII e trouxe até divisão. Os bispos se diziam e ainda se dizem sucessores diretos dos apóstolos, mas “apóstolo’ é só aquele que viu e deu testemunho de Cristo ressurreto. A base para este pensamento não é bíblica e sim fruto da tradição. Isso é impossível. Além do mais Paulo diz que a Igreja Cristã é edificada “…sobre o fundamento dos apóstolos é profetas…” (Ef 2:20). Com certeza não continuamos a construir qualquer fundamento ou alicerce, pois é algo do começo da igreja. Esse alicerce que foi fincado sobre os apóstolos e profetas não continua sendo edificado. Desde que o Cânon se completou, não há mais necessidade de apóstolos. Não esqueçamos de que o ensino apostólico era autoritativo. Os apóstolos falavam como homens enviados por Deus de maneira tão inspirada como os profetas do Velho Testamento.

Por isso, ao termos as Escrituras do Novo testamento — O Cânon do NT — já temos todo ensino autorizado e não precisamos mais de apóstolos. Quando o Cânon não estava completo, os apóstolos e aqueles que estavam ligados a eles tinham uma função importantíssima: instruir a igreja que não tinha Bíblia completa. Uma vez completo o Cânon os apóstolos não mais existem.

Outra coisa interessante é que Paulo em I Co 1:1 diz: “Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão Sóstenes”. Sóstenes aqui é apenas citado como irmão. Não estaria Paulo sendo muito egoísta? Por que ele não chamou “eu e Sóstenes?”. Paulo sabia que ele era apóstolo e que Sóstenes, apezar de excelente e santo homem, não era apóstolo. Por isso, a expressão; “e o irmão Sóstenes”. A mesma coisa acontece com Timóteo, quando Paulo o trata como irmão mas diz antes: “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por vontade de Deus, e o irmão Timóteo” (Cl 1:1). Paulo não diz: “Timóteo é o homem que vem após mim, ele vai ser apóstolo por sucessão apostólica e assim pelos séculos afora”. Timóteo era apenas irmão e Paulo apóstolo, mas quando vemos em Fl.1:1 – “Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos …”. Quando Paulo se descreve como servo, ele e Timóteo são iguais, pois os dois são servos no mesmo nível. Mas quanto ser apóstolo, há uma diferença: Paulo o é e Timóteo não.

Toda pretensão de ser apóstolo hoje vai de encontro com o ensino do Novo Testamento acerca do sentido do termo. Quando pulamos frases como esta que mostra que Paulo foi chamado para ser apóstolo como um ofício especial que não se repete, percebemos o quanto é grave negligenciar a doutrina e caímos nos argumentos falsos dos falsos mestres.

“Separado para o evangelho”

Não significa apenas que foi colocado à parte para pregar o evangelho, mas Paulo está colocando seu chamado a um nível mais alto. Ele já havia dito que Deus o chamara para ser servo, para ser apóstolo e agora para ser “separado para o evangelho”.

O que significa ser “separado”? Significa “posta à parte”. Paulo tinha sido “posto à parte” para o evangelho. O que significa isto? Bem, Paulo está lembrando que antes ele era um perseguidor de Cristo, um fariseu de fariseu. Ora a palavra “fariseu” significa “separado” e os fariseus se colocavam à parte, não queriam nem ter contato físico com ninguém para não se contaminarem, não queriam nada com publicanos e pecadores. Era como se Paulo estivesse: “antes eu me separei a mim mesmo como fariseu, mas a grande verdade sobre mim é que fui separado pelo próprio Deus para esta grande obra que tenho o privilégio de realizar, parte da qual estou realizando agora quando escrevo esta Epístola”. Paulo está dizendo que ele teve uma falsa separação e uma verdadeira separação. Uma foi feita pelo homem e a outra foi feita por Deus.

Paulo havia sido chamado, “separado” desde o ventre materno (“Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou (“separou” – corrigida) pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios…” (Gl 1:15-16). É isso que ele quer dizer. Que Deus o separou “para o evangelho de Deus”. Paulo foi separado desde o ventre materno para esta obra. O mesmo aconteceu com Jeremias (“Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí profeta às nações” – Jm 1:5). O mesmo nós vemos acontecer com João Batista.

Percebemos que esta separação é um grau muito maior do que um simples chamado para ser “servo” como acontece com todos os cristãos. É verdade que ele foi chamado para ser apóstolo, mas ele diz que não parou aí, Deus o “separou para para o evangelho”. Deus pré ordenou Paulo para ser um pregador do evangelho. Aqui chegamos à grandiosa doutrina da soberania de Deus. Deus na Sua soberania o escolhe como Lhe apraz para executar um plano que Ele mesmo elaborara. Não foi nada acidental que Paulo tivesse tido uma educação grega e hebraica, que tivesse adquirido a condição de cidadão do Império Romano. Tudo foi elaborado e decretado por Deus. E Deus fez isso no tempo determinado por Ele.

Podemos concluir dizendo que a mesma coisa acontece com nossa salvação. É algo maravilhoso e ao mesmo tempo humilhante. Segundo Paulo, nossa salvação foi determinada antes da fundação do mundo (Ef.1). Antes da fundação do mundo nossos nomes estavam escrito no livro da vida do Cordeiro (Ap 13:8). Isso é algo assombroso! Assim como Deus separou Paulo para ser pregador do evangelho antes dele mesmo nascer, o mesmo é verdadeiro em relação a nós Especialmente aos pregadores ainda hoje. Será que os pregadores de hoje estão advertidos quanto a isto? Será que estão exercendo esta função para a qual foram “separados”?. Será que estão cumprindo os propósitos de Deus? Será que estão se dando conta de que Deus está com Seus olhos sobre nós? Será que estamos pregando o evangelho de Cristo? “Arrependei-vos e crede no evangelho”!

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