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Uma Linguagem Para a Oração Particular?

David Cloud

Pentecostais e carismáticos freqüentemente ensinam que há dois tipos de línguas descritos no Novo Testamento: as “línguas públicas” de Pentecoste e as línguas da “oração particular” de 1Coríntios 14:4 (“O que fala em língua desconhecida edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja.”) Alguns fazem essa distinção entre “ministério de línguas” e “línguas devocionais”.

Os primeiros líderes pentecostais entendiam que as línguas na Bíblia eram idiomas reais falados na Terra. Eles freqüentemente ensinavam poder ir para os campos missionários estrangeiros e testemunhar por meio de línguas miraculosas sem ter de aprender os idiomas. Aqueles que tentaram isso, no entanto, voltaram amargamente desapontados!

“Alfred G. Garr e sua esposa foram para o Oriente com a convicção de que poderiam pregar o evangelho nos idiomas hindu e chinês. Lucy Farrow foi para a África e voltou após sete meses, durante os quais ela alegou ter pregado aos nativos em seu próprio idioma Kru. O pastor e analista alemão Oskar Pfister registrou o caso de um pentecostal de nome ‘Simon’, que tinha planejado ir para a China e usar línguas para pregar. Numerosos outros missionários pentecostais embarcaram crendo que tinham a miraculosa habilidade de falar no idioma daqueles a quem foram enviados. Essas alegações pentecostais foram bem conhecidas em sua época. S.C. Todd, da Bible Missionary Society, investigou 18 pentecostais que foram para o Japão, a China e a Índia ‘esperando pregar aos nativos desses países na própria língua deles’ e descobriu que, por declaração deles mesmos, ‘em nenhum instante sequer eles foram capazes de fazer isso’. Por esses e outros missionários terem retornado em desapontamento e falha, os pentecostais foram compelidos a repensar seu ponto de vista original acerca do falar em línguas”.
(Robert Mapes Anderson, Vision of the Disinherited: The Making of American Pentecostalism)

A conclusão a que logo chegaram é que as “línguas” que falavam não eram terrenas, mas “celestiais” ou uma língua especial para oração; e esses são os termos que ouvimos freqüentemente em conferências carismáticas, tais como aquelas em New Orleans em 1987, Indianapolis em 1990 e St. Louis em 2000. As línguas que eu ouvi nessas conferências não eram idiomas de modo algum, mas meramente murmurações repetitivas que qualquer um poderia imitar. Larry Lea supostamente falou em línguas em Indianapolis em 1990, e esse é um exemplo-chave do que está sendo ensinado como línguas no movimento carismático. Aquilo se parecia com “Bubblyida bubblyida hallelujah bubblyida hallabubbly shallabubblyida kolabubblyida glooooory hallelujah bubblyida.” Eu escrevi isso conforme ele ia dizendo e, posteriormente, verifiquei com a gravação. Nancy Kellar, uma freira católica romana que estava no comitê executivo do encontro de St. Louis meeting em 2000, falou em “línguas” na noite de quarta-feira da conferência. Suas “línguas” eram algo como “Shananaa leea, shananaa higha, shananaa nanaa, shananaa leea”, repetido vez após vez após vez.

Se você acha que estou fazendo troça dessas pessoas, está enganado. Isso foi tirado diretamente das fitas cassete das mensagens. Se são idiomas, certamente teriam um vocabulário simples! Meus filhos tinham uma linguagem mais complexa do que isso quando tinham por volta de três anos.

Michael Harper diz:

“Na curta história da renovação carismática, falar em línguas em público tem se tornado raro, mas continuar a ser uma expressão vital de oração privativa”.
(These Wonderful Gifts, 1989, p. 97).

Ele diz que esse tipo de “línguas” é “uma linguagem de oração: um modo de comunicar-se mais efetivamente com Deus” (p. 92). Ele diz que essa experiência “edifica” mesmo sem haver entendimento:

“O homem ocidental moderno tem dificuldade de crer que falar palavras desconhecidas a Deus pode ser edificante. (…) Tudo o que alguém pode dizer é ‘tente e veja’. Ainda me lembro dos momentos em que, pela primeira vez, eu usei esse dom e a imediata percepção que tive de que estava sendo edificado. Essa é uma das mais importantes razões pelas quais o dom precisa ser usado regularmente na oração privada”.
(p. 93)

Harper diz que é misticamente consciente de estar sendo edificado mesmo quando não sabe o que está dizendo. Ele também diz que esse “dom precisa ser usado regularmente” e que, portanto, isso é importante para a vida cristã.

Para provar seu ponto de vista, ele simplesmente convida o observador cético a “tentar e ver”, relembrando-nos que a experiência é a maior autoridade para os carismáticos. (A idéia do “vem e vê” cria um novo problema, uma vez que a Bíblia nunca diz para “tentarmos as línguas” ou para buscá-las e nunca descreve como alguém pode aprender a falar em línguas. Na Bíblia, falar em língua é sempre uma atividade sobrenatural que é soberanamente dada por Deus.)

Mesmo alguns que não dizem ser pentecostais ou carismáticos têm essa experiência. Jerry Rankin, diretor da International Mission Board (Southern Baptist), diz que fala numa “linguagem de oração privada” e contrasta isso com a prática da “glossolália.”

“Eu tenho uma linguagem de oração privada há mais de 30 anos. Eu não considero que tenho o dom de línguas. Eu nunca fui levado a praticar a glossolália, você sabe, em público, e eu penso que, naquela passagem didática das Escrituras, claramente é falado dos dons para uso público, para edificação e os dons na igreja. (…) Eu nunca vi pessoalmente minha intimidade com o Senhor e o modo como Seu Espírito me guia em meu tempo de oração como sendo o mesmo que glossolália e sujeito àquele critério. (…) Eu quero apenas que Deus tenha liberdade para fazer tudo o que quiser em minha vida, e eu estou sendo obediente a isso.”

(“IMB president speaks plainly with state editors about private prayer language”, Baptist Press, Feb. 17, 2006).

É maravilhoso desejar fazer a vontade de Deus, não importando o que Ele conduza a fazer, mas Sua vontade nunca se opõe a Sua própria palavra nas Escrituras. Pelas seguintes razões, estamos convencidos de que a Bíblia não dá apoio à doutrina da “linguagem de oração privada”.

1) Se o falar em línguas de 1Coríntios 14 é diferente daquele de Atos 2, a Bíblia nunca explica a diferença

Nós deixamos as “línguas” no livro de Atos (a última menção está em Atos 19.6) e não as vemos até 1Coríntios 12–14. Se as “línguas” nessa epístola são de um tipo diferentes daquilo que são “línguas” em Atos, por que a Bíblia não o diz e não explica claramente o assunto para não haver confusão?

2) Paulo disse que o que fala em línguas edifica a si mesmo (1Co 14.4)

Isso não é possível a menos que as palavras possam ser entendidas, pois, em 1Coríntios 14, Paulo diz que entender é absolutamente necessário para edificação. No verso 3, ele diz que profetizar edifica porque conforta e exorta homens, obviamente referindo-se a coisas que são entendidas por quem ouve. No verso 4, ele diz que falar em línguas não edifica a menos que sejam interpretadas. Nos versos 16 e 17, ele diz que se alguém não entender alguma coisa não é edificado. As palavras não poderiam ser mais claras. Se não há edificação da igreja sem entendimento, como é possível que o crente individual seja edificado sem entendimento? Isso é confusão. A palavra “edificar” significa “construir na fé”. O dicionário Webster de 1828 define-a como “instruir e desenvolver a mente no conhecimento de modo geral e, particularmente, no conhecimento moral e religioso, na fé e na santidade.” As palavras “edificar”, “edificação”, “edificado” e “edificando” são usadas em 18 versículos no Novo Testamento, e sempre se referem a edificar, construir na fé por meio de instrução e viver piedoso. Por exemplo, em Efésios 4 o Corpo de Cristo é edificado por meio do ministério dos pregadores dados por Deus (vv. 11,12). Assim, o fato de Paulo dizer que quem fala em línguas edifica a si mesmo (1Co 14.4) é prova de que essa pessoa entende o que está dizendo.

3) Paulo diz que as línguas são um idioma terreno (1Co 14.20-22)

Se o falar em línguas em 1Coríntios 14 fosse algum tipo de “linguagem de oração privada”, por que Paulo daria essa explicação profética sobre isso e afirmaria dogmaticamente que elas são um idioma terreno? Ele não diz que somente alguns “tipos de línguas” são idiomas.

4) Em 1Coríntios 14.28, Paulo diz que quem fala em línguas fala para si mesmo e para Deus

“Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo e com Deus.” Isso significa que essa pessoa pode entender o que está falando. De outro modo, como poderia falar para si mesmo? Ninguém fala para si mesmo com “algaravias desconhecidas”.

5) Não há exemplos em 1Coríntios 14 de um crente falando em línguas privadamente e não há encorajamento para que isso seja feito

O que dizer do verso 28? “Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo e com Deus” (vv. 27,28). Isso nada diz sobre orar em línguas privadamente. Refere-se ao exercícios dos dons em uma reunião pública. Paulo diz que se não houver interpretação, o que fala em línguas deve manter silêncio e orar a Deus, mas ele nada diz sobre retirar-se e orar privativamente em línguas. Precisamos ler todos os versículos.

6) Se há uma “linguagem de oração privada” que edifique a vida dos cristãos e seja muito importante, a Bíblia a explicaria claramente e circunscreveria seu uso, como o faz com o uso das línguas na igreja.

7) Uma “linguagem de oração privada” que ajude o cristão a se fortalecer em sua caminhada com Cristo seria, sem dúvida, mencionada em outros lugares no Novo Testamento no contexto da santificação e do viver cristão

Porém, isso nunca é mencionado em qualquer outro contexto. Os apóstolos e profetas trataram de muitas situações nas epístolas do Novo Testamento e deram todas as coisas necessárias para o viver cristão santo, mas nunca ensinaram que o crente precisa falar numa “linguagem de oração privada” a fim de ter vitória espiritual ou para encontrar a direção de Deus ou para ser curado ou para conseguir dormir ou qualquer outra coisa. Se houvesse algo como uma “linguagem de oração privada” que edificasse a vida cristã e fizesse o cristão mais forte espiritualmente, Paulo teria, sem dúvida, instruído a igreja em Corinto a gastar mais tempo falando em línguas devocionais, mas ele não dá tal conselho.

8) Não é possível que falar em línguas seja uma parte necessária da vida cristã, porque Paulo claramente diz que nem todos falam em línguas (1Co 14:29,30)

Alguns irão perguntar: “Por que, então, Paulo diz: ‘Eu quero que todos vós faleis em línguas’ (v. 5)?” A resposta é que Paulo não está dizendo que todos deveriam falar em línguas ou que todos poderiam falar em línguas; ele está meramente expressando um desejo de que o exercício de dons espirituais fosse feito, e feito de maneira correta. Em 7.7, Paulo usa exatamente a mesma expressão no contexto do celibato: “Gostaria que todos os homens fossem como eu”. Não sabemos de qualquer pentecostal ou carismático que use essa declaração literalmente para ensinar que a vontade de Deus para todo crente é que permaneça solteiro, mas usam a mesma expressão em 14.5 como uma lei. Há uma estranha inconsistência aqui.

9) Todas as instruções neotestamentárias sobre oração indicam que ela é um ato consciente, espontâneo e inteligível por parte do crente e que ele fala a Deus em termos inteligíveis

Vemos isso nas instruções de Jesus sobre oração: “Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos ceús, santificado seja o teu nome; venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dá hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos induzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder e a glória para sempre. Amém” (Mt 6.5-13). Essa é uma oração consciente e compreensível. Vemos a mesma coisa nas instruções de Paulo sobre oração (e.g., Rm 15:30-32; Ef 6:18-20; Cl 4:2,3; Hb 13:18,19). Não há um exemplo registrado na Escritura de oração que seja algo diferente de uma conversa individual com Deus em termos conscientes e inteligíveis. Na verdade, Cristo proibiu o tipo de “orações” repetitivas que são comumente ouvidas entre os que praticam uma “linguagem de oração privada”: “E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos” (Mt 6.7). No entanto, freqüentemente ouço “orações em línguas” que soam como “Shalalama, balalama, shalalama, balalama, bubalama, shalalama, bugalala, shalalama”. O que quer que isso seja, não são as “línguas” do Novo Testamento e não é oração neotestamentária.

10) Se nós temos de concordar que 1Coríntios 14 se refere a uma “linguagem de oração privada”, isso não pode ser algo a ser aprendido ou ensinado

O que quer que seja descrito em 1Coríntios 14 é um milagre divino, mas isso é contrário à prática pentecostal-carismática, em que as pessoas são ensinadas a falar em “linguagem de oração”.

11) Usar o dom de línguas como uma “linguagem de oração privada” pode seu principal propósito, que é ser um sinal para o Israel incrédulo

O ex-pentecostal Fernand Legrand sabiamente observa:

“Por usar esse sinal em privado, alguns pensam que podem beneficiar-se de UM de seus aspectos, enquanto ignoram os outros, mas você não pode desmanchar um dom e reter somente um de seus componentes. Um carro é um objeto mecânico complexo que ou é dirigido como uma entidade ou não é dirigido de modo algum. Você não pode sair com as rodas e deixar o chassis e o motor na garagem. Quando um carro está andando, é o carro todo que se move. Do mesmo modo, LÍNGUAS NÃO DEVEM SER FATIADAS COMO UMA SALSICHA. Elas devem edificar quem fala E os outros E ser um sinal para os judeus incrédulos E serem inteligíveis ou serem traduzidas por interpretação. Elas têm de ser tudo isso ao mesmo tempo. O dom é inseparável desse único e imutável propósito: ser um sinal para os judeus que não crêem na oferta universal de salvação (At 2.17; 1Co 14:20,22)”.

(All about Speaking in Tongues, p. 67).

12) Apesar de eu ter ouvido muitos exemplos de “línguas devocionais” nos últimos 33 anos, eu nunca ouvi nada além de algaravias

O que eu tenho ouvido não são línguas de nenhum tipo, mas meramente murmúrios repetitivos que qualquer um pode imitar. As “línguas” de Larry Lea em Indianapolis, em 1990, eram alguma coisa assim: “Bubblyida bubblyida hallelujah bubblyida hallabubbly shallabubblyida kolabubblyida glooooory hallelujah bubblyida.” Eu escrevi o que entendi que ele estava dizendo e, mais tarde, verifiquei com a gravação. Nancy Kellar, uma freira católica romana que estava no comitê executivo do encontro de St. Louis em 2000, falou em “línguas” na noite de quarta-feira da conferência. Suas “línguas” eram uma repetição de “Shananaa leea, shananaa higha, shananaa nanaa, shananaa leea”. Isso foi tirado diretamente das fitas de áudio das mensagens. Se isso são línguas, elas certamente têm um vocabulário muito pobre!

13) A prática de aprender a como falar em línguas, que é popular entre pentecostais e carismáticos, é antibíblica e perigosa

Se tivermos de concordar que existe algo como uma “língua de oração privada” e que ela pode nos ajudar a viver uma vida cristã melhor e se temos de aceitar o desafio carismático de “tentar e ver”, a próxima questão é: “Como eu começo a falar nessa “linguagem de oração”? Um capítulo do livro These Wonderful Gifts (de Michael Harper) é intitulado “Letting Go and Letting God”, no qual o crente é instruído a parar de analisar as experiências tão cuidadosa e estritamente, a parar de “instalar alarmes” and “esconder-se nervosamente atrás de paredes de proteção”. Ele diz que o crente deve dar um passo de detrás de suas “paredes e sistemas infalíveis” e apenas abrir-se para Deus. Esse é um passo necessário, mas não bíblico e excessivamente perigoso, para receber as experiências carismáticas. Tendo parado de analisar tudo com as Escrituras, o método-padrão de experimentar o “dom de línguas” ou uma “linguagem de oração privativa” é que a pessoa abra a boca e comece a falar palavras, mas não aqueles que se podem entender, e alegadamente “Deus irá tomar o controle”.

Dennis Bennett diz:

“Abra a boca e mostre que você crê que o Senhor o batizou no Espírito por começar a falar. Não fale português ou qualquer outra língua que você conhece, pois Deus não pode conduzi-lo a falar em línguas se você falar num idioma que você conheça. (…) Exatamente como uma criança aprendendo a falar pela primeira vez, abra a boca e fale as primeiras sílabas e expressões que vierem aos seus lábios. (…) Você pode começar a falar, mas diga somente uns poucos sons gaguejantes. Isso é maravilhoso! Você está quebrando a ‘barreira do som’. Mantenha aqueles sons. Ofereça-os a Deus. Diga a Jesus que você O ama com aqueles ‘jubilosos barulhos’! Num sentido muito verdadeiro, qualquer som que você fizer, oferecendo sua língua a Deus com fé simples, pode ser o começo do falar em línguas.”

(The Holy Spirit and You, pp. 76, 77, 79).

Isso é tão grosseiramente carente de base bíblica e sem sentido que não parece necessário refutar. Não há absolutamente nada parecido com isso no Novo Testamento. Ignorar a Bíblia e buscar algo que ela nunca diz que devemos buscar de uma maneira que ela não apóia e abrir-se acriticamente para experiências religiosas como essa é colocar-se em perigo de receber “outro espírito” (2Co 11:4).

14) O fato é que as línguas na Bíblia eram idiomas terrenos, e isso é uma verdade fundamental

Uma doutrina acerca das línguas que reduz essa prática a meras algaravias de qualquer tipo que não seja uma língua real não tem base bíblica.

Pergunta: Se as línguas podem ser entendidas pelo que fala, por que Paulo diz: “Porque, seu eu orar em língua desconhecida, o meu espírito ora bem, mas o meu entendimento fica sem fruto” (1Co 14:14)?

Resposta: Os movimentos carismático-pentecostais encontram justificativa neste versículo para sua doutrina sobre ser o falar em língua algum tipo de comunicação que evite o intelecto e o entendimento. O pastor Bill Williams, de San Jose, Califórnia, diz que a consciência que alguém tem por meio da línguas está “além das emoções, além do intelecto. Isso transcende o entendimento humano” (“Speaking in Tongues–Believers Relish the Experience”, Los Angeles Times, 19.09.1987, B2). Charles Hunter diz: “A razão pela qual alguns de vocês não falarem [em línguas] fluentemente é que vocês tentam pensar nos sons. (…) Você não deve nem mesmo ter de pensar a fim de orar no Espírito” (Hunter, “Receiving the Baptism with the Holy Spirit”, Charisma, julho de 1989, p. 54).

Mas se 1Coríntios 14:14 significa que o que fala em línguas está falando “além de seu intelecto” ou algo assim, deve ser o único lugar na Escritura em que essa doutrina é encontrada. Em nenhum outro lugar a Escritura diz que o espírito do homem pode operar adequadamente sem o entendimento ou que Deus opera no espírito do homem de uma maneira que este não entenda a comunicação ou que exista certo tipo de nível espiritual de comunicação que passe por cima do entendimento. Nessa mesma epístola, Paulo disse: “Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem senão o espírito do homem, que nele está?” (2:11). Assim, o espírito do homem é aquela parte dele que conhece e entende. Efésios 4:23 diz que o crente deve ser “renovado no espírito de sua mente”. Obviamente isso envolve entendimento, pois Romanos 12:2 diz que somos “transformados pela renovação de vossa mente, a fim de que podeis provar a boa, perfeita e agradável vontade de Deus”.

Então, do que Paulo está falando em 1Coríntios 14:14? Muitos comentários dizem que ele está se referindo ao entendimento do que fala em línguas em relação ao entendimento de outros mais do que ao seu próprio.

Barnes: “Nada produz que seja útil para os outros. É como uma árvore estéril, uma árvore que nada traz que seja benéfico para os outros. Eles não podem entender o que eu digo, e, sem dúvida, eles não podem ser ajudados pelo que eu profiro.”

Adam Clarke: “… meu entendimento é infrutuoso para todos os outros, porque ele não entendem minhas oração e eu não as interpreto ou não posso fazê-lo.”

The Family Bible Notes: “…de acordo com o ponto de vista do outro, isso não traz frutos para os outros, uma vez que nada lhes comunica de modo inteligível”.

Jamieson, Fausset, Brown: “’entendimento’, o instrumento ativo de pensamento e raciocínio, o qual, neste caso, mostra-se ‘infrutuoso’ em edificar outros, uma vez que o veículo de expressão é ininteligível para eles”.

John Wesley: “’Meu espírito ora’: pelo poder do Espírito eu entendo as palavras por mim mesmo. ‘Mas meu entendimento é infrutuoso’: o conhecimento que tenho não traz benefícios para os outros.”

Matthew Henry:
“Mas seu entendimento pode ser infrutuoso (1Co 14:14), ou seja, o sentido e o significado de suas palavras podem ser infrutuosos, ele pode não entender nem, portanto, outros podem unir-se a ele em suas devoções.”

Treasury of Scripture Knowledge:
“Isto é, ‘não produz qualquer benefício para os outros.’”

O contexto de 1Coríntios 14:14 dá apoio a essa interpretação:

“Por isso, o que fala desconhecida ore para que a possa interpretar. Porque, se eu orar em língua desconhecida, o meu espírito ora bem, mas o meu entendimento fica sem fruto. Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento. De outra maneira, se tu bendisseres com o espírito, como dirá o que ocupa o lugar de indouto o Amém sobre a tua ação de graças, visto que não sabe o que dizes? Porque realmente tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado” (vv. 13-17).

Paul diz que quem fala em línguas precisa orar tanto com o espírito como com o entendimento, e é óbvio que ele está falando sobre o entendimento daqueles que estão ouvindo, pois ele diz: “De outra maneira, se tu bendisseres com o espírito, como dirá o que ocupa o lugar de indouto o Amém sobre a tua ação de graças, visto que não sabe o que dizes?”. Nos versículos 13 a 17, Paulo está dizendo que quem fala em línguas deve dar uma interpretação de suas línguas para que ele não seja o único que entende o que está sendo dito, porque se ele ora numa língua que não é interpretada, aqueles que ouvem não podem entendê-la e não podem, portanto, ser edificado.

(Atualizado e ampliado em 16 de agosto de 2006; publicado pela primeira vez em 6 de março de 2006. David Cloud, Fundamental Baptist Information Service, P.O. Box 610368, Port Huron, MI 48061, 866-295-4143, fbns@wayoflife.org. Distribuído por Way of Life Literature’s Fundamental Baptist Information Service. Para assinar o boletim: www.wayoflife.org/fbis/subscribe.html. O catálogo de livros pode ser encontrado em www.wayoflife.org/catalog/catalog.htm. Traduzido por Francisco Nunes.)

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