Gênesis 4.3-5 mostra que Caim ofereceu ao Senhor o fruto de uma terra amaldiçoada, e sem qualquer sangue para remover a maldição. Ele apresentou um sacrifício sem sangue simplesmente porque não tinha fé. Se ele possuísse esse princípio divino, teria compreendido, mesmo naquele tempo tão remoto, que “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9.22).
Esta é uma verdade fundamental: a pena para o pecado é a morte. Caim era pecador e, como tal, a morte estava entre ele e o Senhor. Porém, em sua oferta não havia nenhum reconhecimento desse fato. Não havia a apresentação de uma vida sacrificada para atender às exigências da santidade divina ou para responder a sua verdadeira condição de pecador. Caim tratou o Senhor como se este fosse inteiramente igual a ele, alguém que pudesse aceitar o fruto da terra amaldiçoada maculado pelo pecado.
Quando olhamos para o ministério do Senhor Jesus, percebemos, imediatamente, que, se Ele não tivesse morrido na cruz, todo o Seu trabalho teria se revelado inteiramente inútil quanto a estabelecer nosso relacionamento com Deus. Na verdade, Ele “andou […] fazendo o bem” (At 10.38) toda a vida, mas foi Sua morte que rasgou o véu (Mt 27.51). Nada a não ser Sua morte podia fazê-lo. Se Ele tivesse continuado, até este momento, apenas fazendo bem, o véu permaneceria inteiro para impedir que os adoradores se aproximassem do Santo dos Santos.
Consideremos agora o sacrifício de Abel. “Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura” (Gn 4.4). Em outras palavras, ele entrou, pela fé, na gloriosa verdade de que podia aproximar-se de Deus mediante um sacrifício, de que havia como um pecador pôr a morte de outrem entre si mesmo e a consequência de seu pecado, para que as exigências da natureza de Deus e os tributos de Seu caráter fossem satisfeitos pelo sangue de uma vítima imaculada – uma vítima oferecida para cumprir as exigências de Deus e as profundas necessidades do pecador. Essa é, em palavras breves, a doutrina da cruz, unicamente na qual a consciência de um pecador pode encontrar descanso, porque nela Deus é plenamente glorificado.
Tudo isso era muito simples. Abel merecia morte e juízo, porém achou um substituto. Assim é com todo o pecador carente, perdido, que tem em si a condenação e cuja consciência o acusa. Cristo é seu substituto, sua redenção, seu mais excelente sacrifício, seu tudo! Ele saberá, assim como Abel, que o fruto da terra nunca lhe poderá valer, que, mesmo que pudesse oferecer a Deus os mais saborosos frutos da terra, ainda teria uma consciência manchada pelo pecado, já que “sem derramamento de sangue não há remissão”. Os frutos mais requintados e as flores mais fragrantes, na maior profusão, não podiam remover uma simples nódoa da consciência. Nada senão o sacrifício perfeito do Filho de Deus pode dar alívio ao coração e à consciência. Todo aquele que pela fé se assegura dessa realidade divina desfrutará a paz que o mundo não pode dar nem tirar. É a fé que põe a alma na posse atual dessa paz. “Justificados, pois, pela fé, tenhamos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1).
“Pela fé Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício que Caim” (Hb 11.4).
(Condensado de C. H. Mackintosh, Notes on the Pentateuch)
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