Existem dois exemplos clássicos na Palavra de Deus concernentes à perda dos direitos pertencentes ao primogênito: um se encontra na história de Esaú e outro, na de Rúben.

Rúben e o direito de primogenitura

Rúben, o primogênito de Jacó estava para herdar o direito da primogenitura. Mas, por causa de um grave pecado cometido, Rúben perdeu esse direito. O pecado de Rúben que resultou na perda de seus direitos foi uma impropriedade sexual de tal natureza que desonrou e envergonhou o pai: “Foi Rúben e se deitou com Bila, concubina de seu pai” (Gn 35.22).

O que Rúben perdeu, perdeu para sempre.

O que Rúben perdeu, perdeu para sempre.

Por causa desse pecado, anos mais tarde, quando Jacó chamou a sua presença os doze filhos, pouco tempo antes de sua morte, para relatar o que deveria acontecer a eles “nos últimos dias”, Rúben ouviu as seguintes palavras: “Rúben, tu és o meu primogênito, minha força, e as primícias do meu vigor, o mais excelente em altivez e o mais excelente em poder. Impetuoso como a águia, não serás o mais excelente, porque subiste ao leito de teu pai e o profanaste; subiste à minha cama” (49.3,4). A tribo de Rúben, como Jacó profetizou, não se sobressaiu. De sua tribo não veio juiz, rei ou profeta. O que Rúben perdeu, perdeu para sempre. Mas ele mesmo permaneceu como filho de Jacó e foi abençoado em certa medida, mas não como primogênito.

O direito da primogenitura de Rúben foi dividido entre três de seus irmãos. O reino foi outorgado a Judá; o serviço sacerdotal, a Levi; e a porção dobrada foi concedida a José. A tribo de Judá tornou-se a linhagem real; a tribo de Levi, a linhagem sacerdotal; e a tribo de José recebeu a porção dobrada por intermédio de seus dois filhos, Efraim e Manassés, os quais receberam a herança (1Cr 5,1,2).

Durante o milênio, a condição criada pelo pecado de Rúben irá permanecer. O rei será da casa de Judá (Ap 5.5), o sacerdote, da família de Zadoque, o levita (Ez 44.15,16; 48.11), e a porção dobrada será possuída pela casa de José graças a Efraim e Manassés (Ez 47.13; 48.4,5).

Esaú e o direito de primogenitura

O direito da primogenitura havia sido perdido e estava fora do alcance de Esaú para sempre.

O direito da primogenitura havia sido perdido e estava fora do alcance de Esaú para sempre.

Esaú, assim como Rúben, perdeu seu direito de primogenitura. Na história de Esaú, toda a herança foi para seu irmão mais novo, Jacó. Esaú perdeu o direito de primogenitura para satisfazer a um prazer da carne. Ele vendeu seus privilégios a Jacó por um simples prato de lentilhas (Gn 25.27-34).

Visto que o direito da primogenitura havia sido prometido a Jacó (v. 23), alguns duvidam que Esaú realmente o possuíra. Entretanto, Esaú não foi apenas um pretendente a ele. No original grego, a palavra “vendeu” encontrada em Hebreus 12.16 implica que o objeto vendido pertencia somente a Esaú, e que ele estava perfeitamente cônscio de suas ações quando vendeu o direito de primogenitura a Jacó.

Em Gênesis 25.34 lemos que Esaú “desprezou” seu direito de primogenitura. No grego, na versão Septuaginta do Antigo Testamento, a palavra “desprezou” significa que Esaú considerou como insignificante e uma ninharia o direito de primogenitura. Ele o julgou de pouco valor e o vendeu convicto de que estava vendendo algo sem valor real. Só mais tarde, muito mais tarde, foi que Esaú verificou o valor do que havia vendido. Como na história de Rúben, a perda de seu direito a primogenitura não afetou sua filiação, mas alterou para sempre sua posição como primogênito de Isaque.

Após Jacó ter sido abençoado como primogênito da família, Esaú, aparentemente pela primeira vez, considerou o valor do que havia perdido. Tentou reaver esse direito, mas a Escritura relata que ele “não achou lugar de arrependimento”. Após conscientizar-se do valor do direito de primogenitura e do que havia ocorrido, implorou a Isaque, seu pai, para que mudasse sua decisão e o abençoasse também. Esaú clamou a Isaque: “Acaso tens uma única bênção, meu pai?” E nos é relatado que “Esaú levantou a voz e chorou” (27.38).

A palavra “arrependimento” significa mudar a mente de alguém. Esaú esforçou-se para mudar a decisão do pai, mas ele “não achou lugar para arrependimento”, isto é, não encontrou lugar para uma mudança de mente. A American Standard Version of the Bible (1901 ed.) tem provavelmente a tradução mais acurada de Hebreus 12.17 do que as encontradas em outras versões. Esse versículo na American Standard Version diz: “Sabeis que mais tarde, quando desejou herdar a bênção, foi rejeitado; não encontrou lugar para a mudança de mente de seu pai, embora se esforçasse com lágrimas”. Isaque não podia mudar a decisão que havia tomado. O direito da primogenitura havia sido perdido e estava fora do alcance de Esaú para sempre.

Os cristãos e o direito de primogenitura

Os cristãos naquele dia, levantarão suas vozes e chorarão ao se conscientizarem do que foi perdido, conforme aconteceu com Esaú na tipologia.

Os cristãos naquele dia, levantarão a voz e chorarão ao se conscientizar do que foi perdido, conforme aconteceu com Esaú na tipologia.

Existe na mente de muitos cristãos a idéia de que, após alguém crer no Senhor Jesus como Salvador, não importa a maneira como conduz a vida, porque todos os cristãos irão ser herdeiros com o Filho quando Ele receber o reino. Nada poderia estar tão distante da verdade. Reinar com Cristo depende de nossa identificação com Ele, compartilhando Sua rejeição e vergonha nos dias atuais. Se todos os cristãos devem governar e reinar com Cristo em Seu reino, o que quer dizer a Escritura ao declarar: “Se perseverarmos, também com Ele reinaremos; se O negarmos, Ele por Sua vez nos negará” (2Tm 2.12)? Se o cristão vive uma vida indisciplinada, segundo a natureza carnal (tipificada pela atitude de Esaú com relação ao direito de primogenitura), e não segundo a natureza espiritual (tipificada pela atitude de Jacó com relação ao direito de primogenitura), e falha em se ocupar até a vinda do Senhor (Lc 19.12,13), ou falha em usar o talento ou a mina confiada a ele pelo Senhor (Mt 25.14-30; Lc 19.15-24), esse cristão será desqualificado para ocupar um lugar no reino do Senhor.

Todo cristão é um primogênito de Deus aguardando a plena filiação e a herança pertencentes ao primogênito (Rm 8.16-23,29; Hb 2.10; 12.23). A plena filiação e a herança são futuras e podem ser perdidas, sendo uma intimamente relacionada com a outra. O parentesco do cristão com o Pai, como filho primogênito aguardando a plena filiação, não pode ser perdido, mas o parentesco como filho primogênito maduro e a participação dos direitos pertencentes ao primogênito podem ser perdidos. Conforme o registro de Esaú e Rúben, uma vez que ocorra, os direitos pertencentes ao primogênito não podem ser recuperados.

Naquele dia, quando estivermos de pé perante o Tribunal de Cristo, serão encontradas duas classes de cristãos: os que conservaram seus direitos como primogênitos e os que perderam esses direitos

Os cristãos que conservarem os direitos da primogenitura os exercitarão como “co-herdeiros” com o Filho no reino. Porém, os cristãos que os perderem se encontrarão na mesma posição de Esaú e Rúben se encontraram, buscando a perda dos direitos da primogenitura pertencentes ao primogênito. Esses cristãos buscarão lugar de arrependimento, isto é, tentarão mudar a mente do Juiz no sentido de abençoá-los juntamente com os outros que não perderam os direitos pertencentes ao primogênito. Todavia, não encontrarão lugar para mudança de mente. Será tarde demais. O direito da primogenitura terá sido perdido. A bênção com respeito à herança que aguarda os filhos primogênitos maduros de Deus será perdida, e os que a perdem não ocuparão nenhuma posição entre os “reis e sacerdotes” que reinam sobre a terra com o Filho. Os cristãos naquele dia levantarão a voz e chorarão ao se conscientizar do que foi perdido, conforme aconteceu com Esaú na tipologia.

“Venho sem demora; conserva o que tens para que ninguém tome a sua coroa” (Ap 3.11).

Clique aqui para ver o primeiro artigo desta série.


(Fonte: extinta revista A Palavra Profética (set-out/1987) – Nº 3. Revisado por Francisco Nunes. Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria, tradução, revisão e fonte e seja exclusivamente para uso gratuito. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)

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