Leitura Bíblica: João 4.1-15, 28, 29

Vamos examinar uma passagem bíblica que registra um incidente por demais maravilhoso. É a passagem em que o Senhor Jesus falou com uma mulher no último grau de degradação e ela veio a crer Nele.

“Deixou [o Senhor] a Judéia, retirando-se outra vez para a Galiléia. E era-lhe necessário atravessar a província de Samaria. Chegou, pois, a uma cidade samaritana, chamada Sicar (…) Estava ali a fonte de Jacó. Cansado da viagem, sentara-se Jesus junto à fonte, por volta da hora sexta. Nisto veio uma mulher samaritana tirar água” (vv. 3-7a). Note, por favor, que isto se passou à hora sexta quando uma mulher veio tirar água. Que horas eram? Sabemos que devia ser meio-dia. O Senhor Jesus, cansado da viagem, sentou-se junto à fonte para descansar um pouco. Ao mesmo tempo, uma mulher veio tirar água.

Ao ler o Antigo Testamento, notaremos que todas as vezes que as mulheres precisavam tirar água geralmente o faziam em grupo, cedo de manhã ou ao cair da tarde. Mas aqui, estando o sol no zênite e a temperatura mais elevada, veio uma mulher tirar água. Por que ela não tinha companhia? Será que ela não tinha vizinhas? Será que as outras mulheres não quiseram vir tirar água com ela? Com ela não vinha nem companheiro nem amigas. Por quê? Os versículos seguintes revelarão que era uma mulher por demais depravada e por isso a comunidade a colocara no ostracismo. Assim, ela veio tirar água na hora mais quente do dia.

Esta mulher era uma pessoa solitária. Ninguém a acompanhava; ninguém tinha misericórdia dela. Aos olhos de muitas mulheres, era pecadora, uma mulher imunda; por isso não podiam tirar água com ela. Não somente as pessoas tinham receio dela, mas ela também evitava o contato com outros. Se ela saísse para tirar água de manhã, ficaria com medo de que as pessoas, apontando-lhe o dedo, amontoassem escárnio sobre sua cabeça por ser uma mulher imoral. Se saísse ao cair da tarde, ficaria com medo de que as pessoas a vissem e ridicularizassem como a mais impura de todas as mulheres. De modo que ela preferia ir tirar água sozinha ao meio-dia. Não contando com a simpatia de ninguém, era uma mulher isolada, desprezada pelo mundo, e ela, por sua vez, desprezava o mundo.

Entretanto, ao chegar ao poço, ela encontra outra pessoa solitária. Assim como ela era solitária e desprezada, Ele também o era. Ela estava sozinha por causa de seus pecados; Ele estava sozinho por causa do ciúme dos homens. Ao encontrar-se esta pecadora solitária com o Salvador solitário ela foi salva!

“Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber” (v. 7b). Esta é uma expressão de intimidade. Geralmente temos medo de Deus, mas não temos medo daquele que nos pede água. Você pode ter medo de Deus, mas não terá medo do Deus que lhe pedir água. Você fica apavorado porque pensa em Deus como distante e terrível. Mas ao descobrir que a pessoa solitária, cansada e suada (assim como você é solitário, cansado, suado) é Deus, você crerá nela. Quão próximo está nosso Senhor, e quão amigos é dos homens!

“Então lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim que sou mulher samaritana? (…) Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e Ele te daria água viva” (vv. 9, 10). O motivo pelo qual a mulher samaritana falou desta maneira foi porque judeus e samaritanos não mantinham relações sociais. Mas a resposta do Senhor foi que se ela conhecesse duas coisas: (1) o dom de Deus; e (2) aquele que dizia: “Dá-me de beber”, ela lhe pediria e Ele lhe daria da água viva. É triste que muitas pessoas no mundo hoje não conheçam estas duas coisas. Você que agora está tomando consciência deste fato também pode ignorá-las. Talvez você se sinta deprimido, talvez você esteja cansado e a ponto de desmaiar por causa do fardo de pecados e da insatisfação da vida. O caminho deste mundo é deveras difícil e as ondas do mar pecaminoso da vida são altas. Mas se você tão-somente conhecesse estas duas coisas tudo estaria bem.

I. O Dom de Deus

Deus nunca vende nada. “Dom” significa algo dado gratuitamente. Deus sempre dá livremente aos homens. E dará a todo aquele que lhe pedir. Deus dá-nos a luz do sol sem cobrar nada por ela; dá-nos a chuva sem nos custar nada. Ele também lhe dará satisfação espiritual exatamente da mesma maneira.

Certa vez houve um filho que muito amava sua mãe. Ele pensou em comprar algumas flores para alegrar-lhe o coração. Mas tinha apenas dois centavos. Naquele dia ao ver um lindo jardim, entrou, pensando comprar algumas flores. Lá encontrou um cavalheiro a quem explicou seu desejo. O cavalheiro apanhou algumas flores e entregou-as a ele. O rapaz, polidamente, disse-lhe que não podia levar as flores sem pagar. Respondeu o senhor: “Minhas flores são sempre dadas gratuitamente. Se você as quiser, ofertá-las-ei”. Quem era o homem? O príncipe de Gales, e o jardim era o jardim real. As coisas reais nunca estão à venda.

Se você deseja prazer espiritual, pode tê-lo imediatamente, não precisa esperar até que sua situação melhore. É preciso muito esforço para escrever um livro, mas recebe-lo é muito simples. Toma tempo o preparo de uma boa refeição, mas pouco é o tempo para comer. É mister tempo e dedicação para fazer um vestido, mas para vesti-lo é preciso pouco de ambas as coisas. No caso de pesar interior e pressão de fora, você pode imediatamente obter conforto e poder se os desejar. Não é preciso fazer nada, Deus os dará a você. Os dons de Deus são gratuitos. Ele jamais vende coisa alguma.

O Evangelho de Lucas (15.11-24) registra a história do filho pródigo. Encontrando-se faminto “desejava ele fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam; mas ninguém lhe dava nada” (v. 16). É este o princípio do mundo: aquele que tem, tem, e o que não tem, não tem; um por um e dois por dois. Este é também o princípio do diabo. O mundo somente dará quando lhe é dado; jamais dá alguma coisa de graça. Se você nada tiver a oferecer, então deve entregar sua alma. Mas, para o filho pródigo, havia um lugar em que o dar era gratuito, e esse lugar era a casa de seu pai. Portanto, o melhor que o filho pródigo tinha a fazer era voltar para casa.

Um pouco antes ele havia exigido do pai: “Pai, dá-me a parte que me cabe dos bens” (v. 12); e o pai lhe dera sua porção. Mas ao voltar, tempos depois, para a casa do pai, tinha ele o direito de comer uma única refeição ou de usar uma única peça de roupa que pertencia ao pai? Não, pois tudo agora era por graça, visto que ele já tinha gasto a sua parte da herança. De modo que esta história nos mostra que a salvação de Deus nos é dada gratuitamente. Não é o quanto você lhe dá mas o quanto ele dá a você. Muitos pensam que se puderem fazer o bem e orar muito, talvez Deus se digne conceder-lhes a salvação. Este tipo de pensamento procede de nossa mente comercial. Deus nunca age deste modo.

Qual é o dom de Deus? Leiamos João 3. 16: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que Nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. Este dom não é ouro nem prata, mas o Filho de Deus. Deus enviou o seu Filho a fim de morrer por nós para que pudesse atribuir-lhe todos os nossos pecados. Disto vemos que Ele nos dá o Filho amado.

Gosto de ler João 3. 16 e João 1. 12 em conjunto. O primeiro versículo diz que Deus nos deu o seu Filho e o segundo diz que cabe a nós recebê-lo. Ele dá e nós recebemos. Há alguém que não sabe como ser salvo? Simplesmente receba o Filho de Deus. Não tente imitar a senhora que disse haver praticado boas obras por trinta anos na esperança de que Deus pudesse salvá-la. Tal ato só pode ser chamado de maldição do inferno. Pelo contrário, a Bíblia declara: “Todo aquele que invocar o nome de Senhor, será salvo” (Romanos 10. 13). Simplesmente invoque o nome do Senhor e será salvo. A Bíblia também declara: “Quem crê no Filho tem a vida eterna” (João 3. 36a). Se você tão somente crer, será salvo. Estas são as boas-novas de Deus.

II. O Cristo Enviado de Deus

Devemos conhecer não apenas o dom de Deus, mas também aquele que diz: “Dá-me de beber”. Pois aquele que se sentou junto à fonte, cansado e desprezado, é do dom de Deus. Saber que Deus concede dons e que dá de graça não é suficiente. É preciso saber que Cristo a quem os homens se opõem hoje é o dom de Deus. Este cansado, junto à fonte, este Jesus desprezado a quem as pessoas se recusam a adorar e Nele crer é o próprio dom de Deus. Muitas pessoas que vão para o inferno crêem que Deus existe. E a encabeçar a lista está o diabo, pois ele também crê na existência de Deus. Todos os que estão no inferno crêem em Deus nesses termos, mas ninguém que lá está crê em Jesus como Salvador; o dom de Deus. Este homem humilde a quem acusaram de ser filho ilegítimo, rebelde ao Império Romano, até mesmo imperialista, é o dom de Deus. Se você o conhecesse teria dito: “Tu és o dom de Deus, dá-me, pois, da água viva para que eu não mais tenha sede”.

III. O Caminho da Água Viva

“Tu lhe pedirias, e Ele te daria água viva” (João 4. 10b). Que tipo de gente recebe a água viva? Aqueles que a pedem. Você a obterá se tão-somente fizer o pedido: “Dá-me água viva.” Em muitos lugares tenho visto as pessoas dizerem simplesmente a Deus: “Ó Deus, salva-me”, e serem salvas naquele mesmo instante.

Você se lembra de ter lido na Bíblia a respeito de um imundo cobrador de impostos, que não ousava erguer os olhos para o céu e batia no peito, dizendo: “Ó Deus, se propício a mim, pecador!” (Lucas 18. 13b). Ele não levou cinco minutos para fazer essa oração, de fato, não seria preciso nem um minuto. O que disse o Senhor Jesus daquele cobrador de impostos? “Digo-vos que este desceu justificado para sua casa” (v. 14a). Em outras palavras, este homem foi salvo. Ainda em outros termos, este homem recebeu a vida eterna.

Lucas, o evangelista, registra também o caso de outra pessoa que durante a vida tinha cometido os pecados mais horrendos, tais como assassínios e incêndios. Finalmente foi preso e levado à cruz. Nesse dia ele viu crucificaram o Senhor ao seu lado. A princípio, juntamente com o outro ladrão, começou a zombar de Jesus. Mais tarde, seu coração moveu-se ao ouvir a oração de nosso Senhor na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”- Lucas 23.34. Começou a perceber que Jesus era diferente. Então pediu uma única coisa ao Senhor: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino” (Lucas 23. 42). Quanto tempo levaria para fazer esta oração? Cinco horas? Se levasse tanto tempo ele poderia ter morrido antes de terminá-la. Não, ele simplesmente pediu que o Senhor se lembrasse dele quando voltasse no seu reino. Qual foi a resposta do Senhor? “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso”(Lucas 23.43). Sim, deveras, ele foi salvo, justificado e recebeu a vida eterna.

Há aqui algum pecador que neste instante deseja olhar para Jesus e crer na Palavra de Deus? Se o fizer, será salvo. Disse o Senhor para a mulher: “Tu lhe pedirias, e Ele te daria água viva.”Se você já pediu, já recebeu a água viva. Ah, não é o que realizamos mas o que Deus faz. Não é por nossas obras, mas mediante a obra redentora de nosso Senhor. Não é o que somos, mas o que o Senhor é aos olhos de Deus.

IV. O Dilema da Mulher

Que respondeu a mulher? Disse ela: “Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva? “(v. 11). Ela tinha duas dúvidas: o Mestre não tinha com que tirar a água e o poço era fundo. O que ela queria dizer era: de onde iria esse estrangeiro tirar água viva se não tinha com que tirá-la nem conhecia a profundidade do poço? É esse o modo de reagir de todo incrédulo. Gostaria de ter a água viva para saciar-me a sede, mas quem pode medir a profundidade do poço da água viva? Está fora do alcance de mãos humanas. Anseio ser salvo, ter a vida eterna e ter o Espírito Santo aliviando-me a sede, mas quão longe de mim está a salvação, quão distante, a vida eterna! Quão remoto, o Espírito Santo! Não tenho meios de obter tais bênçãos. Ah, o poço é profundo demais e me falta o balde com que tirar a água. Quão longe de mim estão Deus e Jesus! O poço sendo tão fundo, a água viva estão tão longe. A salvação está muito longe de mim.

Talvez alguns de vocês pensem: “Não tenho como ser salvo. Não posso subir aos céus a fim de trazer Cristo à terra nem posso descer ao abismo para levantar a Cristo dentre os mortos. Visto que tudo isso é impossível, como posso salvar-me? Para mim a salvação não passa de um sonho; não é algo que espero alcançar nesta vida.”

Mas permita-me instar com você a que ouça a afirmação de Deus: “A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração (…) Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus O ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Rm 10. 8, 9). O que se diz aqui? Diz-se que a palavra não está longe e que você precisa perguntar quem subirá ao céu para trazer Cristo à terra ou quem descerá ao abismo para levantar a Cristo dos mortos. A palavra está perto de você, o poço não é fundo de maneira nenhuma. A palavra encontra-se em dois lugares: na sua boca e no seu coração. Você tem boca? Sim, tem. Você tem coração? Sim, tem. De modo que a palavra está aqui e o poço, portanto, é muito raso. Se você confessar com a boca que Jesus é o Senhor e crer no seu coração que Deus O ressuscitou dentre os mortos, você terá a água viva. A água viva está próxima de você, na sua boca e no seu coração. Se confessar e crer você a terá. Se você confessasse com a boca que Jesus é Senhor e cresse no coração que Deus O ressuscitou dos mortos e, não obstante, fosse para o inferno, isso significaria que Deus não é justo. Mas Deus não pode ser injusto. Sua palavra é digna de confiança.

V. Esta Água

“Afirmou-lhe Jesus: Quem beber desta água tornará a ter sede” (v. 13). Você realmente sabe o que é ter sede? Suponha que um navio se afunda em alto mar. Todos correm para o bote salva-vidas. Neste barco, há alimento, mas não há água potável. Embora eu esteja completamente cercado por água, estou ficando com sede a ponto de morrer. Os médicos dizem que é mais difícil suportar a sede do que a fome. A sede fala de desejo não satisfeito, expectativa não realizada.

O mundo e sua beleza são muito atraentes, mas ainda que lhe dê o que tem de melhor, você ainda terá sede. O mundo é grande, mas sua grandeza jamais lhe saciará a sede. Pois o que o mundo pode dar-lhe é temporário, por isso, você terá sede de novo. Depois de um copo de vinho, você pedirá outro. Depois de ver um filme, há de querer ver outro. Depois de provar uma excelente refeição, há de desejar mais. Tendo conseguido fama, então há de querer riquezas. Tendo conseguido riquezas, desejará ter uma boa família. Depois de conseguir uma boa família, procurará ter bons filhos e bons netos. E conseguindo bons filhos e bons netos, ansiará por imortalidade. Você pode beber de tudo o que o mundo lhe der, mas voltará a ter sede. Você recebe um gole do mundo; entretanto, ele só faz aumentar sua vontade de beber mais. Por isso o Senhor afirmou: “Quem beber desta água tornará a ter sede.” “Desta água” – o que significa isto? “Esta água” é tudo o que o mundo pode oferecer ao homem. “Esta água” consiste em todas as coisas mundanas que satisfazem temporariamente às pessoas. O mundo só pode despertar o apetite da pessoa, mas nunca satisfazê-la; o mundo só pode torná-lo sedento, mas nunca saciar sua sede.

Houve um homem cujo pai foi mártir durante a Revolução Boxer na China. Pensava ele que se alguém pudesse ajudá-lo a terminar a escola primária, poderia ganhar de vinte a trinta dólares por mês e que isto o satisfaria. Aconteceu que alguém o ajudou a terminar o primário e conseguiu, assim, ganhar o dinheiro que queria. Depois de algum tempo, porém, começou a comparar-se com outras pessoas e decidiu entrar para o ginásio. Aqui, de novo, recebeu ajuda para terminar o curso. Assim que terminou o curso secundário, concebeu a idéia de entrar para a faculdade. E, de novo, teve ajuda e terminou seu curso universitário. Depois de receber o diploma da universidade, ele pensou em ir estudar no exterior. Se tão-somente pudesse obter o grau de doutor, pensava ele, ficaria satisfeito e não pediria mais nada. Uma vez mais recebeu ajuda e, finalmente, conseguiu seu doutorado no exterior. O homem voltou para seu país e foi lecionar numa faculdade. Mas confessou que não se sentia mais feliz ao ter conseguido o grau de doutor do que quando saiu da escola primária. Certo dia, porém, ele conseguiu real satisfação e deu testemunho do que recebeu: aceitou a Cristo, que lhe fora dado pelo Pai celeste e morrera por ele. Mais tarde, ele se dedicou a pregar o evangelho e sua sede foi saciada.

Se alguém refletir que seria feliz se tão-somente tivesse tido êxito no campo da educação ou nos negócios, desejo afirmar que estes só podiam conferir-lhe satisfação temporária e deixarão a pessoa com sede novamente. Pode haver algumas pessoas hoje que possuem fortes desejos que precisam ser satisfeitos. No presente momento, pode ser que tais desejos sejam meros sonhos. Permita-me dizer que ainda que seu sonho se transforme em fato e seu desejo seja satisfeito, você não se satisfará. Apenas sonhará de novo e de novo experimentará um vazio interior não-preenchido. Percebe você que tudo isso são vaidades que não conseguem saciar a sede de pessoa alguma?

Tenho um amigo e conterrâneo que se formou na universidade e já foi chefe de polícia de sua cidade. Certo dia, ele foi dar testemunho a um ex-colega que agora era um homem de poder e influência militar. Ao ver o visitante entrar, perguntou a meu amigo se estava infeliz.

– Olhe para mim – disse meu conterrâneo – e perceberá que estou muito feliz.

– Você não gostaria de vir e juntar-se a mim a fim de prover para o futuro de sua esposa e filhos? – perguntou o anfitrião de meu amigo.

– Há alguém que cuida deles, e esse alguém é o Senhor Jesus – respondeu meu amigo.

– Mas por que você não pensa no futuro? – persistiu o homem influente.

– Deus se encarregará de meu futuro – respondeu meu conterrâneo.

A pessoa que estava sendo visitada ficou grandemente surpresa de que alguém com estudos universitários e que fora chefe de polícia tivesse tal paz depois de simplesmente crer no Senhor. Ao se despedirem, o colega disse a meu amigo:

– Gostaria de poder trocar tudo o que possuo pelo que você tem.

Nem poder político nem posição superior pode satisfazer a ninguém. Se a pessoa não estiver satisfeita, então, aquele que beber “desta água” ainda tornará a ter sede. A água do mundo jamais trará satisfação.

VI. A Água Viva

Se você realmente deseja ser satisfeito, escute o que o Senhor Jesus tem a dizer acerca do caminho da satisfação: “Aquele, porém, que beber da água que Eu lhe der, nunca mais terá sede, para sempre; pelo contrário, a água que Eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (v. 14). Por que todo aquele que bebe da água que o Senhor lhe dá jamais terá sede? Porque essa água tornar-se-á nele uma fonte de água. Para que a pessoa seja satisfeita por três ou cinco dias? Não, fluirá para a eternidade. E é isso que o Senhor oferece. Tudo o que provém de fora é inútil e, de fato, não satisfaz a ninguém. Mas se a pessoa recebe a Cristo, Ele se transforma em fonte interior que a satisfaz diariamente.

O de que precisamos é satisfação interior.

Certo dia, um senhor foi ver seu médico. Perguntou-lhe por que ele achava a vida tão insípida e sem esperança. Depois do exame, o médico disse que ele estava bem fisicamente. Então, o homem perguntou se havia algum remédio para sua depressão. Respondeu o médico:

– Você deve se divertir mais. Por que não vai ver a apresentação de determinado palhaço? Ele tem grande habilidade em fazer as pessoas sorrirem e ficar felizes.

– Esse palhaço sou seu – disse o homem. – Posso fazer as outras pessoas sorrirem, mas eu mesmo não consigo rir.

É triste, mas é só isso que o mundo pode oferecer: alguns poucos risos, talvez, e alguma alegria temporária.

Entretanto, por que os cristão podem ser muito felizes, embora percam tudo? Não é por terem um bom ambiente na igreja ou uma vida material confortável; é por causa Daquele que os satisfaz interiormente, a saber, Cristo.

Alguns missionários estão dispostos a ir para ilhas longínquas e viver com os nativos. Às vezes, só recebem notícias de casa uma vez por ano. Sofrem muito mais do que as pessoas encarregadas de faróis. Como é que conseguem ser tão alegres? Há algo neles que os capacita a cantar e gritar “Aleluia!”

Posso também dizer que embora eu não conheça música, entretanto cantarei; e ainda que não conseguisse cantar, poderia pelo menos gritar “aleluia!”. Tenho dito com freqüência que o motivo pelo qual nós, os cristãos, não amamos o mundo não é que estejamos cansados dele ou por tê-lo experimentado tanto que já não podemos desfrutar dele nem sermos emocionados por ele; vencemos o mundo porque já estamos satisfeitos.

Uma vez que Cristo satisfez nosso coração, a atração do mundo mui naturalmente passa para o esquecimento.

VII. A Mulher Satisfeita

“Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água para que eu não mais tenha sede, nem precise vir aqui buscá-la” (v. 15). Agora a mulher começou a pedir ao Senhor. Será que ela compreendeu? Não, não compreendeu.

A despeito de sua ignorância, ela pediu. Dar-lhe-ia o Senhor ainda? Certamente que o Senhor lhe daria. Pois não dissera Ele: “Tu Lhe pedirias, e Ele te daria água viva” (v. 10)?

Observou A. Paget Wilkes que a mulher, pelo simples fato de pedir, recebeu. Quão verdadeira é essa afirmação! Percebamos que não é um pedir segundo nosso entendimento, mas de acordo com a Palavra do Senhor que precipita Sua satisfação de dar a nós.

“Quanto à mulher, deixou o seu cântaro, e foi à cidade e disse àqueles homens: Vinde comigo, e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será Este, porventura, o Cristo?” (vv. 28, 29). “Será este, porventura” significa “Este é”. Segundo a estrutura gramatical, qualquer pergunta que comece com “Será este, porventura” assume uma resposta positiva da parte de quem interroga. Este fato prova que a mulher já obtivera a água viva. Embora não compreendesse nem soubesse o que havia pedido, reconhecia ser este o Cristo. E isso lhe era suficiente.

Quantos, hoje em dia, estão cansados e sedentos! Tudo o que tem a fazer é crer em Jesus e pedir-Lhe a água viva que tudo ficará bem.

A. Paget Wilkes certa vez contou a história dos marinheiros de um destróier que aportou em certo lugar.

Os marinheiros foram a terra e ouviram algumas missionárias pregarem o Evangelho. Certo marinheiro, depois de ouvir, creu. À noite, ajoelhado ao lado do seu beliche, orava.

Esse homem tinha o apelido de Velho Setenta. Ora, entre os marinheiros era ele quem gostava de pregar peças nos outros, de modo que, ao ajoelhar-se para orar, seus companheiros disseram:

– Olhe, o Velho Setenta está inventando uma nova peça; está imitando um crente em oração.

Atiraram nele coturnos e o ridicularizavam. Mas ele não lhes deu nenhuma atenção. Então, disseram uns aos outros:

– Vejam só, o Velho Setenta age de modo muito real!

Ele se levantou da oração e lhes disse que, de fato, havia crido em Jesus. Seus companheiros não queriam aceitar sua explicação e insistiam em que, embora ele agisse de maneira muito real, tudo não passava de fingimento.

No dia seguinte, o Velho Setenta encontrou um meio-cristão a quem disse que acabara de crer em Cristo Jesus. Respondeu-lhe o homem:

– A pessoa que crê em Jesus deve sentir paz no coração. Sentir-se-á tão feliz como se já tivesse ido para o céu. Agora que você crê em Jesus, sente-se assim?

O Velho Setenta não se sentia dessa maneira. De modo que o outro lhe disse que sua fé não era autêntica.

Ele rapidamente foi ver de novo as missionárias e lhes disse:

– Vocês disseram que, pelo simples fato de crer em Jesus, serei salvo. Sua palavra não é verdadeira. Outros crêem em Jesus e sentem grande paz e alegria; por que não sinto nada?

As missionárias responderam:

– Não lhe perguntamos se você se sente de modo diferente; perguntamos se você é diferente.

Ele pensou por algum tempo e, então, deu um pulo, dizendo:

– Ora, uma diferença! Geralmente causo mais problemas no navio do que qualquer outra pessoa. Não importa o que dissessem, eu sempre tinha algo mais para dizer. Mas ao crer em Jesus e ao voltar para o navio, percebi que a conversa de meus companheiros realmente feriam-me os ouvidos, pois suas palavras eram sujas demais. E como resultado, comecei a imaginar o que aconteceria a esses homens. E também, geralmente sou eu quem bate neles, mas na noite passada, quando jogaram coturnos em mim, em vez de deixar-me dominar pela raiva, senti pena deles por serem tão ignorantes.

– Muito bem – concluíram as missionárias. – Não é importante que você se sinta mudado; basta que você tenha mudado. O Senhor Jesus satisfará seu coração de tal maneira que você não mais terá desejo vão. Se disser a Ele: “Senhor, creio em Ti e me entrego a Ti”, será salvo. Passará o céu e a terra, mas a palavra do Senhor se cumprirá. Não tem importância você não se sentir salvo. Se você crê, sua salvação foi consumada. Primeiro creia, depois sinta-o; não procure sentir paz e alegria primeiro para depois crer.

(Cheio de Graça e de Verdade, Editora Vida, 1982)

Campos de Boaz: colheita do que Cristo, o Boaz celestial, espalhou em Seus campos é um projeto cristão voluntário sob responsabilidade de Francisco Nunes.
Licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 3.0 Brasil License.