Para o homem exterior ser quebrantado, é imperativo uma plena consagração. Mesmo assim, devemos entender que este ato de crise por si só, não resolverá a totalidade do nosso problema no serviço. A consagração é meramente uma expressão da nossa disposição para estar nas mãos de Deus, e pode ocorrer em apenas uns poucos minutos. Não pense que Deus pode acabar Seus tratos conosco neste tempo tão curto. Embora estejamos dispostos a oferecer-nos completamente a Deus, estamos apenas no começo da estrada espiritual. É como entrar pelo portão. Depois da consagração, deve haver a disciplina do Espírito Santo para nos tornar em vasos dignos para o uso do Mestre. Sem consagração, o Espírito Santo encontra dificuldade em nos disciplinar. Mesmo assim, a consagração não pode servir como substituto da Sua disciplina.
Aqui, pois, há uma distinção vital: nossa consagração somente pode ser de acordo com a medida do nosso discernimento espiritual e da nossa compreensão, mas o Espírito Santo disciplina de acordo com Suas próprias luzes. Realmente não sabemos o quanto a nossa consagração envolve. Nossa luz é tão limitada que, quando nos parece que está no seu auge, aos olhos de Deus é negra como breu. A exigência excede a tudo quanto temos a possibilidade de consagrar – pelo menos, no nosso entendimento limitado. A disciplina do Espírito Santo, por outro lado, nos é medida conforme nossa necessidade vista na própria luz de Deus. Ele conhece nossa necessidade especial e, portanto, pelo Seu Espírito, ordena nossas circunstâncias de tal maneira que leva a efeito o quebramento do homem exterior. Veja até que ponto a disciplina do Espírito Santo transcende nossa consagração.
Visto que o Espírito Santo opera conforme a luz de Deus, Sua disciplina é eficiente e completa. Freqüentemente estranhamos as coisas que nos acontecem, mas, se fôssemos deixados por conta própria, poderíamos enganar-nos com a melhor das nossas escolhas. A disciplina que Ele ordena transcende nosso entendimento. Quão freqüentemente somos apanhados despreparados e concluímos que, decerto, uma coisa tão drástica não é nossa necessidade. Muitas vezes, Sua disciplina desce sobre nós repentinamente, sem recebermos aviso prévio! Talvez insistamos que estamos vivendo “na luz”, mas o Espírito Santo está tratando conosco de acordo com a luz de Deus. A partir do momento em que O recebemos, Ele tem ordenado nossas circunstâncias para nosso proveito de acordo com Seu conhecimento de nós.
A operação do Espírito Santo em nossas vidas tem seu lado positivo bem como negativo – ou seja, há tanto um lado construtivo quanto um destrutivo. Depois de nascermos de novo, o Espírito Santo habita em nós, mas nosso homem exterior mui freqüentemente O priva de Sua liberdade. É como procurar andar com um par de sapatos do tamanho errado. Porque nosso homem exterior e o interior estão em desacordo entre si, Deus tem de empregar quaisquer meios de considera eficaz em demolir qualquer fortaleza sobre a qual nosso homem interior não tem controle algum.
Não é mediante o fornecimento de graça ao homem interior que o homem interior que o Espírito Santo quebranta o exterior. É lógico que Deus quer que o homem interior seja forte, mas Sue método é utilizar meios externos para diminuir nosso homem exterior. Seria quase impossível para o homem interior realizar isto, visto que, os dois são tão diferentes quanto à sua natureza que dificilmente podem causar qualquer ferida um ao outro. A natureza do homem exterior e a das coisas externas são semelhantes. Desta maneira, o primeiro pode ser facilmente afetado por estas últimas. As coisas externas podem ferir os homem exterior muito dolorosamente. É assim que Deus usa coisas externas para tratar do nosso homem exterior.
Você se lembra que a Bíblia diz que dois pardais são vendidos por um asse (Mt 10:29) e que cinco pardais são vendidos por dois asses (Lc. 12:6). O preço certamente é barato, e o quinto pardal é oferecido de graça. Mesmo assim, “nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai. E quanto a vós outros, até os cabelos da cabeça estão todos contados” (Mt 10:29, 30). Não somente cada cabelo é contado, como também é numerado. Podemos, portanto, ter certeza de que todas as nossas circunstâncias são ordenadas por Deus. Nada é acidental.
A providência de Deus é de acordo com Seu conhecimento das nossas necessidades, e tem em mira o despedaçar do nosso homem exterior. Sabendo que uma certa coisa externa nos afetará assim, Ele dispõe a situação a fim de nos fazer encontrar com ela uma vez, duas vezes, e talvez até mais vezes. Você não percebe que todos os eventos da sua vida durante os últimos cincos anos ou dez anos foram ordenados por Deus para sua educação? Se você murmurou e se queixou, você estava ignorando a disciplina do Espírito Santo. Lembre-se de que tudo quanto nos acontece é medido pela mão de Deus para nosso bem supremo. Embora, provavelmente não seja o que escolheríamos, Deus sabe o que é melhor para nós. Onde estaríamos nós hoje, se Deus não tivesse nos disciplinado assim por meio de ordenar nossas circunstâncias? É exatamente isto que nos conserva puros, andando nos Seus caminhos. Como são estultos aqueles que têm murmurações na sua boca e rebelião no seu coração diante das próprias coisas que o Espírito Santo lhe distribuiu sob medida para seu próprio bem.
Tão logo somos salvos, o Espírito Santo começa a distribuir disciplina; mas não pode agir livremente até que nossa consagração seja completa. Depois da pessoa ser salva mas ainda não consagrada, e enquanto ainda ama a si mesma mais do que a Deus, o Espírito Santo, mesmo assim, está operando para trazê-la sob controle e quebrantar seu homem exterior, afim de que, Ele possa operar sem impedimento.
Finalmente, vem um momento em que você percebe que não pode viver por si só e para si mesmo. Na luz vaga que você possui, você vem para Deus e diz: “Consagro-me a Ti. Quer venha a vida, quer venha a morte, entrego-me nas Tuas mãos” Isto fortalecerá a obra do Espírito Santo na sua vida. Nisto acha-se a importância da consagração: deixa o Espírito Santo operar sem restrição. Não ache estranho, portanto, quando muitas coisas inesperadas lhe acontecem depois da sua consagração.
Você disse ao Senhor: “Senhor! Faz o que achas melhor na minha vida.” Agora, depois de você ter-se colocado assim incondicionalmente nas Suas mãos, o Espírito Santo pode operar livremente em você. Para resolver de todo o coração que seguirá ao Senhor, você deve prestar bastante atenção à obra disciplinar do Espírito Santo.
O Maior Meio de Graça
Deus tem outorgado Sua graça a nós desde o dia em que fomos salvos. As maneiras pelas quais podemos receber graça da parte de Deus são chamadas os “meios de graça.” A oração e o escutar uma mensagem são dois exemplos, porque através destes meios, podemos aproximar-nos de Deus e receber graça. Este termo descritivo: “os meios de graça,” tem sido universalmente aceitos pela Igreja no decurso dos séculos. Recebemos graça através das reuniões, das mensagens, das orações, e assim por diante. Mas decerto o maior meio de graça que não podemos nos dar ao luxo de negligenciar, é disciplina do Espírito Santo. Nada pode ser comparado com este meio de graça – nem as mensagens, nem a meditação nem o louvor. Entre todos os meios de graça dados por Deus, parece que este é o mais importante.
Seguir a história deste meio de graça pode mostrar-nos quão longe já andamos com o Senhor. O que experimentamos diariamente, no lar ou na escola ou na fábrica ou na estrada, é ordenado pelo Espírito Santo para nosso máximo benefício. Se não tiramos proveito deste maior meio de graça, sofremos uma perda terrível. Nenhum dos outros meios pode substituí-lo, por mais preciosos que sejam. As mensagens nos alimentam, a oração nos restaura, a Palavra de Deus nos refrigera, e ajudar aos outros libera nosso espírito. Mas se nosso homem exterior permanecer forte, damos a todos aqueles que entram em contato conosco, a impressão de sermos mistos e impuros. As pessoas reconhecerão nosso zelo mas também nossos motivos mistos, nosso amor para com o Senhor, mas também nosso amor para conosco. Sentem que somos um irmão precioso, porém difícil, pois nosso homem exterior não foi quebrantado. Não nos esqueçamos que embora sejamos edificados através de mensagens, da oração, e da Bíblia, o maior meio de edificação é a disciplina do Espírito Santo.
A partir de então deve haver, da nossa parte, uma consagração completa de modo que devemos submeter-nos àquilo que o Espírito Santo ordena. Semelhante submissão traz bênçãos para nós. Se ao invés disto, disputamos com Deus e seguimos nossas próprias inclinações, perdermos o caminho da Sua bênção. Uma vez que reconhecemos que todas as providências de Deus são para nosso máximo proveito – até mesmo coisas que nos são desagradáveis – e estamos dispostos a aceitar estas coisas como medidas disciplinares da parte d’Ele, veremos como o Espírito Santo fará uso de todas estas coisas ao lidar conosco.
Tratamentos de Vários Tipos
Sejam quais forem as coisas ás quais você está ligado, Deus tratará delas uma após a outra. Nem sequer trivialidades tais como as vestes, o comer e o beber podem escapar à mão cuidadosa do Espírito Santo. Ele não negligenciará uma só área na sua vida. Você pode até mesmo ignorar sua afinidade por uma certa coisa, mas Ele sabe, e tratará dela de modo muitíssimo eficiente. Até que venha o dia em que todas estas coisas são destruídas, você não conhece a liberdade perfeita. Nestes tratamentos, você pode finalmente reconhecer a eficiência do Espírito Santo. Coisas há muito esquecidas, são trazidas à mente pelo Senhor. As obras de Deus são perfeitas, e nada menos do que a perfeição pode satisfazer a Ele. Deus não pode parar no meio do caminho. Às vezes, tratará com você através d’outras pessoas, planejando para você ficar junto com uma pessoa com quem está zangado, ou a quem despreza, ou de quem tem ciúmes; ou, muito freqüentemente, é através daqueles que você ama. Antes disto, você não sabia quão impuro e misturado você era, mas depois você reconhece quanto “lixo” havia em você. Você pensava que era totalmente do Senhor, mas, depois de receber a disciplina do Espírito Santo, começa a reconhecer os efeitos de longo alcance que as coisas externas tinham sobre você.
Além disto, a mão de Deus pode tocar na vida dos nossos pensamentos. Descobrimos que nossos pensamentos são confusos, independentes, descontrolados. Fingimos ter mais sabedoria do que outros. É então que o Senhor nos deixa colidir com um muro ou espatifar-nos até o pó – tudo para nos mostrar que não devemos ter a ousadia de usar nossos pensamentos desordenadamente. Uma vez que tenhamos sido iluminados nisto, temeremos nossos próprios pensamentos como o fogo. Da maneira como se recolhe a mão imediatamente diante a chama, assim nós também nos recolheremos instantaneamente quando encontramos nossos pensamentos descontrolados. Lembraremos a nós mesmos: “Não é assim que devo pensar; estou com medo de seguir meus próprios pensamentos.”
Além disto, Deus assim disporá nossas circunstâncias de modo que possa lidar com nossas emoções. Algumas pessoas são extremamente emotivas. Quando estão jubilosas, não podem se conter; quando estão deprimidas, não podem ser consoladas. A totalidade da vida delas gira em torno das suas emoções, e seu júbilo resulta em dissipação, e sua depressão em inatividade. Como Deus retifica esta situação? Coloca-as em situações em que não ousam ser demasiadamente felizes quando estiverem jubilosas, nem demasiadamente tristes quando estiverem deprimidas. Somente podem depender da graça de Deus e viver pela Sua misericórdia, não pelas suas emoções instáveis.
Embora sejam bem comuns as dificuldades com os pensamentos e emoções, a dificuldade maior e mais prevalecente é com a vontade. Nossas emoções são desregradas por nossa vontade não foi tratada. A raiz está em nossa vontade. A mesma coisa diz respeito a nossos pensamentos. Talvez posamos pronunciar com a boca as palavras: “Não se faça a minha vontade, e, sim, a tua,” mas quantas vezes realmente deixamos o Senhor assumir o controle quando as coisas acontecem? Quanto menos você conhece a si mesmo, tanto mais facilmente pronuncia tais palavras. Quanto menos iluminado você está, tanto mais fácil a submissão a Deus parece ser. Aquele que fala com facilidade barata comprovou que nunca pagou o preço.
Somente quando somos tratados por Deus é que realmente vemos quão endurecidos somos e quão dispostos a termos nossa própria opinião. Deus precisa tratar conosco para tornar nossa vontade terna e dócil. Pessoas resolutas estão convictas de que seus sentimentos, modos e julgamentos sempre estão certos. Considere como Paulo recebeu esta graça registrada em Filipenses: “Não confiamos na carne” (3:3). Nós, também, devemos ser levados por Deus a uma situação em que não ousamos confiar em nosso próprio julgamento. Deus permitirá que cometamos engano após engano até compreendermos que este será nosso padrão para o futuro, também. Realmente precisamos da graça do Senhor. Freqüentemente o Senhor permite que ceifemos conseqüências sérias dos nossos julgamentos.
Finalmente, você ficará tão aflito com seus fracassos que dirá: “Temo meus próprios julgamentos assim como temo o fogo do inferno. Senhor, tendo a cometer enganos. A não ser que Tu sejas misericordioso comigo, a não ser que Tu me apóies, a não ser que Tu me detenhas com Tua mão, errarei mais uma vez”. Este é o começo da destruição do homem exterior: quando você já não ousa confiar em si mesmo. Suas opiniões usualmente lhe vêm facilmente até que tenha sido tratado por Deus repetidas vezes e tenha sofrido muitos fracassos. Então, você se rende e diz: “Deus, não ouso pensar, não ouso decidir.” Esta é a disciplina do Espírito Santo: quando todos os tipos de coisas e todos os tipos de pessoas estão fazendo pressões de todas a direções.
Não pense que haverá qualquer relaxamento desta lição! Muitas vezes, o fornecimento da palavra de Deus pode estar em falta, ou outro meio de graça pode ser insuficiente, mas este meio de graça especial – a disciplina do Espírito Santo – sempre está conosco. Você pode dizer que não tem oportunidade de escutar a Sua palavra e ser suprido por ela mas isto nunca acontecerá no caso da disciplina do Espírito Santo. Dia após dia, Ele está planejando amplas oportunidades para você aprender.
Uma vez que você se rende a Deus, esta disciplina satisfará sua necessidade muito mais do que o fornecimento da Sua palavra. Não é apenas para os cultos, os habilidosos, os dotados; não, é o caminho para todo filho de Deus. O fornecimento da palavra de Deus, o poder da oração, a comunhão dos crentes – nenhuma destas coisas pode substituir a disciplina do Espírito Santo. È porque você precisa não somente ser edificado; precisa também ser quebrantado, de ser livrado de todas as numerosas coisas na sua vida que não podem ser levadas para a eternidade.
A Cruz em Operação
A cruz é mais do que uma doutrina; deve ser posta em prática. Não pense que o caminho para a humildade é lembrando-nos constantemente que não devemos ser orgulhosos. Devemos ser feridos uma vez após outra – ainda que chegue a vinte vezes – até que nos rendamos e já não somos orgulhosos. Nunca suponhamos que isto se realiza meramente por meio de seguir o ensino de um determinado irmão. Não, é porque nosso orgulho tem sido quebrado através do tratamento por Deus.
Mediante a operação da cruz, aprenderemos a depender da graça de Deus, não da nossa memória. Quer lembremos, quer não, permanece o fato de que Ele está realizando uma obra que é fidedigna e duradoura. Anteriormente, o homem exterior e o interior não podiam ficar de mãos dadas; mas agora o homem exterior espera meigamente, com temor e tremor diante de Deus.
Cada um de nós tem necessidade desta disciplina da parte do Senhor. Ao passarmos em revista a história do nosso passado, não podemos deixar de ver a mão de Deus lidando com a independência, o orgulho, e o egoísmo do nosso homem exterior. Descobrimos o significado das coisas que nos aconteceram.
A Liberação do Espírito, Watchman Nee