Enquanto você me acompanha na mensagem desta noite, verá que a vida do cristão espiritual está em forte contraste com a do cristão carnal.
É uma vida de paz permanente
“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” (Jo 14.27).
Ainda há o conflito na vida do cristão espiritual, já que o crescimento vem por meio da conquista no conflito. Mas há paz pela vitória consciente em Cristo. O cristão espiritual não continua na prática do pecado conhecido, obstinado; portanto, ele vive no desanuviado brilho solar da presença de Cristo. Sua comunhão com o Pai não é mutilada pela consciência corrosiva de mãos impuras, pela ferroada de uma consciência ferida ou pela condenação de um coração acusador. Portanto, ele desfruta de permanente paz, profunda alegria e descanso satisfatório no Senhor. Você tem isso?
É uma vida de vitória habitual
“Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” (1Co 15.57).
Observe que não é dito “vitórias”, mas “a vitória”. A vitória da ressurreição é algo todo-inclusivo. Cristo, que lhe dá sempre vitória sobre um pecado, pode lhe dar a vitória sobre todo pecado. Ele, que guardou você do pecado por um momento, pode, com a mesma tranqüilidade, guardá-lo daquele mesmo pecado durante um dia ou um mês. A vitória sobre o pecado é um dom de Cristo que é nosso quando o reivindicamos.
“Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou” (Rm 8.37).
Já seria muito maravilhoso se Ele tivesse dito apenas que éramos vencedores. Mas Ele declara que somos “mais que vencedores”. Isso é vitória com um sinal de mais. Isso significa o suficiente e com sobra. Esse verso nos diz que não temos de viver na extremidade esfarrapada de uma vitória que temos de arrancar e lutar para guardar.
“E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento.” (2Co 2.14).
Observe a palavra “sempre”. Essa vitória não é restringida a certas vezes, a certos lugares e circunstâncias. Deus diz que pode sempre fazer com que triunfemos em Cristo. Quase posso ouvir alguma pessoa neste público dizer: “É muito bom para você se colocar de pé aí e pregar que tal vitória é possível, mas você não conhece aquela pessoa intratável que tenho na minha família, com quem tenho de viver todo o tempo”. Não, não sei as circunstâncias da sua vida, mas Deus sabe e pôs a palavra “sempre” naquele verso. Você ousa aceitá-lo e crer que Deus pode fazê-lo sempre triunfar em Cristo?
As palavras “vitória habitual” foram cuidadosamente escolhidas. Por habitual quero dizer que a vitória é o hábito da vida do cristão. Isso não significa que o possuidor de tal vitória não é capaz de pecar, mas ele é capaz de não pecar. O pecado contínuo não será a prática de sua vida.
Qual é o verdadeiro e intrínseco significado de vitória? Bem, ela não significa o mero controle externo sobre a expressão do pecado, mas um tratamento definido com a disposição interior para pecar. A verdadeira vitória faz uma mudança nos recessos mais íntimos do espírito que transforma nossa disposição e atitude interiores bem como nosso feito e ato exteriores.
“A verdadeira vitória nunca o obriga a esconder o que está no interior.” Muitos de nós não chamamos o pecado de pecado. Naturalmente, somos obrigados a chamar alguma ofensa notória contra Deus ou contra o homem, que se torna mais ou menos pública, de pecado. Mas que tal aquele coisa negra e suja bem escondida no mais íntimo do espírito. Aquilo é pecado? Deus diz que é.
“Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria. Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto” (Sl 51.6,10).
“Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus” (2Co 7.1).
Vamos encarar alguns testes simples e ver se temos sido “purificados de toda a imundícia do espírito”. Você costumava perder a calma e dar lugar à irrupção violenta; agora há uma grande medida de controle externo, mas um grande resíduo de irritação interna e ressentimento secreto. Isso é vitória verdadeira? Alguém diz algo indelicado ou injusto a você; você não responde e externamente parece educado, mas intimamente está zangado, e diz consigo mesmo: “Gostaria de falar a ela um pouco do que penso!” Isso é libertação do pecado?
Uma menina de dezesseis anos veio a uma reunião certa vez, onde falávamos da vitória completa em Cristo. Ela vivia com uma tia intratável que era bastante afeita a repreender. A menina muitas vezes tentava a paciência da tia chegando tarde em casa ao voltar da escola. Quando repreendida por isso, sempre respondia. Ela voltou da reunião determinada a ser vitoriosa, tanto na volta da escola a tempo como na resposta, e disse isso à tia. A tia cética respondeu que acreditaria na vitória quando a visse.
Alguns dias depois, a menina se atrasou novamente. A tia insultuosamente disse: “Ah! esta é a sua vitória, não é?” Mas nenhuma palavra escapou dos lábios da menina. Você diz: “Que maravilhosa vitória!” Mas escute! Alguns dias depois, recebi uma carta exultante da menina, dizendo: “Oh! Senhorita Paxson, agora sei o significado da verdadeira vitória, já que quando minha tia me repreendeu não só não respondi, mas eu não quis fazê-lo.” Isso é vitória de fato.
As palavras vitória habitual foram cuidadosamente escolhidas. Por habitual quero dizer que a vitória é o hábito da vida do cristão. Isso não significa que o possuidor de tal vitória não é capaz de pecar, mas ele é capaz de não pecar. O pecado contínuo não será a prática de sua vida.
Alguém o ofendeu; você não retalia abertamente ou busca a vingança, mas no mais íntimo de seu coração deseja o infortúnio da pessoa e se alegra quando ele vem. Isso é ter um espírito correto?
Em uma conferência de verão na China, uma mulher veio buscando ajuda. Ela era infeliz e os outros em volta dela se tornavam infelizes. Havia falta de amor em seu coração; de fato, havia alguém a quem ela odiava. Ela era uma obreira cristã e, ao reconhecer a destruição que essa sensação operava em sua própria vida e na daquela outra pessoa, tentou obter vitórias graduais sobre isso. Tinha odiado até ver a outra pessoa, mas reconheceu finalmente a pecaminosidade disso. Assim, convidou a pessoa para jantar em sua casa, mas esperou que ela não viesse! Isso era vitória? Quando ela veio a mim, tinha alcançado o ponto onde estava “pronta para desculpar”, mas “nunca se esqueceria!” Isso era vitória? Então, ela obrigou a si mesma a dizer que “não odiaria”, mas “não poderia amar”. Isso era vitória? Não até que Deus, que é amor, verdadeiramente possuísse seu coração e a fizesse ter o tipo de vitória que é de Deus.
Possivelmente alguém aqui está dizendo: “Experimentei ocasionalmente essa libertação gloriosa de algum pecado que ataca, mas ela foi somente uma libertação passageira. Há realmente tal coisa aqui na terra como uma vitória habitual sobre todo pecado conhecido?” Deus diz que há.
“Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.36).
“Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 8.2).
Na cruz do Calvário, Cristo morreu para nos libertar do pecado. Para tornar aquela vitória perfeita permanente, enviou o Espírito Santo para habitar e controlar. O homem carnal está sob o poder da lei do pecado. Ela opera em sua vida, conduzindo-o a maior parte do tempo sob seu domínio. Mas há a outra lei, uma lei mais elevada em operação no crente, e, quando se rende à força de seu poder, o homem espiritual é livrado da lei do pecado e da morte.
Aqui está sua vitória habitual sobre todo pecado conhecido. Você experimenta essa vitória?
É uma vida de constante crescimento na semelhança de Cristo
“Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2Co 3.18).
Não há nada estático na verdadeira experiência espiritual. O olhar para cima e o rosto descoberto devem captar e refletir algo da glória do Senhor. Com um conhecimento crescente Dele e uma comunhão que se torna mais profunda com Ele, deve haver uma crescente semelhança a Ele.
Em certa ocasião, eu viajava pelo rio de Iangtze, na China Central. Uma tempestade pesada acabara de passar, e o sol tinha saído brilhantemente detrás das barreiras de nuvens. Senti um impulso interior para sair para o convés, e o Senhor teve uma mensagem preciosa esperando por mim. A água do rio de Yangtze é muito turva. Mas, como subi na grade e dei uma olhada, não vi a água suja e amarela naquele dia, mas, em vez disso, vi o azul celeste e o branco felpudo do céu acima, e tudo tão perfeitamente refletido que de fato não pude acreditar que estava olhando para baixo em vez de para cima.
Imediatamente, o Espírito Santo fez brilhar 2Coríntios 3.18 em minha mente e disse: “Em si mesma, você é tão pouco atraente como a água do rio de Yangtze, mas, quando todo o seu ser se torna centrado em Deus e toda sua vida se abre para Ele, a fim de que Sua glória brilhe sobre você e dentro de você, então, você será tão transformada em Sua imagem que os outros que a vêem verão não a você, mas a Cristo em você”.
Oh! Amigos, vocês e eu estamos refletindo como em um espelho a glória do Senhor?
Mas deve haver uma progressão em nossa semelhança a Cristo – deve ser de glória em glória. A natureza espiritual está sempre buscando tocar e se apoderar daquilo que é espiritual a fim de que possa se tornar mais espiritual.
“Toda a vara em Mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado. Estai em Mim, e Eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em Mim. Eu sou a videira, vós as varas; quem está em Mim, e Eu nele, esse dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15.2-5).
“Não dá fruto”, “dê fruto”, “dá mais fruto”, “dá muito fruto”. Essas frases não revelam diante de nós as potencialidades para a semelhança a Cristo disponíveis a todos os ramos da Videira? Elas também não nos mostram a progressão positiva “de glória em glória” que Deus espera ver em nós? Essas expressões são descritivas. Qual delas descreve você? Somente a “dá muito fruto” glorifica o Pai.
“Nisto é glorificado Meu Pai: que deis muito fruto; e assim sereis Meus discípulos” (Jo 15.8).
Mas qual é o fruto que Deus espera encontrar no ramo? Ele nos diz.
“Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei.” (Gl 5.22-23).
“O fruto do Espírito” é a esfera completa e simétrica do caráter do Senhor Jesus Cristo no qual não há nenhuma falta e nenhum excesso. Observe que não é frutos, como tantas vezes é citado erroneamente. Ele é apenas um cacho, e as nove graças são essenciais para revelar a beleza da verdadeira semelhança a Cristo. Mas quão freqüentemente vemos um grande coração de amor estragado pelo temperamento precipitado – há amor, mas não há autocontrole, temperança. Ou vemos uma pessoa de grande longanimidade, mas também de expressão facial muito triste. Há longanimidade, mas nenhuma alegria. Por outro lado, se vê um cristão muito alongado na fé, mas muito encurtado na bondade.
É uma vida de poder sobrenatural
“Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em Mim também fará as obras que Eu faço, e as fará maiores do que estas, porque Eu vou para Meu Pai” (Jo 14.12).
Essas palavras foram ditas por Cristo a um grupo de homens iletrados. Um deles era um velho pescador queimado pelo sol, abatido pelo mau tempo e bruto. Ele seria facilmente reprovado em uma turma de colégio moderno e muito provavelmente não conseguiria passar nos exames de entrada em um seminário teológico dos dias de hoje. Mas pertenceu à companhia de crentes para a qual essa promessa foi dada e que um dia foi maravilhosamente cumprida em sua vida quando, mediante um sermão, ganhou seis vezes mais almas para o verdadeiro discipulado do que Jesus ganhou durante os três anos de Seu ministério público.
Em que consiste o poder de Pedro, e ele está disponível para você e para mim? Ele era o poder do charme pessoal? Da forma graciosa? Do intelecto gigantesco? Do discurso eloqüente? Do conhecimento sólido? Da vontade dominante? Apesar de ter havido muitas qualidades amáveis no velho pescador impulsivo, ansioso e amável, ainda assim nenhum delas pode ser levada em conta para o cumprimento tão esmagador da promessa de nosso Senhor nele. Deus claramente revela o segredo do poder de Pedro.
“Mas recebereis a virtude [o poder] do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-Me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra” (At 1.8).
O poder para fazer “as mesmas obras e mesmo maiores” não é o poder que reside em algo humano. Ao contrário, é o poder de Deus, o Espírito Santo que está completamente a nossa disposição quando nos rendemos totalmente a Ele.
O poder sobrenatural de Deus é manifestado em sua vida e obra hoje?
É uma vida de devotada separação
“Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação; que vos abstenhais da fornicação” (1Ts 4.3).
“Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e feito mais sublime do que os céus” (Hb 7.26).
O homem espiritual toma Cristo como seu Exemplo, e determina andar como Ele andou. Cristo viveu uma vida de separação. Ele estava no mundo, mas não era dele. Ele teve contato muito próximo com o mundo, mas sem conformidade a ele ou com contágio dele. O homem espiritual aspira um caminho semelhante de separação. Ele possui a mesma relação com o mundo que Cristo tinha com ele, e o mundo terá a mesma atitude com respeito a ele que teve com respeito a Cristo. O cristão considerará os prazeres, perseguições, princípios e planos do mundo exatamente como Jesus Cristo os considerou. Ele não foi do mundo; por isso, o mundo O odiava e O perseguia. Assim ele tratará o cristão.
“Não são do mundo, como Eu do mundo não sou” (Jo 17.16).
“Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a Mim Me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a Minha palavra, também guardarão a vossa” (15.19,20).
Deus o chama para uma vida de “isolamento” espiritual e “separação” para que você seja mais completamente conformado à imagem de Seu Filho. Você respondeu ao chamamento de sair e ser separado?
É uma vida de agradável santidade
“Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; porquanto está escrito: Sede santos, porque Eu sou santo” (1Pd 1.15,16).
Todo cristão é chamado para uma vida santa. Mas muitos cristãos não querem ser santos. Eles podem querer ser espirituais, mas temem ser santos. Isso pode ser devido ao mau entendimento do que é santidade pelo ensino falso sobre o assunto.
O que, então, é santidade? Vamos primeiro dizer o que não é. Não é perfeita impecabilidade, nem erradicação da natureza pecadora, nem é ser sem defeito. Nem torna alguém isento da possibilidade de pecar nem retira a presença do pecado. A santidade bíblica não é ser sem defeito, mas é ser sem culpa à vista de Deus.
Devemos ser “conservados sem culpa [irrepreensíveis]” para Sua chegada, e seremos “[apresentados…] sem defeito” em Sua volta.
“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5.23).
“Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a Sua glória” (Jd 24).
Essa verdade me foi revelada com significado renovado há quatro anos, quando fui chamada para ordenar os pertences pessoais de uma amada e querida irmã que Deus tinha chamado para o lar. Entre as coisas que ela especialmente estimou foi encontrada uma carta escrita a ela quando eu tinha sete anos. Ela tinha ido me visitar; eu a amei e a perdi, e aquela carta era o amor de meu coração expresso em palavras. A carta não era de modo nenhum sem defeito, já que a arte de escrever era pobre, a gramática, incorreta e a ortografia, imperfeita; mas era sem culpa [irrepreensível] à vista de minha irmã, já que saiu de um coração de amor e foi a melhor carta que pude escrever. Para mim, uma mulher adulta, escrever a mesma carta hoje não seria sem culpa [irrepreensível], pois minha experiência na arte de escrever e meu conhecimento de gramática e ortografia são muito maiores.
A santidade é, então, um coração de amor puro por Deus. É Cristo, a nossa santificação, entronizado como a vida de nossa vida. É Cristo, o único Santo, em nós, vivendo, falando e caminhando.
Tal santidade é encantadora, já que expressa a calma santa de Deus refletida no rosto, a tranqüilidade santa de Deus manifestada na voz, a graciosidade santa de Deus expressa na conduta, e a fragrância santa de Deus que emana de toda a vida. É sua tal santidade encantadora?
Vamos nos curvar durante alguns momentos em silêncio.
Qual é a sua vida – a de um cristão carnal ou de um espiritual? Se não estiver vivendo habitualmente no plano mais alto, você agora determinará assim fazê-lo?
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