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Encorajamento Vida cristã

Luta

“E ele, clamando e agitando-se muito, saiu” (Mc 9.26)

O mal nunca se rende sem feroz luta e resistência. Não alcançamos nenhuma vitória entre os divertimentos agradáveis de um piquenique, mas sempre nas duras disputas do campo de batalha. É assim que acontece no campo espiritual. Em cada área de nossa vida só alcançamos a liberdade a preço de sangue. O adversário não é posto em fuga por meio de uma delicada solicitação; ele está presente em todo o caminho; e cada passo avante será marcado com sofrimento. Não podemos esquecer-nos disto, ou iremos acrescentar aos outros fardos da vida a amargura causada por uma interpretação errônea. Não nascemos de novo em berçários macios e protegidos, mas em campo aberto, onde precisamos tirar forças do próprio furor da tempestade. “Por muita tribulação nos importa entrar no reino de Deus”.

(J. H. Jowett)

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Vida cristã

Os celestiais

J. K.

“Qual o celestial, tais também os celestiais” (1Coríntios 15.48b).

De quem esse versículo fala? Quem são esses seres misteriosos e privilegiados que Palavra de Deus chama de “os celestiais”? São talvez anjos, espíritos que rodeiam o trono de Deus? De modo nenhum. Vamos ler os versículos anteriores. Os celestiais são “os que são de Cristo”, ou seja, todos os filhos de Deus. Sem duvidas, você dirá: “Somos um povo escolhido para habitar um dia no céu; portanto, no futuro seremos os celestiais”.

Queridos amigos crentes, a Palavra de Deus não apresenta esse assunto no futuro, mas no presente. Atualmente, agora, somos celestiais. O que significa isso e qual são as conseqüências disso?

Antes que o Senhor Jesus viesse a este mundo, o crente judeu recebia suas bênçãos na terra. O Antigo Testamento ligava as promessas terrenas à fidelidade. A prosperidade material era uma prova visível do favor de Deus. Esse será novamente o regime dos crentes da nova aliança durante o reinado de mil anos, o milênio. Mas somos os crentes do novo testamento; estamos entre estes dois períodos. Pertencemos à Igreja; isto quer dizer que temos todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo (Ef 1.3).

Com a mesma alegria que anunciamos o perdão de seus pecados, queremos dizer aos jovens crentes: o céu é de vocês, nem mais nem menos; é de vocês hoje, agora. É de vocês porque Cristo, “o Celestial”, a quem vocês estão ligados, subiu para lá depois que o mundo O rejeitou. Moralmente vocês têm a mesma posição que Cristo: rejeitados pelo mundo, estão “assentados nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (2:6b) Talvez isso lhes pareça mera teoria. É certo que corporalmente ainda não estamos nos lugares celestiais, mas somos chamados a ver as coisas como se já estivéssemos lá!

Assim como do alto da montanha os objetos no vale, aos nossos olhos, se reduzem a pequenas proporções, igualmente, as coisas da terra, vistas do céu, incluindo as melhores e as mais legitimas, ocupam um lugar secundário. Tomam o caráter de coisas passageiras. Cessam de ser os objetos perseguidos com obstinação para nosso próprio prazer, como o são para as pessoas do mundo, as quais têm seus interesses na Terra. Para o crente, essas coisas não são mais que meios, ocasiões para glorificar a Deus. Mas, como alguém já disse, nós, os cristãos, na verdade temos muito pouca perspectiva. Porque a verdadeira perspectiva sobre todas as coisas só se obtém habitando no céu, de coração e pelo pensamento.

Além do mais, Deus já nos marcou com um sinal distintivo, um caráter de família, prova de que pertencemos a Ele. O Espírito Santo veio habitar no crente gravando nele o selo divino, o caráter celestial.

Na realidade, somos pessoas de outro mundo. Mesmo que tenhamos a mesma aparência dos homens que estão a nossa volta, nosso interior é totalmente diferente, por seus motivos, seus afetos e seus centros de interesse. Por isso o mundo não pode compreender o “celestial”. O mundo dirá aos cristãos: “Como podem gostar de ler a Bíblia, esse livro velho, e não gostar de ler nossos jornais e revistas? Vocês passam os domingos em reuniões ou em família, e nossos espetáculos e entretenimento não despertam o interesse de vocês! São jovens reservados, modestos; interessam-se por outras atividades. Tudo o que constitui o encanto da vida parece tão indiferente para vocês! Vocês são pessoas estranhas!”

Respondemos com a Palavra de Deus: agora somos “chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo” (1Jo 3.1) Assim como Jesus não foi conhecido nem compreendido, porque era do céu, o mesmo acontece com o crente fiel. Seus motivos e alegrias fogem dos padrões do mundo.

No entanto, é necessário que tenhamos esses motivos e alegrias. É preciso que conheçamos a maravilhosa recompensa do cristão por tudo a que renunciamos que não deveria nos custar nada, pois Cristo, Aquele a quem nos apegamos, é sumamente incomparável. Devemos desfrutar agora mesmo do céu e Daquele que o enche. Caso contrário, nossa separação do mundo será simplesmente teórica, pretensiosa, sem valor para Deus, sem força de testemunho.

Se nosso testemunho é muito fraco e existem poucas conversões ou nenhuma ao nosso redor, pode ser porque não damos aos que nos rodeiam a impressão de que o céu nos basta. Pelo contrario, parece que necessitamos também de muitas coisas da terra para nos sentirmos felizes.

Queridos amigos crentes, nós somos “celestiais”, estamos ligados ao “Celestial”. Que cada um de nós diga sinceramente: O céu é suficiente para minha felicidade presente, pois meu coração está no lugar em que meu vivo Salvador está!

Pela senda terrenal,
Guia-me Tua clara luz
À vida celestial,
Pai do Senhor Jesus!
O Espírito de Deus
Sempre testificando em mim,
Cantarei com doce voz:
Por Ti já fui salvo.

Salvador, manso Jesus!
Tu me tens muito perto de Ti,
Já que deste numa cruz
Prova de Teu amor por mim.
Eu Te peço Teu sustento,
Poderoso Salvador!
Me dê esse bem tão precioso,
Te suplico, meu Senhor!
Hinos e Cânticos (Espanha), 70

(Traduzido de Un mensaje bíblico Para Todos, n. 04/2006). Para Todos tem como objetivo ajudar o crente em sua vida cristã por meio de exemplos práticos tirados da Bíblia, que é “inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2Tm 3:16). Se você desejar receber mensal e gratuitamente Para Todos (em espanhol), escreva para: Ediciones Bíblicas Para Todos, 1166 Perroy – Suíça.
Tradução de Maria Augusta Matta Machado para Campos de Boaz (camposdeboaz.alef3.com).
Esse texto pode ser utilizado livremente apenas em publicações gratuitas, desde que se mantenha sua integridade e a informação sobre a tradução.

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Vida cristã

Orelhas, brincos e como vemos os irmãos

Eu tenho tendência a desenvolver cistos sebáceos. Já fui operado algumas vezes disso, para extraí-los.

Duas bolinhas, uma no lóbulo de cada orelha. Eu sabia: mais dois cistos. Nada alarmante, mas precisava ser operado. Consulta, cirurgia marcada. Lá fui eu.

Cirurgia ambulatorial, sem nenhum drama maior. Saí eu do hospital com curativos em ambas orelhas, visíveis, indisfarçáveis. E voltei para a empresa em que eu trabalhava, uma editora.

Essa empresa pertence à denominação em que eu me congregava na época. A maioria quase absoluta dos funcionários também pertencia à denominação, e seus diretores eram os grandes líderes dela na América do Sul.

Ao encontrar com meus colegas, recebi três tipos diferentes de reação. Grande parte dos que comentaram alguma coisa disseram: “Ih, tá usando brinco!” Depois, um único colega me disse: “Puxa, você permitiu que furassem sua orelha na porta, como o escravo de Deuteronômio. Agora, você pertence para sempre ao Senhor!” Eu mesmo nem havia pensado nessa passagem, mas a relação com ela me alegrou.

Fui trabalhando durante o dia. Mais tarde, tive uma reunião rápida com o diretor, um dos tais grandes líderes. Sua observação? Nenhuma. Absolutamente nada. Como se fosse a coisa mais comum do mundo eu ir trabalhar com pontos e esparadrapo nas orelhas.

Essa situação me faz pensar no modo como nos relacionamos com os irmãos, e creio serem três, ilustrados por cada uma das reações.

Talvez a maneira mais comum com que nos relacionemos com nossos conservos, os outros redimidos pelo Senhor, seja mundana, segundo a carne, superficial. Fazemos comentários que qualquer pessoa faria, falamos sobre assuntos da moda, fazemos piadas de gosto duvidoso, criticamos e zombamos de maneira descuidada. Muitas vezes, parece-me que a única forma de alguns filhos de Deus terem assunto para conversar é depois de verem um capítulo da novela ou assistido a um filme ou lido o jornal do dia. Para muitos é difícil conseguir ter Cristo de forma viva e real como o centro e ambiente de seu contato com outros filhos de Deus.

O segundo comentário, ligando minha cirurgia à consagração testemunhada pelas orelhas furadas no umbral da porta, indica-me a maneira correta de nos relacionarmos com outros a quem nosso Senhor redimiu. A Palavra tem de ser nosso ambiente, Cristo tem de ser o assunto e o limite, Sua glória tem de sempre ser respeitada. Isso não significa, é óbvio, que tenhamos de sempre estar citando versículos ou falando de assuntos “espirituais”. Significa, sim, que devemos estar permeados pela Palavra de tal modo que, de modo sábio e espontâneo, saibamos ligar todos os fatos a ela e, a partir deles, apresentá-la.

“A boca fala do que o coração está cheio” é verdade indiscutível revelada pelo Senhor. Se a primeira idéia que nos vem à mente é de brincos, é sinal evidente de que o coração está cheio de determinados conceitos. A boca não consegue falar de outra coisa.

Por outro lado, se a reação espontânea é relacionar tudo à Palavra, é sinal de que ela ocupa um bom lugar no coração, determinando, assim, o que a boca vai dizer. Somente desse modo poderemos ver em cada situação uma oportunidade de falar algo de Cristo, de Seu amor ou justiça, de Sua vida ou vinda. Do contrário, faremos apenas comentários bobos que qualquer incrédulo faria.

Há a última reação. E ela foi a que mais me chocou. Poucas coisas ferem mais os filhos de Deus do que a indiferença por parte de outros cristãos. Há quem deseje ser tão espiritual, ou que querem que outros pensem que são, que pensam ser necessário para isso viver isolados deste mundo, indiferentes às pessoas, avessos a reações muito “humanas”. Não sei se aquele líder fingiu alguma coisa, mas, no mínimo, refreou sua curiosidade — sim, uma característica humana! Há algum problema em perguntar a alguém: “Que é isso na sua orelha?”

Esse mesmo líder, quando meu pai faleceu, falou comigo sobre o trabalho, mas nada disse sobre o que havia acontecido. Nem o mais tradicional e burocrático “meus pêsames” saiu daquele homem espiritual e equilibrado. Estranho, muito estranho.

Somos seres humanos. Sim, redimidos pelo sangue de Cristo, salvos para habitar com Ele pela eternidade na glória, povo escolhido de Deus, propriedade exclusiva de Deus — mas ainda seres humanos. Ainda gente de carne e osso, emoções e dores, sofrimentos e dúvidas, angústias e medos, sonhos e carências. Ainda não somos anjos. Ainda sofremos todas as limitações da carne. E ainda precisamos de gente que nos compreenda e se interesse por nós.

Não estou falando aqui de desequilíbrios emocionais, como a autocomiseração, a síndrome do ninguém-me-ama. Mas refiro-me a necessidades comuns, pés-no-chão, como: um ombro para chorar, alguém com quem rir ou orar, um amigo para ouvir um desabafo. Não precisamos de gigantes espirituais inatingíveis, que assustam por sua inacessibilidade, por seu padrão tão alto que, em lugar de atrair outros, repele-os. Precisamos de gigantes pequeninos, gigantes que se humilham, poderosos homens de Deus capazes de sentar no chão e chorar com os que choram e se alegrar com os que se alegram. Não é esta a ordenança bíblica?

A igreja primitiva atraía as pessoas por ser humanamente celestial e celestialmente humana. Ela não era desencarnada, indiferente, fria. Mas era muito viva. Ela se importava com mulheres que pediam comida e era comovida com a necessidade de irmãos pobres. Vemos como o apóstolo Paulo era preocupado com gente. Basta ler Romanos 16 para ver a maneira tão humana e cheia de vida com que ele fala de muitos irmãos. Este é o evangelho!

Um dos autores publicados por aquela editora em que eu trabalhei disse que não devemos ter amigos na igreja. E acrescentou, sem disfarçar o orgulho, que nunca trocou um presente ou uma brincadeirinha sequer com outro irmão, ao lado de quem serviu por 18 anos. Sinto muita pena dele. Triste alguém que nunca teve amigos, mas apenas irmãos, cooperadores, esposas (teve duas) e filhos. Pena ter desperdiçado muitas oportunidades de presentear alguém a quem amava. Que tolice não ter trocado um gracejo com alguém em quem confiava. Não é isso que quero. Quero, antes, o evangelho que torna o homem a plenitude daquilo que Deus concebeu que ele fosse. Quero um evangelho de amigos, troca de presentes e boas risadas. Quero um evangelho que me autorize a perguntar: “Irmão, que é isso na sua orelha?” e a lhe dar os pêsames e abraçá-lo quando estiver triste pela morte do pai. E isso sem fazer com que eu seja menos espiritual, menos santo ou menos consagrado.

(Francisco Nunes, 20.12.04)

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Oração

Uma pequena e sincera oração (ou Uma pequena e sincera poesia)

Senhor,
Te amo!
Mesmo imperfeitamente,
Te amo!
Mas não Te quero amar assim,
mas mais,
mais completamente,
mais absolutamente.
Mais do que a mim.

(francisco nunes)

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Vida cristã

E hoje?

O que Deus preparou hoje para mim? Não sei. Serão dores e sofrimentos, alegrias e prazeres, decisões ou respostas? Não sei. Serei ferido ou honrado? Chorarei sozinho ou terei quem comigo chore? Não sei. Terminarei o dia satisfeito ou frustrado? Não sei. Nada sei de meu futuro. Nada sei do instante seguinte.Mas sei que nada vem a mim sem ter sido amorosamente planejado pelo coração de amor e pelas mãos feridas. Sei que nada vem a mim sem ter passado por Ele antes. Sei que tudo muda, dentro e fora de mim, mas que Seu amor por mim, desde a eternidade, demonstrado pela cruz, não muda, não diminui, não arrefece. Sei que, mesmo nada sabendo, posso confiar minha vida a meu Pai de amor e dizer-Lhe: “Pai, eu confio em Teu amor por mim.”
(Francisco Nunes)

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Vida cristã

Quanto custa ser cristão?

J. C. Ryle

Baseado em Lucas 14:28: “Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se senta primeiro a calcular as despesas, para ver se tem com que a acabar? “

 

Este versículo é de grande importância. Poucas são as pessoas que não têm freqüentemente de fazer esta pergunta: “Quanto custa?”. Ao comprar um terreno, ao construir uma casa, ao mobiliar as habitações, ao fazer planos para o futuro, ao decidir a instrução e estudos dos filhos, etc., seria sábio e prudente que nos sentássemos a considerar com calma os gastos que tudo isso implicaria. As pessoas evitariam muitas moléstias e dores se ao menos fizessem a pergunta: “Quanto custa ser um crente verdadeiramente ser santo?” Estas perguntas são decisivas. Por não havê-las formulado desde um bom princípio, muitas pessoas que pareciam iniciar bem a carreira cristã, mais tarde mudaram seu rumo e se perderam para sempre no inferno.

Vivemos em tempos muito estranhos. Os acontecimentos se sucedem com extraordinária rapidez. Nunca sabemos “o que o dia nos trará”, quanto mais o que nos trará o ano! Nos nossos dias vemos muitos fazerem confissões de sua religiosidade. Em muitas partes do país as pessoas expressam vivo desejo de seguir um curso de vida santo e um grau mais alto de espiritualidade. É muito comum ver como as pessoas recebem a Palavra com alegria, porém depois de dois ou três anos se afastam e voltam a seus pecados. Há muitos que não consideram o custo de ser um verdadeiro cristão e um crente santo. Nossos tempos requerem de um modo muito especial que paremos e consideremos o custo e o estado especial de nossas almas. Este tema deve preocupar-nos. Sem dúvida o caminho da vida eterna é um caminho delicioso, porém seria loucura de nossa parte fechar os olhos ao fato de que se trata de um caminho estreito e que a cruz vem antes da coroa.

1) O que custa ser um verdadeiro cristão?

Desejo que não haja mal entendidos sobre este ponto. Não me refiro aqui ao quanto custa salvar a alma do crente. Custou nada menos do que o sangue do Filho de Deus ao redimir o pecador e livrá-lo do inferno. O preço de nossa salvação foi a morte de Cristo na cruz do Calvário. Temos “sido comprados por preço”. Cristo derramou o seu sangue em favor de muitos” (Marcos 14:24; 1Co.6:20). Porém não é sobre este tema que versa nossa consideração. O assunto que vamos tratar é distinto. Refere-se ao que o homem deve estar disposto a abandonar se deseja ser salvo; ao que deve sacrificar se se propõe a servir a Cristo. É neste sentido que formulo a pergunta: “Quanto custa?”.

Não custa grande coisa ser um cristão de aparência. Só requer que a pessoa assista aos cultos do domingo, duas vezes e durante a semana seja medianamente moralista. Este é o “cristianismo” da grande parte dos evangélicos da nossa época. Se trata, pois, de uma profissão de fé fácil e barata; não implica em abnegação nem sacrifício. Se este é o cristianismo que salva e o qual nos abrirá as portas da glória ao morrermos, então não temos necessidade de alterar a mundana descrição do caminho da vida eterna e dizer: “Larga é a porta e largo é o caminho que conduz ao céu”.

Porém, segundo o ensino Bíblico, custa caro ser cristão. Há inimigos que vencer, batalhas que evitar e sacrifícios que realizar; deve-se abandonar o Egito, cruzar o deserto, carregar o peso da cruz e tomar parte na grande caminhada. A conversão não consiste em uma decisão tomada por uma pessoa, em um confortável sofá, para logo em seguida ser levado suavemente ao céu. A conversão marca o início de um grande conflito, e a vitória vem após muitas feridas e contendas. Custa se obter a vitória. Daí concluirmos a importância de calcularmos este custo.

Tratarei de demonstrar de uma maneira precisa e particular o que custa ser um verdadeiro cristão. Suponhamos que uma pessoa esteja disposta a servir a Cristo e se sente impulsionada e inclinada a segui-lo. Suponhamos que como resultado de alguma aflição, de uma morte repentina, ou de um sermão, a consciência de tal pessoa tem sido avivada e agora se dá conta do valor da alma e sente o desejo de ser um verdadeiro cristão. Sem dúvida alguma, todas as promessas do Evangelho se lhe resultarão alentadoras; seus pecados, por muitos e grandes que sejam, podem ser perdoados; seu coração por frio e duro que seja, agora pode ser mudado; Cristo, o Espírito Santo, a misericórdia, a graça, tudo está à sua disposição. Porém, ainda, tal pessoa deveria calcular o preço. Vejamos uma por uma, as coisas que deverá desejar, ou, em outras palavras, o que lhes custará ser cristão

A) Custará sua Justiça Própria

Deverá abandonar o orgulho e a auto-estima de sua própria bondade; deverá contentar-se com o ir ao céu como um pobre pecador, salvo pela gratuita graça de Deus e pelos méritos e justiça de outro (Jesus). Deverá experimentar que “tem errado e se tem desgarrado como uma ovelha”; que não tem feito as coisas que deveria ter feito e feito coisas que não deveria; deve confessar que não há nada são nele. Deve abandonar a confiança em sua própria moralidade e respeitabilidade, e não deve basear sua salvação no fato de que tem ido à igreja, tem orado, tem lido a Bíblia e participado dos sacramentos do Senhor, mas que deve confiar, única e exclusivamente na pessoa e obra de Cristo Jesus.

Isto parecerá muito duro a algumas pessoas, porém não me surpreende que seja assim. “Senhor – disse um lavrador, temeroso homem de Deus, a James Hervey – é mais difícil negar o nosso EU orgulhoso, que nosso EU pecador. Porém é absolutamente necessário que o neguemos. Aprendamos, pois, de uma vez por todas, que ser um verdadeiro cristão custará a uma pessoa perder sua justiça própria.

B) Custará seus pecados

Deverá abandonar todo hábito e prática que sejam maus aos olhos de Deus. Deve virar o seu rosto contra o pecado, romper com o pecado, crucificar o pecado, mesmo contra a opinião do mundo. Não pode estabelecer nenhuma trégua especial com nenhum pecado que amava antes da sua conversão. Deve considerar a todos os pecados como inimigos mortais de sua alma e odiar todo caminho de falsidade. Por pequenos ou grandes, ocultos ou manifestos que sejam os pecados, deve renunciar completamente a todos eles. Sem dúvida estes pecados tentarão vencê-lo, porém jamais poderá ceder. Sua luta contra o pecado será continua e não admitirá trégua de nenhum tipo. Está escrito: “Lançai de vós todas as vossas transgressões com que transgredistes…”. “cessai de fazer o mal” (Ez.18:31; ls.l:16).

Isto também parecerá muito duro para muitas pessoas; e vemos que freqüentemente nossos pecados são mais queridos do que nossos próprios filhos. Amamos o pecado, o abraçamos com todo nosso ser, nos agarramos a ele, nos deleitamos nele. Separar-nos do pecado é tão duro como separar-nos da nossa mão direita, e tão doloroso como se nos arrancassem um olho. Porém devemos separar-nos do pecado; não há outra alternativa possível. “Ainda que o mal lhe seja doce na boca, e ele o esconda debaixo da língua, e o saboreie, e o não deixe, antes o retenha no seu paladar.. “,sendo este o caso, devemos apartá-lo de nós si em verdade desejamos ser salvos (Jó 20:12-13). Se desejamos ser amigos de Deus, devemos primeiro romper com o pecado. Cristo está disposto a receber os pecadores, porém não aqueles que se agarram a seus pecados. Anotemos pois, também isto: o ser cristão custará a uma pessoa seus pecados.

C) Custará seu amor à vida fácil.

Para correr com êxito a corrida ao céu se requer esforço e sacrifício. Haverá de velar diariamente e estar alerta, pois se encontrará em território inimigo. Em cada hora e em cada instante deverá vigiar sua conduta, sua companhia e os lugares que freqüenta. Com muito cuidado haverá de dispor de seu tempo e vigiar sua língua, seu temperamento, seus pensamentos, sua imaginação, seus motivos e sua conduta em suas relações diárias. Terá que ser diligente em sua leitura da Bíblia, em sua vida de oração, na maneira como passa o Dia do Senhor e participa dos meios de graça. Certamente que não poderá conseguir perfeição em todas estas coisas, porém mesmo assim, não pode descuidar-se. “O preguiçoso deseja, e nada tem, mas a alma dos diligentes se farta” (Pv.13:4).

Também isto parece duro e difícil. Não há nada que nos desagrade tanto como as dificuldades na nossa confissão religiosa; por natureza evitamos as dificuldades. Secretamente desejaríamos que alguém pudesse cuidar de nossas obrigações religiosas e que desempenhasse por procuração nosso cristianismo. Não está de acordo com o nosso coração tudo aquilo que implique em esforço e trabalho; porém sem dor não há lucro para a alma. Deixemos bem firmado este fato: o ser cristão custará a uma pessoa seu amor pela vida fácil.

D) Custará o favor do mundo.

Se deseja agradar a Deus deve saber que será depreciado pelo mundo. Não deve estranhar se o mundo o engana, lhe ridiculariza, se levanta calúnias contra você e o persegue e o odeia. Não deve se surpreender se as pessoas o depreciam e com desdém condenam suas opiniões e práticas religiosas. Deve resignar-se a que o acusem de tolo, entusiasta e fanático, e inclusive que distorçam suas palavras e representem falsamente suas ações. Não se surpreenda de que o tachem de louco. O Mestre disse: “Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: Não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão vossa” (Jo.15:20).

Também isto parece duro e difícil. Por natureza nos desagrada o proceder injusto e as acusações falsas. Se não nos preocupa a boa opinião dos que nos rodeiam deixaríamos de ser de carne e osso._Sempre resulta desagradável ser o alvo de criticas injustificadas e objeto de mentira e falsas acusações; porém não podemos evitá-lo. Do cálice que bebeu o Mestre também devem beber seus discípulos. Estes devem ser “…desprezado, e o mais rejeitado entre os homens… (Is.53:3). Anotemos, pois, o dito: ser cristão custará a pessoa o favor do mundo.

Esta é, pois, a lista do que custará a uma pessoa ser cristã. Devemos aceitar o fato de que não é uma lista insignificante. Nada podemos riscar dela. Resultaria uma temeridade fatal se defendesse por justiça própria, os pecados, o amor à vida fácil, o amor ao mundo e crer que vivendo assim poder-se-ia salvar-se.

A realidade é esta: custa muito ser um verdadeiro cristão. Porém, que pessoa, no sentido pleno, pode dizer que este preço é demasiado elevado pela salvação da alma? Quando o barco está em perigo de afundar-se, a tripulação não vacila em lançar ao mar a preciosa carga. Quando a gangrena envolve a extremidade de um membro a pessoa se submeterá a qualquer operação, inclusive a amputação deste membro. Com maior motivo, pois, o crente está disposto a abandonar qualquer coisa que se levante entre sua alma e o céu. Uma religião que não custa nada, nada vale. Um cristianismo barato – sem a cruz – cedo ou tarde manifestará sua inutilidade; jamais levará a posse da coroa. Sem cruz não há coroa.

II) A Importância de Calcular o Custo.

Facilmente poderíamos resumir o assunto estabelecendo o princípio de que nenhuma das obrigações prescritas por Cristo pode ser descuidada sem grande prejuízo para a alma. São muitos os que fecham os olhos para a realidade da fé salvadora e evitam considerar o quanto custa ser cristão. E para ilustrar o que digo eu os poderia descrever o triste fim daqueles que, ao declinar seus dias, se dão conta desta realidade e fazem esforços espasmódicos para voltar-se para Deus. Porém, com grande surpresa se dão conta de que o arrependimento e a conversão não eram tão fáceis como haviam imaginado e que custa “uma grande soma” ser um cristão. Descobrem, também, que os hábitos do orgulho e a indulgência pecaminosa, junto com o amor a vida fácil e mundana, não podem abandonar-se tão facilmente como haviam pensado. E assim, depois de uma débil luta, caem em desespero a abandonam este mundo sem esperança, sem graça e sem estar preparados para comparecer diante de Deus. Em suas vidas alimentaram a idéia de que o assunto espiritual poderia ser solucionado prontamente e facilmente. Porém abrem seus olhos quando já é demasiado tarde e descobrem, pela primeira vez na vida, que estão indo para perdição por não haver antes “calculado o custo”.

Porém, há uma classe de pessoas as quais quero dirigir-me ao desenvolver esta parte do tema. E um grupo numeroso e que espiritualmente está em grande perigo. Tratarei de descrever estas pessoas e ao fazê-lo agucemos nossa atenção. Estas pessoas não são, como as anteriores, ignorantes do evangelho; não, ao contrário: pensam muito nele; não ignoram o conteúdo da fé; conhecem bem os esquemas da revelação. Porém, o grande defeito das tais pessoas é que não estão “arraigadas nem fundamentadas na fé”. Com muita freqüência o conhecimento religioso destas pessoas é de segunda mão; têm nascido de famílias cristãs, têm-se educado em uma atmosfera cristã, porém nunca têm experimentado em suas vidas as realidades do novo nascimento e a conversão. Precipitadamente e talvez por pressões diversas, ou pelo desejo de ser como os demais, têm feito profissão de fé e se tem unido a membresia de alguma igreja, porem sem haver experimentado uma obra da graça em seus corações. Estas pessoas estão em uma posição perigosíssima e são as que mais necessitam da exortação de calcular o custo de serem verdadeiros cristão,

Por não haver calculado o custo um grande número de israelitas pereceu miseravelmente no deserto entre o Egito e Canaã. Cheios de zelo e entusiasmo abandonaram a terra de Faraó e parecia que nada poderia pará-los. Porém, tão logo encontraram perigos e dificuldades no caminho, seu calor não tardou em esfriar-se. Nunca pensaram na possibilidade de que pudessem surgir obstáculos. Pensavam que em questão de dias entrariam na posse da terra prometida. E assim, quando pelos inimigos, privações, sede e fome, foram provados, começaram a murmurar contra Moisés e contra Deus e desejaram voltar ao Egito. Em uma palavra: “não calcularam o custo” e em conseqüência morreram em seus pecados.

Por não haver calculado o custo, muitos dos seguidores de Jesus voltaram suas costas “… e já não andavam com ele” (Jo 6:66). Quando pela primeira vez viram seus milagres e ouviram sua pregação, pensaram: “O Reino de Deus virá a qualquer momento”. Se uniram ao número dos apóstolos e, sem pensar nas conseqüências, o seguiram. Porém se deram conta de que se tratava de doutrinas duras de crer, e uma obra dura de realizar, e de uma missão dura de se levar a termo, sua fé se desmoronou e nada ficou da mesma. Em uma palavra: não pararam para “calcular o custo”, por isso naufragaram na sua profissão de fé cristã.

Por não haver calculado o custo, o rei Herodes voltou outra vez a seus velhos pecados e destruiu a sua alma. Desfrutava ouvindo a pregação de João Batista. O admirava e considerava um homem justo e santo, e inclusive o ouvia “de boa mente”. Porém, quando se deu conta de que devia abandonar a sua favorita Herodias, sua profissão de fé religiosa se desvaneceu por completo. Não havia pensado nisto; não havia “calculado o custo” (Marcos 6:20).

Por não haver calculado o custo, Demas abandonou a companhia de Paulo, abandonou o evangelho, deixou a Cristo e perdeu o céu. Por longo período de tempo com o grande apóstolo dos gentios e se converteu em um dos seus companheiros de trabalho. Porém, quando se deu conta de que não podia participar da companhia do mundo e de Deus ao mesmo tempo abandonou o cristianismo e se uniu ao mundo. “Demas, tendo amado o presente século” – nos diz Paulo – “me abandonou… “(II Tm.4: 10). Não havia calculado o custo.

Por não haver calculado o custo milhares de pessoas que têm sentido uma experiência religiosa sob a evangelização de famosos pregadores naufragam espiritualmente. Se excitam e emocionam e chegam a pensar que experimentaram uma obra genuína de conversão; porém, na realidade não tem sido assim. Receberam a Palavra com alegria tão espetacular que inclusive surpreenderam os crentes experimentados. Com tal entusiasmo falavam da obra de Deus e das coisas espirituais que os crentes mais velhos chegavam a envergonhar-se de si mesmos. Porém, quando a novidade e o frescor de seus sentimentos se dissiparam, uma repentina mudança lhes sobreveio e demonstraram que na realidade não eram mais do que corações de terreno pedregoso em que a Palavra não pôde lançar raízes profundas. “O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe logo, com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, sendo antes de pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza” (Mt.13:20-21). Pouco a pouco se derrete o céu de tais pessoas e seu amor se esfria. Por fim chega o dia quando seu assento na igreja está vazio e já nada se sabe deles. Por que? Porque não “calcularam o custo”.

Por não haver contado o custo, milhares de pessoas que professaram ser salvas em reuniões de avivamento, depois de um tempo voltam ao mundo e são motivo de vergonha para o evangelho. Começam com uma noção tristemente equivocada do que seja o verdadeiro cristianismo. Imaginam que a fé cristã não é mais que uma “decisão por Cristo”, uma mera experiência de certos sentimentos de alegria e paz. Logo que se dão conta de que têm de carregar uma pesada cruz no peregrinar até o céu, de que o coração é enganoso e de que o diabo está sempre ativo, se decepcionam e esfriam e retornam a seus velhos pecados. Por que? Porque nunca chegaram a saber o que é o cristianismo da Bíblia. Nunca aprenderam a calcular o custo.

Por não haver calculado o custo, freqüentemente os filhos de pais crentes dão um pobre testemunho do que é o cristianismo e são motivo de afronta para o evangelho. Desde a infância se familiarizaram de uma maneira teórica com o conteúdo do evangelho. Têm aprendido de memória longas passagens da escritura e têm assistido com certa regularidade a Escola Dominical, porém na realidade nunca têm pensado seriamente no que têm aprendido. E quando as realidades da vida começam a fazer-se sentirem suas vidas, com grande assombro por parte dos membros da congregação, estes filhos de crentes abandonam toda religião e submergem de cheio no mundo. Por que? Porque nunca chegaram a entender seriamente os sacrifícios e conseqüências que uma profissão de fé séria o cristianismo exige. Nunca se lhes ensinou a calcular o custo.

Estas verdades são tão solenes como dolorosas, porém são verdades e põem em relevo a importância do tema que estamos considerando. São considerações que põem de manifesto a absoluta necessidade que têm todos aqueles que professam um desejo profundo de santidade, de fazer-se a pergunta: Quanto custa?

Melhor iriam as coisas em nossas igrejas se ensinassem a seus membros a calcular o custo que implica a profissão de fé cristã. A maioria dos líderes religiosos dos nossos dias dão mostras de uma impaciente pressa nas coisas do evangelho. Parece que o único grande fim a que se propõem é a conversão instantânea das almas, e em torno disto centralizam seus esforços. Esta maneira tão parcial e vazia de ensinar e apresentar o cristianismo é funesta.

Não interpretem mal o que digo. Eu aprovo inteiramente que se ofereça a salvação de uma maneira imediata, gratuita e completa em Cristo. Aprovo plenamente que se chame com urgência os pecadores a que se convertam imediatamente depois de se ouvir a mensagem de salvação. E a estas coisas não cedo o primeiro lugar. Mas condeno a atitude e o proceder de alguns que apresentam estas verdades por si só, isoladas e sem relação às demais verdades de todo conselho de Deus. Além destas verdades, com toda honestidade devemos advertir os pecadores das obrigações que impõe o serviço a Cristo e o que implica sair do mundo. Não temos direito de forçá-los a entrar no exército de Cristo, se antes não os temos advertido e prevenido da magnitude da batalha cristã. Em uma palavra: devemos adverti-los do custo de ser um verdadeiro cristão.

Não foi esta a maneira de proceder do nosso Senhor Jesus? O evangelista Lucas nos diz que, em certa ocasião “Ora, ia com ele uma grande multidão; e voltando-se, disse-lhes: Se alguém viera mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo” (Lc. 14:25-27). Francamente, não se pode reconciliar esta passagem bíblica com a maneira de proceder de muitos mestres religiosos da nossa época; no que a mim concerne, a doutrina do mesmo é clara como a luz do meio dia. Esta doutrina ensina que não temos que forçar os pecadores a uma precipitada confissão de fé cristã, sem antes não os termos advertido claramente da necessidade que têm de calcular o custo.

Lutero, Latimer, Baxter, Wesley, Whitefield, Rowland HilI, e outros, procederam segundo a maneira pela qual defende este texto. Todos estavam bem cientes do caráter enganoso do coração humano; e sabiam bem que não é ouro tudo que reluz, que a convicção não é conversão, que a emoção não é fé, que o sentimento não é graça, que não é de todo botão que provém fruto. “Não vos enganeis – era o grito constante destes pregadores – pensai bem no que fazeis; não corrais antes de haverdes sido chamados; calculem o custo!”.

Se desejamos fazer o bem, não nos envergonhemos de seguir as pisadas do nosso Senhor Jesus Cristo. Exortem as pessoas a que considerem seus caminhos. Obrigue-os com santa violência a que entrem e participem do banquete a que se entreguem completamente a Deus. Ofereça-os uma salvação gratuita, completa e imediata. Insta-os uma e outra vez a que recebam a Cristo na plenitude de seus benefícios. Porém, em tudo, diga-lhes a verdade, toda a verdade! Alguns pregadores se utilizam de atos vulgares para recrutar adeptos. Não fale somente do uniforme, do soldo e da glória, fale também dos inimigos da batalha, da armadura, das sentinelas, das marchas, e dos exercícios. Não apresente apenas uma parte do cristianismo. Não esconda a cruz da abnegação, que todo peregrino cristão deve levar, quando falar da cruz sobre a qual Cristo morreu para nossa redenção. Explique com detalhes tudo o que a profissão de fé cristã implica. Rogue com insistência várias vezes aos pecadores que se arrependam e corram para Cristo; porém, insista, ao mesmo tempo, a que se sentem e calculem o preço.

III) Sugestões para Ajudar a Calcular Corretamente o Custo.

Mencionarei alguns fatores que sempre influenciam nos nossos cálculos para saber o custo do verdadeiro cristianismo. Considere com calma e equilíbrio o que se tem de deixar e o que se tem de provar para chegar a ser discípulo de Cristo. Não esconda nada, considera tudo. E logo, faça as seguintes somas, tendo o cuidado de repassá-las bem para não haver equivoco, pois o resultado correto dos mesmos é alentador:

Conte e compare os benefícios e as perdas que um discipulado verdadeiramente cristão contém. Muito possivelmente perderás algo deste mundo, porém ganharás a salvação da alma imortal. Está escrito: “Que aproveita ao homem, ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc.8:36).

Conte e compare os elogios e censuras, se é que és um cristão verdadeiro. Muito provavelmente terás de sofrer as reprovações do mundo, porém, terás a aprovação de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. As censuras vêm dos lábios de pessoas equivocadas, cegas e falíveis; a aprovação vem do Rei dos reis o Juiz de toda a terra. Está escrito: “Bem-aventurado sois quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós” (Mt 5:Il-12).

Conte e compare os inimigos e amigos. Por um lado tens a inimizade do diabo e dos maus; por outro, tens o favor e a amizade de Cristo Jesus. Os inimigos, quando muito, podem produzir-te alguns arranhões, pode rugir forte e rodear a terra e o mar para tratar de arruinar a tua alma; porém não pode de modo nenhum destruí-la. Teu Amigo é poderoso para salvar-te eternamente. Está escrito: “Digo-vos, pois, amigos meus: Não temais os que matam o corpo e, depois disso, nada mais podem fazer. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: Temei aquele que depois de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a esse deveis temer” (Lc. 12:4-5).

Conte e compare a vida presente e a por vir. A vida presente não é fácil; implica em vigilância, oração, luta, esforço, fé e labor; porém, só é por poucos anos. A vida vindoura será de descanso e repouso; a influência do pecado já terá terminado e satanás estará acorrentado. E, ah! será um descanso para toda eternidade. Está escrito: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para noS eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentado nós nas cousas que se vêem; porque as cousas que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas” (2 Co.4:17-18).

Conte e compare os prazeres do pecado e a felicidade do serviço a Deus. Os prazeres que o homem mundano obtêm são vazios, irreais, não satisfazem. São como a fogueira que fazem os espinhos arder: range e brilha, porém, só por uns minutos, logo se apaga e desaparece. A felicidade que Cristo outorga a seu povo é sólida, duradoura e substancial; não depende da saúde nem das circunstâncias; nunca abandona o crente, nem mesmo na hora da morte. E uma felicidade que, além disso, se verá galardoada com uma coroa incorruptível. Está escrito: “O júbilo dos perversos é breve”; “Pois qual o crepitar dos espinhos debaixo duma panela, tal é a risada do insensato” (Jó 20:5; Ec.7:6). Porém também está escrito: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la a dou com a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (Jo. 14:27).

Conte e compare as tribulações que o cristianismo verdadeiro implica e as tribulações que sobrevirão aos maus após a morte. A leitura da Bíblia, a oração, a luta cristã, uma vida de santidade, etc., implica em dificuldades e exigem abnegação por parte do crente. Porém não é nada em comparação com a “ira que virá” e que se desencadeará sobre os impenitentes e os incrédulos. Um só dia no inferno será muito mais intolerável que toda uma vida de peregrinação levando a cruz. O “bicho que nunca morre e o fogo que nunca se apaga” é algo que vai mais além do que a mente humana pode conceber e descobrir. Está escrito: “Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu em tormentos” (Lc.16:25).

Considere e compare, em último lugar, o número daqueles que se voltam do pecado e do mundo para servir a Cristo, e o número daqueles que deixam a Cristo e voltam ao mundo. Os que se voltam do pecado e do mundo para servir a Cristo são muitos; porém nenhum dos que realmente têm conhecido a Cristo voltam ao inundo. Cada ano multidões abandonam o caminho largo e tomam a senda estreita que conduza vida. Nenhum dos que andam pelo caminho estreito se cansam do mesmo e voltam ao caminho. O caminho largo registra muitas pegadas de pessoas que torceram seu rumo e o abandonaram; porém, as pegadas dos caminhantes do caminho estreito, que conduz ao céu todas seguem a mesma direção. Está escrito “O caminho dos perversos é como a escuridão”. “O caminho dos pérfidos é intransitável” (Pv. 4:19; 13:15). Porém, também está escrito: “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv. 4:18).

Estas somas e estas contas freqüentemente não se fazem corretamente; por isso há pessoas que continuamente e não podem dizer se vale a pena ou não servir a Cristo. As perdas e ganhos, as vantagens e desvantagens, as tribulações e os prazeres, as ajudas e os obstáculos, lhes dão um balanço tão igual, que não podem optar por Cristo. É que não têm feito a soma corretamente.

Como se explica o erro de tais pessoas? Se deve a uma carência de fé por sua parte. Para chegar a uma conclusão correta sobre nossas almas, devemos conhecer algo daquele poderoso princípio que Paulo menciona no capítulo 11 de sua Epístola aos Hebreus. Permitam-me demonstrar de que maneira intervém este princípio no grande “negócio” de calcular o custo.

A que se deveu o fato de Noé perseverar até o fim na construção da arca? Estava só em meio a uma geração pecadora, incrédula e havia de sofrer o opróbrio, a zombaria e o ridículo das pessoas. O que lhe deu fortaleza ao seu braço e paciência em seu labor? Foi a fé. Noé cria na ira que havia de vir; cria que só na arca poderia achar o refúgio seguro. Pela fé considerou e teve como pobre o conceito e a opinião do mundo. Pela fé calculou o custo e não duvidou de que a construção da arca significava um ganho.

A que se deveu o fato de Moisés rejeitar os prazeres do Egito e recusar-se ser chamado de filho da filha de Faraó? Como pode escolher ser maltratado com o povo de Deus e dirigir ao povo hebreu á terra da promissão, livrando-o da terra da escravidão? Segundo o testemunho do olho humano dos sentidos iria perder tudo e não ia ganhar nada em troca. O que impulsionou Moisés a agir dessa forma? Foi a fé. Ele cria que acima de Faraó havia UM maior e mais poderoso que o dirigiria e protegeria em sua grande missão. Ele tinha por maiores riquezas o vitupério de Cristo que todos os tesouros dos egípcios. Pela fé calculou o custo e “como vendo o invisível”, se persuadiu de que o abandono do Egito e o peregrinar pelo deserto era, na realidade, ganho.

Que foi que fez o fariseu Saulo de Tarso decidir deixar a religião de seus pais e abraçar o Cristianismo? Os sacrifícios e os custos que a mudança implicava eram em verdade enormes. No entanto, Paulo abandonou todas as brilhantes perspectivas que tinha entre os de sua nação; trouxe sobre si, ao invés do favor dos homens, o ódio do homem, a inimizade do homem, a perseguição do homem até a morte. A que se deveu o fato de Paulo poder fazer frente a tudo isso? Se deveu a sua fé. Ele cria que Jesus, a quem conheceu no caminho de Damasco, poderia dar-lhe cem vezes mais do que o que abandonara, e no mundo vindouro a vida eterna. Pela fé calculou o custo, e viu claramente até que lado se inclinava a balança. Cria firmemente que o tomar a cruz de Cristo sobre si era ganho.

Notemos bem todas estas coisas. A fé que fez Noé, Moisés e Paulo fazerem as coisas que fizeram, é o segredo que nos levará a conclusões corretas com respeito a nossa alma. A mesma fé tem de ser nossa ajudadora e nosso livro de contas quando nos sentamos para calcular o custo do verdadeiro cristianismo. Esta fé, se a pedimos a receberemos. “Ele dá maior graça” (Tiago 4:6). Armados com esta fé apreciaremos as coisas no seu justo valor. Cheios desta fé, nunca aumentaremos a cruz nem diminuiremos a coroa. Nossas conclusões serão todas corretas; nossa soma total não registrará erros.

Conclusão

Em conclusão desejo que consideres seriamente se tua profissão de fé religiosa te custa atualmente algo. Mui possivelmente não te custa nada. Com toda probabilidade tua religião não te custa dificuldades, nem tempo, nem pensamentos, nem cuidados, nem dores, nem leitura alguma, nem oração, nem abnegação, nem conflito, nem trabalho, nem labor de nenhuma classe. Bem, pois não te escuses do que vou te dizer: esta profissão de fé nunca poderá salvar tua alma; nunca te dará paz enquanto estás vivo, nem esperanças na hora da morte. lima religião que não custa nada, não vale nada. Desperta! Desperta! Desperta e crê! Desperta e ora! Não descanses até que possas dar uma resposta satisfatória a minha pergunta: “Que te custa?”

Pensa se é que necessitas de motivos que te estimulem mais e mais para o serviço do Senhor, pensa no muito que custou a salvação de tua alma. Considera que nada menos do que o Filho de Deus teve de abandonar o céu, fazer-se homem, sofrer a cruz, ser sepultado, para logo ressuscitar vitorioso sobre o pecado e a morte, e tudo para obter a redenção de tua alma. Pensa em tudo isso e te convencerás de que não é algo insignificante possuir uma alma mortal. Vale a pena tomar-se o incômodo de pensar sobre a esta alma tão preciosa.

Ó, homem preguiçoso! Ó, mulher preguiçosa! Te conformarás com perder o céu por mero fato de que não queres te preocupar com as coisas espirituais? Tanto te repugna o exercício e o esforço como para permitir que tua alma naufrague para toda a eternidade? Sacode esta atitude covarde e indigna! Lavanta-te e porta-te varonilmente! Que não termine o dia sem que hajas dito a ti mesmo: “Por muito que seja o custo, eu tomo a determinação de esforçar-me para entrar pela porta apertada”. Olha a cruz de Cristo e receberás alento para seguir adiante, e valor para consegui-lo. Sê sincero e realista com tua própria situação espiritual; pensa na morte, no juízo, na eternidade. Poderá custar muito o ser cristão, porém podes estar seguro de que vale a pena.

Se algum leitor realmente sente que tem calculado o custo, e tomado sobre si a cruz, eu o exorto a que persevere e continue em frente. Talvez freqüentemente sintas como se teu coração estivesse a ponto de desfalecer, e que o ímpeto da tentação ameaça naufragá-lo no desespero. Eu te digo: persevera, segue em frente. Não há dúvida de que teus inimigos são muitos, e os pecados que te rodeiam batem com ímpeto; talvez os teus amigos sejam poucos, e o caminho íngreme e estreito. Porém, mesmo assim, nestas circunstâncias, persevera e segue adiante.

O tempo é muito curto. Uns poucos anos de vigilância e oração, uns vão e vêm sobre as ondas do mar deste mundo, umas poucas mortes a mais, umas mudanças a mais, uns poucos verões a mais, e já não haverá necessidade de muita luta.

A presença e companhia de Cristo compensará os sofrimentos deste mundo. Quando nos vemos como somos vistos, e olhamos até a nossa jornada da nossa vida, nos surpreenderemos de nossa debilidade e desmaios de coração. Ficaremos surpresos de que demos tanta importância a nossa cruz, e pensamos tão pouco em nossa coroa. Ficaremos maravilhados de que calculando o custo, chegamos até a duvidar para onde se inclinava a balança. Animemo-nos! Não estamos longe do nosso lugar eterno!

 

Autor: J. C. Ryle

Fonte: Jornal “Os Puritanos” Ano IV N.3


Obs.:
Apesar de respeitar Ryle, penso que o nome mais correto e a ênfase adequada seria falar em ser discípulo, não em ser cristão. Cristão é o regenerado, o que nasceu do alto ao crer no Senhor. E, para isso, não há nenhum preço a ser pago, pois o preço já foi pago na cruz do Calvário. No entanto, após crer no Senhor, temos de segui-Lo, e isso é o que significa ser discípulo e, para isso, há preço a ser pago.

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Frases de quem andou com Deus

Sentimentos que não podem ser expressos são sempre orações que não podem ser recusadas.

(C. H. Spurgeon)

Se o Senhor me falhar desta vez, será a primeira vez.

(George Müller)

Nunca encontrei alguém que orasse tão bem como aqueles que nunca foram ensinados a orar. Aqueles que não têm um mestre nos homens têm-no no Espírito Santo.

(Pere la Combe)

O que tem um coração puro não cessará de orar nunca, e o que for constante na oração conhecerá o que é ter um coração puro.

(Pere la Combe)

Ó nosso Santo Lavrador, limpa e corta tudo o que há em nós que poderia tornar-se objeto de exibição ou poderia transformar-se em fonte de auto-confiança e jactância. Senhor, mantém-nos humildes, para que nenhuma carne se glorie em Tua presença. Confiamos em Ti para fazer Tua obra.

(Andrew Murray)

Deus perdoe os que fazem um mau relatório sobre a doce cruz de Cristo. São somente os nossos olhos fracos e turvos que só vêem o lado negro e nos fazem errar.

(Samuel Rutherford)

O amor deseja a companhia do ser amado — e minha dor maior é a ausência Dele, não de Suas alegrias e conforto, mas de uma união e comunhão mais íntimas.

(Samuel Rutherford)

Eu não quero nada para mim mesma; quero tudo para o Senhor.

(Margaret Barber)

Senhor, eu confesso que não gosto disso, mas, por favor, Senhor, não se dobre a mim. Espere um pouco e certamente eu vou me render a Ti.

(Margaret Barber)

Usa-me, então, meu Salvador, para qualquer propósito e de qualquer maneira que Tu desejares. Eis aqui meu pobre coração, um vaso completamente vazio. Encha-o com a Tua graça.

(Dwight L. Moody)

Bem-vinda, bem-vinda, doce, doce e gloriosa cruz de Cristo! Bem-vindo, doce Jesus, com Tua leve cruz! Tu já obtiveste e agora possuis todo o meu amor. Guarda o que Tu conseguistes.

(Samuel Rutherford)

As aflições são doces ao paladar. Cristo nos rodeia de aflições tanto como de misericórdias e bens. Oh, a aflição é uma tragédia quando não se está sob a sombra de Cristo!

(Robert M. McCheyne)

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É tudo bom, mesmo que em pacotes feios

“Deus pode mandar-lhe, amigo, alguns pacotes com conteúdos valiosos. Não se aflija se vierem com uma aparência grosseira. Pode estar certo de que ali dentro estão escondidos tesouros de amor, de bondade e de sabedoria. Se aceitarmos o que Ele nos manda e confiarmos Nele quanto à bondade ali contida, mesmo no escuro, conheceremos o significado dos segredos de Sua providência.”
(A. B. Simpson)

No final desse dia, ainda há oportunidade de acolher com mansidão tudo o que o Senhor tem enviado a você, e dizer-lhe: “Pai, é tudo bom se vem de Tuas mãos!”

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Arrependimento

Dwight L. Moody

Eu não me dirijo somente ao não convertido, porque sou daqueles que crêem que a igreja precisa se arrepender muito antes que muita coisa de valor possa ser feita no mundo. Acredito firmemente que o baixo padrão de vida cristã está mantendo muita gente no mundo e nos seus pecados. Se o incrédulo vê que o povo cristão não se arrepende, não se pode esperar que ele se arrependa e se converta de seu pecado. Eu tenho me arrependido dez mil vezes mais depois que conheci a Cristo, do que em qualquer época anterior, e penso que a maioria dos cristãos precisa se arrepender de alguma coisa.

Assim, quero pregar tanto para os cristãos como para os não-convertidos, tanto para mim mesmo quanto para aquele que nunca conheceu a Cristo como seu Salvador.

Há cinco coisas que fluem do verdadeiro arrependimento:

1. Convicção.
2. Contrição.
3. Confissão de pecado.
4. Conversão.
5. Confissão de Cristo diante do mundo.

Convicção

Quando um homem não está profundamente convicto de seus pecados, é um sinal bem certo de que ainda não se arrependeu de verdade. A experiência tem me ensinado que as pessoas que têm uma convicção muito superficial de seus pecados, cedo ou tarde recaem em suas velhas vidas. Nos últimos anos tenho estado bem mais ansioso por uma profunda e verdadeira obra de Deus entre os já convertidos do que em alcançar grandes números. Se um homem confessa ser convertido sem reconhecer a atrocidade de seus pecados, provavelmente se transformará num ouvinte endurecido que não irá muito longe. No primeiro sopro de oposição, na primeira onda de perseguição ou ridículo, eles serão carregados de volta para o mundo.

Creio que é um erro lamentável conduzirmos tantas pessoas à igreja que nunca experimentaram a verdadeira convicção de pecados. O pecado no coração do homem é tão negro hoje quanto o foi em qualquer outra época. Às vezes penso que está mais negro. Porque quanto maior a luz que uma pessoa tiver, maior sua responsabilidade, e por conseguinte maior a sua necessidade de profunda convicção.

Até que a convicção de pecados nos faça cair de joelhos, até que estejamos completamente humilhados, até que tenhamos perdido toda esperança em nós mesmos, não podemos encontrar o Salvador.

Há três coisas que nos levam à convicção: (1) A Consciência; (2) A Palavra de Deus; (3) O Espírito Santo. Todos os três sao usados por Deus.

Muito antes de existir a Palavra escrita, Deus tratava com o homem através da consciência. Foi por isto que Adão e Eva se esconderam da presença do Senhor Deus entre as árvores do Jardim do Éden. Foi isto que convenceu os irmãos de José quando disseram: ‘Na verdade, somos culpados, no tocante a nosso irmão, pois lhe vimos a angústia da alma, quando nos rogava, e não lhe acudimos. Por isso’, disseram eles (e lembre-se, mais de vinte anos haviam se passado depois que eles o venderam como cativo), ‘ por isso nos vem essa ansiedade’.

É a consciência que devemos usar com nossos filhos antes de atingiram uma idade onde podem entender a Palavra e o Espírito de Deus. E é a consciência que acusa ou inocenta o ímpio.

A consciência é ‘uma faculdade divinamente implantada no homem, que o pede a fazer o que é certo’. Alguém disse que ela nasceu quando Adão e Eva comeram do fruto proibido, quando seus olhos foram abertos e ‘conheceram o bem e o mal’. Ela julga, mesmo contra nossa vontade, os nossos pensamentos, palavras, e ações, aprovando ou condenando-os de acordo com a sua avaliação de certo ou errado. Uma pessoa não pode violar sua consciência sem sentir a sua condenação.

Mas a consciência não é um guia seguro, porque freqüentemente ela só dirá que uma coisa é errada depois de você a praticar. Ela precisa ser iluminada por Deus porque faz parte de nossa natureza caída. Muitas pessoas fazem o que é errado sem serem condenadas pela consciência. Paulo disse: ‘Na verdade, a mim me parecia que muitas cousas devia eu praticar contra o nome de Jesus, o Nazareno’ (At 26:9). A própria consciência precisa ser educada.

Outra vez, a consciência freqüentemente é como um relógio despertador, que a princípio desperta e acorda, mas com o tempo a pessoa se acostuma com ele, e então perde o seu efeito. A consciência pode ser asfixiada. Creio que cometemos um erro em não dirigirmos as pregações mais para a consciência.

Portanto, no devido tempo a consciência foi suplantada pela Lei de Deus, que no seu tempo foi cumprida em Cristo.

Neste país cristão, onde as pessoas têm Bíblias, a Palavra de Deus é o meio que Deus usa para produzir convicção. A Bíblia nos diz o que é certo e o que é errado antes de você cometer o pecado, e assim o que você precisa é aprender e apropriar-se de seus ensinos, sob a direçao do Espírito Santo. A consciência comparada à Bíblia é como uma vela comparada ao sol lá no céu.

Veja como a verdade convenceu aqueles judeus no dia de Pentecostes. Pedro, cheio do Espírito Santo, pregou que ‘este Jesus que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo’. ‘Ouvindo eles estas cousas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?’ (At 2: 36, 37).

Em terceiro lugar, enfim, o Espírito Santo convence. Algumas das mais poderosas reuniões de que já participei foram aquelas em que houve uma espécie de quietude sobre o povo e parecia que um poder invisível se apoderava das consciências. Lembro-me de um homem que veio à reunião e no momento em que entrou, sentiu que Deus estava lá. Um senso de reverência veio sobre ele, e naquela mesma hora sentiu convicção e se converteu.

Contrição

A próxima coisa é a contrição, o profundo sentimento de tristeza segundo Deus e humillhação de coração por causa do pecado. Se não houver verdadeira contrição, o homem voltará direto para o seu velho pecado. Esse é o problema com muitos cristãos.

Um homem pode sentir raiva e se não houver muita contrição, no dia seguinte sentirá raiva outra vez. A filha pode dizer coisas indignas, ofensivas à sua mae, e porque sua consciência lhe perturba ela diz: ‘Mãe, sinto muito. Perdoe-me’.

Mas logo há um outro impulso genioso, porque a contrição não foi profunda nem verdadeira. Um marido diz palavras agressivas à sua esposa, e então para aliviar sua consciência, compra um buquê de flores para ela. Ele não quer enfrentar a situação como um homem e dizer que errou.

O que Deus quer é contrição, e se não houver contrição, não há arrependimento completo. ‘Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os de espírito oprimido.’ ‘Coração compungido e contrito não o desprezarás, ó Deus.’ Muitos pecadores lamentam por seus pecados, lamentam por não poderem continuar pecando; mas se arrependem apenas com corações que não estão quebrantados. Não creio que saibamos como nos arrepender atualmente. Precisamos de um João Batista, que ande pelo país, gritando: ‘Arrependam-se! Arrependam-se!’

Confissão de pecado

Se tivermos verdadeira contrição, ela nos levará a confessarmos nossos pecados. Creio que nove décimos dos problemas em nossa vida cristã são resultado de não fazermos isso. Tentamos esconder e cobrir nossos pecados. Há muito pouca confissão deles. Alguém disse: ‘Pecados não confessados na alma são como uma bala no corpo’.

Se você não tiver poder, talvez seja porque há algum pecado que precisa ser confessado, alguma coisa em sua vida que necessita ser removida. Não importa quantos salmos você cante, ou a quantas reuniões você compareça, ou o quanto você ore e leia a sua Bíblia, nada disso encobrirá esse tipo de problema. O pecado deve ser confessado, e se o meu orgulho me impede de confessar, não devo esperar misericórdia de Deus nem respostas às minhas oraçoes.

A Bíblia diz: ‘O que encobre as suas transgressões, jamais prosperará’ (Pv 28:13). Pode ser um homem no púlpito, um sacerdote por trás do altar, um rei no trono _ não me importo quem ele seja. O homem está tentando fazer isso há seis mil anos. Adão o tentou e falhou. Moisés o tentou quando enterrou o egípcio que matou, mas falhou.

‘Sabei que o vosso pecado vos há de achar.’ Por mais que você tente enterrar o seu pecado, este tornará a aparecer mais cedo ou mais tarde, se não for apagado pelo Filho de Deus. Se o homem nunca conseguiu fazer isso em seis mil anos, é melhor você e eu desistirmos de tentar.

Há três maneiras de se confessar pecados. Todo pecado é contra Deus, e a Ele deve ser confessado. Há pecados que eu não preciso confessar a pessoa alguma no mundo. Se o pecado foi entre mim e Deus, devo confessá-lo sozinho no meu quarto. Não preciso cochichá-lo no ouvido de nenhum mortal. ‘Pai, pequei contra o céu e diante de Ti.’ ‘Pequei contra Ti, contra Ti somente, e fiz o que é mal perante os teus olhos.’

Mas se fiz algo errado a alguma pessoa, e ela sabe que a prejudiquei, devo confessar o pecado não somente a Deus mas também a esta pessoa. Se o meu orgulho me impede de confessar meu pecado, não preciso ir a Deus. Posso orar, posso chorar, mas isso não adiantará. Primeiro confesse àquela pessoa, e depois a Deus, e veja com que rapidez Ele lhe ouvirá e lhe enviará a paz. ‘Se pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma cousa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta.’ (Mt 5: 23, 24). Esse é o caminho bíblico.

Há outra classe de pecados que devem ser confessados publicamente. Suponha que fui conhecido como um blasfemador, um alcoólatra ou um depravado. Se me arrependo de meus pecados, devo ao público uma confissão. A confissão deve ser tão pública quanto foi a trangressão. Muitas vezes uma pessoa dirá algo maldoso a respeito de outra na presença de terceiros, e então tentará apaziguar isso indo somente à pessoa prejudicada. A confissão deve ser feita de forma que todos os que ouviram a transgressão possam ouvir a confissão.

Somos bons em confessar o pecado de outras pessoas, mas se experimentarmos um verdadeiro arrependimento, ficaremos mais que ocupados cuidando dos nossos próprios pecados. Quando alguém dá uma boa olhada no espelho de Deus, não encontrará ali faltas dos outros; tem coisas demais a ver em si mesmo.

‘Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça’ (1 Jo 1:9). Obrigado Senhor pelo Evangelho! Crente, se há algum pecado em sua vida, resolva confessá-lo, e seja perdoado. Não deixe nenhuma nuvem entre você e Deus. Garanta o seu título para a mansão que Cristo foi preparar para você .

Conversão

A confissão leva à verdadeira conversão, e não pode haver uma verdadeira conversão, até que se tenha dado esses três passos.

Agora a palavra conversão significa duas coisas. Dizemos que uma pessoa é ‘convertida’ quando nasce de novo. Mas conversão também tem um significado diferente na Bíblia. Pedro disse: ‘Arrependei-vos…e convertei-vos'(At 3:19). Existe uma versão que traduz assim: ‘Arrependei-vos e voltai-vos’. Paulo disse que não foi desobediente à visao celestial, mas começou a pregar a judeus e gentios para que se arrependessem e se voltassem para Deus. Um certo teológo de outra época disse: ‘Todos nós nascemos de costas para Deus. O arrependimento é uma mudança de trajetória. É uma volta de cento e oitenta graus.’

Pecado é afastar-se de Deus. Como alguém disse, é aversão a Deus e conversão para o mundo; enquanto que o verdadeiro arrependimento significa conversão a Deus e aversão ao mundo. Quando há verdadeira contrição, o coração está entristecido por causa do pecado; quando há verdadeira conversão, o coração fica liberto do pecado. Deixamos a velha vida, somos transportados do reino das trevas para o reino da luz. Maravilhoso, não é ?

A não ser que nosso arrependimento inclua essa conversão, não vale muito. Se alguém continua em pecado, é a prova de uma profissão inútil. E como bombear água para fora do navio, sem tampar os vazamentos. Salomão disse: ‘Se o povo orar… e confessar teu nome, e se converter dos seus pecados…'(2 Cr 6:26).

Oração e confissão não seriam de proveito nenhum enquanto o povo continuasse em pecado. Vamos prestar atenção à chamada de Deus. Vamos abandonar o velho caminho perverso. Voltemos ao Senhor, e Ele terá misericórdia de nós, e ao nosso Deus, porque Ele perdoará abundantemente.

Confissão de Cristo

Se você é convertido, o próximo passo é confessar isso abertamente. Ouça: ‘Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa a respeito da salvação’ ( Rm 10:9, 10 ).

A confissão de Cristo é o clímax da obra de verdadeiro arrependimento. Devemos isso ao mundo, aos nossos semelhantes cristãos e a nós mesmos. Ele morreu para nos redimir, e podemos estar envergonhados ou com medo de confessá-Lo? A religião como uma abstraçao, como uma doutrina, tem pouco interesse para o mundo, mas aquilo que as pessoas podem testemunhar da experiência pessoal sempre tem peso.

Ah, amigos, estou tão cansado de cristianismo medíocre. Vamos nos entregar cem por cento por Cristo. Não vamos dar um som inseguro. Se o mundo quer nos chamar de tolos, que o faça. É apenas por um pouco. O dia da coroação está chegando. Graças a Deus pelo privilégio que temos de confessar a Cristo!

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Vida cristã

A vida que é Cristo

Ruth Paxson

“… Eu estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora vivo na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo se entregou por mim.” Gálatas 2:19-20

Este trecho escolhido começa com um Eu maiúsculo na versão em inglês da American R.V. Existem dois “Eu(s)” maiúsculos nas Escrituras, os quais são exatamente opostos. Um é o Eu de Lúcifer: é a primeira vez que a palavra “Eu” foi usada no universo de Deus e foi quando ele a pronunciou. O outro “Eu” é o Eu do nosso Senhor, o qual Ele usou com Seus discípulos, quando Ele disse “Eu em vós”. O que Lúcifer realmente queria dizer quando ele primeiro usou a palavra Eu, foi – “Não mais Deus, mas Eu”. Isto fez dele o arqui-traidor. Quando ele continuou dizendo – “Eu irei”, isso foi um ato de auto-traição ”.

Adão e Eva fizeram a mesma escolha que Lúcifer já tinha feito – O “Eu em lugar de Deus”. “Eu” tornou-se o centro da visão deles, e eles também disseram: “Não mais Deus, mas Eu”. Este “Eu” é também o centro da sua vida e da minha, e quer viver para ele mesmo. Se tiver que haver história nas nossas vidas, deverá haver primeiro uma mudança no nosso relacionamento tanto para com o “Eu” como para com Deus. Nossas vidas devem ser reajustadas de tal maneira que ao invés de – “Não mais Deus, mas Eu”, seja “Já não sou Eu, mas Cristo” de Gálatas 2:19-20.

Mas o “Eu” nunca sairá do trono por si mesmo. Ele nunca se rebaixará ou se retirará em favor de Cristo. Ele deve ser removido afim de ser substituído por Cristo, como centro de nossas vidas. Como se pode fazer isto? Existe somente um lugar aonde isso pode ser feito, e esse lugar é na Cruz de Cristo. O caminho de Deus é o caminho da Cruz, e o caminho da Cruz significa morte. Nós não podemos dizer de uma forma real “Cristo vive em mim” antes de dizermos – “Eu estou crucificado com Cristo”. Essa é a ordem de Deus e não pode ser mudada. Quando o velho “Eu” se retira através da crucificação, a nova vida entra através da ressurreição. Quando o velho “Eu” cai e morre, o novo “Eu” surge e vive.

Por que razão o velho “Eu” é tão abominável e odioso aos olhos de Deus, para que Ele deva tratar tão drasticamente com ele? Eu estou sempre procurando uma visão nova deste versículo. Alguns anos atrás eu compreendi este verso de uma maneira bem definida como um padrão para a minha vida diária. Recentemente eu li um folheto, e recebi uma nova luz nesse versículo, o qual deu lugar a uma nova linha de pensamento com respeito à razão porque Deus teve que levar o velho “Eu” à Cruz para ser crucificado com Jesus Cristo. Eu vou pedir a você que abra a Bíblia em Marcos 10:32-45, e leia esse trecho antes de continuar a ler este artigo.

Nesta passagem o Senhor Jesus contou aos Seus discípulos do sofrimento que O esperava; da zombaria, do tormento e dos acoites, tudo para terminar em morte de crucificação. Alguém poderia pensar que seus corações tivessem sido comovidos enquanto eles visualizavam a agonia que O esperava. Mas muito pelo contrário! Suas palavras pareciam não dizer nada a eles. Por quê? Porque eles estavam preocupados com eles mesmos. Dois deles, Thiago e João, vieram a Ele dizendo: “Mestre, queremos que nos conceda o que te vamos pedir”. Isto é o Ego falando. – Tu nos concedas! Não há nenhum desejo de fazer algo para Ele.

O Senhor Jesus perguntou: “Que quereis que vos faça?” Quanta graça! Que incomparável altruísmo e humildade! Então os dois disseram: “Permite-nos que na Tua glória nos assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda.” Permiti-nos! Não importa que tipo de lugar os outros dez tenham; qualquer lugar será bom pra eles; mas cuida para que nós tenhamos os melhores lugares, por obséquio. Depois que o Senhor tenha nos colocado assentados, pode então assentar os outros em qualquer lugar. Lembre-se que estes dois eram ardentes fundamentalistas. Eles acreditavam no céu. Haveria de haver uma Terra Gloriosa, e eles queriam se assegurar de que eles teriam os melhores lugares ali; eles iriam reservá-los, e queriam obter essa solicitação antes mesmo que os outros tivessem uma chance

O Senhor fez desta solicitação uma ocasião para ensiná-los mais alguma coisa: “Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu bebo?” Sim! Vocês estarão comigo na Terra Gloriosa, mas há alguma coisa antes da Terra Gloriosa. Há o cálice – a Cruz! Vocês estão prontos para ir à Cruz? Os lugares que vocês terão na Glória irão depender do fato de vocês irem àquela Cruz comigo ou não; de vocês beberem aquele cálice comigo. Eles não tinham pensado nisto! Eles pensaram somente nos lugares que eles iriam ocupar na Glória – puro e extremo egoísmo. Mas a Cruz vem antes da Glória; o cálice precede o lugar, não somente para eles, mas também para você e para mim. Quando os dez ouviram a conversa eles ficaram muito aborrecidos pelo fato dos dois terem se antecipado a eles e pedido os melhores lugares. A raiva deles suscitou do Senhor Jesus estas palavras maravilhosas, as quais prefiguram a Cruz, e colocam-na bem no centro da experiência cristã:

“Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos.
Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e dar a sua vida em resgate por muitos”. (Marcos 10:43-45)

Não pensariam vocês que a palavra “próprio” teria atingido-os até o âmago? O “próprio” Filho do Homem! Ele tinha o direito de vir esperando ser servido porque Ele era o Filho de Deus. Mas Ele veio também como o Filho do Homem, e isso é o que Ele próprio Se chama aqui. O ego espera obter, Cristo veio para dar. Ele veio não para ser servido, mas pra servir, até mesmo para Se dar a Si próprio à morte da Cruz.

O “Eu” sempre espera que alguém o sirva. Ele não vem para servir, mas para ser servido. Sim! O “Eu” quer que todo mundo e todas as coisas o sirvam – pessoas, circunstâncias, e mesmo ocasionalmente o tempo.

O velho “Eu” tem um grande senso de sua própria importância, e uma presunçosa estimativa de suas próprias habilidades. Ele fica terrivelmente chateado se sua importância não é reconhecida, se seus dons não são valorizados, se seus direitos não são admitidos, ou se ele não é considerado apropriadamente; tudo porque ele veio para ser servido, e não para servir.

O velho “Eu” sabe muita coisa da Bíblia, mas nada da parte que diz: “preferindo-vos em honra uns aos outros”; ou que fala de “não procurando o que é propriamente seu”, ou de “alegrai-vos com os que se alegram”. Sendo assim isso dá lugar ao ciúme e à inveja, talvez até mesmo à falta de perdão, ressentimento, e ódio, tudo porque ele veio para ser servido, não para servir. Ele pode finalmente até fazer uma bondade a alguém, e então quase ter um colapso nervoso porque ele não foi suficientemente apreciado. Os agradecimentos não foram bastante profusos, porque ele veio para ser servido, não para servir.

Ele se orgulha de seu firme julgamento e sábio conselho; e ama ser consultado. Se as pessoas se dão bem sem seu conselho, ou se o seu conselho é dado mas ignorado, então sua reputação sofre. Ele veio para ser servido. Ele tinha que falar numa reunião e esperava uma grande audiência, mas não havia uma grande audiência; ou talvez a grande audiência estava lá; mas simplesmente saiu sem dizer qualquer palavra de como a reunião tinha sido um sucesso, ou comentado da mensagem maravilhosa que tinha sido dada. Então o velho “Eu” foi para casa cabisbaixo e triste, julgando-se falho e sentindo-se extremamente deprimido e aborrecido. Ele não veio para servir, mas para ser servido e estava desapontado.

Ele queria entregar-se ao trabalho cristão, tinha esperado ardentemente por isso, mas pelo o que ele iria ganhar disto e não pelo o que ele representaria ao trabalho. Logo ele ficou desapontado e cansado e queria desistir. Por quê? Porque ele não veio para ministrar, mas para ser ministrado; e não recebeu o que esperava.

A Principal Causa do Problema

O problema que você e eu temos em nossas vidas e serviço é devido principalmente ao “Eu”. Naturalmente não pensamos assim! Nós continuamos a fazer exatamente aquilo que começou no Éden, nós tentamos colocar a culpa noutro lugar. Mas nenhum de nós pode jamais ser roubado de qualquer paz, alegria, descanso, poder, ou qualquer outra coisa em nossas vidas, que pertence a nós pelo fato de sermos cristãos, a não ser através do velho “Eu”. Ele fica tão amolado por pequenas coisas. A água é cortada justamente na hora que alguém começa a lavar a louça; a carta não vem no dia exato em que é esperada; ou até mesmo alguém começa a escrever uma carta e acaba a tinta da caneta! Como o velho “Eu” se indigna e se enfurece! Que momentos difíceis! Por quê? Ele está ocupado com ele mesmo, toda a vida gira em torno dele. Ele veio, não para ministrar, mas para ser ministrado. É então de se estranhar que haja algum lugar que Deus possa achar para ele a não ser na Cruz do Calvário?

Agora voltemos ao nosso verso. “Eu fui crucificado com Cristo”. Eu acredito que Paulo estava dando testemunho pessoal. Ele nos deu a doutrina que esta em Romanos 6:6, mas aqui ele dá o seu testemunho pessoal de que isto é um fato e de que isto passou a ser a sua própria realidade de vida. Paulo está dizendo aqui: – Eu, Paulo, fui crucificado com Cristo, e não é mais o velho homem que é o centro da minha vida; Outro veio para tomar seu lugar. Já não sou “Eu”, mas Cristo! – Podemos dizer o mesmo como uma realidade viva?

Mas Quem é o Cristo? Qual é a Sua vida? Uma vida assim humilde, santa, pura, justa, tal vida de amor, – isto é este Cristo, Quem é tudo isso, este Cristo não é outro, Quem vive em você e em mim. Que espécie de vida Ele vive? Exatamente a mesma espécie de vida que Ele viveu aqui na terra. Não é outra vida. Ele vive exatamente a vida que Ele está vivendo agora à mão direita de Deus. E Cristo vive em mim!

Existem certo princípios que governaram a vida de Cristo quando Ele viveu aqui na terra; princípios bem definidos e afirmamos muito claramente na Palavra de Deus, e eu vou mencionar a vocês cinco deles. Eu creio que se deixar Cristo viver completamente em mim, então Ele vai viver de acordo com esses mesmos princípios.

Primeiro – Ele vivia puramente para a glória de Deus. Não havia um simples traço de auto-glorificação no Filho do Homem. Ele disse na Sua oração sacerdotal: “Eu terminei o trabalho que Tu me deste”. Isto nos ensina que mesmo antes do desejo de fazer a obra do Pai, o desejo ardente do Seu coração era glorificar o Seu Pai. Ele tanto glorificou o Pai que pôde dizer a Felipe quando este perguntou se poderia ver o Pai – “Aquele que vê a Mim vê o Pai”. Assim este é o primeiro princípio da vida do Nosso Senhor – Glorificar a Deus, e não auto-glorificação.

Segundo – Ele viveu em completa obediência ao Seu Pai. Não houve nenhum agrado próprio em Sua vida. “Eu sempre faço as coisas que Lhe aprazem”; sempre, e não algumas vezes. Este foi um principio permanente em Sua vida – viver para agradar ao Pai.

Terceiro – Ele viveu em completa obediência ao Seu Pai. Não Havia nenhum traço de vontade própria nEle. Ele continuamente dizia: “não seja feita a Minha vontade, mas a Tua”. Em todas as coisas e em todo momento este também era um princípio permanente na vida do Filho do Homem aqui na terra.

Quarto – Ele vivia em absoluta dependência de Seu Pai. Não havia auto-confiança. Ele disse: “… o Filho nada pode fazer de Si mesmo, senão aquilo que vir o Pai”.

Quinto – Ele viveu somente para Seu Pai. Não havia apenas nenhuma vontade própria, mas também nenhum caminho próprio. Ele disse: “O Pai enviou-Me” e “Eu terminei a obra que o Pai me deu a fazer”.

Ora o Cristo que vive em você e em mim, pretende viver exatamente em acordo com estes cinco princípios, de maneira que em nossas vidas haverá glorificação do Senhor Jesus Cristo, e não auto–glorificação: o nosso viver será somente para agradá-Lo, e não para agrado próprio, mas uma vontade completamente entregue em submissão ao Senhor Jesus Cristo. Nós seremos realmente Seus escravos. Será uma vida vivida sem auto-confiança, nunca fazendo nada de nós mesmos. Acreditando que Ele vive Sua vida em nós, nossa dependência estará totalmente nEle.

Paulo aplicou isso na sua própria vida. O mesmo Cristo deve viver a mesma vida em você e em mim. Isto é tão profundo, e assim mesmo tão simples, justamente uma Pessoa Divina vivendo Sua vida num ser humano. Não é que Cristo vai viver Sua vida em nós com nossa ajuda. Não é que Ele vai nos ajudar a viver a vida cristã. Não é nenhuma dessas duas coisas. É exatamente o que nosso verso diz – Cristo vivendo plenamente Sua vida em nós. Acreditamos nisto? É esta a vida que você e eu temos vivido até o dia de hoje? Temos estado conscientes de que há uma Pessoa Divina dentro de nós, realmente vivendo Sua vida em nós?

Isso não poderia ser afirmado de maneira mais simples. Ainda temos nossa personalidade humana, mas existe outra pessoa vivendo, e vivendo em todas as áreas da nossa vida, não em uma pequena parte, mas em toda parte. O velho “Eu” está crucificado e portanto deve ser despojado como lemos Efésios. O novo “Eu”, o qual é Cristo em nós, a vida sobrenatural de uma Pessoa sobrenatural deve ser vivida plenamente em nós. Isso é verdade pra você e para mim?

Autora: Ruth Paxson
Extraído da Revista, À Maturidade, Número 22– Verão de 1992

(http://www.preciosasemente.com.br/vidacrista/vidaqueecristo.htm)

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Demora

“Demora e sofrimento são parte certa da bêncão que Deus nos prometeu. Uma demora durante a vida de Abraão, que parecia tornar impossível o cumprimento da promessa de Deus, foi seguida por uma demora aparentemente insuportável aos descendentes dele. Mas foi apenas uma demora: eles saíram com ‘grandes riquezas’. A promessa foi cumprida.”
(C. G. Trumbull)

Não desanime se a promessa do Senhor parece demorada. Ao final deste dia, ela estará um dia mais próxima. Que o Senhor sustente você e o ensine a “tirar forças de tudo o que acontecer hoje”.

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No temporal…

“Você pediu para ser semelhante a seu Senhor? Você tem desejado o fruto do Espírito em sua vida, e tem orado pedindo brandura, bondade e amor? Então, não tema o tormentoso temporal que está varrendo sua vida neste momento. Há uma bênção nessa tempestade; e haverá rica frutificação no ‘após’ “.
(Henry Ward Beecher)

Que teu coração encontre descanso e paz no Senhor que caminha tranquilamente sobre as ondas em meio à tempestade.

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