Categoria: Oração
Oração secreta
O problema e o medo são como esporas para a oração, pois quando o homem, rodeado por veementes calamidades, e oprimido com uma solicitude contínua (não tendo nenhuma esperança de libertação pelo auxílio humano, com coração castigado e oprimido, e temendo castigos ainda maiores), pede a Deus por conforto e ajuda no profundo poço de tribulação, uma oração assim sobe até a presença de Deus e não é vã.
(John Knox)
Há mais de vinte anos, provavelmente em uma conversa informal, ouvi algum irmão me dizer a frase que uso como título deste artigo. Ela me fez pensar muito, e, na ocasião, escrevi o texto que se segue, que atualizei em alguns pontos.
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“Idosos com problemas de saúde? Recém-casados com problemas conjugais falando em divórcio? Dificuldades financeiras generalizadas? Pecado na igreja? Jovens enfraquecidos, cedendo à tentação, abraçando os pensamentos do mundo? Que fazer? Precisamos fazer alguma coisa prática! Precisamos agir, intervir, não podemos nos omitir, ficar passivos, indiferentes, esperando um milagre! Um plano, um projeto, uma campanha, uma comissão, um enviado, uma atividade nova, um culto especial… Fazer. Agir.”
Quão facilmente somos enganados e enredados por considerações e situações como essas! Quem já não caiu na tentação de fazer, de intervir? Não há dúvida de que precisamos agir, mas que é fazer alguma coisa prática?
Alguns dizem, com ar desanimado: “Não há mais nada a fazer, senão orar!” Na verdade, é uma grande pena que tenham tentado, antes de orar, fazer muitas coisas. Certamente teriam poupado muito tempo e preocupação se desde o início tivessem orado. Não precisamos esperar que os recursos humanos se esgotem para, então, concluir que precisamos orar. Precisamos, antes, ter convicção de que nunca podemos, nunca somos capazes, jamais nos será possível; que nossos melhores esforços, que nossas mais sinceras boas intenções são insuficientes, impotentes, de todo inúteis.
Precisamos orar. Orar por nós mesmos, orar pelos irmãos, orar pela igreja, orar por nossos familiares, pelo governo; orar de acordo com incompreensíveis sentimentos que Deus nos dá ao coração, orar pelo que sabemos e pelo que desconhecemos. Precisamos orar. Precisamos clamar pela vontade de Deus, precisamos pedir Sua intervenção em nossa vida e na vida daqueles por quem oramos, precisamos opor-nos em oração a toda ação do diabo, precisamos clamar para que o Senhor sustente os enfraquecidos, erga os desanimados, humilhe os orgulhosos, restaure os abatidos. Precisamos orar.
Devemos orar primeiro, para que Ele nos indique, se for de Sua vontade, como agir de maneira “prática” depois. Primeiro oração, depois os planos, a ação. (Evidentemente, o bom senso indicará as situações em que a ação urgente e imediata é necessária – um acidente, um irmão necessitado de comida, uma emergência médica… –, mas, de modo geral, temos tempo para e devemos orar primeiro.) Primeiro orar – orar de verdade, reconhecendo nossa insuficiência e clamando por receber a direção de Deus –, para, então, se Deus assim nos orientar, fazermos.
Há mais de vinte anos, ouvi uma jovem, com lágrimas, contando uma experiência que teve. Ainda hoje lembro-me da profunda impressão que ela me causou. Que lição singela, mas necessária! O registro que fiz à época é o que segue:
“Certa noite, na minha rua, estavam soltando muitos fogos de artifício, e o barulho que eles faziam era muito forte. Minha irmãzinha de três anos acordou com o barulhão e me chamou gritando. Eu fui vê-la, e ela me pediu: ‘Dani, fica comigo, eu tô com medo!’ Eu deitei ao lado dela e rapidamente ela dormiu de novo.
“Naquele momento, Deus falou comigo. Ele me levou a perceber que muitas coisas na minha vida me dão medo, mas eu não sou simples como minha irmã e não chamo por Ele. Eu sou muito fraca e impotente, mas, mesmo assim, tento resolver sozinha meus problemas. Minha irmã não sabe que eu sou incapaz; para ela eu era capaz de protegê-la daqueles barulhos assustadores. Mas Deus é capaz! Ele pode me proteger de verdade! Ele pode me guardar!
“Minha irmã não pediu pra que eu fizesse o barulho parar; simplesmente pediu pra eu ficar com ela, pois estava com muito medo. Eu sei que Satanás tem feito muito barulho na minha vida, tem soltado muitos fogos que me assustam demais. Às vezes, eu apenas fico com medo; outras vezes, eu peço pra Deus fazer parar o barulho. Mas minha irmãzinha me mostrou que não é assim. Deus deixa Satanás fazer barulho pra que eu me volte para Ele, pra que eu grite: ‘Senhor, fica comigo! Senhor, eu tô com muito medo; por isso fica comigo! Se Tu ficares comigo, mesmo que o barulho não pare, eu vou me sentir protegida. Senhor, fica comigo!’”
Tempo de oração
O poder da oração em unidade
“Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18.19,20).
Uma das primeiras lições de nosso Senhor em Seu ensino sobre oração foi que não devemos orar para sermos vistos pelos homens. Mas, ao orar, entremos no aposento e estejamos a sós com o Pai. Quando nos ensinou que orar é um contato individual e pessoal com Deus, Ele também nos apresentou uma segunda lição: você não só precisa orar de forma secreta e solitária, mas também em público e em unidade. E Ele nos deu uma promessa muito especial para a oração em unidade de dois ou três que concordarem naquilo que estão pedindo.
Assim como uma árvore tem as raízes escondidas sob o solo e os galhos vão crescendo em direção à luz do sol, igualmente a oração, para seu pleno desenvolvimento, necessita ser feita em secreto, que é quando a alma a sós encontra Deus, e em comunhão pública com aqueles que no nome de Jesus encontram seu lugar para estarem juntos.
A razão pela qual isso deve acontecer assim é simples: o laço que une um homem a seu companheiro não é menos real nem menos próximo do que aquele que o une a Deus – ele é um com eles. A graça não só renova nossa relação com Deus, mas também com o homem. Aprendemos a dizer tanto “meu Pai” quanto “nosso Pai”. Nada poderia ser tão estranho quanto filhos encontrarem com seu pai separadamente e não em uma expressão única de seus anseios e de seu amor. Cristãos não são apenas membros de uma família, mas também de um corpo. Da mesma forma que cada membro do corpo depende de outro, assim a plena ação do Espírito, que habita o corpo, depende da união e da cooperação de todos, de tal modo que cristãos correm o risco de não receberem a plenitude da bênção que Deus está pronto para conceder mediante Seu Espírito, a menos que eles a busquem e a recebam em comunhão uns com os outros. É por meio da união e da comunhão entre os que crêem que o Espírito pode manifestar Seu pleno poder. Foi porque 120 pessoas permaneceram em um mesmo lugar, orando em unanimidade, que o Espírito veio do trono do Senhor glorificado.
As marcas da genuína oração em unidade nos são apresentadas nestas palavras do Senhor:
1. Concordância no que está sendo pedido
A primeira coisa é “concordância” no que está sendo pedido. É indispensável que não haja apenas um simples consentimento mental entre os que pedem, mas é indispensável que haja algo especial, um desejo unânime. A concordância, assim como toda oração, deve ser em espírito e em verdade. Sobre essa concordância ficará muito claro para nós exatamente o que estamos pedindo, se estamos confiantemente pedindo conforme o desejo de Deus e se estamos prontos para crer que já o recebemos.
2. Estarem reunidos em nome de Jesus
A segunda marca é estar reunidos em nome de Jesus. Nosso Senhor nos ensina que Seu nome deve ser o centro da união na qual os crentes estão, cujo laço os faz serem um, assim como um lar contêm e une todos os que estão nele. “Torre forte é o nome do Senhor; a ela correrá o justo e estará em alto refúgio” (Pv 18.10). Tal é a realidade desse nome para aqueles que o compreendem e crêem nele que estar nele é ter o próprio Cristo presente.
O amor e a unidade de Seus discípulos têm atração infinita por Jesus: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles” (Mt 18.20). É a presença viva de Jesus, na comunhão de Seus amados discípulos que oram, que dá poder à oração em unidade.
3. A resposta segura
A terceira marca é a resposta segura: “Isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus” (Mt 18.19).
Encontros de oração que visam manter comunhão religiosa ou busca pela edificação pessoal podem ter utilidade, mas não é esse o modelo que o Salvador deixou. Outrossim, Ele imaginou encontros de oração como um meio seguro de resposta à oração. Encontros de oração que não têm suas petições atendidas devem ser uma exceção. Quando qualquer um de nós tem anseios específicos e está muito fraco para exercer a fé necessária, deve procurar força e socorro em outros. Na unidade da fé, do amor e do Espírito, o poder do nome de Jesus e Sua presença agem mais livremente e a resposta vem com mais certeza. A prova de que houve unidade na oração é o fruto, o resultado, a resposta, o recebimento do que foi pedido: “Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus” (Mt 18.19).
Que indescritível privilégio é a oração em unidade e que poder ela pode ter! Se o marido e esposa crentes soubessem que estão unidos no nome de Jesus para experimentar Sua presença e Seu poder na oração em unidade (1Pd 3.7); se amigos cressem quão poderosa ajuda dois ou três orando em consonância poderia prover para cada um deles; se, em cada reunião de oração, o reunir-se no Nome, a fé na Presença e a expectativa de resposta ficassem em primeiro plano; se, em cada igreja, as efetivas reuniões de oração em unidade fossem o principal motivo das pessoas estarem reunidas, para expressar esse mais elevado poder da igreja; se na Única Igreja a vinda do reino, a vinda do próprio Rei, primeiramente na dispensação poderosa do Espírito Santo, depois em Sua gloriosa pessoa, fossem realmente a causa de um clamor constante a Deus… Oh! Que bênçãos poderiam vir para e por meio daqueles que concordam em provar Deus quanto ao cumprimento de Sua promessa.
No apóstolo Paulo vemos muito claramente que realidade sua fé tinha no poder da oração em unidade. Aos romanos, ele escreve: “E rogo-vos, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que combatais comigo nas vossas orações por mim a Deus” (15.30). Como resposta à oração, ele espera ser livre dos inimigos e também prosperar em sua obra.
Aos coríntios, ele escreveu: “O qual [o Senhor] nos livrou de tão grande morte, e livra; em quem esperamos que também nos livrará ainda, ajudando-nos também vós com orações por nós, para que pela mercê, que por muitas pessoas nos foi feita, por muitas também sejam dadas graças a nosso respeito” (2Co 1.10,11). A oração deles era para terem uma participação real na libertação do apóstolo.
Aos efésios, ele escreveu: “Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito […] E por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra com confiança, para fazer notório o mistério do evangelho” (6.18,19). Seu poder e sucesso no ministério dependiam da oração deles.
Aos filipenses, ele diz esperar que suas lutas sejam úteis para a salvação e sirvam para o progresso do evangelho: “Porque sei que disto me resultará salvação, pela vossa oração e pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo” (1.19).
Aos colossenses, ele ordena que continuem firmes em oração: “Orando também juntamente por nós, para que Deus nos abra a porta da palavra […]” (4.3). Aos tessalonicenses, disse: “No demais, irmãos, rogai por nós, para que a palavra do Senhor tenha livre curso e seja glorificada, como também o é entre vós; e para que sejamos livres de homens dissolutos e maus; porque a fé não é de todos” (2Ts 3.1,2).
Está evidente, em todas essas passagens, que Paulo se sentia membro de um corpo e que ele contava com as orações das igrejas para que alcançasse o que, de outro modo, não obteria. Para ele, as orações da igreja eram um fator decisivo na obra do reino tanto quanto o era o poder de Deus.
Quem pode imaginar o poder que uma igreja poderia desenvolver e exercitar se ela se entregasse ao serviço da oração dia e noite para que o poder de Deus venha sobre Seus servos e Sua Palavra, e para que Deus seja glorificado pela salvação de almas?
A maioria das igrejas pensa que seus membros se reúnem simplesmente para zelar uns pelos outros e edificar uns aos outros. Elas não consideram que Deus rege o mundo pelas orações de Seus santos, que essas orações são o poder mediante o qual Satanás é vencido, que pela oração a Igreja na terra tem a seu dispor os poderes celestiais. Elas não se lembram de que Jesus, por Sua promessa, consagrou cada assembléia em Seu Nome para ser uma porta para o céu, onde Sua Presença pode ser percebida e Seu Poder pode ser experimentado quando o Pai responde a todos os anseios das igrejas.
“Quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto” (Mateus 6.6).
Fomos criados para ter comunhão com Deus. Deus nos fez a Sua própria imagem e semelhança para que fôssemos ajustados à comunhão, fôssemos capazes de entendê-Lo e de apreciá-Lo, de entrar em Sua vontade e de nos deleitarmos em Sua glória. Porque Deus é onipresente e Aquele que a tudo vê, Ele poderia viver no gozo de uma inquebrável comunhão em meio a toda obra que tivesse para fazer. Dessa comunhão, o pecado nos roubou.
Nada além dessa comunhão pode satisfazer tanto o nosso como o coração de Deus. Foi isto que Cristo veio restaurar: Ele veio devolver a Deus Suas criaturas perdidas e nos devolver a tudo para o que fomos criados. A comunicação com Deus é a consumação da bem-aventurança tanto na terra como no céu. Isso ocorre quando a promessa, tão freqüentemente dada, se torna uma experiência completa: “Estarei contigo, jamais te deixarei nem te abandonarei”, e quando podemos dizer: “O Pai está sempre comigo”.
Essa comunicação com Deus foi estabelecida para ser nossa o dia todo, quaisquer que sejam as circunstâncias que nos rodeiem. Porém, usufruir dela depende da realidade da comunicação em nosso aposento, a sós. O poder para manter uma comunhão íntima e satisfatória com Deus o dia todo dependerá totalmente da intensidade com a qual buscamos guardá-la na hora de nossa oração secreta. O essencial é a comunhão com Deus.
Nosso Senhor ensina que este deve ser o segredo íntimo da oração secreta: fechar a porta e orar a nosso Pai, que está em secreto. A primeira e principal coisa é perceber que ali em secreto você tem a presença e a atenção do Pai. Saiba que Ele vê e ouve você. Mais importante que todos os seus pedidos, mesmo que urgentes, mais importante do que toda a sua sinceridade e seu esforço para orar corretamente é a certeza viva, como a tem uma criança, de que seu Pai o vê, que agora você O encontrou e que, com os olhos Dele em você e os seus Nele, você agora desfruta de uma verdadeira comunicação íntima com Ele.
Cristão, em seu aposento secreto você “corre o risco” de colocar a oração e o estudo bíblico no lugar da viva comunhão com Deus, o vivo intercâmbio de dar a Ele seu amor, seu coração e sua vida, e receber o amor, a vida e o Espírito Dele. Suas necessidades e suas declarações, seu desejo de orar humilde e sinceramente com fé talvez o ocupem tanto que a luz do semblante de Deus e a alegria do amor Dele não podem entrar em você. Seu estudo bíblico pode ser tão interessante para você que mesmo a Palavra de Deus se torna um substituto para o próprio Deus, se torne o maior impedimento para a comunhão, porque mantém a alma ocupada em lugar de guiá-la a Deus. E saímos para o trabalho diário sem o poder de uma permanente comunhão, porque no momento devocional matutino a bênção não foi adquirida.
Que diferença faria na vida de muitos se todas as coisas na vida fossem subordinadas a isto: “Quero ao longo do dia andar com Deus; meu horário da manhã é a hora em que meu Pai entra em um compromisso definitivo comigo e eu com Ele para que assim seja. Que poder será concedido pela consciência de que Deus assumiu a responsabilidade por mim e que Ele está indo comigo; vou fazer Sua vontade o dia todo em Seu poder; estou pronto para tudo o que possa vir”. Que nobreza haveria na vida se a oração secreta não fosse somente um pedir por uma nova sensação de conforto, luz ou poder, mas a entrega da vida somente por um dia no certo e seguro cuidado de um Deus poderoso e fiel. A separação dos outros, em solidão com Deus, é, com certeza, a única forma para viver em comunhão com outros no poder da bênção de Deus.
Ficamos abismados de que, mesmo à luz de registros bíblicos muito claros, ainda há quem tenha a audácia de sugerir que é errado para aqueles que sofrem no corpo ou na alma expressar suas orações por libertação em termos de: “Se for da Tua vontade”. Dizem que, quando a aflição chega, Deus sempre deseja a cura. Que Ele não tem nada a ver com sofrimento, e que tudo o que devemos fazer é reivindicar, pela fé, a resposta que buscamos. Somos exortados a exigir o “Sim” de Deus antes que Ele o pronuncie.
Fora com tais distorções da fé bíblica! Elas são concebidas na mente do Tentador, que deseja nos induzir a transformar fé em mágica. Nem todo o amontoado de discurso piedoso pode transformar essa falsidade em doutrina verdadeira.
Às vezes, Deus diz não. Às vezes, Ele nos chama para sofrer e morrer, mesmo quando desejaríamos exigir o contrário.
Nunca outro homem orou mais veementemente que Cristo no Getsêmani. Quem acusará Cristo de não ter orado com fé? Ele colocou Seu pedido diante do Pai suando sangue: “Passa de Mim este cálice” (Lc 22.42).
A oração de Jesus foi direta e sem ambigüidades. Ele gritou por alívio. Ele pediu que o cálice terrivelmente amargo fosse removido. Cada centímetro de Sua humanidade se encolhia diante do cálice. Ele implorou ao Pai que O libertasse de Seu dever. Mas Deus disse “não”. O caminho do sofrimento era o plano de Deus. Era a vontade de Deus. Era Sua vontade pura e inalterada. A cruz não era uma idéia de Satanás. A paixão de Cristo não foi resultado de contingências humanas. Não foi uma maquinação acidental de Caifás, Herodes ou Pilatos. O cálice foi preparado, entregue e administrado pelo Deus Onipotente.
Jesus colocou uma condicional em Sua oração: “Pai, se queres…”. Jesus não “apresentou e reivindicou”. Ele conhecia Seu Pai muito bem para saber que essa poderia não ser a vontade Dele. A história não termina com as palavras: “E o Pai se arrependeu do mal que havia planejado, afastou o cálice, e Jesus viveu feliz para sempre”.
Essas palavras se aproximam da blasfêmia. O evangelho não é um conto de fadas. O Pai não entraria em acordos sobre o cálice. Jesus foi chamado para tomá-lo até a última gota. E Ele o aceitou. “Todavia, não se faça a Minha vontade, mas a Tua”.
Esse “todavia” é a suprema oração da fé. A oração da fé não é uma ordem que colocamos diante de Deus. Não é a presunção de um pedido atendido. A autêntica oração da fé é aquela que se assemelha à oração de Jesus. É sempre apresentada num espírito de submissão. Em todas as nossas orações devemos permitir que Deus seja Deus. Ninguém diz ao Pai o que Ele deve fazer, ninguém, nem mesmo o Filho. Orações devem sempre ser pedidos feitos com humildade e submissão à vontade do Pai.
A oração da fé é a oração da confiança. A própria essência da fé é confiança. Confiamos que Deus sabe o que é melhor. O espírito de confiança inclui o espírito de disposição para fazer o que o Pai deseja que façamos. Este tipo de confiança foi personificado em Jesus no Getsêmani.
Embora o texto não seja explícito, é claro que Jesus deixou o jardim com a resposta de Deus para Seu pedido. Não há nenhuma blasfêmia ou amargura; Sua comida e Sua bebida eram fazer a vontade do Pai (Jo 4.34). Uma vez que o Pai disse “não”, o assunto estava resolvido. Jesus se preparou para a cruz. Não fugiu de Jerusalém, mas entrou na cidade com o semblante determinado.
Oração
Orar é um trabalho espiritual, e a natureza humana não gosta de tão árduo trabalho. A natureza humana deseja velejar para os céus pelo impulso de uma brisa favorável, sobre um mar cheio e calmo.
Orar é um trabalho humilhante. Humilha o intelecto e o orgulho, crucifica a vanglória, assinala nossa derrota… e tudo isso é duro para a carne e o sangue. É mais fácil não orar do que suportar essas coisas.
Assim chegamos a um dos males clamorosos destes tempos, talvez de todos os tempos: pouca oração ou nenhuma. Destes dois males, talvez a pouca oração seja pior do que não orar. Orar pouco é uma espécie de desculpa, um desencargo de consciência, uma farsa e uma ilusão.
(E. M. Bounds)
“Faze-me ouvir a Tua benignidade pela manhã, pois em Ti confio; faze-me saber o caminho que devo seguir, pois a Ti elevo minha alma” (Sl 143.8).
Se nos dispusermos cada manhã a buscar a presença do Senhor, certamente conheceremos a pura alegria de ouvir Sua misericórdia e nossa alma será refrescada, alimentada, animada e fortalecida para enfrentar cada necessidade ou prova do dia.
Além disso, nossas orações da manhã sempre deveriam ter como meta pedir a direção de Deus para o dia que começa. Todo crente deve ser consciente de que sua própria sabedoria está distante de ser suficiente para guiá-lo, mesmo nas menores coisas. Alguns pensam que Deus não se interessa por nossas coisas de menor importância, mas isso é um erro. Ele se interessa por todos os detalhes da vida de um crente, e deveríamos entregar-nos totalmente a Ele a fim de pedir Sua direção em todas as áreas. Depois de termos feito isso – com honestidade, naturalmente –, não precisaremos nos preocupar com cada detalhe, pois teremos a segurança de que Deus responderá guiando-nos como Ele deseja.
A oração é a expressão de uma verdadeira confiança, e Deus espera também que meditemos em Sua Palavra, pois por ela aprendemos realmente qual é Sua vontade. Se não lhe damos importância, deixamos a única fonte real de instrução que Ele nos dá. Mesmo que não saibamos compreender as instruções em detalhes para nossa caminhada diária, seremos impregnados dos princípios de Sua Palavra de tal modo que não teremos muita dificuldade em discernir Sua vontade nos assuntos comuns.
Gotas de Orvalho (102)
Dar à oração o segundo lugar é tornar Deus secundário nos negócios da vida.
(E. M. Bounds)
Dentre todos os benefícios desfrutados pelos cristãos, nenhum é mais essencial, e mesmo assim mais negligenciado, do que a oração. A maioria das pessoas considera-a uma formalidade cansativa e por isso justifica-se abreviá-la o máximo possível. Mesmo aqueles cuja profissão ou medos os levem a orar, oram com tal abatimento e com a mente tão dispersa que suas orações, em vez de trazerem bênçãos do alto, apenas aumentam sua condenação.
(Fénelon)
Coisas legítimas e certas podem se tornar erradas quando ocupam o lugar da oração. Coisas certas em si mesmas podem se tornar erradas quando têm permissão de fixar-se sem moderação em nosso coração. Não são apenas coisas pecaminosas que prejudicam a oração. Não é apenas de coisas questionáveis que devemos nos guardar. Mas sim, de coisas que são certas em seu devido momento, mas que recebem permissão de desviar a oração e fechar a porta do quarto de oração, geralmente com o argumento confortante de que “estamos ocupados demais para orar”.
(E. M. Bounds)
A oração é uma confissão de impotência e necessidade, um reconhecimento de falta de recursos próprios, reconhecimento de dependência, e uma invocação do poder soberano de Deus para que Ele faça por nós o que nós mesmos não temos capacidade de fazer.
(J. I. Packer)
Se você se entrega à oração estribado em seu próprio poder, nada obterá; mas apresente a Deus sua fraqueza, e você prevalecerá. Não há melhor argumento diante do amor divino que a fraqueza e a dor; nada pode prevalecer tanto com o grande coração de Deus como o coração desmaiado do homem.
(C. H. Spurgeon)
O valor de uma oração não é determinado por sua extensão.
(Robert Murray McCheyne)
A maioria dos problemas do homem moderno origina-se do tempo exagerado que ele passa usando as mãos e do tempo insuficiente que passa usando os joelhos.
(Ivern Boyett)
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