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Métodos de investigação (H. L Heijkoop)

Se nos ocuparmos do assunto da profecia poderemos formular a seguinte pergunta: como se compreende que os resultados alcançados por alguns investigadores estejam em desarmonia?

Assim, por exemplo, vemos que o professor Greydanes (teólogo holandês) afirma que a primeira besta do Apocalipse 13 representa o conjunto das autoridades humanas de todos os tempos (na sua obra em holandês “Korte Verklaring”). Outro teólogo, O dr. J. Willemse, pretende ver nela uma figura do anticristo (na obra holandesa entitulada “Tekst en Uitleg”). Os adventistas ensinam que é o papado. E nós, nos capítulos seguintes, teremos ocasião de ver que é na realidade uma figura do Império Romano.

A resposta a estas opiniões é a seguinte: Devemos lembrar que há duas condições necessárias para compreender os pensamentos de Deus na profecia:
1. Que a Palavra de Deus é perfeita;
2. Que é Deus mesmo Quem dá a chave da sua interpretação.

Decerto, a Palavra de Deus é perfeita. Quer dizer, nada lhe falta; tudo quanto é preciso para compreendê-la se encontra nela mesma. Não necessitamos descobertas arqueológicas para compreender o significado espiritual do Grande Dia da Expiação (Lv. 16), ou dos utensílios do Tabernáculo (Êx. 25 a 40). A epístola aos Hebreus e outras epístolas nos dão a interpretação divina.

O mesmo acontece com a profecia. Nas profecias encontramos todos os pensamentos de Deus quanto ao futuro, comprove Lhe aprouve nos revelar, e não temos nenhuma necessidade da ciência humana para as compreender. Pelo contrário: Com o emprego dos recursos humanos, existe o perigo de perder de vista o verdadeiro significado da profecia. Quantas vezes elas têm sido torcidas por serem interpretadas segundo os livros de história ou postas em harmonia com determinados sistemas teológicos.

O único meio correto de investigação consiste em averiguar o significado da profecia na própria Palavra de Deus. E se, apesar de tudo, ainda se quiser consultar os livros de história humana, então isso deve ser feito com o fim de os confrontar com o que a Palavra de Deus já nos tem revelado na profecia. Este resultado só pode ser alcançado, se a profecia for estudada com a chave que Deus mesmo nos tem dado. “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação; porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (II Pe.1:20-21).

Ainda que as profecias tenham sido pronunciadas por homens escolhidos por Deus, estes não são os seus verdadeiros autores. Todos os homens santos de Deus, que falaram e escreveram as profecias, não o fizeram por iniciativa própria. Também não há nenhuma profecia que se explique por si própria. Atrás deles está o Autor – o Espírito Santo – que inspirou todos os profetas para proclamarem as profecias. A Escritura diz também que os profetas não compreenderam, muitas vezes, o significado da profecia (I Pe. 1:10). A Daniel é dito que não deve investigar a profecia, porque a profecia não lhe é destinada (Dn. 12:8-9).

AS PROFECIAS FORMAM UM TODO

Isto quer dizer que as profecias foram dadas pelo Espírito Santo e juntos constituem a totalidade dos desígnios de Deus, os quais Ele quis comunicar-nos. E se quisermos compreender os pensamentos de Deus, não basta escolher apenas um versículo, um capítulo ou um livro da Bíblia, porque nenhuma profecia é de particular interpretação. Que juízo faríamos nós de um homem que, de posse de apenas parte da planta de uma casa, pretendesse dar-nos uma descrição pormenorizada da construção completa? Poderíamos dizer que tinha uma imaginação exuberante, mas nada mais. Porque só o arquiteto sabe como há de edificar a casa. Nós só poderíamos fazer uma idéia no caso de ele expôr o projeto em uma maquete com todos os detalhes necessários, tendo, além disso, a descrição das especificações técnicas. Se nos déssemos ao estudo de todo o conjunto, estando aptos a compreendê-lo, poderíamos então formar uma idéia completa do que viria a ser a casa. Acaso alguém poderia deduzir, à vista de um simples esboço, o que seria todo o quadro? Poderia, quando muito, tentar adivinhar. Veja bem: tentar! E quantas vezes nos enganamos nas nossas confecturas. Mas, somando-se à planta o modelo, ser-nos–ia muito fácil reproduzi-lo, vendo então o lugar a que corresponde cada peça.

Acontece a mesma coisa com a profecia. Todas as profecias do Antigo Testamento como as do Novo revelam no seu conjunto os desígnios de Deus quanto ao futuro. É só quando conhecemos a estrutura geral desses desígnios que podemos comparar as profecias entre elas e cada uma com o conjunto. Examinando versículo por versículo ou porções das Escrituras, podemos compreender os pensamentos de Deus. Se todo aquele que estuda a profecia seguisse este método, não se faria juízos tão diversificados a seu respeito.

A questão importante agora é saber como havemos de encontrar as linhas mestres da profecia. A sua solução não é difícil, porque Deus no-la dá claramente em Sua Palavra. “O testemunho de Jesus é o espírito da profecia” (Ap. 19:10); “O Espírito de Cristo, que estava neles (nos profetas), indicava… os sofrimentos que a Cristo haviam de vir e a glória que lhes havia de seguir” (I P.1:11). Em Ef. 1:9-10 lemos que Deus propusera em Si mesmo tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra; e em Hb. 1:13, lemos: “Assenta-te à minha destra até que ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés”. “Depois virá o fim, quando tiver entregado o Reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo império, e toda a potestade e força. Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés” (I Co. 15:24-25)

O TESTEMUNHO DE JESUS É O ESPÍRITO DA PROFECIA!

O propósito de Deus é glorificar o Senhor Jesus Cristo – Aquela gloriosa Pessoa que se tornou homem para realizar a vontade de Deus (Hb. 10:7), e que, enquanto estava na terra, podia dizer: “Faço sempre o que lhe agrada” (Jo. 8:29) e “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo. 4:34); que no fim da Sua carreira na terra, trasladando-se em espírito para além da cruz, pôde dizer: “Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer” (Jo. 17:4).

Quem poderá sondar o gozo que Deus achou em Seu Filho? Aquele que “crescia em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens”! (Lc. 2:52); Aquele sobre o qual o céu se abriu no começo do Seu serviço na terra, enquanto uma voz do céu dizia: “Tu és meu Filho amado; em ti me tenho comprazido” (Lc. 3:22); e de quem o Pai pôde dizer, no final do Seu serviço na terra: “Este é o meu Filho amado; a Ele ouvi”! (Lc. 9:35). Ele podia dizer: “Por isso, o Pai me ama, porque dou a minha vida” (Jo. 10:17).

Quanta honra para Deus quando esta gloriosa Pessoa foi voluntariamente para a cruz a fim de ali glorificá-Lo; quando na cruz restituiu o que não havia furtado (Sl. 69:4)! Quando glorificou, ali, da maneira mais sublime, tudo o que Deus é: justiça, santidade, verdade e amor – tudo quanto Adão havia negado (Gn. 3:5; Sl. 22; Zc. 13:7; Rm. 5:8); Quando Ele, o inocente, foi ferido e abandonado por Deus em lugar dos pecadores perdidos, porque Deus os queria salvar. Poderíamos imaginar quão grande é o anelo de Deus em glorificar esta Pessoa?

E não tem o Senhor Jesus o direito de que toda a criação Lhe esteja sujeita? Não tem o Criador direito ao que foi criado por Ele mesmo? Não O constituiu Deus, como Seu Filho, herdeiro de todas as coisas, e, como o Filho do homem, não pôs todas as coisas debaixo de Seus pés (Hb. 1:2; 2:6-9)?

E no livro de Apocalipse encontramos o Seu quarto direito – o direito de Redentor (Ap. 5:5). O Cordeiro foi imolado, resgatando a herança que havia sido entregue por Adão a satanás, quando este passou a ser o príncipe deste mundo. Ele pagou o preço com o Seu próprio sangue. É o verdadeiro Remidor, que pode tomar posse da Escritura de venda (Ap. 5:5; Jr. 32:7-12).

Estas, pois, são as linhas gerais de Apocalipse e de todas as profecias: O Pai dà posse da herança ao Filho. Cristo é o centro e o objetivo de todos os desígnios, caminhos e atos de Deus. O sofrimento de Cristo é revelado, mas a revelação das Suas glórias, perante o mundo, pertence ao futuro (I Pe.1:11). A última vez que o mundo O viu, foi quando O despregaram da cruz e O puseram em um sepulcro (I Co. 2:8); e, visto que o mundo O rejeitou e matou, a revelação da Sua glória só pode ser acompanhada do juízo.

Durante a vida do Senhor Jesus na terra, os discípulos só pensavam na Sua glória futura (I Pe. 1:11), mas não nos Seus sofrimentos. Esperavam que o Senhor expulsasse os romanos do país, que destruísse os inimigos fazendo do povo de Israel a cabeça das nações estabelecendo, assim, o Seu trono em Jerusalém. E certamente estas coisas deviam realizar-se; por consequência, as glórias das quais falaram os profetas virão. Mas eles não entendiam que tudo isso só viria depois dos sofrimentos. E por isso o Senhor teve que lhes dizer que devia padecer e ser morto (Mt. 16:21). Mas para que a sua fé não desfalecesse, Deus lhes deu uma confirmação preciosa no monte da transfiguração (Mc. 9:31). É notável a maneira como nos três evangelhos em que nos é relatado este acontecimento a ordem observada é a mesma. Primeiro, o Senhor fala dos Seus sofrimentos, e em seguida diz que haviam de ver o Filho do homem vir “na glória do seu reino”, simbolizado por um majestoso evento.

A TRANSFIGURAÇÃO

Neste evento não nos é apresentada propriamente uma comunicação profética. É um quadro no qual vemos a glória do reino do Filho do homem e de todos os que nele terão parte. Vemos, primeiro, o Senhor, cabeça e centro de todas as bênçãos e glórias; depois Moisés, figura dos santos que morreram, mas já ressuscitados; e então Elias, figura dos fiéis que entraram no céu sem experimentar a morte. E vemos também os crentes que estão no mundo, mas ainda não glorificados: o remanescente de Israel representado pelos três discípulos. Que impressão teria produzido em Pedro este acontecimento? Já idoso, ele escreve que a palavra profética é confirmada por este acontecimento (II Pe. 1:19a). Certamente, a glória será manifestada; o reino do Filho do homem será estabelecido na terra. Jesus Cristo aniquilará o reino das trevas até sua extinção (Dn. 7:13-14; Mt.24:30).

O diabo tentou destruir este testemunho; matou Tiago e procurou fazer o mesmo ao apóstolo Pedro (At. 12). Assim a confirmação da palavra profética seria prejudicada, visto que pela boca de duas ou três testemunhas toda palavra será confirmada (Mt. 18:16).

Mas Deus vela pelo Seu testemunho; Pedro é libertado e mais tarde relata nas suas epístolas o poder, a vinda e a glória do Senhor Jesus. E João nos dá, no Apocalipse, a descrição pormenorizada da vinda do Senhor para estabelecer o reino.

A ESTRELA DA ALVA

Mas Pedro acrescenta ao seu relato uma exortação de grande importância. Diz ele: “À qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça e a estrela da alva apareça em vossos corações” (II Pe.1:19b). Este mundo é na verdade um lugar de trevas. A noite começou desde que Judas saiu do cenáculo para trair o Senhor, e desde então domina o poder das trevas. Quando o Cordeiro foi imolado pôs-se o sol.

Nestas trevas brilha no entanto uma luz, e todo aquele que conhece a profecia pode andar nesta luz, a despeito da iniquidade que há neste mundo. O mundo colocou-se debaixo do poder do diabo. Nele nada mais se encontra senão pecado, inimizade contra Deus e miséria, mas a profecia nos mostra que Deus está acima de tudo e que porá brevemente fim ao domínio das trevas, quando nascer o Sol da justiça, trazendo salvação debaixo das Suas asas para o Seu povo (Ml. 4:2-3) e juízo terrível sobre todos os ímpios. A profecia ilumina o crente, separando-o do mundo, porque prediz o juízo do mundo e a glória futura do reino (Ap. 18:4). Como poderá o crente, que sabe que o juízo sobre este mundo está prestes a cair, misturar-se com o mundo ou pensar em melhorá-lo?

Todavia, a profecia não é propriamente a esperança do cristão. O apóstolo mostra alguma coisa mais sublime: “Até que o dia esclareça e a estrela da alva apareça nos vossos corações”.

No coração de um crente consciente dos seus privilégios já não existe noite (I Pe. 2:9). É chamado das trevas para a luz admirável de Deus. Antes, era trevas, mas agora é luz no Senhor (Ef. 5:8). A Estrela da manhã apareceu em seu coração, e portanto nele há luz. Conhece o SEnhor Jesus Cristo como o Sol da justiça e também como a Estrela da alva, avistada por aqueles que estão vigiando antes do raiar da alva. O crente já não O espera só para julgar este mundo, mas, antes desse tempo, para tirar os Seus deste mundo (Ap. 2:28; 22:16-17; Rm. 13:11-12).

Portanto, se a noiva ouve anunciar o SEu nome como a Estrela da manhã, o seu coração se abre e ela diz, “Vem”! (Ap. 22:17). A sua porção consiste em ser a noiva do Cordeiro na intimidade da casa do Pai, embora esteja naturalmente ligada ao Senhor Jesus como participante na glória do Seu reino (Ap. 21:9-22:5). Em Lucas vemos que o gozo dos que estão em casa é vigiar (Lc. 12:36-38). Ali fala-se também da herança, mas atrelada à responsabilidade do serviço (Lc. 12:42-48). O coração que conhece o Senhor Jesus como a EStrela da manhã não quererá dizer com o Espírito e a noiva, “Vem”? Não será verdadeiramente livre e desejando trazer os pecadores ao Senhor e clamar: “Quem tem sede venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida”? O poder atrativo do Senhor, como a Estrela da alva, produz o mesmo efeito da profecia: liberta-nos do mundo e leva-nos com ardor a ganhar almas para Cristo. “Qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro” (I Jo. 3:3).

Porém, alguns já não estão interessados em ganhar almas para Cristo, mas em melhorar o mundo ou a sua própria posição no mundo. É esta a esperança do cristão? (Ef. 1:18). Outros têm a esperança de estar com Cristo quando a morte chegar; e isso seria uma coisa maravilhosa (Fp. 1:23). Mas por mais maravilhosa que seja, nessa posição estaremos ainda num estado imperfeito. Somente a nossa alma ali estará, mas não o nosso corpo. É certamente um estado infinitamente mais glorioso que a nossa condição no mundo de aflições e desgraças (Rm. 5:3); mas esta não é a esperança de que Deus fala. A esperança cristã não é morrer e estar com Jesus, mas, sim, que Jesus virá do céu para levar todos os que são Seus deste mundo, a fim de estarem para sempre com Ele (I Ts.4:17-18). Mas, dir-se-á, não faz diferença, porque em qualquer dos casos ficarei bem. Será o nosso bem-estar a única coisa importante? Na cruz não foi realizado tudo por nós? O sangue lavou-nos de todos os nossos pecados; fomos feitos reis e sacerdotes para Deus, que nos selou em Cristo com o Espírito Santo da promessa, o qual é o penhor da nossa herança, para a redenção da possessão de Deus, para louvor da Sua glória (Ap.1:6; Ef. 1:14). Não fomos libertados para nos ocuparmos com os Seus pensamentos e a Sua glória (Cl. 1:27)? E sobre quem faz Deus resplandecer a Sua glória? Sobre o leitor ou sobre mim? Graças a Deus, resplandece sobre Cristo – o único que é digno dela. Não é muito melhor olharmos para Cristo do que para nós mesmos, visto que em nós só vemos fraquezas, egoísmo, orgulho, etc? Deus não nos confiou a tarefa de formar a nossa própria esperança, nem nos encarregou de escolhermos o objetivo de nossa fé. Deu-nos Cristo, a nossa esperança e o alvo da nossa fé.

Não é verdade o que muitas vezes se diz e ainda mais se pensa, que a remissão dos nossos pecados e o fato de que somos salvos para sempre é o mais importante, e que tudo o mais é secundário. A Palavra de Deus diz que foi do agrado do Pai que toda a plenitude Nele habitasse. E que, havendo por Ele feito a paz, pelo sangue da Sua cruz, por meio dEle, reconciliasse Consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus (Cl. 1:19-21). Nunca houve nem haverá em toda a eternidade uma hora como essa do Calvário, na qual o Salvador morreu por nossos pecados!

Porém, que momento será aquele quando ao nome de Jesus se há de dobrar “todo joelho dos que estão nos céus e na terra, e dabaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Fp. 2:10-11)! Quando os filhos da perdição e até o próprio diabo e os seus anjos se hão de curvar diante de Jesus; quando o pecado for tirado do mundo e a justiça morar na terra; quando todas as coisas forem reconciliadas com Deus! Isto não prejudica a glória da cruz; pelo contrário, o poder e a plena bênção do precioso sangue do Cordeiro, que foi imolado, mostrar-se-ão em toda a sua plenitude (Ap.5:6-14; I Pe. 1:19-21). Deus aceitou o valor desse sacrifício e ressuscitou o Seu bendito Filho de entre os mortos, glorificando-0 à Sua destra. Isto também nós conhecemos mediante a fé, e regozijamo-nos por isso. Todavia, a vinda do Senhor Jesus será o primeiro ato mediante o qual Deus manifestará, nos céus e na terra, em toda a Sua criação, o poder reconciliador do sangue. Pode isso ser um fato de menos importância ou uma questão secundária?

(Extraído de Eventos Futuros: O Porvir, de H. L Heijkoop, Depósito de Literatura Cristã)

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A Igreja no tempo do fim

Esta é uma hora de grandes movimentos. O mundo todo está num estado de revolta, e “visões mundiais” de todos os tipos estão prendendo a muitos. A grande questão é: estão essas “visões mundiais” em harmonia com a Palavra de Deus? O diabo pode dar “visão mundial” (Mt 4.8), e por essa razão é necessário que tenhamos nossa visão ajustada às condições que a Bíblia revela como as que caracterizariam os últimos dias.

Vamos primeiramente olhar, de maneira breve, a mensagem do Senhor glorificado para Filadélfia, conforme registrado em Apocalipse 3.7-13, pois esta é a primeira referência à Sua “vinda breve” que encontramos nestas cartas às Igrejas.

1. A verdadeira Igreja no tempo do fim

Note que (1) será um tempo em que tudo ao redor dos cristãos será tão antagônico para todo serviço do evangelho que somente o próprio Senhor estará apto a abrir portas para Sua mensagem e Seus mensageiros e mantê-las abertas (vv. 7,8); (2) um tempo em que Seu povo terá apenas “pouca força” comparado às forças contra ele; (3) um tempo em que o máximo que é possível será vitória negativa, isto é, a vitória do que eles não farão, e não do que eles são capazes de cumprir — “não negaste o Meu nome” (v. 8).

No mundo religioso (4) será um tempo de confissão (v. 9) sem verdadeira comunhão com Deus, e (5) um tempo em que a única palavra que o Senhor falará ao Seu povo será “paciência”: “guardar a palavra da Minha paciência” (v. 10). Nada mais será possível. Nada de “progresso” ou “faça grandes coisas”, mas paciência. Nessa condição, da paciência de Deus trabalhada em Seus santos, Ele será capaz de mantê-los no “recôndito do Seu tabernáculo” durante as trevas que precedem a hora terrível que está por vir sobre a terra habitada (v. 10). Se o Seu povo é impaciente, eles não podem ser guardados de ser envolvidos nas tribulações e sofrimentos, pois a impaciência leva o crente para fora do cuidado poderoso de Deus, provavelmente mais do que qualquer coisa.

O Senhor, portanto, fala: “como guardaste a palavra da Minha paciência, também Eu te guardarei”. Para os santos será também (6) um tempo de conflito, no qual o preço da coroa está em risco. “Guarda o que tens para que ninguém tome a tua coroa” (v. 11).

2. A condição do mundo no tempo do anticristo

Agora vamos passar a ver as condições do mundo nos últimos dias, quando o anticristo tiver sido revelado, conforme registrado em Apocalipse 13.1-18. Aqui temos uma figura completa do reino do anticristo em dois aspectos: civil e religioso.

Quando a “besta”, o anticristo, obtém o trono do mundo, e “grande autoridade”, a condição das coisas, como descrita em Apocalipse 13, não terá chegado àquele ponto repentinamente, mas será o resultado climático de trabalhos forjados previamente por espíritos do anticristo (ver 1Jo 2.18). Conseqüentemente, quanto mais perto chegamos da volta do Senhor, mais os crentes descritos na mensagem à Filadélfia se encontrarão à negra sombra do reinado vindouro da besta e serão capazes, à luz da Palavra de Deus, de ver progressivamente as evidentes características marcantes do terror por vir.

Vamos ver brevemente algumas das linhas centrais do que é descrito em Apocalipse 13 e nos perguntar se já não vimos alguns dos sinais daquilo que está à frente. Note primeiramente que toda situação será resultado direto dos planos e do poder do dragão. “O dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono e grande autoridade” (v. 2). Diz claramente que o dragão governará o mundo através de dois instrumentos: a besta — o anticristo —, como cabeça de toda autoridade civil, e o falso profeta, como cabeça de todos os movimentos religiosos da época (vv. 11,12).

Observe algumas das características fundamentais da besta: (1) ela recebe adoração, reverência de todo o mundo, e, através desta reverência à besta, o dragão obtém adoração mundial, pela qual havia anelado desde o momento em que disse, em eras remotas: “serei como Deus” (Is 14.14). Sua grande ambição é obter a adoração devida apenas ao Mais Elevado, e ele obtém isso por um breve período antes do Senhor retornar em glória. (2) Observe as descrições impressionantes dadas das características principais da besta, pelas quais “toda a terra se maravilhou” dela e rendeu-lhe adoração. Ela teve uma “chaga mortal” que foi curada.

A besta foi1 alguém miraculosamente curado. E curado tão assombrosamente que “toda a terra se maravilhou” e se curvou diante de tal evidência de poder sobrenatural. Isso mostra claramente que o dragão é capaz de “curar” e falsificar a ressurreição do Senhor, e que o anticristo e o falso profeta obterão seu poder sobre “todos os que habitam sobre a terra” inteiramente pelo poder satânico. (3) A influência da besta foi exercida principalmente através do discurso; “falando grandes coisas e blasfêmias”; ela blasfemou contra Deus, contra Seu nome, contra Seu tabernáculo, contra os céus e os redimidos que habitam no céu. Que terrível descrição do estado do mundo sob o governo do arcanjo caído, Satanás! Blasfêmias abertas contra Deus e contra todos os que Lhe pertencem, penetrando através de “toda a tribo, e língua, e nação”. (4) À besta foi permitido fazer guerra aos santos, para vencê-los e matá-los e, ao fazê-lo, ele aparentemente se torna o mestre de toda terra habitada (v. 7).

3. O cordeiro falsificado e seus milagres

Na segunda besta, vemos uma descrição extraordinária de uma imitação sobrenatural da verdadeira obra do Espírito Santo de Deus. Parece que o anticristo pode apenas obter e manter seu poder sobre toda a terra por meio de uma falsa religião, com sinais dos céus para provar que ela veio de Deus. A figura toda (vv. 11-18) é de uma imitação sobrenatural de realidades divinas — não de apostasia intelectual — e de uma forma de divindade sem o poder.

A segunda besta ressuscita na forma de um cordeiro, imitando Cristo, o verdadeiro Cordeiro de Deus, apenas distinguível do verdadeiro por seu discurso, por seus ensinamentos e doutrinas. Ele se parecia com um cordeiro, mas falava como um dragão (v. 11). Ele tinha poder equivalente ao da primeira besta, com semelhante influência (v. 12), e foi totalmente devotado a induzir todos os habitantes da terra a adorar o anticristo e, não vamos nos esquecer, tudo isto por trás do anticristo, o dragão (v. 4).

Como o falso cordeiro obtém a “adoração”? (1) Ele fez “grandes sinais” (v. 13). (2) Ele fez descer fogo do céu, não de baixo, mas do céu, no qual o príncipe do poder do ar vagueia à vontade (v. 13). (3) Ele engana os habitantes da terra por meio de milagres (v. 14). (4) Ele estava apto a dar vida a uma imagem da besta e induzi-la a falar (v. 15), mas tudo será forjado pelo “poder” suprido pelo dragão.

4. Os santos vencedores no tempo do anticristo

E os cristãos verdadeiros? Não há exceções para esta reverência mundial à besta e para o dragão por trás dela? Sim! Os santos do Calvário viram o poder por trás dos fatos, e recusaram-se a adorar (v. 8). E qual foi o resultado? A besta tinha “poder para fazer com que todos os que não adorassem (…) fossem mortos” (v. 15).

Aqui há um vislumbre do poder do dragão para matar os santos que se recusam a reverenciá-lo. E posteriormente, “faz que a todos (…) lhes seja posto um sinal (…) para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal” (vv. 16, 17). Isso foi para subjugar pela fome aqueles que não adorassem. No mundo ímpio, podemos ver o crescente trabalho de espíritos anticristãos blasfemando contra Deus, e no mundo religioso, espíritos anticristãos imitando Cristo e fazendo grandes maravilhas.
Diante deste quadro panorâmico dos dias vindouros, e do inegável fato de que já estamos na preparação mundial para sua plena manifestação, a grande questão para a Igreja agora é: “O que esperamos de Deus em tal tempo?” As Escrituras nos mostram Deus fazendo “sinais e prodígios” em competição com as “imitações” que o espírito do anticristo e do falso profeta já está fazendo na terra? Ou a figura enfatiza que o único poder que capacitará os santos a permanecer nos dias maus é o conhecimento da cruz, e que o único caminho para eles é o caminho da cruz?

5. Os santos do Calvário antes e durante o reinado da besta

“Todos (…) adoraram-na, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida, do Cordeiro morto desde a fundação do mundo” (v. 8). O quadro é de todos os habitantes da terra dando ao dragão adoração, exceto, em toda a terra, dos santos do Calvário, aqueles que sustiveram a única verdade do Cordeiro morto, e aqueles que preferem morrer por Ele a render um ato sequer de adoração ao dragão (Ap 12.11). Isso não se parece com Deus vindo com sinais e prodígios para combater os imitações de Satanás. Antes, isto está na linha dos princípios da obra de Deus descritos pelo Senhor. “E nenhum sinal lhes será dado, senão o sinal do profeta Jonas” (Mt 16.1-4). “Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e noites no seio da terra” (12.38-40). O único sinal que Deus deu aos judeus que pediram a Cristo um “sinal do céu” foi sua morte no Calvário, e o grande sinal que haverá Dele nos dias do anticristo será Seu testemunho da morte resgatadora de Seu Filho por meio daqueles que partilham do Espírito de Cristo, sacrificando a própria vida por Ele.

Isso parece confirmado também em Apocalipse 20.4-6. Aqueles que “viveram e reinaram com Cristo durante mil anos” eram aqueles que tinham sido mortos por seu testemunho do Cordeiro morto e por manter a Palavra de Deus, e eram estes os que não adoraram a besta nem receberam sua marca para poder comprar e vender e, então, viver. Pelo fato de todas essas condições estarem presentes na terra, parece claro que não há promessa para os últimos dias de movimentos de “sinais e prodígios” dados por Deus, nem mesmo de um ajuntamento rápido de multidões de almas para Cristo. Mas haverá movimentos mundiais permitidos pelo príncipe do poder do ar quando o evangelho da cruz será omitido ou obras fraudulentas de espíritos do anticristo visando a encobrir a mensagem da cruz em seu pleno poder. Tampouco há base alguma para esperar por um triunfo visível dos santos vencedores, pois “foi-lhe [à besta] permitido fazer guerra contra os santos e vencê-los” (Ap 13.7).

6. O conhecimento da cruz é necessário nos últimos dias

“O Cordeiro morto desde a fundação do mundo” (Ap 13.8). É surpreendente encontrar essa declaração no meio do manifestado reinado do anticristo sobre o mundo. A expressão engloba toda a obra de Cristo no Calvário, como o Cordeiro que morreu por aqueles cujo nome está no Seu livro da vida. A única necessidade para os filhos de Deus no tempo do fim é conhecer, em toda a sua plenitude, o significado da cruz, para usar isso como uma arma de vitória sobre o dragão em todos os seus vários ataques contra o povo de Deus.

7. Como distinguir o verdadeiro poder do falso

Não há também “obras elevadas”, “curas” de Deus e “milagres” feitos por Ele? Seguramente há, mas a diferença entre as obras forjadas do anticristo e a obra do Espírito Santo é que o verdadeiro poder de Deus invariavelmente alcança a alma via Calvário, não por meio de espetacular “competição” com os prodígios prenunciados dos espíritos de Satanás, de modo que o mundo espectador dos homens não pode distinguir o falso do verdadeiro, mas numa profunda aplicação trabalhada interiormente, pela palavra da cruz como o poder de Deus, pelo Espírito de Deus, por meio do qual o crente é liberto, não apenas do poder do pecado, mas também é-lhe dado conhecer, em sua carne mortal, a vida pela qual Jesus venceu a morte em toda a força do seu poder.

Os “milagres” de Deus não são sempre externamente cumpridos, mas trabalhados no íntimo do espírito do homem via Calvário. Mais profundo e mais pleno do que qualquer cura do corpo é a maravilhosa obra de Deus, pela qual “aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos” vivifica o corpo mortal (Rm 8.11) do crente, tanto que ele é “entregue à morte diariamente por causa de Jesus” (2Co 4.10-12).

“Por seus frutos o conhecereis”, disse o Senhor a seus discípulos, pois o fruto, como resultado da vida interior, revela a origem oculta de ação. “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus (…) muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas?” (Mt 7.15-23). Os feiticeiros no Egito, trabalhando pelo poder de Satanás, puderam produzir “sangue” falso (Êx 7.22) e o inimigo sutil é capaz de introduzir seus “prodígios” sob uma imitação do “sangue do Cordeiro”, como visões do “sangue” cobrindo a alma, e “rios de sangue” enchendo uma sala. Mas o sangue do Senhor Jesus Cristo fala nos céus no trono de misericórdia, e não tem forma material em sua aplicação para o crente.

“Os discípulos chegaram-se a Ele, em particular, e lhe pediram: Dize-nos (…) que sinal haverá (…) da consumação do século. E ele lhes respondeu, dizendo: porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mt 24.3,24). Ele não diz que enganar os eleitos não é possível, mas, sim, que o propósito do impostor é alcançá-los.

“Vede que vo-lo tenho predito”, disse o Mestre, mostrando claramente que é através de “sinais e prodígios” que o perigo virá aos sinceros filhos de Deus, num tempo em que anormalidades serão abundantes, e em que o amor esfriará de muitos. Nestes dias perigosos vamos vigiar e ser sóbrios (1Ts 5.6; 1Pe 4.7).

1No original, o verbo está no passado, provavelmente para concordar com os verbos em Apocalipse, todos sempre no passado. (N.E.)

(Extraído da extinta revista O Chamamento Celestial 4, publicada por CCC Edições, abril de 2002)

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Esperando em Deus pela vinda de Seu Filho

T. Austin-Sparks

“Sede vós semelhantes a homens que esperam pelo seu Senhor” (Lc 12:36 )

“Até a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo; a qual em suas épocas determinadas, há de ser revelada pelo bendito e único Soberano, o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores” (I Tm 6:14-15).

“Deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro, e para aguardardes dos céus o seu Filho” (I Ts 1:9-10 )

Esperando em Deus no céu, e esperando dos céus o Seu Filho. A espera em Deus por Sua presença e Seu poder na vida diária será a única preparação verdadeira para esperarmos por Cristo em humildade e real santidade. Esperar por Cristo vindo dos céus para nos levar aos céus dará a verdadeira tonalidade, esperança e regozijo á espera em Deus. O Pai que, a Seu tempo próprio, revelará a Seu Filho dos céus, é o Deus que nos prepara para esta revelação do Seu Filho, à medida em que esperamos Nele. A vida presente e a glória vindoura são conectadas inseparavelmente em Deus e em nós.

Algumas vezes existe o perigo delas serem separadas. É sempre mais fácil estar compromissado com a vida cristã do passado e do futuro do que ser fiel na vida cristã hoje. Quando olhamos o que Deus fez no passado, ou o que Ele fará no tempo em que há de vir, pode ser que deixemos escapar o clamor pessoal da responsabilidade presente e a atual submissão à Sua obra. A espera em Deus deve sempre levar à espera por Cristo como sendo a gloriosa consumação da Sua obra; e a espera por Cristo deve nos lembrar sempre da nossa responsabilidade de esperarmos em Deus, como sendo a única prova de que esperamos por Cristo em espírito e em verdade. Existe o perigo de ficarmos mais ocupados com as coisas que estão por vir do que com Ele mesmo, o qual está vindo. No estudo dos eventos vindouros a uma certa esfera de ação para a imaginação, razão e ingenuidade humanas, e nada, a não ser uma profunda e humilde espera em Deus pode nos livrar de confundir o interesse e o prazer do estudo intelectual com o verdadeiro amor por Ele mesmo e pela Sua vinda. A esperança desta gloriosa vinda o fortalecerá na espera em Deus, com respeito ao que Ele está para fazer em você, agora. O mesmo amor onipotente que está para revelar essa glória está trabalhando em você, agora mesmo, a fim de adequá-lo para essa glória. “A bendita esperança e o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo”, é um dos grandes laços de união entregues à Igreja através das eras. “Ele virá para ser glorificado em Seus santos, e para ser admirado em todos aqueles que crêem”. Então todos nós nos encontraremos, e a unidade do corpo de Cristo será vista em sua glória divina. Jesus recebendo os Seus e apresentando-os ao Pai. Aqueles que Lhe pertencem se encontrando com Ele e adorando aquela bendita face, em amor indescritível. Os seus se encontrando uns com os outros no enlevo do próprio amor de Deus ! Esperemos, ansiemos e amemos o aparecimento do nosso Senhor e Noivo Celestial! Um amor terno para com Ele, e um amor terno de uns para com os outros é o verdadeiro e único espírito de noiva. Não é quando estamos mais ocupados com assuntos proféticos, mas sim quando, em humildade e amor, estamos mais unidos ao nosso Senhor e ao Seus irmãos, que tomamos então o lugar de Noiva. Esperar por sua vinda significa esperar por Sua gloriosa manifestação vindoura da unidade do corpo, enquanto buscamos aqui manter essa unidade em humildade e amor. Aqueles que mais amam são aqueles que estão mais prontos para a Sua vinda. O amor de uns para com os outros é a vida e a beleza da Sua noiva – a igreja. E como isso pode se efetuar? Amado filho de Deus! Se você quer aprender a esperar corretamente pelo Seu Filho vindo do céu, viva agora mesmo esperando em Deus no céu. Lembre-se de como Jesus viveu sempre esperando em Deus. Ele nada podia fazer por Si mesmo.

Esperar mesmo por Cristo é t ão diferente de esperar pelas coisas que podem vir a acontecer! Esse último, qualquer cristão pode fazer; mas para que haja o anterior, Deus precisa operar em ti todos os dias, pelo Seu Espírito Santo. Portanto, todos vós que esperais em Deus olhai para Ele a fim de receberdes graça para esperar do céu o Seu Filho, no próprio Espírito que provém do céu. E você que espera pelo Seu Filho, espere em Deus continuamente para que Ele revele Cristo em você. A revelação de Cristo em nós, como aquela que é dada para os que esperam em Deus, é a verdadeira preparação para a plena revelação de Cristo em glória.

“Somente em Deus, ó minha alma, espera”. (Sl 62:1)

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Pensamentos sobre a Nova Jerusalém

T. Austin-Sparks

A Cidade Santa – Descendo do Céu, da Parte de Deus

Leitura: Apocalipse 21 e 22

O próximo grande evento no calendário de Deus é o retorno em glória de seu Filho Jesus Cristo.É a consumação desta vinda e a revelação final da glória de Cristo que é mostrada a nós na forma desta cidade celestial, “descendo do céu, da parte de Deus”. Esta cidade nupcial representa o resumo da obra de Deus através dos séculos. Seus muitos símbolos mostram as características de seu Filho, enquanto as mesmas estão sendo impressas no interior das pessoas a quem Ele tem escolhido das nações, por seu nome, uma maravilhosa união de Cristo e sua igreja, que tem uma infindável tarefa de ministrar vida ao universo.As nações andarão à sua luz, e elas acharão saúde a partir das folhas da sua árvore; reis trarão seus tesouros para a cidade, e a glória de Deus irá prover sua luz.
Duas vezes João que a cidade foi mostrada a ele por Deus – “Ele me mostrou…” Talvez enquanto humildemente lemos e meditamos, Deus irá nos mostrar algo de sua significação e importância, e por meio de seus símbolos nos dará uma idéia mais clara das coisas não vistas e eternas que são para nós manter em vista, a fim de que “nossa leve tribulação” possa produzir em nós “ cada vez mais abundantemente um eterno peso de glória”. (2 Cor 4.17,18)

A RUA
A Versão Autorizada faz uma pausa entre os dois primeiros versículos de Apocalipse 22 que é enganosa. A Versão Revisada indica que o rio está no meio da rua desta santa cidade. A única rua está no centro; um rio corre do meio da rua, e a árvore da vida cresce de ambos os lados do rio. Nada está no plural, nem mesmo esta árvore, embora seja achada em ambos os lados do rio. Até este ponto as coisas estavam no plural. A vida tem muitas formas de expressar-se a si própria, assim como mostram as muitas árvores do rio de Ezequiel(Ezequiel 47.4). Ao final, contudo, tudo é reunido numa unidade absoluta: uma cidade, uma rua, um rio e uma árvore. É um lembrete simbólico de que ao final tudo será resumido à uma perfeita unidade:a unidade de Cristo.
Tal unidade somente pode ser percebida num relacionamento com o Espírito, mas isto certamente não é somente para o futuro, mas para hoje. A cidade está sendo espiritualmente formada agora no tempo presente, e a obra está em curso agora, em preparação para a grande consumação que ela revela; se a igreja é para ser a metrópolis de Deus, com uma vocação eterna no centro do universo, então aqui e agora ela deve aprender a unidade com e em Cristo. Uma rua! Esta unidade, diretamente do âmago da igreja, é básica para seu presente testemunho tanto como para a sua eterna vocação. A única rua tem um único rio, que significa que da parte mais íntima do campo do relacionamento com Cristo há uma fonte de vida. A cidade é, naturalmente, o último objetivo para o qual o Espírito Santo está se movendo. Nossa vocação nesta terra, aqui e agora, não é primariamente a de nos engajarmos em uma quantidade de boas obras, mas sim a de prover uma forma pela qual a vida de Cristo possa fluir para os outros. Como pode isto acontecer finalmente se não começar agora? Como podemos nós nos entusiasmarmos acerca da última unidade se nós não estivermos dando diligência, aqui e agora, para manter a unidade do Espírito?
Sendo este o caso, não precisamos salientar que o movimento estratégico do inimigo contra o propósito de Deus na igreja é o de mantê-la dividida, basicamente dividida. Ele não se importa com meras profissões de unidade, nem está ele impropriamente preocupado com ilusões extenas de unidade; mas o que ele se põe é contra é a unidade interior que irá liberar o grande rio de vida de Deus a fluir para fora, para um mundo necessitado. “Eu te mostrarei a noiva , a esposa do Cordeiro”, foram as palavras de introdução que levou João a ver a grande celestial e santa cidade de Jerusalém em sua gloriosa unidade. O indivisível amor por Cristo, como o amor da noiva por seu marido, é a única coisa que realmente se opõe a Satanaz, e a única base para uma real unidade.

A CANA DOURADA
A cidade foi medida com uma cana dourada, tudo dentro dela sendo visto conforme as medidas de Deus. A idéia geral é divina, e pode somente ser medida pelo padrão divino, pois é para expressar o propósito divino. Nosso chamado em Cristo nos faz muitas exigências, mas se pudermos vê-las à luz das coisas eternas, será muito mais fácil enfrentá-las. Não que seja sempre fácil para a nossa natureza humana ser tratada de acordo com esta cana dourada de padrões divinos, mas nós podemos mais prontamente suportar o preço, se mantivermos o propósito divino em vista.
Uma maravilhosa característica da cidade é a sua pureza absoluta. Isto é verdadeiro do seu estilo de vida, porque a água de seu rio é tão clara como o cristal. Isto é verdadeiro de sua substância,que é de ouro puro feito como o puro vidro. Isto é verdadeiro de sua luz, que é descrita como sendo “como uma pedra jaspe”, claro como o cristal”. Desta pedra também é dita ser “muito preciosa”, o que sugere que tal condição de transparência é muito preciosa para o Senhor. Isto também implica que nós, seu povo, iremos achá-la de uma qualidade muito cara, uma que somente pode ser experimentada se aceitarmos a disciplina de Deus, e recebermos uma educação espiritual que nos torne refinados e parecidos com Cristo. Esta pureza não é meramente negativa, uma espécie de condição inoxidável, mas é uma luz sem sombra e sem sem nuvem. Deus é luz: Cristo é a luz do mundo, e o ministério da igreja é tanto receber como transmitir sua luz. A cidade está radiante com a glória de Deus. Qual é o oposto de glória?
É escuridão,nebulosidade; é tudo que no reino não é claro, mas misturado e sombrio. Se você tivesse que lidar com uma pessoa em quem você não pode confiar, por causa de elementos escondidos os quais se não realmente decepcionantes de alguma forma, falta pura transparência, você a teria achado uma experiência desagradável, muito contrário de glória. Quando a glória de Deus preenche o lugar, então não há tais questões ou dúvidas, mas uma confiança perfeita e aberta. “Nele não há trevas absolutamente…” (1 John 1:5). Esta glória é nossa, pela graça, e deve governar todos os nossos caminhos.
Todos os portais da cidade são de pérola. Pérolas são uma parábola de preciosidade que resulta de sofrimento, uma vez que elas são formadas como o resultado da agonia das criaturas “que as hospedam”. Essa pérolas são os únicos portões. Não há outro caminho para a cidade que não seja pelo amor sofredor, porque os eleitos que reinarão com Cristo são aqueles que têm primeiro compartilhado algo dos sofrimentos de Cristo . Não adianta nossa opção por um relacionamento do tipo casual ou por um caminho fácil, porque o amor de Cristo, purificado de toda mistura, e precioso para Deus, exige um compromisso com Ele, por seu supremo propósito a ser cumprido, muito embora o custo possa ser alto. Não vamos nos deter pelo alto preço, mas manter nossos olhos no resultado – “tendo a glória de Deus”. Este é o nosso destino.

O MURO
Uma outra característica desta corporificação do pensamento de Deus é o fato de que a cidade tem “alto e grande” muro. Muito tem sido dito deste muro, com repetida menção sobre suas fundações, suas dimensões e seu comprimento. Parece que ele retrata a distinção da cidade. É verdade que muros são frequentemente usados para propósitos de defesa, mas como tal necessidade jamais poderia surgir na cidade celestial, concluímos que o muro representa uma demarcação daquilo que Deus deseja ser distinguido de uma forma especial. Você não concorda que há muita fraqueza no cristianismo atualmente apenas por razão de uma falta de distinção de testemunho e vida? Não que Deus irá permitir-nos pensar em termos de conceito espiritual ou imaginada superioridade, mas é importante que nós não perdêssemos aquele senso de propósito definido e distinção que poderia sempre governar a vida de seu povo remido. O muro é bonito; é alto; é forte. Ele delimita aquilo que tem valor e significado especial para Deus.

ADORNADA
“Descendo do céu, da parte de Deus, adornada…” Se esta cidade deve ser a corporificação de valores eternos, se ela não é uma coisa, mas pessoas, então algo deve estar acontecendo para dar forma e prepará-los para que tal condição possa ser possível. Você irá notar que o muro da cidade está adornado, e também que o adorno da cidade em si é dito como sendo adequado para uma noiva. O muro não é uma demarcação feia, mas as suas fundações são adornadas com todo tipo de pedras preciosas. As caras gemas são simples símbolos dos muitos lados da preciosidade de Cristo. “Todavia para vós que credes é a preciosidade” (1 Pedro 2.7), a preciosidade de Cristo em si mesmo.
E a noiva também está adornada. Seu adorno é algo mais do que um esplendor externo, que pode ser colocado e tirado; sua beleza consiste daquelas qualidades interiores que deleita o coração de seu noivo celestial. “A filha do Rei está toda gloriosa por dentro: suas vestes são feitas de ouro” (salmo 45:13). Nós propensos a prestar tanta atenção ao exterior, até mesmo em coisas espirituais, mas o objetivo de Deus é um povo cuja vida interior é bonita com o puro ouro do amor de Cristo, porque Cristo está vindo “para ser glorificado nos seus santos, e para ser admirado por todo aquele que crê” (2 Tes. 1.10)
Se estes adornos vem do céu, como primeiro eles chegaram lá? Eles são o resultado da nossa caminhada com Deus aqui na terra. Vivemos nossas vidas aqui baixo, e embora nós frequentemente ficamos desencorajados, entramos em novas experiências da graça de Deus e aprendemos mais de seu Filho. A Palavra nos ensina que algo está acontecendo o tempo todo em relação à nossa vida aqui, que é equivalente a um tesouro que está indo adiante de nós e aguardando que nós o sigamos. Enquanto nós prosseguimos em nosso caminho com o Senhor, há valores celestiais se acumulando para o futuro. O Senhor Jesus não nos falou para ajuntar para nós mesmos tesouros nos céus. (Mat.6.20)? Então, enquanto há uma vida temporal, há também valores sendo armazenados no céu, características de Cristo que irão adornar sua cidade. Nosso crescimento espiritual, nossas características espirituais estão, por assim dizer, indo adiante de nós. Elas são eternas: elas não são efêmeras. E toda esta preparação está em curso, assim nos é dito, “enquanto olhamos … para as coisas que não são vistas…mas eternas”.
“Adornada como uma noiva para seu marido”. O que o Senhor está fazendo em nós agora, enquanto diariamente aprendemos novas lições de graça e humildade, será manifestado naquele dia, e embora isto possa trazer gratificação a nós e alegrar aos outros, é primariamente para o prazer de Cristo. O adorno espiritual da igreja será a recompensa ao nosso Noivo-redentor por toda a sua paciência e amor sofredor.
A cidade é descendente do céu, isto é, ela é conformada com o céu. Ela não vem do céu porque não é adequada, mas vem para trazer os valores do céu para o resto do universo de Deus. Nós devemos medir todas as coisas aqui em baixo pelos valores que são celestiais e eternos. Isto nos trás novamente de volta à cana dourada dos padrões de Deus, a cana que mede tudo à luz do propósito de Deus de mostrar a grandeza de seu Filho a um universo que deseja o saber por meio da Igreja que está em uma comunhão viva de amor com Ele. Este é o fim de todas as coisas. Isto é onde a Bíblia termina. E esta é a nossa vocação em Cristo.

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