Categoria: Igreja
A segunda geração
O livro de Esdras relata a história de duas gerações do povo de Israel que retornaram a Jerusalém depois do cativeiro na Babilônia. Durante 70 anos, Jerusalém havia sido uma cidade vazia, e o templo permanecera em ruínas. No final daquele período, umas 50 mil pessoas sob a liderança de Zorobabel e Josué retornaram e edificaram primeiro o altar e, depois, o templo. Zorobabel era da geração mais antiga, nascida em Israel antes do cativeiro. Esse é o contexto dos três primeiros capítulos. Posteriormente, no capítulo 7, houve um segundo retorno para Israel de uma geração mais jovem, conduzido por Esdras, um escriba nascido na Babilônia.
Qual é o significado de Jerusalém? Na Bíblia, Jerusalém fala do testemunho de Deus, porque dentro da cidade estava o templo, que representa a presença de Deus. A razão pela qual Jerusalém é uma cidade única é porque ali está o templo de Deus. Portanto, o testemunho de Deus deriva-se de Sua presença. Esse é um princípio muito importante.
Inicialmente, nos dias de Salomão, quando o templo e a cidade estavam nos dias de glória, a presença de Deus e Seu testemunho estavam em Jerusalém. Logo depois, porém, os líderes e o povo abandonaram Deus e passaram a adorar ídolos. Por isso, Deus permitiu que Nabucodonosor sitiasse a cidade, destruísse o templo e levasse o povo cativo para a Babilônia. Foi o tempo mais trágico na história de Israel. O testemunho de Deus estava em desolação. Do templo, não ficou pedra sobre pedra. O povo de Israel foi como uma árvore desarraigada e levada a uma terra remota.
Depois de 70 anos, conforme Deus prometera por meio do profeta Jeremias, o povo voltou a Jerusalém para restaurar o testemunho de Deus. Antes que isso pudesse ocorrer, foi preciso edificar o altar e a casa de Deus. Isso indica que devemos ter primeiro a presença de Deus e, em seguida, teremos o testemunho.
A Igreja cativa na Babilônia
Há um paralelo muito claro com a história da Igreja. No início, havia o testemunho de Deus, porque a presença de Jesus estava no meio do povo. Quando os santos se reúnem, o lugar em que estão torna-se a casa de Deus, o local onde a glória e a formosura de Cristo se manifestam. As pessoas de fora o vêem e dizem: “Este é o testemunho de Deus”. Quando a Igreja se encontra numa condição de normalidade, o testemunho de Deus é visto em muitas localidades; Taipei, Tóquio, Seul, São Paulo, Santiago, em todo lugar. Esse é o propósito de Deus. Porém, se examinarmos a história da Igreja e observarmos o que ocorre em nossos dias, veremos que a Igreja foi levada cativa, outra vez, para a Babilônia. Babilônia significa “confusão”. Hoje em dia, as pessoas estão confusas e pensam que a Igreja é uma instituição. Quando você chega a uma reunião, você sabe como se comportar, como cantar, como orar, o que esperar.
Alguém vai compartilhar a Palavra, alguém muito espiritual vai ler a Bíblia para os demais. Só precisa comparecer aos domingos e escutar, e isso é tudo. Essa é a nossa confusão. O que é a Igreja? Sabemos que é o Corpo de Cristo. Se é corpo, cada membro deve estar funcionando. Entretanto, por que hoje só há um ou dois membros ativos? Onde está o testemunho? Onde está o testemunho coletivo? Se olharmos ao redor, veremos que há confusão. Fomos levados cativos para a Babilônia.
Movimentos de restauração
Durante a história, por várias vezes, Deus levantou reformadores para conduzir o povo de volta para Jerusalém. Homens, como Martinho Lutero, João Calvino, Zuínglio e outros, tiraram o povo da confusão da Era das Trevas, em que as pessoas vendiam indulgências, não conheciam sequer a salvação, e a Bíblia estava aprisionada. Não é de surpreender que a condição da Igreja naquele tempo fosse de absoluta confusão. Graças a Deus, esses homens levaram a Igreja ao fundamento original. Reedificaram o altar e a casa. Voltaram à presença do Senhor e viram Seu testemunho restaurado.
Mas o que aconteceu? Na primeira geração, tudo estava muito bem, cheio de vida. Porém, na segunda geração, perdeu-se gradualmente a visão. Passaram a guardar tradições. Na primeira geração, a taça de bênção estava cheia; na segunda, caía para a metade. Na terceira, quase toda a bênção se tinha ido: ficava somente a taça. Algum tempo depois, o Senhor levantava outras pessoas, havia outro avivamento, uma nova “primeira geração”. Outra vez, retornaram a Jerusalém. Entretanto, quando a bênção se foi, a confusão chegou de novo. Assim, o povo voltava outra vez para a Babilônia.
Foi assim com John Wesley, no século 18, quando Deus restaurou a verdade da santificação pela fé. Foi assim também com John Darby, no século 19. Em cada mover de Deus, a primeira geração tinha vida, revelação direta de Deus, tudo era dirigido pelo Espírito Santo. A presença de Deus estava clara, o testemunho aparecia na Terra. Mas, quando chegava a segunda geração, já sabiam como reunir-se, como fazer as coisas. Aprendiam o método dos mais antigos. Depois de pegar o método, que maravilha! Como funciona bem! Nem precisa lutar tanto, buscar a presença do Senhor, estudar tanto a Bíblia ou orar. “Já conhecemos a vontade de Deus. É o que os anciões me falaram, o que me foi passado.”
No princípio, cada taça tinha razão para gloriar-se, porque estava cheia de bênção. Mas, quando a presença de Deus se foi, o que eles têm agora? Apenas uma taça vazia para comparar com outras: “A minha taça é melhor que a sua”. Como podemos mudar esse padrão e preservar a presença e o testemunho do Senhor? Como a segunda geração pode pegar a taça da primeira geração e mantê-la cheia? Somente se ela tiver uma experiência de primeira mão, em contato com a Fonte de vida, exatamente como teve a primeira. Se você pertence à primeira geração, seja cuidadoso. A sua responsabilidade é trazer, para a geração mais jovem, a presença do Senhor. O Espírito Santo saberá como ensinar-lhes. A unção está neles. Não devemos usurpar o lugar do Espírito Santo. Só assim podemos manter cada geração com vida. Isso é muito importante.
Esdras e a segunda geração
Voltemos ao livro de Esdras. Zorobabel foi o líder da primeira geração. Por ter deixado Jerusalém como cativo quando era jovem, o retorno tinha grande significado. Já com cerca de 90 anos, ele sentia que seu lar estava em Jerusalém. Seu coração, profundamente comovido e saudoso, ansiava por retornar. Para Esdras, como parte da segunda geração, nascida no cativeiro, que nunca vira Israel, a situação era bem diferente. Jerusalém lhes parecia uma cidade vazia, uma cidade morta. Por outro lado, olhe para a Babilônia! Havia um futuro brilhante esperando-os ali. No entanto, de alguma forma, Deus estava operando na Babilônia, no meio da confusão. Se você vive em Jerusalém, tudo está claro; porém, para quem vive nesse outro mundo, tudo é confuso. Esdras nasceu e cresceu naquele ambiente onde se adoravam ídolos, onde havia outras esperanças, outros anseios. Mesmo assim, de alguma forma, ele procurou a Palavra de Deus e foi cativado por ela. Esdras se tornou o grande escriba. Por meio dele, foram reunidos os 39 livros do Antigo Testamento. Pela primeira vez, a revelação do Antigo Testamento estava completa.
Esdras não tinha um motivo natural para ir a Jerusalém. No entanto, o Senhor é capaz de fazer algo além do que imaginamos e levantou um jovem que abandonou seu futuro brilhante na Babilônia, voltou as costas a esse mundo e chegou a Jerusalém. O que significa isso? Que, embora a segunda geração tenha nascido fora de Jerusalém, sem revelação de primeira mão, ela pode vir a ser mais rica que a primeira.
Na família natural, os pais sempre ficam muito orgulhosos quando os filhos os ultrapassam, tornando-se melhores, mais bem-sucedidos e inteligentes do que a geração anterior. Essa é a prova de êxito de uma família. Não me diga que seus filhos têm só a metade de sua habilidade, e seus netos, a metade da habilidade de seus filhos. Se for assim, sua família está indo cada vez mais para baixo. Como sabemos que uma família está realmente subindo e não descendo? Quando os filhos são melhores que os pais, têm mais êxito que eles — e os pais não sentem ciúme por isso. E, quando chega a vez dos netos, eles irão ainda mais longe. Foi exatamente isso o que aconteceu no livro de Esdras. O testemunho de Deus não ficou só na primeira geração, mas avançou ainda mais na segunda.
A contribuição de Esdras
Vemos, na história da restauração, que a tarefa da primeira geração foi lançar o fundamento. Fizeram isso, edificando o altar e, depois, a casa. Durante vinte anos, sua obra foi voltada exclusivamente para os alicerces. E qual foi a contribuição de Esdras para a segunda geração? Ao estudar esse livro cuidadosamente, vemos que ele trouxe duas contribuições. A primeira é que ele procurou embelezar o templo (Ed 7.27 — “ornar” a casa do Senhor ou “glorificar”, em outra versão).
Traduzindo isso para a linguagem do Novo Testamento, significa que a Igreja deve crescer para atingir a maturidade. Na primeira geração, o fundamento está seguro. Mas, depois, na segunda geração, Esdras não construiu outro templo. Não. Ele edificou algo sobre o fundamento para embelezar a construção original. E a igreja como segunda geração. Lembre-se: a Igreja não é só algo exato, algo “correto’ de acordo com o entendimento da verdade. Esse é o primeiro passo, e é maravilhoso quando o alcançamos. Mas a Igreja, o Corpo de Cristo, deve crescer. Portanto, o que significa embelezar o templo? Muito simples. Por meio da segunda geração, a Igreja torna-se muito mais bela, mais amadurecida, sem mancha, pronta para ser apresentada a Cristo como uma Igreja gloriosa. Por que Esdras retornou a Jerusalém? Ele sabia, pela palavra profética do Antigo Testamento, que, quando o Messias viesse, Ele entraria no templo. Então, Jerusalém tinha de ser reedificada, e o templo, embelezado. Esdras retornou porque sabia que o Messias viria logo.
A segunda contribuição foi a restauração da autoridade da Palavra de Deus. Quando Esdras leu a Palavra, muitas pessoas choraram, foram tocadas (Ne 8.9). Então, a geração mais jovem deve ter uma palavra muito mais rica do que a primeira. Como pode a Igreja tornar-se gloriosa, sem mancha e sem ruga? A Bíblia diz que é “pela lavagem de água pela palavra” (Ef 5.26). No original grego, “palavra” neste texto é rhema, a palavra de vida, inspirada e aplicada pelo Espírito Santo.
Quando nossos jovens, nestes dias, estudam as Escrituras, eles estudam o logos (palavra escrita) e aplicam o coração ao estudo metódico e sistemático. Eles contam com melhores condições do que os da primeira geração, manejam o inglês, conhecem programas de computador, sabem como utilizar livros de referência. Mas também vivem na presença do Senhor a fim de que o Espírito Santo fale outra vez à sua geração, tornando aquele logos uma palavra viva. Essas foram as contribuições de Esdras e da geração mais jovem.
A responsabilidade da primeira geração
Portanto, se o Senhor for misericordioso conosco, e se Ele demorar a retornar, nossa história não se reduzirá só aos primeiros capítulos do livro de Esdras (restauração dos fundamentos por meio da primeira geração), mas poderemos alcançar, além disso, a experiência do capítulo 7 (levantamento de uma segunda geração com encargo, revelação e autoridade na Palavra). Diante disso, a primeira geração tem uma grande responsabilidade.
Se você faz parte da geração “mais madura” e conheceu ao Senhor em uma experiência de primeira mão, sua taça está cheia. Mas o que será da geração mais jovem? O que acontecerá nos próximos dez anos se o Senhor ainda tardar? Você tem uma grande responsabilidade: a de orar pela geração mais jovem, incentivá-la e estimulá-la, ajudá-la a conhecer o Senhor diretamente. Seu papel não é encontrar realização no próprio sucesso, mas fazer tudo para que a geração mais jovem vá muito mais longe do que a sua. Os jovens gostam de competir, de superar, de vencer desafios. Que eles recebam nosso ânimo e nosso encorajamento para serem superiores a nós, para alcançarem o máximo no Reino dos céus. Se a taça deles estiver cheia, assim como a da primeira geração, o testemunho será, de fato, preservado, e a casa de Deus estará preparada para o retorno do Rei!
A igreja primitiva não estava alheia a pragas, epidemias e histeria em massa. De fato, de acordo com relatos cristãos e também não-cristãos, um dos principais catalisadores para o crescimento explosivo da igreja em seus primeiros anos foi como os cristãos lidaram com doença, sofrimento e morte. A postura da igreja causou uma impressão tão forte na sociedade romana que até imperadores romanos pagãos queixaram-se aos sacerdotes pagãos por causa de seu número declinante, dizendo-lhes para melhorarem sua abordagem.
Então, o que os cristãos fizeram de maneira diferente que abalou o Império Romano? E o que a igreja primitiva pode nos ensinar à luz do coronavírus?
Resposta Não-Cristã às Epidemias
Entre 249 e 262 dC, a civilização ocidental foi devastada por uma das pandemias mais mortais de sua história. Embora a causa exata da praga seja incerta, a cidade de Roma perdeu cerca de 5.000 pessoas por dia no auge do surto. Uma testemunha ocular, o bispo Dionísio de Alexandria, escreveu que, embora a praga não discriminasse entre cristãos e não cristãos, “todo o seu impacto caiu sobre [não-cristãos]”. Tendo notado a diferença entre as respostas cristãs e não-cristãs à praga, ele diz sobre os não-cristãos em Alexandria:
“No início da doença, eles empurraram os doentes para longe e expulsavam seus próprios entes queridos de casa, jogando-os nas estradas, antes mesmo de morrerem, e tratando cadáveres não enterrados como terra, esperando assim evitar a propagação e o contágio da doença fatal; mas, mesmo fazendo tudo o que podiam, achavam que seria difícil escapar”.
Relatos não-cristãos confirmam esse sentimento. Um século depois, o imperador Juliano tentou conter o crescimento do cristianismo após a praga, liderando uma campanha para estabelecer instituições de caridade pagãs que espelhavam o trabalho dos cristãos em seu reino. Em uma carta de 362 d.C., Juliano reclamou que os helenistas precisavam se igualar aos cristãos em virtude, culpando o recente crescimento do cristianismo por sua “benevolência para com estranhos, seu cuidado pelos túmulos dos mortos e a pretensa santidade de suas vidas”. Em outros lugares, ele escreveu: “Pois é uma vergonha isso. . . os ímpios galileus [cristãos] apóiam não apenas seus próprios pobres, mas também os nossos”.
Embora Juliano tenha questionado os motivos dos cristãos, seu constrangimento pelas instituições de caridade helênicas confirma que os esforços pagãos ficaram muito aquém dos padrões cristãos de servir os doentes e os pobres, especialmente durante as epidemias. De acordo com Rodney Stark em A ascensão do cristianismo, isso ocorre porque “por tudo o que [Juliano] instou os sacerdotes pagãos a condizerem com essas práticas cristãs, houve pouca ou nenhuma resposta, porque não haviam bases doutrinárias ou práticas tradicionais para eles se basearem”.
Resposta Cristã às Epidemias
Se a resposta não cristã à praga era caracterizada por autoproteção, autopreservação e evitar os doentes a todo custo, a resposta cristã era o oposto. De acordo com Dionísio, a praga serviu como “educação e teste” para os cristãos. Em uma descrição detalhada de como os cristãos reagiram à praga em Alexandria, ele escreve sobre como “os melhores” dentre eles serviram honrosamente os doentes até que eles mesmos pegaram a doença e morreram:
“Muitos de nossos irmãos cristãos mostraram amor e lealdade ilimitados, nunca poupando a si mesmos e pensando apenas no seu próximo. Indiferentes ao perigo, eles cuidaram dos enfermos, atendendo a todas as suas necessidades e ministrando-os em Cristo, e com eles partiram desta vida serenamente felizes; pois foram infectados por outros com a doença, provocando em si mesmos a doença de seus vizinhos e aceitando alegremente suas dores”.
Da mesma forma, na biografia de Poncius de Cipro, o bispo de Cartago, ele escreve sobre como o bispo lembrou aos crentes que deveriam servir não apenas aos cristãos, mas também aos não cristãos durante a praga:
“Não há nada de extraordinário em apreciar meramente nosso próprio povo com as devidas atenções de amor, mas esse alguém pode se tornar perfeito, que deve fazer algo mais do que homens ou publicanos pagãos, alguém que, vencendo o mal com o bem, e praticando uma bondade misericordiosa como a de Deus, deveria amar seus inimigos também… Assim, o bem foi feito a todos os homens, não apenas à família da fé”.
O impacto desse serviço foi duplo: (1) o sacrifício cristão por seus irmãos crentes impactou o mundo incrédulo ao testemunharem o amor comunitário como nunca haviam visto (João 13:35) e (2) o sacrifício cristão por não-cristãos resultou na igreja primitiva, experimentando crescimento exponencial à medida que os sobreviventes não-cristãos, que se beneficiavam do cuidado de seus vizinhos cristãos, se convertiam à fé em massa.
Resposta Cristã ao Coronavírus
Enquanto continuamos lutando com a forma de responder ao coronavírus, observe como os não-cristãos no Império Romano enfatizaram a autopreservação, enquanto a igreja primitiva enfatizava o serviço sacrificial sem medo. Enquanto os não-cristãos fugiram da epidemia e abandonaram seus entes queridos doentes por temer o desconhecido, os cristãos marcharam para a epidemia e serviram tanto aos cristãos quanto aos não-cristãos, vendo seu próprio sofrimento como uma oportunidade de espalhar o evangelho e modelar o amor cristão.
Se a resposta não cristã à praga era caracterizada por autoproteção, autopreservação e evitar os doentes a todo custo, a resposta cristã era o oposto.
Como podemos colocar essa postura em prática diante do COVID-19, nos diferenciando do mundo em como reagimos à crescente epidemia? Talvez comecemos resistindo ao medo que está levando ao pânico em vários setores da sociedade – em vez disso, modelando a paz e a calma em meio à crescente ansiedade ao nosso redor. Talvez possamos escolher patrocinar restaurantes e empresas asiáticas-americanas locais que outros americanos estão evitando devido a estereótipos baseados no medo. Também podemos procurar servir sacrificialmente nossos vizinhos, respeitando prudentemente os conselhos de profissionais médicos para ajudar a retardar a propagação da doença. Em vez de apenas nossa própria saúde, devemos priorizar a saúde da comunidade em geral, especialmente dos cidadãos mais vulneráveis, exercitando muita cautela sem perpetuar o medo, a histeria ou a desinformação. Isso pode significar custos para nós mesmos – cancelamento de viagens ou eventos planejados, ou mesmo colocar em quarentena se acharmos que fomos expostos – mas devemos aceitar esses custos com alegria.
“Outras pessoas não acham que esse é o momento de celebração”, disse Dionísio sobre a epidemia de sua época. “[Mas] longe de ser um momento de angústia, é um tempo de alegria inimaginável”. Para deixar claro, Dionísio não estava comemorando a morte e o sofrimento que acompanham as epidemias. Em vez disso, ele estava se regozijando com a oportunidade que tais circunstâncias apresentam para testar nossa fé – sair do nosso caminho para amar e servir nossos vizinhos, espalhando a esperança do evangelho, tanto em palavras como em ações, em momentos de grande medo.
Diversos exemplos que servirão para incentivar ou avisar o cristão que deseja servir a seu Senhor
Nos versículos 1, 22 e 23 dessa pequena e preciosa carta de Paulo, ele faz menção de seis cooperadores que estavam com ele na prisão em Roma.
(É interessante observar quantas vezes encontramos grupos semelhantes de sete irmãos no Novo Testamento. Eis alguns exemplos:
• Em João 21.2, seis irmãos acompanham Pedro quando este diz: “Vou pescar”.
• Em Atos 6, sete irmãos são escolhidos para administrar o ministério cotidiano às viúvas.
• Em Atos 10, Pedro e mais seis irmãos vão à casa de Cornélio.
• Em Atos 20, Paulo e mais seis irmãos esperam sete dias para poder partir o pão com a igreja em Trôade.)
Vamos considerar as qualidades desses homens que se encontravam na companhia de Paulo, e por fim, o próprio Paulo.
1. Timóteo, servo recomendado. Timóteo é mencionado pela primeira vez em Atos 16.1-3. Lemos a respeito dele: “Do qual davam bom testemunho os irmãos que estavam em Listra e em Icônio”. Como é importante que o servo de Deus tenha a confiança e a recomendação de irmãos que o conhecem.
Todo serviço cristão deve ser baseado na igreja local, e todo o servo de Deus deve sair para servir a Deus em plena comunhão e com o apoio de seus irmãos. Convém observar como Timóteo foi habilitado por Deus (1Tm 4.14; 2Tm 1.6) e enviado por Deus (1Tm 1.18). Todavia, a posse de alguns dons e a convicção do chamamento de Deus não dão ao obreiro o direito de trabalhar independentemente, sem ligação com sua igreja local. Pela recomendação a igreja se envolve no serviço do obreiro, e o próprio obreiro sente o benefício das constantes orações e do interesse da igreja.
2. Epafras, servo de intensa oração. Em Colossenses, carta escrita e enviada ao mesmo tempo que a carta a Filemom, lemos mais a respeito de Epafras (4.12,13). Ele era da igreja em Colossos: “Que é dos vossos, servo de Cristo”. Paulo destaca as orações deste servo, indicando:
a) o fervor delas: “Combatendo […] em orações”. A palavra traduzida como “combatendo” é semelhante, no original, à palavra que descreve a oração do Senhor Jesus no jardim de Getsêmani: “Posto em agonia, orava mais intensamente” (Lc 22.44). Epafras orava com todo o coração e com toda a sua força.
b) a persistência delas: “Combatendo sempre”.
c) a particularidade delas: “Por vós em oração”, isto é pelos cristãos em Colossos, e não somente por eles, mas também pelos irmãos em Laodicéia e em Hierápolis, como o v. 13 indica.
d) a objetividade delas: “Para que vos conserveis firmes, perfeitos e consumados em toda a vontade de Deus” (v. 12).
3. Marcos, servo restaurado. João Marcos, sobrinho de Barnabé, acompanhou Paulo e Barnabé em sua primeira viagem missionária, mas, quando chegaram a Perge, na Panfília, no sul da Ásia Menor, Marcos apartou-se deles, voltou para Jerusalém e não os acompanhou naquela obra (At 13.13; 15.38).
Outras referências no Novo Testamento, e especialmente as palavras de Paulo em Atos 15.38, dão a entender que, embora seu tio Barnabé o levasse consigo depois para a evangelização de Chipre, isso foi uma falha da parte de Marcos.
Porém, é muito agradável ver como Paulo se alegra com a restauração de Marcos ao serviço do Senhor. Em Colossenses 4.10, Paulo escreve com respeito a ele: “Vos saúda […] Marcos, o sobrinho de Barnabé, acerca do qual já recebestes mandamento; se ele for ter convosco, recebei-o”. Isso indica que Marcos estava de novo com Paulo. Em 2Timóteo 4.11, chegando perto do fim de sua “carreira”, Paulo manda a Timóteo a seguinte mensagem: “Toma Marcos e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério”.
Contudo, a mais impressionante evidência da restauração de Marcos é o fato que lhe foi concedido o privilégio de ser um dos quatro homens escolhidos para escrever, inspirados pelo Espírito Santo, os quatro livros que registram a vida, a morte e a ressurreição do Filho de Deus. Esse servo, que falhou e foi restaurado, foi escolhido para descrever o serviço incansável e devotado do Servo perfeito!
Deus não é só o Deus de salvação, mas também de restauração; e todas as Suas obras são perfeitas.
4. Aristarco, servo e companheiro. Em relação a Paulo, Aristarco é chamado de companheiro na viagem (At 19.29), companheiro de prisão (Cl 4.10) e cooperador (Fm 24). Todas essas expressões indicam que Paulo dava muito valor ao companheirismo desse irmão. Seu nome sugere que era de família nobre, mas veio a ser ainda mais ilustre, sendo, como Jabez, homem de oração (1Cr 4.9,10), e ainda mais nobre, como os homens de Beréia, que “de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras” (At 17.11).
Como é bom ter um homem assim como companheiro na obra do Senhor, mesmo nas privações das viagens e da prisão.
5. Demas, servo que desapontou. É evidente que, na ocasião do envio da carta a Filemom, Demas ainda era um “cooperador” apreciado do apóstolo Paulo. Mais tarde, porém, Paulo tinha de lamentar a respeito dele: “Demas me desamparou, amando o presente século” (2Tm 4.10).
É fácil ficar orgulhoso perante a apostasia de outros e pensar que nunca faríamos tal coisa. Contudo, convém reconhecer o fato de que sempre estamos em perigo de cair. É só começar a seguir um pouco mais “de longe” (como Pedro em Mt 26.58), e logo estamos de volta ao mundo (como Pedro no v. 69, “assentado fora”).
Prezado leitor cristão, nunca imagine que a carne, a velha natureza, tenha melhorado depois de sermos cristãos há alguns anos. O próprio Paulo, depois de vários anos no serviço ao Senhor, disse: “Em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm 7.18). Se nos aproximarmos do mundo, estaremos em grande perigo, pois é disso que a carne ainda gosta. Uma vez que estamos no mundo não somos mais úteis ao Senhor.
O nome Demas quer dizer “popular”. Talvez isso indique a causa de sua queda. A popularidade tem sido um laço para muitos.
6. Lucas, servo meticuloso. Paulo tinha consigo naquele tempo dois dos quatro homens que seriam usados por Deus para escrever os Evangelhos. Além de seu Evangelho, Lucas escreveria Atos também.
Na pequena introdução de seu Evangelho, Lucas faz menção do método que usou na preparação desse livro: “Pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los [os fatos] a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me informado minuciosamente de tudo desde o princípio” (1.3). Essas palavras mostram como ele juntou os fatos, investigando tudo e verificando as fontes das informações (a palavra traduzida “princípio” pode indicar “origem” também, como na ARA). Depois ele colocou tudo em ordem, escrevendo com método. Tal é o homem que Deus usou para escrever o precioso terceiro Evangelho.
Que exemplo e inspiração para todos nós a fim de realizarmos com zelo a obra do Senhor.
7. Paulo, servo que refletia a Cristo. Deixamos por último o melhor dos sete, e aquele que é o modelo para todos! Muitos artigos seriam necessários para dizer tudo a respeito de Paulo. Porém, a pequena carta dele a Filemom revela o fato mais importante em sua vida e em seu serviço: Cristo estava nele, Cristo vivia nele, e para ele o viver era Cristo (Gl 2.20; Fp 1.21).
De modo muito lindo vemos nessa carta a manifestação do Espírito de Cristo no apóstolo Paulo. A carta foi mandada a Filemom pelas mãos de Onésimo. Esse era servo de Filemom, mas havia fugido, provavelmente levando consigo algumas coisas que roubara da casa de seu senhor. Encontrando-se com Paulo em Roma, arrependeu-se e creu no Senhor Jesus. Agora salvo e irmão amado (Fm 16), Onésimo volta a casa de Filemom, e, diz Paulo: “Se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo. E, se te fez algum dano ou te deve alguma coisa, põe isso à minha conta. Eu, Paulo, de minha própria mão escrevi; eu o pagarei” (vv. 17-19).
Que lindo reflexo do amor daquele que restituiu o que não furtou (Sl 69.4), pagando nossa dívida e levando sobre Si nossas iniqüidades (Is 53.6). Paulo era uma verdadeira epístola de Cristo (2Co 3.3), escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo. Que nós sejamos assim também, imitando a Paulo como ele era imitador de Cristo (1Co 11.1).
O nome da igreja
Um dia, conversando com um desconhecido no interior do estado de São Paulo, tive oportunidade de dizer-lhe que sou cristão. Imediatamente, ele me fez uma pergunta que tenho ouvido inúmeras vezes: “Qual é o nome da sua igreja?”
Na confusão denominacional em que se encontra a cristandade atual, não podemos estranhar essa indagação, mas não devemos esquecer que já houve um tempo em que ninguém faria tal pergunta. Naqueles dias, agora tão distantes, não seria necessário perguntar, pois não havia denominações. “Todos os que criam estavam juntos” (At 2.44).
Lendo o Novo Testamento, percebemos que aquela união tão linda e tão agradável a Deus continuou por algum tempo. Veja, por exemplo, o que aconteceu em Corinto.
Quando chegou a Corinto para anunciar o evangelho, Paulo encontrou duas classes de pessoas: judeus e gentios. Tanto uma como a outra desprezou sua mensagem, mas por razões diferentes. Os judeus queriam ver sinais, uma demonstração de poder; os gentios queriam ouvir sabedoria, uma demonstração de inteligência; mas Paulo insistiu em pregar a Cristo crucificado, escândalo para o judeu e loucura para o gentio (1Co 1.22-24), e muitos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados (At 18.8).
Quando Paulo saiu de Corinto, portanto, não havia apenas dois grupos de coríntios, mas três. Escrevendo sua primeira carta àqueles irmãos, ele disse que não deveriam causar escândalo “nem aos judeus, nem aos gregos nem à igreja de Deus” (10.32). Mas observe bem: não havia necessidade de denominar aquela igreja, pois os cristãos estavam juntos; não havia divisões.
Nessa altura, porém, algo ominoso, preocupante, estava acontecendo naquela igreja. Uns diziam: “Eu sou de Paulo”, e outros: “Eu sou de Apolo”. Foram os primeiros sinais de denominacionalismo. Leia os capítulos 1 a 3 e veja como o Espírito Santo se entristeceu com isso. Veja como a epístola condena tal atitude dos coríntios.
É triste ver que aquela semente, lançada em Corinto, germinou, e hoje temos o fruto maduro e abundante. O denominacionalismo agora é tão antigo, tão enraizado e tão generalizado, que a maioria dos cristãos o aceita como se fosse normal. Muitos até o consideram necessário para acomodar os gostos diferentes do povo de Deus!
Nesta época denominacionalista, a pergunta do começo do artigo não surpreende. O fato, porém, de não causar surpresa hoje não deve obscurecer a lamentável realidade que Deus se entristece muito com isso. Veja quão diferente é o modelo que Ele deixou para Seu povo.
A primeira ocorrência da palavra “igreja” depois da descida do Espírito Santo é em Atos 2.47: “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que iam sendo salvos”. Pouco tempo depois, Deus fala do grande temor em toda a igreja (5.11) por causa de Ananias e Safira. Nestes versículos, nenhum nome foi dado para identificar a igreja. E não era necessário, pois todos os que criam estavam juntos. Não havia outra igreja. Era tão simples e tão lindo.
Mas o evangelho avançava, e outras regiões foram alcançadas. Muitas outras igrejas foram plantadas. Mesmo assim, não há sugestão alguma de nome para identificar essas igrejas. Deus simplesmente as chama pelo nome da cidade. Lemos da igreja que estava em Jerusalém (8.1), da igreja que estava em Antioquia (13.1) e da igreja que estava em Éfeso (Ap 2.1), etc. O modelo é claro: em qualquer cidade onde havia conversões, aquelas pessoas salvas começavam a se reunir ali localidade como igreja. Não havia necessidade de denominá-la, pois não havia divisões. Eram simplesmente cristãos, reunidos ao nome do Senhor Jesus. O mal do denominacionalismo ainda não havia levantado a cabeça.
Mesmo quando muitas igrejas foram plantadas numa região, ainda não vemos um nome denominacional. Lemos das igrejas da Galácia (1Co 16.1), das igrejas da Macedônia (2Co 8.1) e das igrejas da Judéia (Gl 1.22), etc. Continuavam sendo apenas igrejas, sem qualquer denominação.
Essa maneira de referir-se às igrejas de uma região nos ensina uma lição importante. Aquelas igrejas eram autônomas. Não vemos uma federação de igrejas naquelas regiões. Não foi organizada A Igreja da Galácia ou A Igreja da Macedônia. Aquelas igrejas não se filiavam a organização alguma. Era por essa razão que não precisavam de denominação. Eram apenas igrejas locais e autônomas.
Vemos essa verdade com ainda maior clareza ao observar outra maneira de descrever as igrejas. Lemos da igreja dos laodicenses (Cl 4.16) e da igreja dos tessalonicenses (1Ts 1.1; 2Ts 1.1). A igreja que estava em Laodicéia (Ap 3.18) era a igreja dos laodicenses (Cl 4.16). Aquela igreja não fazia parte de um movimento nacional ou internacional, mas era uma igreja estritamente local, composta unicamente de laodicenses. Da mesma forma, a igreja em Tessalônica era a igreja dos tessalonicenses – local e autônoma.
Considere mais algumas expressões que Deus usa para descrever estas igrejas. [Não são nomes denominacionais, mas designações que destacam certas características da igreja. (N.R.)]
Igreja de Deus (1Co 10.32)
Cada igreja local pertence a Deus. A igreja dos laodicenses era composta de laodicenses, mas pertencia a Deus. Esse fato nos faz lembrar que nós não temos o direito de modificar a igreja ou tentar adaptá-la ao nosso gosto. Ela não é nossa. Destaca também a reverência que deve caracterizar todas as reuniões da igreja. Que sejamos fiéis, submissos e reverentes.
Igrejas de Cristo (Rm 16.16)
A igreja existe para Cristo, não para nós. Ele é o Cabeça; a igreja é o corpo. Cada igreja local é reunida a Seu nome, e deve adorá-Lo na presença de Deus e anunciá-Lo ao mundo. Veja 1Coríntios 11.23-26 e 1Pedro 2.5,9.
Igrejas dos gentios (Rm 16.4)
Nesta expressão Deus nos faz lembrar do que éramos: gentios, sem Cristo, sem esperança e sem Deus no mundo. Agora fazemos parte da igreja de Deus e de Cristo. Isso é graça! Isso é a maravilhosa graça!
Igrejas dos santos (1Co 14.33)
Essa expressão não mostra o que éramos, mas, sim, o que somos. Se “as igrejas dos gentios” destaca a graça soberana de Deus, “as igrejas dos santos” destaca a responsabilidade individual de cada membro da igreja. Deus, por Sua graça, nos santificou (Hb 10.10); devemos ser santos, como Ele é santo (1Pd 1.15).
Conclusão
Que nosso coração aprecie a beleza do modelo que Deus deixou para a igreja local. Sua simplicidade será desprezada pela carne e pelo mundo; o inimigo há de continuar atacando-a de todas as formas, mas Deus garante Sua graça. Se estamos dispostos a guardar Sua Palavra e não negar Seu nome, ninguém poderá fechar a porta (Ap 3.8).
Não há nada mais poderoso que a oração perseverante – como a de Abraão pleiteando por Sodoma; como Jacó lutando no silêncio da noite; como Moisés permanecendo na brecha; como Ana, embriagada de tristeza; como Davi com o coração quebrantado pelo arrependimento e pela dor; como Jesus suando sangue. Acrescente a essa relação, a partir dos registros da história da Igreja, sua própria observação e experiência pessoal, e sempre haverá o custo da paixão até o sangue. Essa é a oração eficaz que transforma mortais comuns em homens de poder. Essa é a oração que traz o poder, que traz o fogo, que traz a chuva. Ela traz vida, ela traz a presença de Deus.
(Samuel Chadwick)
Deus lamenta de nós que depois de anos de escrita, utilizando montanhas de papéis e rios de tinta, esgotando pretensiosa terminologia sobre os maiores encontros de avivamentos na história, nós ainda enfrentamos rude corrupção em cada nação, assim como somos a Igreja que menos ora desde Pentecostes.
(Leonard Ravenhill)
Sucesso no casamento não é encontrar a pessoa certa, mas ser a pessoa certa no poder da Pessoa perfeita: Deus.
(John Piper)
Confessar que você estava equivocado ontem é tão-somente reconhecer que você está um pouco mais sábio hoje.
(Charles H. Spurgeon)
Quando os homens começam a se queixar mais de seus pecados do que de suas aflições, começa a surgir alguma esperança para eles.
(Matthew Henry)
A falta de tranqüilidade é uma das grandes características do mundo. A pressa, o vexame, o fracasso e os desapontamentos nos confrontam por todos os lados. Mas há esperança. Existe uma arca de refúgio para o cansado, tal como houve para a pomba solta por Noé. Em Cristo encontramos descanso – descanso para a consciência e para o coração, descanso fundamentado no perdão de todo pecado, descanso que é resultado da paz com Deus.
(J. C. Ryle)
Se falássemos menos e orássemos mais a respeito de nossas circunstâncias, elas poderiam melhorar; no mínimo, estaríamos mais bem preparados para lidar com elas e suportá-las.
(John Owen)
Sacerdotes
O estabelecimento de um sacerdócio humano como uma classe distinta dos outros cristãos é uma negação da verdade da fé cristã. De acordo com o Novo Testamento, todos os cristãos são sacerdotes: eles oferecem oração e louvor a Deus.
No Novo Testamento temos:
- Sacerdotes judeus
- O sacerdote pagão de Júpiter
- Melquisedeque (contemporâneo de Abraão)
- O próprio Cristo como o Sumo Sacerdote
Não existe absolutamente nenhuma referência a alguns cristãos tendo a distinção de serem sacerdotes. Em lugar disso, todos os cristãos são sacerdotes. Uma classe diferenciada de sacerdotes dentre os cristãos na terra é totalmente estranha ao Novo Testamento. Todos os cristãos pertencem a um sacerdócio real e santo – tudo o mais é falso e contrário às Escrituras.
Veja os seguintes versículos:
“Vós também, quais pedras vivas, sois edificados como casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus por Cristo Jesus” (1Pd 2.5).
“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas Daquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz” (1Pd 2.9).
“Àquele que nos ama, e pelo Seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos fez reino, sacerdotes para Deus, Seu Pai” (Ap 1.5,6).
“Por Ele [Jesus], pois, ofereçamos sempre a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome” (Hb 13.15). (A palavra sacerdote não é usada aqui, mas apenas sacerdotes oferecem sacrifícios.)
Cristo é o grande Sumo Sacerdote; todos os cristãos são sacerdotes. No antigo sistema, os sacerdotes ofereciam dons e sacrifícios pelos pecados em benefício do povo que não podia se aproximar do altar para o fazer. Era, sem dúvida, antes do próprio sacrifício de Cristo na cruz. A fé cristã é fundamentada no perfeito sacrifício de Cristo, no valor e na eficácia do que é eterno. A Epístola aos Hebreus enfatiza que, como a obra de Cristo fora de uma vez por todas, não pode haver qualquer outro sacrifício pelos pecados (ver 10.26).
No tabernáculo judeu havia dois véus. As pessoas comuns não podiam passar por nenhum deles. Os sacerdotes podiam passar pelo primeiro a fim de oferecer incenso, porém, pelo véu que dava para o Santo dos Santos, somente o sumo sacerdote podia passar sozinho, uma vez por ano, com o sangue da propiciação aspergido sobre o propiciatório. Assim, Deus se escondia dentro do véu. O adorador comum não podia se aproximar de Deus diretamente para oferecer dons e sacrifícios. O sacerdote os recebia e os oferecia. Deus habitava em densa escuridão.
A fé cristã é o completo oposto de tudo isso. O véu foi rasgado de alto a baixo (ver Mc 15.38); Deus revelou a Si mesmo. Em lugar de não podermos nos aproximar de Deus, Deus se aproximou de nós. Isso se aplica até ao maior dos pecadores (Paulo). Agora:
“A graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11).
“As trevas vão passando, e já brilha a verdadeira luz” (1Jo 2.8).
“Pois que Deus estava em Cristo reconciliando Consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões” (2Co 5.19).
“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (Jo 1.14).
“Nele [em Cristo] estava a vida, e a vida era a luz dos homens” (Jo 1.4).
“Deus nos deu vida eterna, e essa vida está em Seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida” (1Jo 5.12).
Por meio disso deduzimos que, quando um cristão assume a autoridade exclusiva de conduzir uma reunião ou um grupo, ele está agindo segundo a antiga ordem judaica. Está, de fato, dizendo que a pessoa comum não pode se aproximar pessoalmente, mas que deve ter um ministro ordenado da igreja para se aproximar por ele. Isso é uma negação de toda a eficácia da fé cristã e do lugar no qual todos os cristãos foram colocados.
Mas a luz de Deus brilhou mais, “e devemos andar na luz assim como Ele [Deus] na luz está” (1Jo 1.7). Aproximo-me pelo sangue de Cristo, a luz me mostra que estou perfeitamente limpo. Se requeiro que outro entre na presença de Deus em meu benefício, não devo considerar a mim mesmo como puro. Mas estou limpo, por causa da obra de Cristo. Sou, portanto, um sacerdote, e devo oferecer louvor, gratidão e adoração ao próprio Deus. E posso fazer isso a qualquer hora.
Em nosso mundo distorcido, as coisas mais importantes muitas vezes são as mais difíceis de aprender e, inversamente, as coisas que vêm facilmente são, na maioria das vezes, de pouco valor real no longo prazo.
Isso se vê claramente na vida cristã. Muitas vezes acontece que aquilo que aprendemos a fazer sem dificuldade são as atividades mais superficiais e menos importantes, e os exercícios verdadeiramente vitais tendem a ser omitidos devido à dificuldade de pô-los em prática. Isso é mais facilmente visto em nossas variadas formas de serviço cristão, particularmente no ministério. Ali, as atividades mais difíceis são as que produzem maior fruto, e os serviços menos frutíferos são desempenhados com menor esforço. Essa é uma armadilha em que um ministro sábio não cairá, ou, se perceber que está preso nela, importunará céu e terra em sua luta para dela escapar. Orar com sucesso é a primeira lição que o pregador tem de aprender, se quiser pregar frutiferamente, embora a oração seja a tarefa mais difícil para a qual ele é chamado. Essa vai ser a atividade, mais do que qualquer outra, que, como homem, ele será tentado a menos pôr em prática. Ele tem de determinar o coração para vencer pela oração, e isso significa que primeiro tem de vencer a própria carne, porque é a carne que sempre atrapalha a oração.
Quase tudo que diz respeito ao ministério pode ser aprendido com uma porção média de esforço inteligente. Não é difícil pregar, ou gerenciar atividades da igreja ou atender a compromissos sociais; casamentos e funerais podem ser dirigidos sem problemas com um pouco de ajuda de um Manual do ministro. Pode-se aprender a fazer sermões tão facilmente como fazer sapatos – introdução, conclusão, e só. E assim é com todo a atividade do ministério como se tem levado na igreja normal de hoje.
Mas orar – isso é outro assunto. Aqui de nada serve a ajuda de um Manual do ministro. Aqui, o solitário homem de Deus tem de combater sozinho, às vezes com jejuns e lágrimas e fadigas indizíveis. Ali cada homem tem de ser original, porque a verdadeira oração não pode ser imitada nem pode ser aprendida de outrem. Cada um tem de orar como se só ele pudesse orar, e sua aproximação de Deus tem de ser individual e independente; independente de todos, menos do Espírito Santo.
Thomas à Kempis[1] diz que o homem de Deus deve sentir-se mais à vontade em seu quarto de oração do que diante do público. Não é exagero dizer que é raro que o pregador que gosta de estar diante do público se encontra espiritualmente preparado para estar diante dele. É mais provável que a oração correta torne o homem hesitante em aparecer diante de uma audiência. O homem que realmente se sente à vontade na presença de Deus se verá preso numa espécie de contradição interior: ele provavelmente sentirá de forma tão aguda sua responsabilidade que preferiria fazer qualquer outra coisa a encarar um auditório; contudo, a pressão sobre seu espírito pode ser tão grande que nem cavalos selvagens o poderiam arrancar do púlpito.
Nenhum homem deveria se colocar diante de uma audiência sem antes ter estado diante de Deus. Muitas horas de comunhão deveriam preceder uma hora no púlpito. O quarto de oração deveria ser mais familiar do que a plataforma pública. A oração deveria ser contínua; a pregação, intermitente.
É de notar que as escolas ensinam tudo sobre a pregação, exceto a parte importante: a oração. Não se deve censurar as escolas por causa dessa fraqueza, pois a oração não pode ser ensinada; ela somente pode ser praticada. O melhor que qualquer escola ou qualquer livro (ou qualquer artigo) pode fazer é recomendar a oração e exortar a que seja praticada. A oração mesma tem de ser trabalho do indivíduo.
E é justamente o trabalho religioso que, feito com pouco entusiasmo, se torna uma das grandes tragédias de nossos dias.
[1] Autor de A imitação de Cristo. (N. do E.)
Porque Deus permite que a pressão venha sobre nós? Por nenhuma outra razão senão a de nos revelar que qualquer coisa que nós julgamos capazes de realizar e suportar ou de a ela resistir, podem nos reduzir a nada. Somos pressionados a tal ponto que só podemos dizer: “Ó Deus, não posso mais suportar. Minha força se esgotou. Por favor, manifesta Teu poder!” Deus vai permitir que sejamos pressionados até que obtenhamos Seu poder. Naquele ponto, a pressão torna-se não apenas nosso poder de oração, mas ela revela também o poder operador de Deus.
(Watchman Nee)
Assim como o sol é símbolo lindo e próprio de Cristo, do mesmo modo, a lua nos lembra admiravelmente a igreja. A origem de sua luz [o sol] está oculta para a vista. O mundo não o vê, mas ela o vê; e é responsável por refletir seus raios de luz sobre o mundo de trevas.
(C. H. Mackintosh)
Permaneça em Cristo! De fato, esse é o objetivo do Pai ao enviar a provação. Durante a tormenta, a árvore aprofunda suas raízes no solo. Durante os furacões, os habitantes da casa permanecem nela e se alegram com o refúgio. Semelhantemente, pelo sofrimento, o Pai deseja conduzir-nos a uma posição mais profunda no amor de Cristo.
(Andrew Murray)
Tem cuidado com as más companhias. Evita qualquer familiaridade desnecessária com os pecadores. Ninguém pode apanhar a saúde de outrem, mas pode-se apanhar doenças. E a doença do pecado é altamente transmissível.
(Thomas Watson)
Tenho grande necessidade de Cristo; tenho um grande Cristo para as minhas necessidades.
(Charlos H. Spurgeon)
Jesus Cristo não é apenas o Filho de Deus poderoso para salvar, mas o Filho do homem capaz de sentir.
(J. C. Ryle)
O Filho divino tornou-se um judeu; O Todo-Poderoso apareceu na terra como um bebê indefeso, incapaz de fazer nada mais do que ficar deitado, olhar, mexer o corpo e produzir sons, necessitando ser alimentado, trocado e ensinado a falar como qualquer outra criança… Quanto mais você pensa nisso, mais admirável isso se torna.
(J. I. Packer)
Quanto mais piedoso for o homem, mais misericordioso será.
(Thomas Brooks)
Salvar
Não deixe que a escola dominical destrua a fé das crianças e roube a responsabilidade dos pais!
Pais, não terceirizem sua responsabilidade!
Assista a este documentário e convença-se de que escola dominical, ministério de jovens e similares são marcas da vergonhosa degradação da igreja e da família cristã e que seus ocasionais e raros benefícios não mudam o fato de não serem bíblicos e de usurparem a responsabilidade dos pais e incapacitá-los a praticá-la!
Descubra que a educação oferecida pelo Estado, a escola dominical como praticada hoje, o ministério de jovens e a separação dos membros da igreja em grupos etários têm a mesma raiz: homens e princípios contrários à Bíblia.
Meu mundo foi sacudido violentamente em janeiro, quando dediquei algum tempo entrevistando líderes do movimento ilegal da “igreja nas casas” da China.
Durante cinco dias orei, louvei e participei de refeições simples com estes santos preciosos, a maioria dos quais passou anos solitários nas prisões comunistas pelo crime de pregarem o evangelho. À medida que eu ouvia seus relatos em primeira mão de milagres, e do tratamento cruel que receberam dos guardas policiais, senti como se tivesse encontrado pela primeira vez uma fé parecida com aquela que vemos no Novo Testamento. Quando retornei aos Estados Unidos comecei a imaginar se o que nós chamamos de cristianismo aqui tem alguma semelhança com o verdadeiro produto.
Uma líder me explicou que supervisiona 5.000 igrejas numa área rural. “Você é um bispo ou um apóstolo?” perguntei, tentando entender os termos que eles usam. “Nós não usamos títulos”, a mulher me explicou. “Nós simplesmente nos chamamos de irmão e irmã.”
Os 80 crentes que conheci são responsáveis por mais de 35 milhões de cristãos na China. Este é um número impressionante. Mas nenhum deles chegou ao nosso local de reunião numa limousine, nem qualquer um deles era seguido por um grupo de guarda-costas e publicitários. Muitas destas pessoas vivem como fugitivos, mas os seus rostos estavam radiantes de alegria.
O sr. Yu, que é o nome que vou usar para ele, é como o apóstolo Paulo da China. Ele viu pessoas ressuscitarem de entre os mortos, e uma vez ele viu Deus paralisando sobrenaturalmente um oficial do governo que ameaçava suspender uma reunião evangelística ao ar livre. Mas o sr.Yu não esperava nenhum tratamento especial ao passar algum tempo comigo e com seus colegas em janeiro. Ele usava um simples camisa de manga curta, comeu o mesmo peixe com arroz que nós comemos, e comparecia para a oração como qualquer outra pessoa, antes de cada reunião. Geralmente ele tomava seu assento no fundo da sala.
Estas pessoas choravam cada vez que orávamos pela China. Elas estavam dominadas por um sentimento de urgência espiritual. Muitos deles estão ansiosos por uma mudança política em seu país, não para que tenham liberdade para se mudarem para os Estados Unidos, ou para que possam comprar uma casa, mas para que possam enviar missionários para países muçulmanos vizinhos e fechados como o Casaquistão ou o Uzbequistão.
Eu senti vergonha quando voltei para casa. A humildade dos meus novos amigos chineses expôs a realidade do meu orgulho. A sua fé infantil revelou o quanto eu confio na tecnologia, na educação e nos ídolos do materialismo ocidental. A sua contagiante paixão pelo cumprimento da Grande Comissão forçou-me a enxergar o meu autocentrismo.
Estou cheio do nosso ramo anormal e americanizado do cristianismo. É tão impotente quanto é letal. Depois de passar esse tempo com meus irmãos e irmãs da China, compreendi que muito do que vejo na igreja e até daquilo que publicamos na nossa revista (a revista norte-americana Charisma) dá náuseas para Deus.
Quão desesperadamente precisamos do Espírito Santo, nosso Refinador, para que venha nos despojar dos nossos títulos, nossas limousines, nossos lugares nas primeiras fileiras nos templos e nossas mensagens do tipo “que vantagem posso tirar para mim”. Precisamos voltar à simples humildade!
Que Deus nos guarde de algum dia exportarmos para outros países um evangelho adulterado e centrado no homem. Peçamos ao Refinador que envie seu fogo e destrua nossa escória de tal modo que possamos experimentar em nosso país um avivamento estilo chinês. O que eles têm é genuíno. O que temos aceitado é uma imitação barata.
J. Lee Grady é editor da revista CHARISMA.
Este artigo foi traduzido de um editorial publicado na Revista
Charisma de março/2001
(Publicado originalmente neste blogue em 17.11.2007 e republicado em 20.01.2016.)
Toda sexta-feira, indicação de artigos, de uma mensagem e de um hino recomendados. Nosso desejo é que lhe sejam úteis para aprofundar seu conhecimento do Senhor, para capacitar você a servi-Lo melhor e para despertar em você mais amor por Ele.
É sempre importante relembrar o que dizemos em Sobre este lugar: as indicações a um autor ou a alguma fonte não implica aprovação total ou incondicional de tudo o que é ali ensinado nem indicado em outros links ou em vídeos relacionados, etc; indica, outrossim, que naquele artigo específico há conteúdo bíblico a ser apreciado.
Artigos que você precisa ler
- A fidelidade de Deus, por A. W. Pink.
- Figuras das igrejas locais no Éden, por William Joseph Watterson.
Mensagem que você precisa ouvir
A verdade sobre o inferno, por John MacArthur
Hino que honra a Deus
Rock of Ages
Letra e música de Augustus M. Toplady (1775)