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Eu tenho de gostar da Lagoinha?

Há alguns anos, a chamada música louvor-e-adoração tem sido presença marcante nos grupos…

(abramos um longo parêntese para tentar responder à pergunta: Como chamar os filhos de Deus? A Bíblia os chama de irmãos, santos, discí­pulos e, bem poucas vezes, cristãos. Depois, vieram os termos “crentes” e “evangélicos”; mais recentemente “gospel” e, absurdo dos absurdos!, “fãs de Jesus”. Este último, evidentemente, é repugnante. Fãs de Jesus foram aqueles que O receberam à entrada de Jerusalém e, poucos dias depois, pediram que fosse crucificado. Fã o é hoje, e amanhã deixa de ser. Portanto, não serve para descrever um relacionamento sério com o Senhor. Gospel? De um tipo de música americana a carimbo sobre tudo o que é feito em nome de Deus ou é — mais ou menos — relacionado com Ele. Assim, temos música, revistas, bandas, axé, camisetas, canetas, canecas, cartão de crédito, baladas, fã-clubes, heavy metal, piercing, pulseiras… tudo gospel. O que isso significa? Para mim, apenas que Deus se tornou um bom produto. De um modo ou de outro. A Superinteressante, por exemplo, todo final de ano tem de fazer uma matéria de capa achincalhando a fé cristã. Vende, e isso é o que importa.Infelizmente, os filhos de Deus (e muitos que não o são) descobriram também este filão — basta colocar o nome gospel em alguma coisa (qualquer coisa) que o povo compra, usa, ouve e toma como inspirado pelos céus.Portanto, repudio também o adjetivo gospel. Para mim, ele nada significa, a não ser comércio.
Entre os termos bí­blicos, fico com cristão. Indica seguidor de Cristo. Sei que os católicos e espíritas também usam esse termo para si, mas são usurpadores apenas, não renascidos. Sim, há salvos entre os católicos, mas, no que diz respeito à instituição, o termo cristão não lhe cabe.)

Parêntese fechado, voltemos ao tema proposto. Como eu dizia, os rincões cristãos foram invadidos por esse tal de louvor-e-adoração. E dentro os expoentes desse tipo de música está o chamado Ministério Diante do Trono.
Não quero me alongar em considerações sobre o tal ministério (uma pergunta: você encontra ministérios com nomes no Novo Testamento? Nome de pessoas, de pastores, nomes “bíblicos”, nome engraçadinho — você encontra alguma coisa assim naquela que é [deveria ser] nossa regra de fé e prática?). Apenas assusto-me com a imposição de seu estilo sobre os cristãos, quase colocando-se como a versão oficial dos louvores do céu. Todos querem gravar CDs e DVDs como o DT e cantar como ele e aparecer como ele. É o comércio, novamente.

Encontrei a lí­der do DT numa “feira evangélica” em São Paulo. Havia uma fila enorme de pessoas esperando por um autógrafo dela e para serem fotografadas ao seu lado. Que é isso? Idolatria? E é tudo para a glória de Deus, como se justificam as estrelas gospel? Comércio. E os produtos são muitos: livros, cds, dvds, cds para crianças, revistinhas, até ringtones e papéis de parede para celular. É assim que tem de ser? Essa é a maneira bí­blica de pregar o evangelho? de denunciar os pecados? de conduzir pessoas à luz? Isso funciona?

Aparentemente, não. Um xou desse grupo reúne, segundo seus organizadores, dois milhões de pessoas. Para quê? Qual foi o impacto real na cidade de dois milhões de cristãos (se é que o eram todos) reunidos? Nenhum. Corrupção, violência, prostituição, drogas, mentira, tudo continua exatamente como antes. Ah, que saudades de Jonathan Edwards que, sozinho, sem orquestra, banda, coral, dança, pintura profética (que será isso?), pirotecnia, propaganda e tv, em tom monocórdico, pregou “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado” e, pela convicção de pecados, acabaram os prostíbulos daquela cidade naquela noite!

Outros grupos, à semelhança do DT, reúnem milhares, fazem um espetáculo roliudiano, mas sem impacto espiritual real e duradouro sobre a sociedade. Há algo, com certeza, profundamente errado em tudo isso.

Não gosto do DT por razões teológicas, em primeiro lugar, e, depois, musicais. Mas, pelo que vejo entre muitos cristãos, por comentários e devoção ao DT, eu deveria. Ouvi um locutor de rádio dizer sobre a lí­der do DT: “Se isso não é unção, o que é? Se essa moça não é usada por Deus, quem é?”

Pois é. Agora, ele/ela é também sinônimo de unção e de ser usado por Deus.

Onde irá parar tudo isso?

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Obs.: Escrevi este curtíssimo artigo em 10 de dezembro de 2005. De lá para cá, muita coisa mudou. Menos no DT, que continua tão ruim, teológica e musicalmente, quanto à época em que escrevi. Minha opinião continua a mesma, agravada pelos muitos filhos que o DT gerou.

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