E ordenaram ao povo, dizendo: Quando virdes a arca da aliança do Senhor, vosso Deus, e que os sacerdotes levitas a levam, partireis vós também do vosso lugar, e a seguireis.
(Js 3.3)
Em primeiro lugar, vamos tomar este fragmento – “os sacerdotes levitas a levam”, levam a arca –, que é a chave para nossa consideração nesse momento.
Vemos muitas referências aos levitas no livro de Josué, indicando sua importância. Temos, inclusive, um capítulo inteiro dedicado a eles. Meu desejo, com a ajuda do Espírito Santo, é tentar apresentar-lhes o sentido dos levitas em relação à plenitude celestial. Apesar de muitos de nós estarmos bastante familiarizados com sua história, acredito ser necessário inicialmente tratar dela, ainda que de forma breve.
Os levitas são apresentados de três maneiras em Josué. Em primeiro lugar, como acabamos de ver, eles são vistos levando a arca da aliança para o leito do Jordão e permanecendo ali com ela, a uma distância de dois mil côvados do povo – uma distância muito grande, como já abordamos no capítulo 5. Então, em segundo lugar, é declarado, em Josué 14, que os levitas não receberiam herança. Ou seja, na divisão da terra, ao contrário das outras tribos, eles não receberiam uma porção específica, não receberiam uma herança na terra. Mas, em terceiro lugar, no capítulo 21, que é focado nos levitas, descobrimos que todas as tribos precisaram conceder a eles um lote, um espaço. Os levitas foram distribuídos entre todas as tribos, e seu lugar e sua porção não estavam limitados a um só lugar; eles foram distribuídos por todo o país, ou seja, os levitas foram espalhados por toda a terra, por todos os lugares, em meio ao restante do povo. Esses são três pontos relacionados aos levitas neste livro, plenos de maravilhoso significado.
Os levitas representam o propósito de Deus
O que os levitas representam? Voltemos um pouco na história. Lembre-se de como os levitas se tornaram uma tribo. Isso aconteceu quando Israel retrocedeu, quando o bezerro de ouro foi feito, quando o povo clamou: “Este é o teu deus, ó Israel” (Êx 32.4), abandonando o Senhor. Então, Moisés desceu do monte, ouviu e viu tudo aquilo, destruiu o bezerro, pôs-se à porta do arraial e disse: “Quem é do Senhor, venha a mim. Então se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi. E disse-lhes: Assim diz o Senhor, Deus de Israel: Cada um ponha a sua espada sobre a sua coxa; e passai e tornai pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, e cada um a seu amigo, e cada um a seu vizinho. E os filhos de Levi fizeram conforme à palavra de Moisés” (vv. 26-28). Todas as considerações terrenas foram sacrificadas a favor dos interesses celestiais; todos os relacionamentos terrenos foram cortados pelo propósito celestial; tudo aquilo que envolvia sentimentos e emoções naturais, tudo o que era da mera alma, foi morto pelos interesses daquilo que governava o próprio surgimento do povo de Deus. Isso porque o propósito de Deus era que eles fossem um povo celestial, e não deveriam se envolver no sistema espiritual que governa este mundo. Nesse ponto específico, os levitas representam o propósito celestial de Deus. Aquilo que tiveram de fazer era muito drástico e absoluto, não é mesmo?
Lembre-se de que o Senhor jamais se esqueceu disso. No final do Antigo Testamento, no seu último livro, Malaquias, vemos uma referência à questão de Baal-Peor, quando Finéias sustentou uma posição a favor dos interesses celestiais que foram originalmente assumidos naquela ocasião do bezerro de ouro (Nm 14), e o Senhor disse: “Minha aliança com ele [Levi] foi de vida e paz” (Ml 2.5). “Não conheceu seus irmãos” (Dt 33.9): isto é, ele não se compadeceu da própria carne quando ela se afastou dos elevados propósitos de Deus. Deus estabeleceu Sua aliança com Levi. Assim, logo no início, os levitas foram selecionados e separados do restante de Israel, tomando o lugar dos primogênitos em Israel, tornando-se a tribo dos primogênitos. Podemos imediatamente remontar à Epístolas aos Hebreus: “Chegastes ao monte Sião […] à universal assembléia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus” (12.22,23). Aqui vemos o celestial entrando em cena novamente: o primogênito arrolado no céu, os levitas, o propósito celestial.
No capítulo 5, mencionamos o espaço de, pelo menos, dois mil côvados que foi estabelecido entre o povo e a arca – não podemos determinar hoje qual dos três tipos de côvado foi adotado, mas a distância poderia ser estimada em, no mínimo, 300 metros, podendo facilmente atingir um quilômetro. Esse grande espaço entre a arca e o povo indicava a imensa distância entre Cristo e qualquer outra pessoa na obra de salvação, de redenção, de libertação. Entretanto, vemos levitas carregando a arca. Você pode questionar: “Isso não é uma contradição? Cristo permanece único, separado de tudo.” Veja o princípio do levita: ele representa aquilo que é celestial.
Este é o Cristo celestial, e esse é o princípio dos levitas que carregam a arca. Este não é apenas o Cristo terreno, o Jesus da história, um Homem entre os homens, ainda que infinitamente superior. Este é o Cristo Celestial.
Se você desejar uma prova desse princípio, lembre-se do incidente nos dias de Davi, quando ele consultou os anciãos de Israel a fim de trazer a arca até Jerusalém e fez um carro com esse propósito. Ele aprendeu isso na terra dos filisteus, onde vivera durante o reinado de Saul, quando os viu fabricando carros. Quando a arca foi posta em um carro, uma tragédia logo se seguiu: Uzá morreu diante do Senhor. Davi ficou muito triste com o Senhor, porque Ele abrira uma rotura em Uzá [2Sm 6.8]; mas, sendo o homem que era, sempre ajustável ao Senhor – uma das coisas gloriosas sobre Davi era sua ajustabilidade –, ele não se alongou na controvérsia com o Senhor, nem o Senhor com ele. Davi se voltou para o Senhor e provavelmente tentou argumentar, mas o Senhor venceu a discussão. O Senhor o conduziu de volta às Escrituras e mostrou-lhe que os levitas deveriam carregar a arca – não máquinas, nem organizações, mas um povo celestial deveria levar o testemunho de Jesus.
Então, os levitas estavam carregando a arca. O fator celestial é o princípio da função levita, e isso, claro, é o cerne da questão de eles não receberem uma herança na terra. Eles não pertencem à terra: pertencem ao céu. Eles não serão enraizados aqui; mas, ainda assim, como homens que representam as coisas celestiais, eles serão distribuídos entre todo o povo de Deus para manter o povo de Deus em contato com o céu. O povo de Deus está sempre inclinado a se tornar terreno. Este tem sido o perigo e a tragédia da Igreja ao longo dos séculos: sempre gravitar em torno desta terra, tornando-se algo daqui segundo os conceitos do homem e os critérios deste mundo.
O Senhor precisa de levitas entre Seu povo
Agora, chegamos ao ponto que desejamos destacar. O Senhor precisa daqueles que passaram pelo sofrimento, pela Cruz e pelo sacrifício mediante uma profunda obra de separação; daqueles que não fizeram concessões, não consideraram seus sentimentos ou interesses terrenos. Ele precisa daqueles que se levantaram e estão totalmente firmados, a qualquer preço, a favor de Seu pleno propósito celestial em relação a Seu Filho e à Igreja. O Senhor precisa ter esses, e precisa distribuí-los por toda parte, trazendo-os a um relacionamento vital com Seu povo, a fim de evitar que este sucumba a esta tendência terrena: de se tornarem ligados ao mundo.
Centro de operações celestial
Não foi exatamente isso que aconteceu no Novo Testamento? É fascinante perceber isso. Quando chegamos ao Novo Testamento, deixamos os tipos e figuras para trás (imagino que alguns de vocês estejam um pouco cansados de tipos e figuras; já receberam muito deles). É maravilhoso ver a realidade! Quando chegamos em Atos, descobrimos que tudo se repete. O que aconteceu? Iniciamos com o Senhor Jesus posicionado no céu: o centro de operações celestial, cada detalhe do governo agora no céu; e então o Espírito Santo vem para tornar tudo celestial, para governar tudo em relação ao céu. Foi disto que falamos no último capítulo: o Capitão do exército do Senhor chegando para encaminhar tudo em relação ao céu e, depois, tudo se move a partir do céu.
O primeiro movimento do céu foi em Jerusalém, um poderoso movimento do céu, e as coisas estavam acontecendo. Mas observe a tendência depois de certo tempo (é claro que a história é contada em poucas frases, mas abrange um período considerável). Depois de um tempo, Jerusalém começou a gravitar em torno da Terra, e tendeu – não apenas tendeu, mas realmente começou – a se tornar a sede terrena da Igreja. De acordo com o mandamento do Senhor, Jerusalém deveria ser apenas o começo, o ponto inicial: “Começando em Jerusalém” [Lc 24.47]. Nunca fora planejado que Jerusalém se tornasse em algo final e inclusivo, mas ela se constituiu em uma espécie de centro de operações para governar a Igreja, e veremos esse tipo de coisa se desenvolvendo à medida que avançamos no livro de Atos. Olhe um pouco para Paulo, o homem celestial, e veja como ele repudiou Jerusalém.
Quando chegamos ao sétimo capítulo do livro de Atos, temos o apedrejamento de Estêvão, e então vemos o fim de Jerusalém. A partir desse ponto, o céu reivindica: “Não; nada de um centro ou sede terrena; a sede fica no céu”; e daquele ponto em diante, os irmãos começaram a ser dispersos de Jerusalém. Eles foram agitados e jogados fora do ninho, seguindo em todas as direções. Independente do lugar para onde fossem, Filipe ou quem quer que fosse, eles testificavam do Senhor celestial por toda parte, apresentando o lado celestial das coisas. Sim: esses levitas foram colocados por toda parte, no mundo inteiro, com o propósito de manter as coisas no caminho celestial. Tudo se desenvolveu assim.
Ao chegar no capítulo 9, vislumbramos um dos mais extraordinários movimentos do céu. Saulo seguia de Jerusalém para Damasco – e Jerusalém era seu centro de operações, com certeza. Ele recebera autoridade do sumo sacerdote, dos governantes, e o governo estava em Jerusalém, naquilo que lhe dizia respeito. Mas Paulo descobre, antes de chegar ao fim da jornada, que o governo estava no céu, não em Jerusalém. Os céus foram rasgados, ele viu uma luz do céu e ouviu uma voz do céu. E esse é o fim do mundanismo de Saulo de Tarso. Dali em diante, ele é um homem celestial – e veja como a partir daquele ponto esse homem sempre se movia em relação ao céu. Poderíamos seguir com mais detalhes, mas o fato é que aqui temos um poderoso levita. E não mais vemos Jerusalém, mas Antioquia. O Senhor se moveu de Jerusalém. Antioquia representa algo espiritualmente puro. Jerusalém se tornou o centro do oficialismo cristão, mas não há nada de oficial em Antioquia. O que temos ali, que agora suplanta Jerusalém, é um grupo de homens jejuando e orando. Então, o céu irrompe e o Espírito Santo diz: “Apartai-me a Barnabé e a Saulo” (At 13.2). Vemos algo relacionado ao céu. Isso é maravilhoso.
Poderíamos continuar evidenciando isso. Mas qual é o ponto central? Não ficou muito claro que, do ponto de vista de Deus, de acordo com Sua mente, tudo deve ser relacionado ao céu e governado a partir de lá? A plenitude celestial é Seu objetivo para Seu povo: torná-lo um povo celestial, cheio de Sua plenitude celestial. Bem no final do registro da Palavra de Deus vemos a nova Jerusalém – não a antiga, mas a nova Jerusalém – descendo do céu da parte de Deus, em grande plenitude celestial. Aquela nova Jerusalém é imensa – doze mil estádios em todas as direções (Ap 21.16). Vemos enorme plenitude ali. Todas as nações irão derivar seus recursos a partir dela. O fruto da sua árvore da vida e as águas do seu rio da vida são para todas as nações. Sua luz é para todas as nações. “E as nações andarão mediante a sua luz” (v. 24, ARA). Eis a plenitude celestial, aquilo em que o Senhor tem trabalhado todo o tempo.
Ele está trabalhando em nós agora. Às vezes imagino que somos duas pessoas: uma na terra e outra no céu. Naturalmente estamos aqui, mas existe algo de nós “subindo” o tempo todo, quando o Senhor implanta em nós algo mais do céu. Isso está sendo armazenado lá. Não seria talvez isso que o Senhor quis dizer quando se referiu a Si mesmo como “o Filho do homem, que está no céu” (Jo 3.13), mesmo enquanto ainda estava aqui na Terra? Existe um aspecto nosso que está crescendo no céu. Não pense no céu como um planeta remoto. Estamos crescendo nesse conceito celestial das coisas. Algo de nós está “subindo”.
Acredito que a Igreja seja assim. A verdadeira Igreja é algo invisível. Não sabemos, exceto pelo Espírito, o que a Igreja realmente é. Você não pode dizer que as pessoas que freqüentam determinado lugar são a Igreja. Você não pode dizer que as pessoas que professam certas doutrinas e verdades cristãs são a Igreja. Elas podem ser ou não. Mas se você se encontra no Espírito – e isso é algo intangível –, ali você tem a Igreja. A Igreja é assim, esse é seu caráter celestial – e isso está “subindo”, por assim dizer, o tempo todo, e dentro em pouco irá descer em plenitude do céu. Ela está sendo edificada dessa forma agora. É a vontade de Deus que seja assim.
O ponto que desejo enfatizar é que o Senhor precisa desse tipo de representação, seja ela em indivíduos ou em grupos, para estabelecer ao lado de Seu povo a fim de mantê-lo em contato com o céu, mantendo as coisas celestiais sempre em vista. Uma das funções dos levitas era ensinar a Palavra de Deus – ou seja, manter o povo do Senhor em contato com os Seus pensamentos. Isso é funcional, não oficial. Não precisamos ser chamados de levitas, nem mesmo de “reverendos”. Não assuma títulos, mas apreenda os princípios. Se aqui na Terra nós estamos mantendo as pessoas em contato com o céu, se estamos ligados às coisas celestiais, se as pessoas são edificadas por nossa presença – ainda que não seja necessariamente por meio de nossa pregação ou por afirmarmos: “Veja isso ou aquilo…”; não, apenas por nossa presença, pela encarnação da vida, da natureza e da plenitude celestiais em nós –, se as pessoas são levadas a ver o pensamento mais pleno de Deus quando estão perto de nós, somos levitas sem adotar esse título, e é disso que o Senhor precisa.
Isso pode acontecer conosco como indivíduos. O Senhor é quem ordena a disposição de Seu povo. No livro de Josué foi o céu que estabeleceu e ordenou as tribos, afirmando: “Você ficará aqui, este é o seu lugar”. Soberanamente o Senhor vai dispor Seu povo: colocará alguns na Alemanha, outros, na Holanda, na Inglaterra ou na América; e, quando Ele estabelecer você em um lugar, saiba que está ali por indicação do céu, para ser um elo com o céu, para impedir que as coisas se acomodem espiritualmente no nível terreno.
Esse, é claro, também é o significado das igrejas no Novo Testamento. Este é o conceito Divino: ter grupos do povo do Senhor plantados aqui, ali e por toda parte, como um ministério levítico corporativo, mantendo o céu próximo e as coisas perto do céu. Oh, que cada igreja fosse assim, mantendo as coisas perto do céu!
Bem, esse é o começo. Muito mais poderia ser dito a esse respeito. Podemos começar agora a considerar todas as cartas do Novo Testamento e observar o resultado. Começando com Romanos 12, pois aí temos um princípio levítico: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso serviço racional [espiritual]. E não sede conformados com este mundo” [vv. 1,2]. Isso é levítico: um sacrifício vivo não conformado com este mundo. Poderíamos continuar fazendo isso ao longo do Novo Testamento. Mas o grande ponto de nossas meditações é que nossa vida aqui precisa estar relacionada ao céu, debaixo do seu governo, trazendo à luz as coisas celestiais, ministrando em relação ao céu. Isso precisa ser verdadeiro para nós, dentro de nossa medida e de nosso chamado; da mesma forma que aconteceu com Paulo, precisamos de uma visão celestial e não podemos ser desobedientes a ela. Quanto devemos àquele querido homem por todo o sacrifício e sofrimento que ele experimentou pelas coisas celestiais! E quão fiel ao céu ele foi até o fim – lançado na prisão, acorrentado, e não falando sobre nada além dos lugares celestiais.
Você diz que sua situação é tão difícil que não consegue introduzir o céu nela? Bem, existem situações difíceis. A situação de Daniel e seus três companheiros era difícil, mas eles introduziram o céu nela. Uma grande frase no livro de Daniel é “o céu reina” (4.26). E eles provaram essa verdade. O quartel-general está no céu, não na Babilônia, não em Roma, não em Jerusalém ou em qualquer outro lugar, mas no céu. O Senhor nos ajude a viver à altura e a partir do céu.
Agora que estamos chegando ao fim, trazemos mais uma vez o objeto específico dessas mensagens.
Deus tem apenas um objetivo, e só isso Lhe trará completa satisfação: a Plenitude de Cristo. Essa plenitude deve ser encontrada em um povo tomado das nações. Por meio desse povo, nessa plenitude, o Senhor tem o propósito de governar a criação nas eras vindouras. Isso não será alcançado independente de nossa cooperação, mas apenas pagando um alto preço e travando severo conflito hoje.
Nem todos os que “saem” [do mundo] “entram” neste propósito. Muitos não irão até o fim, cumprindo todas as condições, “tornando mais firme a vocação e eleição” [cf. 2Pd 1.10], ainda que entrem no Reino para receber sua herança em medidas diferentes, menores ou maiores.
Os pioneiros são necessários para a plenitude do propósito, e o caminho trilhado por eles é peculiar, repleto de experiências, sofrimentos, perplexidades e provações, pouco conhecidos pelos demais.
Mas Deus precisa de Seus pioneiros, indivíduos ou grupos; e estes são aqueles que “perseveram em seguir ao Senhor” [cf. Js 14.8].
Que a graça, a misericórdia e a paz estejam contigo.
Eu desejo muito ter notícias tuas. Eu ainda permaneço um prisioneiro da esperança, e julgo ser um serviço para o Senhor esperar com calma e submissão, até que a aurora do Senhor rompa e Seu amanhecer de verão surja. Pois estou persuadido: é parte da tarefa principal de nossa vida Deus ter-nos enviado por alguns anos a esta terra, entre demônios e homens, às marcas de fogo do diabo e às tentações, para que soframos por um tempo aqui entre os nossos inimigos. De outra forma, Ele faria o céu nos esperar logo que saíssemos do ventre, e teria nos levado para o lar em nosso país, sem nos deixar colocar os pés nesta vida complicada e cheia de espinhos.
Mas, estando conscientes de que o sofrimento é cinzelado em cada um de nós – em uns, mais, em outros, menos –, de acordo com o que a Infinita Sabedoria pensa ser bom, nossa parte é endurecer e habituar essa nossa natureza de pele fina a suportar o fogo e a água, os demônios, os leões, os homens, as perdas, o coração triste, como pessoas que são observadas por Deus, anjos, homens e demônios.
Oh, que loucura é sentar e chorar sobre um decreto divino que é mudo e surdo a nossas lágrimas, e que deve permanecer quieto e inamovível como o Deus que o fez! Pois quem poderia vir após nosso Senhor, a fim de alterar ou melhorar o que Ele decretou e fez? Teria sido melhor fazer janelas em nossa prisão, e olhar para Deus e para o nosso país, o céu, e gritar como homens acorrentados que ardentemente desejam o ar livre de rei: “Senhor, venha o Teu reino; oh, venha o Noivo! E oh, dia! Oh, belo dia, oh, infindável dia de verão, amanheça e brilhe, surja de sob o negro céu e brilhe!”
Esperança do livramento final
Estou persuadido de que, se a cada dia uma pequena pedrinha das paredes da prisão é quebrada, pelo que a certeza é dada ao prisioneiro acorrentado, que está deitado sob vinte pedras de ferro sobre os braços e as pernas, que, por fim, sua cadeia deva se quebrar em dois pedaços, e que um buraco seja, por fim, feito amplo o suficiente para ele sair em segurança para a sua tão desejada liberdade, pela qual esperou pacientemente, até que o tempo abrisse um buraco na parede da prisão e quebrasse suas correntes.
Os prisioneiros esperançosos do Senhor, sob suas provações, estão neste caso: anos e meses tirarão aos poucos as pedras desta casa de barro e, por fim, o tempo abrirá a largura de uma bela porta liberando a alma aprisionada para o ar livre no céu; e o tempo irá retirar, um por um, nossos parafusos de ferro que agora estão nos braços e nas pernas e ultrapassar e desgastar as amarras de nossos problemas, desgastando-as até que se tornem nada; porque o que sofri ontem, eu sei, nunca mais voltará a me perturbar.
Oh, que respiremos nova esperança, e nova submissão, cada dia, no colo de Cristo! Pois certamente, um peso de glória, bem pesado, sim, crescendo para um peso mais excedente e eterno, recompensará tanto o peso como o comprimento de cruzes leves e fugazes. Nossas águas não passam de marés vazantes, que não chegam ao nosso queixo, nem tomam nosso fôlego. Eu posso ver (se tomar emprestado os olhos de Cristo) a terra seca, e de perto; por que, então, não haveríamos de rir da adversidade, e desprezar as tentações que nascem e logo morrem?
O crente em segurança
Eu me regozijo na esperança a ser revelada, pois não é incerta a glória que procuramos.
Nossa esperança não está firmada em fios soltos, tais como: “Eu imagino que”, ou: “É provável que”; mas o cabo, a forte corrente de nossa âncora firme, é o juramento e a promessa Daquele que é a verdade eterna. Nossa salvação está amarrada pelas próprias mãos de Deus, e com a força do próprio Cristo, ao pilar da natureza imutável de Deus. “Eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” (Ml 3.6).
Nós podemos brincar, e dançar e saltar em cima da Rocha digna e inamovível; o solo é bom e firme, e subsistirá aos ataques do inferno e do mundo.
Oh, que nossa fé sobreviva, contra os ventos e as ondas altas e orgulhosas, quando nossos mares parecerem estar todos em chamas! Oh, como eu me deixo levar freqüentemente! Eu sou posto a nadar quase afundando. Eu acho que o diabo tem a vantagem do terreno nessa batalha, pois luta em terreno conhecido: em nossa natureza corrupta. Pobre de mim! Ela é uma amiga parente dele, de sangue próximo, e não deixará de cair sobre nós. E, conseqüentemente, Ele que salva ao extremo, e leva muitos filhos à glória, ainda está defendendo minha salvação.
Dependência em Cristo para a perseverança
Vinte vezes por dia eu embaraço o meu céu, e aí tenho de chegar a Cristo com meu trabalho todo embaraçado para preocupá-Lo (como se pudesse) a fim de que Ele o desembarace; e procurar de novo o final certo da linha, e dobrar novamente minha glória eterna com as mãos Dele e dar uma palmada apropriada de Sua mão santa e graciosa à minha salvação arruinada e estragada.
Certamente é penoso cuidar para que uma criança tola não caia e fira o supercílio, e que chore por esse ou aquele brinquedo, ou que corra descuidada, ou pegue doenças infantis. E, antes que essa criança passe por tudo isso, ela precisa de muito cuidado e preocupação de seus cuidadores por causa de uma multidão de pequenas coisas. E assim é um crente: um trabalho penoso e um novelo embaraçado (como costumávamos dizer) para Cristo. Mas Deus seja louvado, pois a muitas salvações estragadas e a muitos novelos embaraçados Cristo consertou, desde que Ele passou a ser preceptor da humanidade perdida.
Oh, o que nós, crianças, faríamos sem Ele! Logo iríamos arruinar tudo! Mas, quanto menos peso sobre nossas pernas fracas e mais peso sobre Cristo, a Rocha forte, melhor para nós.
É bom para nós que Cristo sempre tenha tomado o estorvo de nós; é nosso céu poder colocar os muitos pesos e cargas sobre Cristo, fazer Dele tudo o que temos, da raiz ao topo, começando e terminando nossa salvação. Senhor, segura-nos aqui.
[1] Earlston, o Ancião e o Jovem (Alexander Gordon), descendentes da casa de Gordon de Lochinvar, que foi influenciado pelos ensinamentos de John Wycliffe. A casa de Earlston ficava perto de Carsphairn nas ilhas de Kirkcudbright. Alexander Gordon foi um presbiteriano convicto que compareceu perante o Tribunal da Alta Comissão em defesa de seus princípios (1635). Ele foi multado pesadamente. Mais tarde, ele representou Galloway no Parlamento Escocês. Seu filho mais velho, que herdou a propriedade da família em 1655, foi morto em 1679 enquanto dava assistência à causa da Aliança.
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Deus está mais perto de nós do que qualquer homem em todos os tempos. Ele está mais perto de mim do que minhas vestes, mais perto do que o ar ou a luz, mais perto do que minha esposa, meu pai, minha mãe, minha filha, meu filho ou meu amigo. Eu vivo Nele, alma e corpo. Eu respiro Nele, penso Nele, sinto, considero, pretendo, falo, empreendo, trabalho Nele.
(John de Kronstadt)
Um coração secretamente murmurador não acusa Deus? Toda acusação tem algum nível de blasfêmia, pois o acusador supõe que algo em Deus merece repreensão. E, se você ousar não abrir a boca para acusá-Lo, não permita que as queixas do seu coração O acusem.
(Richard Baxter)
No que se refere a Deus, graça é Seu favor voluntário, irrestrito e imerecido com respeito a pecadores culpados, outorgando-lhes justificação e vida em lugar da penalidade da morte, a qual eles merecem.
(Herman Bavinck)
Como cristãos, nossa esperança começa com as sólidas, certas e infalíveis promessas do Deus que nunca mente.
(David Mathis)
Cristo dá paz ao mais pecador e miserável que vem a Ele. Ele cura o quebrantado de coração e amarra suas feridas.
(Jonathan Edwards)
Meu objetivo é o próprio Deus. A qualquer preço, querido Senhor, por qualquer meio.
Tornamo-nos participamos do Espírito Santo (Hb 6.4)
Provamos da boa Palavra de Deus (Hb 6.5)
Provamos os poderes do século futuro (Hb 6.5)
Libertação da autoridade das trevas (Cl 1.13)
Fomos transportados para o reino de Cristo (Cl 1.13)
Todas as coisas se tornarem possíveis (Mc 9.23; Ef 1.19,20; 3.20)
O ministério dos santos anjos (Hb 1.13,14)
[1] Na versão em inglês da Bíblia usada pelo autor, são usadas duas palavras diferentes (iluminados e esclarecidos) nesses dois versos. No grego, porém, a palavra é a mesma (phōtizō), traduzida por “iluminados” na ACF. Mantivemos a repetição, portanto, por respeito ao autor.
Oh, se minha vontade se calasse como “uma criança desmamada dos seios” (Sl 131.2). Mas, pobre de mim! Quem tem um coração que dará a Cristo a última palavra na prova, e ouvirá e não falará outra vez? Oh! Provas e respostas queixosas, como “eu faço bem ficar indignado até a morte” (Jn 4.9), têm o mau cheiro de forte corrupção. Oh, bendita a alma que pode sacrificar sua vontade, e ir para o céu, tendo perdido sua vontade e ter resignado a ela por Cristo!
Eu não desejaria mais nada além de que Cristo fosse o rei absoluto sobre a minha vontade, e que minha vontade fosse uma sofredora em todas as cruzes, sem ter de se encontrar com Cristo e perguntar-Lhe: “Por que isso é assim?”
Eu ainda desejaria que meu amor ficasse apenas ao lado do lindo Jesus, e recebesse a graça de olhar para Ele, e arder por Ele, supondo que não pudesse tê-Lo até que meu Senhor dobrasse as folhas e os dois lados das tendas de barro dos pequenos pastores.
A estabilidade da salvação
Aquele que disse “Cristo em vós, a esperança da glória” (Cl 1.27) – pois nossa esperança e o alicerce e seus pilares são Cristo-Deus – sabia que os pecadores estão ancorados e estabilizados em Deus; de tal forma que, se Deus não mudar, o que é impossível, então, minha esperança não oscilará. Oh, doce estabilidade da salvação bem alicerçada! Quem poderia ganhar o céu, se não fosse assim? E quem poderia ser salvo se Deus não fosse Deus, e se Ele não fosse o Deus que Ele é? Oh, que Deus seja louvado porque nossa salvação é abordada e aportada e firmada em Cristo, que é o Mestre dos ventos e das tempestades! E quais são os ventos dos mares que, ao soprar, podem tirar a costa ou a terra de seu lugar? Os baluartes muitas vezes são derrubados, mas a costa não é removida; no entanto, mesmo se fosse, ou pudesse ser, mesmo assim Deus não pode oscilar nem ser removido.
Oh, que nos afastemos deste Senhor forte e inamovível, e que nos libertemos, se estiver em nosso poder, Dele! Ai de nós! Nosso amor jovem e imaturo não alcançou Cristo, não O conhece. Ele é de tal largura e amplidão, profundidade e altura e de doçura insuperável, que nosso amor é pequeno demais para Ele; mas, oh, que nosso amor, pequeno como é, una-se à enorme doçura e à transcendente Excelência Dele! Oh, três vezes benditos, e benditos eternamente sejam aqueles que deixam a si mesmos: que estejam em amor unidos a Ele!
[1] John Stuart, Reitor de Ayr. “Um cristão piedoso e zeloso de muito tempo, desde os seus tenros anos.” Ele usou seus bens deste mundo para aliviar os oprimidos. Ele estava entre aqueles que inutilmente se esforçaram para imigrar para a Nova Inglaterra.
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Qualquer coisa que fazemos na vida cristã é mais fácil do que orar.
(Martin Lloyd-Jones)
Aquele que aprecia Cristo faz Dele sua maior alegria. Ele pode deleitar-se em Cristo quando outros deleites se forem.
(Thomas Watson)
Lembra-te: quem quer que diga que teus pecados são muitos para serem perdoados, não é Deus, não é Cristo.
(Robert Murray McCheyne)
A melhor maneira de vencer o mundo não é com moralidade ou auto-disciplina. Cristãos vencem o mundo por ver a beleza e a excelência de Cristo. Eles vencem o mundo por ver algo mais atrativo que o mundo: o Senhor Jesus Cristo!
(Thomas Chalmers)
É uma inquestionável verdade que toda doutrina que vem de Deus leva a Deus, e que qualquer uma que não tenda a promover a santidade não é de Deus.
(George Whitefield)
Que inefável maravilha saber que todas as nossas preocupações são mantidas sob controle por mãos que sangraram por nós.
(John Newton)
A vida é curta, e nós somos morosos, e as coisas eternas são necessárias, e as almas que dependem de nosso ensino são preciosas.
(Richard Baxter)
Graças Te dou, ó Senhor,
porque, ainda que Te iraste
contra mim,
a Tua ira se retirou,
e Tu me consolas.
Eis que Deus é
a minha salvação; Nele confiarei e não temerei;
porque o Senhor Deus é
a minha força e
o meu cântico,
e se tornou
a minha salvação.
E sucedeu que, estando Josué perto de Jericó, levantou os seus olhos e olhou; e eis que se pôs em pé diante dele um homem que tinha na mão uma espada nua; e chegou-se Josué a Ele, e disse-Lhe: ‘És tu dos nossos, ou dos nossos inimigos?’ E disse ele: ‘Não, mas venho agora como príncipe do exército do Senhor.’ Então Josué se prostrou com o seu rosto em terra e O adorou, e disse-Lhe: ‘Que diz meu senhor ao seu servo?’ Então disse o príncipe do exército do Senhor a Josué: ‘Descalça os sapatos de teus pés, porque o lugar em que estás é santo.’ E fez Josué assim.
(Js 5.13-15)
Tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos.
(Ef 1.18)
Gostaria de deixar claro desde já que não é meu propósito tratar da correspondência entre o livro de Josué e a carta aos efésios. Estamos ocupados nesses estudos com um assunto em particular, ao redor do qual tudo se reúne, o qual é o centro, a saber: o objetivo de Deus de ter a plenitude celestial expressa nessa Terra e por meio de um povo. Todas as Suas atividades ao longo dos séculos, desde o tempo em que estabeleceu os céus sobre a Terra foram, e ainda são, se tomadas a partir do ponto de vista do homem, como uma peregrinação, um movimento espiritual em direção ao céu. Isso não significa necessariamente um movimento literal para algum lugar, mas é um progresso dentro da esfera do propósito de Deus – é aquilo que o Senhor Jesus denominou “como no céu” (Mt 6.10) quando se referia à vontade de Deus, uma correspondência na terra daquilo que está no céu. Existe um caminho, uma jornada celestial nessa direção, e estamos buscando, entre outras coisas, ver sua natureza. Assim, vimos que, uma vez que na conversão muitos não sabem muito além do início desse caminho, o Senhor levanta instrumentos com o objetivo de serem os pioneiros do caminho para os demais, e nesses vasos aprofunda bastante Sua obra em relação ao céu.
Vamos prosseguir um pouco mais. Nessas duas passagens que acabamos de ler chegamos a um ponto particular nesta questão de atingir a plenitude celestial. A segunda metade do livro de Josué se concentra no povo recebendo a herança: a herança é dividida, distribuída e Israel toma posse dela. Estranhamente vemos a ordem invertida em Efésios, a epístola correspondente a Josué. Ali se fala da herança de Deus em Seu povo: “As riquezas da glória da Sua herança nos santos” (1.18). Gostaria mencionar algo a esse respeito antes de prosseguirmos, pois não se trata de algo diferente, mas da mesma coisa vista por outro lado.
O Senhor só recebe Sua herança quando, e somente quando, Seu povo se torna de fato um povo celestial. Para que o Senhor tenha Sua herança, Seu povo deve estar na posição em que é visto na Epístola aos Efésios.
Quando Seu povo de fato toma a posição e a posse [descritas no livro de Josué], então se torna verdadeiramente um povo celestial, e o Senhor recebe Sua herança. Ver “as riquezas da glória da Sua herança nos santos” significa, por esse outro lado, que chegamos ao ponto onde Ele pode ver isso em nós. O Senhor não pode ver Sua herança nos santos até que Ele os veja posicionados no lugar que Ele designou, até que Ele os veja realmente como o povo que responde a Seu propósito como um povo celestial. Digo isso para esclarecer qualquer possível dificuldade mental advinda de falarmos do povo possuindo uma herança e dessa menção ao Senhor possuindo Sua herança.
O ponto que queremos destacar não é apenas essa verdade de existir uma herança em Cristo, seja para nós ou para o Senhor. Não nos referimos apenas a essa verdade, demonstrada na Palavra, de que quando estamos em união com Cristo por meio de Sua morte, de Seu sepultamento e de Sua ressurreição, entramos na esfera de plenitude Divina. O ponto que estamos enfatizando nesse momento é de realmente nos tornarmos um povo celestial, de fato tomar posse disso – não doutrinária, não teórica, não biblicamente, mas em verdade. Tenho certeza de que vemos essa verdade, a contemplamos, reconhecemos que é uma apresentação maravilhosa. Estou certo de que abraçamos essa idéia no coração, mas o problema é que tudo isso é tão familiar e amplamente difundido por meio de ensino, e ainda assim poucos vivem essa experiência. Eles ainda não chegaram realmente àquela posição onde sua vida corresponde a esse conhecimento, e qual é a utilidade ou o benefício de toda a nossa doutrina, do nosso ensino, da nossa interpretação, da contemplação e tudo o mais se não desfrutamos disso? Portanto, precisamos olhar para o caminho de maneira que, eu diria, possamos chegar lá, para que aquilo se torne realidade.
O senhorio do Espírito Santo
A primeira coisa que acontece depois daquela obra preparatória que mencionamos anteriormente – o Jordão, o deixar algo no leito do Jordão, nosso velho homem crucificado e deixado ali; após deixá-lo ali e deixá-lo ser coberto pelas águas e deixá-lo para trás; depois disso e depois de Gilgal, que representa o lado negativo desse fato, o despojamento – é o lado positivo, o revestir-se, a tomada de posse ou a entrada na terra de fato, é o tornar-se aquilo que sempre esteve em vista. Isso sempre esteve em vista, pelo menos desde que o povo saiu do Egito, e vemos que isso foi mencionado no cântico de Moisés. Sim, isso foi prenunciado na libertação do povo, do outro lado do Mar Vermelho, naquela grandiosa canção profética. Sempre foi uma noção, mas tratava-se de algo remoto, em algum ponto distante, mais ou menos vívido, conforme os dias passavam; era algumas vezes algo forte, claro, positivo e envolvente; em outras, esmaecido, fraco, distante e abstrato.
Mas toda essa questão veio à tona como algo presente: a preparação fora feita. Chegamos à passagem que acabamos de ler em Josué 5.13-15. Josué, diante de Jericó, “levantou os seus olhos e olhou; e eis que se pôs em pé diante dele um homem que tinha na mão uma espada nua”. O espírito guerreiro em Josué evidentemente se elevou, e ele desafiou o homem: “És Tu dos nossos, ou dos nossos inimigos?” – provavelmente indicando que, se o homem respondesse sim à última parte da pergunta, seria pior para ele –, pois naquele ponto Josué via apenas um homem. A resposta dada revelou que Ele era mais do que um homem. Josué capitulou, deixou a atitude desafiadora de lado, curvou-se, adorou, confessou-se servo desse Homem e pediu-Lhe instruções.
Quem é este Homem? Como eu disse em um capítulo anterior, minha convicção particular é que este Homem representa, nesta porção específica da Bíblia, o Espírito Santo no Novo Testamento. Isso, acredito eu, poderia ser confirmado por muitas evidências, mas, sem argumentar a esse respeito a partir das Escrituras, vamos ver como a coisa se desenrola de fato.
Vemos diversas mudanças tomando lugar a partir deste ponto. Até aqui o curso, o caminho, o governo do povo tinham sido regulados pela coluna de nuvem e pela coluna de fogo. Todos concordamos que isso era o Espírito Santo. Trata-se de algo objetivo, evidente para os sentidos, algo característico do deserto. Quando chegamos aos lugares celestiais, tudo provém do Espírito; mas, apesar de neste ponto Ele ter assumido uma forma visível, isso nunca mais aconteceu no futuro. Ele desapareceu da percepção sensorial, apesar de permanecer presente nos acontecimentos, sempre ali, o Príncipe invisível do exército do Senhor. Essa é uma mudança importante, e ainda há muitas outras acontecendo. Não há mais o maná, mas o fruto da terra, pães e espigas tostadas, que são, em outro sentido o pão da vida, o alimento celestial [conf. Js 5.11,12]. Tudo isso pertence a outra esfera: Cristo em ressurreição, não mais o pão partido, Cristo em humilhação. Temos Cristo em ressurreição, o alimento de um povo celestial. Um alimento pertencia ao deserto, mas esse pertence à terra. E assim podemos continuar observando essas diferenças. Veja, nesta esfera tudo é essencialmente celestial, toma um novo sentido; em outras palavras, é essencialmente espiritual; não mais sensorial, temporal, mas essencialmente espiritual.
Paulo diz que o Espírito Santo é o “penhor da nossa herança” (Ef 1.14), de forma que a chegada do Espírito Santo neste ponto torna-se a garantia de que o propósito de Deus será cumprido. Apesar de invisível a partir deste ponto, Ele é a segurança absoluta de tudo o que está prestes a acontecer. Em nosso último estudo mencionamos que a presença do Espírito Santo na unção para o propósito Divino positivamente garante a realização desse propósito, não é apenas uma fonte para a capacitação, mas é a própria base que garante sua realização. Como isso se torna realidade? Algo mais do que apenas uma doutrina, uma verdade, um preceito, mas se concretiza como uma realidade presente?
Deus nos deu o Espírito como um penhor: a garantia, a segurança. O aspecto positivo se inicia com este fato: o Espírito Santo é apresentado como Senhor. Perceba que a Escritura o denomina “como príncipe”. “Como Príncipe do exército do Senhor”: Ele é apresentado em Seu Senhorio. O lado positivo das coisas começa aqui, com o Senhorio absoluto do Espírito Santo entre o povo de Deus. Ele é assim apresentado e reconhecido, e algo relacionado a isso é feito. Não se trata de uma verdade objetiva, mas de algo que é positivamente realizado em relação a ela. Josué se prostrou em absolutas rendição e sujeição.
A Cruz conduziu a isso. A Cruz sempre nos dirige ao Senhorio do Espírito Santo. Deixamos o Jordão com direção a Seu Senhorio. A Cruz demanda isso. Se Ele não estiver em Seu lugar como Senhor, e se não houver rendição, melhor retornar à Cruz – volte e dê outra olhada nas águas, veja aquelas pedras que devem representar você. Algo errado aconteceu; se Ele não for o Senhor você não está sendo fiel ao fato da Cruz.
Mas aqui, na interpretação espiritual, assumimos que a Cruz já é realmente um fato estabelecido. Embora existam as falhas e as fraquezas na vida humana – e as vemos em Josué –, e, apesar dessas faltas e fraquezas e imperfeições ainda existirem em nossa humanidade, consideramos que a Cruz já quebrantou e abriu caminho para o Espírito Santo no que diz respeito ao nosso coração, a nossa vontade e a nossa mente. Isto é o que a Cruz representa: o caminho do Senhorio do Espírito aberto, e, mediante esse Senhorio, o caminho para a plenitude celestial está aberto.
Que profunda diferença encontramos entre as “conquistas” (?) do homem – eu diria, os avivamentos produzidos pelo homem – e a obra do Espírito Santo! Que diferença! Josué é o livro das poderosas diferenças. A diferença aqui é tal que acaba tirando o homem de cena. O homem não pode enfrentar essa coisa, ele não tem espaço aqui, pois tudo está muito além de sua capacidade de fazer estimativas. O Senhor lançou Seu povo numa esfera onde tudo é absolutamente diferente do modo do homem fazer as coisas. Quando o Espírito Santo é o Senhor, não precisamos organizar as coisas para que elas funcionem. Não precisaremos planejar, imaginar e formular a fim de realizar alguma coisa, fazer a obra de Deus, ter um avivamento. Tudo simplesmente acontece. Esse é o caminho do céu. E isso requer que estejamos naquela posição, requer esse governo absoluto do Espírito Santo. Encontramos o “toque terreno” em todas as atividades realizadas pelo homem – meios, métodos, pessoas, toda aquela parafernália usada para garantir o sucesso –, e as coisas prosseguem com muito barulho e rangido, demandam por uma quantidade enorme de suporte humano, e estão prestes a desaparecer a qualquer momento; se não forem sustentadas com alguma coisa, tudo entrará em colapso.
Nunca é assim em uma obra do Espírito. A questão é esse toque terreno, pois ele sempre representa a morte, a prisão. O Senhorio absoluto do Espírito Santo demanda que esse toque terreno seja terminado – e esse é o sentido da ordem que Josué recebeu de tirar os sapatos dos pés. “Que diz meu senhor a seu servo?” [Js 5.14,15]. “Vá e conquiste a terra. Vá e tome posse dela. Vá e conduza o povo para dentro”? De jeito nenhum. “Tire seus sapatos.” “Tire os sapatos, Josué, e tudo mais acontecerá. Destrua o toque terreno e veja o que se seguirá. Você só precisará rodear Jericó. Os homens não a conquistariam dessa maneira. Imagine a tremenda campanha militar que teria sido organizada se fosse delegada aos homens a tarefa de conquistar Jericó! Não! Tire os sapatos e veja o que acontecerá.”
Se você questionar essa interpretação, veja o que aconteceu quando Josué, ou Israel, calçaram os sapatos um pouco mais à frente. O que aconteceu em Ai? O que aconteceu com os gibeonitas? Israel voltou a calçar os sapatos, a tocar na terra, e logo veio o resultado: prisão, transigência, limitação. Descalce os sapatos e deixe-os ali. O princípio do celestial é o princípio do mover do Espírito Santo, é o princípio da plenitude espiritual. “Tire os seus sapatos, porque o lugar em que está é terreno celestial.” Não temos uma posição ali; a Terra não tem lugar ali; o mundo não tem lugar ali; os homens não têm lugar ali. Esse é um solo sagrado e santificado para o céu. A partir desse ponto, o céu assumirá o controle. Sim, mesmo usando aquele grande instrumento levantado para servir ao Senhor, o céu assumiu o controle. A soberania na escolha de um instrumento nunca significa que essa soberania cede espaço à força humana, e o Senhor nunca desculpa os erros desse instrumento. Isso e válido para Josué e Israel, pois Josué, como já mencionamos, é o representante de todos os santos e todos os servos do Senhor.
O Espírito Santo comprometido com o propósito de Deus
Observe a resposta à pergunta de Josué: “És Tu dos nossos, ou dos nossos inimigos?” [v. 13]. “De qual deles? Por nós? Por eles? Por isto? Por aquilo?” “Não. Não sou por isto ou por aquilo, não sou por vós nem por eles: Eu sou pelo propósito do Senhor.” Este é o conteúdo real de Sua resposta. “Não sou por pessoas, sejam elas quem forem: Eu sou pelo propósito do Senhor. Não sou a favor desta ou daquela obra que estejam tentando fazer para o Senhor. Sou pelo propósito do Senhor, estou comprometido com o propósito de Deus, o Seu propósito eterno.” “Não, mas…” [v. 14]. Oh, se pudéssemos compreender a força dessa expressão com respeito a tudo! Queremos que o Espírito Santo patrocine nossos movimentos, nossa obra, nosso ministério. Estamos perguntando ao Espírito Santo se Ele é “por nós”. Ele nunca atestará isso. Há um sentido em que o Senhor é por Seu povo. “Se Deus é por nós…” [Rm 8.31]. Mas há outro sentido em que o Senhor diz: “Não sou por vocês, mas por Meu propósito em e por meio de vocês; não sou propriamente por vocês, como indivíduos, ou por Israel, ou por Josué, aquele que foi soberanamente escolhido e ungido. Não sou por você, mas estou comprometido com o propósito de Deus”.
O que quero enfatizar é que devemos identificar a base e o objeto do compromisso do Espírito Santo. Precisamos saber com que o Espírito Santo está comprometido. Temos muito planejamento e arranjos para o Senhor, mas o Senhor não assume e concretiza nossos planos. Quantas coisas têm sido arranjadas, planejadas e programadas hoje no mundo para o Senhor. Ainda assim, não vemos um progresso. O Senhor parece não se comprometer com elas. Esse é exatamente o ponto. Devemos identificar o objetivo do Espírito Santo. O objetivo do Espírito Santo não é fazer alguma coisa e produzir alguma coisa na Terra, não é estabelecer algo nela e em contato com ela, como “sapatos”. Estabelecer algo aqui não é, de maneira alguma, Seu objetivo. O Espírito Santo está comprometido com algo que é absolutamente celestial, e Seu objetivo pleno é separar cada coisa deste mundo, de modo espiritual e interior. Isso será ampliado mais adiante, mas observe que é muito importante saber com o que Deus se compromete. Ele não se comprometerá com nada que esteja ligado a esta Terra. Ele só se comprometerá com aquilo que estiver ligado ao céu.
O Espírito Santo com uma espada nas mãos
Uma vez que isso foi estabelecido, há algo que se segue, que é também extraordinário. Este Príncipe do exército do Senhor está de pé com Sua espada nua, desembainhada, na mão. Oh, isso indica um combate, não é? Trata-se de uma batalha, não é mesmo? Imediatamente o Espírito Santo assume o comando, e vemos uma completa rendição a Ele. Não se engane: a batalha acaba de começar. Qualquer que seja seu conceito a respeito de ser batizado com o Espírito Santo e suas implicações, seja qual for o sentido disso para você, saiba que isso significa conflito imediato e incessante. Isso pode representar outras coisas também, mas significa que entramos em uma guerra sem direito à dispensa, alistamo-nos em um exército sem direito a aposentadoria. Nunca mais nos aposentaremos. Estamos nisso até o fim.
Não foi assim com o Senhor Jesus? Tudo começou no Jordão: o céu aberto, o Espírito Santo, o deserto, o diabo. Imediatamente “foi conduzido Jesus” (Marcos usa as palavras “levado” ou “impelido”) “pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mt 4.1). Assim que os céus foram abertos para o advento do Espírito, naquele dia chamado Pentecostes, a guerra começou, a Igreja nela entrou e nunca mais saiu. Se saiu foi para seu próprio prejuízo espiritual. De alguma forma, este Senhorio do Espírito Santo resulta imediatamente nisso. A espada está à mão e não será embainhada novamente até que a tarefa do dia termine.
Sim, mas devemos lembrar que essa é uma linguagem espiritual. O Espírito Santo não está muito interessado em uma guerra literal ou carnal. A guerra, o conflito no qual Ele está envolvido é segundo Sua própria natureza: espiritual. Tudo será segundo o espírito, porque forças espirituais tomaram posse do território; e, portanto, é em um combate espiritual que elas serão despojadas. Essa é uma das razões que tornam essa batalha tão real e verdadeira. Nem precisamos elaborar muito sobre isso: nós sabemos do que se trata. Sabemos que não daremos um passo sequer no sentido da conquista espiritual sem que sejamos contestados; encontraremos conflito antes de fazermos qualquer movimento ou um gesto com direção a um aumento espiritual. Essa é uma verdade. Estamos em uma guerra espiritual, e sua natureza está além de nosso poder de compreensão. Imaginamos que ela vai ocorrer de uma maneira, mas será de outra. Os ataques nunca vêm de onde esperamos e nem em formas que supomos que poderíamos reconhecer. O fato é que raramente reconhecemos o diabo quando ele desfere seus ataques. Eles parecem estar cobertos por acaso, ou infortúnio, ou algo que parece ter dado errado, mas basta julgarmos seu efeito com relação à nossa vida espiritual, e descobriremos que há algo mais de projeto e inteligência ocultos nele do que meras circunstâncias da vida. Trata-se de uma guerra espiritual, e foi o Espírito Santo quem a precipitou.
Entenda isso, pois explica muita coisa. Como o inimigo atua com freqüência usando nosso “ponto cego”! Acho que provavelmente a principal causa do sucesso dele hoje é devido aos pontos cegos do povo do Senhor. O preconceito é denominado “cautela”, a suspeita é considerada “vigilância” – bons nomes para coisas ruins. O inimigo é um mestre nesse quesito há tempos. O preconceito que você tem pode ser seu ponto cego criado pelo diabo. Ele encontrou a possibilidade de criar isso, e é o impedimento que está no caminho de sua plenitude espiritual e celestial. O povo do Senhor está preso nessa armadilha hoje, por todo o mundo. A ampliação e o aumento espirituais, de maneira celestial, estão sendo resistidos e frustrados por preconceitos e suspeitas do povo de Deus. “Um inimigo é que fez isso” [Mt 13.28].
Por que será que na Epístola aos Efésios, com toda aquela apresentação da plenitude celestial, e tendo-a em vista, e o correspondente conflito espiritual, o Apóstolo ora para que “os olhos do entendimento sejam iluminados”? [1.18]. Por que isso é necessário? Devido a esses pontos cegos, esse processo de cegueira, porque tudo pode ser perdido devido a um preconceito, uma mente algo fechada, um pouco de suspeita e de falso medo, em vez de confiar no Espírito Santo e de conhecer a unção dentro de nós que irá “ensinar todas as coisas” (1Jo 2.27) e mostrar o que é certo e errado. Podemos acreditar que estamos nos fortalecendo “preventivamente” e podemos estar nos fortalecendo contra o Espírito Santo. Isso é o que muitos estão fazendo. Essa é a esfera do conflito. Espiritualmente as coisas acontecem assim. Isso é muito sinistro e sutil.
Mas temos outro aspecto desse conflito espiritual. Por que o Espírito Santo traz isso à tona? Por que Ele precipita tudo isso? Podemos pensar que isso provém naturalmente do inimigo, mas, então, por que é o Espírito Santo que sempre inicia isso tudo, fazendo de Si mesmo a ocasião desse combate? Vimos isso no caso do Senhor Jesus. Isso aconteceu de forma deliberada conforme vemos na declaração definitiva, positiva e precisa: “Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” – o Espírito Santo tomou a iniciativa, trouxe isso à luz [Mt 4.1]. Ele fez isso com a Igreja – de modo deliberado, sabendo exatamente o que fazia. Com efeito, é como se o Espírito Santo dissesse: “Vou conduzi-los à batalha agora mesmo, imediatamente”. Por quê?
Bem, por uma razão: porque isso é uma questão espiritual, uma herança espiritual, porque há forças espirituais que se apossaram dessa herança e devem ser expulsas. Mas também é porque só crescemos espiritualmente por meio do conflito, e o Senhor tem interesse em nosso progresso. Talvez isso fosse muito difícil de compreender se alguém subisse em uma plataforma e dissesse: “Você está passando por maus momentos porque o Senhor está interessado em você. Ele está dando ao diabo permissão para atacá-lo porque tem Seus maiores interesses focados em seu bem-estar”. Talvez fosse difícil para nós aceitar essa declaração. Da próxima vez que o inimigo vier contra nós e iniciar sua obra terrível, seremos os últimos a dizer: “Oh, como o Senhor me ama!” Nós não reagimos dessa maneira.
Mas não podemos atestar que um fato verdadeiro em nossa experiência e história – e, portanto, verdadeiro ao princípio – é que nunca fazemos nenhum progresso espiritual, não aumentamos, crescemos, nem avançamos, exceto por meio do conflito? Essa é a verdade. O único caminho para crescermos é ter algo a vencer, é quando nossa vida espiritual se depara com algo a superar. Essa é uma lei na natureza e na graça. Não há progresso sem combate. Queira Deus que vejamos as coisas dessa maneira sempre que encararmos dificuldades! Acreditamos nessa verdade como um fato, mas, oh!, não gostamos de estar envolvidos nela!
Isso não será suficiente. O Senhor deseja que as pessoas realmente tomem posse; não teórica e doutrinariamente, nem com base em uma leitura da Bíblia, mas Ele deseja que realmente entrem na sua possessão. Entramos no caminho da realidade quando realmente nos sujeitamos ao Senhorio do Espírito Santo, e o Senhor considera tudo isso real e muito prático.
Jericó é um lugar representativo: o grande exemplo de como as coisas acontecerão de acordo com esse princípio. Em primeiro lugar, como já dissemos, precisaremos estar em uma posição celestial, não em uma posição terrena, não fazendo as coisas da maneira humana. Vemos o resultado daquele princípio primeiramente em Abraão, quando ele tentou agir e acabou provocando uma terrível confusão por ter tocado a Terra. E isso aconteceu outra vez quando Moisés tomou as coisas nas próprias mãos e atacou o egípcio e o hebreu, causando uma impressionante confusão. Josué toma toda aquela história espiritual, e vemos ali o resultado da disciplina do Senhor. Em Jericó descobrimos que não existem armas carnais – nada da razão humana, nada restou para o homem ali. Se não for celestial, não é nada. Não é assim que as coisas acontecem na Terra. Podemos rodear a cidade, não só por sete dias, por toda a vida, e nada acontecerá se não estivermos em uma posição celestial, a menos que haja uma intervenção dos céus. Jericó representa o homem deixado de lado, totalmente excluído. É algo celestial.
Bem, essa é a base. Então, imediatamente depois disso, descobrimos que se o inimigo não conseguir sucesso por meio de resistência declarada, tentará usar táticas mais sutis. Se estivemos firmes em uma posição celestial, o inimigo não terá sucesso por meio de uma resistência aberta. Jericó significa a manutenção dessa posição celestial. O povo não conquistou a cidade no primeiro dia, mas sustentou, guardou e ratificou sua posição, e no último dia ainda o confirmaram por sete vezes, mantendo sua posição celestial, sem retrocesso. Nem sempre alcançamos o objetivo no primeiro ou no segundo dia. Deve haver um apego a essa posição em fé, e o inimigo será completamente derrotado quando essa posição for realmente sustentada dessa forma. Quando ele for derrotado nessa linha, ele precisará assumir a derrota, mas, se puder, vai tentar trabalhar usando meios sutis.
Não é isso que vemos no caso dos gibeonitas? Eles agiram de maneira sutil para introduzir um “toque terreno” em algum lugar [Js 9.4-6]. O mesmo aconteceu com Acã e Ai, a capa babilônica e a cunha de ouro – vemos nisso um toque terreno [Js 7.21]. Os gibeonitas e a aliança feita com eles se constituíram em outro toque terreno. Não devemos imaginar que nossa guerra espiritual sempre será aberta, clara e declarada. Devemos perceber o toque terreno sendo manobrado pelo inimigo na tentativa de introduzir algo que tenha contato com o que é amaldiçoado e com o qual Deus não poderá prosseguir.
Como isso acontece? Sabemos, é claro, que eles haviam saído de Gilgal – Gilgal, o lugar do rolar [1], o lugar onde a carne foi deixada de lado. Mas eles não retornaram para Gilgal depois de Jericó. Eles seguiram diretamente para Ai; embora o costume fosse sempre retornar para Gilgal após um avanço ou uma conquista – retornar para Gilgal e sair novamente de lá. Desta vez, eles não fizeram isso, mas continuaram em frente.
Vamos nos manter perto da cruz e nunca presumir que, como o Senhor nos abençoou, nos levou a prosperar e a ter sucesso, podemos prosseguir sem ela. Nunca, por um momento sequer, devemos nos afastar da Cruz. A Cruz não é algo que fica para trás, a ser deixado. É algo para estar conosco todo o tempo. É nossa segurança. Esse é o caminho celestial, essa é a natureza do caminho celestial, é o caminho para o fim proposto por Deus. Que o Senhor nos mantenha nele.
[1] A palavra Gilgal significa “uma roda, um rolo”.
Mantém-te firme em Cristo sem vacilar, e luta pela fé, porque não se obtém nem se mantém Cristo facilmente. O preguiçoso que professa fé apresenta o céu como se este estivesse na porta ao lado e pensa voar para o céu sem sair da cama, num sonho da noite.
Mas na verdade isso não é tão fácil como a maioria dos homens pensa. O próprio Cristo suou antes de ganhar esta cidade, embora Ele fosse o herdeiro nascido livre.
Cristianismo é ser sincero, honesto, sem fingimento e de coração reto diante de Deus; e viver e servir a Deus, como se não houvesse nenhum homem ou mulher em todo o mundo morando perto de ti para te observar.
Qualquer pequena graça que tiveres, vê que ela seja sã e verdadeira.
Marcas de um cristão
Tu podes estabelecer uma diferença entre ti e os réprobos, se tiveres estas marcas:
Se prezares Cristo e Sua verdade de tal forma que sejas capaz de vender tudo para comprá-Lo, e de sofrer por isso.
Se o amor por Cristo, mais do que a lei ou o medo do inferno, te mantiver afastado do pecado.
Se tu te humilhares e negares tua própria vontade, tua sagacidade, teu bom nome, teu conforto, tua honra, o mundo e a vaidade e a glória dele.
Tua profissão de fé não deve ser estéril ou vazia de boas obras.
Em todas as coisas tu deves ter como alvo honrar a Deus. Tu deves comer, beber, dormir, comprar, vender, sentar, levantar, orar, ler e ouvir a Palavra com o propósito de coração de honrar a Deus.
Tu deves mostrar-te como inimigo do pecado, e reprovar as obras das trevas, como embebedar-se, xingar, mentir, embora teus companheiros te odeiem por agir assim.
Mantém em tua mente a verdade de Deus que me ouviste ensinar, e não te envolvas com a corrupção e as novas modas que entram na casa de Deus.
Tem consciência de teu chamamento quando fizeres pactos, ao comprares e ao venderes.
Acostuma-te com a oração diária; entrega todos os teus caminhos e tuas ações a Deus em oração, súplicas e gratidão. E não te importes de seres zombado, pois Cristo Jesus foi zombado antes de ti. Persuade a ti mesmo de que esse é o caminho da paz e consolo pelo qual eu agora sofro. Eu ouso ir para a morte e para a eternidade com esse caminho, embora os homens possivelmente pensem que há outro. Lembra-te de mim em tuas orações, e do estado desta igreja oprimida. Que a graça esteja contigo.
[1] John Clark, provavelmente um paroquiano de Anwoth.
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Quando um cristão evita ter comunhão com outros cristãos, o diabo sorri. Quando ele pára de estudar a Bíblia, o diabo ri. Quando ele pára de orar, os demônios gritam de alegria.
(Corrie Ten Boom)
Vamos nos regozijar na lembrança de que nosso santo Cabeça sobrepujou todo o sofrimento e triunfou sobre a morte.
(Charles Simeon)
A pergunta não é “Por que há apenas um Caminho para Deus?” mas: “Por que há um Caminho?”.
(R. C. Sproul)
Quando os homens esquecem o mundo vindouro e se concentram somente na vida presente, este mundo se torna um tipo de inferno vivo.
(Martyn Lloyd-Jones)
Não existe pecado pequeno, pois não existe um Deus pequeno contra o qual se peque.
(Thomas Brooks)
Deus não pode mudar para melhor, pois Ele já é perfeito. E, por ser perfeito, Ele não pode mudar para pior.
(A. W. Pink)
O Senhor será também um alto refúgio para o oprimido, um alto refúgio em tempos de angústia. Em Ti confiarão os que conhecem o Teu nome, porque Tu, Senhor, nunca desamparaste os que Te buscam.
(Sl 9.9,10)
O que Deus tira de mim é menos do que Lhe devo, e o que Ele deixa para mim é mais do que mereço.
(William Gurnall)
Uma vez que a alegria da intimidade com Deus tenha sido experimentada, a vida se torna insuportável sem ela.