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Bíblia Doze pérolas

Doze pérolas (20)

Nove razões para o cristão viver com o coração em paz (João 14)

Por meio de Cristo, e Nele, o cristão tem:

  1. uma casa em Deus, hoje e eternamente (vv. 1-3)
  2. o caminho seguro para o Pai no qual caminhar hoje (vv. 4-11)
  3. o Pai que o ouve (vv. 12-14)
  4. o Ajudador, o Consolador divino (vv. 15-17)
  5. o Senhor divino que habita nele com o Pai (vv. 18-24)
  6. o Mestre divino que ensinará todas as coisas (vv. 25,26)
  7. a paz divina e segura, não como aquela dada pelo mundo (v. 27)
  8. o Senhor que não o abandona (v. 28a)
  9. o Senhor em quem o diabo nada tem (v. 30)
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Amor Bíblia Biografia Consolo Cristo Cruz Deus Encorajamento Estudo bíblico Hinos & Poesia História Indicações de sexta Irmãos J. C. Ryle Leonard Ravenhill Oração Sofrimento Vida cristã

Indicações de sexta (13)

A Bíblia é nossa regra de fé e de prática!

 

Toda sexta-feira, uma pequena lista de artigos cuja leitura recomendamos. Além disso, indicaremos também uma mensagem e um hino para serem ouvidos. Nosso desejo é que lhe sejam úteis para aprofundar seu conhecimento do Senhor, para capacitar você a servi-Lo melhor e para despertar em você mais amor por Ele.
É sempre importante relembrar o que dizemos em Sobre este lugar: as indicações a um autor ou a alguma fonte não implica aprovação total ou incondicional de tudo o que é ali ensinado nem indicado em outros links ou em vídeos relacionados, etc; indica, outrossim, que naquele artigo específico há conteúdo bíblico a ser apreciado.

Artigos que merecem ser lidos

  1. O salmo 119 é maravilhoso! Ele não apenas exalta a Palavra de Deus, mas traz um verdadeiro roteiro para a vida cristã. Saiba mais lendo o artigo De A a Z: a verdade sobre o salmo 119
  2. Quais são exatamente as implicações do mandamento “não furtarás”? Robert W. Carver explica em seu artigo.
  3. Sem dúvida, a cruz é central na fé cristã. Mas qual o significado prático dela? Qual o significado dela para você. O piedoso autor J. C. Ryle trata do assunto no artigo A cruz de Cristo.
  4. Leia Um tratado sobre a oração, de John bunyan, o autor de O Peregrino.

Mensagem que merece ser ouvida

Um homem de Deus: entrevista com Leonard Ravenhill

Hino que merece ser ouvido

What A Friend We Have in Jesus

Letra de Joseph M. Scriven (1855) e música de Charles Crozart Converse (1868)

Letra original

What a friend we have in Jesus,
All our sins and griefs to bear!
What a privilege to carry
Everything to God in prayer!
Oh, what peace we often forfeit,
Oh, what needless pain we bear,
All because we do not carry
Everything to God in prayer!

Have we trials and temptations?
Is there trouble anywhere?
We should never be discouraged—
Take it to the Lord in prayer.
Can we find a friend so faithful,
Who will all our sorrows share?
Jesus knows our every weakness;
Take it to the Lord in prayer.

Are we weak and heavy-laden,
Cumbered with a load of care?
Precious Savior, still our refuge—
Take it to the Lord in prayer.
Do thy friends despise, forsake thee?
Take it to the Lord in prayer!
In His arms He’ll take and shield thee,
Thou wilt find a solace there.

Blessed Savior, Thou hast promised
Thou wilt all our burdens bear;
May we ever, Lord, be bringing
All to Thee in earnest prayer.
Soon in glory bright, unclouded,
There will be no need for prayer—
Rapture, praise, and endless worship
Will be our sweet portion there.

Tradução

Que amigo nós temos em Jesus,
Todos os nossos pecados e tristezas a suportar!
Que privilégio é levar
Tudo a Deus em oração!
Oh, que paz muitas vezes perdemos,
Oh, que dor desnecessária temos,
Tudo porque eu não levamos
Tudo a Deus em oração!

Temos provações e tentações?
Há problemas por todo lado?
Nunca sejamos desencorajados:
Leve isso ao Senhor em oração.
Poderemos encontrar outro amigo tão fiel,
Que vai todas as nossas tristezas compartilhar?
Jesus conhece cada fraqueza nossa;
Leve-a ao Senhor em oração.

Se somos fracos e sobrecarregados,
Oprimidos com uma carga de cuidados?
O precioso Salvador, nosso calmo Refúgio:
Leve tudo ao Senhor em oração.
Teus amigos te desprezam, te desamparam?
Leve isso ao Senhor em oração!
Em Seus braços Ele vai te tomar e te proteger,
Tu vais encontrar um consolo ali.

Bendito Salvador, Tu prometeste
Que irias todos os nossos fardos suportar;
Que sempre, Senhor, tragamos
Tudo a Ti em oração fervorosa.
Logo, na esplendente glória, sem nuvens,
Não haverá mais necessidade de oração:
Êxtase, louvor e adoração sem fim
Serão nossa doce porção doce ali.

Versão em português

De Kate Stevens Crawford Taylor (1862-1894)

Em Jesus amigo temos,
mais chegado que um irmão.
Ele manda que levemos
tudo a Deus em oração.
Oh! que paz perdemos sempre!
Oh! que dor no coração,
só porque nós não levamos
tudo a Deus em oração!

Temos lutas e pesares
enfrentamos tentação,
mas conforto recebemos
indo a Cristo em oração.
Haverá um outro amigo
de tão grande compaixão?
Os contritos Jesus Cristo
sempre atende em oração.

E, se nós desfalecemos,
Cristo estende-nos a mão,
pois é sempre a nossa força
e refúgio em oração.
Se este mundo nos despreza,
Cristo dá consolação;
em seus braços nos acolhe
e ouve a nossa petição.

História

O irlandês Joseph Scriven (1819-1896) tinha 25 anos e estava noivo. Na véspera do casamento, sua noiva morreu num trágico afogamento. Desolado, partiu da Irlanda para o Canadá, onde passou a lecionar. Lá, apaixonou-se novamente e ficou noivo de Eliza Roche. Mais uma vez, a dor o alcançou: Eliza ficou doente e morreu antes de casarem.

Apesar do sofrimento interior, a fé em Deus de Scriven o sustentou. Logo após a morte de Eliza, ele se juntou aos Irmãos de Plymouth e começou a pregar. Ele nunca se casou, mas dedicou o resto da vida a dar seu tempo, dinheiro e até mesmo a roupa do corpo para ajudar os menos afortunados e para pregar o evangelho.

Por volta da mesma época em que Eliza morreu, Joseph recebeu uma carta vinda da Irlanda dizendo que sua mãe estava doente. Ele não podia estar com ela; então, escreveu uma carta de conforto e incluiu um de seus poemas: “What a friend we have in Jesus” (Que amigo nós temos em Jesus).

Muitos anos depois, um amigo estava com Joseph, quando este se encontrava bastante doente. Durante a visita, o amigo ficou muito impressionado ao ler os poemas de Scriven, incluindo “What a friend we have in Jesus”. Como resultado dessa visita, quase 30 anos depois da carta enviada para a mãe, os poemas de Joseph foram publicados em um livro chamado Hymns and Other Verses (Hinos e outros versos). Logo depois, o famoso músico Charles C. Converse (1834-1918) colocou música no referido poema.

O bem conhecido músico e reavivalista Ira D. Sankey (1840-1908) era um grande admirador de Joseph Scriven. Em 1875, Sankey conheceu o hino e o publicou em seu hinário.

Após a morte de Joseph Scriven, os cidadãos de Port Hope, Ontario, Canadá, cidade à qual ele tanto se deu, erigiram um monumento em sua homenagem. A vida aparentemente triste e obscura de um homem resultou em tantas vidas sendo espiritualmente edificadas, tanto em seu próprio tempo como por muitos anos depois, sempre que as belas e reconfortantes palavras de “What a friend we have in Jesus” são cantadas.

(Traduzido e adaptado por Francisco Nunes de What a Friend We Have in Jesus, the Song and the Story. A maioria das fontes cita a letra original composta apenas das três primeiras estrofes, mas em outras há uma quarta, também atribuída a Scriven. Por sua beleza, conteúdo bíblico e por ser coerente com o restante do hino, pareceu por bem aqui conservá-la, considerando-a também da autoria de Scriven.)

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As gêneses do Gênesis

Apreciação da estrutura e da teologia do primeiro livro do cânon veterotestamentário

I.    Introdução
Gênesis (palavra grega que significa origem) é o nome dado pelos tradutores da Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento, conhecida como LXX) ao primeiro livro da Bíblia.  Na Bíblia Hebraica, o livro de Gênesis (que está nessa mesma ordem, sendo o primeiro – o que não acontece com outros como Malaquias, por exemplo, que não é o último como nas nossas Bíblias) recebe como título a primeira palavra do livro: “No princípio” (bereshith).  Nele, temos o relato da origem do Universo e do ser humano, da obra criativa de Deus, da drástica queda do homem, contendo biografias que tecem a origem do povo de Deus.

Gênesis possui uma extensão histórica que começa com a criação do Universo e do homem e termina com a morte de José, filho de Jacó.  Geograficamente, o livro abrange desde o vale da Mesopotâmia, o “berço” da raça humana, até o vale do Nilo no Egito, o “berço” da raça hebraica.  Essa área, com uma configuração crescente, é conhecida e chamada de “Crescente Fértil”.

O fato mais antigo do Gênesis, a criação, conforme cálculo feito pelo rabino José ben Halafta em cerca de 125 d.C., é remontado ao ano 3.760 a.C. (Louis Finkelstein, “The Jews” – Os Judeus – Vol II, p. 1786).  Porém, o Arcebispo James Ussher, data a criação em 4.004 a.C. Já mais recentemente, Stanley A. Ellisen estruturou a cronologia de Gênesis a partir de 4.173 a.C. Tal variedade de sistemas cronológicos deve-se a questões exegéticas, das quais não temos tempo para tratar aqui e nem seriam relevantes para nossa reflexão.

II.    Estrutura de Gênesis
O material literário de Gênesis está acomodado em dez partes ou seções, que são introduzidas pela palavra hebraica tôledôt, traduzida como “história das origens” ou “descendentes” ou “gênese” ou “genealogia” etc. Com exceção do primeiro relato, que é o das “origens do céu e da terra”, os outros nove levam o nome das pessoas, contando suas histórias subseqüentes, sem se preocupar necessariamente com a origem das mesmas.  Derek Kidner diz que essa expressão em Gênesis sempre visa o futuro, introduzindo um novo estágio do livro.  Contudo, P.J. Wiseman argumenta que é sempre uma conclusão.  Não se deve ser tão rígido nesta questão, pois tôledôt pode ser aplicável em Gênesis tanto ao passado (parece ser o caso de 2.4) quanto ao futuro (parece provocar menos anomalia nos outros nove casos).

Trata-se de pequenas histórias, que às vezes se estendem em função de detalhes como no caso da de Jacó expressa em José que ocupa desde o capítulo 37 até o 50.  Essas histórias são de pessoas que fazem parte de famílias que, num dado momento histórico, obtém a atenção do relato revestindo-se de importância no meio em que estão vivendo por estarem também inseridas no programa histórico da aliança divina.  No entanto, essa diversidade de relatos não deve ofuscar nossa visão com respeito à unidade do livro. Observar essa estrutura com base no tôledôt é útil para a correta interpretação do Gênesis, pois revela o “desenho do texto”, mas não se deve desprezar o todo composto por essas partes.  Portanto, vamos a elas:

1. A Gênese dos céus e da terra:
A expressão aparece a em 2.4 e o relato vai até 4.26.  Se partirmos do pressuposto de que tôledôt pode ser flexível entre introdução e conclusão, essa parte começa em 1.1.  Essa porção narrativa descreve a criação do Universo em seis dias, a formação do homem e, posteriormente, da mulher.  O capítulo 3 revela como o mal, na figura da serpente sagaz, entrou na criação de Deus e tentou o homem a se rebelar contra a vontade do Criador.  O capítulo 4 demonstra como a maldade se espalhou rapidamente a ponto de Caim e Abel, os dois irmãos filhos de Adão e Eva, travarem um conflito que culminou com o assassinato de Abel. Não se deve deixar de notar que essa parte termina informando que “nessa época começou-se a invocar o nome do Senhor” (4.26 – conforme tradução da NVI).

2.  A Gênese de Adão:
Essa parte vai desde 5.1 (introduzido com a expressão tôledôt) até 6.8, traçando as gerações desde Adão até Noé.  Um tema notável desse relato é a “morte”, pois todos os homens aqui nomeados morreram, com exceção de um que “andou com Deus”: Enoque (5.22-24).  O desfecho do relato registra a corrupção na qual gradativamente os descendentes de Sete se envolveram.  É a maldade inicial que continua a se expandir. O mal incipiente foi encontrando recipiente favorável para se proliferar. Todavia, em 6.8, Noé é apontado como um que achou graça diante de Deus!

3.    A Gênese de Noé:
Começando em 6.9 (tôledôt) até 9.29, esse relato nos dá uma dupla e surpreendente mensagem concernente à justiça e a graça de Deus.  Fora da Arca o dilúvio destruía toda vida, mas dentro da Arca uma família era preservada, porque “Noé andava com Deus” (6.9).  O mesmo dilúvio universal, que trouxe o juízo divino sobre o pecado e a dura incredulidade, revelou também a graça de Deus ao salvar da morte e da destruição a Arca com sua carga preciosa: um homem, acompanhado de sua família, que alcançou graça diante de Deus.

4.    A Gênese dos filhos de Noé:
Com início em 10.1 (tôledôt) e se estendendo até 11.19, descreve a distribuição dos três filhos de Noé em várias nações e idiomas.  Este quadro examina o mundo das nações que foram conhecidas do antigo Israel. Aquelas nações que o povo escolhido de Deus teve maior contato são descritas com detalhes.  Concluindo esse relato, aparece a dispersão em Babel demonstrando que aqueles que buscaram sua própria glória em lugar de glorificar o nome de Iahweh (Javé) caíram outra vez no juízo de Deus.

5.    A Gênese de Sem:
Esse curto relato que vai de 11.10 (tôledôt) ao verso 26, traz a genealogia de Sem a Terá, pai de Abrão.  Sua importância está fora dele mesmo e se dá ao apontar para a origem do pai de Abrão e fazer a ligação deste com Sem e, conseqüentemente, com Noé e sua ascendência. Abrão será uma figura importante no relato seguinte de Gênesis e colocá-lo em “cena” sem revelar seu “berço” seria a criação de um hiato na história dos patriarcas.

6.    A Gênese de Terá:
Constitui um dos maiores relatos, ocupando o espaço entre 11.27 (tôledôt) e 25.11, cobrindo quase um quarto do livro de Gênesis.  Registra a história da escolha de Abrão e da promessa feita a ele de que seria uma grande nação.  Abraão é desafiado a confiar completamente na promessa de Deus, mas concorda com Sara, sua esposa, e tem um filho com Hagar – a quem chama Ismael – por causa da aparente demora de Deus em cumprir sua promessa. Dentro desse relato há a descrição do nascimento de Isaque e da prova a qual Deus submeteu Abraão, pedindo-lhe que lhe oferecesse seu filho em sacrifício (Gn 22).  O relato encerra-se com a morte do agora chamado “Abraão” demonstrando que, após sua morte, a promessa da benção é passada ao seu filho Isaque (25.11).

7.    A Gênese de Ismael:
Um curto relato de 25.12 (tôledôt) a 25.18; na verdade, o mais curto dos dez relatos.  O verso 12 deixa claro que este filho de Abraão é com Hagar “a serva egípcia de Sara”.  Trata-se de uma linha secundária na história da graça salvadora de Iahweh.  Esses sete versículos documentam como Deus cumpriu a sua promessa de que multiplicaria a descendência de Ismael (cf. 16.10).

8.    A Gênese de Isaque:
Razoavelmente extenso esse relato, que se inicia em 25.19 (tôledôt) e se estende até 35.19, apresenta as gerações que se seguiram a Abraão, através da família de Isaque.  Diferente de seu ilustre pai, Isaque foi de uma natureza tranqüila e introvertida e sua esposa, Rebeca, embora estéril fora agraciada com filhos gêmeos: Esaú e Jacó.  Desde antes do nascimento, o relato aponta para um conflito existente entre eles.  No desenrolar da história (de uma forma intrigante e atraente), Jacó – que seria o mais novo, pois nascera minutos após Esaú – obtém o direito de primogenitura e a benção de Isaque, tendo seu nome trocado para Israel.

9.    Gênese de Esaú:
Esse relato que começa em 36.1 (tôledôt) e se encerra em 37.1, concentra sua atenção nos descendentes de Esaú e, aparentemente, quer justificar a existência de Edom ao revelar a origem deste povo vizinho de Israel, que reaparecerá em outras partes da literatura do Antigo Testamento.

10.    Gênese de Jacó:
Este é o último e o maior de todos os relatos.  Começa em 37.2 (tôledôt) e vai até o último versículo de Gênesis em 50.26.  A história é de Jacó, mas quem ocupa boa parte da cena (quase toda!) é José, um de seus doze filhos.  Este é o registro da forma misteriosa como Deus usou a maldade dos irmãos de José para levar adiante seu plano para a nação que havia escolhido e que paulatinamente vai surgindo no cenário da história.  Aqui se tem a explicação de como o povo de Deus se estabeleceu no Egito e arma o cenário para o livro do Êxodo.

III.    Teologia do Gênesis
Em Gênesis encontramos material suficiente para discorrer acerca de vários pontos da teologia sistematizada.  No entanto, analisemos aqui as contribuições de Gênesis para a Teologia Própria – Deus, a Antropologia – o homem e a Soteriologia – a salvação.

1.    Teologia Própria
O Livro do Gênesis começa apresentando Deus sem, contudo, justificar sua origem ou existência.  Em Gênesis, Deus existe e o que não existe Ele vai criar!  O Livro não se propõe a responder todas as perguntas humanas acerca do Criador, mas O revela como pessoal, enfatizando o persistente interesse de Deus por relações pessoais com os seus servos.  Ele é único, Criador e Senhor Soberano sobre tudo o que existe.  Em Gênesis a questão de outras divindades não aparece, exceto no episódio de Labão (31.19,30,34; 35.4) onde há breves menções à ídolos ou deuses. Ele é responsável pelas “macro-ações”, como a criação de todas as coisas e o surgimento dos povos, mas também pelas “micro-ações” como a concepção de uma criança ou a chamada de um seguidor.  Deus é o regente capaz de pôr em ordem as situações mais intratáveis (cf. 45.5-8), sendo juiz amoroso cujos juízos são suavizados pela misericórdia (hesed) (cf. 3.21; 4.15; 6.8; 18.32, 19.16,21) e, às vezes, tarda para sobrevir (cf. 15.16).  Sua justiça contém amor e seu amor inclui exigência e excelência morais.  Em Gênesis, Deus é sempre Aquele que se dá, em alguma medida.  Neste livro, Ele é conhecido por muitos nomes: Iahweh; Elohim; El.  Alguns são títulos que exprimem facetas de seu ser como Altíssimo (14.18-22), Todo-poderoso (17.1), etc. Outros comemoram um momento especial de encontro, como Deus que vê (16.13), Deus de Israel (33.20), Deus de Betel (35.7).  Ainda outros declaram uma idéia de relação como Deus de Abraão (28.13); Temor de Isaque (31.42, 53), Poderoso de Jacó (49.24).

2.    Antropologia:
Gênesis apresenta a formação do homem, sua vocação, sua queda e sua situação em conseqüência da queda.  Na literatura de Gênesis o homem é um ser social que vive dentro de certo padrão de responsabilidade, isto é: na dimensão das coisas – onde seu dever é cultivar e guardar seu meio ambiente imediato e dominar e encher a terra; na dimensão das pessoas – onde o companheirismo é visto como uma necessidade primária do homem e alvo da atenção de Deus ao prover companhia complementar para o homem, bem como demonstrar as relações familiares ameaçadas por tensões motivadas pelo egoísmo e inveja; e na dimensão da autoridade – onde a responsabilidade de governar confiada ao homem tem por finalidade a ordem e o bom andamento de todas as coisas.

3.    Soteriologia:
Gênesis aponta a graça que, longe de ser mera resposta ao pecado, é fundamental para a própria criação.  A entrada do pecado põe em cena muitos aspectos da graça, ao revelar os meios e os modos que Deus se utilizou para preservar a humanidade e levar certos homens a entrarem em aliança com Ele, por meio dos quais abençoaria finalmente o mundo todo (cf. 18.18).  Deus, em Gênesis, restringe a corrupção e a anarquia produzidas pelo pecado, como no caso do dilúvio, da Torre de Babel e na decadência de Sodoma.  Num livro considerado tão antigo e com características primitivas, a obra salvadora de Deus não é menos completa nem menos variada.  É Ele, e não o homem, quem busca.  Aquela expressão pós queda “Adão, onde estás” (3.9) ecoa por todo o livro.  A salvação é muito mais que simples aceitação, é uma intimidade com o céu, de matizes tão variados como os personagens que a desfrutam; uma relação assumida e firmada numa aliança, na qual Deus prometia ser o Deus da descendência deles.

IV.    A Relevância de Gênesis para o Corpo Literário Neo e Veterotestamentário
O relato de Gênesis é de extrema relevância para a compreensão do Antigo e Novo Testamentos.  Há contribuições singulares como as que se seguem:

1. A apresentação de Deus como Soberano:
Deus é o criador e nada revela sobre sua origem ou passado, apenas surge da eternidade misteriosa para iniciar a sua obra de criação. A soberania de Deus é uma grande tônica no livro.

2.    Um registro específico das Origens:
Embora se tenha encontrado documentos antigos com vagos relatos sobre a criação do homem, nenhum deles, remotamente, pode ser comparado ao registro simples, específico e majestoso do Gênesis.   Sem esse registro não teríamos uma visão objetiva de como o mundo começou, de como as várias formas de vida tiveram seu início, da verdadeira origem do homem, de como entrou o pecado na história da humanidade, de como as várias raças foram formadas e por que os idiomas são variados.

3.    O Pecado original:
Gênesis demonstra claramente que Deus não criou o pecado e o mal, e o pecado não ficou inativo nem permaneceu apenas como um defeito de menor importância.  O livro descreve como o pecado foi se multiplicando e o resultado descrito em 6.11-12 é demonstrado em vidas e famílias no decorrer do relato (cf. 19.31-36 – as filhas de Ló).

4.    Julgamentos sobrenaturais:
A revelação de Deus como justo juiz em Gênesis é indiscutivelmente relevante para as Teologias veterotestamentária e neotestamentária.Os vários julgamentos, como a maldição após a queda, o dilúvio, a confusão de idiomas em Babel, a destruição de Sodoma e Gomorra, retratam a intolerância de Deus para com o pecado e a rebelião.

5.    O proto-evangelho:
A promessa divina de redenção descrita em 3.15 é uma descrição resumida do plano divino para resgatar a humanidade.  Isso é plenamente compreendido no Novo Testamento, onde entendemos que a vinda de Jesus não é um “arranjo” divino para uma situação que fugiu do seu controle, mas o cumprimento de promessas tão primevas quanto a criação do próprio homem.

6.    O conceito de Aliança:
A Chamada aliança Abraâmica é a base de todo o programa divino para a humanidade e reportam-se a ela vários autores da literatura canônica. Traria sérias dificuldades à exegese das outras alianças descritas nos relatos bíblicos se houvesse a inexistência do relato desta aliança.

7.    Cristologia:
Ainda que veladas à mente secular, há referências cristológicas sutis no relato do Gênesis.  A referência ao descendente da mulher (3.15), a semente de Abraão (12.3) e a um “Leão” da tribo de Judá (49.9-10) apontam para o Jesus do Novo Testamento, além das referências ao Anjo do Senhor que precisam ser intensamente estudadas e analisadas para ser corretamente identificadas como manifestações de Deus na terra, o que confirmaria o Jesus pré-existente (ou pré-encarnado).

Assim sendo, Gênesis constitui-se de suma importância para o estudo das Escrituras Sagradas em função de suas informações cósmicas, étnicas, históricas, religiosas e proféticas.

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Referências Bibliográficas:
ELLISEN, Stanley A. “Conheça Melhor o Antigo Testamento” – Editora Vida, São Paulo.SP, 1991. 371p.
JESKE, John C. “Gênesis” – Editorial Northwestern, Milwaukee, Wisconsin USA, 1996. 402 p.
KIDNER, Derek “Gênesis: Introdução e Comentário” – Edições Vida Nova e Mundo Cristão, São Paulo.SP, 1991. 208p.
RAD, Gerhard Von. “Gênesis: A Commentary” – SCM Press LTD. USA, 1972. 440 p.
SCHMIDT, Werner H. “Introdução ao Antigo Testamento” – Editora Sinodal, São Leopoldo.RS, 1994. 395p.

(Fonte)

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