Pegue a régua. Comece com o zero. Conte quatro tracinhos. Avance a unha só um nadinha mais. Pare. Aí está ele. Quatro vírgula três milímetros. Menos da metade do caminho tão curto, tão ínfimo entre o 0 e o 1. Menos de meio centímetro. Um tiquinho de nada. Um pedacinho de uma régua. Não, nada disso. É o filho de minha sobrinha.
E ele tem coração! Ela o ouviu. É o que mostra a imagem acima. Ela ouviu o coração de 4,3 milímetros de vida. Ela ouviu a vida pulsando naqueles 4,3 tracinhos. Há um coração batendo naquele tiquinho de existência!
Minha sobrinha tem um coração. Os 4,3 milímetros têm um coração. Portanto, são duas pessoas, dois corpos, dois seres. Não é mais o corpo dela, não é mais ela. É alguém. É outro. É um ser vivo. É um ser humano, mistura de minha sobrinha e seu marido. É uma imagem e semelhança de Deus com 4,3 milímetros. É um ser totalmente dependente de outro, e esse outro o ama, dele cuida, com ele se importa, nele pensa, vive para interceder por ele… (Sim, há um tanto de Deus nisso tudo!)
Naquela extensão tão pequenina de vida há uma alma, há uma personalidade. É um ser completo e, ao mesmo tempo, ainda em desenvolvimento. É uma gente, bem minúscula, e ainda assim gente. Ser humano. O filho de minha sobrinha. Outro, não ela. Um corpo dentro do corpo dela. E, naquele corpinho que ainda não é bem um corpinho, mas já é alguém, há uma alma, a individualidade inegociável do ser, a unicidade que o caracteriza, aquilo que o faz ser só quem é, como nenhum outro jamais foi e jamais será. Mesmo que minha sobrinha tenha outros, muitos, filhos.
Menos de cinco milímetros. Não pode ser pego no colo. Não pode ser tocado. Não pode tomar banho. Não pode ser levado ao parquinho. Não pode ficar de castigo. Não pode trocar as letras das palavras e fazer todo mundo achar tão bonitinho. Mas já é filho, plenamente filho, absolutamente filho. Um outro já tão insubstituivelmente amado, seu lugar definitivamente estabelecido na história, à mesa, na família, em nosso amor. E não tem nem cinco milímetros. E ainda não o vimos. E ainda não tem nome. E já é. Por ser.
O filho de minha sobrinha tem o “corpo ainda informe”, como disse Davi (Sl 139.16). E o rei disse que aquilo era ele. Não era parecido com gente ainda, nem visível era, mas já era alguém, um ser, uma pessoa. Enquanto ele estava no ventre da mãe, já era alguém (v. 13). Sim, aquele que está no ventre de minha sobrinha não é ela, não é o corpo dela: é outro! Feito de um modo assombroso e tão maravilhoso (v. 14)! O filho de minha sobrinha é um milagre, mais um realizado pelo Autor e Sustentador da vida!
Como dizer de outra maneira? Uma vida de 4,3 milímetros!
Que esta vida cresça para a glória Daquele que a entreteceu. E que o filho de minha sobrinha ensine muitos que, desde antes dos cinco milímetros, ele já era ele, outro, único, criado e amado por Deus. E por nós, que o esperamos com muita e babona expectativa!
(Artigo adaptado do original publicado em 2.2.16, pois é outro sobrinheto, outra sobrinha, mas a mesma alegria em Deus. Embora difira bastante do que normalmente é publicado no Campos, esse singelo texto é uma manifestação de louvor Àquele que a tudo criou, a tudo sustenta e que é merecedor de toda a glória.)
Nosso pai foi Adão; nosso avô, o pó; nosso bisavô, o nada.
(William Jenkyn)
Se me contentar em ser nada, não posso ficar ofendido. E, quando for realmente humilde e reconhecer que não passo de um verme, não me queixarei de ser pisado.
(Robert C. Chapman)
Eu me confio totalmente [a Cristo,] a Ele que se dispôs a salvar-me, que sabia como realizar Seu propósito e tinha poder para desempenhar-se da tarefa. Ele tanto me buscou como me chamou por Sua graça.
(Bernard de Clairvaux)
Os santos [os cristãos], por melhor que sejam, não passam de estranhos quando comparados ao peso e à preciosidade da doçura incomparável de Cristo.
(Samuel Rutherford)
Ele, que é o Pão da vida, iniciou Seu ministério tendo fome. Ele, que é a Água da vida, terminou Seu ministério tendo sede. Cristo teve fome como homem e alimentou os famintos como Deus. Ele se sentiu cansado; contudo, é nosso descanso. Pagou tributo; no entanto, é o Rei. Foi chamado de demônio, mas lança fora nossos demônios. Orou; contudo, ouve nossas orações. Chorou, e enxuga nossas lágrimas. Foi vendido por trinta moedas de prata, e redime o mundo. Foi levado como ovelha para o matadouro, e é o Bom pastor. Cristo morreu e deu Sua vida, e, por ter morrido, destruiu a morte.
(Autor desconhecido)
Nunca pense que Deus precisa de um homem com qualidades como você. É você quem precisa de Deus.
(Henry Vögel)
Existe algo sob o sol
que quer meu coração ganhar.
Longe de mim, seja o que for!
Tu tão-somente reinarás.
Meu coração se há de livrar
da terra, e em Ti repousará.
Pegue a régua. Comece com o zero. Conte cinco tracinhos. Pare. Aí está ele. Cinco milímetros. Metade do caminho tão curto, tão ínfimo entre o 0 e o 1. Meio centímetro. Um tiquinho de nada. Um pedacinho de uma régua. Não, nada disso. É o filho de minha sobrinha.
E ele tem coração! Ela o ouviu. Ela ouviu o coração de cinco milímetros de vida. Ela ouviu a vida pulsando naqueles cinco tracinhos. Há um coração batendo naquele tiquinho de existência!
Minha sobrinha tem um coração. Os cinco milímetros têm um coração. Portanto, são duas pessoas, dois corpos, dois seres. Não é mais o corpo dela, não é mais ela. É alguém. É outro. É um ser vivo. É um ser humano, mistura de minha sobrinha e seu marido. É uma imagem e semelhança de Deus com cinco milímetros. É um ser totalmente dependente de outro, e esse o outro o ama, dele cuida, com ele se importa, nele pensa, vive para interceder por ele… (Sim, há um tanto de Deus nisso tudo!)
Naquela extensão tão pequenina de vida há uma alma, há uma personalidade. É um ser completo e, ao mesmo tempo, ainda em desenvolvimento. É uma gente, bem minúscula, e ainda assim gente. Ser humano. O filho de minha sobrinha. Outro, não ela. Um corpo dentro do corpo dela. E, naquele corpinho que ainda não é bem um corpinho, há uma alma, a individualidade inegociável do ser, a unicidade que o caracteriza, aquilo que o faz ser só quem é, como nenhum outro jamais foi e jamais será. Mesmo que minha sobrinha tenha outros, muitos, filhos.
Cinco milímetros. Não pode ser pego no colo. Não pode ser tocado. Não pode tomar banho. Não pode ser levado ao parquinho. Não pode ficar de castigo. Não pode trocar as letras das palavras e fazer todo mundo achar tão bonitinho. Mas já é filho, plenamente filho, absolutamente filho. Um outro já tão insubstituivelmente amado, seu lugar definitivamente estabelecido na história, à mesa, na família, em nosso amor. E só tem cinco milímetros. E ainda não o vimos. E ainda não tem nome. E já é. Por ser.
O filho de minha sobrinha tem o “corpo ainda informe”, como disse Davi (Sl 139.16). E o rei disse que aquilo era ele. Não era parecido com gente ainda, nem visível era, mas já era alguém, um ser, uma pessoa. Enquanto ele estava no ventre da mãe, já era alguém (v. 13). Sim, aquele que está no ventre de minha sobrinha não é ela, não é o corpo dela: é outro! Feito de um modo assombroso e tão maravilhoso (v. 14)! O filho de minha sobrinha é um milagre, mais um realizado pelo Autor e Sustentador da vida!
Como dizer de outra maneira? Uma vida de cinco milímetros!
Que esta vida cresça para a glória Daquele que a entreteceu. E que o filho de minha sobrinha ensine muitos que, desde antes dos cinco milímetros, ele já era ele, outro, único, criado e amado por Deus. E por nós, que o esperamos com muita e babona expectativa!
Toda sexta-feira, indicação de artigos, de uma mensagem e de um hino recomendados. Nosso desejo é que lhe sejam úteis para aprofundar seu conhecimento do Senhor, para capacitar você a servi-Lo melhor e para despertar em você mais amor por Ele.
É sempre importante relembrar o que dizemos em Sobre este lugar: as indicações a um autor ou a alguma fonte não implica aprovação total ou incondicional de tudo o que é ali ensinado nem indicado em outros links ou em vídeos relacionados, etc; indica, outrossim, que naquele artigo específico há conteúdo bíblico a ser apreciado.
Artigos que você precisa ler
A encarnação de Cristo é, sem dúvida, tema fundamental da fé cristã. Leia o artigo de Joel Beeke.
Em um mundo no qual os homens, ainda que brutais, vão se tornando efeminados por não compreenderem qual o papel que ocupam segundo o propósito de Deus, recomendamos leitura, análise e reflexão do artigo As marcas da masculinidade, de Albert Mohler Jr.
Mensagem que você precisa ouvir
Você não tem fé na humanidade, por Mário Persona
Hino que honra a Deus
Vigiar e orar
Letra: Autor desconhecido. Publicado no hinário francês Psaumes et Cantiques (Salmos e Cânticos), que, como muitos hinários da época, não registrava os autores. Tradução: Alfredo Henrique da Silva (1872-1950), em 1913. Música: Sophia Zuberbühler (1833-1893), de quem também nada se sabe.
Toda sexta-feira, uma pequena lista de artigos cuja leitura recomendamos. Além disso, indicaremos também uma mensagem e um hino para serem ouvidos. Nosso desejo é que lhe sejam úteis para aprofundar seu conhecimento do Senhor, para capacitar você a servi-Lo melhor e para despertar em você mais amor por Ele.
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Artigos que merecem ser lidos
Pornografia, caminho para o inferno, de Michael Pearl. Apesar de não concordar totalmente com o título, pois o caminho para o lago de fogo é não crer no Senhor Jesus, independentemente de qualquer outra coisa, o artigo é sério em alertar para a destruição que a pornografia faz.
Qual era o desejo de Deus para Adão e, por conseguinte, para os homens? DeVern Fromke apresenta esse importante tema em O plano do Pai é revelado.
Uma leitura superficial do discurso de Estêvão em Atos 7 pode fazer-nos pensar que se trata apenas de um longo discurso. No entanto, seu conteúdo é profundo e revelador sobre o propósito eterno de Deus revelado em Moisés e na história de Israel e cumprido em Cristo e Seu povo. Leia em A acusação contra Estêvão, sua defesa e seu martírio, de Robert Govett.
Mensagem que merece ser ouvida
O Propósito do casamento: destruindo visões populares de felicidade conjugal, por Paul Washer
Letra e música de Sarah Poultoun Kalley (25.5.1825 – 8.8.1907)
Direção Divina
As Tuas mãos dirigem meu destino.
Ó Deus de amor! Bom é que seja assim!
Teus são os meus poderes, minha vida;
Em tudo, eterno Pai, dispõe de mim.
Meus dias, sejam curtos ou compridos,
Passados em tristezas ou prazer,
Em sombra ou luz, é tudo como queres
E é tudo bom, se vem do Teu querer.
As Tuas mãos dirigem meu destino,
Por mim sangraram na infamante cruz;
Por meus pecados foram transpassadas
E nelas posso descansar, Jesus!
Nos céus erguidas, sempre intercedendo
As santas mãos não pedem nunca em vão;
Ao seu cuidado, em plena confiança,
Entrego a minha eterna salvação.
As Tuas mãos dirigem meu destino;
O acaso, para mim, não haverá!
O grande Pai é justo e benfazejo
E sem motivo não me afligirá.
Encontro em Seu poder constante apoio,
Forte é Seu braço, insone o Seu amor;
E ao fim, entrando na cidade eterna,
Eu louvarei meu guia e Salvador!
História
Sarah nasceu em Nottingham, Inglaterra, tendo ficado órfã de mãe quatro dias depois. Era aluna brilhante, boa pianista, pintora, poetisa e poliglota. Tinha grande habilidade para ensinar, e seu pai, que era superintendente da Escola Dominical, confiou-lhe uma classe de meninos, na Capela que ele construíra em Torquay, cidade para onde haviam se mudado. Sarah formou um curso noturno, ministrando, também, conhecimentos gerais aos jovens que trabalhavam durante o dia. Muito cedo, Sarah abraçou a fé cristã. Na casa do pai, muitas vezes, eram recebidos missionários vindos de terras distantes. Ela se interessava em ouvir sobre o trabalho, suas necessidades e o que fazer para diminuí-las. Então, criou uma classe de costura para moças, em que eram confeccionadas roupas para enviar aos campos.
Em fins de 1851, por causa da doença de um dos irmãos de Sarah, a família foi para a Síria encontrar-se com o dr. Robert Reid Kalley, viúvo há pouco tempo. O dr. Kalley imediatamente impressionou Sarah, que já ouvira falar de seu trabalho na Ilha da Madeira e das perseguições que sofrera. Sentia-se bem ouvindo-o explanar as Escrituras e com sua maneira de orar. Por sua vez, o médico ficou muito impressionado com o interesse e o entusiasmo que a jovem demonstrava pelo trabalho missionário estrangeiro. Em 14 de dezembro de 1852, o casamento deles se realizou na Capela em Torquay.
Por volta de 1854, nos Estados Unidos, o casal Kalley ficou sabendo bastante a respeito do Brasil e da carência espiritual de seu povo – o suficiente para que ambos aceitassem o desafio do trabalho missionário nesse país. Aqui chegaram em 10 de maio de 1855. Alugaram uma casa em Petrópolis (RJ), onde, no domingo 19 de agosto de 1855, Sarah ministrou a primeira aula bíblica a cinco crianças, contando a história do profeta Jonas. Nos domingos seguintes já funcionava, também, a classe de adultos dirigida pelo dr. Kalley. Aquela data é considerada a do início do trabalho evangélico no solo brasileiro e em língua portuguesa de caráter permanente. Sarah foi companheira fiel em tempo de sossego ou de perseguições, que foram muitas. Os opositores dos Kalleys insultavam-nos na Igreja, na rua e mesmo em casa. Tudo sofreram por amor à Causa que abraçaram, por conta própria, sem nenhum vínculo com alguma entidade missionária. Sarah participou da organização de Salmos e hinos, o primeiro hinário evangélico brasileiro, usado pela primeira vez em 17 de novembro de 1861, na Igreja Evangélica Fluminense. Muitos dos hinos ali contidos foram produzidos em colaboração com o esposo, ou são de sua exclusiva autoria, totalizando cerca de 200.
Em 1. de julho de 1876, o casal Kalley deixou definitivamente o Brasil, fixando residência em Edimburgo. Posteriormente à morte do esposo, ocorrida em 17 de janeiro de 1888, Sarah fundou, em 1892, a missão Help for Brazil (Auxilio para o Brasil), com o objetivo de cooperar, por meio do envio de obreiros, com as igrejas originadas do trabalho do esposo.
(Nota do editor: Para esse hino, também conhecido por “Direção divina”, há outra melodia, que considero mais bonita que essa, mas não encontrada em nenhuma gravação. Penso que esse hino seja uma oração adequada para os momentos em que não entendemos os perfeitos, mas misteriosos, caminhos de Deus. Foi o hino que consolou a mim e a minha filha, especialmente, durante os quatro anos de doença dela. E foi o hino que nos consolou quando uma querida irmã, muito próxima, dormiu no Senhor.)
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Morte espiritual: a parábola do filho pródigo, por Timothy Keller
Comece a ouvir a partir de três minutos do vídeo.
Hino que merece ser ouvido
Nearer, My God, to Thee
Letra de Sarah Flower Adams (22.2.1805 – 14.8.1848), música de Lowell Mason (1856)
Letra original
Nearer, my God, to Thee, nearer to Thee!
E’en though it be a cross that raiseth me,
Still all my song shall be, nearer, my God, to Thee.
Refrain
Nearer, my God, to Thee,
Nearer to Thee!
Though like the wanderer, the sun gone down,
Darkness be over me, my rest a stone.
Yet in my dreams I’d be nearer, my God to Thee.
There let the way appear, steps unto Heav’n;
All that Thou sendest me, in mercy given;
Angels to beckon me nearer, my God, to Thee.
Then, with my waking thoughts bright with Thy praise,
Out of my stony griefs Bethel I’ll raise;
So by my woes to be nearer, my God, to Thee.
Or, if on joyful wing cleaving the sky,
Sun, moon, and stars forgot, upward I’ll fly,
Still all my song shall be, nearer, my God, to Thee.
There in my Father’s home, safe and at rest,
There in my Savior’s love, perfectly blest;
Age after age to be, nearer my God to Thee.
Tradução para o português
Mais perto, meu Deus, de Ti, mais perto de Ti!
E, mesmo que seja uma cruz que me erga,
ainda assim, toda a minha música será: “Mais perto, meu Deus, de Ti.
Refrão
Mais perto, meu Deus, de Ti,
Mais perto de Ti!
Embora eu seja como o andarilho, o sol se pondo,
a escuridão vindo sobre mim, meu descanso, uma pedra,
no entanto, em meus sonhos, eu estaria mais perto, meu Deus, de Ti.
Deixe o caminho aparecer, degraus para o céu;
tudo o que Tu me enviaste, em misericórdia foi dado;
anjos me atraem para mais perto, meu Deus, de Ti.
Então, com meus pensamentos despertos brilhando o louvor a Ti,
de meus pesares pedregosos Betel vou erguer;
então, por meio de meus sofrimentos, estarei mais próximo, meu Deus, de Ti.
Ou, se com alegres asas rasgando os céus,
sol, lua e estrelas esqueci, para o alto voarei,
ainda assim toda a minha música será: “Mais perto, meu Deus, de Ti”.
Ali, na casa de meu Pai, seguro e em descanso;
Ali, no amor de meu Salvador perfeitamente abençoado;
século após século estarei mais perto, meu Deus, de Ti.
Versão em português
Mais perto quero estar
Mais perto quero estar, meu Deus, de Ti!
Inda que seja a dor que me una a Ti.
Sempre hei de suplicar: mais perto quero estar;
mais perto quero estar, meu Deus, de Ti!
Andando triste aqui, na solidão,
paz e descanso, a mim, Teus braços dão.
Nas trevas vou sonhar: mais perto quero estar;
mais perto quero estar, meu Deus, de Ti!
Minh’alma cantará a Ti, Senhor!
E, em Betel, alçará padrão de amor.
Eu sempre hei de rogar: mais perto quero estar,
mais perto quero estar, meu Deus, de Ti!
E quando Cristo, enfim, me vier chamar,
nos céus, com serafins, irei morar.
Então, me alegrarei perto de Ti, meu Rei;
perto de Ti, meu Rei, meu Deus, de Ti!
História
Sarah era uma poeta inglesa. Sua obra mais longa é Vivia Perpetua, A Dramatic Poem (1841), que trata do conflito entre o paganismo e a fé cristã, no qual Vivia Perpétua foi martirizada. Em 1845, publicou The Flock at the Fountain (O rebanho na fonte), um catecismo e hinos para crianças. Membro da congregação do rev. W. J. Fox, em Londres, ela contribuiu com 13 hinos para o hinário Hymns and Anthems, publicado em 1841, para uso nessa capela. “Mais perto quero estar” era um deles.
Desse hino, que é inspirado no sonho que Jacó teve da escada que une a terra ao céu (Gn 12), disse Sarah: “Uma noite, algum tempo depois de estar deitada no escuro, olhos bem abertos, do silêncio na casa a melodia veio até mim e, na manhã seguinte, eu escrevi as notas”.
Muito conhecido no mundo todo, “Mais perto quero estar” tem sido usado em muitos filmes, além de estar ligado a muitas histórias inspiradoras, por ter trazido encorajamento às pessoas. Segundo alguns sobreviventes do Titanic, este era o hino que a orquestra estava tocando enquanto o navio afundava. (Outros sobreviventes negam essa versão.) De acordo com o médico do presidente americano William McKinley, entre suas últimas palavras ele teria dito: “’Mais perto, meu Deus, de Ti, mesmo que seja pela cruz’ tem sido minha oração constante”. No dia 13 de setembro de 1901, após cinco minutos de silêncio em todo o país, bandas na cidade de Nova York tocaram esse hino em homenagem ao presidente falecido.
O fundador da CNN, Ted Turner, no lançamento do canal, em 1980, prometeu: “Nós só sairemos do ar quando o mundo acabar. E nós faremos a cobertura ao vivo. E, quando o fim do mundo vier, nós tocaremos ‘Nearer My God to Thee’ antes de desligar.” Turner mandou fazer um vídeo para esse fim, com a gravação do hino tocado por uma banda marcial militar. O vídeo foi liberado na internet este ano.
É só uma obra artística! Não posso dizer que me surpreendo com as opiniões e considerações de muitos cristãos, incluindo líderes destacados e ministérios renomados, sobre o filme Noé. Não é uma surpresa por causa da ampla aceitação do liberalismo teológico e moral em muitos círculos cristãos. Certo pastor disse que é mediocridade não entender que Noé é apenas um filme e como tal deve ser visto. Além dele não saber muito bem o significado de mediocridade, não conseguiu apresentar nenhum bom argumento a favor do filme, nem mesmo considerando-o apenas como uma produção artística. Mas vamos por partes.
Penso que os críticos de cinema (e não vou entrar aqui na briga de foice público x crítica) podem bem avaliar o filme como produção que é. Na minha opinião leiga, é um filme desnecessariamente longo, com péssima interpretação de Russel Crowe e excelente de Emma Watson, com a patética presença dos Guardiões (não os da Galáxia, mas os expulsos do céu) e com efeitos especiais fraquinhos que são, em alguns momentos, muito ruins (como a serpente e as gêmeas criadas em CG). Ah, sim, eu vou contar o filme aqui… Mas, como cristão, o que me importa é considerar o filme à luz das Escrituras. E, definitivamente, este não é um filme bíblico, no sentido de não ser fiel tanto ao texto da Bíblia quanto a seu ensino. E, por isso, é perigoso, muito perigoso.
Aos que o defendem dizendo que ele não tem compromisso com a Bíblia e é uma interpretação artística dela, eu pergunto: o que achariam eles se fosse feito um filme sobre sua esposa, no qual ela fosse apresentada como tendo um caráter totalmente diverso do real com a alegação de ser uma interpretação artística? Como reagiram se a esposa ou uma filha fosse retratada como insegura, devassa, violenta, inconstante, infiel, obstinada, não correspondendo isso à verdade? Será que aceitariam? Duvido muito. De pronto, falariam de calúnia, difamação, ameaçariam com processos, exigiriam indenização e retratação pública… Pois não é estranho que esses filhos de Deus (considerando que de fato o sejam) não se importem que seu Pai seja caluniado e difamado, que seja mal representado, que não seja respeitado naquilo que revela de Si mesmo de forma clara nas Escrituras? E que até defendam os que o fazem, dizendo que se trata apenas de uma representação artística? Esquisito cristianismo moderno.
Li, também, que alguns justificam o filme (como o fez famosa editora cristã brasileira) porque ele abriria uma oportunidade para explicar às pessoas sobre a verdade da Bíblia. Alguém acredita de verdade nisso? Quantos milhões de pessoas assistiram ao filme? Quantos desses milhões vieram perguntar aos cristãos se é aquilo mesmo que a Bíblia ensina? Lembro da controvérsia criada pelo livro O código da Vinci. Apesar de Dan Brown dizer que se tratava apenas de ficção, multidões sem conta o levaram e levam a sério como revelação de segredos que interessava à Igreja Católica esconder. (Um passeio pela internet comprova isso.) É uma absurda inocência acreditar que com Noé seria diferente. O mais óbvio e fácil de acontecer é as pessoas pensarem que aquilo é um registro do que a Bíblia ensina, quase um documentário.
(Num blog, li uma defesa do filme por ser apenas uma adaptação do livro de Noé (sic). O autor do texto, inclusive, diz ter lido o livro de Noé e comprovado isso…)
Sob a égide de licença poética quase tudo é aceitável, até mesmo distorcer a Bíblia. Sim, um filme bíblico precisaria supor algumas coisas, como roupas, cenários, características físicas, personagens secundários, alguns diálogos, etc. Mas, quando há clara e evidente alteração daquilo que a Bíblia afirma de modo preciso e inequívoco, não há licença poética, mas distorção, deturpação da verdade, afronta ao Autor da Palavra, Aquele que dá importância aos menores sinais gráficos usados nela (Mt 5.18; Lc 16.17) e à qualquer palavra que a ela seja acrescentada ou dela diminuída (Ap 22.19).
No conteúdo do filme, naquilo que ele diz implícita e explicitamente, está o grande problema e seu maior perigo.
Seu conteúdo antibíblico
1. No início do filme, Lameque, pai de Noé, é morto por Tubalcaim que tira do morto uma tira de origem e significado desconhecidos. Em alguma cena antes, essa tira aparece iluminando-se conforme é enrolada no braço de Lameque. Mais adiante, vê-se que ela é a pele da serpente tentadora do Éden: uma serpente dourada, brilhante, perde sua pele revelando-se (num dos piores momentos de computação gráfica do filme) uma serpente escura, de olhos imensos.
Quase ao final do filme, Noé recupera essa pele, enrola-a no braço (e, conforme o faz, ela se ilumina, fica radiante) e, assim, abençoa, em nome de Deus, suas duas netas. Quando ele toca a testa de cada menina, seu dedo e a testa delas brilham por um instante, parecendo indicar ou que algo da natureza brilhante daquela pele passou para a criança ou que a bênção pegou.
Bênção em nome de Deus com pele da serpente? Que mistura diabólica! A leitura que faço disso é que o roteirista está indicando haver certa correlação, certa semelhança entre Deus e o diabo: interiormente, eles não são o que aparentam ser exteriormente. Talvez nem sejam de todo maus ou de todo bons. E veremos que essa idéia se repete em outras cenas do filme – parece-me ser a grande mensagem pretendida por ele.
2. No filme, há os Guardiões, descritos em muitas resenhas como uma espécie de Transformers de pedra. Eles são os anjos caídos que foram expulsos do céu por Deus, por terem-se rebelado contra Ele. Lançados à terra (umas figuras brilhantes, anjos, feitas de luz, semelhantes a homens com asas), eles perdem as asas e se fundem a rochas, tornando-se monstros de uns três metros de altura, disformes, com uma luz interior que parece ser proveniente de lava. Essas criaturas inicialmente estão contra Noé, por ele se dizer enviado por Deus. Mas, depois de um milagre que Noé faz, eles passam a ajudá-lo. E são eles quem, na verdade, fazem o serviço pesado de construção da arca. Sim, a arca, que representa a salvação em Cristo, é construída com a ajuda dos anjos caídos petrificados!
Quando a multidão sob a liderança de Tubalcaim tenta invadir a arca, esta é protegida principalmente pelos Guardiões. Quando eles morrem, aquela luz interior, que não é lava, é liberada e volta ao céu na forma de anjo, indicando terem sido perdoados. Não fosse ruim o suficiente isso, um dos Guardiões, o que primeiro ajudou Noé, olha para o céu, pede que Deus o perdoe e, então, se suicida, abrindo as placas de rocha do peito. Mais uma vez, o anjo de luz volta para o céu: um suicida aceito por Deus por ter feito o bem, por ter ajudado Deus e/ou Seu enviado.
É possível aceitar isso como mera visão artística ou licença poética? É possível aceitar esse ensinamento universalista implícito, do perdão final a todas as criaturas, incluindo Satanás e seus anjos? É possível aceitar essa doutrina de redenção por boas obras, mesmo que culminadas com suicídio?
A Bíblia fala que havia gigantes na terra no tempo de Noé (Gn 6.4), mas não eram, com certeza, seres de pedra.
3. Matusalém também está no filme, displicentemente interpretado por Anthony Hopkins. O personagem é igual ao Mestre dos Magos, da Caverna do dragão. Será que essa identificação teria sido um ato falho dos produtores, do diretor de arte, do diretor? Difícil acreditar. E você lembra da mitologia em torno da Caverna do dragão? De que o Destruidor, o inimigo mortal das crianças, e o Mestre dos Magos, o amigo das crianças, seriam, na verdade, a mesma pessoa?
Matusalém mora em uma caverna (do dragão?). Noé o procura quando recebe a primeira visão de Deus acerca do dilúvio. Por ter dúvidas, precisa saber o que seu sábio antepassado lhe diz. Com o filho caçula, Jafé, vai até ele. Matusalém, num gesto mágico, coloca o menino para dormir enquanto conversa com Noé. A fim de ajudá-lo a entender Deus, lhe dá uma infusão estranha. Noé fica tonto, enxerga coisas e, ao voltar da “viagem”, ainda meio zonzo, vê o velho conversando com seu filho, indicando que algum tempo havia se passado, e diz ter entendido.
Então, Deus precisa de uma infusão alucinógena para se revelar a Seu servo? Será esse o Deus da Bíblia? Não se parece mais com o deus do ocultismo, o deus da adoração da natureza, o deus da ecologia, o deus de Bob Marley, o deus liberal para quem está tudo bem, mesmo fumar uma coisinha, usar um chazinho, cheirar um pozinho?
Deus é incapaz de dar uma visão completa a um servo? Deus escolhe um homem para ser Seu arauto da justiça e construir a arca, e, apesar disso, esse homem é incapaz de entender o que Deus quer dele? Esse, com certeza, não é o Deus da Bíblia nem o Noé da Bíblia. Sem dúvida, muitos servos de Deus tiveram crises após serem por Ele chamados e/ou comissionados, mas isso não ocorreu com Noé. Não ocorreu porque a Bíblia não diz que ocorreu. “Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor” (v. 8). Esse “porém” mostra que Noé era diferente dos homens descritos nos versos anteriores: que cobiçavam as mulheres, que eram maus, cujos pensamentos eram maus continuamente (vv. 1-5).
O Espírito Santo acrescenta: “Noé era homem justo e perfeito em suas gerações; Noé andava com Deus” (v. 9, ênfase acrescentada). O Noé do filme não andava com Deus, de modo nenhum. Ele não conhece Deus, ele duvida de Deus, ele questiona as intenções de Deus, ele não entende o que Deus lhe diz, ele não sabe consultar a Deus. O Noé da Bíblia andava com Deus antes de ser chamado; o do filme não andou com Ele em momento algum, pois Deus lhe era desconhecido. Precisou da intermediação mágica de Matusalém para pensar ter entendido o que Deus exigia.
A Bíblia diz que Deus falou a Noé – não que lhe deu uma visão –, dando-lhe as instruções completas sobre a construção da arca e que Noé fez exatamente como Deus lhe ordenou (6.13-22). Sem dúvidas, sem visões enigmáticas, sem chazinhos alucinógenos, sem questionamentos, sem Mestre dos Magos.
Ao mesmo tempo em que destrói o caráter do Noé bíblico, o filme destrói também o caráter de Deus, que é apresentado como um ser confuso, indeciso, indecifrável por aqueles a quem chama, incoerente, mau. Noé é o porta-voz de Deus, Seu representante, e o Deus que ele expõe não parece saber o que está fazendo ou parece ter tomado uma atitude extrema desnecessária ao inundar a terra, a qual muda por meio da decisão de Noé em desobedecer-Lhe e não matar as netas.
Ainda sobre Matusalém: como a terra toda é estéril, sem árvores de nenhum tipo (outra invenção do roteirista), o Mestre dos Magos dá a Noé uma semente, parecida com uma mamona, escura, cheia de pontas (semente de cardos ou abrolhos, o resultado da maldição de Deus sobre a terra?), a qual, segundo ele, havia sido preservada do Éden. Noé a planta, e ela produz todo tipo de árvore por todo lado, regada por um rio que surge do chão repentinamente e se espalha em quatro braços, como repetindo o Éden (2.10). Este é o milagre que encanta os Guardiões. A Bíblia é muito clara ao dizer que Deus criou as árvores segundo a sua espécie, “cuja semente está nela conforme a sua espécie” (1.11,12). É contra a Bíblia e contra o caráter de Deus a idéia de uma semente única para todas as árvores. A menos que o conceito por trás disso seja o da evolução, o que é corroborado por outra cena, em que Noé descreve a criação, enquanto as imagens que são mostradas indicam uma espécie animal evoluindo para outra.
O plantar da semente também parece indicar que, bastando ao homem ter a semente, a ferramenta, a palavra mágica correta, ele mesmo poderá reconstruir o Paraíso. Ele foi expulso de lá por Deus, mas pode tê-lo de volta se souber como usar algo dado por Deus – e esta é uma boa definição de magia.
O feiticeiro Matusalém cura uma moça estéril, a futura esposa de Sem, apenas por tocar-lhe no ventre, ao mesmo tempo em que ela é tomada de uma libido incontrolável, atracando-se com Sem ali mesmo e logo engravidando. Magia e sexo sempre andaram juntos, maculando o sexo como criação e dom de Deus para o homem.
4. A Bíblia é muito clara ao dizer quantas pessoas estavam na arca: Noé, a esposa, os três filhos e a esposa de cada filho (v. 18; 7.1,7,13; 8.16): oito no total. Para não haver dúvida, o Novo Testamento registra que Deus “guardou a Noé […] com mais sete pessoas” (2Pe 2.5): oito no total. Para quem crê na Bíblia e a respeita, isso é mais do que suficiente para saber que o número de oito pessoas e a identidade delas é importante para Deus e para a história da salvação. Pois o filme ignora isso totalmente.
Em determinado momento, Cão se preocupa por ele e Jafé, o caçula, não terem esposa – apenas Sem é casado, contrariando o que a Bíblia ensina. Então, na arca entram Noé e esposa, Sem e esposa, Cão e Jafé… e Tubalcaim! Exatamente! Tubalcaim, o líder da rebelião contra o enviado de Deus, o inventor das armas e dos instrumentos de metal (Gn 4.22), um assassino consegue entrar na arca. Ele, na verdade, a invadiu, arrombando uma parede lateral.
Deus, que planejou a arca e a executou por meio de Seu servo, não foi capaz de impedir que ela fosse invadida, que ela servisse de transporte a um assassino que desejava, junto com Cão, assassinar Noé! Como aceitar isso como licença poética? Isso é ignorar perigosa e estupidamente o significado espiritual da arca.
Deus ordenou que Noé betumasse a arca por dentro e por fora com betume (Gn 6.14). A palavra hebraica para betume é kâphar, uma raiz primitiva que significa “cobrir (especialmente com betume); figurativamente expiar ou perdoar, aplacar ou cancelar: fazer uma expiação, purificar, anular, desculpar, ser misericordioso, pacificar, perdoar, purgar, lançar fora, reconciliar, reconciliação”. É a mesma palavra usada no Antigo Testamento para expiação! Portanto, o betume por dentro e por fora representa, é um tipo da expiação única e definitiva realizada por Cristo na cruz do Calvário. A arca indica, é uma figura da salvação única e exclusiva por meio de Cristo. Graças a Seu sacrifício é que somos salvos, e somente por meio dele. E ninguém entra em Cristo se não for trazido a Ele pelo Pai (Jo 6.65; 10.27-29; 17.6,9).
Portanto, Tubalcaim na arca e o modo como ele entrou são uma afronta direta e declarada à obra salvífica perfeita do Senhor Jesus realizada na cruz.
Mas fica pior: Tubalcaim mata animais dentro da arca (e come um deles, uma cobra). Ou seja, a arca planejada por Deus e betumada com a expiação não é suficiente para guardar os que estão dentro dela. A salvação não é suficiente? A salvação não é segura? A salvação não é digna de confiança? Algo que é começado por Deus não tem garantia? Deus não é capaz de preservar aqueles a quem salva? Então, há mais alguém, além de Deus, que pode matar não só o corpo como a alma (Lc 12.4,5)? E, para entornar de vez o caldo, Tubalcaim é morto dentro da arca por Cão enquanto lutava com Noé, mais uma vez revelado como homem sanguinário, violento. Você consegue entender o que isso prefigura? É possível? É aceitável como licença poética?
5. A Bíblia diz claramente que foi Deus quem fechou a arca (Gn 7.16). Isso, mais uma vez, confirma a prefiguração da salvação em Cristo, obra realizada e concluída exclusivamente por Deus. No filme, é Noé quem a fecha, mas fica do lado de fora, matando mais um monte de gente e por lá quase ficando quando as águas começaram a subir.
A Bíblia registra que Noé e os demais ficaram sete dias na arca antes que começasse o dilúvio (vv. 9,10). Claro que isso não é dramático, não é cinematográfico, não é hollywoodiano, mas é bíblico, é a verdade! E, mais uma vez, prefigura detalhadamente a salvação realizada por Cristo.
6. Segundo sérios estudiosos da Bíblia, os animais na arca ficaram em um estado de hibernação, a fim de não consumirem alimento o tempo todo. É apenas uma suposição, não uma verdade bíblica. No filme, ela é retratada, mas, mais uma vez, com o elemento mágico: a mulher de Noé é que sabe queimar umas ervas que produzem uma fumaça que põe a bicharada para dormir até o fim do dilúvio. Além do efeito duradouro, a tal fumaça não afeta os seres humanos…
Em outra cena, a mulher de Noé mostra mais uma vez seus poderes mágicos: por meio de uma folha colocada sobre umas brasas ela consegue saber que a nora está grávida.
7. Em certo momento, na arca, Noé diz que Deus enviou o dilúvio para matar todos os homens e salvar apenas os inocentes: os animais. Isso cheira (fede?) à idolatria animal moderna, em que animais, inclusive na legislação, têm mais direitos e geram mais comoção do que pessoas. Quem não lembra da criminosa libertação dos beagles em um laboratório em São Paulo? Nisso, o filme ecoa o que até mesmo muitos cristãos modernos falam: a história de Noé é um libelo ecológico, Noé é o amigo dos animais, Noé mostra como a natureza é importante.
Por menos que entendamos e gostemos, a Bíblia não diz que os animais são inocentes (Êx 21.28-36; Lv 20.15,16) e diz que Deus está preocupado com os homens, não com os animais (1Co 9.9,10). Os animais foram preservados na arca por causa do homem, não o contrário. O homem é a criação mais importante de Deus, a única feita a Sua imagem e conforme Sua semelhança, a única capaz de crer Nele; somente o homem pode se tornar filho de Deus.
8. No filme, Noé é violento, indeciso, omisso, transtornado. Ao contrário do “pregoeiro da justiça” (2Pe 2.5) da Bíblia, no filme ele é um observador passivo e mudo da violência, e até se une a ela para impedir que pessoas invadam a arca. E este é mais um grave desvio do ensino das Escrituras.
As pessoas não se importaram com Noé nem com a arca, e o dilúvio as pegou de surpresa (Mt 24.37-39). Naqueles dias, como hoje, as pessoas estão indiferentes à verdade, ao juízo de Deus, aos resultados do pecado; elas querem apenas fazer o que gostam, aqueles pecados que dizem ter direito de praticar. Querem poder viver em pecado e não admitem que ninguém chame de pecado ao que fazem. A sociedade tem-se empenhado em calar os que denunciam seus pecados, sua idolatria, suas abominações, sua promiscuidade, sua imoralidade; a sociedade tem-se empenhado em exaltar os que defendem as práticas imorais, os que invertem valores, os que ousam desafiar os princípios éticos judaico-cristãos, os que negam Deus, os que zombam da fé cristã. A indústria do entretenimento ganha muito dinheiro com a exaltação da violência e, com certeza, não honrará alguém a quem foi revelado que a terra foi destruída por causa da violência. O homem moderno tem dado ouvidos a todos quantos o fazem sentir-se confortável com um deus menor que o Deus da Bíblia: um deus complacente com os pecados, um deus bonzinho, uma força qualquer, uma força interior, um deus que ama os pecadores e não se importa com os pecados deles, um deus a quem se pode xingar sem conseqüências, um deus que está em qualquer criatura, que pode ser chamado por qualquer nome, que pode ser alcançado por qualquer meio, que não exige santidade, lealdade, fidelidade, consagração, amor exclusivo.
Conclusão
“Mas não há nada que preste no filme?” Sim, há. As dimensões da arca são as descritas na Bíblia. Parte da arca, com a altura e largura bíblicas e parte da extensão, foi construída ao ar livre, e o restante da extensão foi criado em CG. E ela foi construída apenas como um grande caixote para flutuar, não como um barco para navegar. Isso é biblicamente correto. E acaba aí aquilo em que o filme é bom.
No mais, é um filme perigoso, por mostrar um Deus não bíblico, por ensinar uma soteriologia sem Cristo e sem segurança, por redimir aqueles para os quais não há perdão – os anjos rebeldes – e por mostrar o enviado de Deus como qualquer coisa, menos alguém que anda com Deus. E o filme será tudo o que milhões de pessoas saberão sobre Noé.
Que Deus tenha misericórdia daqueles Seus filhos que não vêem os perigos ocultos ou explícitos nesse filme.
Deixo aqui a dica de alguns bons textos que li recentemente. São todos em inglês Desculpem-me os que não lêem a língua gringa; para esses, um tradutor online ajudará a, pelo menos, ter uma boa idéia do conteúdo dos textos.
2. Sete premiados com o Nobel em áreas de ciências que ou apoiam o Design Inteligente ou atacam a evolução darwinista. Um dos grandes argumentos de ateus e/ou evolucionistas é que as posições teístas e/ou contrárias ao evolucionismo procedem de pessoas ignorantes, que desconhecem as ciências, que acreditam apenas em mitos e fantasias religiosas. O artigo prova exatamente o contrário. Cada vez vê-se que os evolucionistas têm, jeitosamente, ignorado (ou preferido ignorar) as contundentes evidências de um planejamento inteligente e intencional por trás da criação e que o evolucionismo, desde Darwin, está errado.
3. Ciência nacionalizada: a próxima geração de padrões de ciência. Seus filhos vão à escola. Há a matéria Ciências ou Biologia. O que ele aprende? Com raríssimas exceções, ele ouvirá apenas o ponto de vista darwinista, evolucionista. E o criacionismo? E o design inteligente? “Isso não é ciência; é questão de fé, é mito, não tem evidências científicas”, será a resposta dada. É a mentira do evolucionismo sendo imposta ao sistema de ensino. É alarmante pensar que nossos filhos, desde a mais tenra idade, por imposição do Estado, que se diz o responsável pela educação deles, sejam expostos apenas ao ensino com arcabouço filosófico evolucionista e sejam obrigados a ouvir nada ou apenas deboches em relação à opção cientificamente embasada do criacionismo ou do design inteligente.
Um número razoável de cientistas e filósofos ateus ou agnósticos vem em anos recentes engrossando as fileiras daqueles que expressam dúvidas sérias sobre a capacidade da teoria da evolução darwinista para explicar a origem da vida e sua complexidade por meio da seleção natural e da natureza randômica ou aleatória das mutações genéticas necessárias para tal.
Poderíamos citar Anthony Flew, o mais notável intelectual ateísta da Europa e Estados Unidos que no início do século XXI anunciou sua desconversão do ateísmo darwinista e adesão ao teísmo, por causa das evidências de propósito inteligente na natureza. Mais recentemente o biólogo molecular James Shapiro, da Universidade de Chicago, ele mesmo também ateu, publicou o livro Evolution: A View from 21st Century onde desconstrói impiedosamente a evolução darwinista.
E agora é a vez de Thomas Nagel, professor de filosofia e direito da Universidade de Nova York, membro da Academia Americana de Artes e Ciências, ganhador de vários prêmios com seus livros sobre filosofia, e um ateu declarado. Ele acaba de publicar o livro Mind & Cosmos (“Mente e Cosmos”) com o provocante subtítulo Why the materialist neo-darwinian conception of nature is almost certainly false (“Por que a concepção neo-darwinista materialista da natureza é quase que certamente falsa”), onde aponta as fragilidades do materialismo naturalista que serve de fundamento para as pretensões neo-darwinistas de construir uma teoria do todo (Não pretendo fazer uma resenha do livro. Para quem lê inglês, indico a excelente resenha feita por William Dembski e o comentário breve de Alvin Plantinga).
Estou mencionando estes intelectuais e cientistas ateus por que quando intelectuais e cientistas cristãos declaram sua desconfiança quanto à evolução darwinista são descartados por serem “religiosos”. Então, tá. Mas, e quando os próprios ateus engrossam o coro dos dissidentes?
Neste post eu gostaria apenas de destacar algumas declarações de Nagel no livro que revelam a consciência clara que ele tem de que uma concepção puramente materialista da vida e de seu desenvolvimento, como a evolução darwinista, é incapaz de explicar a realidade como um todo. Embora ele mesmo rejeite no livro a possibilidade de que a realidade exista pelo poder criador de Deus, ele é capaz de enxergar que a vida é mais do que reações químicas baseadas nas leis físicas e descritas pela matemática. A solução que ele oferece – que a mente sempre existiu ao lado da matéria – não tem qualquer comprovação, como ele mesmo admite, mas certamente está mais perto da concepção teísta do que do ateísmo materialista do darwinismo.
Ele deixa claro que sua crítica procede de sua própria análise científica e que mesmo assim não será bem vinda nos círculos acadêmicos:
“O meu ceticismo [quanto ao evolucionismo darwinista] não é baseado numa crença religiosa ou numa alternativa definitiva. É somente a crença de que a evidência científica disponível, apesar do consenso da opinião científica, não exige racionalmente de nós que sujeitemos este ceticismo [a este consenso] neste assunto” (p. 7).
“Eu tenho consciência de que dúvidas desta natureza vão parecer um ultraje a muita gente, mas isto é porque quase todo mundo em nossa cultura secular tem sido intimidado a considerar o programa de pesquisa reducionista [do darwinismo] como sacrossanto, sob o argumento de que qualquer outra coisa não pode ser considerada como ciência” (p.7).
Ele profetiza o fim do naturalismo materialista, o fundamento do evolucionismo darwinista:
“Mesmo que o domínio [no campo da ciência] do naturalismo materialista está se aproximando do fim, precisamos ter alguma noção do que pode substitui-lo” (p. 15).
Para ele, quanto mais descobrimos acerca da complexidade da vida, menos plausível se torna a explicação naturalista materialista do darwinismo para sua origem e desenvolvimento:
“Durante muito tempo eu tenho achado difícil de acreditar na explicação materialista de como nós e os demais organismos viemos a existir, inclusive a versão padrão de como o processo evolutivo funciona. Quanto mais detalhes aprendemos acerca da base química da vida e como é intrincado o código genético, mais e mais inacreditável se torna a explicação histórica padrão [do darwinismo]” (p. 5).
“É altamente implausível, de cara, que a vida como a conhecemos seja o resultado da sequência de acidentes físicos junto com o mecanismo da seleção natural” (p. 6).
Não teria havido o tempo necessário para que a vida surgisse e se desenvolvesse debaixo da seleção natural e mutações aleatórias:
“Com relação à evolução, o processo de seleção natural não pode explicar a realidade sem um suprimento adequado de mutações viáveis, e eu acredito que ainda é uma questão aberta se isto poderia ter acontecido no tempo geológico como mero resultado de acidentes químicos, sem a operação de outros fatores determinando e restringindo as formas das variações genéticas” (p. 9).
Nagel surpreendentemente defende os proponentes mais conhecidos do design inteligente:
“Apesar de que escritores como Michael Behe e Stephen Meyer[1] sejam motivados parcialmente por suas convicções religiosas, os argumentos empíricos que eles oferecem contra a possibilidade da vida e sua história evolutiva serem explicados plenamente somente com base na física e na química são de grande interesse em si mesmos… Os problemas que estes iconoclastas levantam contra o consenso cientifico ortodoxo deveriam ser levados a sério. Eles não merecem a zombaria que têm recebido. É claramente injusta” (p.11).
Num parágrafo quase confessional, Nagel reconhece que lhe falta o sentimento do divino que ele percebe em muitos outros:
“Confesso um pressuposto meu que não tem fundamento, que não considero possível a alternativa do design inteligente como uma opção real – me falta aquele sensus divinitatis [senso do divino] que capacita – na verdade, impele – tantas pessoas a ver no mundo a expressão do propósito divina da mesma maneira que percebem num rosto sorridente a expressão do sentimento humano” (p.12).
Para Nagel, o evolucionismo darwinista, com sua visão materialista e naturalista da realidade, não consegue explicar o que transcende o mundo material, como a mente e tudo que a acompanha:
“Nós e outras criaturas com vida mental somos organismos, e nossa capacidade mental depende aparentemente de nossa constituição física. Portanto, aquilo que explicar a existência de organismos como nós deve explicar também a existência da mente. Mas, se o mental não é em si mesmo somente físico, não pode, então, ser plenamente explicado pela ciência física. E então, como vou argumentar mais adiante, é difícil evitar a conclusão que aqueles aspectos de nossa constituição física que trazem o mental consigo também não podem ser explicados pela ciência física. Se a biologia evolutiva é uma teoria física – como geralmente é considerada – então não pode explicar o aparecimento da consciência e de outros fenômenos que não podem ser reduzidos ao aspecto físico meramente” (p. 15).
“Uma alternativa genuína ao programa reducionista [do darwinismo] irá requerer uma explicação de como a mente e tudo o que a acompanha é inerente ao universo” (p.15).
“Os elementos fundamentais e as leis da física e da química têm sido assumidos para se explicar o comportamento do mundo inanimado. Algo mais é necessário para explicar como podem existir criaturas conscientes e pensantes, cujos corpos e cérebros são feitos destes elementos” (p.20).
Menciono por último a perspicaz observação de Nagel, que se a mente existe porque sobreviveu através da seleção natural, isto é, por ter se tornado na coisa mais esperta para sobreviver, como poderemos confiar nela? E aqui ele cita e concorda com Alvin Plantinga, um filósofo reformado renomado:
“O evolucionismo naturalista provê uma explicação de nossas capacidades [mentais] que mina a confiabilidade delas, e ao fazer isto, mina a si mesmo” (p. 27).
“Eu concordo com Alvin Plantinga que, ao contrário da benevolência divina, a aplicação da teoria da evolução à compreensão de nossas capacidades cognitivas acaba por minar nossa confiança nelas, embora não a destrua por completo. Mecanismos formadores de crenças e que têm uma vantagem seletiva no conflito diário pela sobrevivência não merecem a nossa confiança na construção de explicações teóricas do mundo como um todo… A teoria da evolução deixa a autoridade da razão numa posição muito mais fraca. Especialmente no que se refere à nossa capacidade moral e outras capacidades normativas – nas quais confiamos com frequência para corrigir nossos instintos. Eu concordo com Sharon Street [professora de filosofia na Universidade de Nova York] que uma auto-compreensão evolucionista quase que certamente haveria de requerer que desistíssemos do realismo moral, que é a convicção natural de que nossos juízos morais são verdadeiros ou falsos independentemente de nossas crenças” (p.28).
Não consegui ler Nagel sem lembrar do que a Bíblia diz:
“Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim” (Eclesiastes 3:11).
“De um só Deus fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós” (Atos 17:26-27).
Nagel tem o sensus divinitatis, sim, pois o mesmo é o reflexo da imagem de Deus em cada ser humano, ainda que decaídos como somos. Infelizmente o seu ateísmo o impede de ver aquilo que sua razão e consciência, tateando, já tocaram.
[1] Os dois são os mais conhecidos defensores da teoria do design inteligente. Ambos já vieram falar no Mackenzie sobre este assunto.
O padrão de Deus para o exercício da sexualidade humana é o relacionamento entre um homem e uma mulher no ambiente do casamento. Nesta área, a Bíblia só deixa duas opções para os cristãos: casamento heterossexual e monogâmico ou uma vida celibatária. À luz das Escrituras, relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo são vistas não como opção ou alternativa, mas sim como abominação, pecado e erro, sendo tratada como prática contrária à natureza. Contudo, neste tempo em que vivemos, cresce na sociedade em geral, e em setores religiosos, uma valorização da homossexualidade como comportamento não apenas aceitável, mas supostamente compatível com a vida cristã. Diferentes abordagens teológicas têm sido propostas no sentido de se admitir que homossexuais masculinos e femininos possam ser aceitos como parte da Igreja e expressar livremente sua homoafetividade no ambiente cristão.
Existem muitas passagens na Bíblia que se referem ao relacionamento sexual padrão, normal, aceitável e ordenado por Deus, que é o casamento monogâmico heterossexual. Desde o Gênesis, passando pela lei e pela trajetória do povo hebreu, até os evangelhos e as epístolas do Novo Testamento, a tradição bíblica aponta no sentido de que Deus criou homem e mulher com papéis sexuais definidos e complementares do ponto de vista moral, psicológico e físico. Assim, é evidente que não é possível justificar o relacionamento homossexual a partir das Escrituras, e muito menos dar à Bíblia qualquer significado que minimize ou neutralize sua caracterização como ato pecaminoso. Em nenhum momento, a Palavra de Deus justifica ou legitima um estilo homossexual de vida, como os defensores da chamada “teologia inclusiva” têm tentado fazer. Seus argumentos têm pouca ou nenhuma sustentação exegética, teológica ou hermenêutica.
A “teologia inclusiva” é uma abordagem segundo a qual, se Deus é amor, aprovaria todas as relações humanas, sejam quais forem, desde que haja este sentimento. Essa linha de pensamento tem propiciado o surgimento de igrejas onde homossexuais, nesta condição, são admitidos como membros e a eles é ensinado que o comportamento gay não é fator impeditivo à vida cristã e à salvação. Assim, desde que haja amor genuíno entre dois homens ou duas mulheres, isso validaria seu comportamento, à luz das Escrituras. A falácia desse pensamento é que a mesma Bíblia que nos ensina que Deus é amor igualmente diz que ele é santo e que sua vontade quanto à sexualidade humana é que ela seja expressa dentro do casamento heterossexual, sendo proibidas as relações homossexuais.
Em segundo lugar, a “teologia inclusiva” defende que as condenações encontradas no Antigo Testamento, especialmente no livro de Levítico, se referem somente às relações sexuais praticadas em conexão com os cultos idolátricos e pagãos, como era o caso dos praticados pelas nações ao redor de Israel. Além disso, tais proibições se encontram ao lado de outras regras contra comer sangue ou carne de porco, que já seriam ultrapassadas e, portanto, sem validade para os cristãos. Defendem ainda que a prova de que as proibições das práticas homossexuais eram culturais e cerimoniais é que elas eram punidas com a morte – coisa que não se admite a partir da época do Novo Testamento.
É fato que as relações homossexuais aconteciam inclusive – mas não exclusivamente – nos cultos pagãos dos cananeus. Contudo, fica evidente que a condenação da prática homossexual transcende os limites culturais e cerimoniais, pois é repetida claramente no Novo Testamento. Ela faz parte da lei moral de Deus, válida em todas as épocas e para todas as culturas. A morte de Cristo aboliu as leis cerimoniais, como a proibição de se comer determinados alimentos, mas não a lei moral, onde encontramos a vontade eterna do Criador para a sexualidade humana. Quando ao apedrejamento, basta dizer que outros pecados punidos com a morte no Antigo Testamento continuam sendo tratados como pecado no Novo, mesmo que a condenação capital para eles tenha sido abolida – como, por exemplo, o adultério e a desobediência contumaz aos pais.
PECADO E DESTRUIÇÃO
Os teólogos inclusivos gostam de dizer que Jesus Cristo nunca falou contra o homossexualismo. Em compensação, falou bastante contra a hipocrisia, o adultério, a incredulidade, a avareza e outros pecados tolerados pelos cristãos. Este é o terceiro ponto: sabe-se, todavia, que a razão pela qual Jesus não falou sobre homossexualidade é que ela não representava um problema na sociedade judaica de sua época, que já tinha como padrão o comportamento heterossexual. Não podemos dizer que não havia judeus que eram homossexuais na época de Jesus, mas é seguro afirmar que não assumiam publicamente esta conduta. Portanto, o homossexualismo não era uma realidade social na Palestina na época de Jesus. Todavia, quando a Igreja entrou em contato com o mundo gentílico – sobretudo as culturas grega e romana, onde as práticas homossexuais eram toleradas, embora não totalmente aceitas –, os autores bíblicos, como Paulo, incluíram as mesmas nas listas de pecados contra Deus. Para os cristãos, Paulo e demais autores bíblicos escreveram debaixo da inspiração do Espírito Santo enviado por Jesus Cristo. Portanto, suas palavras são igualmente determinantes para a conduta da Igreja nos dias de hoje.
O quarto ponto equivocado da abordagem que tenta fazer do comportamento gay algo normal e aceitável no âmbito do Cristianismo é a suposição de que o pecado de Sodoma e Gomorra não foi o homossexualismo, mas a falta de hospitalidade para com os hóspedes de Ló. A base dos teólogos inclusivos para esta afirmação é que no original hebraico se diz que os homens de Sodoma queriam “conhecer” os hóspedes de Ló (Gênesis 19.5) e não abusar sexualmente deles, como é traduzido em várias versões, como na Almeida atualizada. Outras versões como a Nova versão internacional e a Nova tradução na linguagem de hoje entendem que conhecer ali é conhecer sexualmente e dizem que os concidadãos de Ló queriam “ter relações” com os visitantes, enquanto a SBP é ainda mais clara: “Queremos dormir com eles”. Usando-se a regra de interpretação simples de analisar palavras em seus contextos, percebe-se que o termo hebraico usado para dizer que os homens de Sodoma queriam “conhecer” os hóspedes de Ló (yadah) é o mesmo termo que Ló usa para dizer que suas filhas, que ele oferecia como alternativa à tara daqueles homens, eram virgens: “Elas nunca conheceram (yadah) homem”, diz o versículo 8. Assim, fica evidente que “conhecer”, no contexto da passagem de Gênesis, significa ter relações sexuais. Foi esta a interpretação de Filo, autor judeu do século 1º, em sua obra sobre a vida de Abraão: segundo ele, “os homens de Sodoma se acostumaram gradativamente a ser tratados como mulheres.”
Ainda sobre o pecado cometido naquelas cidades bíblicas, que acabaria acarretando sua destruição, a “teologia inclusiva” defende que o profeta Ezequiel claramente diz que o erro daquela gente foi a soberba e a falta de amparo ao pobre e ao necessitado (Ez 16.49). Contudo, muito antes de Ezequiel, o “sodomita” era colocado ao lado da prostituta na lei de Moisés: o rendimento de ambos, fruto de sua imoralidade sexual, não deveria ser recebido como oferta a Deus, conforme Deuteronômio 23.18. Além do mais, quando lemos a declaração do profeta em contexto, percebemos que a soberba e a falta de caridade era apenas um entre os muitos pecados dos sodomitas. Ezequiel menciona as “abominações” dos sodomitas, as quais foram a causa final da sua destruição: “Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranquilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado. Foram arrogantes e fizeram abominações diante de mim; pelo que, em vendo isto, as removi dali” (Ez 16.49-50). Da mesma forma, Pedro, em sua segunda epístolas, refere-se às práticas pecaminosas dos moradores de Sodoma e Gomorra tratando-as como “procedimento libertino”.
Um quinto argumento é que haveria alguns casos de amor homossexual na Bíblia, a começar pelo rei Davi, para quem o amor de seu amigo Jônatas era excepcional, “ultrapassando o das mulheres” (II Samuel 1.26). Contudo, qualquer leitor da Bíblia sabe que o maior problema pessoal de Davi era a falta de domínio próprio quanto à sua atração por mulheres. Foi isso que o levou a casar com várias delas e, finalmente, a adulterar com Bate-Seba, a mulher de Urias. Seu amor por Jônatas era aquela amizade intensa que pode existir entre duas pessoas do mesmo sexo e sem qualquer conotação erótica. Alguns defensores da “teologia inclusiva” chegam a categorizar o relacionamento entre Jesus e João como homoafetivo, pois este, sendo o discípulo amado do Filho de Deus, numa ocasião reclinou a sua cabeça no peito do Mestre (João 13.25). Acontece que tal atitude, na cultura oriental, era uma demonstração de amizade varonil – contudo, acaba sendo interpretada como suposta evidência de um relacionamento homoafetivo. Quem pensa assim não consegue enxergar amizade pura e simples entre pessoas do mesmo sexo sem lhe atribuir uma conotação sexual.
“TORPEZA”
Há uma sexta tentativa de reinterpretar passagens bíblicas com objetivo de legitimar a homossexualidade. Os propagadores da “teologia gay” dizem que, no texto de Romanos 1.24-27, o apóstolo Paulo estaria apenas repetindo a proibição de Levítico à prática homossexual na forma da prostituição cultual, tanto de homens como de mulheres – proibição esta que não se aplicaria fora do contexto do culto idolátrico e pagão. Todavia, basta que se leia a passagem para ficar claro o que Paulo estava condenando. O apóstolo quis dizer exatamente o que o texto diz: que homens e mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza, e que se inflamaram mutuamente em sua sensualidade – homens com homens e mulheres com mulheres –, “cometendo torpeza” e “recebendo a merecida punição por seus erros”. E ao se referir ao lesbianismo como pecado, Paulo deixa claro que não está tratando apenas da pederastia, como alguns alegam, visto que a mesma só pode acontecer entre homens, mas a todas as relações homossexuais, quer entre homens ou mulheres.
É alegado também que, em I Coríntios 6.9, os citados efeminados e sodomitas não seriam homossexuais, mas pessoas de caráter moral fraco (malakoi, pessoa “macia” ou “suave”) e que praticam a imoralidade em geral (arsenokoites, palavra que teria sido inventada por Paulo). Todavia, se este é o sentido, o que significa as referências a impuros e adúlteros, que aparecem na mesma lista? Por que o apóstolo repetiria estes conceitos? Na verdade, efeminado se refere ao que toma a posição passiva no ato homossexual – este é o sentido que a palavra tem na literatura grega da época, em autores como Homero, Filo e Josefo – e sodomita é a referência ao homem que deseja ter coito com outro homem.
Há ainda uma sétima justificativa apresentada por aqueles que acham que a homossexualidade é compatível com a fé cristã. Segundo eles, muitas igrejas cristãs históricas, hoje, já aceitam a prática homossexual como normal – tanto que homossexuais praticantes, homens e mulheres, têm sido aceitos não somente como membros mas também como pastores e pastoras. Essas igrejas, igualmente, defendem e aceitam a união civil e o casamento entre pessoa do mesmo sexo. É o caso, por exemplo, da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos – que nada tem a ver com a Igreja Presbiteriana do Brasil –, da Igreja Episcopal no Canadá e de igrejas em nações européias como Suécia, Noruega e Dinamarca, entre outras confissões. Na maioria dos casos, a aceitação da homossexualidade provocou divisões nestas igrejas, e é preciso observar, também, que só aconteceu depois de um longo processo de rejeição da inspiração, infalibilidade e autoridade da Bíblia. Via de regra, essas denominações adotaram o método histórico-crítico – que, por definição, admite que as Sagradas Escrituras são condicionadas culturalmente e que refletem os erros e os preconceitos da época de seus autores. Desta forma, a aceitação da prática homossexual foi apenas um passo lógico. Outros ainda virão. Todavia, cristãos que recebem a Bíblia como a infalível e inerrante Palavra de Deus não podem aceitar a prática homossexual, a não ser como uma daquelas relações sexuais consideradas como pecaminosas pelo Senhor, como o adultério, a prostituição e a fornicação.
Contudo, é um erro pensar que a Bíblia encara a prática homossexual como sendo o pecado mais grave de todos. Na verdade, existe um pecado para o qual não há perdão, mas com certeza não se trata da prática homossexual: é a blasfêmia contra o Espírito Santo, que consiste em atribuir a Satanás o poder pelo qual Jesus Cristo realizou os seus milagres e prodígios aqui neste mundo, mencionado em Marcos 3.22-30. Consequentemente, não está correto usar a Bíblia como base para tratar homossexuais como sendo os piores pecadores dentre todos, que estariam além da possibilidade de salvação e que, portanto, seriam merecedores de ódio e desprezo. É lamentável e triste que isso tenha acontecido no passado e esteja se repetindo no presente. A mensagem da Bíblia é esta: “Todos pecaram e carecem da glória de Deus”, conforme Romanos 3.23. Todos nós precisamos nos arrepender de nossos pecados e nos submetermos a Jesus Cristo, o Salvador, pela fé, para recebermos o perdão e a vida eterna.
Lembremos ainda que os autores bíblicos sempre tratam da prática homossexual juntamente com outros pecados. O 20º capítulo de Levítico proíbe não somente as relações entre pessoas do mesmo sexo, como também o adultério, o incesto e a bestialidade. Os sodomitas e efeminados aparecem ao lado dos adúlteros, impuros, ladrões, avarentos e maldizentes, quando o apóstolo Paulo lista aqueles que não herdarão o Reino de Deus (I Coríntios 6.9-10). Porém, da mesma forma que havia nas igrejas cristãs adúlteros e prostitutas que haviam se arrependido e mudado de vida, mediante a fé em Jesus Cristo, havia também efeminados e sodomitas na lista daqueles que foram perdoados e transformados.
COMPAIXÃO
É fundamental, aqui, fazer uma importante distinção. O que a Bíblia condena é a prática homossexual, e não a tentação a esta prática. Não é pecado ser tentado ao homossexualismo, da mesma forma que não é pecado ser tentado ao adultério ou ao roubo, desde que se resista. As pessoas que sentem atração por outras do mesmo sexo devem lembrar que tal desejo é resultado da desordem moral que entrou na humanidade com a queda de Adão e que, em Cristo Jesus, o segundo Adão, podem receber graça e poder para resistir e vencer, sendo justificados diante de Deus.
Existem várias causas identificadas comumente para a atração por pessoas do mesmo sexo, como o abuso sexual sofrido na infância. Muitos gays provêm de famílias disfuncionais ou tiveram experiências negativas com pessoas do sexo oposto. Há aqueles, também, que agem deliberadamente por promiscuidade e têm desejo de chocar os outros. Um outro fator a se levar em conta são as tendências genéticas à homossexualidade, cuja existência não está comprovada até agora e tem sido objeto de intensa polêmica. Todavia, do ponto de vista bíblico, o homossexualismo é o resultado do abandono da glória de Deus, da idolatria e da incredulidade por parte da raça humana, conforme Romanos 1.18-32. Portanto, não é possível para quem crê na Bíblia justificar as práticas homossexuais sob a alegação de compulsão incontrolável e inevitável, muito embora os que sofrem com esse tipo de impulso devam ser objeto de compaixão e ajuda da Igreja cristã.
É preciso também repudiar toda manifestação de ódio contra homossexuais, da mesma forma com que o fazemos em relação a qualquer pessoa. Isso jamais nos deveria impedir, todavia, de declarar com sinceridade e respeito nossa convicção bíblica de que a prática homossexual é pecaminosa e que não podemos concordar com ela, nem com leis que a legitimam. Diante da existência de dispositivos legais que permitem que uma pessoa deixe ou transfira seus bens a quem ele queira, ainda em vida, não há necessidade de leis legitimando a união civil de pessoas de mesmo sexo – basta a simples manifestação de vontade, registrada em cartório civil, na forma de testamento ou acordo entre as partes envolvidas. O reconhecimento dos direitos da união homoafetiva valida a prática homossexual e abre a porta para o reconhecimento de um novo conceito de família. No Brasil, o reconhecimento da união civil de pessoas do mesmo sexo para fins de herança e outros benefícios aconteceu ao arrepio do que diz a Constituição: “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento” (Art. 226, § 3º).
Cristãos que recebem a Bíblia como a palavra de Deus não podem ser a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, uma vez que seria a validação daquilo que as Escrituras, claramente, tratam como pecado. O casamento está no âmbito da autoridade do Estado e os cristãos são orientados pela Palavra de Deus a se submeter às autoridades constituídas; contudo, a mesma Bíblia nos ensina que nossa consciência está submissa, em última instância, à lei de Deus e não às leis humanas – “Importa antes obedecer a Deus que os homens” (Atos 5.29). Se o Estado legitimar aquilo que Deus considera ilegítimo, e vier a obrigar os cristãos a irem contra a sua consciência, eles devem estar prontos a viver, de maneira respeitosa e pacífica em oposição sincera e honesta, qualquer que seja o preço a ser pago.
Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. (Filipenses 2.5-7)
A frase “Ele se esvaziou de si mesmo” é destacada entre as várias questões nesta passagem que tem levado muitos estudantes das Escrituras a tropeçarem nas mais infelizes maneiras. Muitos teólogos têm se perguntado: “Do que Cristo se esvaziou?” E, infelizmente, as respostas para essa pergunta quase sempre apontam que Cristo de alguma forma se esvaziou da sua divindade – que de alguma maneira ele deixou de ser plenamente Deus na sua encarnação. Alguns acreditam que Cristo se esvaziou na sua igualdade essencial com Deus, de tal forma que durante a encarnação ele era verdadeiramente homem, mas limitado na sua divindade em um grau que ele não era nada além de um homem. Outros acreditam que Cristo manteve seus “atributos essenciais” da divindade, como santidade e graça, mas abriu mão do que eles chamam de seus “atributos relativos”, como onisciência, onipotência, onipresença e imutabilidade. Esses são exemplos do que é chamado de “teologia kenótica” (da palavra kenóō, do Grego, traduzida como “se esvaziou” no verso 7).
Evitando a Teologia Kenótica
Não só é impossível, por definição, para o eterno, auto-existente, imortal e imutável Deus deixar de existir como Deus, mas também o Novo Testamento nos leva a rejeitar qualquer tipo de teologia kenótica. No tempo dele aqui na Terra, o Senhor Jesus nunca deixou de ser plenamente Deus ou deixou de ser igual, em essência, com o Pai. Ao longo do seu ministério Ele só reafirmou essas coisas. Ele disse aos judeus, simples como pode ser dito: “Eu e o Pai somos Um” (João 10.30). E os judeus entenderam a mensagem, porque eles pegaram pedras para mata-lo por blasfêmia: “Você, sendo homem, se fez como Deus!”. E o próprio Jesus afirmava isso por todos os lugares. Ele diz a Filipe, “se viu a mim, você viu o Pai” (Joao 14.9). Mesmo como homem, o Filho tem autoridade sobre toda carne (Joao 17.2). Quando Tomé se curva diante dele em João 20.28 e o confessa como Senhor e Deus, Jesus aceita aquela adoração. E claro, no Monte da Transfiguração, a divindade de Jesus é revelada de forma visível, quando ele se desfaz do véu da humanidade, como ele era, e deixa sua essência da Glória Divina interior brilhar (Mateus 17.2). Assim, Cristo não esvazia a si mesmo de sua divindade. Ele não renuncia seus atributos divinos.
Um esvaziamento por adição
Então do que ele se esvaziou? Bom, primeiro nós temos que entender corretamente o termo kenóō. Embora o verbo signifique “esvaziar”, por todo lado no Novo Testamento é usado em um sentido metafórico. No uso do Novo Testamento, kenóō não significa “derramar”, como se Jesus tivesse colocando alguma coisa para fora de si mesmo. Existe outra palavra grega, ekchéo, que é usada nesse sentido (ver Lucas 22.20; João 2.15; Tito 3.6). Ao invés disso, kenóō significa “invalidar”, “anular”, “tornar sem efeito”. Paulo usa nesse sentido em Romanos 4.14, quando diz, “Para aqueles que são da Lei são herdeiros, fé é feita inválida e a promessa é anulada.” Nesse texto, ninguém pergunta “do que a fé se esvaziou?”. Claramente, a ideia é que, se a justiça pode vir pela lei, a fé seria anulada, ela não daria em nada. Sendo assim “do que Cristo se esvaziou?” é a pergunta errada. Cristo esvaziou a si mesmo – Ele se anulou a si mesmo. Ele tornou a si mesmo sem nenhum efeito. A versão King James adota essa ideia em sua tradução. Ela diz que Cristo “fez-se sem reputação.” A NIV também fica com essa ideia, e traduz: Ele “se fez nada”.
A palavra seguinte nos diz como ele se fez nada: “… [Ele] se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens”. Cristo se fez sem nenhum efeito ao assumir a natureza humana em sua encarnação. Este é um esvaziamento por adição. É uma subtração por adição.
O Senhor se torna escravo
Nós podemos ter dificuldades para entender a gravidade desse esvaziamento porque já estamos aqui embaixo. Mas precisamos lembrar do que ele abriu mão. O Criador do Universo, o possuidor de toda majestade divina, o Senhor e Mestre tomou a forma de um servo. E é surpreendente ler sobre o que significava ser um escravo no primeiro Século. Peter O’Brien diz: “Escravidão apontava para a extrema privação dos direitos de alguém”. Gerald Hawthorne escreve que um escravo é “ a pessoa sem vantagens, que não possui direitos ou privilégios, para o expresso propósito de se colocar a serviço de todos”. E para ter uma boa ideia, Walter Hansen diz, “Um escravo tem a mais baixa posição; ele é impotente; ele não tem direitos. Ele não tem glória, nem honra, só vergonha”.
Apesar de todas as analogias passarem longe da realidade, um livro de Mark Twain, O Príncipe e o Mendigo, talvez ajude a ilustrar. O Príncipe e o Mendigo é uma história sobre Edward, filho do Rei Henrique VIII, que temporariamente trocou de lugar com Tom, um rapaz pobre de Londres. Os garotos trocam as roupas. Tom vai para Corte Real e o Príncipe Edward vai para casa de Tom e tenta lidar com pai bêbado e abusivo de Tom, junto com outras misérias da vida de mendicância. Mas, durante esse tempo, o jovem príncipe não entregou sua identidade. De fato ele ainda era o Príncipe de Gales, e poderia ter exercido seu poder como tal em qualquer momento que ele quisesse. Mas sua realeza, que ele tinha total posse por todo o tempo, não poderia ser totalmente expressada enquanto ele escolhesse se submeter à vida como um miserável.
Da mesma forma, mesmo colocando sobre si a natureza de um escravo, Cristo possuía totalmente Sua natureza, atributos e prerrogativas divinas. Mas pelo objetivo de se tornar verdadeiramente humano – para ser feito como seus irmãos em todas as coisas, no objetivo de ser misericordioso e fiel sumo sacerdote (Hebreus 2.17) – Ele não expressou totalmente sua natureza, atributos e prerrogativas divinas. Eles foram velados. Houve certos momentos que ele as expressou, como quando leu a mente das pessoas (Mateus 9.4) e operou milagres divinos. Mas o Príncipe se submeteu voluntariamente à vida de um Mendigo. Ele não era o que ele era na glória do Céu. Ele agora era totalmente humano. Não apenas colocou um disfarce humano; era humano no seu sentido mais amplo. Mas não era nem um pouco menos do que totalmente Deus ao mesmo tempo.
Da Teologia para a Doxologia
O problema da kenosis e das complexidades da Cristologia ensinadas em Filipenses 2, mesmo que intelectualmente estimulantes, não estão na Bíblia porque Paulo decidiu que os Filipenses precisavam de um sermão sobre a união hipostática. Essa teologia sublime quer nos elevar à exaltada doxologia. Esta doutrina gloriosa deve nos colocar de joelhos em adoração.
Precisamos nos maravilhar com a humildade do Senhor Jesus, antes mesmo dele se tornar homem. Deus, o Filho, contemplou todas as riquezas da sua glória antes da encarnação, e no entanto, submissamente escolheu assumir a natureza humana e a fraqueza da carne humana para viver e morrer como um escravo de todos. Na linguagem de Filipenses 2.3-4, ele não fazia nada por egoísmo, mas considerando os outros como mais importantes do que a si mesmo. Ele não estava simplesmente à procura de seus próprios interesses, mas dos interesses de outros. Jesus poderia ter se apegado à Sua igualdade com o Pai? Claro. Como Deus eterno, Ele tinha todo o direito de fazê-lo. Mas por causa de sua obediência amorosa ao seu Pai, seu prazer na vontade do Pai, e do seu amor pelos pecadores, ele considerou esses abençoados privilégios como algo a ser entregue.
Da Doxologia para Obediência
E da mesma forma, no meio de um conflito com um irmão ou irmã em Cristo, ou com um membro da família, ou mesmo com um cônjuge – embora possamos estar certos sobre alguma coisa, e termos um bom argumento, nós podemos pensar sobre o Único que já teve o direito de fazer valer os seus direitos e não o fez, e podemos considerar o outro como mais importante do que nós mesmos, e dar preferência à honra do outro (Romanos 12.10) em nome da unidade. Você vê? Nossa doxologia – nossa adoração e admiração por Cristo por Sua humildade – deve se traduzir em obediência fiel. Deve “haver em nós a mesma atitude que houve em Cristo Jesus”, e nos humilharmos.
Calvino disse: “Ele abriu mão do seu direito: tudo o que é exigido de nós é que não nos assumamos além do que devemos”. Aquele que sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder se submeteu a ser mantido pelo amamentar de uma jovem hebreia solteira.
Se o Filho de Deus desceu até esse ponto, a qual o nível de humildade você vai se recusar a descer?
Traduzido por Débora Batista | iPródigo.com | Original aqui
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