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Biografia Robert Murray MacCheyne Testemunho

Robert Murray McCheyne, o homem que não era como os demais

Era inverno. Sentados próximo ao fogo, dois pedreiros estavam dedicados a sua tarefa. De repente, um desconhecido aproximou-se deles, desceu do cavalo e, imediatamente, passou a conversar sobre o estado espiritual da alma deles. Servindo-se das vivas chamas da fogueira como ilustração, o jovem desconhecido pregou verdades alarmantes. Com profunda surpresa, os pedreiros exclamaram: “Você não é um homem como os demais!” Ao que o desconhecido — que era Robert McCheyne — respondeu: “Eu sou, simplesmente, um homem como os demais”.

Parece que, tanto a leitura dos sermões de McCheyne quanto de sua biografia, fazem brotar do coração do leitor a mesma exclamação dos pedreiros: que, certamente, Robert McCheyne não foi um homem como os demais. Seu ministério, certamente muito breve, tornou-se uma das luzes mais brilhantes do evangelho na Escócia. Pureza doutrinária e fervor evangélico impregnaram por completo a pregação desse grande servo de Deus. Em McCheyne encontramos aquela característica tão sublime — e muito rara, infelizmente — de uma harmoniosa correspondência entre pregação e vida. A vida de McCheyne, que alguém definiu como “um dos mais belos exemplos da obra do Espírito Santo”, foi caracterizada por um alto grau de santidade e consagração.

Nascimento e infância

Robert Murray McCheyne nasceu em Edimburgo em 29 de maio de 1813, numa época em que os primeiros resplendores de um grande ressurgimento espiritual tinham lugar na Escócia. Entre os preparativos secretos com que Deus contava para derramar sobre Seu povo dias de verdadeiro e profundo refrigério espiritual se achava o nascimento do mais jovem dos cinco filhos de Adam McCheyne.

Já desde a infância, Robert deu mostras de possuir uma natureza doce e afável, ao mesmo tempo em que todos podiam apreciar nele uma mente ágil e uma memória prodigiosa. Com a idade de quatro anos, enquanto se recuperava de uma enfermidade, Robert fez do estudo do hebraico e do grego seu passatempo favorito. Com oito anos, ingressou na escola superior para passar, anos mais tarde, para a Universidade de Edimburgo. Em ambos centros de ensino, distinguiu-se como estudante privilegiado, de forma especial nos exercícios poéticos. Ele é descrito como tendo boa estatura, cheio de agilidade e vigor, ambicioso, ao mesmo tempo em que era nobre em sua disposição, evitando qualquer forma de engano em sua conduta. Alguns consideravam que ele possuía, de forma inata, todas as virtudes do caráter cristão; mas, segundo seu próprio testemunho, aquela pura moralidade exterior por ele exibida nascia de um coração farisaico e, exatamente como muitos de seus companheiros, ele se empenhava para encher sua vida de prazeres mundanos.

Morte do irmão

A morte de seu irmão David causou uma profunda impressão em sua alma. Seu diário contém numerosas alusões a esse fato. Anos mais tarde, escrevendo a um amigo, Robert disse: “Ora por mim, para que eu possa ser mais santo e mais sábio, menos como eu mesmo sou e mais como meu Senhor é […] Hoje faz sete anos que perdi meu querido irmão, mas comecei a encontrar o Irmão que não pode morrer”.

A partir desse fato, sua terna consciência despertou para a realidade do pecado e das profundezas de sua corrupção. “Que infame massa de corrupção eu tenho sido! Vivi uma grande parte de minha vida completamente separado de Deus e para o mundo. Entreguei-me completamente ao gozo dos sentidos e às coisas que perecem ao meu redor”.

Ainda que ele nunca tenha sabido a data exata de seu novo nascimento, jamais abrigou qualquer temor de que isso não houvesse ocorrido. A segurança de sua salvação foi algo característico de seu ministério, de modo que sua grande preocupação foi, em todo tempo, obter uma maior santidade de vida.

Estudos e piedade pessoal

No inverno de 1831, iniciou seus estudos na Divinity Hall, onde Thomas Chalmers era professor de Teologia, e David Welsh o era de História Eclesiástica. Com outros companheiros — Edward Irving, Horatius e Andrew Bonar (que, mais tarde, escreveu sua biografia) — e fervorosos amigos, Robert McCheyne se reunia para orar e estudar a Bíblia, especialmente nas línguas originais. Quando o Dr. Chalmers foi informado do modo simples e literal como McCheyne esquadrinhava as Sagradas Escrituras, não pode senão dizer: “Eu gosto dessa literalidade!” Verdadeiramente, todos os sermões deste grande servo de Deus são caracterizados por uma profunda fidelidade ao texto bíblico. Já neste período de sua vida, McCheyne dava mostra de um grande amor pelas almas perdidas e, junto com seus estudos, dedicava várias horas por semana à pregação do evangelho, tarefa que realizava quase sempre nos bairros pobres e mais baixos de Edimburgo.

Do mesmo modo que outros grandes servos de Deus, McCheyne tinha uma clara consciência da radical seriedade do pecado. A compreensão clara da condição pecadora do homem era para ele requisito imprescindível para fazer com que o coração sentisse a necessidade de Cristo como único Salvador e também era uma experiência necessária para uma vida de santidade. Seu diário dá testemunho de quão severo era no juízo que fazia de si mesmo. “Senhor, se nenhuma outra coisa pode livrar-me de meus pecados a não ser a dor e as provas, envia-mas, Senhor, para que eu possa ser livrado de meus membros carregados de carnalidade”. Mesmo nas mais gloriosas experiências do crente, McCheyne podia descobrir traços de pecado; por isso, disse em certa ocasião: “Até mesmo nossas lágrimas de arrependimento estão manchadas de pecado.”

Andrew Bonar escreveu sobre seu amigo nos seguintes termos: “Durante os primeiros anos de seus cursos no colégio, o estudo não chegou a absorver toda a sua atenção. Sem dúvida, tão logo começou a mudança em sua alma e isso também se refletiu em seus estudos. Um sentimento muito profundo de sua responsabilidade o levou a dedicar todos os seus talentos ao serviço do Mestre, de Quem os havia recebido. Poucos houve que, com tão completa dedicação, tenham-se consagrado à obra do Senhor como fruto de um claro conhecimento de sua responsabilidade”.

Enquanto fazia os cursos de Literatura e Filosofia, conseguia encontrar tempo para dedicar sua atenção à Teologia e à História Natural. Nos dias de sua maior prosperidade no ministério da pregação, quando, juntamente com sua alma, sua congregação e rebanho constituíam o centro de seus desvelos, com freqüência lamentava por não ter adquirido, nos anos anteriores, um caudal de conhecimento mais profundo, pois se havia dado conta de que podia usar as jóias do Egito para o serviço do Senhor. De vez em quando, os estudos anteriores evocariam em sua mente alguma ilustração apropriada para a verdade divina e precisamente no solene instante em que apresentava o evangelho glorioso aos mais ignorantes e depravados.

Apreço pelo estudo

Suas próprias palavras apresentam melhor sua estima pelo estudo e, ao mesmo tempo, revelam o espírito de oração que, segundo McCheyne, devia sempre acompanhá-lo: “Esforça-te em teus estudos”, escreveu a um jovem estudante em 1840. “Dá-te conta de que estás formando, em grande parte, o caráter de teu futuro ministério. Se adquirires agora hábitos de estudo marcados pelo descuido e a inatividade, nunca tirarás proveito do mesmo. Faz cada coisa a seu tempo. Sê diligente em todas as coisas; aquilo que valha a pena fazê-lo, faze-o com todas as forças. E, sobre todas as coisas, apresenta-te diante do Senhor com muita freqüência. Não tentes nunca ver um rosto humano enquanto não tiveres visto primeiro o rosto Daquele que é nossa luz e nosso tudo. Ora por teus semelhantes. Ora por teus professores e companheiros de estudo.” A outro jovem escreveu: “Cuidado com a atmosfera dos autores clássicos, pois ela é, na verdade, perniciosa; e tu necessitas muitíssimo, para contestá-la, o vento sul que se respira das Escrituras. É certo que devemos conhecê-los — mas da mesma forma como o químico experimenta as substâncias tóxicas — para descobrir suas qualidades e não para envenenar com eles teu sangue.” E acrescentou: “Ora para que o Espírito Santo faça de ti não somente um jovem crente e santo, mas para que te dê também sabedoria em teus estudos. Às vezes, um raio da luz divina que penetra a alma pode dar suficiente luz para aclarar maravilhosamente um problema de matemática. O sorriso de Deus acalma o espírito e a destra de Jesus levanta a cabeça do descaído, enquanto Seu Santo Espírito aviva os efeitos, de modo que mesmo os estudos naturais vão um milhão de vezes melhor e mais facilmente.”

As férias para McCheyne, assim como para seus amigos íntimos que permaneciam na cidade, não eram consideradas como uma cessação do que se refere aos estudos. Uma vez por semana, costumavam passar uma manhã juntos com o fim de estudar algum ponto da teologia sistemática, assim como para trocar impressões sobre o que haviam lido em particular.

Um jovem assim, com faculdades intelectuais tão incomuns, às quais se unia ainda o amor ao estudo e uma memória extraordinariamente profunda, facilmente teria se destacado no plano da erudição se não houvesse posto em primeiro lugar, e como meta mais importante, a tarefa de salvar as almas. Todos os talentos que possuía ele os submeteu à obra de despertar aqueles que estavam mortos em delitos e pecados. Preparou sua alma para a terrível e solene responsabilidade de pregar a Palavra de Deus, e isso ele fazia com “muita oração e profundo estudo da Palavra de Deus, com disciplina pessoal, com grandes provas e dolorosas tentações, pela experiência da corrupção da morte em seu próprio coração e pela descoberta da plena graça do Salvador.” Por experiência, ele podia dizer: “Quem é que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” (1Jo 5.5).

Início do ministério pastoral

No dia 1º de julho de 1835, Robert Murray McCheyne obteve, do presbitério de Annan, licença para pregar. Depois de haver pregado por vários meses em diferentes lugares e ter dado evidência da particular doçura com que a Palavra de Deus fluía de seus lábios, McCheyne tornou-se o ajudante do pastor John Bonar nas congregações unidas de Larbert e Dunipace, nas cercanias de Stirling. Em sua pregação, fazia com que os outros participassem de sua vida interior, como de sua alma, à medida que crescia na graça e no conhecimento do Senhor e Salvador. Começava o dia muito cedo cantando salmos ao Senhor. A isso se seguia a leitura da Palavra para a própria santificação. Nas cartas de Samuel Rutherford, encontrou uma mina de riquezas espirituais. Entre outros livros que apreciava ler estavam: Chamamento aos inconversos, de Richard Baxter, e A vida de David Brainerd, de Jonathan Edwards.

Em novembro de 1836, foi ordenado pastor na igreja de São Pedro, em Dundee. Permaneceu como pastor dessa congregação até o dia de sua morte. A cidade de Dundee, como ele mesmo deixou escrito, “era uma cidade dada à idolatria e de coração duro”. Mas não havia nada em suas mensagens que buscasse o agrado do homem natural, pois não estava em seu coração buscar o beneplácito dos inconversos. “Se o evangelho agradasse ao homem carnal, então, deixaria de ser evangelho”. Estava profundamente persuadido de que a primeira obra do Espírito Santo na salvação do pecador era a de produzir convicção de pecado e de trazer o homem a um estado de desespero diante de Deus. “A menos que o homem seja posto no nível de sua miséria e culpa, toda a nossa pregação será vã. Somente um coração contrito pode receber a um Cristo crucificado.” Sua pregação era caracterizada por um elemento de declarada urgência e alerta. “Que Deus me ajude sempre a falar-vos com clareza. Mesmo a vida daqueles que vivem mais anos é, na verdade, curta. No entanto, essa vida curta que Deus nos deu é suficiente para que busquemos o arrependimento e a conversão, pois logo, muito logo, passará. Cada dia que passa é como um passo a mais em direção ao trono do juízo eterno. Nenhum de vós permanece imutável; talvez estejais dormindo; não importa, pois a maré do tempo que passa vos está levando mais para perto da morte, do juízo e da eternidade.”

A seu profundo amor pelas almas se somava uma profunda sede de santidade de vida. Escrevendo a um companheiro no ministério, disse: “Acima de todas as coisas, cultiva teu próprio espírito. Tua própria alma deveria ser o principal motivo de todos os teus cuidados e desvelos. Mais que os grandes talentos, Deus abençoa àqueles que refletem a semelhança de Jesus em sua vida. Um ministro santo é uma arma terrível nas mãos de Deus.” McCheyne talvez pregasse com mais poder com sua vida do que com suas mensagens, e ele sabia bem, como nos disse seu amigo Andrew Bonar, que “os ministros do Evangelho não só devem pregar fielmente, mas também viver fielmente”.

Como pastor em Dundee, McCheyne introduziu importantes inovações na congregação. Naquela época, as reuniões de oração, se não eram desconhecidas, eram muito raras. McCheyne ensinou aos membros a necessidade de congregar-se cada quinta-feira à noite a fim de unirem o coração em oração ao Senhor e estudar Sua Palavra. Também destinava outro dia durante a semana para os jovens. Seu ministério entre as crianças constitui a nota mais brilhante de seu ministério.

A seu zelo por santidade de vida uniu-se o afã por pureza de testemunho entre os membros de sua congregação. McCheyne era consciente de que a igreja — como parte do Corpo místico de Cristo — devia manifestar a pureza e a santidade Daquele que havia morrido para oferecer uma Igreja santa e sem mancha ao Pai. Por isso, seu zelo pela observância de disciplina na congregação: “Ao começar meu ministério entre vós, eu era em extremo ignorante da grande importância que na Igreja de Cristo tem a disciplina eclesiástica. Pensava que meu único e grande objetivo nesta congregação era o de orar e pregar. Vossa alma me parecia tão preciosa e o tempo se me apresentava tão curto que eu decidi dedicar-me exclusivamente com todas as minhas forças e com todo o meu tempo ao labor de evangelização e doutrina. Sempre que, diante de mim e dos presbíteros desta igreja, se nos apresentaram casos de disciplina, eu os considerava como dignos de aborrecimento. Constituíam uma obrigação diante da qual eu me encolhia. Mas agradou ao Senhor, que ensina a Seus servos de maneira muito diferente daquela usada pelos homens, abençoar — inclusive com a conversão — alguns dos casos de disciplina a nosso cuidado. Desde então uma nova luz se acendeu em minha mente: dei-me conta de que não somente a pregação era uma ordenança de Cristo, mas também o exercício da disciplina eclesiástica.”

Debilidade física

Enquanto o vigor e a força espirituais de sua alma alcançavam uma grandeza gigantesca, a saúde física de McCheyne se via minada e debilitada conforme transcorriam os dias. Ao final de 1838, uma violenta palpitação do coração, ocasionada por seus árduos labores ministeriais, obrigaram o jovem pastor a retirar-se para um descanso. E, como sua convalescença se processava em ritmo muito lento, um grupo de pastores, reunido em Edimburgo na primavera de 1839, decidiu convidar McCheyne a se unir a uma comissão de pastores que planejava ir a Palestina para estudar as possibilidades missionárias da Terra Santa. Todos criam que tanto o clima como a viagem redundariam em benefício para a saúde do pastor. Do ponto de vista espiritual, sua passagem pela Palestina se constituiu uma verdadeira bênção para a alma. Visitar os lugares que haviam sido cenário da vida e obra do bendito Mestre e pisar a mesma terra que um dia pisara o Varão de dores foi uma experiência indescritível para o jovem pastor. No entanto, fisicamente, o estado de McCheyne não melhorou; antes, pelo contrário, parecia que seu tabernáculo terrestre ameaça sofrer um desmoronamento total. E, assim, nos últimos dias de julho de 1839, encontrando-se a delegação missionária próxima de Esmirna, e já para regressar, McCheyne caiu gravemente enfermo. Quando tudo fazia pensar em uma rápida morte, o Senhor estendeu Sua mão curadora e o grande servo do evangelho pôde, por fim, regressar a sua amada Escócia e ao seu querido rebanho em Dundee.

Durante sua ausência, o Espírito Santo começou a operar um maravilhoso avivamento na Escócia. Este avivamento começou em Kilsyth sob a pregação do jovem pastor W. C. Burns, que havia substituído McCheyne enquanto durava sua convalescença. Num curto espaço de tempo, a força do Espírito Santo, que impulsionava o avivamento, se deixou sentir em muitos lugares. Em Dundee, onde os cultos se prolongavam até tarde da noite todos os dias da semana, as conversões foram muito numerosas. Era como se toda a cidade houvesse sido sacudida pelo poder do Espírito.

Em novembro do mesmo ano, McCheyne, recuperado da enfermidade, regressou a sua congregação. Os membros da igreja de São Pedro transbordaram de alegria ao ver de novo o rosto amado de seu pastor. A igreja estava absolutamente lotada e, enquanto todos esperavam que McCheyne ocupasse o púlpito, um silêncio absoluto reinava entre os que estavam ali congregados. Muitos membros derramaram lágrimas de gratidão ao rever o rosto do pastor. Mas, ao finalizar o culto e movidos pelo poder de sua pregação, muitos foram os pecadores que derramaram lágrimas de arrependimento.

O regresso de McCheyne a Dundee marcou um novo episódio em seu ministério e também na igreja escocesa. Era como se, a partir daquele momento, o Senhor se houvesse disposto a responder às orações que o jovem pastor elevara no princípio de seu ministério, suplicando por um avivamento. Ali, onde McCheyne pregara, o Espírito acrescentava novas almas à Igreja.

Doença e morte

Na primavera de 1843, quando McCheyne regressara de uma série de reuniões especiais em Aberdeenshire, caiu repentinamente enfermo. Lá ele havia visitado a vários enfermos de febre infecciosa, e sua constituição enfermiça e débil sucumbiu ao contágio da doença. No dia 25 de março de 1843 partiu para estar com o Senhor.

Túmulo de McCheyne

“Em todas as partes onde chegava a notícia de sua morte”, escreveu Bonar, “o semblante dos crentes se enchia de tristeza. Talvez não tenha havido outra morte que impressionasse tanto aos santos de Deus na Escócia como a deste grande servo de Deus que consagrou toda a vida à pregação do evangelho eterno. Com freqüência, ele costumava dizer: ‘Vivei de modo que, um dia, sintam de vós saudades’, e ninguém que houvesse visto as lágrimas que se verteram por ocasião de sua morte teria dúvidas em afirmar que a vida dele havia sido o que ele havia recomendado a outros. Não tinha mais do que 29 anos quando o Senhor o levou.

“No dia do enterro, foram suspensas todas as atividades em Dundee. Do lugar do velório até o cemitério, todas as ruas e janelas estavam abarrotadas de uma grande multidão. Muitas almas se deram conta naquele dia de que um príncipe de Israel havia caído, enquanto muitos corações indiferentes experimentaram uma terrível angústia ao contemplar o solene espetáculo.”

“O túmulo de Robert McCheyne ainda pode ser visto na parte nordeste do cemitério que circunda a igreja de São Pedro. Ele se foi para as montanhas de mirra e para as colinas de incenso, até que desponte o dia e fujam as sombras. Terminou sua obra. Seu Pai celestial não tinha para ele nenhuma outra planta para regar nem outra vide para cuidar, e o Salvador, que tanto o amou em vida, agora o esperava com Suas palavras de boas-vindas: ‘Bem está, servo bom e fiel. […] Entra no gozo do teu senhor’ (Mt 25.21).”

O ministério de Robert McCheyne não terminou com sua morte. Suas mensagens e cartas, e a biografia escrita por seu amigo Andrew Bonar, são ricos instrumentos de bênção para muitas almas.

 

(Publicado originalmente em 28.jul.2008; revisado, atualizado e republicado em 1.mar.2020.)

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Citações Gotas de orvalho J. I. Packer

Gotas de orvalho (267) – J. I. Packer

Há uma diferença entre conhecer Deus e conhecer algo sobre Deus. Quando de fato conhece Deus, você tem energia para servi-Lo, intrepidez para partilhar sobre Ele e contentamento Nele.

O que é um cristão? A mais preciosa resposta que conheço é: alguém que tem Deus como Pai.

O que importa de modo supremo, portanto, não é, em última instância, o fato de que eu conheço Deus, mas o fato maior que está por baixo disso: o fato de que Ele me conhece.

Graça significa Deus movendo céus e terra para salvar pecadores que não podiam mover um dedo para salvar a si mesmos.

Apesar de Cristo estar perto de nós, Ele está acima de nós em todos os aspectos.

É necessário que o verdadeiro arrependimento se torne uma disciplina diária.

A santidade, assim como o pecado, começa no coração e, na realidade, só avança à medida que discerne e combate as atitudes e os desejos contrários a Deus que ali se escondem.

Estando ligados a Cristo e, portanto, comprometidos a amá-Lo e a servi-Lo como nosso amado Salvador e Senhor, todos nós que cremos estamos conseqüentemente ligados uns aos outros. […] Também estamos, portanto, comprometidos a amar e a servir uns aos outros como irmãos na família de Deus.

Sua fé não falhará enquanto Deus a sustentar. Você não é forte o suficiente para cair enquanto Deus está decidido a abraçá-lo.

Se você perguntar: ‘Por que isso está acontecendo?’, poderá não haver nenhuma resposta. Mas se você perguntar: ‘Como posso glorificar a Deus agora?’, sempre haverá uma resposta.

O poder salvador do Calvário não depende da fé ser adicionada a ele. Seu poder salvador é tal que a fé flui dele.

O cristão saudável não é necessariamente o cristão extrovertido e exuberante, mas é o cristão que tem um senso da presença de Deus estampado profundamente em sua alma, que treme com a Palavra de Deus, que permite que ela habite ricamente em si pela constante meditação sobre ela e que testa e reforma sua vida diariamente em resposta a ela.

Acredito que a oração é a medida espiritual do homem, de um modo como nada mais é.


James Innell Packer, mais conhecido por J. I. Packer, foi um amado líder e escritor cristão, cujo ministério é apreciado além das fronteiras de sua denominação. Ele partiu para estar com o Senhor a quem serviu tão fielmente dia 17 de julho de 2020, aos 93 anos.

De origem humilde, cresceu em um ambiente religioso tradicional e frio. Na paróquia anglicana que freqüentava, não era pregada a necessidade da fé em Cristo como Salvador. A experiência que mudou a vida de Packer ocorreu quando ele tinha sete anos. Ele foi expulso do pátio da escola por um valentão e empurrado até uma movimentada estrada, onde foi atropelado por um veículo. O grave ferimento que sofreu lhe produziu uma permanente e visível depressão no lado da cabeça. Packer aceitou aquilo como vindo da Providência divina.

Embora tenha sido um homem humilde, que repudiava o sucesso, Deus o agraciou com amplo reconhecimento. Seu primeiro livro, Fundamentalism and the Word of God [O fundamentalismo e a Palavra de Deus], de 1958, vendeu 20 mil exemplares no primeiro ano. Em 2005, a revista Time nomeou Packer um dos 25 evangélicos mais influentes. Quando a Christianity Today realizou uma pesquisa para determinar os 50 principais livros que moldaram os cristãos, O conhecimento de Deus, escrito por Packer, ficou em quinto lugar. Sua fama e sua influência não foram resultado de uma busca pessoal por elas, mas brotaram de sua piedade, de sua erudição, de seu cuidado pastoral e de seu profundo amor pelo Senhor. Em seu último livro publicado em português, Fé ativa, ele mostra uma fé vigorosa, a clara percepção do que ocorre no cristianismo formal (especialmente em sua denominação) e faz um chamado solene a que os cristãos voltem ao discipulado, voltem a levar Deus a sério.

Em 2013, Packer escreveu:

Algum dia, todos teremos de fazê-lo [deixar esse mundo], e é maravilhoso saber que em algum momento, durante o processo de transição de deixar nosso corpo e entrar no próximo mundo, o próprio Cristo nos receberá, de maneira que podemos esperar que Sua face será a primeira coisa de que teremos ciência naquela nova ordem de vida para a qual teremos sido, então, transportados. Aguardar ansiosamente por isso é a esperança que nos sustém.

Ele partiu nessa firme certeza e alegre esperança. Que receba do Senhor o galardão por suas obras.

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O perigo da negligência

Paulo na prisão, mas ainda servindo a Deus

O versículo-chave de 2Timóteo 4 é este: “Sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério” (v. 5).

Tudo na vida deve ser considerado como uma oportunidade, quer para desenvolver as virtudes cristãs, quer para realizar a obra que Deus nos confiou. Negligenciar as oportunidades é um grande perigo, tanto na vida cristã como no serviço ao Senhor. Esse capítulo apresenta sete coisas que não devemos negligenciar.

1. O uso das oportunidades (vv. 1,2)

A realidade do juízo vindouro deve estar sempre diante de nós. Os vivos serão julgados na vinda do Senhor para estabelecer Seu reino, e os mortos, no término de Seu reino milenar – mas a única forma de alguém escapar da certeza do juízo é pela justificação que vem pela fé em Cristo. “Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto” (Ec 12.14).

Portanto, devemos estar sempre vigilantes a fim de aproveitar as oportunidades que possam surgir para pregar a Palavra. A palavra traduzida “pregues” (v. 2) traz a idéia de um servo do rei enviado para proclamar um decreto real. Isso enfatiza a dignidade de ser mensageiro do Senhor. As oportunidades não se limitam a certos dias ou horas; devemos sempre estar prontos para falar em nome do Senhor. As diferentes oportunidades exigem várias maneiras de agir – “redarguas, repreendas, exortes” –, mas sempre com paciência, e sempre com sã doutrina.

2. A vigilância contra a falsidade (vv. 3-5)

Também é muito perigoso negligenciar a vigilância contra a falsa doutrina. Paulo não se refere ao desejo de receber mais iluminação da Palavra de Deus, mas sim a pessoas que sempre querem ouvir qualquer novidade, contanto que não seja a sã doutrina, a qual “não suportarão”.
“Atendei ao que ides ouvir” (Mc 4.24) e “Vede […] como ouvis” (Lc 8.18) são palavras do Senhor Jesus que nos preparam para evitar a doutrina falsa. No versículo 5, Paulo dá a Timóteo quatro conselhos que o conservariam no caminho da verdade.

  1. “Sê sóbrio em tudo”: a necessidade de ouvir e estudar a verdade com seriedade e perseverança.
  2. “Sofre as aflições”: a necessidade de provar a verdade das promessas de Deus no meio das aflições.
  3. “Faze a obra de um evangelista”: a necessidade de se envolver na obra de ganhar almas, mesmo não tendo dom especial para isso.
  4. “Cumpre o teu ministério”: a necessidade de reconhecer e realizar o serviço que Deus lhe confiou, “como despenseiros dos mistérios de Deus” (1Co 4.1).

3. A importância de fidelidade (vv. 6-8)

Não podemos negligenciar a necessidade de fidelidade e consagração ao Senhor até o fim. É relativamente fácil ser fiel quando tudo vai bem, mas, quando surgem oposições ou sofrimentos, somos tentados a desistir. Paulo estava aguardando o cumprimento de seu serviço fiel, pronto para selar seu testemunho com o próprio sangue. Ele usa cinco figuras como ilustrações disso.

  1. A libação, uma oferta de vinho que era derramada sobre o sacrifício no altar. Paulo está dizendo com isso que queria derramar todo o conteúdo de sua vida sobre o sacrifício de Cristo, sem reservar nada para si.
  2. O viajante – “o tempo da minha partida”. Ele considerava a morte como o início de mais uma viagem, para estar ausente do corpo e presente com o Senhor.
  3. O guerreiro. Paulo era como Eleazar, filho de Dodó, um dos valentes de Davi, que não largou mão da espada até que o Senhor tivesse efetuado um grande livramento (2Sm 23.10).
  4. O atleta – “acabei a carreira”. Alguns começam a corrida da vida cristã em alta velocidade, mas desistem antes do final. Paulo perseverou até o fim.
  5. A sentinela. Sempre vigilante para repelir qualquer ataque do inimigo contra a verdade.
    Assim, aquele que sofreu tanto dos injustos juízes humanos tinha certeza de receber um galardão da mão do justo Juiz. Mas ele não será o único a receber; o galardão é para “todos os que amarem a Sua vinda”. A vinda do Senhor é algo que o crente fiel ama, antecipando o sorriso e a recompensa de seu Senhor; mas, para outros, ela será motivo de vergonha (1Jo 2.28).

4. As necessidades dos companheiros (vv. 9-12)

Paulo sempre apreciou seus companheiros. Agora na prisão, esperando ser morto em breve, ele ainda pensava em seus colaboradores, seguindo os movimentos deles e orando pela bênção de Deus sobre seu serviço. Lucas ficou com ele, e Paulo queria que Timóteo voltasse também, a fim de o confortar por causa do abandono de Demas, que amou “o presente século”.

Parece que Paulo, na prisão, dependia muito de Demas, e sentiu muito quando este o “desamparou”. No original, Paulo usa a mesma palavra que o Senhor usou na cruz, quando disse: “Por que me desamparaste?”. Não é sempre fácil ajudar um prisioneiro, e Demas acabou amando mais o mundo do que o aflito apóstolo, e o abandonou. Ele foi para Tessalônica; não sabemos por que, mas certamente não foi para visitar a igreja. Não devemos negligenciar o dever de assistir fielmente irmãos aflitos em suas necessidades.

5. As próprias necessidades (v. 13)

O inverno estava chegando, e Paulo já sentia a falta da capa que deixara em Trôade. É lícito e importante cuidar do corpo e da saúde. Mas Paulo sentiu uma necessidade ainda mais urgente: “os livros, principalmente os pergaminhos”. Talvez os “livros” fossem suas epístolas ou outro escrito que formaria parte do Novo Testamento. Mas, com certeza, os “pergaminhos” eram as Sagradas Escrituras do Antigo Testamento.

Maltratado pelos romanos e desamparado por seus amigos, Paulo queria “a paciência e consolação das Escrituras” (Rm 15.4). Ele não ia escrever mais cartas nem pregar mais sermões. Em poucos dias seria martirizado. Mas nos seus últimos dias ele ainda desejava afetuosamente, como menino novamente nascido (1Pe 2.2), o leite racional da Palavra de Deus. A Bíblia vem ao encontro de nossa necessidade, tanto na meninice como na juventude, tanto na meia idade como na velhice, tanto na vida de trabalho como na hora da morte.

6. Atitude em face da oposição (vv. 14-18)

Nesses versículos vamos observar a atitude do apóstolo diante dos que se opunham a ele. Alexandre, o latoeiro, causou-lhe muitos males. Sem dúvida, Paulo já o perdoara muitas vezes, mas seu último recurso é orar e entregá-lo ao Senhor (v. 14). Além disso, o apóstolo não deixou de aconselhar os outros acerca daquele homem (v. 15). Quanto aos que o abandonaram, sua atitude foi perdoar: “Que isto lhes não seja imputado” (v. 16). Quanto à obra, seu único motivo foi perseverar até cumprir totalmente a comissão que recebera (v. 17). E quanto ao futuro, ia apenas confiar no livramento do Senhor e sempre adorá-Lo. “A quem seja glória para todo o sempre. Amém” (v. 18).

7. A apreciação de amizades (vv. 19-22)

O nome de seus amigos e colaboradores era precioso a Paulo. Ele sempre fazia menção deles perante o trono da graça, e nunca esquecia de lhes mandar saudações em suas epístolas. Mas em tudo isso o apóstolo não queria negligenciar a coisa mais importante, desejando-lhes a bênção da presença e da amizade do Senhor: “O Senhor Jesus Cristo seja com o teu espírito”. Assim, as últimas palavras da última epístola que Paulo escreveu, logo antes de morrer, são uma oração desejando que seus leitores desfrutem a realidade da sã doutrina que ele tinha ensinado: “A graça seja convosco. Amém.” Desse modo seriam guardados dos muitos perigos que cercam o povo de Deus.

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