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Serviço cristão Vance Havner

Uma coisa

Para o jovem rico, Jesus disse: “Falta-te uma coisa” (Lc 18.22). Dinheiro, posição, moralidade, idealismo: isso não era suficiente. Existe uma bondade entre os jovens modernos que é perigosa porque é enganosa. É a bondade do jovem rico. É um bom caráter moral, sincero e bem-intencionado, iluminado pelo desejo de encontrar a vida eterna. Freqüentemente o jovem desse tipo se junta à igreja, dá aulas, ora em público, é honesto e aspirante. Mas falta uma coisa, e, por causa dessa trágica falta, seu possuidor desaparece entristecido quando o custo real do discipulado é contabilizado.

Hoje, temos um problema sério em homens e mulheres esplêndidos, de excelentes qualidades, que não renunciam totalmente a tudo para seguir a Jesus em uma vida de fé. Suas próprias virtudes se tornam obstáculos porque contam com elas e perguntam: “Que bem devo fazer?”, em vez de abandonar a própria e pobre justiça, assim como Paulo, sua irrepreensibilidade legal, e contar apenas com os méritos de Cristo.

Para certificar-se da disposição daquele jovem, Jesus lhe pediu que renunciasse ao dinheiro, não à bondade; mas o pedido mostrou que tipo de bondade ele tinha. As qualidades promissoras de nada valem se não estivermos dispostos a “odiar pai e mãe”, a abandonar qualquer coisa, por mais querida que seja, que dificulte a vida de rendição e confiança.

“Mas uma coisa é necessária”, disse Jesus à preocupada Marta. Não é uma pregação de sentar e não fazer nada. Deve haver Martas práticas na cozinha. Observe as palavras: “Marta estava sobrecarregada” ― “Marta, Marta, és cuidadosa e preocupada com muitas coisas” (Lc 10.41). Ele não a estava repreendendo por trabalhar; Ele a reprovava gentilmente por se preocupar. “Mas uma coisa é necessária: uma comunhão repousante Comigo.” Podemos comungar com Ele na cozinha, mas a maioria de nós está sobrecarregada, cuidadosa e ansiosa. Mesmo em nossas atividades práticas cristãs, ficamos irritados e assediados. Nossos pobres serviços passarão, mas a comunhão contemplativa com Ele é a parte boa que não será tirada.

Nosso único negócio é viver em comunhão constante e permanente com Cristo. Se nos tornarmos mais interessados no que estamos fazendo por Cristo do que no que Ele está fazendo por nós, revertemos as coisas e terminaremos como Marta, enfurecida em vez de comungar. Mas uma coisa é necessária para o crente: permanecer espiritualmente aos pés do Senhor, ouvindo Sua palavra. Nosso coração pode sentar-se a Seus pés enquanto nossas mãos trabalham na cozinha.

“Mas uma coisa faço” (Fp 3.13), disse Paulo. Ele havia descoberto, muito antes, que faltava uma coisa e nos conta sobre isso no capítulo 3 de Filipenses. Ele enumera os pontos positivos que tinha antes de conhecer a Cristo. Isso nos lembra o jovem rico. Ele era irrepreensível de acordo com a justiça. Então, ele aprendeu que havia uma coisa necessária: “Não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé” (v. 9). Agora que ele sentiu sua deficiência e recebeu a única coisa necessária, há mais uma “coisa”, e isso é algo a ser feito. Nada que possamos fazer ajudará até que passemos pelos dois primeiros estágios; então, haverá muito o que fazer. Há algo a esquecer: “Aquelas coisas que estão para trás”. Há algo a alcançar: “E avançando para as [coisas] que estão diante de mim” (Fp 3.13). Há algo para alcançar: “o objetivo”, a meta. Há algo pelo que trabalhar: “O prêmio do alto chamado de Deus em Cristo Jesus” (v. 14).

Que estes sejam os marcos da sua experiência espiritual: uma coisa me falta; uma coisa é necessária; uma coisa faço.

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Igreja Moses Y. Lee Serviço cristão

O que a igreja primitiva pode nos ensinar sobre o coronavírus

A igreja primitiva não estava alheia a pragas, epidemias e histeria em massa. De fato, de acordo com relatos cristãos e também não-cristãos, um dos principais catalisadores para o crescimento explosivo da igreja em seus primeiros anos foi como os cristãos lidaram com doença, sofrimento e morte. A postura da igreja causou uma impressão tão forte na sociedade romana que até imperadores romanos pagãos queixaram-se aos sacerdotes pagãos por causa de seu número declinante, dizendo-lhes para melhorarem sua abordagem.

Então, o que os cristãos fizeram de maneira diferente que abalou o Império Romano? E o que a igreja primitiva pode nos ensinar à luz do coronavírus?

Resposta Não-Cristã às Epidemias

Entre 249 e 262 dC, a civilização ocidental foi devastada por uma das pandemias mais mortais de sua história. Embora a causa exata da praga seja incerta, a cidade de Roma perdeu cerca de 5.000 pessoas por dia no auge do surto. Uma testemunha ocular, o bispo Dionísio de Alexandria, escreveu que, embora a praga não discriminasse entre cristãos e não cristãos, “todo o seu impacto caiu sobre [não-cristãos]”. Tendo notado a diferença entre as respostas cristãs e não-cristãs à praga, ele diz sobre os não-cristãos em Alexandria:

“No início da doença, eles empurraram os doentes para longe e expulsavam seus próprios entes queridos de casa, jogando-os nas estradas, antes mesmo de morrerem, e tratando cadáveres não enterrados como terra, esperando assim evitar a propagação e o contágio da doença fatal; mas, mesmo fazendo tudo o que podiam, achavam que seria difícil escapar”.

Relatos não-cristãos confirmam esse sentimento. Um século depois, o imperador Juliano tentou conter o crescimento do cristianismo após a praga, liderando uma campanha para estabelecer instituições de caridade pagãs que espelhavam o trabalho dos cristãos em seu reino. Em uma carta de 362 d.C., Juliano reclamou que os helenistas precisavam se igualar aos cristãos em virtude, culpando o recente crescimento do cristianismo por sua “benevolência para com estranhos, seu cuidado pelos túmulos dos mortos e a pretensa santidade de suas vidas”. Em outros lugares, ele escreveu: “Pois é uma vergonha isso. . . os ímpios galileus [cristãos] apóiam não apenas seus próprios pobres, mas também os nossos”.

Embora Juliano tenha questionado os motivos dos cristãos, seu constrangimento pelas instituições de caridade helênicas confirma que os esforços pagãos ficaram muito aquém dos padrões cristãos de servir os doentes e os pobres, especialmente durante as epidemias. De acordo com Rodney Stark em A ascensão do cristianismo, isso ocorre porque “por tudo o que [Juliano] instou os sacerdotes pagãos a condizerem com essas práticas cristãs, houve pouca ou nenhuma resposta, porque não haviam bases doutrinárias ou práticas tradicionais para eles se basearem”.

Resposta Cristã às Epidemias

Se a resposta não cristã à praga era caracterizada por autoproteção, autopreservação e evitar os doentes a todo custo, a resposta cristã era o oposto. De acordo com Dionísio, a praga serviu como “educação e teste” para os cristãos. Em uma descrição detalhada de como os cristãos reagiram à praga em Alexandria, ele escreve sobre como “os melhores” dentre eles serviram honrosamente os doentes até que eles mesmos pegaram a doença e morreram:

“Muitos de nossos irmãos cristãos mostraram amor e lealdade ilimitados, nunca poupando a si mesmos e pensando apenas no seu próximo. Indiferentes ao perigo, eles cuidaram dos enfermos, atendendo a todas as suas necessidades e ministrando-os em Cristo, e com eles partiram desta vida serenamente felizes; pois foram infectados por outros com a doença, provocando em si mesmos a doença de seus vizinhos e aceitando alegremente suas dores”.

Da mesma forma, na biografia de Poncius de Cipro, o bispo de Cartago, ele escreve sobre como o bispo lembrou aos crentes que deveriam servir não apenas aos cristãos, mas também aos não cristãos durante a praga:

“Não há nada de extraordinário em apreciar meramente nosso próprio povo com as devidas atenções de amor, mas esse alguém pode se tornar perfeito, que deve fazer algo mais do que homens ou publicanos pagãos, alguém que, vencendo o mal com o bem, e praticando uma bondade misericordiosa como a de Deus, deveria amar seus inimigos também… Assim, o bem foi feito a todos os homens, não apenas à família da fé”.

O impacto desse serviço foi duplo: (1) o sacrifício cristão por seus irmãos crentes impactou o mundo incrédulo ao testemunharem o amor comunitário como nunca haviam visto (João 13:35) e (2) o sacrifício cristão por não-cristãos resultou na igreja primitiva, experimentando crescimento exponencial à medida que os sobreviventes não-cristãos, que se beneficiavam do cuidado de seus vizinhos cristãos, se convertiam à fé em massa.

Resposta Cristã ao Coronavírus

Enquanto continuamos lutando com a forma de responder ao coronavírus, observe como os não-cristãos no Império Romano enfatizaram a autopreservação, enquanto a igreja primitiva enfatizava o serviço sacrificial sem medo. Enquanto os não-cristãos fugiram da epidemia e abandonaram seus entes queridos doentes por temer o desconhecido, os cristãos marcharam para a epidemia e serviram tanto aos cristãos quanto aos não-cristãos, vendo seu próprio sofrimento como uma oportunidade de espalhar o evangelho e modelar o amor cristão.

Se a resposta não cristã à praga era caracterizada por autoproteção, autopreservação e evitar os doentes a todo custo, a resposta cristã era o oposto.

Como podemos colocar essa postura em prática diante do COVID-19, nos diferenciando do mundo em como reagimos à crescente epidemia? Talvez comecemos resistindo ao medo que está levando ao pânico em vários setores da sociedade – em vez disso, modelando a paz e a calma em meio à crescente ansiedade ao nosso redor. Talvez possamos escolher patrocinar restaurantes e empresas asiáticas-americanas locais que outros americanos estão evitando devido a estereótipos baseados no medo. Também podemos procurar servir sacrificialmente nossos vizinhos, respeitando prudentemente os conselhos de profissionais médicos para ajudar a retardar a propagação da doença. Em vez de apenas nossa própria saúde, devemos priorizar a saúde da comunidade em geral, especialmente dos cidadãos mais vulneráveis, exercitando muita cautela sem perpetuar o medo, a histeria ou a desinformação. Isso pode significar custos para nós mesmos – cancelamento de viagens ou eventos planejados, ou mesmo colocar em quarentena se acharmos que fomos expostos – mas devemos aceitar esses custos com alegria.

Se a resposta não cristã à praga era caracterizada por autoproteção, autopreservação e evitar os doentes a todo custo, a resposta cristã era o oposto.

“Outras pessoas não acham que esse é o momento de celebração”, disse Dionísio sobre a epidemia de sua época. “[Mas] longe de ser um momento de angústia, é um tempo de alegria inimaginável”. Para deixar claro, Dionísio não estava comemorando a morte e o sofrimento que acompanham as epidemias. Em vez disso, ele estava se regozijando com a oportunidade que tais circunstâncias apresentam para testar nossa fé – sair do nosso caminho para amar e servir nossos vizinhos, espalhando a esperança do evangelho, tanto em palavras como em ações, em momentos de grande medo.

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Amor Serviço cristão

Amai!

Amar é mandamento!
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Consolo J. H. S. Serviço cristão

A bênção de não se escandalizar

Como você reage ao silêncio do Senhor?

(Há alguns anos, um servo de Deus muito usado deu uma série de mensagens que foram de grande ajuda para grande número de cristãos. Daquela série, selecionamos a seguinte mensagem, por crer que ela ajudará bastante a muitos neste momento.)

“E bem-aventurado é aquele que não se escandalizar em Mim” (Mt 11.6).

“Tenho-vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis” (Jo 16.1).

Um dos maiores perigos da vida cristã espreita no caminho comum do discipulado. É o perigo de se escandalizar em Cristo. A comunhão para a qual o cristianismo nos convoca traz inevitavelmente uma sempre nova e humilhante descoberta do ego; um invariável distúrbio da ordem estabelecida em nossa vida, conforme Sua vontade corrige e se opõe a nossa; um esforço incessante de atingir o ideal, ou seja, fazer nossa vida de seguidores corresponder crescentemente à Dele como Precursor.

E o perigo é que estamos aptos a falhar ao sermos submetidos ao teste e ao treinamento que isso envolve, a retroceder e não mais caminharmos com o Senhor, e, de fato, nos escandalizarmos Nele. É sempre possível, não obstante toda a sincera profissão da alma, de que o que Deus queria que fosse bênção se torne ruína para nós por causa de nossos conceitos errôneos. É sempre periculosamente possível que a luz de hoje se torne profundas e impenetráveis trevas amanhã, devido a nossa falha em obedecer a Cristo e continuar caminhando com Ele, por nosso atraso ou desvio das atrativas direções da companhia de Cristo. Os homens têm, assim, inconsciente e imperceptivelmente se colocado distantes do alcance das influências comuns de Cristo e se tornam, como detritos no oceano, ocasiões de perigo e desastre para incontáveis vidas.

Mas Cristo, com aquela absoluta franqueza que consiste em boa parte de Seus atrativos aos homens, não pode ser culpado por tais miseráveis deserções, pois Ele nunca disfarça, de qualquer modo, a impensável possibilidade. Em Seu evangelho, Ele combina boas-vindas com advertências como nenhum outro o faz. Sua Palavra, ao abrir o próprio coração de Deus a nossa consciência, abre também nosso próprio coração para nós. Por meio Dele viemos a conhecer o Pai, e também por Ele viemos a conhecer a nós mesmos. Ele revela toda a fidelidade de Deus a nós, mas revela também a instabilidade de nossa vontade e a inconfiabilidade de nossas emoções. Ele não nos trata como homens ideais, mas como homens reais; e nos adverte da mortandade que assola ao meio-dia, bem como da peste que anda na escuridão (Sl 91.6). Conseqüentemente, isto é o que Ele diz aos mais sinceros e convictos de nós: “Bem-aventurado aquele que não se escandalizar em Mim” (Mt 11.6). A implicação é óbvia e sinistra, mas a realidade e a riqueza de Sua graça são a resposta suficiente e silenciadora para cada um de nossos medos. A bem-aventurança de não se escandalizar, apesar de todo o perigo exterior e a fraqueza interior, é o possível ganho de cada um. E isso, de fato, é uma bênção.

É sempre periculosamente possível que a luz de hoje se torne profundas e impenetráveis trevas amanhã, devido a nossa falha em obedecer a Cristo e continuar caminhando com Ele.

Contudo, é necessário lembrar o sentido da palavra “escandalizar”. No grego, é a palavra “ofender”, e tem a força de “levar a tropeçar”. Então, traduzamos e expandamos esse dito de Cristo como sendo: “Bem-aventurado aquele que não acha em Mim nenhuma causa de tropeço, aquele que é capaz de manter seus pés em Meus caminhos, que não tropeça em nenhum obstáculo no caminho em que o tenho dirigido”. Ele usa essa palavra bem frequentemente nesse sentido; como, por exemplo, quando fala da mão ou do olho do homem sendo a causa do tropeço (Mc 9.43-47), quando denuncia aqueles que levam os outros a se escandalizarem (Mt 18.6) e quando declara que no dia da Sua glória tudo o que causou escândalo será banido de Seu reino (13.41).

Porém, Ele nunca a usa de maneira tão surpreendente como quando declara a possibilidade de homens acharem ocasião de escândalo Nele. Estamos preparados para encontrar isso no mundo, na oposição do diabo, na comprovada falsidade dos outros – mas Nele?! É, contudo, a mais surpreendente de Suas advertências, pois Nele já encontramos vida e salvação, direção e paz, inspiração e satisfação. Agora, ter a possibilidade de encontrar Nele também causa de ofensa nos desconcerta bastante. Fosse essa palavra aplicada aos homens do mundo, teria causado pouca, ou nenhuma, surpresa. Por exemplo: não somos grandemente tomados de surpresa quando aqueles que O conhecem de perto O tratam tão desdenhosamente e digam: “Não é este o filho do carpinteiro?” (v. 55). Nem estamos nós completamente despreparados para constatar que os fariseus se escandalizaram Nele quando disse a eles que maus pensamentos, adultérios, assassinatos e coisa assim procedem do coração dos homens, pois Suas palavras os convenciam do pecado (15.10-20). Não nos surpreendemos tanto de que Ele seja uma pedra de tropeço para aqueles que são confessamente desobedientes a Seus comandos. Mas pensar que Seus próprios amigos, aqueles que realmente O conheciam e foram admitidos na intimidade da comunhão com Ele, achariam causa de escândalo Nele, é muito estranho. E esse mistério nos adverte a ficarmos atentos a nós mesmos.

O momento em que o primeiro desses alertas foi dado nos dá a chave de seu significado. João, o que batizava, definhava na prisão às costas do Mar Morto como resultado de uma vida de máxima fidelidade. Ele foi tremendamente fiel a Cristo, esplendidamente sincero no concernente a sua missão, maravilhosamente corajoso em transmitir a mensagem confiada a ele, e, mesmo assim, tudo terminou em uma masmorra.

Que prova para tal homem!

Parecia que sua fé, sua auto-restrição, sua disposição para diminuir a fim de que Cristo aumentasse, que tudo isso ficara sem reconhecimento e sem valor. Sua experiência contradizia tão inteiramente a segurança em Deus, que é fácil entender a perplexidade mental que o levou a enviar seus discípulos a Cristo com a patética inquirição: “És Tu aquele que haveria de vir?” (11.2,3). Pois eis aqui Aquele que veio declaradamente para libertar os cativos, e ainda não libertou o homem que, mais que todos os outros, aparenta ter reivindicações sobre Ele. Cristo proclamou a própria missão em termos de simpatia e amor pelo quebrantado, e ainda há o contrito e quebrantado de quem Ele aparentemente não tem conhecimento.

Ele foi tremendamente fiel a Cristo, esplendidamente sincero no concernente a sua missão, maravilhosamente corajoso em transmitir a mensagem confiada a ele, e, mesmo assim, tudo terminou em uma masmorra.

É de se maravilhar que, por fim, a dúvida supere a fé, de modo que ele envia os mensageiros a Cristo na esperança de que este se declare claramente e interprete essa experiência completamente inexplicável e contraditória para aquele que pagou um preço imenso ao manter uma devotada lealdade ao Filho de Deus? A única resposta de Cristo a esses mensageiros é uma demonstração de Seu poder soberano sobre todas as forças de destruição e de morte, e uma ordem de que deveriam dizer a João aquilo que tinham visto e passar a ele esta mensagem que chama por uma nova e triunfante confiança de sua parte: “Bem-aventurado é aquele que não se escandalizar em Mim” (v. 6). Pois isso significa que, ao longo do caminho da bênção, a providência do teste sempre será experimentada. Sua implicação é que existe verdadeira paz apenas para o homem que confia em Cristo quando não tem ajudas externas para a fé, que crê Nele quando vê apenas aquilo que parece negar sua confiança e permanece em lealdade sem vacilar quando o tratamento divino testa sua resistência ao máximo.

A segunda parte das palavras de Cristo ajuda a entender como Sua mensagem a João se aplica também a nós: “Tenho-vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis” (Jo 16.1). Ditas como foram, na véspera de Sua partida, quando o feroz teste do discipulado estava perto de ser experimentado por Seus seguidores, elas implicavam que eles precisariam fixar a alma nas coisas que Ele lhes havia dito sobre Seu propósito e poder, se quisessem evitar o perigo de tropeçar e se desviarem Dele. Pois eles seriam levados a experiências de provas e de tensão enquanto cumpriam seus votos de consagração. E “naqueles dias”, diz Cristo, “sejam verdadeiros a sua melhor experiência de Mim. Descansem naquilo que ninguém pode tirar de vocês: o conhecimento pessoal que vocês têm de Minha graça. Agarrem-se a essas coisas que lhes tenho falado e mostrado. Sejam leais a Mim. Confiem em Mim inteiramente, apesar de todo mistério inexplicável e da aparentemente desnecessária tribulação. Assim, não tropeçarão, mas serão fortalecidos por essas coisas, que são todas ordenadas por Mim”.

Não é desleal da parte de Cristo dizer isto: que Ele não apenas governa sobre os homens, mas também os mistifica. Embora Ele os abençoe, Ele também os desconcerta, pois incomparavelmente mais altos são Seus caminhos e pensamentos do que os nossos (Is 55.9). Ele nos persuade ao amor e à lealdade; mas também nos confunde, geralmente ao ponto da distração. Ele certamente responde às questões de nosso coração, mas ao mesmo tempo levanta muito mais perguntas do que as que responde. Na vida de todo verdadeiro seguidor Dele, sempre haverá, como houve na Dele mesmo, um grande “Por quê?” sem resposta. Nenhum de nós jamais estará isento da necessidade de adquirir pela fé e pela paciência a bem-aventurança de não se escandalizar.

Pensemos em um simples e típico exemplo de escândalo, de ofensa. Comumente não se trata de uma clara apostasia, de fria renúncia à verdade ou de amarga negação da experiência passada. Em vez disso, começa com o desapontamento de alguma esperança, a frustração de alguma expectativa, o cansaço por uma oração não respondida ou a dor de um coração que parece não evocar qualquer resposta simpática de Deus. Tudo isso gera uma desconfiança muda, quase impronunciável; e enquanto pensamos nisso, uma sensação de injustiça cresce, um sentimento de que não estamos sendo tratados com muita justiça por Cristo, que se torna um evidente ressentimento. Até que, pouco a pouco, Seu jugo se torna irritante; desafiamos Seu direito de controlar nossa vida também, e tudo termina em um secreto repúdio de Seu senhorio e, geralmente, em uma renúncia exterior de todos interesses e objetivos espirituais. Essa é uma causa típica de se escandalizar em Cristo. E quantos existem ao nosso redor cuja vida é uma típica descrição disso! Dos pequenos começos de desconfiança crescem os maiores desastres.

Se duas linhas paralelas são produzidas até o infinito, jamais haverá alguma variação da distância entre elas. Mas, deixe-as divergirem em qualquer ponto por apenas a largura de um fio de cabelo e, quanto mais longe forem, mais ampla a divergência se tornará, até que exista um universo de distância entre elas. Assim acontece com nossa comunhão com Cristo: a mínima desconfiança ou desobediência é cheia da potencialidade do infinito; e, se não for descoberta e verificada, irá, por fim, colocar uma eternidade de distância entre a alma e o Salvador. Se, portanto, pudermos estimar alguma das imutáveis certezas do discipulado, explorar alguma, pelo menos, das perigosas causas das ofensas em Cristo e, ao mesmo tempo também, estabelecer um novo relacionamento de implícita confiança com nosso Senhor, seremos salvos desse poder aterrador. E esse é certamente o objetivo de Sua Palavra de advertência.

Nenhum de nós jamais estará isento da necessidade de adquirir pela fé e pela paciência a bem-aventurança de não se escandalizar.

Existe primeiramente a severidade de Seus requerimentos. Quando viemos a Cristo a primeira vez, o caminho parecia ser cheio de rosas e o ar parecia repleto de doces e calmantes aromas. Pois, embora Cristo fosse absolutamente franco conosco e nada escondesse da dureza dos conflitos que teríamos de enfrentar, nossos próprios poderes de apreensão eram tão limitados que víamos apenas uma coisa por vez, e aquela única coisa era que Cristo atenderia todas as necessidades de que estávamos conscientes. Em decorrência disso, marchamos rumo a uma alegre tensão com a qual nosso coração estava sintonizado. Porém, isso ocorreu muito antes de descobrirmos que as condições do companheirismo são severas. Por exemplo: vemos que uma real separação do mundo em espírito e propósito é completamente necessária para a manutenção da comunhão. Vemos que não podemos andar em duas disposições mentais de uma só vez – e que as pressões do mundo são de fatos sedutoras. Aprendemos que não podemos ao mesmo tempo andar com Ele e com a opinião popular, com Ele e com o mundo, ou mesmo com Ele e com a igreja externamente professa.

Quando essa descoberta é feita, com freqüência significa que os homens se escandalizaram Nele, pois Suas demandas envolvem perturbações de alto custo na regulação do lar, dos negócios e da vida social, de acordo com Suas ordens. Possivelmente signifiquem para alguns a renúncia de um tipo de popularidade que existe somente por causa do vergonhoso silêncio no tocante a Ele. Envolvem outros na severidade dos laços que se tornaram uma grande parte da vida, e o sacrifício de prosperidades materiais que têm parte com a natureza da injustiça. Elas significam para todos o fim da auto-indulgência, uma crucificação visando a uma coroação, uma destronização visando a uma entronização.

Quando tudo isso é claramente compreendido, então, os homens se escandalizam com Cristo. Quando Ele diz: “Corte a mão direita; arranque o olho direito; abandone tudo o que você tem; tome sua cruz e siga-Me”, vem, então, o teste que determina tudo. Aí muito freqüentemente os homens retrocedem para não andar mais com Ele. Não porque eles não O entendem, mas porque vieram a conhecê-Lo muito bem! Quando Ele chega a ser assim reconhecido, não apenas como o Cristo de coração amável, mas também o Cristo de dura face, grande é a bênção daquele que não se escandaliza.

Eis aí o mistério de Sua contradição. Geralmente parece que Cristo foi antipático aos nossos melhores desejos, aqueles desejos que se originaram em nossa comunhão com Ele. Queremos, por exemplo, fazer uma grande obra e alcançar uma grande esfera; mas a resposta Dele a nossos anseios é nos obrigar a enfrentar as dificuldades de uma pequena obra em um local onde há pouco, se algum, reconhecimento de nossa labuta. Pedimos por serviço espiritual, e tudo o que nos é dado é uma monótona rotina de deveres seculares. E estamos, por isso, em perigo de nos escandalizarmos Nele, porque parece haver muito pouca justificativa para Seu tratamento a respeito de nosso alto propósito.

Ou, estamos pedindo o dom do descanso e clamando por Suas grandes promessas a esse respeito; contudo, a resposta vem na necessidade de conflito severo e contínuo. As chamas da tentação incendeiam ao nosso redor, não menos, mas muito mais ferozmente do que nunca; e ficamos confusos e provocados com esse cumprimento da Palavra que jamais esperamos. Ou desejamos ter uma vida com menos cargas e tensões, mas a única resposta do Senhor é impôr outras e mais pesadas cargas sobre nós. E nos ofendemos muito com Ele. O mistério disso tudo confunde cada sério propósito, e a tentação de não crer é, às vezes, quase demais.

Contudo, vai nos ajudar lembrar o fato simples de que o Senhor sabe e faz apenas aquilo que é melhor tanto para o desenvolvimento quanto para a repreensão de nossa vida. Na verdade, Ele é antipático apenas com nossos egoísmos. Ele busca destruir dentro de nós somente tudo o que cheira a amor-próprio, orgulho e auto-suficiência, reproduzindo em nós algo da beleza de Seu próprio caráter. Em Suas contradições corretamente apreendidas, devemos sempre ver a expressão de Sua perfeita sabedoria no que concerne a nossos próprios e mais altos interesses, e também aos interesses do reino que Ele nos deu a compartilhar. Então “bem-aventurados os que não se escandalizam”, os que aceitam a direção de Cristo como Seu amor, e confiam Nele, “quando simplesmente confiar Nele parece a coisa mais difícil de todas”.

Eis aí o mistério de Sua contradição.

Além dessas causas, existem ainda outras na lentidão de Seus métodos. Viemos a Ele e colocamos nossa vida sob Seu controle, esperando uma imediata libertação que nos levasse para além de toda preocupação relacionada à tentação e às forças que se opõem a nós. Mas quão desapontadoramente lenta é essa libertação e com que dificuldade são ganhas nossas vitórias, mesmo quando somos fortalecidos por Seu Espírito!

Quase sempre percebemos que a vida não é uma canção, mas, em vez disso, uma contenda; que a graça de Cristo não é um mero êxtase, mas, sim, uma energia que trabalha dolorosamente por retidão em nós; e que isso toma toda a vigilância de que somos capazes a tomar o lugar já conquistado, assim como a conquistar novos territórios. E a demora de Cristo nessa questão de nossos próprios conflitos espirituais com frequência é a causa de nos escandalizarmos, pois isso desaponta nossas esperanças e contradiz nossos conceitos errôneos relacionados a tudo, como se fosse uma vitória fácil e passiva sobre nossos fortes inimigos. Mas, na realidade, esse método, embora nos pareça lento, é o único que Ele certamente poderia ter, tendo em vista a grandeza de Seu propósito e a contrariedade de nossa natureza. Cada experiência de vitória, mesmo que pequena e insignificante, profetiza de um completo e definitivo triunfo.

Se formos ao Observatório em Greenwich, veremos que existe um instrumento delicado, através do qual os astrônomos medem as distâncias entre as estrelas, assim como sua magnitude. Sobre um espelho sensível é refletida a luz dos pontos celestes, e uma medida dos ângulos em que dois raios se encontram fornecem dados suficientes para todos os cálculos espantosos de milhões de quilômetros. Assim ocorre em nossa vida. Ao estimar o que Cristo já fez, nós nos asseguramos de Seu invariável propósito. Cada migalha de experiência de Seu poder de santificar, purificar, redimir, libertar, é profético do todo – de “que Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará [completará]”. Se nos agarrarmos a esse fato, encontraremos nele inspiração para a contínua firmeza da fé, e não nos escandalizaremos por Ele trabalhar tão lentamente – e acertadamente.

O mesmo é verdade também quanto ao progresso do Reino a cujos interesses fomos chamados a servir. Quão freqüentemente vemos que a lentidão com a qual resultados espirituais são alcançados se torna uma causa de ofensa em Cristo. Começamos por esperar que, quando exaltássemos Cristo, imediatamente veríamos multidões seguindo-O. Imaginamos que tínhamos apenas de trabalhar fielmente no serviço a Deus e ao homem, e os resultados certamente seriam visíveis. Mas como isso é diferente na prática. Quão dificilmente as almas são persuadidas e ganhas! Quão verdadeiro é que o joio cresce junto com o trigo! Quão verdadeiro é que aquele que avança levando a preciosa semente precisa chorar ao longo do caminho (Sl 126.6)!

E a dificuldade de crer que Deus está presente quando Ele está invisível é demais para muitos que começam a trabalhar para Ele com altas expectativas e bravas crenças, que ao fim parecem injustificadas. Como os discípulos, eles pensam que “o reino de Deus deveria aparecer imediatamente”; e, na disciplina de seu entusiasmo e na conversão de sua consagração em continuidade, pode ser que eles se “escandalizem”. Porém, não seria difícil termos exemplo após exemplo para provar que, na obra espiritual, quando os resultados são menos visíveis, eles, com freqüência, são mais reais. O obreiro que avança sem o estímulo do sucesso exterior, que continua testemunhando mesmo quando se depara com gélida indiferença, que desempenha a obra de Cristo na inspiração infalível de saber que essa é a obra de Cristo, é aquele que alcança a bênção de não se escandalizar. E parte disso está na certa colheita de sua semeadura e na segura recompensa de todo o seu serviço.

Porém, talvez acima de todas essas causas citadas de ofensa em Cristo, está a irrazoabilidade de Seus silêncios. Tenho muita simpatia com esta perplexidade de João, o que batizava: “Se esse é realmente o Cristo, porque Ele não age como Cristo? Por que Ele não faz nada para libertar Seu arauto preso ou para trazer paz a seu atribulado coração?” Uma visitação de Cristo teria mudado aquela prisão em um palácio. Um estalo de dedos da parte Dele teria transformado a escuridão de João em glória. Mas Cristo não fez isso. Assim como não o fez em Betânia, quando deixou Marta e Maria entregues à tristeza por dois longos e pesados dias. Eu simpatizo com elas em sua completa inabilidade de compreender a demora Dele à luz de Seu amor, e no protesto implícito das palavras com as quais O saudaram no caminho: “Senhor, se Tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido” (Jo 11.21,32).

O silêncio Dele pareceu tão irrazoável, e ainda parece quando aparentemente não liga para nossas orações, e nós clamamos como que a um céu silente. Quem não conhece essa amarga experiência e a sutil tentação que a segue? Oramos pela conversão de nossos entes queridos, mas eles seguem aparentemente tão sem rendição e impenitentes como nunca antes. Oramos por coisas temporais que parecem completamente necessárias, sem nenhuma resposta. Buscamos alívio de alguma carga pesada, mas nenhum nos é dado – e hoje ela pesa mais do que nunca. E o pensamento de que o silêncio de Cristo é irrazoável nunca está longe demais. A lealdade a Ele está sendo dolorosamente provada, quase que ao ponto de partir-se. É quase justificável o fato de “nos ofendermos” Nele.

E a dificuldade de crer que Deus está presente quando Ele está invisível é demais para muitos que começam a trabalhar para Ele com altas expectativas e bravas crenças, que ao fim parecem injustificadas.

Mas, assim como com respeito a João na prisão, e as irmãs em Betânia, e a multidões de outros em todas as eras, Ele não está desatento, muito embora Seu silêncio pareça apontar para isso. Ele os está treinando, e a nós, para uma fé destemida, a viver no reino do invisível e eterno, a trilhar Seus próprios passos. Às vezes, o que chamamos de orações não-respondidas provam-se, sem sombra de dúvida, ser uma bênção maior do que a desejada resposta talvez pudesse ter sido. Quando Cristo responde com negação a nossos pedidos, podemos estar certos de que a resposta positiva teria sido para nosso prejuízo. Ele retém misericórdias secundárias a fim de nos ensinar a importância e o valor das primárias. Suas negativas são para nosso enriquecimento, e não para nosso empobrecimento, pois Seus propósitos são vastamente maiores do que nossas orações, e, embora Seu discurso se pareça com a prata, Seu silêncio é como o ouro. “Bem-aventurado aquele que não se ofender em Mim”.

“Essas coisas vos tenho dito para que, apesar da severidade de Minhas exigências, do mistério de Minhas contradições, da lentidão de Meus métodos e da irrazoabilidade de Meus silêncios, não vos escandalizeis.” Que coisas são essas? O que manterá Seu povo a salvo dos perigos da deserção? Quais são as seguranças permanentes de nossa fé? Em uma palavra: a certeza de Seus caminhos diante de nós: “Saí do Pai […] e vou para o Pai. […] Eu sou o caminho” (16.28; 14.6). E, a seguir, a certeza de Seu amor por nós: “O próprio Pai vos ama” (16.27). Também a constância de Sua união conosco: “Estai em Mim, e Eu em vós” (15.4). Essas são as verdades básicas de todas as Suas advertências, e a expansão delas está na vida dos membros de Seu povo. Bem-aventurado aquele que, repousando nesses fatos de Deus, tornam-nos fatores de sua própria vida, e avança sem se ofender e sem se escandalizar, sempre radiante com a “paz que excede todo o entendimento” (Fp 4.17), tornando-se crescentemente parte da iluminação do mundo ao refletir seu Senhor.

Assim, tenhamos cuidado em colocar um valor indevido em nossa mera percepção dessa verdade. Atentemos para não superestimar a força de nossas próprias resoluções e de nossos recursos, de dizermos qualquer coisa como: “Ainda que todos os homens se escandalizem em Ti, eu jamais me escandalizarei”. Em lugar disso, em uma humilde e sensível dependência de Cristo, a qual sempre se expressa em devoção ferrenha e lealdade à Palavra Dele, busquemos viver como homens de fé manifesta. Pois essa é a condição que governa a bem-aventurança de não se escandalizar.

(Fonte da imagem)

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Igreja Serviço cristão T. J. Blackman

Sete servos de Deus na Epístola a Filemon

Diversos exemplos que servirão para incentivar ou avisar o cristão que deseja servir a seu Senhor

Nos versículos 1, 22 e 23 dessa pequena e preciosa carta de Paulo, ele faz menção de seis cooperadores que estavam com ele na prisão em Roma.

(É interessante observar quantas vezes encontramos grupos semelhantes de sete irmãos no Novo Testamento. Eis alguns exemplos:

• Em João 21.2, seis irmãos acompanham Pedro quando este diz: “Vou pescar”.

• Em Atos 6, sete irmãos são escolhidos para administrar o ministério cotidiano às viúvas.

• Em Atos 10, Pedro e mais seis irmãos vão à casa de Cornélio.

• Em Atos 20, Paulo e mais seis irmãos esperam sete dias para poder partir o pão com a igreja em Trôade.)

Vamos considerar as qualidades desses homens que se encontravam na companhia de Paulo, e por fim, o próprio Paulo.

1. Timóteo, servo recomendado. Timóteo é mencionado pela primeira vez em Atos 16.1-3. Lemos a respeito dele: “Do qual davam bom testemunho os irmãos que estavam em Listra e em Icônio”. Como é importante que o servo de Deus tenha a confiança e a recomendação de irmãos que o conhecem.

Todo serviço cristão deve ser baseado na igreja local, e todo o servo de Deus deve sair para servir a Deus em plena comunhão e com o apoio de seus irmãos. Convém observar como Timóteo foi habilitado por Deus (1Tm 4.14; 2Tm 1.6) e enviado por Deus (1Tm 1.18). Todavia, a posse de alguns dons e a convicção do chamamento de Deus não dão ao obreiro o direito de trabalhar independentemente, sem ligação com sua igreja local. Pela recomendação a igreja se envolve no serviço do obreiro, e o próprio obreiro sente o benefício das constantes orações e do interesse da igreja.

2. Epafras, servo de intensa oração. Em Colossenses, carta escrita e enviada ao mesmo tempo que a carta a Filemom, lemos mais a respeito de Epafras (4.12,13). Ele era da igreja em Colossos: “Que é dos vossos, servo de Cristo”. Paulo destaca as orações deste servo, indicando:

a) o fervor delas: “Combatendo […] em orações”. A palavra traduzida como “combatendo” é semelhante, no original, à palavra que descreve a oração do Senhor Jesus no jardim de Getsêmani: “Posto em agonia, orava mais intensamente” (Lc 22.44). Epafras orava com todo o coração e com toda a sua força.

b) a persistência delas: “Combatendo sempre”.

c) a particularidade delas: “Por vós em oração”, isto é pelos cristãos em Colossos, e não somente por eles, mas também pelos irmãos em Laodicéia e em Hierápolis, como o v. 13 indica.

d) a objetividade delas: “Para que vos conserveis firmes, perfeitos e consumados em toda a vontade de Deus” (v. 12).

3. Marcos, servo restaurado. João Marcos, sobrinho de Barnabé, acompanhou Paulo e Barnabé em sua primeira viagem missionária, mas, quando chegaram a Perge, na Panfília, no sul da Ásia Menor, Marcos apartou-se deles, voltou para Jerusalém e não os acompanhou naquela obra (At 13.13; 15.38).

Outras referências no Novo Testamento, e especialmente as palavras de Paulo em Atos 15.38, dão a entender que, embora seu tio Barnabé o levasse consigo depois para a evangelização de Chipre, isso foi uma falha da parte de Marcos.

Porém, é muito agradável ver como Paulo se alegra com a restauração de Marcos ao serviço do Senhor. Em Colossenses 4.10, Paulo escreve com respeito a ele: “Vos saúda […] Marcos, o sobrinho de Barnabé, acerca do qual já recebestes mandamento; se ele for ter convosco, recebei-o”. Isso indica que Marcos estava de novo com Paulo. Em 2Timóteo 4.11, chegando perto do fim de sua “carreira”, Paulo manda a Timóteo a seguinte mensagem: “Toma Marcos e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério”.

Contudo, a mais impressionante evidência da restauração de Marcos é o fato que lhe foi concedido o privilégio de ser um dos quatro homens escolhidos para escrever, inspirados pelo Espírito Santo, os quatro livros que registram a vida, a morte e a ressurreição do Filho de Deus. Esse servo, que falhou e foi restaurado, foi escolhido para descrever o serviço incansável e devotado do Servo perfeito!

Deus não é só o Deus de salvação, mas também de restauração; e todas as Suas obras são perfeitas.

4. Aristarco, servo e companheiro. Em relação a Paulo, Aristarco é chamado de companheiro na viagem (At 19.29), companheiro de prisão (Cl 4.10) e cooperador (Fm 24). Todas essas expressões indicam que Paulo dava muito valor ao companheirismo desse irmão. Seu nome sugere que era de família nobre, mas veio a ser ainda mais ilustre, sendo, como Jabez, homem de oração (1Cr 4.9,10), e ainda mais nobre, como os homens de Beréia, que “de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras” (At 17.11).

Como é bom ter um homem assim como companheiro na obra do Senhor, mesmo nas privações das viagens e da prisão.

5. Demas, servo que desapontou. É evidente que, na ocasião do envio da carta a Filemom, Demas ainda era um “cooperador” apreciado do apóstolo Paulo. Mais tarde, porém, Paulo tinha de lamentar a respeito dele: “Demas me desamparou, amando o presente século” (2Tm 4.10).

É fácil ficar orgulhoso perante a apostasia de outros e pensar que nunca faríamos tal coisa. Contudo, convém reconhecer o fato de que sempre estamos em perigo de cair. É só começar a seguir um pouco mais “de longe” (como Pedro em Mt 26.58), e logo estamos de volta ao mundo (como Pedro no v. 69, “assentado fora”).

Prezado leitor cristão, nunca imagine que a carne, a velha natureza, tenha melhorado depois de sermos cristãos há alguns anos. O próprio Paulo, depois de vários anos no serviço ao Senhor, disse: “Em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm 7.18). Se nos aproximarmos do mundo, estaremos em grande perigo, pois é disso que a carne ainda gosta. Uma vez que estamos no mundo não somos mais úteis ao Senhor.

O nome Demas quer dizer “popular”. Talvez isso indique a causa de sua queda. A popularidade tem sido um laço para muitos.

6. Lucas, servo meticuloso. Paulo tinha consigo naquele tempo dois dos quatro homens que seriam usados por Deus para escrever os Evangelhos. Além de seu Evangelho, Lucas escreveria Atos também.

Na pequena introdução de seu Evangelho, Lucas faz menção do método que usou na preparação desse livro: “Pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los [os fatos] a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me informado minuciosamente de tudo desde o princípio” (1.3). Essas palavras mostram como ele juntou os fatos, investigando tudo e verificando as fontes das informações (a palavra traduzida “princípio” pode indicar “origem” também, como na ARA). Depois ele colocou tudo em ordem, escrevendo com método. Tal é o homem que Deus usou para escrever o precioso terceiro Evangelho.

Que exemplo e inspiração para todos nós a fim de realizarmos com zelo a obra do Senhor.

7. Paulo, servo que refletia a Cristo. Deixamos por último o melhor dos sete, e aquele que é o modelo para todos! Muitos artigos seriam necessários para dizer tudo a respeito de Paulo. Porém, a pequena carta dele a Filemom revela o fato mais importante em sua vida e em seu serviço: Cristo estava nele, Cristo vivia nele, e para ele o viver era Cristo (Gl 2.20; Fp 1.21).

De modo muito lindo vemos nessa carta a manifestação do Espírito de Cristo no apóstolo Paulo. A carta foi mandada a Filemom pelas mãos de Onésimo. Esse era servo de Filemom, mas havia fugido, provavelmente levando consigo algumas coisas que roubara da casa de seu senhor. Encontrando-se com Paulo em Roma, arrependeu-se e creu no Senhor Jesus. Agora salvo e irmão amado (Fm 16), Onésimo volta a casa de Filemom, e, diz Paulo: “Se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo. E, se te fez algum dano ou te deve alguma coisa, põe isso à minha conta. Eu, Paulo, de minha própria mão escrevi; eu o pagarei” (vv. 17-19).

Que lindo reflexo do amor daquele que restituiu o que não furtou (Sl 69.4), pagando nossa dívida e levando sobre Si nossas iniqüidades (Is 53.6). Paulo era uma verdadeira epístola de Cristo (2Co 3.3), escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo. Que nós sejamos assim também, imitando a Paulo como ele era imitador de Cristo (1Co 11.1).

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Cristo Serviço cristão T. Austin-Sparks

O descanso

Amados de nosso Senhor,

A primeira e tão bem-vinda palavra Dele para nós foi: “Vinde a Mim todos os que estais cansados” (Mt 11.28). Aquela labuta do fútil Adão estava sobre nós, tanto no pecado como na canseira das obras.

Deixamos isso na cruz do Senhor ou ainda o estamos suportando, em parte? Marta estava atarefada com muitas coisas, ainda que pensasse estar servindo seu Senhor! Estranho que tal serviço trouxesse tensão e irritação, ressoasse nos nervos e trouxesse um julgamento errado dos outros; contudo, essa dualidade que vemos em Betânia ainda não acabou; ainda a encontramos no serviço a Deus. E muitas “separações”, muitos afastamentos devem-se a isso, e muita é a perplexidade que vem desta outra palavra sobre o supremo serviço do Senhor: “Meu jugo é suave e Meu fardo é leve” (v. 30). Em face de algumas experiências [dos cristãos], essa frase soa irônica.

O Senhor não nos chama para tal labor, mas para o descanso. “Aqueles que crêem de fato entram no descanso” (cf. Hb 4.3) e: “Eu te darei descanso” (cf. Js 1.13). Ele promete descanso, não apenas do pecado, mas do trabalho inútil e desapontador. A maldição do trabalho de Adão em todas as suas formas gera nada além de um infrutífero cansaço, uma exaustão de esforço sem recompensa, e certamente “o suor da testa”. As energias da carne, a mera intensidade da alma, as chamas de uma paixão auto-criada, tudo isso causa febre, geralmente uma grande febre que nos torna desequilibrados para servir nosso Senhor quando Ele verdadeiramente necessita de nosso ministério.

Tão insistentemente o Salvador diz para a sinceridade e o impulso carnais: “Uma coisa é necessária: que você se aquiete e ouça Meu conselho, pois Eu sou seu Senhor”. Busque a quietude.

Pois as obras estão consumadas desde a fundação do mundo, e nada podemos fazer para torná-las mais perfeitas ou adicionar algo a elas. À parte Dele, nada há do que se fez.

E então? Há o lado bom, que é a boa parceria. Ele e nós devemos agora trabalhar juntos por meio de Seu Espírito que habita interiormente, assim como Ele e o Pai trabalharam juntos na terra mediante essa habitação. É o grande jugo, o eterno propósito de Deus; mas ele é fácil e leve, pois a carga está sobre o Espírito, dentro de nosso espírito, e não é uma pressão em algum lugar na alma: nem os nervos nem o cérebro são tentados por ele, nem a carne conhece seu peso. Porém o pilar interior de Sua força é o suporte, uma pressão de cima vinda do soberano amor.

Mas agora trabalhemos e nos alegremos em trabalhar. Existe labuta e talvez haja um feliz cansaço, mas não tensão.

Para concluir, eis aqui o segredo contido em uma experiência exultante: “Trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus que está comigo” (1Co 15.10). Paulo enfatizou grandemente estas últimas palavras, “a graça Deus que está comigo”, por toda a vida, pois o derradeiro toque sútil do “velho homem” que busca servir a Deus é dizer “eu” no templo de Sua glória. Como disse Andrew Murray: “Onde a carne busca servir a Deus há a força do pecado”.

“Levanta-Te, Senhor, ao Teu repouso, Tu e a arca da Tua força” (Sl 132.8).

Na fraqueza que permite o Triunfo Dele,

T. Austin-Sparks
T. Madoc-Jeffreys

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Agostinho Citações D. L. Moody Gotas de orvalho Humildade J. C. Ryle Matthew Henry Oração Osvald Chambers Richard Sibbes Serviço cristão Thomas Brooks

Gotas de orvalho (97)

Cedo de manhã, o orvalho do céu!

A fé é uma inexprimível confiança em Deus. Uma confiança que nem sonha com a possibilidade de Deus não ficar ao nosso lado.

(Oswald Chambers)

Se você crê somente naquilo de que gosta no Evangelho e rejeita o de que não gosta, não é no evangelho que você crê, mas em si mesmo.

(Agostinho de Hipona)

Não te acanhes se tua oração é gaguejante e tuas palavras, fracas e imperfeitas. O Senhor te entende. Assim como uma mãe entende o balbuciar de seu filhinho, assim o amado Salvador te entende. Ele pode ler um suspiro e captar o significado de um gemido.

(J. C. Ryle)

Os que se afastam de Deus nunca podem achar repouso em nenhuma outra parte.

(Mathew Henry)

É um vício destrutivo adicionar qualquer coisa a Cristo.

(Richard Sibbes)

A alma humilde contempla a justiça de Cristo como sua única coroa.

(Thomas Brooks)

Pequenos números não fazem nenhuma diferença para Deus. Não há nada pequeno se Deus estiver ali.

(Dwight L. Moody)

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Citações Gotas de orvalho John Nelson Darby Oração Pecado Serviço cristão vontade de Deus

Gotas de orvalho (91)

Cedo de manhã, o orvalho do céu!

Uma vida interior com Deus é o único meio para viver em público por Ele. Toda atividade exterior que não seja o fruto da vida interior tende a fazer-nos trabalhar sem Cristo e a substitui-Lo pelo ego. Tenho muito temor de que se manifeste um grande ativismo quando há pouca comunhão com o Senhor. Todo verdadeiro serviço deve resultar do conhecimento do próprio Cristo.

(John Nelson Darby)

Não é só nas grandes ocasiões que devemos ser fiéis à vontade de Deus; as ocasiões se sucedem, e iremos ficar surpresos ao compreender quanto nosso desenvolvimento espiritual depende das pequenas obediências.

(Madame Swetchine)

A melhor prova de que Deus nunca cessará de nos amar reside no fato de Ele nunca ter começado.

(Geerhardus Vos)

Você acredita ser convertido? Então, não espere impossibilidades desse mundo. Não suponha que virá o dia em que você não encontrará fraqueza no coração, não terá incoerência em suas orações, não haverá distrações durante a leitura bíblica, nem desejos indiferentes na adoração pública a Deus, nenhuma carne para atormentar, nem diabo para tentar, nem ciladas para lhe fazer cair. Não espere nada disso. Conversão não é perfeição! Conversão não é céu! O velho homem dentro de você ainda está vivo, o mundo ao seu redor ainda está cheio de perigos, o diabo não morreu. Lembre-se de que um pecador convertido continua sendo um pobre e fraco pecador, necessitado de Cristo a cada dia. Lembre-se disso, e você não ficará desapontado.

(J. C. Ryle)

A oração não foi estabelecida como um meio de informar a Deus aquilo de que necessitamos, mas foi projetada como nossa confissão a Ele de que estamos cônscios de nossa necessidade. Na oração, como em tudo o mais, os pensamentos de Deus não são os nossos. Ele requer que Seus dons e Suas dádivas sejam procurados, que nos empenhemos em buscá-los. Ele é honrado quando pedimos, da mesma forma que devemos agradecer-Lhe assim que nos concede Sua bênção.

(A. W. Pink)

Cristo habita naquele coração que mais eminentemente se esvaziou de si mesmo.

(Thomas Brooks)

Enquanto a liderança espiritual não voltar a ser ocupada por homens que preferem a obscuridade, continuaremos a presenciar uma constante deterioração da qualidade do cristianismo popular, e possivelmente chegaremos ao ponto em que o Espírito Santo, entristecido, se retirará, como a glória de Deus se apartou do templo.

(A. W. Tozer)

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A. W. Tozer Oração Santidade Serviço cristão Vida cristã

Oração de um profeta menor

Esta oração é pronunciada por um homem chamado a ser testemunha ante as nações, e foram estas as palavras que disse ao seu Senhor no dia em que foi ordenado. Depois de os anciãos e ministros terem orado e pousado sobre ele as suas mãos, retirou-se para estar a sós com o seu Salvador, no silêncio, mais além do que os seus irmãos bem intencionados o podiam levar. E disse:

Senhor, escutei a tua voz e tive medo. Chamaste-me a uma tarefa solene numa hora grave e perigosa. Em breve abalarás todas as nações, a terra e também o céu, para que fique só aquilo que é inabalável. Senhor, nosso Senhor, aprouve-Te honrar-me chamando-me a ser teu servo. Só aceita esta honra aquele que é chamado a ser teu servo, visto ter de ministrar junto àqueles que são obstinados de coração e duros de ouvido. Eles Te rejeitaram, a Ti, que és o Amo, e não posso esperar que me recebam a mim, que sou o servo.

Meu Deus, não vou perder tempo a deplorar a minha fraqueza ou a minha incapacidade para o trabalho. A responsabilidade é tua, não minha, pois disseste: “Conheci-te, ordenei- te, santifiquei-te”, e também: “Irás a todos aqueles a quem Eu te enviar, e falarás tudo aquilo que Eu te ordenar”. Quem sou eu para argumentar contigo ou para pôr em dúvida a tua escolha soberana? A decisão não é minha, mas sim tua. Assim seja, Senhor; cumpra-se a tua vontade e não a minha.

Bem sei, Deus dos profetas e dos apóstolos, que, enquanto eu Te honrar, Tu me honrarás a mim. Ajuda-me, portanto, a fazer este voto solene de Te honrar em toda a minha vida e trabalho futuros, quer ganhando quer perdendo, na vida ou na morte, e a manter intacto esse voto enquanto eu viver.

É tempo, ó Deus, de agires, pois o inimigo entrou nos teus pastos e as ovelhas são dilaceradas e dispersas. Abundam também falsos pastores que negam o perigo e se riem das ameaças que rodeiam o teu rebanho. As ovelhas são enganadas por estes mercenários e seguem-nos com fidelidade, enquanto o lobo se acerca para matar e destruir. Imploro-Te que me dês olhos bem abertos para descobrir a presença do inimigo; que me dês compreensão para distinguir entre o falso e o verdadeiro amigo. Dá-me visão para ver e coragem para declarar fielmente o que vejo. Torna a minha voz tão parecida com a tua que até as ovelhas doentes a reconheçam e Te sigam.

Senhor Jesus, aproximo-me de Ti em busca de preparação espiritual. Pousa a tua mão sobre mim. Unge-me com o óleo do profeta do Novo Testamento. Impede que eu me transforme num religioso e perca assim a minha vocação profética. Salva-me da maldição que paira sombriamente sobre o sacerdócio moderno; a maldição da transigência, da imitação, do profissionalismo. Salva-me do erro de julgar uma igreja pelo número de seus membros, pela sua popularidade ou pelo total de suas ofertas anuais. Ajuda-me a lembrar-me de que eu sou profeta, não um animador, não um gerente religioso, mas um profeta. Que eu nunca me transforme num escravo das multidões. Cura a minha alma das ambições carnais e livra-me do prurido da publicidade. Salva-me da servidão das coisas materiais. Impede-me de gastar o tempo entretendo-me com as coisas da minha casa. Faze o teu terror pousar sobre mim, ó Deus, e impele-me para o lugar de oração onde eu possa lutar com os principados, e potestades, e príncipes das trevas deste mundo. Livra-me de comer demais e de dormir demais. Ensina-me a auto-disciplina para que eu possa ser um bom soldado de Jesus Cristo.

Aceito trabalho duro e pequenas compensações nesta vida. Não peço um cargo fácil. Procurarei ser cego aos pequenos processos de facilitar a vida. Se outros procuram o caminho mais plano, eu procurarei o caminho mais árduo, sem os julgar com demasiada severidade. Esperarei oposição e procurarei aceitá-la serenamente quando ela vier. Ou se, como por vezes sucede aos teus servos, o teu povo bondoso me obrigar a aceitar ofertas expressivas de gratidão, conserva-Te ao meu lado e salva-me da praga que a isso freqüentemente se segue; ensina-me a usar o que porventura receber de tal modo que não prejudique a minha alma nem diminua o meu poder espiritual. E se a tua providência permitir que me advenham honras da tua Igreja, que eu não esqueça naquela hora que sou indigno da mais ínfima das tuas misericórdias, e que, se os homens me conhecessem tão intimamente como eu me conheço a mim próprio, me retirariam tais honrarias para as darem a outros mais dignos delas.

E agora, Senhor do céu e da terra, consagro-Te o resto dos meus dias, sejam eles muitos ou poucos, consoante a tua vontade. Quer eu me erga perante os grandes quer ministre aos pobres e humildes, essa escolha não é minha, e eu não a influenciaria, mesmo que pudesse. Sou teu servo para cumprir a tua vontade. Ela é mais doce para mim do que a posição, ou as riquezas, ou a fama, e escolho-a acima de tudo o mais na terra ou no céu.

Embora eu tenha sido escolhido por Ti e honrado por uma alta e santa vocação, que eu nunca esqueça que não passo de um homem de pó e cinza com todos os defeitos e paixões naturais que atormentam a humanidade. Rogo-Te, portanto, meu Senhor e Redentor, que me salves de mim próprio e de todo o mal que eu puder fazer a mim mesmo enquanto procuro ser uma bênção para os outros. Enche-me do teu poder pelo Espírito Santo, e eu caminharei na tua força e proclamarei a tua justiça – a Tua tão somente. Anunciarei a mensagem do teu amor redentor enquanto tiver forças.

E, Senhor amado, quando eu for velho e estiver fatigado, demasiado cansado para prosseguir, prepara-me um lugar lá em cima e conta-me entre o número dos teus santos na glória eterna. Amém.

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Sacerdotes


O estabelecimento de um sacerdócio humano como uma classe distinta dos outros cristãos é uma negação da verdade da fé cristã. De acordo com o Novo Testamento, todos os cristãos são sacerdotes: eles oferecem oração e louvor a Deus.

No Novo Testamento temos:

  1. Sacerdotes judeus
  2. O sacerdote pagão de Júpiter
  3. Melquisedeque (contemporâneo de Abraão)
  4. O próprio Cristo como o Sumo Sacerdote

Não existe absolutamente nenhuma referência a alguns cristãos tendo a distinção de serem sacerdotes. Em lugar disso, todos os cristãos são sacerdotes. Uma classe diferenciada de sacerdotes dentre os cristãos na terra é totalmente estranha ao Novo Testamento. Todos os cristãos pertencem a um sacerdócio real e santo – tudo o mais é falso e contrário às Escrituras.

Veja os seguintes versículos:

“Vós também, quais pedras vivas, sois edificados como casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus por Cristo Jesus” (1Pd 2.5).

“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas Daquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz” (1Pd 2.9).

“Àquele que nos ama, e pelo Seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos fez reino, sacerdotes para Deus, Seu Pai” (Ap 1.5,6).

“Por Ele [Jesus], pois, ofereçamos sempre a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome” (Hb 13.15). (A palavra sacerdote não é usada aqui, mas apenas sacerdotes oferecem sacrifícios.)

Cristo é o grande Sumo Sacerdote; todos os cristãos são sacerdotes. No antigo sistema, os sacerdotes ofereciam dons e sacrifícios pelos pecados em benefício do povo que não podia se aproximar do altar para o fazer. Era, sem dúvida, antes do próprio sacrifício de Cristo na cruz. A fé cristã é fundamentada no perfeito sacrifício de Cristo, no valor e na eficácia do que é eterno. A Epístola aos Hebreus enfatiza que, como a obra de Cristo fora de uma vez por todas, não pode haver qualquer outro sacrifício pelos pecados (ver 10.26).

No tabernáculo judeu havia dois véus. As pessoas comuns não podiam passar por nenhum deles. Os sacerdotes podiam passar pelo primeiro a fim de oferecer incenso, porém, pelo véu que dava para o Santo dos Santos, somente o sumo sacerdote podia passar sozinho, uma vez por ano, com o sangue da propiciação aspergido sobre o propiciatório. Assim, Deus se escondia dentro do véu. O adorador comum não podia se aproximar de Deus diretamente para oferecer dons e sacrifícios. O sacerdote os recebia e os oferecia. Deus habitava em densa escuridão.

A fé cristã é o completo oposto de tudo isso. O véu foi rasgado de alto a baixo (ver Mc 15.38); Deus revelou a Si mesmo. Em lugar de não podermos nos aproximar de Deus, Deus se aproximou de nós. Isso se aplica até ao maior dos pecadores (Paulo). Agora:

“A graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11).

“As trevas vão passando, e já brilha a verdadeira luz” (1Jo 2.8).

“Pois que Deus estava em Cristo reconciliando Consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões” (2Co 5.19).

“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (Jo 1.14).

“Nele [em Cristo] estava a vida, e a vida era a luz dos homens” (Jo 1.4).

“Deus nos deu vida eterna, e essa vida está em Seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida” (1Jo 5.12).

Por meio disso deduzimos que, quando um cristão assume a autoridade exclusiva de conduzir uma reunião ou um grupo, ele está agindo segundo a antiga ordem judaica. Está, de fato, dizendo que a pessoa comum não pode se aproximar pessoalmente, mas que deve ter um ministro ordenado da igreja para se aproximar por ele. Isso é uma negação de toda a eficácia da fé cristã e do lugar no qual todos os cristãos foram colocados.

Mas a luz de Deus brilhou mais, “e devemos andar na luz assim como Ele [Deus] na luz está” (1Jo 1.7). Aproximo-me pelo sangue de Cristo, a luz me mostra que estou perfeitamente limpo. Se requeiro que outro entre na presença de Deus em meu benefício, não devo considerar a mim mesmo como puro. Mas estou limpo, por causa da obra de Cristo. Sou, portanto, um sacerdote, e devo oferecer louvor, gratidão e adoração ao próprio Deus. E posso fazer isso a qualquer hora.

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Gotas de orvalho (84)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

O que é o evangelho em si mesmo além de uma temperança misericordiosa, na qual a obediência de Cristo é estimada como nossa, e nossos pecados são lançados sobre Ele, em que Deus, sendo juiz, se torna nosso Pai, perdoando nossos pecados e aceitando nossa obediência, ainda que fraca e defeituosa? Somos agora trazidos ao céu sob a aliança da graça por um caminho de amor e misericórdia.

(Richard Sibbes)

Contemple pela fé o Cordeiro de Deus, sem pecado e sem mancha, como tendo suportado o peso, sofrido pelos pecados, morrido pelas transgressões, e aceite a verdade preciosa de que foi o eterno amor de Deus que os colocou todos em Jesus, e que nada lhe foi deixado para fazer além de crer em Jesus, pois Ele salva totalmente todos os que vêm a Deus por Seu intermédio.

(Octavius Winslow)

Não existe maior sinal de um orgulho confirmado do que julgar-nos suficientemente humildes.

(William Law)

Nunca suavize o Evangelho. Se a verdade ofende, então, deixe que ofenda. As pessoas passam sua vida ofendendo a Deus; deixe que se ofendam por um momento.

(John MacArthur)

Embora nossos desejos privados sejam sempre tão confusos, nossos pedidos particulares sempre tão imperfeitos e nossos próprios suspiros sempre tão escondidos dos homens, mesmo assim Deus os vê, lembra-se deles e os põe no arquivo do céu, e um dia os coroará com respostas e retornos gloriosos.

(Thomas Brooks)

Quando agimos, colhemos os frutos de nosso trabalho, mas, quando oramos, colhemos os frutos do trabalho de Deus.

(Hans Von Staden)

Quando procuramos colocar a lei de Deus contra Seu amor, mostramo-nos ignorantes sobre ambos.

(R.C. Sproul)

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A. W. Tozer Igreja Oração Serviço cristão

As melhores coisas demandam esforço

Muitas horas de comunhão deveriam preceder uma hora no púlpito.

Em nosso mundo distorcido, as coisas mais importantes muitas vezes são as mais difíceis de aprender e, inversamente, as coisas que vêm facilmente são, na maioria das vezes, de pouco valor real no longo prazo.

Isso se vê claramente na vida cristã. Muitas vezes acontece que aquilo que aprendemos a fazer sem dificuldade são as atividades mais superficiais e menos importantes, e os exercícios verdadeiramente vitais tendem a ser omitidos devido à dificuldade de pô-los em prática. Isso é mais facilmente visto em nossas variadas formas de serviço cristão, particularmente no ministério. Ali, as atividades mais difíceis são as que produzem maior fruto, e os serviços menos frutíferos são desempenhados com menor esforço. Essa é uma armadilha em que um ministro sábio não cairá, ou, se perceber que está preso nela, importunará céu e terra em sua luta para dela escapar. Orar com sucesso é a primeira lição que o pregador tem de aprender, se quiser pregar frutiferamente, embora a oração seja a tarefa mais difícil para a qual ele é chamado. Essa vai ser a atividade, mais do que qualquer outra, que, como homem, ele será tentado a menos pôr em prática. Ele tem de determinar o coração para vencer pela oração, e isso significa que primeiro tem de vencer a própria carne, porque é a carne que sempre atrapalha a oração.

Quase tudo que diz respeito ao ministério pode ser aprendido com uma porção média de esforço inteligente. Não é difícil pregar, ou gerenciar atividades da igreja ou atender a compromissos sociais; casamentos e funerais podem ser dirigidos sem problemas com um pouco de ajuda de um Manual do ministro. Pode-se aprender a fazer sermões tão facilmente como fazer sapatos – introdução, conclusão, e só. E assim é com todo a atividade do ministério como se tem levado na igreja normal de hoje.

Mas orar – isso é outro assunto. Aqui de nada serve a ajuda de um Manual do ministro. Aqui, o solitário homem de Deus tem de combater sozinho, às vezes com jejuns e lágrimas e fadigas indizíveis. Ali cada homem tem de ser original, porque a verdadeira oração não pode ser imitada nem pode ser aprendida de outrem. Cada um tem de orar como se só ele pudesse orar, e sua aproximação de Deus tem de ser individual e independente; independente de todos, menos do Espírito Santo.

Thomas à Kempis[1] diz que o homem de Deus deve sentir-se mais à vontade em seu quarto de oração do que diante do público. Não é exagero dizer que é raro que o pregador que gosta de estar diante do público se encontra espiritualmente preparado para estar diante dele. É mais provável que a oração correta torne o homem hesitante em aparecer diante de uma audiência. O homem que realmente se sente à vontade na presença de Deus se verá preso numa espécie de contradição interior: ele provavelmente sentirá de forma tão aguda sua responsabilidade que preferiria fazer qualquer outra coisa a encarar um auditório; contudo, a pressão sobre seu espírito pode ser tão grande que nem cavalos selvagens o poderiam arrancar do púlpito.

Nenhum homem deveria se colocar diante de uma audiência sem antes ter estado diante de Deus. Muitas horas de comunhão deveriam preceder uma hora no púlpito. O quarto de oração deveria ser mais familiar do que a plataforma pública. A oração deveria ser contínua; a pregação, intermitente.

É de notar que as escolas ensinam tudo sobre a pregação, exceto a parte importante: a oração. Não se deve censurar as escolas por causa dessa fraqueza, pois a oração não pode ser ensinada; ela somente pode ser praticada. O melhor que qualquer escola ou qualquer livro (ou qualquer artigo) pode fazer é recomendar a oração e exortar a que seja praticada. A oração mesma tem de ser trabalho do indivíduo.

E é justamente o trabalho religioso que, feito com pouco entusiasmo, se torna uma das grandes tragédias de nossos dias.


 

[1] Autor de A imitação de Cristo. (N. do E.)

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