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Para James Lindsay [1]
Aberdeen, 7 de setembro de 1637
Orações de réprobos
A santificação e a mortificação de nossos desejos são as partes mais difíceis do cristianismo. De certa forma, será tão natural para nós saltarmos quando virmos a Nova Jerusalém quanto rirmos quando nos fazem cócegas. A alegria não está sob um comando, ou segundo nosso assentimento, quando Cristo nos beijar. Mas, oh!, quantos de nós querem ter Cristo dividido em duas metades, para que possam pegar apenas uma metade Dele! Tomamos Seu ministério – Jesus e a salvação –, mas “Senhor” é uma palavra incômoda; e obedecer e desenvolver nossa própria salvação, e aperfeiçoar a santidade, é o lado incômodo e tempestuoso de Cristo; e isso nós evitamos e disso nos desviamos.
Quanto a teu questionamento, o acesso que os réprobos têm a Cristo (que é absolutamente nulo, porque eles não podem vir e nem virão ao Pai, em Cristo, pois Cristo não morreu por eles; mas, mesmo assim, pela lei, Deus e a justiça são muito mais do que eles): digo, antes de tudo, que há contigo pessoas mais dignas e instruídas que eu – os srs. Dickson, Blair e Hamilton – que podem satisfazer-te mais plenamente. Porém falarei de modo resumido o que penso disso nestas afirmações:
Primeira afirmação:
Toda a justiça de Deus com respeito ao homem e aos anjos flui de um ato de absoluto e soberano livre-arbítrio de Deus, que é nosso Formador e nosso Oleiro, e nós não passamos de barro; porque se Ele tivesse proibido comer de todas as outras árvores do jardim do Éden, e ordenado a Adão comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, essa ordem seria, sem dúvida, tão justa quanto esta: “Comei de todas as árvores, mas absolutamente não comais da árvore do conhecimento do bem e do mal.” A razão é que Sua vontade vem antes de Sua justiça, por ordem de natureza; e o que é a Sua vontade é a Sua justiça; e Ele não quer as coisas sem Ele só porque elas são justas. Deus não pode, não precisa buscar a santidade, a pureza ou a justiça em coisas sem Ele, nem tampouco de ações de homens ou de anjos, porque Sua vontade é essencialmente santa e justa, e é a primeira regra de santidade e justiça, assim como o fogo é naturalmente luz, e pende para o alto, e a Terra é pesada e pende para baixo.
Segunda afirmação:
Deus dizer aos réprobos: “Crede em Cristo (que não morreu para a salvação deles) e sereis salvos” é justo e correto porque Sua vontade eterna e essencialmente justa assim o determinou e decretou. Suponhamos que a razão natural fale contra isso, mas isso é o profundo e especial mistério do evangelho. Deus obrigou, terminantemente, a todos os réprobos da igreja visível crerem nesta promessa: “Aquele que crer será salvo”; porém, no decreto de Deus e em Sua intenção secreta, não há nenhuma salvação decretada ou intencionada aos réprobos. Mas o compromisso de Deus, vindo de Seu soberano livre-arbítrio, é justíssimo, como dito na primeira afirmação.
Terceira afirmação:
O justo Senhor tem o direito sobre os réprobos e sobre todas as criaturas pensantes que violam Seus mandamentos. Essa afirmação é evidente.
Quarta afirmação:
A fé que Deus procura nos réprobos é que eles confiem em Cristo, não tendo esperança em sua própria justiça, apoiando-se inteiramente e humildemente, como cansados e sobrecarregados, em Cristo, como a pedra fundamental colocada em Sião. Mas Ele não procura isso; sem estarem cansados de seus pecados, eles confiam em Cristo como o Salvador da humanidade; pois confiar em Cristo e não estar cansado do pecado é presunção, não fé. A fé sempre vem com um espírito quebrantado e contrito; e é impossível que a fé esteja onde não haja um coração abatido e contrito, em algum grau, pelo pecado. É certo que Deus não ordena ninguém a ser presunçoso.
Quinta afirmação:
Os réprobos não são formalmente culpados de desprezarem Deus, ou de descrença porque não aplicam Cristo e as promessas do Evangelho a si mesmos, particularmente; se aplicassem, seriam culpados de não crerem em uma mentira, o que Deus nunca os obrigou a crerem.
Sexta afirmação:
A justiça tem o direito de punir os réprobos, porque, de coração orgulhoso, confinados em sua própria justiça, eles não confiam em Cristo como o Salvador de todos aqueles que vêm a Ele. A isso Deus pode, com justiça, obrigá-los, porque em Adão eles tinham a perfeita capacidade para fazê-lo; e os homens são culpados porque amam sua incapacidade, e descansam em si mesmos e se recusam a negar sua própria justiça e ir a Cristo, em quem há justiça para os pecadores cansados.
Sétima afirmação:
Uma coisa é confiar, apoiar-se e descansar em Cristo, em humildade e cansaço de espírito, negando nossa justiça própria, crendo que Ele é a única justiça de pecadores cansados; e outra coisa é crer que Cristo morreu por mim, por João, por Tomás, por Ana, com a intenção e o decreto de nos salvar individualmente, por nome. Porque
- A assertiva anterior vem primeiro, e a segunda é sempre depois, em devida ordem.
- A primeira é fé, a segunda é o fruto da fé; e
- A primeira favorece os réprobos e todos os homens na igreja visível, e a segunda favorece somente os cansados e sobrecarregados, e assim, somente os eleitos e efetivamente chamados por Deus.
Oitava afirmação:
É uma conclusão vã: “Eu não sei se Cristo morreu por mim, João, Tomás, Ana, por nome; e portanto, eu não me atrevo a confiar Nele”. A razão é: porque não é fé crer na intenção de Deus e em Seu decreto de eleição primeiramente, antes de estar cansado. Olha primeiro para tua própria intenção e tua alma, e se achares que o pecado é um fardo, e se puderes e se, de fato, colocares esse fardo sobre Cristo; se isso ocorrer uma vez, agora vem e crê individualmente, ou aplica pelo sentido (porque em meu julgamento isso é um fruto da fé, não a fé) a boa vontade, a intenção e o grato propósito de Deus a respeito de tua salvação. Assim, porque há malícia nos réprobos, e desprezam a Cristo, culpados são; e a justiça tem a lei contra eles: e (o que é um mistério) eles não podem vir a Cristo, porque Ele não morreu por eles; mas o pecado deles é que eles amam sua incapacidade de vir a Cristo; e aquele que ama suas cadeias, merece as cadeias.
[1] James Lindsay, um desconhecido.
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Para Hugh M’Kail [1]
Aberdeen, 5 de setembro de 1637
A Lei
Tu sabes que os homens podem receber seu doce suprimento da amarga Lei com base na graça, e de entre os sentimentos do Mediador. E esse é o caminho mais seguro do pecador, pois há, no Novo Pacto, um leito para os pecadores cansados descansarem, embora não tenha sido cama feita para Cristo nela dormir. A Lei nunca será minha sentenciadora, pela graça de Cristo. Se eu não obtiver nenhum outro bem dela (eu irei encontrar um destino suficientemente dolorido no Evangelho para me humilhar e para me derrubar), ela será, eu concordo, um amigo bom e rude para seguir um traidor até o tribunal, e apoiá-lo até que ele venha a Cristo. Nós podemos nos culpar, por fazermos com que a Lei suspire por dívidas bem pagas, a fim de nos espantar para longe de Jesus, e brigar sobre nossa própria justiça, um mundo na lua, uma quimera, e um sonho noturno do qual o orgulho é mãe e pai. Não pode haver uma alma mais humilde que a do crente; não é orgulho para um homem que está se afogando segurar-se em uma rocha.
A segurança dos crentes
Eu me regozijo que as rodas desse mundo confuso girem nas engrenagens e são dirigidas de acordo com a vontade do Senhor. De qualquer quadrante do céu que o vento sopre, ele nos levará para o Senhor. Nenhum vento pode jogar nossas velas ao mar, porque a habilidade de Cristo e a honra de Sua sabedoria são estabelecidas como penhor e como fogueiras para os passageiros do mar de que Ele os colocará, com Suas mãos, a salvo na praia, nos limites conhecidos do Pai, nossa própria terra. Meu caro irmão, não tenhas medo da cruz de Cristo. Ainda não se vê o que Cristo fará por ti quando vier o pior. Ele manterá Sua graça até que chegues a um estreito, e então trará o decretado nascimento para tua salvação (Sf 2.2). Tu és uma flecha que Ele próprio fez. Deixa-O lançar-te contra um muro de bronze, pois tua ponta será mantida íntegra.
[1] Hugh M’Kail, ministro em Irvine, Ayrshire.
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Para os Paroquianos de Anwoth [1]
Aberdeen, 13 de julho de 1637
Palavras aos apóstatas
Ouvi dizer, e minha alma está entristecida por isso, que desde que me ausentei de vosso meio, muitos dentre vós voltaram-se do bom e velho caminho, novamente para o vômito dos cães. Vou falar a esses homens. Não foi sem a direção especial de Deus que a primeira sentença que minha boca vos proferiu foi esta, “E disse-lhe Jesus, Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não veem vejam, e os que veem sejam cegos” (Jo 9.39). É possível que meu primeiro encontro convosco seja quando vós e eu comparecermos perante o terrível Juiz do mundo; e no nome e na autoridade do Filho de Deus, meu grande Rei e Mestre, eu escrevo, perante estes presentes, intimações a esses homens. Prendo-lhes a alma e o corpo para o dia de nosso comparecimento na corte. Sua eterna condenação permanece subscrita e selada no céu pela escrita do grande Juiz dos vivos e dos mortos; e eu estou pronto a me levantar como um pregador testemunhando contra os tais, diante deles naquele dia, e a dizer “Amém” à sua condenação, exceto no caso de se arrependerem. A vingança do Evangelho é mais pesada do que a vingança da Lei. A maldição e a vingança do Mediador é duas vezes vingança, e essa vingança é a porção devida a tais homens. E ali eu os deixo como homens presos, sim, e até que eles se arrependam e se corrijam.
Vós fostes testemunhas de como passávamos o Dia do Senhor enquanto estive entre vós. Oh, sacrílego ladrão do dia de Deus, o que responderás ao Todo-Poderoso quando Ele procurar os muitos Sábados em ti? O que fará o amaldiçoador, o xingador, o blasfemador quando sua língua for torrada naquele grande e ardente lago de fogo e enxofre? E o que fará o bêbado quando sua língua, seus pulmões, fígado, ossos e tudo mais ferver e fritar no fogo torturante? Ele estará, então, longe de seus barris de bebida forte; e não haverá um poço de água fresca para ele no inferno. E o que será do desgraçado, do cobiçoso, do opressor, do enganador, do verme, cujo ventre nunca se enche de barro (Sl 17.4), quando, no dia de Cristo, o ouro e a prata devem se tornar em cinzas, e ele deve comparecer à corte, e responder ao seu Juiz, e deixar seu céu de barro que não tem valor?
Ai, ai, para sempre seja para o ateu que muda conforme o tempo, que tem um deus e uma religião para o verão, e outro deus e outra religião para o inverno, e o dia da limpeza, quando Cristo irá varrer tudo que está no chão de Seu celeiro; que tem a consciência de toda feira e mercado, e cuja alma corre sobre estas rodas oleadas: o tempo, os hábitos, o mundo e o comando de homens. Oh, se o ateu descuidado, e o homem que dorme, que se protege com “Deus perdoe nossos pastores, se eles estiverem nos conduzindo erradamente, mas precisamos fazer como eles nos mandam”, e deitam a cabeça sobre o seio do tempo e dá sua consciência a um representante, e dorme até a fumaça do fogo do inferno subir-lhe à garganta e o fazer sair de sua triste cama! Oh, se tal homem acordasse! Muitos ais são para os hipócritas excessivamente dourados, cobertos de ouro. Uma condenação pesada é para o mentiroso e para o bajulador; e o livro voador da temível vingança de Deus, de vinte côvados de comprimento por dez côvados de largura, que sai da face de Deus, entrará na casa e na alma daquele que rouba ou dá falso testemunho no nome de Deus (Zc 5.2,3).
Eu anuncio fogo eterno mais quente do que as chamas de Sodoma sobre os homens que fervem em concupiscências imundas de fornicação, adultério, incesto e iniqüidades semelhantes. Nenhum espaço, não, nem a largura de um pé, para tais cães vis dentro da imaculada Jerusalém. Muitos de vós suportam isso dizendo: “Deus nos perdoe, nós não conhecemos nada melhor”.
Todos os homens dizem que têm fé: tantos são os homens e mulheres agora quantos os santos no céu. E todos crêem (vós dizeis) que todo cão imundo é suficientemente limpo e suficientemente bom para a imaculada e nova Jerusalém no céu. Todo homem teve conversão e novo nascimento, mas isso não é genuíno. Eles nunca passaram uma noite de aflição por causa de pecado. A conversão é para eles como um sonho na noite. Com uma palavra, o inferno se esvaziará no Dia do Juízo, e o céu ficará lotado! Ai de mim!
Intensa admiração por Cristo
Eu fico pensando se os homens podem viver apartados de Cristo. Eu me consideraria bem-aventurado se pudesse fazer uma proclamação aberta, e juntar todo os que vivem sobre a terra, judeus e gentios, e todos os que nascerão até o soar da última trombeta a fim de se reunirem em torno de Cristo com o propósito de contemplá-Lo, maravilhando-se e admirando-O e adorando Sua beleza e Sua doçura.
Porém, entre nós todos, nenhum de nós poderia amá-Lo o suficiente. Ele é o Filho do amor do Pai e o deleite de Deus. O amor do Pai repousa todo sobre Ele. Oh, se a humanidade pudesse apanhar todo o amor que tem e depositá-lo sobre Ele! Convidai-O, e levai-O para vossa casa no exercício da oração matinal e da vespertina, como muitas vezes desejei que fizésseis; especialmente agora, não Lhe deixeis faltar morada em vossa casa, nem ficar nos campos quando Ele é retirado dos púlpitos e das igrejas. Se vós quiserdes conquistar o Céu ao sofrerdes violência, ou sentir o vento em vossa face por causa de Cristo e de Sua cruz, eu aqui sou um que provo da cruz de Cristo, e eu vos posso dizer que Cristo sempre foi bondoso comigo, mas Ele se supera (se é que posso dizer assim) em bondade enquanto sofro por Ele. Eu vos dou minha palavra quanto a isto: que a cruz de Cristo não é tão pesada quanto eles dizem; ela é doce, leve e confortável. A visitação de amor e o sorriso de deleite e os abraços de amor de meu Senhor por causa de meus sofrimentos por Ele, eu não os trocaria por uma montanha de ouro, ou por todas as honras, todos os cortejos e a grandeza de clérigos vestidos de veludo. Cristo tem a gema e o coração do meu amor. “Eu sou do meu Amado, e o meu Bem-Amado é meu.”
Oh, se vós segurásseis firme a mão de Cristo! Oh, meus mui amados no Senhor, que eu mudasse a voz, e tivesse eu uma língua afinada pelas mãos de meu Senhor e tivesse a arte de falar de Cristo, para que eu vos pudesse mostrar o valor e a magnitude e a grandeza e a excelência daquele lindo e renomado Noivo! Eu vos rogo pelas misericórdias do Senhor, pelos suspiros, pelas lágrimas e pelo sangue do coração de nosso Senhor Jesus, pela salvação de vossa pobre, mas preciosa alma: apresentai o monte no qual vós e eu possamos nos encontrar perante o trono do Cordeiro, entre os da congregação dos primogênitos. Que o Senhor permita que aquele seja o lugar do encontro! Que vós e eu venhamos a unir as mãos e colher e comer os frutos da árvore da vida, e que venhamos a festejar juntos e beber juntos daquele puro rio da água da vida que vem do trono de Deus e do Cordeiro!
Oh, quão pequena é vossa mão e curtos os vossos dias aqui! Vossa contagem de tempo é menor do que quando vós e eu começamos. A eternidade, a eternidade está chegando, voando com asas; e então, todos os homens, pretos e brancos, serão trazidos à luz. Oh, quão baixos serão vossos pensamentos sobre esse fruto de pele bonita, mas de coração podre, o mundo vão, vão e fútil, quando os vermes fizerem casa nos buracos de vossos olhos, e comerem as carnes de vossa face e fizerem de vosso corpo um monte de ossos secos!
Não pensem que a maneira comum de servir a Deus, como fazem os vizinhos e outros, vos levarão ao céu. Poucos, poucos são salvos. O cortejo do diabo é denso e numeroso. Ele tem a maior parte da humanidade como seus vassalos.
Não ameis o mundo; não mintais; amai e segui a verdade. Aprendei a conhecer a Deus. Tenhais em mente aquilo que eu vos ensinei, porque Deus vos pedirá conta disso quando eu estiver longe de vós. Abstende-vos de todo o mal e de toda aparência do mal. Segui o bem com esmero, e buscai a paz e segui-lhe os passos. Honrai vosso rei e orai por ele.
Um sonoro chamamento a todos
Muitas vezes vos disse, enquanto estava convosco, e agora novamente vos escrevo: pesado, triste e dolorido é o golpe da ira do Senhor que está vindo sobre a Escócia. Ai, ai, ai desta terra prostituída! Pois ela tomará do cálice da ira de Deus de Suas mãos e beberá e vomitará e cairá e não se levantará novamente. Entrem, entrem, entrem depressa para vossa fortaleza, vós, prisioneiros da esperança, e escondei-vos lá até que a ira do Senhor passe (Zc 9.12)! Não sigais os pastores desta terra, pois o Sol já se pôs sobre eles. Como vive o Senhor, eles vos afastam de Cristo, e do bom e velho caminho. Mesmo assim, o Senhor guardará a Cidade Santa, e fará esta Igreja murcha brotar outra vez, como uma rosa e um campo abençoado do Senhor.
[1] Paroquianos de Anwoth: Rutherford foi seu ministro de 1627 a 1638.
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Para James Hamilton [1]
Aberdeen, 7 de julho de 1637
O sobrecarregado devedor de Cristo
Quanto a qualquer coisa que eu faça em minhas cadeias, quando vez por outra sai de mim uma palavra – pobre de mim! –, é muito pouco. E fico muito entristecido que alguém pense que possa existir algo neste caniço quebrado e vazio. Que ninguém impute a mim que o vento da graça, não comprado (pois nada dei por Ele), sopre neste caniço vazio. Eu sou um sobrecarregado devedor. Eu grito: “Abaixo comigo; abaixo, abaixo com toda a excelência do mundo; e exaltado, exaltado seja Cristo!” Exaltado, exaltado Aquele que é belo, aquele que é Santo, nas alturas! Maldição esteja sobre os que não O amam.
Certamente, quando me tornei Seu prisioneiro, Ele ganhou a gema e o coração de minha alma. Cristo até se tornou um novo Cristo para mim, e Seu amor ainda mais viçoso do que era. E agora eu não luto mais com Ele; Seu amor levará tudo isso embora. Eu me coloco sob Seu amor. Eu desejo cantar e bradar e proclamar, mesmo debaixo d’água, que estou em débito com Ele e sou eternamente devedor de Sua bondade. Eu nada oferecerei para estar quites com Ele (como costumávamos dizer), porque não será assim. Tudo, tudo para sempre seja de Cristo! Quais outras provações virão a mim, eu não sei, mas eu sei que Cristo fará de mim uma alma salva, lá do outro lado das águas, no lado além das cruzes, e além dos erros dos homens.
[1] James Hamilton, ministro do evangelho no Condado Down, na Irlanda do Norte. Por causa da perseguição, ele partiu para a Nova Inglaterra, porém tempestades o forçaram a retornar. Ele foi ministro em Dumfries e, mais tarde, em Edimburgo. Ele foi um homem “ousado pela verdade”.
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Para Alexander Colville (de Blair) [1]
Aberdeen, 23 de junho de 1637
Pesar por estar calado no ministério
Graça, misericórdia e paz estejam contigo.
Gostaria de saber como meu senhor recebeu a carta que eu lhe enviei, e como ele está. Não desejo nada além de que ele esteja firme e seja honesto com meu nobre Mestre e Rei. Estou bem em todos os sentidos – todo louvor seja dado a Ele, em cujos livros eu permaneço para sempre como Seu devedor.
Somente o meu silêncio me dói. Eu tinha uma alegria do céu, depois de Cristo, meu Senhor, e era pregá-Lo a esta geração sem fé; e tiraram isso de mim. Para mim, foi como o único olho de um pobre homem, e eles tiraram esse olho. Eu sei que a violência que fizeram a mim e à noiva desolada desse pobre está perante o Senhor; e suponho que eu não veja o outro lado da minha cruz, ou o que o meu Senhor trará disso. Mas eu creio que essa visão não permanecerá, e que Cristo está a caminho para o meu livramento. Ele não vem devagar, mas passa por cima de dez montanhas em um só passo.
Desejos por Cristo
Entrementes, sofro com Seu amor, porque desejo a posse real. Quando Cristo vem, Ele não fica por longo tempo. Mas certamente Seu sopro sobre uma pobre alma é o céu na terra; e quando o vento se torna para o norte, e Ele se vai, eu morro até o vento se voltar para o oeste e Ele visitar Seu prisioneiro. Mas Ele não me mantém muitas vezes à Sua porta. Eu sou ricamente recompensado por sofrer por Ele. Oh, se toda a Escócia fosse como eu, exceto por minhas algemas! Oh, que grande dor eu tenho por não poder louvá-Lo por meus sofrimentos.
Não, isso é pouco demais; eu devo o meu céu a Cristo, e realmente desejo, mesmo que não pudesse entrar pelos portões da Nova Jerusalém, enviar meu amor e meus louvores por cima de seus muros a Cristo. Ai de mim, porque o tempo e os dias estão entre Ele e mim, e adiam nosso encontro! A minha parte é gritar: “Oh, quando a noite estiver passada e o dia alvorecer, nós nos veremos um ao outro”.
[1] Alexander Colville, um Ancião presbiteriano de Blair, na paróquia de Carnock, Fifeshire. Ele tinha alto cargo legal, e se tornou amigo de Rutherford quando este se apresentou perante a Corte de Alta Comissão em 1630. Ele foi um eminente membro da Igreja Presbiteriana Escocesa durante um longo período.
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Para John Henderson (de Rusco) [1]
Aberdeen, sem data
Avisos práticos
Eu sinceramente desejo tua salvação. Conhece o Senhor e busca-O. Tu tens uma alma que não morre. Procura uma morada para tua pobre alma, pois essa casa de barro irá cair. É o céu ou nada! Ou Cristo ou nada! Faz uso da oração em tua casa e põe freqüentemente teus pensamentos perante a morte e o julgamento. É perigoso seres leniente quanto à questão de tua salvação.
Poucos são salvos; as pessoas vão para o céu em pequeno número, e o mundo inteiro jaz no pecado. Ama os teus inimigos e fica ao lado da verdade que eu te ensinei em todas as coisas. Não temas os homens; antes, deixa Deus ser o teu temor.
Tu podes, quando estiveres no campo, falar com Deus. Busca ter um coração quebrantado pelo pecado, pois, sem isso, não há encontro com Cristo. Digo isso tanto para tua mulher como para ti mesmo. Eu desejo que tua irmã, nos temores e dúvidas dela, se agarre firmemente no amor de Cristo. Proíbo-a de duvidar, pois Cristo a ama e tem o nome dela escrito em Seu livro. A salvação dela vem logo. Cristo, o Senhor dela, não se demora em vir. Ele não negligencia a Sua promessa.
[1] John Henderson, de Rusco, um paroquiano que desperdiçou a propriedade de Rusco (Anwoth). [Possível tradução da nota de rodapé original, A parishioner who fanned the ‘hoine-steading’ of Rusco (Anwoth), pois não foi possível encontrar o significado de hoine-steading. (N. E.)]
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Era inverno. Sentados próximo ao fogo, dois pedreiros estavam dedicados a sua tarefa. De repente, um desconhecido aproximou-se deles, desceu do cavalo e, imediatamente, passou a conversar sobre o estado espiritual da alma deles. Servindo-se das vivas chamas da fogueira como ilustração, o jovem desconhecido pregou verdades alarmantes. Com profunda surpresa, os pedreiros exclamaram: “Você não é um homem como os demais!” Ao que o desconhecido — que era Robert McCheyne — respondeu: “Eu sou, simplesmente, um homem como os demais”.
Parece que, tanto a leitura dos sermões de McCheyne quanto de sua biografia, fazem brotar do coração do leitor a mesma exclamação dos pedreiros: que, certamente, Robert McCheyne não foi um homem como os demais. Seu ministério, certamente muito breve, tornou-se uma das luzes mais brilhantes do evangelho na Escócia. Pureza doutrinária e fervor evangélico impregnaram por completo a pregação desse grande servo de Deus. Em McCheyne encontramos aquela característica tão sublime — e muito rara, infelizmente — de uma harmoniosa correspondência entre pregação e vida. A vida de McCheyne, que alguém definiu como “um dos mais belos exemplos da obra do Espírito Santo”, foi caracterizada por um alto grau de santidade e consagração.
Nascimento e infância
Robert Murray McCheyne nasceu em Edimburgo em 29 de maio de 1813, numa época em que os primeiros resplendores de um grande ressurgimento espiritual tinham lugar na Escócia. Entre os preparativos secretos com que Deus contava para derramar sobre Seu povo dias de verdadeiro e profundo refrigério espiritual se achava o nascimento do mais jovem dos cinco filhos de Adam McCheyne.
Já desde a infância, Robert deu mostras de possuir uma natureza doce e afável, ao mesmo tempo em que todos podiam apreciar nele uma mente ágil e uma memória prodigiosa. Com a idade de quatro anos, enquanto se recuperava de uma enfermidade, Robert fez do estudo do hebraico e do grego seu passatempo favorito. Com oito anos, ingressou na escola superior para passar, anos mais tarde, para a Universidade de Edimburgo. Em ambos centros de ensino, distinguiu-se como estudante privilegiado, de forma especial nos exercícios poéticos. Ele é descrito como tendo boa estatura, cheio de agilidade e vigor, ambicioso, ao mesmo tempo em que era nobre em sua disposição, evitando qualquer forma de engano em sua conduta. Alguns consideravam que ele possuía, de forma inata, todas as virtudes do caráter cristão; mas, segundo seu próprio testemunho, aquela pura moralidade exterior por ele exibida nascia de um coração farisaico e, exatamente como muitos de seus companheiros, ele se empenhava para encher sua vida de prazeres mundanos.
Morte do irmão
A morte de seu irmão David causou uma profunda impressão em sua alma. Seu diário contém numerosas alusões a esse fato. Anos mais tarde, escrevendo a um amigo, Robert disse: “Ora por mim, para que eu possa ser mais santo e mais sábio, menos como eu mesmo sou e mais como meu Senhor é […] Hoje faz sete anos que perdi meu querido irmão, mas comecei a encontrar o Irmão que não pode morrer”.
A partir desse fato, sua terna consciência despertou para a realidade do pecado e das profundezas de sua corrupção. “Que infame massa de corrupção eu tenho sido! Vivi uma grande parte de minha vida completamente separado de Deus e para o mundo. Entreguei-me completamente ao gozo dos sentidos e às coisas que perecem ao meu redor”.
Ainda que ele nunca tenha sabido a data exata de seu novo nascimento, jamais abrigou qualquer temor de que isso não houvesse ocorrido. A segurança de sua salvação foi algo característico de seu ministério, de modo que sua grande preocupação foi, em todo tempo, obter uma maior santidade de vida.
Estudos e piedade pessoal
No inverno de 1831, iniciou seus estudos na Divinity Hall, onde Thomas Chalmers era professor de Teologia, e David Welsh o era de História Eclesiástica. Com outros companheiros — Edward Irving, Horatius e Andrew Bonar (que, mais tarde, escreveu sua biografia) — e fervorosos amigos, Robert McCheyne se reunia para orar e estudar a Bíblia, especialmente nas línguas originais. Quando o Dr. Chalmers foi informado do modo simples e literal como McCheyne esquadrinhava as Sagradas Escrituras, não pode senão dizer: “Eu gosto dessa literalidade!” Verdadeiramente, todos os sermões deste grande servo de Deus são caracterizados por uma profunda fidelidade ao texto bíblico. Já neste período de sua vida, McCheyne dava mostra de um grande amor pelas almas perdidas e, junto com seus estudos, dedicava várias horas por semana à pregação do evangelho, tarefa que realizava quase sempre nos bairros pobres e mais baixos de Edimburgo.
Do mesmo modo que outros grandes servos de Deus, McCheyne tinha uma clara consciência da radical seriedade do pecado. A compreensão clara da condição pecadora do homem era para ele requisito imprescindível para fazer com que o coração sentisse a necessidade de Cristo como único Salvador e também era uma experiência necessária para uma vida de santidade. Seu diário dá testemunho de quão severo era no juízo que fazia de si mesmo. “Senhor, se nenhuma outra coisa pode livrar-me de meus pecados a não ser a dor e as provas, envia-mas, Senhor, para que eu possa ser livrado de meus membros carregados de carnalidade”. Mesmo nas mais gloriosas experiências do crente, McCheyne podia descobrir traços de pecado; por isso, disse em certa ocasião: “Até mesmo nossas lágrimas de arrependimento estão manchadas de pecado.”
Andrew Bonar escreveu sobre seu amigo nos seguintes termos: “Durante os primeiros anos de seus cursos no colégio, o estudo não chegou a absorver toda a sua atenção. Sem dúvida, tão logo começou a mudança em sua alma e isso também se refletiu em seus estudos. Um sentimento muito profundo de sua responsabilidade o levou a dedicar todos os seus talentos ao serviço do Mestre, de Quem os havia recebido. Poucos houve que, com tão completa dedicação, tenham-se consagrado à obra do Senhor como fruto de um claro conhecimento de sua responsabilidade”.
Enquanto fazia os cursos de Literatura e Filosofia, conseguia encontrar tempo para dedicar sua atenção à Teologia e à História Natural. Nos dias de sua maior prosperidade no ministério da pregação, quando, juntamente com sua alma, sua congregação e rebanho constituíam o centro de seus desvelos, com freqüência lamentava por não ter adquirido, nos anos anteriores, um caudal de conhecimento mais profundo, pois se havia dado conta de que podia usar as jóias do Egito para o serviço do Senhor. De vez em quando, os estudos anteriores evocariam em sua mente alguma ilustração apropriada para a verdade divina e precisamente no solene instante em que apresentava o evangelho glorioso aos mais ignorantes e depravados.
Apreço pelo estudo
Suas próprias palavras apresentam melhor sua estima pelo estudo e, ao mesmo tempo, revelam o espírito de oração que, segundo McCheyne, devia sempre acompanhá-lo: “Esforça-te em teus estudos”, escreveu a um jovem estudante em 1840. “Dá-te conta de que estás formando, em grande parte, o caráter de teu futuro ministério. Se adquirires agora hábitos de estudo marcados pelo descuido e a inatividade, nunca tirarás proveito do mesmo. Faz cada coisa a seu tempo. Sê diligente em todas as coisas; aquilo que valha a pena fazê-lo, faze-o com todas as forças. E, sobre todas as coisas, apresenta-te diante do Senhor com muita freqüência. Não tentes nunca ver um rosto humano enquanto não tiveres visto primeiro o rosto Daquele que é nossa luz e nosso tudo. Ora por teus semelhantes. Ora por teus professores e companheiros de estudo.” A outro jovem escreveu: “Cuidado com a atmosfera dos autores clássicos, pois ela é, na verdade, perniciosa; e tu necessitas muitíssimo, para contestá-la, o vento sul que se respira das Escrituras. É certo que devemos conhecê-los — mas da mesma forma como o químico experimenta as substâncias tóxicas — para descobrir suas qualidades e não para envenenar com eles teu sangue.” E acrescentou: “Ora para que o Espírito Santo faça de ti não somente um jovem crente e santo, mas para que te dê também sabedoria em teus estudos. Às vezes, um raio da luz divina que penetra a alma pode dar suficiente luz para aclarar maravilhosamente um problema de matemática. O sorriso de Deus acalma o espírito e a destra de Jesus levanta a cabeça do descaído, enquanto Seu Santo Espírito aviva os efeitos, de modo que mesmo os estudos naturais vão um milhão de vezes melhor e mais facilmente.”
As férias para McCheyne, assim como para seus amigos íntimos que permaneciam na cidade, não eram consideradas como uma cessação do que se refere aos estudos. Uma vez por semana, costumavam passar uma manhã juntos com o fim de estudar algum ponto da teologia sistemática, assim como para trocar impressões sobre o que haviam lido em particular.
Um jovem assim, com faculdades intelectuais tão incomuns, às quais se unia ainda o amor ao estudo e uma memória extraordinariamente profunda, facilmente teria se destacado no plano da erudição se não houvesse posto em primeiro lugar, e como meta mais importante, a tarefa de salvar as almas. Todos os talentos que possuía ele os submeteu à obra de despertar aqueles que estavam mortos em delitos e pecados. Preparou sua alma para a terrível e solene responsabilidade de pregar a Palavra de Deus, e isso ele fazia com “muita oração e profundo estudo da Palavra de Deus, com disciplina pessoal, com grandes provas e dolorosas tentações, pela experiência da corrupção da morte em seu próprio coração e pela descoberta da plena graça do Salvador.” Por experiência, ele podia dizer: “Quem é que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” (1Jo 5.5).
Início do ministério pastoral
No dia 1º de julho de 1835, Robert Murray McCheyne obteve, do presbitério de Annan, licença para pregar. Depois de haver pregado por vários meses em diferentes lugares e ter dado evidência da particular doçura com que a Palavra de Deus fluía de seus lábios, McCheyne tornou-se o ajudante do pastor John Bonar nas congregações unidas de Larbert e Dunipace, nas cercanias de Stirling. Em sua pregação, fazia com que os outros participassem de sua vida interior, como de sua alma, à medida que crescia na graça e no conhecimento do Senhor e Salvador. Começava o dia muito cedo cantando salmos ao Senhor. A isso se seguia a leitura da Palavra para a própria santificação. Nas cartas de Samuel Rutherford, encontrou uma mina de riquezas espirituais. Entre outros livros que apreciava ler estavam: Chamamento aos inconversos, de Richard Baxter, e A vida de David Brainerd, de Jonathan Edwards.
Em novembro de 1836, foi ordenado pastor na igreja de São Pedro, em Dundee. Permaneceu como pastor dessa congregação até o dia de sua morte. A cidade de Dundee, como ele mesmo deixou escrito, “era uma cidade dada à idolatria e de coração duro”. Mas não havia nada em suas mensagens que buscasse o agrado do homem natural, pois não estava em seu coração buscar o beneplácito dos inconversos. “Se o evangelho agradasse ao homem carnal, então, deixaria de ser evangelho”. Estava profundamente persuadido de que a primeira obra do Espírito Santo na salvação do pecador era a de produzir convicção de pecado e de trazer o homem a um estado de desespero diante de Deus. “A menos que o homem seja posto no nível de sua miséria e culpa, toda a nossa pregação será vã. Somente um coração contrito pode receber a um Cristo crucificado.” Sua pregação era caracterizada por um elemento de declarada urgência e alerta. “Que Deus me ajude sempre a falar-vos com clareza. Mesmo a vida daqueles que vivem mais anos é, na verdade, curta. No entanto, essa vida curta que Deus nos deu é suficiente para que busquemos o arrependimento e a conversão, pois logo, muito logo, passará. Cada dia que passa é como um passo a mais em direção ao trono do juízo eterno. Nenhum de vós permanece imutável; talvez estejais dormindo; não importa, pois a maré do tempo que passa vos está levando mais para perto da morte, do juízo e da eternidade.”
A seu profundo amor pelas almas se somava uma profunda sede de santidade de vida. Escrevendo a um companheiro no ministério, disse: “Acima de todas as coisas, cultiva teu próprio espírito. Tua própria alma deveria ser o principal motivo de todos os teus cuidados e desvelos. Mais que os grandes talentos, Deus abençoa àqueles que refletem a semelhança de Jesus em sua vida. Um ministro santo é uma arma terrível nas mãos de Deus.” McCheyne talvez pregasse com mais poder com sua vida do que com suas mensagens, e ele sabia bem, como nos disse seu amigo Andrew Bonar, que “os ministros do Evangelho não só devem pregar fielmente, mas também viver fielmente”.
Como pastor em Dundee, McCheyne introduziu importantes inovações na congregação. Naquela época, as reuniões de oração, se não eram desconhecidas, eram muito raras. McCheyne ensinou aos membros a necessidade de congregar-se cada quinta-feira à noite a fim de unirem o coração em oração ao Senhor e estudar Sua Palavra. Também destinava outro dia durante a semana para os jovens. Seu ministério entre as crianças constitui a nota mais brilhante de seu ministério.
A seu zelo por santidade de vida uniu-se o afã por pureza de testemunho entre os membros de sua congregação. McCheyne era consciente de que a igreja — como parte do Corpo místico de Cristo — devia manifestar a pureza e a santidade Daquele que havia morrido para oferecer uma Igreja santa e sem mancha ao Pai. Por isso, seu zelo pela observância de disciplina na congregação: “Ao começar meu ministério entre vós, eu era em extremo ignorante da grande importância que na Igreja de Cristo tem a disciplina eclesiástica. Pensava que meu único e grande objetivo nesta congregação era o de orar e pregar. Vossa alma me parecia tão preciosa e o tempo se me apresentava tão curto que eu decidi dedicar-me exclusivamente com todas as minhas forças e com todo o meu tempo ao labor de evangelização e doutrina. Sempre que, diante de mim e dos presbíteros desta igreja, se nos apresentaram casos de disciplina, eu os considerava como dignos de aborrecimento. Constituíam uma obrigação diante da qual eu me encolhia. Mas agradou ao Senhor, que ensina a Seus servos de maneira muito diferente daquela usada pelos homens, abençoar — inclusive com a conversão — alguns dos casos de disciplina a nosso cuidado. Desde então uma nova luz se acendeu em minha mente: dei-me conta de que não somente a pregação era uma ordenança de Cristo, mas também o exercício da disciplina eclesiástica.”
Debilidade física
Enquanto o vigor e a força espirituais de sua alma alcançavam uma grandeza gigantesca, a saúde física de McCheyne se via minada e debilitada conforme transcorriam os dias. Ao final de 1838, uma violenta palpitação do coração, ocasionada por seus árduos labores ministeriais, obrigaram o jovem pastor a retirar-se para um descanso. E, como sua convalescença se processava em ritmo muito lento, um grupo de pastores, reunido em Edimburgo na primavera de 1839, decidiu convidar McCheyne a se unir a uma comissão de pastores que planejava ir a Palestina para estudar as possibilidades missionárias da Terra Santa. Todos criam que tanto o clima como a viagem redundariam em benefício para a saúde do pastor. Do ponto de vista espiritual, sua passagem pela Palestina se constituiu uma verdadeira bênção para a alma. Visitar os lugares que haviam sido cenário da vida e obra do bendito Mestre e pisar a mesma terra que um dia pisara o Varão de dores foi uma experiência indescritível para o jovem pastor. No entanto, fisicamente, o estado de McCheyne não melhorou; antes, pelo contrário, parecia que seu tabernáculo terrestre ameaça sofrer um desmoronamento total. E, assim, nos últimos dias de julho de 1839, encontrando-se a delegação missionária próxima de Esmirna, e já para regressar, McCheyne caiu gravemente enfermo. Quando tudo fazia pensar em uma rápida morte, o Senhor estendeu Sua mão curadora e o grande servo do evangelho pôde, por fim, regressar a sua amada Escócia e ao seu querido rebanho em Dundee.
Durante sua ausência, o Espírito Santo começou a operar um maravilhoso avivamento na Escócia. Este avivamento começou em Kilsyth sob a pregação do jovem pastor W. C. Burns, que havia substituído McCheyne enquanto durava sua convalescença. Num curto espaço de tempo, a força do Espírito Santo, que impulsionava o avivamento, se deixou sentir em muitos lugares. Em Dundee, onde os cultos se prolongavam até tarde da noite todos os dias da semana, as conversões foram muito numerosas. Era como se toda a cidade houvesse sido sacudida pelo poder do Espírito.
Em novembro do mesmo ano, McCheyne, recuperado da enfermidade, regressou a sua congregação. Os membros da igreja de São Pedro transbordaram de alegria ao ver de novo o rosto amado de seu pastor. A igreja estava absolutamente lotada e, enquanto todos esperavam que McCheyne ocupasse o púlpito, um silêncio absoluto reinava entre os que estavam ali congregados. Muitos membros derramaram lágrimas de gratidão ao rever o rosto do pastor. Mas, ao finalizar o culto e movidos pelo poder de sua pregação, muitos foram os pecadores que derramaram lágrimas de arrependimento.
O regresso de McCheyne a Dundee marcou um novo episódio em seu ministério e também na igreja escocesa. Era como se, a partir daquele momento, o Senhor se houvesse disposto a responder às orações que o jovem pastor elevara no princípio de seu ministério, suplicando por um avivamento. Ali, onde McCheyne pregara, o Espírito acrescentava novas almas à Igreja.
Doença e morte
Na primavera de 1843, quando McCheyne regressara de uma série de reuniões especiais em Aberdeenshire, caiu repentinamente enfermo. Lá ele havia visitado a vários enfermos de febre infecciosa, e sua constituição enfermiça e débil sucumbiu ao contágio da doença. No dia 25 de março de 1843 partiu para estar com o Senhor.
“Em todas as partes onde chegava a notícia de sua morte”, escreveu Bonar, “o semblante dos crentes se enchia de tristeza. Talvez não tenha havido outra morte que impressionasse tanto aos santos de Deus na Escócia como a deste grande servo de Deus que consagrou toda a vida à pregação do evangelho eterno. Com freqüência, ele costumava dizer: ‘Vivei de modo que, um dia, sintam de vós saudades’, e ninguém que houvesse visto as lágrimas que se verteram por ocasião de sua morte teria dúvidas em afirmar que a vida dele havia sido o que ele havia recomendado a outros. Não tinha mais do que 29 anos quando o Senhor o levou.
“No dia do enterro, foram suspensas todas as atividades em Dundee. Do lugar do velório até o cemitério, todas as ruas e janelas estavam abarrotadas de uma grande multidão. Muitas almas se deram conta naquele dia de que um príncipe de Israel havia caído, enquanto muitos corações indiferentes experimentaram uma terrível angústia ao contemplar o solene espetáculo.”
“O túmulo de Robert McCheyne ainda pode ser visto na parte nordeste do cemitério que circunda a igreja de São Pedro. Ele se foi para as montanhas de mirra e para as colinas de incenso, até que desponte o dia e fujam as sombras. Terminou sua obra. Seu Pai celestial não tinha para ele nenhuma outra planta para regar nem outra vide para cuidar, e o Salvador, que tanto o amou em vida, agora o esperava com Suas palavras de boas-vindas: ‘Bem está, servo bom e fiel. […] Entra no gozo do teu senhor’ (Mt 25.21).”
O ministério de Robert McCheyne não terminou com sua morte. Suas mensagens e cartas, e a biografia escrita por seu amigo Andrew Bonar, são ricos instrumentos de bênção para muitas almas.
(Publicado originalmente em 28.jul.2008; revisado, atualizado e republicado em 1.mar.2020.)
Gotas de orvalho (291)
Nossa caminhada conta muito mais do que nossa conversa, sempre!
(George Müller)
Se existe algo que a história nos ensina, este ensino é que os ataques mais devastadores desfechados contra a fé sempre começaram com erros sutis surgidos dentro da própria igreja.
(John MacArthur Jr.)
Um cristianismo suave e protegido, com medo de ser magro e solitário, sem vontade de enfrentar as tempestades e enfrentar as alturas, acabará gordo e imundo nas gaiolas da conformidade.
(Vance Havner)
O mundo inteiro me parece um imenso vácuo, um vasto espaço vazio, de onde nada desejável, ou pelo menos satisfatório, pode derivar; e desejo diariamente morrer cada vez mais por isso; mesmo que eu não consiga esse conforto das coisas espirituais que sinceramente desejo.
(David Brainerd)
Tão logo um homem é limpo do pecado, ele é vestido com louvor.
(Charles Spurgeon)
Descobri que há três estágios em toda grande obra de Deus: primeiro, é impossível; depois, é difícil, e, então, está feito.
(Hudson Taylor)
Se alguém Me serve, siga-Me,
e, onde Eu estiver,
ali estará também o Meu servo.
E, se alguém Me servir, Meu Pai o honrará.
(Jo 12.26)
Recentemente, num domingo à tarde, rodeado de muitos amados irmãos, enquanto eu lavava louça me vieram ao coração dois pensamentos.
1) Nosso ajuntamento cristão não tem aquilo que o mundo tem.
Quando cristãos – e aqui me refiro a cristãos sérios, bíblicos, que levam a santidade a sério, que têm temor do Senhor, que honram Seu nome por meio do viver prático que têm – estão juntos, em ambiente informal (num almoço ou numa convivência, por exemplo), não há aquilo que caracteriza eventos mundanos semelhantes: bebedeira, palavrões, insinuações maldosas, piadas de baixo calão, fofocas, adultérios, crianças largadas a si mesmas, etc. Cristãos que honram a Deus em todos os aspectos da vida, começando com a linguagem, reúnem-se e conversam amenidades, trocam idéias sobre as questões mundiais, dicas sobre educação de filhos, riem de si mesmos, buscam orientação profissional, trocam receitas, dicas de tratamento médico, corujices sobre os filhos… É aquilo que chamam de ambiente saudável.
Isso é, sem dúvida, para quem teme a Deus, mil vezes melhor do que um ambiente mundano típico. (Infelizmente, há muitos cristãos que se sentem completamente à vontade em ambientes mundanos, que os preferem àqueles “crentes”, que estão plenamente conformados a este mundo, pensando, falando, rindo, comendo, bebendo e vivendo como se a ele pertencessem.) Há ali segurança, respeito mútuo, alegria saudável, domínio próprio, ambiente propício para as crianças e tantas outras vantagens. É muito bom, é muito vantajoso estar em um lugar assim. E eu estava alegre com essa percepção e grato a Deus por estar ali.
Mas algo mais me veio ao coração:
2) Mas será que nosso ajuntamento cristão tem aquilo que o mundo não tem?
Isso me foi um choque instantâneo. O que há de distintivo, único, exclusivo dos cristãos? O que há nos cristãos que não há, de modo algum, naqueles que não obedecem à fé? A presença do Senhor Jesus, por meio do Espírito; a vida de Cristo Jesus habitando naqueles que Lhe pertencem. E é isto que faz a verdadeira e prática comunhão cristã: Cristo ser “servido” pelos cristãos uns aos outros. Quando Cristo é nosso centro e a esfera de nossa comunhão, podemos dizer que, de fato, estamos em comunhão. Do contrário, teremos, talvez, apenas um bom ajuntamento cristão (que, repito, em princípio é muito melhor do qualquer similar mundano).
Mas, tenho de reconhecer, é tão difícil termos genuína comunhão! É tão difícil sairmos da esfera natural, das coisas desta vida, e partilharmos das celestiais, daquilo que é nossa rica herança em Cristo, das riquezas insondáveis Daquele que nos salvou! Parece pouco espontâneo (perdoem-me se generalizo; falo, em primeiro lugar, de mim mesmo) voltar-se de um assunto desta vida para a Bíblia, como se fosse possível mantê-los separados, como se fossem antagônicos.
Como cristãos, temos algo único: um relacionamento vivo e real com Deus por meio de Seu Filho, Jesus Cristo! Isso nenhum ajuntamento secular tem. No entanto, é possível que um ajuntamento de cristãos também não o tenha, caso não falemos entre nós “com salmos, e hinos e cânticos espirituais”, que é o modo de nos enchermos do Espírito (Ef 5.19); se não tivermos um falar que denuncie que estivemos com Jesus (At 4.13). Os primeiros discípulos não podiam deixar de falar do que tinham visto e ouvido (4.20). E nós, cristãos do século 21, por que deixamos tão facilmente? É possível que seja resultado de vermos e ouvirmos pouco nosso Senhor, de termos pouca comunhão com Ele, por Sua Palavra não habitar em nós ricamente (Cl 3.16), e, como a boca fala do que está cheio o coração…
Os primeiros cristãos caíram na graça de todo o povo (At 2.47), pois seu viver diário e prático não tinha aquilo que o mundo tinha ― era distinto, atraente. No entanto, “dos outros [os não-cristãos], porém, ninguém ousava ajuntar-se a eles” (5.13), certamente porque naquele ajuntamento havia algo que no mundo não havia: Deus mesmo, real, manifestado palpavelmente por meio de Seus filhos ― um Deus tão santo que não tolerava mentira entre eles (vv. 1-11). As pessoas de fora viam, naquele novo grupo, características que as atraíam, mas percebiam que havia também uma realidade interior, um padrão dela derivado, que impedia que qualquer um se achegasse e por ali ficasse se não fosse um “deles”, um discípulo, um nascido do alto, um filho de Deus.
No que depender de mim e de você, que tipo de ajuntamento cristão o mundo verá?
Publicado originalmente em 7.2.15; atualizado em 1.8.18.
Prezado senhor:
Seria algo maravilhoso se todos os que professam o Evangelho pudessem, juntamente com o apóstolo, regozijar-se no testemunho da consciência, de que vivem em simplicidade e em sinceridade. Quantos males e escândalos seriam evitados! Mas, ah!, são tantos os que usam o nome de Cristo que parecem não ter a menor idéia dessa parte essencial do caráter cristão. Acredito que algumas poucas considerações sobre esse assunto tão pouco tratado nos serão de bom proveito. Aquele que está mais avançado na vida cristã ainda tem algo para aprender sobre isso; e, quanto mais avançarmos no assunto, maior será nossa paz interior e mais haverá de brilhar nossa luz diante dos homens, para glória de nosso Pai celestial.
A simplicidade e a sinceridade, embora sejam inseparáveis, não são a mesma coisa. A primeira é o fundamento que dá origem à segunda. A simplicidade, antes de tudo, diz respeito à disposição de nosso espírito à vista de Deus, enquanto a sinceridade diz respeito à nossa conduta observável por nossos semelhantes. É verdade, os termos são freqüentemente usados de modo intercambiável, e isso pode ocorrer sem provocar grandes erros; mas, como não são exatamente a mesma coisa, julgo adequado, se queremos falar corretamente, deixar bem clara essa distinção.
Algumas pessoas, mais encantadas com o nome simplicidade do que com a essência do que essa palavra significa, têm atribuído a ela o sentido de infantilidade no falar e no agir, como se entendessem a palavra simples apenas no sentido vulgar, como equivalente de tolo. Mas essa infantilidade produz autêntico desgosto naqueles que têm verdadeiro gosto pelas coisas de Deus e adequado juízo sobre elas. Uma simplicidade artificial ou aparente é uma contradição de termos, e difere tanto da simplicidade do Evangelho quanto a maquiagem difere da beleza.
A simplicidade verdadeira, que é a honra e a força de um crente, é o efeito de uma percepção espiritual das verdades do Evangelho. Ela surge da percepção que temos (e cresce à medida que essa consciência se intensifica) de nossa própria indignidade, do poder e da graça de Cristo e da grandeza de nosso comprometimento com Ele. À medida que o conhecimento dessas coisas passa a fazer parte de nossas vida e experiência, isso nos tornará simples de coração. Essa simplicidade pode ser considerada de duas formas: uma simplicidade de intenção e uma simplicidade de confiança. A primeira se opõe a nossas obras corruptas; a segunda, ao falso raciocínio incrédulo.
A simplicidade de intenção significa que temos somente um alvo, para o qual dirigimos e ao qual subordinamos todos os nossos desejos e tudo o que nos interessa, deliberadamente e sem reservas. Em resumo: que estamos devotados ao Senhor, e pela graça fomos capacitados a escolhê-Lo e a nos consagrar a Ele, de forma que nossa felicidade está em Seu favor, e fazemos da glória e da vontade Dele o supremo alvo de todas as ações. Ele é digno disso. Ele é o supremo bem. Só Ele é capaz de satisfazer a imensa capacidade que nos concedeu, pois Ele nos formou para Si mesmo. E, aqueles que já provaram que Ele é gracioso, sabem que Sua graça “é melhor do que a vida” (cf. Sl 63.3a), e que Sua presença e plenitude podem suprir a falta ou a perda de toda e qualquer necessidade pessoal.
Da mesma forma, Ele, com justiça, requer que sejamos totalmente Dele; pois, além de, como Suas criaturas, estarmos em Suas mãos como barro nas mãos do oleiro, Ele tem um documento de redenção para nós: Ele nos amou e nos comprou com Seu próprio sangue. Ele não hesitou nem vacilou entre dois pensamentos, quando se empenhou em redimir nossa alma da maldição da lei e do poder de Satanás. Ele, no momento de Sua agonia, poderia ter convocado legiões de anjos (se fosse necessário) para Lhe darem assistência ou poderia ter destruído Seus inimigos com uma palavra ou um simples olhar. Ele poderia facilmente ter-se salvado; mas como então teria sido salvo Seu povo ou como teriam se cumprido as promessas das Escrituras? Por essa razão, Ele voluntariamente suportou a cruz, Ele ofereceu as costas a Seus torturadores, Ele derramou Seu sangue, Ele renunciou à própria vida. Nele nós vemos uma admirável simplicidade de intenção!
“E nós, ó Amigo das almas,
não deveríamos ser simples de coração
e totalmente entregues a Ti?
Deveríamos recusar o cálice da aflição de Tua mão ou por Tua causa?
Ou deveríamos desejar beber o cálice do prazer pecaminoso,
quando lembramos o que nossos pecados custaram para Ti?
Devemos desejar ser amados pelo mundo que Te odiou
ou ser admirados pelo mundo que Te desprezou?
Devemos nos envergonhar de professar nossa ligação com um Salvador assim?
Não, Senhor, não permitas que isso aconteça!
Faze com que Teu amor nos constranja;
que Teu nome seja glorificado e Tua vontade seja feita, por nós e em nós.
Que consideremos todas as coisas como escória e esterco
pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, nosso Senhor.
Que não desejemos nada que Tu julgues por bem nos negar,
nem nos lamentemos por aquilo de que queres que abramos mão.
E que nem mesmo nos regozijemos naquilo que nos concederes,
a não ser que possamos aproveitá-lo para Ti;
e que sempre desejemos mais Teu amor do que nossa mais cara alegria!”
Essa é a linguagem do coração que foi abençoado com a simplicidade do Evangelho. Ele já foi a fortaleza do pecado, o trono do interesse próprio; mas agora o egoísmo foi destronado, e Jesus reina pelo cetro dourado do amor. Esse princípio preserva a alma das buscas inferiores, sórdidas e idólatras. Ele não admitirá nenhum rival perto do Amado, nem se renderá aos subornos e às ameaças do mundo.
Quão confortante é, e quão apropriado para nossa declaração de fé, ser capaz de confiar no Senhor na estrada do dever! Crer que Ele suprirá nossas necessidades, dirigirá nossos passos, defenderá nossa causa e controlará nossos inimigos! É isso que Ele prometeu, e faz parte do Evangelho a simplicidade de aceitar Sua palavra contra todo desânimo.
Quão confortante é, e quão apropriado para nossa declaração de fé, ser capaz de confiar no Senhor na estrada do dever! Crer que Ele suprirá nossas necessidades, dirigirá nossos passos, defenderá nossa causa e controlará nossos inimigos! É isso que Ele prometeu, e faz parte do Evangelho a simplicidade de aceitar Sua palavra contra todo desânimo.
Há, igualmente uma simplicidade de confiança. A incredulidade está constantemente levantando objeções, ressaltando e multiplicando dificuldades. Mas a fé no poder e nas promessas de Deus inspira uma nobre simplicidade e lança sobre Ele cada preocupação, Ele que é capaz e se comprometeu a sustentar e a cuidar.
Dessa forma, quando Abraão, em obediência ao chamado de Deus, deixou sua terra e sua parentela, o apóstolo observa: ele “partiu sem saber aonde ia” (Hb 11.8). Para Abraão, era suficiente saber a quem estava seguindo: o Deus todo-suficiente era seu guia, seu escudo e seu grandíssimo galardão (Gn 15.1). Assim, quando forçado a esperar longamente pelo cumprimento de uma promessa, ele não se abalou, não discutiu nem duvidou, mas simplesmente dependeu de Deus, que tinha falado e que também era poderoso para cumprir o que prometera. De forma semelhante, quando recebeu a dura ordem de oferecer o próprio filho, a respeito do qual tinha sido dito: “Em Isaque será chamada a tua descendência”, ele simplesmente obedeceu e dependeu do Senhor para que cumprisse a própria palavra (Hb 11.18,19).
Foi nesse espírito que Davi saiu para enfrentar Golias, e o venceu. E dessa forma os três notáveis não temeram as ameaças de Nabucodonosor, escolhendo antes ser lançados numa fornalha acesa do que pecar contra o Senhor. E dessa forma Elias, num tempo de fome, foi preservado de preocupação e necessidade, e foi sustentado por meios extraordinários (1Rs 17.1-7).
Em nossos tempos, não ficamos na expectativa de milagres, no sentido estrito da palavra, mas aqueles que dependem de Deus de forma simples haverão de deparar-se com tais indicações de Sua intervenção em tempos de necessidade, o que, para eles pelo menos, será uma prova satisfatória de que Ele tem cuidado deles. Quão confortante é, e quão apropriado para nossa declaração de fé, ser capaz de confiar no Senhor na estrada do dever! Crer que Ele suprirá nossas necessidades, dirigirá nossos passos, defenderá nossa causa e controlará nossos inimigos! É isso que Ele prometeu, e faz parte do Evangelho a simplicidade de aceitar Sua palavra contra todo desânimo. Isso nos encorajará a usar todos os meios legítimos, porque o Senhor nos ordenou esperar Nele baseados em Sua Palavra; mas também haverá de inspirar confiança e esperança quando tudo parece falhar (Hc 3.17,18).
Quando não exercem essa dependência, muitos desonram sua profissão de fé, e chegam até a naufragar na fé. O coração deles não é simples; eles não confiam no Senhor; pelo contrário, apoiam-se no próprio entendimento, e suas esperanças e medos recebem influência de vermes como eles mesmos. Isso provoca uma duplicidade de conduta. Eles temem o Senhor, mas servem a outros deuses. Reparando na linguagem deles, às vezes se pensa que o desejo deles é servir apenas ao Senhor; mas, se ficam com medo de que Ele não vai protegê-los ou suprir-lhes as necessidades, fazem aliança com o mundo e procuram tanto segurança quanto vantagens em aquiescências pecaminosas. Eles não podem regozijar-se no testemunho de uma consciência boa. Vivem de forma miserável. Tentam reconciliar aquilo que o Senhor declarou ser totalmente incompatível: servir a Deus e ao dinheiro.
Eles conhecem o suficiente da religião ao ponto de seus interesses mundanos se tornarem desagradáveis, e têm tanta estima pelo mundo que isso os impede de receber qualquer bem-estar verdadeiro da religião. Esses são os mornos na fé, nem quentes nem frios: nem aprovados pelos homens nem aceitos por Deus. É possível que participem das ordenanças [batismo e Ceia do Senhor] e falem como cristãos, mas o gênio deles não é santificado e sua conduta é irregular e reprovável. Eles não são simples e, por essa razão, não podem ser sinceros.
Não preciso me dar ao trabalho de provar que o efeito da simplicidade será a sinceridade. Visto que aqueles que amam o Senhor acima de tudo, que preferem a luz do Seu rosto a milhares de ouro e prata, que foram capacitados a confiar Nele quanto a todas as preocupações e que preferem que Ele lhes controle a vida em vez de eles mesmos fazerem isso – esses serão pouco tentados à insinceridade. Os princípios e os motivos que regem a conduta deles são os mesmos tanto em público como em particular. O comportamento deles será íntegro, pois eles têm um só propósito. Eles falarão a verdade em amor, serão rigidamente pontuais nos negócios e tratarão os outros como gostariam de ser tratados. Porque essas coisas são essenciais para o grande alvo deles: glorificar seu Senhor e manter comunhão com Ele.
Um temor de desonrar Seu nome e de entristecer Seu Espírito os ensinará não só a evitar pecados grosseiros e conhecidos, mas a absterem-se de toda aparência de mal. A conduta deles, por isso, será consistente, e serão capacitados a dizer a todos os que os conhecem que “com simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus” eles têm se conduzido no mundo (2Co 1.12).
Para um cristão sincero, o engano e a esperteza, que são considerados sabedoria no mundo, são considerados não apenas ilegítimos, mas também desnecessários. Ele não precisa de pequenos subterfúgios, evasivas e disfarces, pelos quais homens astuciosos se esforçam (embora muitas vezes em vão) para esconder seu verdadeiro caráter e fugir de merecido desprezo. Ele é o que parece ser, e por isso não teme ser descoberto. Ele anda na luz da sabedoria que é lá do alto e se apoia no braço do Todo-Poderoso; por isso, anda com liberdade, confiando no Senhor, a quem serve em espírito no evangelho de Seu Filho.
Mesmo o céu não é tão valioso e precioso como Cristo é! Dez mil mil mundos, tantos mundos quanto os anjos puderem enumerar, não superam o amor, a excelência e a doçura de Cristo! Oh, quão amável! Que excelente, belo e arrebatador é Cristo!
(John Flavel)
Uma fé que pode ser destruída pelo sofrimento não é fé.
(Richard Wurmbrand)
Se os homens puderem obter o que procuram por meio do pecado será uma compensação lamentável para a miséria eterna no inferno!
(George Lawson)
Desde o início, a convicção de que Jesus foi levantado da morte foi aquilo pelo que a própria existência dos cristãos tem resistido. Não havia nenhum outro motivo que importasse para eles, que os explicasse […] Em nenhum momento do Novo Testamento há qualquer evidência de que os cristãos apresentavam uma filosofia de vida ou uma ética original. Sua única função era dar testemunho do que eles afirmavam ser um fato: a ressurreição de Jesus dentre os mortos. […] A única coisa que realmente distintiva pela qual os cristãos permaneciam firmes era sua declaração de que Jesus havia ressuscitado dentre os mortos segundo o desígnio de Deus, e a conseqüente percepção Dele, em um sentido único, como Filho de Deus e representante do homem, e a concepção resultante do caminho para a reconciliação.
(C. F. D. Moule)
Deus, endureça-me e fortaleça-me contra mim mesma.
(Amy Carmichael)
O ego é o véu opaco que esconde a face de Deus de nós. Ele só pode ser removido na experiência espiritual, nunca por mera instrução.
(A. W. Tozer)
O único caminho verdadeiro de morrer para si mesmo é o caminho da paciência, da mansidão, da humildade e da resignação a Deus.
(Andrew Murray)