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Minhas considerações sobre a Bíblia King James em português (4)

Reconheço que esta série de artigos (leia os artigos 1, 2 e 3) foge bastante do que eu havia proposto como objetivo do Campos de Boaz. No entanto, creio que seja necessário alertar os filhos de Deus sobre o assunto, pois, como penso já ter demonstrado, trata-se de um produto editorial que visa enganar ao leitor, além de ser de qualidade altamente questionável.

Neste artigo, comentarei mais algumas questões do ponto de vista editorial e analisarei alguns aspectos acerca da tradução ou dos critérios (ou falta deles) nela usados.

Antes disso, veja a imagem abaixo.

Este livro é publicado pela BVBooks, a mesma editora da King James Atualizada. Vamos considerar rapidamente o fato do livro ser de autoria de Daniel Mastral (pseudônimo de Marcelo Agostinho Ferreira) e de sua esposa, Isabela Mastral (pseudônimo de Cynthia Gonçalves Rosa Lotti). Além de sua teologia espúria sobre satanismo e batalha espiritual, ambos são acusados de terem inventado suas histórias, entre muitas outras coisas. Um pequeno exemplo das coisas estranhas que envolvem a dupla: aqui você encontra um número de CPF atribuído à Cynthia. No entanto, clicando aqui, no sítio da Receita Federal, você poderá conferir que esse CPF é de outra pessoa, Orpheu Lotti. Curiosamente, aqui o mesmo número de conta bancária é fornecida, com outro CPF da Cynthia. A alegação para o uso do pseudônimo era que os satanistas são muito poderosos e poderiam fazer mal a ele. Argumento insustentável por duas razões simples:

1. Se os satanistas são tão poderosos e espalhados por todo canto, como ele alega, não seria um pseudônimo que o iria proteger.

2. Depois de vídeos no YouTube e seminários pelo Brasil afora, não é difícil para ninguém identificá-lo e saber onde encontrá-lo.

E por que manter um nome falso depois de já se tornar tão conhecido? Veja aqui, quando ele fala do certificado para quem faz seus seminários, da importância que é dada a esse falso nome.

Neste livro, Daniel/Marcelo ensina, entre outras coisas, a existência de portais dimensionais permanentes, os últimos dos quais serão abertos agora em 2013. Confira essa “profecia” aqui, além da defesa desse ensinamento, apesar de não ser encontrado na Bíblia.

Não lhe parece estranho ser essa a editora responsável pela King James no Brasil? Eu, particularmente, considero, sim, estranho.

Mas vamos considerar que não houvesse nenhum problema pessoal ou teológico com o Daniel/Marcelo. Mesmo assim, ao ler o anúncio acima, ficaríamos apreensivos com o conteúdo, dados os erros ali encontrados: “contra qual” em vez de “contra o qual”; na frase em vermelho, há separação por vírgula entre sujeito e verbo; acentuação errada da palavra demoníaca; falta de vírgula após “fundamentais”. Além disso, a redação é ruim, sem coesão. O que é “riqueza de detalhes” nesse caso? O que é “nosso meio”? O que é “como o apóstolo Paulo”? Aprender princípios fundamentais? Mas ele não leu este livro! Adquirir a (destaque para o artigo definido) autoridade espiritual? Por ler esse livro? Então, antes deste livro ninguém teve autoridade espiritual?

Muito estranho…

Fechemos o parêntese e voltemos à KJA.

Nas págs. 1244 e 1245 está a introdução a Eclesiastes. É citado o título hebraico do livro: Cohélet. Logo depois, é dito que seu equivalente grego é ekklesiastes. O problema é que nenhuma das palavras está em itálico, como orienta a regra culta. Desse modo, o leitor “tropeça” em palavras estranhas no meio do texto. Parece uma coisa sem importância, mas isso se repete ao longo das notas de rodapé, gerando dificuldade e no conseguinte entendimento do texto.

No parágrafo seguinte lemos: “Seu estilo sapiencial, exclusivo e incomparável revelado nos mais antigos e reconhecidos manuscritos originais a que o Comitê de tradução da Bíblia King James teve acesso…”. Lendo até aqui, pode-se pensar que isso se refira à BKJ original, de 1611. Mas haveria uma contradição, pois, como mostramos nos artigos anteriores, os editores da KJA não crêem que os manuscritos usados pela BKJ fossem os melhores e mais confiáveis. Um leitor atento perceberá essa contradição aqui. Mas há mais.

O restante da frase é assim: “… (fragmentos do sêfer, rolo, livro de Eclesiastes encontrados [sic] nas cavernas de Qunram, no Mediterrâneo)…”. Como o achado de Qunram se deu em 1947, esses fragmentos não poderiam ter sido usados pelos tradutores da BKJ. Entende-se, então, que o texto se refere, na verdade, à KJA. E, mais uma vez, leva-se o leitor a pensar que KJA é igual à BKJ. (Há erros de português e de uniformização nessa Introdução que não comentarei.)

Na pág. 1247, em Ec 1.1, lemos: “Eis as palavras de Cohéllet ben David, o mestre, filho de Davi, rei de Jerusalém”.

A primeira coisa que chama a atenção é a grafia Cohéllet, diferente da usada na Introdução, Cohélet. Afinal, qual é a correta? Descuido editorial?

Mas o realmente estranho é que esse versículo não é uma tradução, mas uma ampliação ou uma versão bilíngüe. Uma tradução traria apenas a texto em português, quer usando transliteração ou não; mas aqui temos a transliteração do hebraico mais a tradução para português! O leitor menos apercebido vai entender que original traz todas aquelas palavras. É como se os tradutores tivessem acrescentado palavras aos manuscritos. A nota de rodapé, além da confusão causada pela falta de itálico nas palavras estrangeiras, não esclarece o método utilizado na tradução, que conserva o “original” ao lado da versão.

O problema continua ao longo do livro. Em 1.12 há: “Eu, Cohéllet, o sábio fui rei de Israel”. Não tem o leitor a impressão de ser Cohéllet um nome próprio? Em 7.27 lemos: “Então declara Cohéllet, o mestre”. De novo, o termo hebraico parece ser um nome próprio. O leitor não lembra, se é que leu e entendeu, a nota de rodapé que (quase) explica o uso da palavra transliterada e, por isso, é levado a pensar nela como nome do tal sábio ou mestre. E a falta de uniformidade no uso do termo ou da proposta de tradução aumenta a confusão, por exemplo, em 8.1: “Quem é como o sábio?” O leitor pensará: “O sábio é o tal do Cohéllet.” Por que não usaram aqui o termo transliterado, para ser coerente com o que se propuseram a fazer nessa tradução? E para confirmar como é falho essa forma de tradução e como o leitor é levado, sim, a entender o termo hebraico como nome próprio, veja 12.8-10: “”Que absurdo! Que futilidade! Tudo é ilusão, vaidade!” exclama Cohéllet, o sábio. […] Além de ter sido sábio e mestre, Cohéllet também ministrou […] O sábio procurou achar palavras […] “.

A tradução diz que Cohéllet é o sábio, que ele é sábio e mestre; portanto, é nome próprio. Se os tradutores o entenderam como nome próprio (escolha questionável, mas que poderia ter sido feita), deveriam ter deixado isso claro na nota de rodapé e serem coerentes com esse entendimento em toda a tradução. Se consideram a palavra no sentido de “mestre” ou “sábio” tinham, igualmente, de ser coerentes e não poderiam, em hipótese alguma, conservá-la na tradução, como um acréscimo.

Para concluir, mais alguns erros de edição em Eclesiastes:

1. Na nota 1 do cap. 3
a. “… estamos todos sujeitos a (sic) força do tempo”. O correto é “à força”.
b.  “O Mestre faz, (sic) um paralelo…”. Na frase anterior, sábio está com minúscula; aqui, mestre está com maiúscula. Por quê? Depois, há o erro da separação entre sujeito e verbo por vírgula.
c. “… com o estado de eterno e imutável da soberania de Yahweh…”. Em outro artigo falarei sobre o uso de Yahweh nessa tradução. Aqui, o problema está na falta de sentido da frase: eterno e imutável o quê?

2. Na nota 1 do cap. 4
a. “A opressão é outro componente do drama humano de todos os dias e já foram (sic) mencionado (sic) anteriormente…”
b. “… a tristeza da vida sem sentido (nonsense)…”. O que faz essa palavra em inglês aqui? Além de não estar em itálico, é completamente desnecessária. Não seria ela sinal de que a nota é, na verdade, uma tradução, apesar da introdução dizer que não?

3. Na nota 1 do cap. 5
a. “Essa sessão trata da “soft religion” a (sic) religião universal (ecumênica) bem ao gosto do mundo…”. Por que o termo em inglês? Mesma observação feita acima… Logo depois, há um “ego” com maiúscula.

4. Na nota 1 do cap. 6
a. “… há muitas pessoas que… não sabe (sic) ser feliz com elas.”

5. Na nota 1 do cap. 7
a. A abreviatura de Filipenses é indicada como Fl, que não é de nenhum livro da Bíblia.

6. Na nota 1 do cap. 8
a. “… que criou com tanto (sic) carinho e planos. O homem rico da parábola conta (sic) por Jesus… não passa de vaidade, inutilidade “nonsense” “.

7. Na nota 1 do cap. 12
a. “… cumpriu, em si mesmo, toda a Bíblia e as Profecia (sic).” Pouco depois, há outra vez “nonsense”, desta vez sem aspas.

Estes são apenas alguns exemplos. Há vários casos de erro de conjugação, mau uso de maiúsculas, problemas de redação…

Até o próximo artigo.

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Minhas considerações sobre a Bíblia King James em português (3)

Para começar este artigo, por gentileza, leia o texto abaixo:

POR QUE A KING JAMES É MELHOR?

A QUÁDRUPLA SUPERIORIDADE DA TRADUÇÃO KING JAMES .

(Este artigo foi traduzido e adaptado do livro :”The Four-fold Superiority of KJV”, Dr. Donald A. Waite, Bible for Today, 1992, 900 Park Ave., Collingswood, New Jersey 08108. ISBN # 1-56848-000-8. Used by permission. A imagem ao lado é de Esrasmo de Rotterdam, autor de Textus Receptus). Uma gentil colaboração de Camila Guerra, gerente de marketing da Abba Press Editora.

1.Introdução

“Nada acrescentes às Suas Palavras, para que não te repreendas e sejas achado mentiroso” (Prov. 30:5-6)

O ataque satânico contra a palavra de Deus remonta o Jardim do Éden. A primeira intervenção de Satanás na História foi adulterando e pondo dúvida na Palavra de Deus: nascia a primeira Bíblia na Linguagem de Hoje! O primeiro pecado de Eva foi o de aceitar a suposta palavra de Deus “modernizada” da boca do Diabo. Séculos mais tarde, Satanás recorreu novamente às Escrituras para tentar o Mestre Jesus em Mateus 4:1-11. Com o passar dos séculos, após a consumação da revelação de Deus no Apocalipse, o ataque satânico ficou mais bem elaborado, usando supostos crentes e sociedades Bíblicas. Nasciam as “versões”, com textos manipulados e com técnicas de tradução traidoras do texto original como é o caso da equivalência dinâmica. Vejamos porque a tradução King James (e sua equivalente no português) é muitíssimo superior às versões modernas as quais devem ser rejeitadas pelos crentes sérios.

2. O TEXTO da língua original da Bíblia King James é superior.

O TEXTUS RECEPTUS (T.R.), texto grego base do Novo Testamento da Bíblia King James, não tinha nenhum contestador desde 1611 até 1881, quando dois heréticos liberais chamados Brooke Foss Westcott e Fenton John Anthony Hort entraram em cena com esforço concentrado. Eles eram teólogos da igreja Anglicana e passando por “conservadores” editaram o texto Westcott-Hort (WH), que difere em 9.970 palavras (7%) do T.R. que tem sido usado pela cristandade fiel de 19 séculos! Para se ter uma idéia da incomparável superioridade do T.R, dos 5.255 manuscritos gregos do Novo Testamento, que foram preservados e disponíveis para nós hoje, 5.210 (99%)concordam com o T.R. e apenas 45 (MENOS DE 1%) com o WH ! As bases do texto falso, foram desenterradas das profundezas do obscurantismo, esquecimento e desprezo, justamente por não terem credibilidade sendo o WH publicado apenas em 1881. Além do mais, o texto WH se baseou dentre outros, no Codex “B” e Sinaiticus que diferem entre si em 3.000 vezes só nos Evangelhos! Com toda honestidade, qual o texto grego que Deus preservou? A Bíblia diz: em Sal. 12:6-7: “As palavras do Senhor são palavras puras… ” O Textus Receptus (T.R.) e Massorético, que são usados também na Bíblia publicada atualmente pela Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil (Corrigida e Fiel), é muito superior ao texto Westcott e Hort (WH), que dentre outras omissões, é ecumênico e por isso mesmo, enfraquece várias doutrinas da fé cristã.

3.Os TRADUTORES da Bíblia King James são superiores!

Bastaria o motivo do texto duvidoso e os homens envolvidos com ele, para qualquer crente sério rejeitar esta “versão”, porém, vamos adiante e analisemos os homens envolvidos com o preparo da Bíblia King James. Foram eles 54 eruditos do mais alto grau de brilhantismo, que, em mais de 7 anos de trabalho reverente, árduo e profícuo, prepararam esta versão:

John Bois: Relator dos trabalhos da comissão de forma mais completa. Lia o Velho Testamento no Hebraico com apenas 5 anos de idade escrevendo nesta língua já aos 6 com elegância e estilo. Era especialista em todas as formas de grego. Sir Lancelot Andrews: Líder dos tradutores do Velho Testamento. Falava fluentemente apenas 15 idiomas orientais…Devido à limitação de espaço não se pode detalhar os demais componentes, porém, fica a certeza de que desprezar este trabalho usado grandemente por Deus na salvação de milhões de pessoas nas missões modernas, e se voltar para pseudo-intelectuais e falsos mestres produzidos por esta geração apóstata, é uma decisão pessoal que terá suas consequências diante de Deus.

4. A TÉCNICA de tradução da Bíblia King James é superior!

A técnica usada para a tradução da Bíblia King James foi a equivalência verbal e formal, significando isso fidelidade ao texto original. A palavra tradução (translatus no latim – carregar através) tem o significado de translação ou transporte. Significa transportar um objeto de um lugar (uma língua) para o outro sem mudar suas características quer mudando adicionando ou subtraindo. As versões modernas e pervertidas, todavia, usam num grau maior ou menor, a técnica da equivalência dinâmica. Tal técnica, incompatível com o verdadeiro e honesto tradutor, manipula a palavra ou texto segundo seu bel-prazer. Aliás a expressão equivalência dinâmica já é uma contradição de termos porque equivalência significa igual, imutável. Dinâmica significa em movimento e mutante, progressiva. É uma expressão ilógica e incompatível, própria para enganar os incautos e ingênuos. Ou a tradução é equivalente, ou é dinâmica. O que está por trás dessa técnica mesmo é a velha artimanha maligna de dar ao ser humano o direito de adicionar, subtrair ou mudar a sacro-santa e imutável Palavra de Deus.

5. A TEOLOGIA da Bíblia King James é superior!

A verdade é uma consequência da fidelidade. É lógico que como resultado do texto, tradutores e técnica corretos, a Bíblia King James desponta na superioridade teológica, que é o fruto da verdadeira palavra de Deus. A igreja católica jamais a reconheceu, as seitas a abominam e os liberais apóstatas a odeiam. Os textos da divindade de Cristo, Trindade, inspiração e inerrância das escrituras são contundentes. As doutrinas criacionistas são claras e irrefutáveis. Por outro lado, como seria de se esperar, o texto das versões modernas é infiel, pois os homens são infiéis, a técnica é infiel, o texto base é infiel e como conseqüência não se poderia esperar a verdade como resultado. O Dr. Jack Moorman’s fez uma compilação registrando 356 passagens doutrinárias mudadas pelos textos heréticos Egípcios “B” (Vaticanus) e ALEPH (Sinaiticus). Olhe só dois exemplos: João 3:15 ” Para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna.” (foi retirado “não pereça” !). Mar.9:44-46: Foi retirado o fogo do inferno, etc… O limitado espaço não permite comentar, as centenas de adulterações…

6.Conclusão

A palavra de Deus dura para sempre (Sal 119:160). O Diabo, inimigo número um do Senhor, desde o jardim do Éden tenta acabar com ela. Seja queimando, seja ridicularizando, seja usando um texto parecido (porém falso), ele a persegue. Os verdadeiros crentes, contudo, devem procurar saber e reconhecer as mãos santas e trêmulas que, com temor e reverência, traduziram a pura palavra do Senhor, rejeitando ao mesmo tempo os imprudentes, irreverentes e arrogantes deturpadores dessa geração apóstata.

“E se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, que estão escritas neste livro. ” (Apoc. 22:19)

BIBLIOGRAFIA

A BÍBLIA SAGRADA – Edição Almeida Corrigida e Fiel Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1995.

THE HOLY BIBLE, AUTHORIZED KING JAMES VERSION

THE FOUR-FOLD SUPERIORITY OF KJV – Dr. D.A. Waite

A BÍBLIA TRAÍDA, Pr. Aníbal Pereira Reis,1976.

MODERN BIBLE VERSIONS, David W. Cloud, 1994.

THE LIVING BIBLE, BLESSING OR CURSE, David Cloud, 1991.

COUNTERFEIT OR GENUINE?, David Otis Fuller, 1975.

EXPONDO OS ERROS DA NVI, folheto, 1999.

UNHOLY HANDS ON God’s HOLY BOOK, David W.Cloud, 1999.

MODERN BIBLES-THE DARK SECRETS, Jack Moorman.

FOR LOVE OF THE BIBLE, David Cloud, 1995

Agora, compare-o com o texto abaixo:

Desde o final do século 19, o desenvolvimento dos estudos textuais da Bíblia, juntamente com os descobrimentos promovidos pela arquelogia bíblica, resultaram num extraordinário benefício para a restauração do Texto Bíblico. Hoje, como nunca antes, a Igreja de Jesus Cristo tem em sua mão manuscritos nas línguas originais (hebraico, aramaico e grego), maravilhosamente próximos dos Autógrafos das Sagradas Escrituras.
Ao mesmo tempo, estas descobertas e avanços científicos têm colocado em evidência numerosas diferenças entre os vários manuscritos, denominadas “variantes textuais”, de maneira que quando se compara as mais reconhecidas traduções do mundo moderno: “King James de 1611″ (em inglês); a ¨Reina-Valera de 1862” (em espanhol), e a João Ferreira de Almeida (em português), publicada pela primeira vez no Brasil, em 1943; com manuscritos originais mais antigos e fidedignos que aqueles que serviram de base para essas excelentes traduções, se manifestam algumas discrepâncias e erros textuais importantes, os quais a tradução da Bíblia King James Atualizada procura corrigir.
Essa edição atualizada e comemorativa aos 400 anos da primeira publicação da Bíblia King James nos chega numa de suas traduções mais acuradas e notáveis, que prima por um texto tão claro quanto elegante; ao mesmo requintado e acessível, rigoroso na precisão exegética e hermenêutica, mas transposto para o nosso idioma com extrema erudição e sensibilidade.

Independentemente da concordância ou não com o primeiro, é evidente a qualquer leitor atento que o segundo contradiz o primeiro. O primeiro dá testemunho da superioridade da Bíblia King James (BKJ); o segundo diz que ela tem “algumas discrepâncias e erros textuais importantes” e, implicitamente, diz que os manuscritos usados para a tradução da BKJ não eram tão “maravilhosamente próximos dos Autógrafos (sic) das Sagradas Escrituras” como os usados para a Bíblia King James Atualizada (KJA) utiliza.

Pois bem: o primeiro texto foi retirado do sítio da Sociedade Bíblica Ibero-Americana (SBIA), que coordenou o “comitê internacional e permanente de tradução e revisão da Bíblia King James Atualizada para a língua portugues (KJA)”, segundo a página de créditos da referida Bíblia. O segundo texto, com seus vários erros de português, se encontra na luva (uma tira de papel que envolve a Bíblia e traz informações/propaganda adicionais a ela) da KJA!

Isso gera algumas perguntas:

1. Afinal, em que crê a SBIA: na superioridade ou nos erros da BKJ?

2. A divulgação desse texto, bem como toda a apresentação do sítio, não é para fazer o leitor supor que ele tem em mãos a BKJ?

3. Se a SBIA crê no que é afirmado no primeiro texto, por que, então, faz as sérias ressalvas que faz à BKJ?

4. Se, segundo o primeiro texto, o Textus Receptus é superior ao Texto Crítico e se a forma como a BKJ foi traduzida é superior a outras, modernas, por que a SBIA não seguiu nem um nem outra?

Até o próximo artigo!

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Minhas considerações sobre a Bíblia King James em português (2)

Neste artigo, ainda me detenho nos aspectos a que chamei de editoriais. Para isso, abri a KJA (agora vou chamá-la pelo nome real) ao acaso, a fim de avaliar diagramação, forma das notas de rodapé e sua redação. Se o que vi se estende pela Bíblia toda, o problema é bem sério.

Abri a KJA na página 1258 e analisei até a 1261. Sim, é uma pequeníssima amostragem, mas pela passada de olhos que dei no restante, o que se encontra aqui é igual ao restante.

A KJA adotou o formato de notas de rodapé em uma única coluna, com a largura da página. A impressão que isso dá é ruim, desconfortável. Mas até aí pode ser apenas questão de gosto pessoal. Ok. Em minha opinião de editor, foi uma escolha ruim. Outro problema nas notas é que o número a que elas se referem está no mesmo corpo e formato que o texto que segue. Isso dificulta bastante a identificação. E no texto bíblico, o número da nota está em itálico, quase invisível, e separado do texto. Facilmente o leitor não vai encontrá-lo. O editorialmente recomendado é a identificação com número em negrito e sobrescrito, tanto no texto quanto no rodapé.

A KJA adotou uma nota de rodapé por capítulo (vi rapidamente que em alguns capítulos há mais de uma nota). Mas nem sempre a nota está na mesma página em que está o número a que ela se refere. É o que acontece na pág. 1258; o número 1 que identifica a primeira nota do capítulo 9 não está nesta página, mas na anterior. Com um pouco de habilidade de diagramação, seria possível colocar essa nota onde deveria estar. Mas, de novo, pode ser apenas uma questão de preferência pessoal. Eu não gostei; visualmente, o texto é feio e confuso.

Na pág. 1260 há a nota 1, no texto da página anterior, de Eclesiastes 11. Só para relembrar, nos Agradecimentos foi dito que essa obra não é uma tradução da New King James Version, mas uma obra produzida aqui no Brasil (ou na América Latina; nada é explicado muito claramente). Portanto, é uma obra que nasceu em português. No entanto, nesta nota 1 há a seguinte expressão: “… projetos missionários além-mar (overseas)…”. Qual a razão dessa palavra em inglês? Seria a sobra de uma tradução? Nada justifica a palavra overseas aí. Além disso, por ser palavra estrangeira, deveria estar em itálico. Logo após, há um uso errado de ponto-e-vírgula.

Na página seguinte, a 1261, a nota 1 traz: “as Profecia” (sic). Adicionalmente ao erro de concordância de número, há o uso equivocado de maiúscula, o que pode ser observado em muitas notas (eu diria que em todas, mas não as li todas ainda para afirmar isso). Nessa mesma nota, há ainda Céu, Cruz, Ressurreição, Dia e Julgamento, nessa forma, no meio da frase, sem nada que justifique a caixa-alta (maiúscula). Mais uma feia cochilada editorial.

No final da parágrafo aparece mais uma palavra em inglês desnecessária e sem itálico: nonsense.

Outra curiosidade: é citado Fl 3.12. Achou esse versículo em sua Bíblia? Nem eu. Nem ninguém. Fl é abreviatura de Filemom, não de Filipenses. Descuido editorial.

A falta de itálico nas palavras estrangeiras é característica da KJA. Na nota 1 do capítulo 1 de Eclesiastes há termos em hebraico e em grego sem itálico, o que torna a leitura difícil e confusa. Há também dois erros feios de separação entre sujeito e verbo por vírgula: “…sugere que Cohéllet, possa ser…” e “…expressão hebraica heh’bel, pode ser…”. Depois, lê-se: “…. no sentido na transitoriedade da vida”; deveria ser “sentido da”.

Fico por aqui. Estou folheando apenas o livro de Eclesiastes, e já encontrei outras coisas feias. Falo sobre elas em outro artigo.

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Minhas considerações sobre a Bíblia King James em português (1)

Pretendo escrever alguns pequenos artigos sobre o assunto. Neste primeiro, vou enfocar apenas o que chamo de aspectos editoriais, falando do produto em si e da apresentação que faz de si mesmo. Em outro(s), comentarei sobre a tradução propriamente dita e, por fim, tratarei das notas e comentários.

Comprei a versão simples da BK (vou chamá-la apenas assim inicialmente; logo explico a razão); há outra bonitona, com capa de couro. Ela traz uma “luva”, uma tira de papel couchê impressa em sua volta. Na frente da luva, lê-se: BKJ, em letras bem grandes; abaixo, em letras bem menores: Bíblia King James Atualizada. E aí começam os problemas.

As siglas adotadas em português para as versões da Bíblia costumam informar de modo claro a tradução que trazem. Assim, a Almeida Revista e Atualizada é identificada por RA ou ARA; a Almeida Revista Corrigida é ARC; a Almeida Corrigida e Fiel é ACF; a tradução publicada pela Juerp é a IBB-Rev (Imprensa Bíblica Brasileira, Revisada). Até as Bíblias modernas seguem este preceito: NVI é a Nova Versão Internacional; a NTLH é a Nova Tradução na Linguagem de Hoje. A BK em questão, não: ela usa a sigla da Bíblia King James internacionalmente conhecida pelos leitores da Bíblia, dando a impressão de que se trata da King James original, de 1611; no entanto, logo abaixo revela ser, na verdade, uma versão atualizada. Seria isso intencional para enganar os leitores? É difícil crer diferente, já que, ao tirar a luva, na capa da Bíblia está apenas BKJ e apenas na lombada aparece a indicação de ser atualizada. A meu ver isso é, para dizer o mínimo, um descuido.

Mas vamos supor que tenha sido uma escolha editorial; que o grupo que produziu esta versão optou por identificá-la como BKJ, mesmo não sendo ela a BKJ. Será que isso se sustenta? Vamos prosseguir.

Na parte de trás da luva há o título: O livro que mudou o mundo. A quem isso se refere? Pela parte da frente, à BKJ. No entanto, esta não é a BKJ, mas sua versão atualizada, criada agora (lançada em setembro do ano passado). Portanto, ela não poderia ter mudado o mundo. Deduz-se, então, que essa apresentação se refere à KJ (também conhecida como AV, Authorized Version). No entanto, ao prosseguir na leitura, vê-se que não é isso.

O texto curto inicia defendendo que as descobertas arqueológicas proporcionam hoje “a restauração do Texto Bíblico” (sic). Deixando de lado o uso errado de maiúsculas, analisemos a frase. Ela indica que, agora, sim, temos o texto bíblico, implicitando a idéia de ele ser o original, o legítimo, o verdadeiro. No entanto, a próxima frase diz que “hoje, como nunca antes, a Igreja de Jesus Cristo tem em sua mão manuscritos […] maravilhosamente próximos dos Autógrafos” (sic). Mais uma vez, sem considerar o uso errado da maiúscula, vamos considerar a frase. Ela diz textualmente que hoje, como nunca antes, a Igreja tem um texto quase como os originais. O que isso significa e/ou implica?

Em primeiro lugar, como mostrei, uma contradição com a frase anterior. Ou o texto bíblico foi restaurado ou se tem algo próximo a ele.

Em segundo lugar, implicita que, até agora, a Igreja tinha algo distante dos autógrafos (manuscritos originais). Implicita que só agora os cristãos têm um texto digno de confiança. Isso ignora todas as traduções anteriores, baseadas no TR (Texto Recebido ou Textus Receptus), pelas quais Deus fez todos os grandes avivamentos da história, mudou a história de países, cidades, pessoas; levantou, capacitou, encorajou e sustentou os maiores pregadores e evangelistas da história? Então, o que os cristãos tiveram em mãos por quase cinco séculos? Não era a Palavra de Deus?

Prossigamos.

O próximo parágrafo, com erros de redação (como uso desnecessário e inconstante de aspas e de ponto-e-vírgula), traz, mais uma vez, críticas – agora mais claras e diretas – à própria King James e a traduções baseadas no TR (Reina-Valera e João Ferreira de Almeida). O texto cita “discrepâncias” e “erros (sic) textuais importantes” nessas traduções, os quais a “Bíblia King James procura corrigir”. Isso é assustador, não? Durante séculos, os mais piedosos cristãos, os mais fervorosos filhos de Deus, os mais úteis escravos de Cristo usaram Bíblias com discrepâncias em relação ao texto original, com erros sérios. É possível acreditar nisso?

Percebam que isso traz implícita a idéia de que Deus foi incapaz de preservar Sua Palavra ao longo dos séculos, que Ele não zelou nem velou por Sua Palavra como afirma que o faria (Jr 1.12). E, talvez pior que isso, é que Ele permitiu que Seu povo, durante séculos, mesmo durante os períodos de avivamento, de devoção, de piedade, dos puritanos, das grandes missões, da salvação de multidões, estivesse enganado, usando uma Bíblia com erros sérios e discrepâncias em relação aos originais. Pode-se aceitar tal insinuação a respeito de Deus?

Ainda há mais.

O próximo parágrafo diz que esta edição atualizada comemora os 400 anos da primeira edição da KJ. Estranha comemoração… Quando são comemorados, por exemplo, os 50 anos do lançamento de uma obra (filme, livro, por exemplo), ela é relançada com nova capa, nova diagramação, com comentários, com cartas do autor, com cenas deletadas, com som remasterizado, com trecho inédito posteriormente descoberto… mas a obra é a mesma! Isso é homenagem. Agora, dizer que a obra original não era tão boa, que tinha discrepâncias e erros sérios e chamar isso de homenagem…? Parece-me, sim, antes um desrespeito.

Mas a coisa não termina aí.

Mais abaixo há um comercial. Claro, afinal trata-se, em primeiro lugar, de um produto, uma mercadoria que precisa ser vendida. O título do “reclame” é Conheça mais sobre a BKJ. E, nesse momento, a confusão já está armada: a que Bíblia exatamente isso se refere? Como vimos, até agora BKJ tem sido usada para identificar esta versão em português. Então, é de se supor que o anúncio se refira a ela também. Certo? Errado.

O primeiro produto indicado é um livro chamado A Bíblia King James. A dúvida continua: a qual Bíblia isso se refere? A chamada abaixo é ainda mais confusa: Uma breve história da Tyndale até hoje. Quem é “a Tyndale”? Por que o título fala da King James e a chamada, da Tyndale?

Ao lado, há um DVD chamado BKJ, com a chamada O livro que mudou o mundo – Bíblia King James. De novo, a confusão. BKJ é a sigla usada para essa versão em português, mas o filme se refere à King James de 1611. O leitor desavisado ou sem conhecimento desses fatos pode ser levado a supor que vai encontrar aí material referente ao livro que tem em mãos, quando, na verdade, diz respeito à tradução que tem erros sérios e discrepâncias (segundo os autores do anúncio).

A parte que me parece cômica (na falta de outro adjetivo), é o final da luva, que indica que a distribuição desta Bíblia é feita pela BVFilms. Uma distribuidora de filmes responsável por distribuir a pretensa melhor tradução da Bíblia até agora? Faz algum sentido? (Ah, sim, é apenas comércio, produto, mercadoria…)

E não é só cômico. É preocupante. Eu tenho livros traduzidos e publicados e DVDs legendados pela BV, e o trabalho de tradução/preparação/revisão é péssimo. Só dois pequenos exemplos: num DVD, uma música diz que Jesus tomou a xícara na última ceia. Em outra, Rock of ages (Rocha eterna ou Rocha das eras, um hino tradicional) é traduzido por… idade da pedra! Acredite se quiser! E como estes há centenas de erros similares nos livros e DVDs. Eu escrevi à BVFilmes reclamando de ter comprado o DVD com esses erros inadmissíveis. A resposta: isso não é um produto com defeito. (!) Se o produto é uma tradução/versão, e esta é mal feita, como não caracterizar como produto com defeito?

É de causar apreensão que um trabalho de tamanha envergadura (e pretensão) esteja, de algum modo, nas mãos de um grupo tão descuidado com o uso do vernáculo – e uma tradução é, antes de tudo, trato com a língua. Pelos erros de redação observados até aqui, e por minha experiência com a BV, já antevia o que haveria de encontrar. E foi pior do que eu imaginava.

Agora, abrindo a Bíblia.

Na folha de rosto, lê-se: Tradução King James Atualizada (KJA). Opa! De onde saiu essa sigla? Não era, até agora, BKJ? Por que mudaram? Ou será que sempre tiveram consciência de que não era a BKJ, mas, sim, a KJA? Será que foi um descuido do capista ter colocado BKJ em letras garrafais e douradas na capa? Será que o editor/produtor editorial não viu isso? Ou será uma tática intencional de induzir o leitor a comprar gato por lebre?

Virando mais uma página, outro título: Antigo e Novo Testamentos Bíblia Sagrada King James Edição de estudo – 400 anos. Puxa, sumiu de novo a informação de que é uma versão atualizada, não a King James legítima.

Virando outra página, há um erro editorial feio e grave. A página de créditos (aquela em que se diz quem faz o quê na obra) está à direita, e deveria estar à esquerda. E no verso da página de créditos está um fac-símile da página de apresentação da King James de 1611. Isso deveria estar no lugar agora ocupado pela página de créditos. E, observe, mais uma vez há uma sutil insinuação de que as duas são a mesma obra.

A seguir, há uma apresentação escrita por Carlos Alberto de Quadro Bezerra. A meu ver, o fato dele ser o autor desse texto é mera jogada comercial. Afinal, no que diz respeito à erudição bíblica, à pesquisa exegética, ao manuseio das línguas originais, qual é a contribuição desse irmão? Nenhuma. Não o estou avaliando quanto a qualquer outro aspecto, apenas no tocante à erudição bíblica. E o conteúdo de seu texto em nada condiz com a pretensa seriedade da publicação.

No primeiro parágrafo ele diz que, agora, o “povo de língua portuguesa passa a contar com o texto integral da Bíblia King James”, o que é mentira, pois a KJA não é a KJ e tem menos versículos que ela; portanto, não é o texto integral.

No parágrafo seguinte há um erro doutrinário grave. Referindo-se a este lançamento, escreve o autor (citação textual): “Trata-se de um momento singular. Afinal, não estamos falando apenas do mais importante Livro de todos, mas da própria Palavra de Deus, o testemunho…”. Ele faz uma distinção entre o Livro e a própria Palavra de Deus! O mas, conjunção adversativa, indica que, apesar do primeiro, acontece o segundo. Por exemplo: “João jogou mal, mas ainda assim fez um gol. Eu estudei muito, mas não consegui chegar a tempo na prova.” A frase citada, caso quisesse revelar a fé em que a Bíblia é a Palavra de Deus, deveria ter sido redigida assim: “…o mais importante Livro de todos, a própria Palavra de Deus…”. Parece preciosismo, mas uma conjunção adversativa faz uma enorme diferença e induz ao erro!

Isso, mais uma vez, sinaliza problemas de edição, de esmero editorial. Sem citar que a tal apresentação é superficial, pois não cita os critérios utilizados na tradução, a relação real com a KJ, explicação sobre uso de versal-versalete, do nome Yahweh.

Depois, há um prefácio, escrito por Lisãnias Moura. Há problemas de redação e um parágrafo esquisito: “Quando lemos as Escrituras, podemos inicialmente nos prender ao texto e daquele texto ouvir a voz de Deus. Ao mesmo tempo, podemos estudar todo o contexto daquilo que estamos lendo e, neste caso, é de extrema valia consultarmos outras traduções, versões, comentário e demais recursos.” Segundo este autor, só podemos ouvir a voz de Deus lendo um texto (o que seria isso? Um versículo? Um capítulo? Poucos versículos?). Se lermos o contexto, então, não a ouvimos mais. O contexto só pode ser estudado, não serve para ouvir a voz de Deus. É possível crer nisso?

O pior ainda está por vir. O próximo texto, chamado Reconhecimentos, de autoria de Oswaldo Paião, é muito mais uma biografia do autor do que reconhecimento do trabalho de outrem. Além de problemas sérios de redação (erro de concordância de número e de gênero, erro de pontuação, frases ambíguas…, o que aumenta meu temor em relação ao que se pode encontrar na Bíblia propriamente dita), há menções a pessoas que me causam espécie. O autor cita seu trabalho com a NVI (o que indica sua concordância com o tipo de tradução nela usado), menciona Ricardo Gondim (pastor que já há algum tempo tem ensinos que afrontam a soberania e a onisciência de Deus), Ed René Kivitz (defensor da pós-modernidade da igreja e que se identifica com os ensinamentos de Gondim); menciona a “enorme contribuição […] à obra da KJA” de Caio Fábio (que ensina que a Bíblia não é o único nem o melhor livro de Deus). Será que esse autor não sabe das heresias ensinadas pelos homens que ele cita? Se sabe, concorda com elas? Se não sabe, não há um autor, um dos renomados teólogos que fizeram a KJA que o alertasse sobre isso? Ou um editor temente a Deus que glosasse o texto para evitar esses pontos controversos?

Pouco adiante no texto, finalmente é explicado (em lugar errado, pois isso não deveria estar nos agradecimentos, mas na apresentação) superficialmente como foi feita a tradução. Em suma: o Textus Receptus (não sei porque razão colocado entre aspas) foi uma das fontes usadas, ao lado dos chamados textos críticos. De modo resumido, os textos críticos surgiram a partir do final do séc. 18, quando a Bíblia começou a ser estudada como outro texto de literatura qualquer, sendo questionadas sua inspiração literal, sua inerrância, sua preservação. Segundo alguns autores, o texto crítico cortou da Bíblia a quantidade de versículos correspondente a uma das epístolas de Pedro.

E o texto explica ainda que não é uma tradução da New King James Bible e, finalmente!, sua ligação com a KJ: “A KJA é uma tradução dos mais antigos e fiéis manuscritos nas línguas originais (hebraico, aramaico e grego), preservando o estilo clássico, reverente e majestoso da Bíblia King James de 1611.” Impressionante! Então, a KJ, nem a NKJ, não é tradução de manuscritos fiéis? E como mantém o estilo de outro livro se não é tradução dele? Portanto, a ligação com a KJ é apenas subjetiva, de estilo (sabe-se lá o que isso significa)…

Há outros detalhes nesse texto que ainda poderiam ser comentados, mas são de menor importância.

“Nossos comerciais, por favor!”

Sim, há mais comerciais na Bíblia. Sim, não fora dela, não na luva, não na embalagem, mas na Bíblia mesmo. E comerciais ecumênicos, procurando agradar a bárbaros e citas, judeus e gentios, gregos e troianos, hereges e ortodoxos. São frases de elogio/recomendação à KJA de, por exemplo, Marco Feliciano (pastor que estará com o mega-herege Benny Hinn num evento em São Paulo, que xinga quem não concorda com seus ensinamentos), Éber Cocarelli, da assim chamada igreja internacional da graça, de R.R. Soares, pregador da teologia da prosperidade, da bênção em troca de dinheiro; do já citado Carlos Bezerra e de Ana Paula Valadão (que faz um comentário vazio, superficial, 100% comercial; não é preciso lembrar os ensinamentos dela sobre guerra espiritual, sobre unção do leão, sobre bota de couro de píton…).

Fico aqui em minha primeira e rápida consideração sobre a KJA. O que concluo até aqui? Do ponto de vista editorial, é um produto descuidado, mal produzido, com clara intenção meramente comercial e ecumênica e propositadamente concebido para ser tomado por uma legítima tradução da KJV.

Portanto, aos que a adquiriram e pretendem usar, cuidado!

Que o Senhor guarde nossos pés de tropeçar até Sua volta!

Em breve, voltarei ao assunto.

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