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Família Francisco Nunes

Um pensamento solto sobre Davi

Davi, ao final da vida

Hoje fui levado a pensar no fim da vida de Davi, conforme o registro de 1Reis.

O último versículo do livro anterior, 2Samuel, fala de algo glorioso: “E edificou ali Davi ao SENHOR um altar, e ofereceu holocaustos, e ofertas pacíficas. Assim o SENHOR se aplacou para com a terra e cessou aquele castigo de sobre Israel”. Sem dúvida, é uma bela cena. Davi, arrependido de ter ordenado o censo do reino, arrependido por seu erro ter resultado na morte de setenta mil homens do povo, oferece holocaustos ao Senhor na eira de Araúna, que agora lhe pertence, pois ele não ofereceria ao Senhor, seu Deus, holocaustos que não lhe custassem nada (2Sm 24.20).

É uma bela cena para nossa visão das coisas espirituais: temos arrependimento, holocausto, louvor, perdão de Deus… Mas falta algo, não só nessa cena como em muitas outras da vida de Davi: sua família. Davi, mais uma vez, está desacompanhado de sua família: nem uma esposa (havia tantas que podiam estar com ele…), nem um filho (dos tantos…). Por quê?

O resumo de tudo é: Davi foi um fracasso como pai, como marido, como chefe de família. Como esse texto é uma consideração rápida sobre ele, não há como aprofundar exaustivamente a afirmação. Mas basta ler a história do rei de Israel, especialmente depois de 2Samuel 11: o adultério com Bate-Seba trouxe conseqüências, especialmente sobre sua família, da qual a espada nunca se apartou (12.10). O significado é que haveria guerras, lutas, desencontros, intrigas, mortes dentro da família, mas isso não explica a omissão de Davi como pai e como marido. Os capítulos 13 a 15 exemplificam isso vergonhosamente: sua omissão no caso de estupro de sua filha Tamar por Amnom, meio-irmão dela (portanto, filho de Davi), sua incapacidade de lidar com a rebelião de Absalão, preferindo fugir covardemente a enfrentá-lo e pô-lo em seu lugar. Davi parece ter medo de exercer suas obrigações como o cabeça da casa (que paradoxo com o assombrosamente corajoso jovem pastor que enfrentou o gigante filisteu ou com o apaixonado soldado que mata o dobro de filisteus que o necessário para pagar o dote da filha do rei!)

E foi esse Davi, o solitário homem cheio de esposas e de filhos, que adorou a Deus na eira de Araúna. Linda cena, mas… vazia. O rei está acompanhado apenas de seus escravos (24.20). Somente os servos ouviram aquela declaração, sobre o preço dos holocaustos, mas nenhum filho, nenhuma esposa. Nenhum deles teve oportunidade de ouvir esse princípio tão importante acerca do dar-se ao Senhor, do ser totalmente Dele em Seu serviço. O pai de muitos filhos não tem filhos. O marido de muitas esposas não tem esposa. Só escravos: pessoas que apenas obedecem, que não precisam aprender ou praticar nada. Só seguir seu dono.

Na página seguinte da Bíblia está 1Reis, que inicia dizendo: “Sendo, pois, o rei Davi já velho, e entrado em dias, cobriam-no de roupas, porém não se aquecia” (1.1). Do holocausto à velhice, do sacrifício ao frio, das ofertas ao não se aquecer. O que aconteceu nesse meio tempo? Segundo esse registro, nada. Nada de importante. Nenhum fato digno de nota. Agora há um rei velho, decrépito, cheio de roupas, que não se aquece. A cena deveria ser patética: um velho entrouxado de roupas luxuosas, cercado de roupas reais, e tremendo de frio, batendo queixo.

É comum os velhos sentirem mais frio. Lembro-me de meu pai, antes de partir para o Senhor, sempre com seu casacão ou com seu pala de lã, com frio. Mas a cena de Davi era patética por ele ser o rei, uma figura imponente, que deveria inspirar respeito e admiração, e por estar cheio de roupas, exageradamente vestido. O rei que tinha tudo não conseguia se aquecer.

Então, seus escravos tiveram uma idéia:

“Disseram-lhe os seus servos: Busquem para o rei meu senhor uma moça virgem, que esteja perante o rei, e tenha cuidado dele; e durma no seu seio, para que o rei meu senhor se aqueça. E buscaram por todos os termos de Israel uma moça formosa, e acharam a Abisague, sunamita; e a trouxeram ao rei. E era a moça sobremaneira formosa; e tinha cuidado do rei, e o servia; porém o rei não a conheceu” (vv. 2-4).

Quantas coisas há a se considerar nesses poucos versículos!

  1. De onde os escravos tiraram essa idéia? Uma mulher que aquece mais que banhos quentes ou lareira ou aquecimento no quarto? Seria isso decorrência da fama de mulherengo de Davi, de sua lascívia, até agora, incontrolável? Seria esta a impressão final que Davi, o da eira de Araúna, passava a seus escravos: “Só uma mulher resolve meu problema”?
  2. Por que os escravos se preocuparam com isso, não uma das tantas esposas ou um dos tantos filhos? Onde estão elas? Onde estão eles? Ninguém se preocupa com Davi? A preocupação deles é apenas com o reino (como se vê nos versículos seguintes). O que Davi fez para ser assim desprezado, deixado de lado, no fim da vida? É um velho! Merecia um pouco de atenção. Merecia? Não estaria ele colhendo o que semeou na família: desinteresse, omissão, ausência, destempero emocional…? Um velho friorento entregue pela família às idéias sem pé nem cabeça de seus escravos, que uma vez o viram apresentar holocaustos, mas muitas vezes o viram com mulheres, muitas e variadas. (Talvez mais vezes com mulheres do que vezes em comunhão com Deus…)
  3. Se a intenção era mesmo apenas encontrar um cobertor humano para Davi, por que procurar “por todos os termos de Israel uma moça formosa” (v. 3)? Ela vai aquecer Davi por ser formosa? Ela não precisava ter outras habilidades para resolver a constante hipotermia do rei? Ou seria mais um enfeite do palácio de Davi, como o eram as outras esposas? Troféus expostos para ressaltar a virilidade de Davi? E escolheram uma “moça sobremaneira formosa” (v. 4). Uma modelo, uma miss, uma “uau!”. Era preciso mesmo isso? Parece-me apenas um conceito mundano, caído, de que beleza é o principal.

(Não são muitos os seduzidos [com trocadilho] por essa idéia? Não é imposto, a homens e a mulheres, um padrão, um conceito de beleza? Não são tantas as jovens escravizadas pela anorexia das modelos, pelo raquitismo das que desfilam nas passarelas? Não são tantas as mães que moldam suas filhas desde muito pequenas no padrão adulto de beleza artificial: maquilagem, roupas, erotismo precoce, músicas idiotas sobre “com quem será…”? Não são tantos os jovens cristãos atraídos pela falsa aparência exterior, ignorando a piedade, o “incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus” [1Pe 3.4]?)

Voltemos a Davi.

O que me assombrou pela primeira vez, como se a tinta da página ainda estivesse secando, nessa antiga passagem foi a ausência da família. “Davi, o que você fez com sua família?” Agora, o velho Davi tem nos braços uma mulher linda – imagino que a mais linda que ele já viu –, mas ele é velho e friorento. E a Bíblia registra, talvez como um louvor a ele, mas, ao mesmo tempo, para envergonhar sua virilidade, sua fama de conquistador: “Porém o rei não a conheceu” (1Rs 1.4).

Ah, se fosse em outros tempos! Davi, que não respeitou a mulher do próximo, ao preço de matá-lo para ficar com ela, que a fez deitar-se com ele (provavelmente usando sua autoridade imperial sobre os súditos), não teria deixado passar incólume uma moça sobremaneira formosa, entregue a seus braços lascivos. Mas agora ele está velho e friorento. Seu corpo está impotente. Sexo, que nunca o satisfez, agora não o satisfaz mais. Mulheres, que eram sua busca, seu alvo, sua certeza de satisfação, agora de nada lhe servem. Ele só queria um banho quente permanente.

Há um detalhe curioso: a Bíblia não registra que Abisague, a tal moça linda, conseguiu aquecer o rei. Diz apenas que ela o servia e cuidava dele (vv. 4,15). Trocava suas roupas? Trocava-lhe as fraldas geriátricas? Levava-o para o banho? Dava comida na boca? A pergunta surge de novo: “Davi, o que você fez de sua família? Por que nenhuma esposa cuida de você? Por que nenhum de seus filhos cuida de você? O que você se tornou aos olhos de sua família, Davi? O que sua família se tornou a seus olhos, Davi?” Davi parece se sentir indigno de pedir o socorro a qualquer de suas esposas ou de seus filhos. É minha inferência, minha leitura do quadro todo. Davi foi rei, com a dignidade real, até o fim, mas, em algum lugar do passado, ele perdeu a dignidade como marido e pai. Agora, está com frio. E abandonado aos braços de uma mulher linda.

Ainda há mais. Por causa da preocupação com o reino, não com o rei, Bate-Seba (sim, aquela com quem ele adulterara e cujo marido ele mandou matar) vai a Davi interceder por Salomão (filho legítimo do casal, pois gerado depois de Davi ter casado com ela). Mas a cena é… desagradável, na falta de outro adjetivo: “E foi Bate-Seba ao rei na sua câmara; e o rei era muito velho; e Abisague, a sunamita, servia ao rei” (v. 15).

Imagine a cena toda: aquele homem havia adulterado com a mulher e matado o marido (honesto, leal, decente, patriótico) dela. Depois, por culpa desse pecado, o primeiro filho deles morre. Talvez ela tenha pensado que, dada a loucura toda feita em nome do amor (da lascívia é mais exato), Davi a trataria como única, como a preferida, como a especial. Que nada! Em pouco tempo, por onde vai passando, Davi coleciona mais e mais mulheres. Bate-Seba era apenas mais uma, importante, talvez, por ser a mãe de Salomão, o futuro rei. Aquele homem agora é um velho, mas ainda está no comando. Bate-Seba não tem opção: tem de ir a ele. Ao chegar lá, o vê com Abisague, a mulher linda que o serve. Bate-Seba agora é idosa, enrugada; não é mais a mulher bonita que, ao se banhar, atraiu o rei com sua beleza nua. Talvez tivesse sido tão bonita quanto Abisague. Agora é velha e Davi é velho. E seu marido está, mais uma vez, com outra mulher.

E ela não se dirige ao marido: ela fala com o rei, com seu senhor (vv. 16-20). Ela não é a esposa: é a serva (v. 17), não mãe do filho, já que o filho, um servo, é filho apenas do rei (vv. 17, 19).

Com certeza, algumas dessas expressões são justificadas pela cultura palaciana, pelo protocolo real. No entanto, a cena toda é vazia de relacionamentos de amor, de laços de família, de ternura. (Compare com o relacionamento entre Jacó e José.) Davi é um rei só, só numa numerosa família, abandonado por aqueles a quem abandonou.

Por isso, o maravilhoso e incomparável rei Davi termina a vida em um versículo: “E Davi dormiu com seus pais, e foi sepultado na cidade de Davi” (2.10). Ninguém o pranteou, ninguém sentiu falta dele, nenhum feriado nacional, nenhuma comitiva palaciana, nenhuma esposa de luto, nenhum filho entristecido. Davi morreu. Só. Foi sepultado. E ponto.

Ao ler 1Reis e pensar nisso tudo, vieram-me ao coração pensamentos assustadores: “Quem vai cuidar de mim em minha velhice? Quem fará questão de cuidar de mim? O que semeio hoje em minha família? Que colheita vou ter?” O princípio é imutável: colhemos exclusivamente o que semeamos. Davi semeou solidão, omissão, abandono, desinteresse; colheu frio e tremedeira nos braços de uma linda estranha (e nem ela foi chorar sua morte).

O que eu semeio?
O que você semeia?

Ainda é tempo de iniciar uma nova semeadura.

(Publicado originalmente em 8.6.17; atualizado em 13.6.18)

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Francisco Nunes Notícias

São tão vastos os Teus campos, ó amado Boaz celestial!

Os vastos campos do Senhor

Não sei ao certo há quanto tempo este blogue existe. Seu início se deu, com certeza, há mais de 20 anos, quando, ainda preso a uma seita cristã exclusivista, comecei a conhecer a rica herança espiritual dada pelo Senhor a Seu Corpo por meio de muitos e muitos filhos.

Conforme eu conhecia autores e suas obras, mais fascinado eu ficava… com o Senhor! Quão rico Ele é! Quão insondáveis são Suas riquezas! Quão vastos são Seus campos! Quão limitados são, mesmo os mais fiéis servos, para colher os frutos, para recolher as respigas! E quanta profundidade, quanta revelação, quanto alimento há no pouco que do Senhor conhecemos! “Eis que isto são apenas as orlas dos Seus caminhos; e quão pouco é o que temos ouvido Dele!” (Jó 26.14).

Angustiado com a limitação, com a pobreza a que meus irmãos eram submetidos, como eu, naquele ambiente, comecei a divulgar frases, pequenos trechos, capítulos de livros desses autores até então desconhecidos, pelo menos para mim. E aquele pouquinho do sabor de favos de mel começou a me aclarar os olhos (cf. 1Sm 14.27)! E isso foi o embrião do Campos de Boaz.

Em algum momento, criei uma página na internet. Recordo que passei pelos falecidos GeoCities e Multiply; mexi com HTML, apesar de minha completa inaptidão técnica. (E eu encontrava mais e mais preciosidades que precisavam ser conhecidas por outros sedentos.) Mais tarde, abriguei o blogue em um domínio que me pertencia; a seguir, passei-o para outro. No meio desse processo todo, conheci o Rafael, um mais que irmão, profissional da área, que me ajudou a tornar o Campos um pouco menos amador. Identificando-se com o objetivo que eu tinha, o Rafa assumiu papel importante nos bastidores. Por fim, no ano passado, Campos de Boaz passou a ter seu próprio domínio.

A tarefa era grande demais para ser realizada sozinho, mesmo com a ajuda especializado do Rafa. Graças ao Senhor, paralelamente a esse desenvolvimento técnico, Ele trouxe ainda outros cooperadores, como Maria, editora, Hannah, a artista, e os demais respigadores, que têm cooperado na produção de conteúdo e em sua publicação. Todos com o mesmo objetivo do início: levar ao povo do Senhor um pouco das muitas riquezas que Ele espalhou em Seus campos ao longo dos séculos. Todos trabalhando voluntariamente, por amor ao Senhor e a Seu povo, nesse singelo serviço.

Quem visita o Campos regularmente, ou quem é assinante, percebeu que ele está diferente. Na quarta-feira 9 de maio, depois de horas de trabalho, que culminaram muitas horas anteriores (eu, leigamente, imaginava ser coisa bem simples fazer um blogue bonito), conseguimos colocá-lo no ar. (Obrigado a todos que participaram, obrigado a cônjuges e filhos pela paciência e apoio.)

Adotamos novo tema, procurando com ele atender melhor aos que acessam por dispositivos móveis. Pensamos em uma identidade visual, para dar mais harmonia ao blogue e todas as suas partes.

Também teremos novidades ao longo do ano. Além de iniciarmos novas seções, pretendemos lançar dois livros gratuitos, em formato digital. Também planejamos o início da publicação, no segundo semestre, de um devocional que será enviado por e-mail diariamente, mas também será encontrado aqui, em nossa página no Facebook e no perfil no Twitter (outra novidade. Em breve, estaremos em outras redes sociais). Depois de completarmos sua tradução, o devocional será distribuído gratuitamente, em formato digital.

Em breve, a equipe receberá mais dois voluntários para a tradução. Apesar das limitações de todos, desejamos, com isso, ampliar o número de publicações inéditas no blogue.

Reconhecemos nossa incapacidade, nossa insuficiência, nossa inconstância. Mas temos o desejo de que o Senhor abençoe os poucos pães e peixes que Lhe apresentemos a fim de que uma parcela da multidão faminta que O segue seja saciada.

Se você tiver sugestões ou pensa que pode contribuir de alguma forma (contamos, claro, com suas orações!), escreva para contato(a)camposdeboaz.com ou deixe um comentário.

Ao Senhor, unicamente, toda a glória!

Grande abraço!

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Bíblia Ferramentas Francisco Nunes

Leitura da Bíblia em 2017!

Não leia apenas. Medite!

Paz!

Um novo ano é sempre um bom momento para (re)começarmos a leitura da Bíblia. Sei dos imensos desafios que a vida moderna nos impõe até mesmo (ou principalmente) com respeito a nossas disciplinas espirituais: comunhão com o Senhor, oração, leitura devocional e estudo das Escrituras, meditação, etc. Mas devemos insistir, pedindo a graça e o poder do Senhor. Não há outro meio de sermos cristãos maduros e bem firmados na verdade sem um contato constante, sério, profundo e intencional com o Livro Antigo.

Coletei na internet algumas sugestões de planos de leitura da Bíblia. Estão no arquivo zipado que você encontra aqui. Escolha o que for mais adequado a você e use-o com dedicação, diariamente.

Planos de leitura da Bíblia

O plano cronológico sugere a leitura dos livros da Bíblia, não na ordem em que se encontram, mas pela sequência dos fatos registrados.

O calendar_mccheyne apresenta o plano de leitura idealizado por Robert McCheyne, no qual há uma leitura individual e uma leitura em família. (É o que mais indico. Há alguns anos, desenvolvi uma Bíblia que traz essas leituras para cada dia do ano. Chama-se Bíblia Devocional Robert McCheyne. Você a encontra em boas livrarias.) E há um plano adaptado, que exclui uma das leituras.

Há um plano para ler a Bíblia toda em três meses e um para ler apenas o Novo Testamento, Salmos e Provérbios. Há planos para novos convertidos, para crianças, em que os livros são lidos de modo alternado ou misturados. Há um plano que considera os meses tendo 25 dias, para que haja tempo para meditação e para repôr alguma leitura.

Há dois planos em formato de planilha, que permitem acompanhar seu progresso (é preciso habilitar as macros).

Independente do método escolhido, o fundamental é o contato diário com a Palavra de Deus. Para isso, com certeza será preciso organizar a vida, estabelecer horários a fim de ser possível separar um tempo a cada dia para estar a sós com Deus e com Seu Livro.

Não há vida cristã sem a Palavra de Deus. Não há maturidade cristã sem contato constante e sério com a Sagrada Escritura. Não é possível conhecer de fato a Deus à parte da Santa Palavra. Não é possível conhecer a vontade de Deus sem buscá-la no Livro Antigo. Não é possível viver de modo agradável a Deus sem submeter-se ao Sagrado Livro. Não é possível ter uma fé robusta sem alimentá-la com o Santo Texto. Ninguém se volta para Deus sem voltar-se para Sua Palavra. Ninguém ama a Deus sem amar Seu Livro.

Leia a Bíblia na presença do Senhor, na dependência de Seu Espírito, sob a operação da cruz, com santo temor, com coração humilde, com santa expectativa, com alegria, com amor, com desejo de que Deus fale por meio dela. Já disse alguém: “Você quer ouvir Deus falar? Leia a Bíblia. Quer ouvir Deus falar com voz audível? Leia a Bíblia em voz alta!”

Desejo que o Senhor abençoe você a cada dia do novo ano por meio de Sua Palavra.

Divulgue para outros irmãos.

Abraço.

Salvar

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Consolo Encorajamento Francisco Nunes Oração Sofrimento

Oração, sofrimento, Palavra e fé (atualizada)


Donizete, um amado irmão, é o marido de Maria de Luca, essa querida irmã que coopera com o Campos de Boaz como editora. Ela é que tem publicado os últimos Gotas de Orvalho. O Doni está há mais de um mês na UTI. Por causa de dores de cabeça, foi fazer uma tomografia, que revelou um tumor no cerebelo. Feita a cirurgia, teve meningite, trombose e outras complicações. Ele está bem, recuperando-se, mas ainda amarrado à cama, pois não deve se mover, com dificuldade para falar, cansado. Depois que tiver alta, terá um longo processo de recuperação pela frente.

Doni e Maria têm um lindo casal de filhos.

A situação não é apenas de expectativa e de sofrimento. Deus tem usado isso para operar algo novo, maravilhoso na família e em todos os que os conhecem (eu me incluo como um especial privilegiado pela amizade desse casal). Recentemente, Maria me enviou um texto pelo WhatsApp que, com a permissão dela, publico aqui.

Sei que o apoio e as orações dos irmãos é que estão nos sustentando. Eu estou aqui, esperando no Senhor. Sei que Ele é poderoso. A mim, cabe apenas me humilhar na presença Dele e clamar por Sua misericórdia e compaixão até que se compadeça de nós.

Eu tive uma conversa com as crianças essa semana. Eu lhes expliquei, usando o salmo 139, que todos os nossos dias foram escritos na presença de Deus. E que, se o Senhor não voltar antes, cada um de nós será chamado a Sua presença quando Ele determinar. E por isso nós poderíamos descansar. Porque o papai só pode morrer se for o momento em que o Senhor chamar. E, mesmo que alguém esteja com plena saúde, se Ele chamar, esse alguém morrerá.

Então, um dia depois, meu filho foi disputar um campeonato com a equipe da escola. Foram bem colocados e ganharam até medalha. No dia seguinte, o pai de um de seus colegas trabalhou o dia todo normalmente. À noite, ao chegar em casa, sentiu-se mal. Teve um ataque fulminante do coração e morreu. Meu filho me disse que se lembrou do que eu havia falado.

Olho para o Doni dormindo no hospital e penso em tantas coisas que o Senhor está me ensinando com tudo isso enquanto ele dorme. Ensinando a meus filhos e a toda nossa família. Vejo o quanto minha fé é vacilante e como gostamos de ter o controle sobre tudo o que nos acontece. Como somos relutantes em nos jogar nos braços do Pai e dizer-Lhe que faça Sua vontade! Como ainda tememos a morte! Como ainda nos falta a coragem e a bravura de irmãos do passado cuja única coisa que temiam era desagradar o Pai! Que o Senhor, em Sua misericórdia, me encontre vigilante.

Eu respondi a ela:

Maria, eu seria muito leviano se tentasse acrescentar qualquer coisa ao que você disse. Mesmo concordar com isso, eu sinto, é, de minha parte, superficial, pois só consigo imaginar o que seja esse tempo.

O pouco que conheço do Senhor me faz saber que Ele é sempre bondoso, mesmo quando nos conduz pelo vale da sombra da morte. Fugimos tanto dela, e ela é tão real, precisa e inevitável. E nossos filhos precisam saber disso, pois, em Adão, somos todos perecíveis.

Muito obrigado por partilhar isso comigo. Sinto-me honrado por vocês e agraciado pelo Senhor em poder ler isso. Se me permite, eu gostaria de publicar um artigo no Campos, pedindo oração dos leitores também e partilhando esse texto. Não o farei sem sua autorização.

Li ontem num livro do Spurgeon: “É bom ficar sabendo que Deus não põe fardos pesados sobre ombros inexperientes. […] Não pense que, à medida que você cresce em graça, a vereda se tornará mais suave sob seus pés e os céus, mais serenos sobre sua cabeça. Ao contrário, reconheça que, conforme Deus lhe dá maior habilidade como soldado, Ele o mandará para empreitadas mais árduas ainda.” Que lhes sirva de consolo saber que Deus capacitou seus ombros para isso.

Saibam que amamos imensamente vocês.

Alguns dias depois, ela também me escreveu o seguinte:

Eu estava terminando de ler um livro do Jerry Bridges quando tudo começou. O nome do livro é Confiando em Deus, mesmo quando a vida nos golpeia, aflige e fere. É um livro doce, resultado do estudo do autor sobre a soberania de Deus enquanto via o câncer consumir a saúde da esposa, até que o Senhor a tomou para Si. Foi uma leitura proveitosa, tanto para mim como para o Doni, que estava na metade do livro e terminou de lê-lo já no hospital, antes da cirurgia.

O autor mostra tantos exemplos bíblicos de pessoas que sofreram dor e perda e, ainda assim, confiaram no Senhor. Dois apóstolos foram presos: Tiago e Pedro. A igreja orou pela libertação dos dois. Pedro foi liberto milagrosamente, enquanto Tiago foi decapitado. O que pensou a esposa de cada um deles?

Tenho aprendido com estes e tantos outros exemplos que “nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória”. Os dias não têm sido fáceis. Um dia recebo uma boa notícia, no outro, uma ruim. Mas tenho comigo que nossa frágil vida está em mãos seguras. Como dizia Spurgeon, “a menos que Deus me chame, eu não posso morrer”. E o contrário é igualmente verdadeiro. Se Ele chamar você, não importa se goza de boa saúde ou tem prosperidade financeira que lhe garanta recursos mil, você irá se encontrar com Ele.

Tenho vivido cada dia. Um de cada vez. Sem querer previsões, sem querer saber o que houve em casos como o dele. Confio apenas que Deus cuida dos Seus um a um. Ele escreve nossa história de maneira única. Embora os testemunhos sirvam sempre para nos dar alento, Hebreus nos alerta que, olhando para aqueles testemunhos, devemos imitar a fé que tiveram – e não os atos de fé.

Conheço irmãos por quem oramos quando não havia mais esperança, e Deus os curou. Outros, igualmente piedosos, foram chamados a Sua presença. Então, aguardo em Deus o desfecho de tudo isso, sabendo que Ele é Deus e só Ele merece toda honra. Se Ele for glorificado com a cura do Doni, amém. Mas, se não, que Ele igualmente seja glorificado.

Eu sou tão fraca e tenho uma fé tão vacilante! Mas tenho pedido a Deus que me fortaleça para que eu possa testemunhar sobre a paz de Jesus aos médicos com quem converso diariamente.

Lembro-me sempre da paz que havia entre os irmãos morávios, a qual levou John Wesley a procurá-los, porque, mesmo em meio à grande tormenta, nem suas crianças temiam a morte. E aquilo o atraiu. Um irmão fez-lhe algumas perguntas que o levaram posteriormente a ter uma experiência real com Jesus, e ele se tornou o maior pregador da Inglaterra.

Que o Senhor continue nos conduzindo, apesar de nossa fraqueza e grande debilidade. Ele é forte, capaz, bom e Todo-poderoso.

Partilho tudo isso com você, prezado leitor do Campos de Boaz, em primeiro lugar para pedir suas orações por todos eles. Como costumo dizer, orações são sempre bem-vindas! Orações pela plena recuperação do Doni, sem nenhuma seqüela, por paciência e confiança para o tempo que ele ainda terá de passar no hospital. Oração pela Maria, para que o Senhor a capacite, dia após dia, a esperar, confiar e ajudar seus filhos a também confiarem e esperarem no Senhor. Pelos filhos, para que, apesar da pouca idade, conheçam o Senhor no meio desse sofrimento.

Partilho também para que sirva de alerta: qualquer um de nós, e qualquer pessoa a quem amamos, a qualquer momento, pode ser chamado à presença do Senhor. Você está preparado? E seus filhos? Já conhecem o Senhor? São ajudados a confiar no Senhor? E seus amigos e parentes, a quem você muito ama, estão prontos para se encontrar com o Criador?

Por fim, divido isso para que lhe sirva de encorajamento. Em toda situação, Deus quer apenas uma coisa: conformar-nos mais e mais à imagem de Seu Filho. Se O buscarmos, se nos submetermos a Sua vontade, por vezes misteriosa e cheia de dor, se exercitarmos nossa confiança e submissão a Ele, Deus obterá em nós o que deseja.

Em Cristo, seu conservo

Francisco Nunes

 

Atualização em 10 de dezembro de 2016

Recebi hoje a seguinte notícia de nossa amada irmã Maria.

Bom dia! Notícias do Doni

É com o coração cheio de gratidão que informo que o Doni já está em casa.

Ainda há um processo de reabilitação em curso. Está reaprendendo a andar e a comer. Creio que em breve estará totalmente recuperado.

Nossa sincera gratidão a você que orou por nós durante todo esse tempo. Foram tempos difíceis e cremos que só suportamos tudo isso por causa das orações que recebemos. Através delas a graça de Deus esteve presente conosco, nos fortalecendo quando nossos joelhos fraquejaram.

Que esta mesma graça seja com você e com toda a sua família!

Ao Senhor rendemos toda glória e todo louvor.

Grande abraço!

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Estudo bíblico Família Francisco Nunes

Um pensamento solto sobre Davi

Hoje fui levado a pensar no fim da vida de Davi, conforme o registro de 1Reis.

O último versículo do livro anterior, 2Samuel, fala de algo glorioso: “E edificou ali Davi ao SENHOR um altar, e ofereceu holocaustos, e ofertas pacíficas. Assim o SENHOR se aplacou para com a terra e cessou aquele castigo de sobre Israel”. Sem dúvida, é uma bela cena. Davi, arrependido de ter ordenado o censo do reino, arrependido por seu erro ter resultado na morte de setenta mil homens do povo, oferece holocaustos ao Senhor na eira de Araúna, que agora lhe pertence, pois ele não ofereceria ao Senhor, seu Deus, holocaustos que não lhe custassem nada (2Sm 24.20).

É uma bela cena para nossa visão das coisas espirituais: temos arrependimento, holocausto, louvor, perdão de Deus… Mas falta algo, não só nessa cena como em muitas outras da vida de Davi: sua família. Davi, mais uma vez, está desacompanhado de sua família: nem uma esposa (havia tantas que podiam estar com ele…), nem um filho (dos tantos…). Por quê?

O resumo de tudo é: Davi foi um fracasso como pai, como marido, como chefe de família. Como este é uma consideração rápida sobre ele, não há como aprofundar isso. Mas basta ler a história do rei de Israel, especialmente depois de 2Samuel 11: o adultério com Bate-Seba trouxe conseqüências, especialmente sobre sua família, da qual a espada nunca se apartou (12.10). Isso significaria que haveria guerras, lutas, desencontros, intrigas, mortes dentro da família, mas isso não explica a omissão de Davi como pai e como marido. Os capítulos 13 a 15 exemplificam isso vergonhosamente: sua omissão no caso de estupro de sua filha Tamar por Amnom, meio-irmão dela (portanto, filho de Davi), sua incapacidade de lidar com a rebelião de Absalão, preferindo fugir covardemente a enfrentá-lo e pô-lo em seu lugar.

E foi esse Davi, o solitário homem cheio de esposas e de filhos, que adorou a Deus na eira de Araúna. Linda cena, mas… vazia. O rei está acompanhado apenas de seus escravos (24.20). Somente os servos ouviram aquela declaração, sobre o preço dos holocaustos, mas nenhum filho, nenhuma esposa. Nenhum deles teve oportunidade de ouvir este princípio tão importante acerca do dar-se ao Senhor, do ser totalmente Dele em Seu serviço. O pai de muitos filhos não tem filhos. O marido de muitas esposas não tem esposa. Só escravos: pessoas que apenas obedecem, que não precisam aprender ou praticar nada. Só seguir seu dono.

Na página seguinte da Bíblia está 1Reis, que inicia dizendo: “Sendo, pois, o rei Davi já velho, e entrado em dias, cobriam-no de roupas, porém não se aquecia” (1.1). Do holocausto à velhice, do sacrifício ao frio, das ofertas ao não se aquecer. O que aconteceu nesse meio tempo? Segundo esse registro, nada. Nada da importante. Nenhum fato digno de nota. Agora há um rei velho, decrépito, cheio de roupas, que não se aquece. A cena deveria ser patética: um velho entrouxado de roupas, cercado de roupas, e tremendo de frio, batendo queixo.

É comum os velhos sentirem mais frio. Lembro-me de meu pai, antes de partir para o Senhor, sempre com seu casacão ou com seu pala de lã, com frio. Mas a cena de Davi era patética por ele ser o rei, uma figura imponente, que deveria inspirar respeito e admiração, e por estar cheio de roupas, exageradamente vestido.

Então, seus escravos tiveram uma idéia:

“Disseram-lhe os seus servos: Busquem para o rei meu senhor uma moça virgem, que esteja perante o rei, e tenha cuidado dele; e durma no seu seio, para que o rei meu senhor se aqueça. E buscaram por todos os termos de Israel uma moça formosa, e acharam a Abisague, sunamita; e a trouxeram ao rei. E era a moça sobremaneira formosa; e tinha cuidado do rei, e o servia; porém o rei não a conheceu” (vv. 2-4).

Quantas coisas há a se considerar nesses poucos versículos!

1. De onde os escravos tiraram essa idéia? Uma mulher que aquece mais que banhos quentes ou lareira ou aquecimento no quarto? Seria isso decorrência da fama de mulherengo de Davi, de sua lascívia, até agora, incontrolável? Seria esta a impressão final que Davi, o da eira de Araúna, passava a seus escravos: “Só uma mulher resolve meu problema”?

2. Por que os escravos se preocuparam com isso, não uma das tantas esposas ou um dos tantos filhos? Onde estão elas? Onde estão eles? Ninguém se preocupa com Davi? A preocupação deles é apenas com o reino (como se vê nos versículos seguintes). O que Davi fez para ser assim desprezado, deixado de lado, no fim da vida. É um velho! Merecia um pouco de atenção. Merecia? Não estaria ele colhendo o que semeou na família: desinteresse, omissão, ausência, destempero emocional…? Um velho friorento entregue pela família às idéias sem pé nem cabeça de seus escravos, que uma vez o viram apresentar holocaustos, mas muitas vezes o viram com mulheres, muitas e variadas.

3. Se a intenção era mesmo apenas encontrar um cobertor humano para Davi, por que procurar “por todos os termos de Israel uma moça formosa” (v. 3)? Ela vai aquecer Davi por ser formosa? Ela não precisava ter outras habilidades para resolver a constante hipotermia do rei? Ou seria mais um enfeite do palácio de Davi como eram as outras esposas? Troféus expostos para ressaltar a virilidade de Davi? E escolheram uma “moça sobremaneira formosa” (v. 4). Uma modelo, uma miss, uma “uau!”. Era preciso mesmo isso? Parece-me apenas um conceito mundano, caído, de que beleza é o principal.

Não são muitos seduzidos (com trocadilho) por essa idéia? Não é imposto, a homens e a mulheres, um padrão, um conceito de beleza? Não são tantas as jovens escravizadas pela anorexia das modelos, pelo raquitismo das que desfilam nas passarelas? Não são tantas as mães que moldam suas filhas desde muito pequenas no padrão adulto de beleza artificial: maquilagem, roupas, erotismo precoce, músicas idiotas sobre “com quem será…”? Não são tantos os jovens cristãos atraídos pela falsa aparência exterior, ignorando a piedade, o “incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus” (1Pe 3.4)?

Voltemos a Davi.

O que me assombrou pela primeira vez, como se a tinta da página ainda estivesse secando, nessa antiga passagem foi a ausência da família. “Davi, o que você fez com sua família?” Agora, o velho Davi tem nos braços uma mulher linda – imagino que a mais linda que ele já viu –, mas ele é velho e friorento. E a Bíblia registra, talvez como um louvor a ele, mas, ao mesmo tempo, para envergonhar sua virilidade, sua fama de conquistador: “Porém o rei não a conheceu” (1Rs 1.4).

Ah, se fosse em outros tempos! Davi, que não respeitou a mulher do próximo, ao preço de matá-lo para ficar com ela, que a fez deitar-se com ele (provavelmente usando sua autoridade imperial sobre os súditos), não teria deixado passar incólume uma moça sobremaneira formosa. Mas agora ele está velho e friorento. Seu corpo está impotente. Sexo, que nunca o satisfez, agora não o satisfaz mais. Mulheres, que eram sua busca, seu alvo, sua certeza de satisfação, agora de nada lhe servem. Ele só queria um banho quente permanente.

Há um detalhe curioso: a Bíblia não registra que Abisague, a tal moça linda, conseguiu aquecer o rei. Diz apenas que ela o servia e cuidava dele (vv. 4, 15). Trocava suas roupas? Trocava-lhe as fraldas geriátricas? Levava-o para o banho? Dava comida na boca? A pergunta surge de novo: “Davi, o que você fez de sua família? Por que nenhuma esposa cuida de você? Por que nenhum de seus filhos cuida de você? Em que você se tornou aos olhos de sua família, Davi? O que sua família se tornou a seus olhos, Davi?” Davi parece sentir-se indigno de pedir o socorro a qualquer de suas esposas ou de seus filhos. É minha inferência, minha leitura do quadro todo. Davi foi rei, com a dignidade real, até o fim, mas, em algum lugar do passado, ele perdeu a dignidade como marido e pai. Agora, está com frio.

Ainda há mais. Por causa da preocupação com o reino, não com o rei, Bate-Seba (sim, aquela com quem ele adulterara e cujo marido ele mandou matar) vai a Davi interceder por Salomão (filho legítimo do casal, pois gerado depois de Davi ter casado com ela). Mas a cena é… desagradável, na falta de outro adjetivo: “E foi Bate-Seba ao rei na sua câmara; e o rei era muito velho; e Abisague, a sunamita, servia ao rei” (v. 15).

Imagine a cena toda: aquele homem havia adulterado com a mulher e matado o marido (honesto, leal, decente, patriótico) dela. Depois, por culpa de seu pecado, o primeiro filho deles morre. Talvez ela tenha pensado que, dada a loucura toda feita em nome do amor (da lascívia é mais exato), Davi a trataria como única, como a preferida, como a especial. Que nada! Em pouco tempo, por onde vai passando, Davi coleciona mais e mais mulheres. Bate-Seba era apenas mais uma, importante, talvez, por ser a mãe de Salomão, o futuro rei. Aquele homem agora é um velho, mas ainda está no comando. Bate-Seba não tem opção: tem de ir a ele. Ao chegar lá, o vê com Abisague, a mulher linda que o serve. Bate-Seba agora é idosa, enrugada; não é mais a mulher bonita que, ao se banhar, atraiu o rei com sua beleza nua. Talvez tivesse sido tão bonita quanto Abisague. Agora é velha e Davi é velho. E seu marido está, mais uma vez, com outra mulher.

E ela não se dirige ao marido: ela fala com o rei, com seu senhor (vv. 16-20). Ela não é a esposa: é a serva (v. 17), não mãe do filho, já que o filho, um servo, é filho apenas do rei (vv. 17, 19).

Com certeza, algumas dessas expressões são justificadas pela cultura palaciana, pelo protocolo real. No entanto, a cena toda é vazia de relacionamentos de amor, de laços de família, de ternura. (Compare com o relacionamento entre Jacó e José.) Davi é um rei só, só numa numerosa família, abandonado por aqueles a quem abandonou.

Por isso, o maravilhoso e incomparável rei Davi termina a vida em um versículo: “E Davi dormiu com seus pais, e foi sepultado na cidade de Davi” (2.10). Ninguém o pranteou, ninguém sentiu falta dele, nenhuma esposa de luto, nenhum filho entristecido. Davi morreu. E ponto.

Ao ler 1Reis e pensar nisso tudo, vieram-me ao coração pensamentos assustadores: “Quem vai cuidar de mim em minha velhice? Quem fará questão de cuidar de mim? O que semeio hoje em minha família? Que colheita vou ter?” O princípio é imutável: colhemos exclusivamente o que semeamos. Davi semeou solidão, omissão, abandono, desinteresse; colheu frio e tremedeira nos braços de uma linda estranha (e nem ela foi chorar sua morte).

O que eu semeio?
O que você semeia?

Ainda é tempo de iniciar uma nova semeadura.

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© Campos de Boaz 2013.

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Francisco Nunes Vida cristã

Esperar

“Aquele que espera no Senhor, anime-se, pois espera por Alguém que não o pode desapontar, e que não se atrasará cinco minutos do momento determinado. Mais um pouco, e a sua tristeza será transformada em regozijo” (Autor desconhecido, citado em Mananciais no Deserto)

Como diz o salmista, esperamos confiantemente no Senhor. Ele virá. Ele nunca tarda, nunca desiste. Ele cumprirá o que prometeu. Sendo assim, podemos manter o coração tranqüilo e seguro Nele. Nosso Deus não é homem para que minta.

Tenha uma excelente tarde!

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