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Criação Deus Francisco Nunes

Vida em 4,3 milímetros


O filho de minha sobrinha tem 4,3 milímetros.

Pegue a régua. Comece com o zero. Conte quatro tracinhos. Avance a unha só um nadinha mais. Pare. Aí está ele. Quatro vírgula três milímetros. Menos da metade do caminho tão curto, tão ínfimo entre o 0 e o 1. Menos de meio centímetro. Um tiquinho de nada. Um pedacinho de uma régua. Não, nada disso. É o filho de minha sobrinha.

E ele tem coração! Ela o ouviu. É o que mostra a imagem acima. Ela ouviu o coração de 4,3 milímetros de vida. Ela ouviu a vida pulsando naqueles 4,3 tracinhos. Há um coração batendo naquele tiquinho de existência!

Minha sobrinha tem um coração. Os 4,3 milímetros têm um coração. Portanto, são duas pessoas, dois corpos, dois seres. Não é mais o corpo dela, não é mais ela. É alguém. É outro. É um ser vivo. É um ser humano, mistura de minha sobrinha e seu marido. É uma imagem e semelhança de Deus com 4,3 milímetros. É um ser totalmente dependente de outro, e esse outro o ama, dele cuida, com ele se importa, nele pensa, vive para interceder por ele… (Sim, há um tanto de Deus nisso tudo!)

Naquela extensão tão pequenina de vida há uma alma, há uma personalidade. É um ser completo e, ao mesmo tempo, ainda em desenvolvimento. É uma gente, bem minúscula, e ainda assim gente. Ser humano. O filho de minha sobrinha. Outro, não ela. Um corpo dentro do corpo dela. E, naquele corpinho que ainda não é bem um corpinho, mas já é alguém, há uma alma, a individualidade inegociável do ser, a unicidade que o caracteriza, aquilo que o faz ser só quem é, como nenhum outro jamais foi e jamais será. Mesmo que minha sobrinha tenha outros, muitos, filhos.

Menos de cinco milímetros. Não pode ser pego no colo. Não pode ser tocado. Não pode tomar banho. Não pode ser levado ao parquinho. Não pode ficar de castigo. Não pode trocar as letras das palavras e fazer todo mundo achar tão bonitinho. Mas já é filho, plenamente filho, absolutamente filho. Um outro já tão insubstituivelmente amado, seu lugar definitivamente estabelecido na história, à mesa, na família, em nosso amor. E não tem nem cinco milímetros. E ainda não o vimos. E ainda não tem nome. E já é. Por ser.

O filho de minha sobrinha tem o “corpo ainda informe”, como disse Davi (Sl 139.16). E o rei disse que aquilo era ele. Não era parecido com gente ainda, nem visível era, mas já era alguém, um ser, uma pessoa. Enquanto ele estava no ventre da mãe, já era alguém (v. 13). Sim, aquele que está no ventre de minha sobrinha não é ela, não é o corpo dela: é outro! Feito de um modo assombroso e tão maravilhoso (v. 14)! O filho de minha sobrinha é um milagre, mais um realizado pelo Autor e Sustentador da vida!

Como dizer de outra maneira? Uma vida de 4,3 milímetros!

Que esta vida cresça para a glória Daquele que a entreteceu. E que o filho de minha sobrinha ensine muitos que, desde antes dos cinco milímetros, ele já era ele, outro, único, criado e amado por Deus. E por nós, que o esperamos com muita e babona expectativa!

 

(Artigo adaptado do original publicado em 2.2.16, pois é outro sobrinheto, outra sobrinha, mas a mesma alegria em Deus. Embora difira bastante do que normalmente é publicado no Campos, esse singelo texto é uma manifestação de louvor Àquele que a tudo criou, a tudo sustenta e que é merecedor de toda a glória.)

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Francisco Nunes Sofrimento

Da manjedoura à piscina


“O Senhor Jesus nasceu numa manjedoura!”

Este era o pensamento que consolava meu coração aflito. A sujeira e a escuridão eram angustiantes.

“Senhor, cuida do meu filho!”

Alguns meses antes, eu e minha esposa havíamos visitado o lugar. Instalações novas e modernas, recém-inauguradas, equipamento novo, completo, profissionais jovens e simpáticos, bem dispostos e de cara amiga. Excelente! “Já sabemos onde nosso filho irá nascer!” A maternidade pública próxima de nossa casa era resposta às orações. Sem convênio médico, numa cidade grande e nova, longe de minha irmã médica, era a segurança de que precisávamos. “Graças a Deus!”

– Liga pro Carlos!
Eram 3h da madrugada de 26 de agosto de 1991. As contrações se tornavam cada vez mais próximas uma da outra, a bolsa se rompera. Chegara a hora: Calebe queria nascer!
Carlos, um querido e tranqüilo irmão, morava relativamente perto de nós. Gentilmente havia se prontificado a nos levar para a maternidade. Ele nos acompanhara naquela visita que fizemos ao local.
– Carlos? Desculpe ligar a essa hora… É, o Calebe tá chegando!

Todo o período da gravidez havia sido cercado dos cuidados de Deus por meio de Seus filhos. Eu, minha esposa e dois filhotes viéramos de Porto Alegre para São Paulo há quatro meses. Terceira gravidez, cidade grande, muitas promessas e promessas quebradas (“Não foi isso que tinham nos falado!”), moradia num local de reuniões, sem plano de saúde, distância de tudo e de quase todos: tempo de provação em que a alma lutava para descansar e confiar em Deus.
Mas Ele, em Sua sempre infinita e imerecida bondade, nos cobriu de mimos. Entre os irmãos com quem nos reuníamos havia uma pediatra, uma médica, um dono de farmácia (o Carlos!), um casal sem filhos e dois dentistas, além de muitos outros amados santos. Resultado: compramos apenas uma chupeta para o Calebe.
E, para coroar todo aquele cuidado tão minucioso, a maternidade vizinha e reluzente. A única dor que havia eram as contrações. O coração estava tranqüilo, ansioso apenas para ver o guri que estava chegando.

Carlos chegou.

– Mas como?!
– Senhor, não podemos fazer nada. Todos os leitos estão ocupados e há quatro pacientes esperando vaga antes de sua esposa.
“Mas como? Por quê? Senhor, tava tudo tão certinho?! E meu filho?”

O ambiente era um caos. Pessoas correndo, mulheres e maridos preocupados de um lado para o outro, funcionários dando explicações, pacientes em macas no corredor, unhas sendo roídas, angústia palpável no ar, telefonemas sendo dados para todas as maternidades públicas da cidade, olhares pedindo socorro, os olhos do coração procurando Deus.
– Não tem vaga? Tá ok. Obrigado.
– Sem vagas? Todo mundo resolveu nascer hoje, né?! Então, tá.
– Uma vaga? Segura pra mim. Tô mandando uma paciente.

Carlos foi embora. Precisava trabalhar. Assegurou-nos de que tudo ia ficar bem, ia dar certo, pois Deus estava no controle. Confiei nele meio desconfiando de Deus. Custava ter deixado um leito para minha esposa?

Mais demora, mais hospitais sem vagas, menos tempo entre uma contração e outra. Não havia muito o que dizer! Quão rapidamente o tempo demora a passar em tempos de aflição.

– Duas vagas? Ótimo. Vão duas pacientes: Janisse e Celuta.
Aleluia! Nossa vez. Fim do sofrimento. Olhei aliviado para ela e sua barriga. Lindas.

– Calma, senhor, a ambulância está chegando.

Como um cretino desses ousa me pedir calma? Já faziam quase quatro horas que a bolsa de líquido de minha esposa tinha-se rompido, as contrações aumentando, ela sentada há horas numa recepção de maternidade, essa droga de ambulância não chega, e esse… me pede calma?! É fácil porque não é a esposa ou o filho dele.
O coração me jogava de um lado para o outro. “Tenho de dar um bom testemunho! Meu filho vai morrer. Senhor Jesus, socorro! Que droga de atendimento. Preciso encorajar minha amada…”.

A ambulância. Finalmente! De novo, um pouco de tranqüilidade.
Minha esposa e a outra grávida entraram com uma enfermeira. Prevendo o que poderia acontecer, a enfermeira pediu material para fazer o parto enquanto estivéssemos a caminho. Mas o quê ela faria se as duas crianças resolvessem nascer ao mesmo tempo?

– Maternidade do Brás? Não, não sei onde fica. Mas a gente descobre. Sobe aí, pai.
“Para que serve um motorista destes? Não me faltava mais nada?! Do Butantã para o Brás, e o cara não sabe o caminho?! Senhor!?”

– Acho que é por aqui.
E lá ia ele, como quem saiu para um piquenique com um cumpadre e duas cumadres barrigudas. Feliz, descansado, olhando o Tietê, sem pressa, sem sirene e filosofando.
– Correr? Não, não precisa. O que tem de ser será. Tudo tem seu tempo e só vai acontecer quando chegar a hora.
Seria pecado ou crime jogá-lo para fora e seqüestrar a ambulância com duas grávidas e uma enfermeira?

– Pronto. Chegamos. Não falei?
Bem seguro, ele entrou na rua estreitinha. Não seguiu muito adiante. Deu ré e retomou a viagem. Até hoje os funcionários daquela fábrica se perguntam o que fazia uma ambulância no meio do pátio onde tomavam café da manhã.

– Agora, sim! Taí! Pronto, pai. Chegamos.
Antes que eu fechasse a boca dele com um murro, desci e fui ajudar minha esposa. Levei-a até a recepção. Então, eu vi. “Meu Deus! Meu Deus!”

– Eu não disse? Tudo tem seu tempo. Chegamos na hora que Deus quis.

O hospital lembrava uma casa mal-assombrada. Abandonado, sujo, luzes apagadas. Não havia cadeiras de rodas para as grávidas, não havia papel higiênico nos banheiros cheios de teia de aranha, as macas frias, sem lençol, tinham pêlos e sangue de outras mulheres. Com a mesma lâmina usada sabe-se lá em quem, depilaram as duas novas vítimas que chegaram.

O único pensamento que me vinha ao coração e me trazia algum consolo e esperança era: “O Senhor Jesus nasceu numa manjedoura. E sobreviveu. Não teve infecção. Senhor, guarda meu filho! Por favor!”

Corri para o telefone, liguei para um irmão com quem eu trabalhava, pedi orações, socorro, esperança. Ele convocaria outros para orar. Ao desligar, senti-me sozinho, abandonado, num imenso e horrível açougue. E minha esposa e meu filho…

Lá dentro, a luta prosseguia. Não havia médico, apenas enfermeiras. Parteira. Os funcionários estavam em greve há três meses. O estado não fornecia praticamente nenhum material. As poucas pessoas disponíveis faziam seu melhor em meio à sujeira e falta do essencial.

Sem receber cuidados higiênicos, com o vestido com que viera da rua, minha esposa entrou em trablaho de parto. Sem perguntar-lhe nada, tentaram furar-lhe a bolsa com um objeto pontiagudo qualquer. Foi só o tempo de ela gritar que não precisava – um pouquinho mais e o Calebe terminaria ali. Então, para ajudá-la, fizeram a episiotomia… sem anestesia. A dor do parto impediu-a de sentir mais dor.

“… numa manjedoura. Senhor…”.

“Força!” Dor. Exaustão. Uma vez mais. Quase. Agora… Nasceu! Calebe. Lindo. Com arranhões na cabeça. Forte. Chorando. Vivo. Lágrimas. Carinho. Abraço. Graças a Deus!

– Parabéns, pai. Seu filho nasceu.

O aviso sem emoção me encheu de alegria, risos, lágrimas, gratidão. De joelhos no meu coração, agradeci porque o milagre de sobrevivência à manjedoura havia se repetido.
O Calebe nasceu a primeira vez.

Outra madrugada. Pesadelo. Medo. A pequenez diante das coisas inexplicáveis.
– MÃÃÃÃÃEE!
O mesmo bebê que lhe roubara aquela distante noite de sono precisava de ajuda novamente. A mãe atendeu-lhe o chamado. Ao lado dele, ouve o que o assustara. Abraça-o. Chora com ele. Afaga-o. Protege com seus invencíveis braços de carne frágil. É mãe.

– Mãe, eu quero entregar a minha vida pro Senhor Jesus. Ora comigo?

A luz brilhou nas trevas daquela madrugada. Repetia-se o milagre.
O Calebe nasceu a segunda vez.

Sábado, 26 de novembro de 2005. Ao completar 14 anos, como um presente para si mesmo e para Deus, Calebe foi batizado na piscina da casa de seus melhores amigos. Quanta alegria! Quanto louvor Àquele que tão bem cuidou dele ao longo desse tempo. A grande cicatriz no braço é mais um testemunho do mesmo amor de Deus por ele, cicatriz que não se compara àquelas que seu Senhor carrega por tê-lo salvo.

O frio, o vento que parou no momento adequado, a singeleza da cena, a emoção de quem estava presente – tudo e todos proclamavam a fidelidade Daquele que preserva a vida, da manjedoura à piscina.

(Mogi das Cruzes, 29.11.05. Publicado originalmente em 19.10.07. Revisado e republicado em 24.12.19)

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Bíblia Comunhão com Deus Francisco Nunes

Leitura da Bíblia em 2020

Graça e paz, prezado leitor!

Um novo ano é sempre um bom momento para (re)começarmos a leitura da Bíblia. Sabemos dos imensos desafios que a vida moderna nos impõe até mesmo (ou principalmente) com respeito às disciplinas espirituais: comunhão com o Senhor, oração, leitura devocional e estudo das Escrituras, meditação, etc. Todas essas práticas vitais demandam tremendo esforço, organização e sacrifício para que as pratiquemos com regularidade, com profundidade, com paz, com realidade. Mas devemos insistir, pedindo a graça e o poder do Senhor. Não há outro meio de sermos cristãos maduros e bem firmados na verdade sem um contato constante, sério, profundo e intencional com o Livro Antigo. Como disse A. W. Tozer:

Nunca vi um cristão útil que não seja estudante da Bíblia. Não existem atalhos para a santidade.

Visando ajudar os leitores nessa tarefa tão vital, apresentamos – com antecedência, para que seja possível escolher – algumas sugestões de planos de leitura da Bíblia. Escolha o que for mais adequado a você e use-o com dedicação, diariamente.

Planos de leitura da Bíblia

Abaixo, apresentamos de modo sucinto cada um dos planos sugeridos. Para baixá-lo, basta clicar no nome.

O plano cronológico sugere a leitura dos livros da Bíblia, não na ordem em que se encontram, mas aproximadamente pela sequência dos fatos registrados. Bom para ter-se uma idéia mais histórica do relato bíblico.

O calendário McCheyne apresenta o plano de leitura idealizado por Robert McCheyne, no qual há uma leitura individual e uma leitura em família. (É a principal indicação de nosso editor que, há alguns anos, desenvolveu uma Bíblia que traz essas leituras para cada dia do ano. Chama-se Bíblia Devocional Robert McCheyne. Infelizmente, parece que ela não é mais publicada.) Nesse plano, o Antigo Testamento será lido uma vez e o Novo Testamento e Salmos serão lidos duas vezes.

Há o plano McCheyne adaptado, que exclui uma das leituras diárias do plano anterior, e uma versão dele feita para ser impressa em frente e verso e ser colocada dentro da Bíblia.

Há um plano para ler a Bíblia toda em três meses e um para ler apenas o Novo Testamento, Salmos e Provérbios. Há plano para novos convertidos e para crianças. Há um plano em que os livros da Bíblia são lidos de modo alternado ou misturados, com a leitura de três porções diárias. Há um plano que considera os meses tendo 25 dias, para que haja tempo para meditação e para repôr alguma leitura.

Há dois planos em formato de planilha (Plano 1 e Plano 2), para uso no computador, que permitem acompanhar o progresso (é preciso habilitar as macros).

Há duas versões (elas só têm diferenças na apresentação visual) para a leitura capa a capa, de Gênesis 1 a Apocalipse 22: Capa 1 e Capa 2.

Por fim, há um quadro com todos os livros da Bíblia, com seu número de capítulos, para que você marque seu progresso na leitura, seguindo o método que preferir. No início do arquivo, há algumas orientações sobre como ter mais proveito da leitura do Livro Antigo.

Independentemente do método escolhido, o fundamental é o contato diário com a Palavra de Deus. Para isso, com certeza será preciso (re)organizar a vida, estabelecer horários a fim de ser possível separar um tempo a cada dia para estar a sós com Deus e com Seu Livro.

Não há vida cristã sem a Palavra de Deus. Não há maturidade cristã sem contato constante e sério com a Sagrada Escritura. Não é possível conhecer de fato a Deus à parte da Santa Palavra. Não é possível conhecer a vontade de Deus sem buscá-la no Livro Antigo. Não é possível viver de modo agradável a Deus sem submeter-se ao Sagrado Livro. Não é possível ter uma fé robusta sem alimentá-la com o Santo Texto. Ninguém se volta para Deus sem voltar-se para Sua Palavra. Ninguém ama a Deus sem amar Seu Livro.

Leia a Bíblia na presença do Senhor, na dependência de Seu Espírito, sob a operação da cruz, com santo temor, com coração humilde, com santa expectativa, com alegria, com amor, com desejo de que Deus fale por meio dela. Já disse alguém: “Você quer ouvir Deus falar? Leia a Bíblia. Quer ouvir Deus falar com voz audível? Leia a Bíblia em voz alta!”

A equipe do Campos de Boaz deseja que o Senhor abençoe você a cada dia do novo ano por meio de Sua Palavra.

Divulgue também para outros irmãos.

(Atualizado e corrigido em 24.mar.2020)

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Francisco Nunes Oração

“Precisamos fazer alguma coisa prática!”


Há mais de vinte anos, provavelmente em uma conversa informal, ouvi algum irmão me dizer a frase que uso como título deste artigo. Ela me fez pensar muito, e, na ocasião, escrevi o texto que se segue, que atualizei em alguns pontos.

— × —

“Idosos com problemas de saúde? Recém-casados com problemas conjugais falando em divórcio? Dificuldades financeiras generalizadas? Pecado na igreja? Jovens enfraquecidos, cedendo à tentação, abraçando os pensamentos do mundo? Que fazer? Precisamos fazer alguma coisa prática! Precisamos agir, intervir, não podemos nos omitir, ficar passivos, indiferentes, esperando um milagre! Um plano, um projeto, uma campanha, uma comissão, um enviado, uma atividade nova, um culto especial… Fazer. Agir.”

Quão facilmente somos enganados e enredados por considerações e situações como essas! Quem já não caiu na tentação de fazer, de intervir? Não há dúvida de que precisamos agir, mas que é fazer alguma coisa prática?

Nada é mais prático do que orar. Nada é mais eficaz do que orar. Nada é mais poderoso do que orar.

Alguns dizem, com ar desanimado: “Não há mais nada a fazer, senão orar!” Na verdade, é uma grande pena que tenham tentado, antes de orar, fazer muitas coisas. Certamente teriam poupado muito tempo e preocupação se desde o início tivessem orado. Não precisamos esperar que os recursos humanos se esgotem para, então, concluir que precisamos orar. Precisamos, antes, ter convicção de que nunca podemos, nunca somos capazes, jamais nos será possível; que nossos melhores esforços, que nossas mais sinceras boas intenções são insuficientes, impotentes, de todo inúteis.

Precisamos orar. Orar por nós mesmos, orar pelos irmãos, orar pela igreja, orar por nossos familiares, pelo governo; orar de acordo com incompreensíveis sentimentos que Deus nos dá ao coração, orar pelo que sabemos e pelo que desconhecemos. Precisamos orar. Precisamos clamar pela vontade de Deus, precisamos pedir Sua intervenção em nossa vida e na vida daqueles por quem oramos, precisamos opor-nos em oração a toda ação do diabo, precisamos clamar para que o Senhor sustente os enfraquecidos, erga os desanimados, humilhe os orgulhosos, restaure os abatidos. Precisamos orar.

Devemos orar primeiro, para que Ele nos indique, se for de Sua vontade, como agir de maneira “prática” depois. Primeiro oração, depois os planos, a ação. (Evidentemente, o bom senso indicará as situações em que a ação urgente e imediata é necessária – um acidente, um irmão necessitado de comida, uma emergência médica… –, mas, de modo geral, temos tempo para e devemos orar primeiro.) Primeiro orar – orar de verdade, reconhecendo nossa insuficiência e clamando por receber a direção de Deus –, para, então, se Deus assim nos orientar, fazermos.

Portanto, paremos de ser teóricos e façamos alguma coisa prática: oremos!
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Consolo Francisco Nunes Oração

“Fica comigo, eu tô com medo!”


Há mais de vinte anos, ouvi uma jovem, com lágrimas, contando uma experiência que teve. Ainda hoje lembro-me da profunda impressão que ela me causou. Que lição singela, mas necessária! O registro que fiz à época é o que segue:

“Certa noite, na minha rua, estavam soltando muitos fogos de artifício, e o barulho que eles faziam era muito forte. Minha irmãzinha de três anos acordou com o barulhão e me chamou gritando. Eu fui vê-la, e ela me pediu: ‘Dani, fica comigo, eu tô com medo!’ Eu deitei ao lado dela e rapidamente ela dormiu de novo.

“Naquele momento, Deus falou comigo. Ele me levou a perceber que muitas coisas na minha vida me dão medo, mas eu não sou simples como minha irmã e não chamo por Ele. Eu sou muito fraca e impotente, mas, mesmo assim, tento resolver sozinha meus problemas. Minha irmã não sabe que eu sou incapaz; para ela eu era capaz de protegê-la daqueles barulhos assustadores. Mas Deus é capaz! Ele pode me proteger de verdade! Ele pode me guardar!

“Minha irmã não pediu pra que eu fizesse o barulho parar; simplesmente pediu pra eu ficar com ela, pois estava com muito medo. Eu sei que Satanás tem feito muito barulho na minha vida, tem soltado muitos fogos que me assustam demais. Às vezes, eu apenas fico com medo; outras vezes, eu peço pra Deus fazer parar o barulho. Mas minha irmãzinha me mostrou que não é assim. Deus deixa Satanás fazer barulho pra que eu me volte para Ele, pra que eu grite: ‘Senhor, fica comigo! Senhor, eu tô com muito medo; por isso fica comigo! Se Tu ficares comigo, mesmo que o barulho não pare, eu vou me sentir protegida. Senhor, fica comigo!’”

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Cristo Francisco Nunes

Há um rei!

O Rei-Cordeiro!

“Há outro rei, Jesus” (At 17.7).

Não mais o príncipe deste mundo, que escraviza e nos rouba a razão de viver, iludindo-nos com o prazer transitório do pecado. Não mais o pecado, senhor exigente e implacável, que nos obrigava a fazer aquilo de que agora nos envergonhamos. Não mais o mundo, que nos fazia servi-lo sob o látego feroz, tirando-nos a palha todo dia e exigindo cada vez mais de nós.

Há outro rei! Aleluia!

Um rei bondoso, que governa com um cetro de justiça sustentado por mãos feridas. Um rei que governa da cruz, coroado de espinhos, vestido de sangue.

Um rei que desceu à miséria do povo, gerada pelos outros reis, para dela resgatá-lo e fazê-lo Consigo governar. Um rei que lava pés sujos, que abençoa criancinhas, que toca leprosos, que chama mortos, que resgata pecadores, que é digno de que por Ele se desperdice nardo puro.

Um rei que caminha com os Seus, sem se envergonhar de lhes chamar irmãos, e com eles estará até a consumação do século.

Um rei que, ao vê-los cometer tantas tolices, ora ao Pai: “Perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem.” Um rei, cuja beleza da santidade constrange nosso coração a amá-Lo por nos ter amado primeiro.

Um rei por quem vale a pena viver e morrer.

Oh, que maravilhosa notícia: “Há outro rei, Jesus”!

Que o Rei conquiste você a deixá-Lo reinar completamente em sua vida.

(Francisco Nunes, 28.10.2005)

 

(Publicado em 15.11.07; atualizado em 25.6.19)

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Bíblia Comunhão com Deus Francisco Nunes

Leitura da Bíblia em 2019

Encontre Deus em Seu Livro!

Paz!

Um novo ano é sempre um bom momento para (re)começarmos a leitura da Bíblia. Sabemos dos imensos desafios que a vida moderna nos impõe até mesmo (ou principalmente) com respeito às disciplinas espirituais: comunhão com o Senhor, oração, leitura devocional e estudo das Escrituras, meditação, etc. Mas devemos insistir, pedindo a graça e o poder do Senhor. Não há outro meio de sermos cristãos maduros e bem firmados na verdade sem um contato constante, sério, profundo e intencional com o Livro Antigo. Como disse A. W. Tozer:

Nunca vi um cristão útil que não seja estudante da Bíblia. Não existem atalhos para a santidade.

Visando ajudar os leitores nessa tarefa tão vital, apresentamos – com antecedência, para que seja possível escolher – algumas sugestões de planos de leitura da Bíblia. Estão no arquivo compactado que você encontra aqui. Escolha o que for mais adequado a você e use-o com dedicação, diariamente.

Planos de leitura da Bíblia

Abaixo, comentamos alguns dos planos que você encontrará no arquivo.

O plano cronológico sugere a leitura dos livros da Bíblia, não na ordem em que se encontram, mas pela sequência dos fatos registrados. Bom para ter-se uma idéia mais histórica do relato bíblico.

O calendar_mccheyne apresenta o plano de leitura idealizado por Robert McCheyne, no qual há uma leitura individual e uma leitura em família. (É a principal indicação de nosso editor que, há alguns anos, desenvolveu uma Bíblia que traz essas leituras para cada dia do ano. Chama-se Bíblia Devocional Robert McCheyne. Infelizmente, parece que ela não é mais publicada.) E há um plano adaptado, que exclui uma das leituras diárias do plano anterior.

Há um plano para ler a Bíblia toda em três meses e um para ler apenas o Novo Testamento, Salmos e Provérbios. Há planos para novos convertidos, para crianças, em que os livros são lidos de modo alternado ou misturados. Há um plano que considera os meses tendo 25 dias, para que haja tempo para meditação e para repôr alguma leitura.

Há dois planos em formato de planilha, que permitem acompanhar seu progresso (é preciso habilitar as macros).

Independentemente do método escolhido, o fundamental é o contato diário com a Palavra de Deus. Para isso, com certeza será preciso (re)organizar a vida, estabelecer horários a fim de ser possível separar um tempo a cada dia para estar a sós com Deus e com Seu Livro.

Não há vida cristã sem a Palavra de Deus. Não há maturidade cristã sem contato constante e sério com a Sagrada Escritura. Não é possível conhecer de fato a Deus à parte da Santa Palavra. Não é possível conhecer a vontade de Deus sem buscá-la no Livro Antigo. Não é possível viver de modo agradável a Deus sem submeter-se ao Sagrado Livro. Não é possível ter uma fé robusta sem alimentá-la com o Santo Texto. Ninguém se volta para Deus sem voltar-se para Sua Palavra. Ninguém ama a Deus sem amar Seu Livro.

Leia a Bíblia na presença do Senhor, na dependência de Seu Espírito, sob a operação da cruz, com santo temor, com coração humilde, com santa expectativa, com alegria, com amor, com desejo de que Deus fale por meio dela. Já disse alguém: “Você quer ouvir Deus falar? Leia a Bíblia. Quer ouvir Deus falar com voz audível? Leia a Bíblia em voz alta!”

A equipe do Campos de Boaz deseja que o Senhor abençoe você a cada dia do novo ano por meio de Sua Palavra.

Divulgue também para outros irmãos.

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Conselho aos jovens Encorajamento Francisco Nunes

Mensagens à igreja em Salvador (BA)

Durante os dias em que nosso editor esteve em Salvador, participando da XXI Conferência UniCristã de Teologia e Espiritualidade, ele também teve oportunidade de servir à igreja naquela cidade com a Palavra. Foram duas mensagens. Elas estão abaixo.

Esperamos que sejam úteis aos nossos leitores.

Perseverança!

Foge!

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Francisco Nunes Testemunho Testemunho

Um pensamento sobre a comunhão cristã

O que expressamos quando estamos com outros cristãos?

Recentemente, num domingo à tarde, rodeado de muitos amados irmãos, enquanto eu lavava louça me vieram ao coração dois pensamentos.

1) Nosso ajuntamento cristão não tem aquilo que o mundo tem.

Quando cristãos – e aqui me refiro a cristãos sérios, bíblicos, que levam a santidade a sério, que têm temor do Senhor, que honram Seu nome por meio do viver prático que têm – estão juntos, em ambiente informal (num almoço ou numa convivência, por exemplo), não há aquilo que caracteriza eventos mundanos semelhantes: bebedeira, palavrões, insinuações maldosas, piadas de baixo calão, fofocas, adultérios, crianças largadas a si mesmas, etc. Cristãos que honram a Deus em todos os aspectos da vida, começando com a linguagem, reúnem-se e conversam amenidades, trocam idéias sobre as questões mundiais, dicas sobre educação de filhos, riem de si mesmos, buscam orientação profissional, trocam receitas, dicas de tratamento médico, corujices sobre os filhos… É aquilo que chamam de ambiente saudável.

Isso é, sem dúvida, para quem teme a Deus, mil vezes melhor do que um ambiente mundano típico. (Infelizmente, há muitos cristãos que se sentem completamente à vontade em ambientes mundanos, que os preferem àqueles “crentes”, que estão plenamente conformados a este mundo, pensando, falando, rindo, comendo, bebendo e vivendo como se a ele pertencessem.) Há ali segurança, respeito mútuo, alegria saudável, domínio próprio, ambiente propício para as crianças e tantas outras vantagens. É muito bom, é muito vantajoso estar em um lugar assim. E eu estava alegre com essa percepção e grato a Deus por estar ali.

Mas algo mais me veio ao coração:

2) Mas será que nosso ajuntamento cristão tem aquilo que o mundo não tem?

Isso me foi um choque instantâneo. O que há de distintivo, único, exclusivo dos cristãos? O que há nos cristãos que não há, de modo algum, naqueles que não obedecem à fé? A presença do Senhor Jesus, por meio do Espírito; a vida de Cristo Jesus habitando naqueles que Lhe pertencem. E é isto que faz a verdadeira e prática comunhão cristã: Cristo ser “servido” pelos cristãos uns aos outros. Quando Cristo é nosso centro e a esfera de nossa comunhão, podemos dizer que, de fato, estamos em comunhão. Do contrário, teremos, talvez, apenas um bom ajuntamento cristão (que, repito, em princípio é muito melhor do qualquer similar mundano).

Mas, tenho de reconhecer, é tão difícil termos genuína comunhão! É tão difícil sairmos da esfera natural, das coisas desta vida, e partilharmos das celestiais, daquilo que é nossa rica herança em Cristo, das riquezas insondáveis Daquele que nos salvou! Parece pouco espontâneo (perdoem-me se generalizo; falo, em primeiro lugar, de mim mesmo) voltar-se de um assunto desta vida para a Bíblia, como se fosse possível mantê-los separados, como se fossem antagônicos.

Como cristãos, temos algo único: um relacionamento vivo e real com Deus por meio de Seu Filho, Jesus Cristo! Isso nenhum ajuntamento secular tem. No entanto, é possível que um ajuntamento de cristãos também não o tenha, caso não falemos entre nós “com salmos, e hinos e cânticos espirituais”, que é o modo de nos enchermos do Espírito (Ef 5.19); se não tivermos um falar que denuncie que estivemos com Jesus (At 4.13). Os primeiros discípulos não podiam deixar de falar do que tinham visto e ouvido (4.20). E nós, cristãos do século 21, por que deixamos tão facilmente? É possível que seja resultado de vermos e ouvirmos pouco nosso Senhor, de termos pouca comunhão com Ele, por Sua Palavra não habitar em nós ricamente (Cl 3.16), e, como a boca fala do que está cheio o coração…

Os primeiros cristãos caíram na graça de todo o povo (At 2.47), pois seu viver diário e prático não tinha aquilo que o mundo tinha ― era distinto, atraente. No entanto, “dos outros [os não-cristãos], porém, ninguém ousava ajuntar-se a eles” (5.13), certamente porque naquele ajuntamento havia algo que no mundo não havia: Deus mesmo, real, manifestado palpavelmente por meio de Seus filhos ― um Deus tão santo que não tolerava mentira entre eles (vv. 1-11). As pessoas de fora viam, naquele novo grupo, características que as atraíam, mas percebiam que havia também uma realidade interior, um padrão dela derivado, que impedia que qualquer um se achegasse e por ali ficasse se não fosse um “deles”, um discípulo, um nascido do alto, um filho de Deus.

No que depender de mim e de você, que tipo de ajuntamento cristão o mundo verá?

 

Publicado originalmente em 7.2.15; atualizado em 1.8.18.

 

(Fonte da imagem)

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Consolo Francisco Nunes Hinos & Poesia

As lágrimas e a graça

A meu amado Senhor, que não se poupou em Seu amor a um verme como eu.

Não creio no falso evangelho,
aquele que não me serve de espelho:
que não dá nome a meus pecados,
pelo qual os tolos são enganados;

que promete vida fácil, sem dores,
que promete felicidade sem cruz,
que vende tantos favores,
que entrega trevas, e não luz;

que promete bênçãos de Deus em troca de oferta,
oferecidas aos incautos por gente esperta;
que promete para esta vida o que só terei na eternidade,
que faz o homem maior do que Deus. Falsidade!

Eu rejeito o falso evangelho e seu falso Deus!
Eu creio no evangelho da velha Bíblia,
que não esconde que há sofrimento para os que são Seus,
para aqueles que são da divina família.

Creio no que a antiga Bíblia ensina,
e isso é mais do que uma bela doutrina:
que sou um vil pecador;
que nada merecia senão a morte;
que Deus me amou – e que amor! –
e, por amor, mudou minha sorte!

Que Cristo morreu por mim,
pagando a dívida que era minha,
pois eu não podia pagar pelos pecados que eu tinha!
E que Ele estará comigo até o fim!

Ela ensina que a salvação foi dada a mim
por graça, por abundante graça, por graça e nada mais.
E até o final da vida estarei em Cristo assim,
por graça, por abundante graça, por graça e nada mais.

Ela também mui claramente me diz
que ainda não serei totalmente feliz,
mas que até o fim de minha jornada,
carregarei minha cruz, que pode ser bem pesada:

não serei poupado de sofrimento,
enfrentarei dias de muitas lágrimas e tormento;
por vezes andarei sem saber para onde ir,
quase pensando em desistir;

serei atacado por dúvida inclemente,
passarei pelo fogo ardente,
me sentirei sozinho, mesmo cercado pelos meus,
pensarei ter sido esquecido até por Deus!

Serei severamente tentado
e, infelizmente, muitas vezes derrotado.
Mas poderei me erguer e continuar,
se o pecado reconhecer e o abandonar.

Poderei cair muitas vezes,
mas tenho Aquele que por mim sangrou;
Ele é o Deus dos deuses,
Ele é o que desde sempre me amou!

Mas sei – oh, indescritível alegria!
– que naquele assombroso dia,
na glória com meu Senhor,
Ele enxugará de meus olhos toda lágrima,
e esquecerei toda a dor.

Então, olharei para o eterno Cordeiro de Deus
que morreu em meu lugar,
no sublime trono nos céus,
de onde me chama para com Ele estar,
olharei para Suas mãos feridas,
mãos para mim tão queridas,
feridas cruelmente por amor a mim,

e serei eternamente por elas lembrado
– não poderei esquecer jamais:
só estou ali, bem-aventurado,
por graça, por abundante graça, por graça e nada mais.

(scs, 19316)

 

(Publicado originalmente em 9.4.16. Republicado em 6.8.18.)

 

(Fonte da imagem)

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Bíblia Francisco Nunes

Leitura da Bíblia em 2018

Paz!

Um novo ano é sempre um bom momento para (re)começarmos a leitura da Bíblia. Sei dos imensos desafios que a vida moderna nos impõe até mesmo (ou principalmente) com respeito a nossas disciplinas espirituais: comunhão com o Senhor, oração, leitura devocional e estudo das Escrituras, meditação, etc. Mas devemos insistir, pedindo a graça e o poder do Senhor. Não há outro meio de sermos cristãos maduros e bem firmados na verdade sem um contato constante, sério, profundo e intencional com o Livro Antigo. Como disse A. W. Tozer:

Nunca vi um cristão útil que não seja estudante da Bíblia. Não existem atalhos para a santidade.

Visando ajudar os leitores nessa fundamental tarefa, coletei na internet algumas sugestões de planos de leitura da Bíblia. Estão no arquivo zipado que você encontra aqui. Escolha o que for mais adequado a você e use-o com dedicação, diariamente.

Planos de leitura da Bíblia

O plano cronológico sugere a leitura dos livros da Bíblia, não na ordem em que se encontram, mas pela sequência dos fatos registrados.

O calendar_mccheyne apresenta o plano de leitura idealizado por Robert McCheyne, no qual há uma leitura individual e uma leitura em família. (É o que mais indico. Há alguns anos, desenvolvi uma Bíblia que traz essas leituras para cada dia do ano. Chama-se Bíblia Devocional Robert McCheyne. Parece-me que, infelizmente, ela não é mais publicada.) E há um plano adaptado, que exclui uma das leituras.

Há um plano para ler a Bíblia toda em três meses e um para ler apenas o Novo Testamento, Salmos e Provérbios. Há planos para novos convertidos, para crianças, em que os livros são lidos de modo alternado ou misturados. Há um plano que considera os meses tendo 25 dias, para que haja tempo para meditação e para repôr alguma leitura.

Há dois planos em formato de planilha, que permitem acompanhar seu progresso (é preciso habilitar as macros).

Independente do método escolhido, o fundamental é o contato diário com a Palavra de Deus. Para isso, com certeza será preciso organizar a vida, estabelecer horários a fim de ser possível separar um tempo a cada dia para estar a sós com Deus e com Seu Livro.

Não há vida cristã sem a Palavra de Deus. Não há maturidade cristã sem contato constante e sério com a Sagrada Escritura. Não é possível conhecer de fato a Deus à parte da Santa Palavra. Não é possível conhecer a vontade de Deus sem buscá-la no Livro Antigo. Não é possível viver de modo agradável a Deus sem submeter-se ao Sagrado Livro. Não é possível ter uma fé robusta sem alimentá-la com o Santo Texto. Ninguém se volta para Deus sem voltar-se para Sua Palavra. Ninguém ama a Deus sem amar Seu Livro.

Leia a Bíblia na presença do Senhor, na dependência de Seu Espírito, sob a operação da cruz, com santo temor, com coração humilde, com santa expectativa, com alegria, com amor, com desejo de que Deus fale por meio dela. Já disse alguém: “Você quer ouvir Deus falar? Leia a Bíblia. Quer ouvir Deus falar com voz audível? Leia a Bíblia em voz alta!”

Desejo que o Senhor abençoe você a cada dia do novo ano por meio de Sua Palavra.

Divulgue para outros irmãos.

Abraço.

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Família Francisco Nunes

Um pensamento solto sobre Davi

Davi, ao final da vida

Hoje fui levado a pensar no fim da vida de Davi, conforme o registro de 1Reis.

O último versículo do livro anterior, 2Samuel, fala de algo glorioso: “E edificou ali Davi ao SENHOR um altar, e ofereceu holocaustos, e ofertas pacíficas. Assim o SENHOR se aplacou para com a terra e cessou aquele castigo de sobre Israel”. Sem dúvida, é uma bela cena. Davi, arrependido de ter ordenado o censo do reino, arrependido por seu erro ter resultado na morte de setenta mil homens do povo, oferece holocaustos ao Senhor na eira de Araúna, que agora lhe pertence, pois ele não ofereceria ao Senhor, seu Deus, holocaustos que não lhe custassem nada (2Sm 24.20).

É uma bela cena para nossa visão das coisas espirituais: temos arrependimento, holocausto, louvor, perdão de Deus… Mas falta algo, não só nessa cena como em muitas outras da vida de Davi: sua família. Davi, mais uma vez, está desacompanhado de sua família: nem uma esposa (havia tantas que podiam estar com ele…), nem um filho (dos tantos…). Por quê?

O resumo de tudo é: Davi foi um fracasso como pai, como marido, como chefe de família. Como esse texto é uma consideração rápida sobre ele, não há como aprofundar exaustivamente a afirmação. Mas basta ler a história do rei de Israel, especialmente depois de 2Samuel 11: o adultério com Bate-Seba trouxe conseqüências, especialmente sobre sua família, da qual a espada nunca se apartou (12.10). O significado é que haveria guerras, lutas, desencontros, intrigas, mortes dentro da família, mas isso não explica a omissão de Davi como pai e como marido. Os capítulos 13 a 15 exemplificam isso vergonhosamente: sua omissão no caso de estupro de sua filha Tamar por Amnom, meio-irmão dela (portanto, filho de Davi), sua incapacidade de lidar com a rebelião de Absalão, preferindo fugir covardemente a enfrentá-lo e pô-lo em seu lugar. Davi parece ter medo de exercer suas obrigações como o cabeça da casa (que paradoxo com o assombrosamente corajoso jovem pastor que enfrentou o gigante filisteu ou com o apaixonado soldado que mata o dobro de filisteus que o necessário para pagar o dote da filha do rei!)

E foi esse Davi, o solitário homem cheio de esposas e de filhos, que adorou a Deus na eira de Araúna. Linda cena, mas… vazia. O rei está acompanhado apenas de seus escravos (24.20). Somente os servos ouviram aquela declaração, sobre o preço dos holocaustos, mas nenhum filho, nenhuma esposa. Nenhum deles teve oportunidade de ouvir esse princípio tão importante acerca do dar-se ao Senhor, do ser totalmente Dele em Seu serviço. O pai de muitos filhos não tem filhos. O marido de muitas esposas não tem esposa. Só escravos: pessoas que apenas obedecem, que não precisam aprender ou praticar nada. Só seguir seu dono.

Na página seguinte da Bíblia está 1Reis, que inicia dizendo: “Sendo, pois, o rei Davi já velho, e entrado em dias, cobriam-no de roupas, porém não se aquecia” (1.1). Do holocausto à velhice, do sacrifício ao frio, das ofertas ao não se aquecer. O que aconteceu nesse meio tempo? Segundo esse registro, nada. Nada de importante. Nenhum fato digno de nota. Agora há um rei velho, decrépito, cheio de roupas, que não se aquece. A cena deveria ser patética: um velho entrouxado de roupas luxuosas, cercado de roupas reais, e tremendo de frio, batendo queixo.

É comum os velhos sentirem mais frio. Lembro-me de meu pai, antes de partir para o Senhor, sempre com seu casacão ou com seu pala de lã, com frio. Mas a cena de Davi era patética por ele ser o rei, uma figura imponente, que deveria inspirar respeito e admiração, e por estar cheio de roupas, exageradamente vestido. O rei que tinha tudo não conseguia se aquecer.

Então, seus escravos tiveram uma idéia:

“Disseram-lhe os seus servos: Busquem para o rei meu senhor uma moça virgem, que esteja perante o rei, e tenha cuidado dele; e durma no seu seio, para que o rei meu senhor se aqueça. E buscaram por todos os termos de Israel uma moça formosa, e acharam a Abisague, sunamita; e a trouxeram ao rei. E era a moça sobremaneira formosa; e tinha cuidado do rei, e o servia; porém o rei não a conheceu” (vv. 2-4).

Quantas coisas há a se considerar nesses poucos versículos!

  1. De onde os escravos tiraram essa idéia? Uma mulher que aquece mais que banhos quentes ou lareira ou aquecimento no quarto? Seria isso decorrência da fama de mulherengo de Davi, de sua lascívia, até agora, incontrolável? Seria esta a impressão final que Davi, o da eira de Araúna, passava a seus escravos: “Só uma mulher resolve meu problema”?
  2. Por que os escravos se preocuparam com isso, não uma das tantas esposas ou um dos tantos filhos? Onde estão elas? Onde estão eles? Ninguém se preocupa com Davi? A preocupação deles é apenas com o reino (como se vê nos versículos seguintes). O que Davi fez para ser assim desprezado, deixado de lado, no fim da vida? É um velho! Merecia um pouco de atenção. Merecia? Não estaria ele colhendo o que semeou na família: desinteresse, omissão, ausência, destempero emocional…? Um velho friorento entregue pela família às idéias sem pé nem cabeça de seus escravos, que uma vez o viram apresentar holocaustos, mas muitas vezes o viram com mulheres, muitas e variadas. (Talvez mais vezes com mulheres do que vezes em comunhão com Deus…)
  3. Se a intenção era mesmo apenas encontrar um cobertor humano para Davi, por que procurar “por todos os termos de Israel uma moça formosa” (v. 3)? Ela vai aquecer Davi por ser formosa? Ela não precisava ter outras habilidades para resolver a constante hipotermia do rei? Ou seria mais um enfeite do palácio de Davi, como o eram as outras esposas? Troféus expostos para ressaltar a virilidade de Davi? E escolheram uma “moça sobremaneira formosa” (v. 4). Uma modelo, uma miss, uma “uau!”. Era preciso mesmo isso? Parece-me apenas um conceito mundano, caído, de que beleza é o principal.

(Não são muitos os seduzidos [com trocadilho] por essa idéia? Não é imposto, a homens e a mulheres, um padrão, um conceito de beleza? Não são tantas as jovens escravizadas pela anorexia das modelos, pelo raquitismo das que desfilam nas passarelas? Não são tantas as mães que moldam suas filhas desde muito pequenas no padrão adulto de beleza artificial: maquilagem, roupas, erotismo precoce, músicas idiotas sobre “com quem será…”? Não são tantos os jovens cristãos atraídos pela falsa aparência exterior, ignorando a piedade, o “incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus” [1Pe 3.4]?)

Voltemos a Davi.

O que me assombrou pela primeira vez, como se a tinta da página ainda estivesse secando, nessa antiga passagem foi a ausência da família. “Davi, o que você fez com sua família?” Agora, o velho Davi tem nos braços uma mulher linda – imagino que a mais linda que ele já viu –, mas ele é velho e friorento. E a Bíblia registra, talvez como um louvor a ele, mas, ao mesmo tempo, para envergonhar sua virilidade, sua fama de conquistador: “Porém o rei não a conheceu” (1Rs 1.4).

Ah, se fosse em outros tempos! Davi, que não respeitou a mulher do próximo, ao preço de matá-lo para ficar com ela, que a fez deitar-se com ele (provavelmente usando sua autoridade imperial sobre os súditos), não teria deixado passar incólume uma moça sobremaneira formosa, entregue a seus braços lascivos. Mas agora ele está velho e friorento. Seu corpo está impotente. Sexo, que nunca o satisfez, agora não o satisfaz mais. Mulheres, que eram sua busca, seu alvo, sua certeza de satisfação, agora de nada lhe servem. Ele só queria um banho quente permanente.

Há um detalhe curioso: a Bíblia não registra que Abisague, a tal moça linda, conseguiu aquecer o rei. Diz apenas que ela o servia e cuidava dele (vv. 4,15). Trocava suas roupas? Trocava-lhe as fraldas geriátricas? Levava-o para o banho? Dava comida na boca? A pergunta surge de novo: “Davi, o que você fez de sua família? Por que nenhuma esposa cuida de você? Por que nenhum de seus filhos cuida de você? O que você se tornou aos olhos de sua família, Davi? O que sua família se tornou a seus olhos, Davi?” Davi parece se sentir indigno de pedir o socorro a qualquer de suas esposas ou de seus filhos. É minha inferência, minha leitura do quadro todo. Davi foi rei, com a dignidade real, até o fim, mas, em algum lugar do passado, ele perdeu a dignidade como marido e pai. Agora, está com frio. E abandonado aos braços de uma mulher linda.

Ainda há mais. Por causa da preocupação com o reino, não com o rei, Bate-Seba (sim, aquela com quem ele adulterara e cujo marido ele mandou matar) vai a Davi interceder por Salomão (filho legítimo do casal, pois gerado depois de Davi ter casado com ela). Mas a cena é… desagradável, na falta de outro adjetivo: “E foi Bate-Seba ao rei na sua câmara; e o rei era muito velho; e Abisague, a sunamita, servia ao rei” (v. 15).

Imagine a cena toda: aquele homem havia adulterado com a mulher e matado o marido (honesto, leal, decente, patriótico) dela. Depois, por culpa desse pecado, o primeiro filho deles morre. Talvez ela tenha pensado que, dada a loucura toda feita em nome do amor (da lascívia é mais exato), Davi a trataria como única, como a preferida, como a especial. Que nada! Em pouco tempo, por onde vai passando, Davi coleciona mais e mais mulheres. Bate-Seba era apenas mais uma, importante, talvez, por ser a mãe de Salomão, o futuro rei. Aquele homem agora é um velho, mas ainda está no comando. Bate-Seba não tem opção: tem de ir a ele. Ao chegar lá, o vê com Abisague, a mulher linda que o serve. Bate-Seba agora é idosa, enrugada; não é mais a mulher bonita que, ao se banhar, atraiu o rei com sua beleza nua. Talvez tivesse sido tão bonita quanto Abisague. Agora é velha e Davi é velho. E seu marido está, mais uma vez, com outra mulher.

E ela não se dirige ao marido: ela fala com o rei, com seu senhor (vv. 16-20). Ela não é a esposa: é a serva (v. 17), não mãe do filho, já que o filho, um servo, é filho apenas do rei (vv. 17, 19).

Com certeza, algumas dessas expressões são justificadas pela cultura palaciana, pelo protocolo real. No entanto, a cena toda é vazia de relacionamentos de amor, de laços de família, de ternura. (Compare com o relacionamento entre Jacó e José.) Davi é um rei só, só numa numerosa família, abandonado por aqueles a quem abandonou.

Por isso, o maravilhoso e incomparável rei Davi termina a vida em um versículo: “E Davi dormiu com seus pais, e foi sepultado na cidade de Davi” (2.10). Ninguém o pranteou, ninguém sentiu falta dele, nenhum feriado nacional, nenhuma comitiva palaciana, nenhuma esposa de luto, nenhum filho entristecido. Davi morreu. Só. Foi sepultado. E ponto.

Ao ler 1Reis e pensar nisso tudo, vieram-me ao coração pensamentos assustadores: “Quem vai cuidar de mim em minha velhice? Quem fará questão de cuidar de mim? O que semeio hoje em minha família? Que colheita vou ter?” O princípio é imutável: colhemos exclusivamente o que semeamos. Davi semeou solidão, omissão, abandono, desinteresse; colheu frio e tremedeira nos braços de uma linda estranha (e nem ela foi chorar sua morte).

O que eu semeio?
O que você semeia?

Ainda é tempo de iniciar uma nova semeadura.

(Publicado originalmente em 8.6.17; atualizado em 13.6.18)

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