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Governo e ministério (G. H. Lang)

George Henry Lang (20/11/1874 – 20/10/1958)

O Dr. S. P. Tregelles deixou informação preciosa e de primeira mão sobre a prática dos irmãos em diversas localidades, incluindo Plymouth (a primeira assembléia na Inglaterra), Exeter, Bath e London.

Ele se uniu à Assembléia em Plymouth em 1835, e no ano de 1849 escreveu:

“Ministério Estabelecido1, mas não Ministério Exclusivo, tem sido o princípio no qual temos atuado até aqui (…) Por Ministério Estabelecido damos a entender que tais e tais pessoas são consideradas como mestres e espera-se que uma ou mais delas ministrem(…) Elas mesmas são responsáveis pelo dom que possuem. Mas isso não é um Ministério Exclusivo, pois existe uma porta aberta para outros que, de tempo em tempo, poderão receber outros dons, a fim de poderem exercitar também os dons que porventura tenham recebido. Liberdade de ministério era o seguinte: todos aqueles que haviam sido capacitados pelo Espírito Santo podiam ministrar, mas era necessário que estes mostrassem primeiro sua capacidade.

“Estou ciente de que, há alguns anos, posições muito democráticas com respeito ao ministério (da Palavra) foram introduzidas em Londres(…) posições totalmente subversivas à ordem piedosa, opostas ao senhorio de Cristo e contraditórias a toda doutrina bíblica dos dons do Espírito, concedidos aos indivíduos(…)”.

Na ocasião em que tais pontos de vista estavam circulando, G. V. Wigram publicou um folheto (ano de 1844) de quatro páginas com o seguinte título: Sobre o Ministério da Palavra. Vou mencionar duas das perguntas e respostas encontradas no referido folheto, dirigidas ao Sr. G. V. Wigram:

O SENHOR ADMITE UM MINISTÉRIO METÓDICO?

“Se por Ministério Metódico (regular ministry) você quer dizer Ministério Estabelecido (stated ministry), isto é, que em cada assembléia aqueles que são dotados por Deus para falar para a edificação são EM NÚMERO LIMITADO E CONHECIDOS DO RESTANTE DA ASSEMBLÉIA, eu concordo. Mas, se por Ministério Estabelecido (regular) você quer dizer Ministério Exclusivo, eu discordo. Por Ministério Exclusivo eu dou a entender o reconhecimento de certas pessoas que monopolizam de forma exclusiva o lugar de mestres, de tal modo que o exercício de um dom real por qualquer outra pessoa seja considerado irregular.”

EM QUE O SENHOR SE FUNDAMENTA PARA FAZER TAL DISTINÇÃO?

“Em Atos 13.1. Observo que em Antioquia havia cinco irmãos que o Espírito Santo reconheceu como mestres: Barnabé, Simeão, Lúcio, Manaem e Saulo. Sem dúvida, os santos (a assembléia) esperavam que estes cinco irmãos ministrassem a Palavra, somente eles, um ou mais deles, conforme fosse do agrado do Espírito Santo. Isso é o que chamamos de Ministério Estabelecido (fixo, regular, reconhecido). Mas não era um Ministério Exclusivo, pois quando Judas e Silas chegaram (Atos 15.32), os demais profetas e mestres os receberam entre eles e o número de mestres ficou maior (nessa ocasião).”

O Dr. Rendle Short, numa grande reunião de professores e obreiros da Escola Dominical, em novembro de 1924, disse o seguinte:

“Danificamos as operações de Deus e matamos de fome nossa alma quando deixamos de lado este princípio (…). Por favor, vocês não devem pensar que as reuniões que chamamos de abertas signifiquem que os irmãos podem ficar à mercê de qualquer orador inútil , alguém que pensa ter algo para falar e se compraz em se impor sobre eles (isto é, sobre os irmãos e irmãs). A chamada “reunião aberta” é aberta sim, ao Espírito Santo e não ao homem!

Existem alguns cuja boca precisa ser fechada. Algumas vezes tais vozes devem ser fechadas pela oração, e, em outras, pela admoestação piedosa daqueles que Deus estabeleceu sobre a assembléia (os presbíteros). Paulo deu instruções a Tito dizendo que a boca de alguns “mestres” devia ser fechada (Tito 1.10-14). O termo “fechar” é bem forte e o significado é colocar um freio ou focinheira. Na prática, seria repreendê-los asperamente; sem dúvida que em particular, desde que possível, mas publicamente se fosse necessário, e sempre de forma graciosa. Essa era a prática dos Irmãos (Brethren) bem no início.

A idéia democrática de que todos têm direito de ministrar (a Palavra) é falha numa direção, e tem concedido oportunidade desnecessária a todos aqueles que compartilham a Palavra, mas não edificam.

O Sr. Tregelle diz:

“A liberdade de ministério era reconhecida entre aqueles que possuíam capacidade vinda de Deus. Mas o ministério considerado sem utilidade, que não recomendava a si mesmo à consciência dos outros, devia ser reprimido. Era nesse sentido que a liberdade de ministério era posta em prática. Numa ocasião o Sr. Newton precisou parar um ministério durante a reunião da assembléia por considerá-lo impróprio, na presença do Sr. Darby e de G. V. Wigram e com o apoio deles. Havia restrição ao ministério; não ao que edificava, mas ao que não edificava. Os conselhos e advertências eram dados em particular, mas, se fosse necessário, eram dados em público.”

Alguém que esteve presente numa reunião da igreja em Salem Chapel, Bristol, me contou que um irmão sem treinamento anunciou que ia ler dois capítulos da Bíblia. Depois de cometer alguns “erros na leitura”, o Sr. George Muller se interpôs dizendo: “Querido irmão, visto ser muito importante ler a Palavra de Deus corretamente, eu vou ler esses capítulos para você”. E assim ele fez. Recordo que, numa grande conferência, um bom homem abordou certo texto de modo tão errado que a assembléia ficou logo impaciente. Depois de dez minutos, o Sr. W. H. Bennet se levantou e disse: “Amado irmão, acho que o sentimento geral da assembléia é que você já falou o suficiente sobre este assunto”. O pregador logo desistiu.

Mas, tarefa tão delicada e odiosa exige para sua realização homens de sabedoria, peso e autoridade espiritual; homens que, por causa da unção do Espírito Santo neles, leva os demais a se submeterem a eles. Ultimamente os Irmãos têm se desviado consideravelmente desse princípio. A idéia democrática de que todos têm direito de ministrar (a Palavra) é falha numa direção, e tem concedido oportunidade desnecessária a todos aqueles que compartilham a Palavra, mas não edificam.

Digno de honra é o aguçado comentário do irmão Charles Haddon Spurgeon:

‘ONDE O TODO É BOCA, O RESTO É VÁCUO”.

1 A palavra stated pode significar e inclui também a idéia de “declarado, regular, fixo, exposto”.

(Extraído da extinta revista Alimento Sólido, número 5, agosto de 1996, publicada por Edições Parousia. Escaneada por Penélope Watanabe.)

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