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Biografia T. Austin-Sparks Testemunho

Uma consideração sobre T. Austin-Sparks (Harry Foster)

Publicado pela primeira vez na revista A Witness and A Testimony, jul/ago de 1971, vol. 49-4.

 

Depois de quarenta anos de associação ativa com o irmão Austin-Sparks nas coisas de Deus, coube a mim liderar o laudatório culto funeral em 19 de abril de 1971, quando um grande número de irmãos se reuniu em Honor Oak1 para magnificar ao Senhor pela vida longa e serviço frutífero de nosso irmão. Durante a maior parte desses anos, fui um colaborador de A Witness and A Testimony; assim, aceitei com gratidão a oportunidade de escrever uma pequena consideração sobre nosso irmão e seu trabalho para Deus.

Aqueles que estão familiarizados com seus livros vão lembrar que um deles é intitulado The School of Christ (A Escola de Cristo, disponível gratuitamente aqui). O próprio título sugere sua concepção do que a vida cristã é, pois ele ensinou que o principal propósito de Deus para todos nós é direcionado para a eternidade e direcionado para nos conformar à imagem de Seu Filho. O irmão Sparks foi capaz de ajudar muitos discípulos na escola de Cristo, pois, ao longo de seus muitos anos de serviço, ele estava pronto para assumir o lugar do aluno bem como do professor.

Seu discipulado começou quando, com dezessete anos, ele andava desanimado por uma rua de Glasgow, em uma tarde de domingo, e parou para ouvir alguns jovens testemunhando ao ar livre. Naquela mesma noite, ele entregou a vida ao Salvador, e no domingo seguinte encontrou-se com os mesmos ávidos jovens cristãos em sua reunião ao ar livre. Ele continuou com eles e, em pouco tempo, abriu a boca para falar algumas palavras simples de testemunho, entrando, assim, em uma vida de pregação do Evangelho que durou 65 anos.

Aqueles anos foram preenchidos com muitas atividades para Deus, mas a pregação era seu maior dom e sua maior alegria. Ele lia avidamente em seu desejo de compreensão espiritual e, acima de tudo, estudava a Bíblia, sempre em uma busca ansiosa pelos tesouros novos e antigos que podem ser encontrados lá por aqueles que são instruídos no reino dos céus. Uma de suas primeiras escolhas para o hinário suplementar que ele preparou para o uso no Honor Oak Christian Fellowship Centre foi o hino que tem como refrão o famoso lembrete do pastor John Robinson aos peregrinos do Mayflower: que “o Senhor ainda tem mais luz e verdade para irromper de Sua Palavra”2. Quantas vezes cantamos essas palavras inspiradoras no início de uma conferência em Honor Oak! E quantas vezes elas provaram ser verdadeiras aos ouvintes que as apreciavam!

O irmão Sparks sempre atribuiu grande importância à “revelação”, não se referindo ao desvendamento original de verdade pelos escritores inspirados das Escrituras, mas à iluminação e percepção dada pelo Espírito sobre o que a Palavra realmente ensina. Por essa razão, a maioria de seus livros, e quase todos os artigos publicados nesta revista, eram transcrições de mensagens faladas que haviam sido dadas com algum sentimento real de capacitação divina: pareciam-lhe ser mais aptas a ter um impacto espiritual se viessem não só do estudo, mas também do envolvimento em alguma situação prática. Provavelmente, sua maior utilidade foi quando ele estava falando de suas próprias experiências, tirando lições do que havia aprendido, não só do estudo, mas do que tinha acontecido com ele na escola de Cristo, onde o Pai trata Seus filhos com aquela correção, ou treinamento de filhos, pela qual somente pode prepará-los para a verdadeira filiação de acordo com o padrão do Filho perfeito. Ele foi muitas vezes capaz de interpretar para as pessoas o significado do que elas vinham atravessando, mostrando-lhes a importância e o propósito dos tratamentos, do lidar de Deus com eles.

Especialmente em seus primeiros anos, o irmão Sparks costumava dar grande ênfase sobre a necessidade da aplicação interior da Cruz na vida do crente. Ele pregou um evangelho da plena salvação pela fé simples no sacrifício de Cristo, mas ele ressaltou adicionalmente que o homem que conhece a purificação pelo sangue de Jesus deve também permitir que a mesma cruz trabalhe nas profundezas de sua alma, a fim de libertá-lo de si mesmo e levá-lo para um caminhar menos carnal e mais espiritual com Deus. Ele próprio havia passado por uma crise de auto-ruína por sua aceitação do veredito da Cruz sobre sua velha natureza, e viu nessa crise a introdução a um desfrute completamente novo da vida de Cristo, tão grande que ele só conseguia descrevê-lo como “um céu aberto”. Na igreja, a vida de pessoas entre as quais ministrava, ele também viu uma transformação impressionante produzida por essa mensagem da Cruz para o crente. Não é de admirar, portanto, que ele tenha aproveitado cada oportunidade de afirmar que não há outro caminho para a experiência plena da vontade de Deus a não ser pela união com Cristo em Sua morte. Repetidamente ele voltava ao ensino de Romanos 6, não apenas como um tópico favorito, mas com a convicção de que tal união era o meio seguro de conhecer o poder da ressurreição de Cristo.

A Cruz é sempre dolorosa; assim, podemos compreender que o irmão Sparks freqüentemente considerou os tratos de Deus com ele difíceis de suportar. Até 1950, ele era seguidamente prostrado com dor e incapaz de continuar seu trabalho; no entanto, vez após vez ele foi erguido [ressuscitado]3, às vezes literalmente do leito de doença, e ninguém podia deixar de reconhecer o impacto espiritual adicional que veio de tal situação. Nós oramos muito por ele durante esses anos, mas sem alívio duradouro, até que ele pôde ter o tratamento cirúrgico, que provou ser um meio da graça de Deus para responder a nossas orações, a fim de que, a partir de então, ele tivesse mais vinte anos de atividade em muitos países, e até sua última doença foi um exemplo notável de como a vida divina pode energizar o corpo mortal.

Por várias razões, padeceu de muitos outros sofrimentos, mas isso era coerente com seu próprio ensino de que, na Escola de Cristo, a pessoa aprende mais pelo sofrimento do que pelo estudo ou por ouvir mensagens. Se, no entanto, a Cruz envolve sofrimento, é também o segredo da graça abundante, como ele certamente provou. Seu último lema anual, elaborado para 1971, foi dedicado ao tema da suficiência da graça de Deus. Em novembro, ele escreveu um editorial nesta revista, registrando o fato de que, para ele, 1970 tinha sido um ano de pressão e dificuldade incomuns. Talvez como um espectador, pode-me ser permitido comentar que, aos olhos daqueles mais próximo a ele, também foi um ano de nova e mais plena evidência da graça de Deus, e que, de minha parte, me foram deixadas abençoadas lembranças de comunhão em conversa e oração que nunca teria sido possível entre nós sem o triunfo da graça divina. A Deus seja a glória!

A Cruz não é apenas dolorosa, é unificadora. O irmão Sparks cria e pregava que, por meio dela, o crente não é apenas levado a um mais amplo gozo pessoal da vida de ressurreição, mas também a uma verdadeira integração na comunhão da Igreja, que é o Corpo de Cristo. Ele nunca poderia pensar em si mesmo como um cristão isolado, nem nas assembléias como grupos isolados, mas tentou manter diante de si o propósito divino da redenção, que é a incorporação de todos os crentes numa membresia vital de um só corpo. Tem acontecido algumas vezes que cristãos muito ansiosos para expressar essa unidade têm, no entanto, contradito o espírito dela por traírem-na em uma atitude de superioridade em relação aos outros cristãos, assim se permitindo estar erradamente divididos de seus companheiros em Cristo. Nós aqui tivemos de confessar nossas próprias falhas a esse respeito, percebendo que nossa própria ânsia de ser fiel à revelação bíblica do que a Igreja deveria ser pode ter produzido intencionalmente uma espécie de separação entre o povo de Deus. Se o irmão Sparks, por vezes, tendeu nessa direção, ele certamente se moveu cada vez mais para longe disso conforme se aproximava da eternidade, aumentando progressivamente seu cuidado de mostrar uma apreciação adequada por todos os verdadeiros crentes, independentemente da conexão deles.

Ele deve ter sido tentado, por vezes, a afastar-se da comunhão prática com a igreja aqui em Honor Oak, pois talvez nós o limitássemos e, ocasionalmente, o irritávamos, mas Deus lhe deu a graça de nunca sucumbir a essa compreensível tentação. Ele ficou conosco até o final, mantendo o vínculo de comunhão intacto, mostrando um interesse amoroso pela próxima geração e participando conosco em adoração e oração, enquanto tinha condições físicas. Devemos muito a suas orações para nós, e ele apreciava profundamente o apoio em oração que pudemos lhe dar, especialmente nas conferências que ministrou em muitos lugares. Suas últimas mensagens à igreja, que me foram confiadas em seu leito, foram de grande gratidão por nossas orações. Nos últimos dias de grande fraqueza, quando muitas vezes ele parecia incapaz de lidar com qualquer tipo de comunicação, ele nunca deixou de dar um sussurrado “Amém” quando orações eram feitas, mostrando que, enquanto tudo o mais estava se tornando cada vez mais irreal, ele ainda poderia responder à grande realidade da oração “no Nome”.

Na verdade, a oração tinha sido sua vida, mais do que a pregação. Nesse assunto, ele estabeleceu um fundamento para o trabalho e estabeleceu um padrão que, pela graça de Deus, vamos procurar manter. Enquanto ainda era pastor da igreja batista local, ele costumava viajar toda terça-feira a fim de passar a hora do almoço orando com seus dois colegas, George Paterson e George Taylor, que trabalhavam secularmente na cidade naquela época. Após a igreja haver se mudado para as atuais instalações em 1926, primeiro Paterson e, em seguida, o Taylor renunciaram a seus cargos, a fim de serem totalmente livres para o trabalho espiritual, o que deixou ainda mais oportunidades para a oração unida, que se tornou uma característica proeminente tanto na vida da igreja como também na vizinha Guest House4.

Para o irmão Sparks, a oração tinha muitos aspectos, como é demonstrado por seu livro In Touch with the Throne (Em contato com o trono; disponível gratuitamente aqui). Ele nos deu o exemplo da oração que é adoração, não pedindo ou intercedendo, mas apenas oferecendo a Deus a adoração e o amor que Lhe são devidos. Frisou constantemente a importância do que chamou de “oração executiva”, que significava não apenas um pensamento anelante com o carimbo de “Amém” no final, mas a reivindicação ousada das promessas de Deus em nome do Senhor. Ele introduziu muitos de nós na realidade da “batalha de oração”, pois sabia que, só por chegar ao confronto com os inimigos invisíveis da vontade de Deus, é que a Igreja pode aplicar a vitória de Cristo a situações reais. Porque a oração é uma batalha, às vezes ele ficava muito triste quando nossas reuniões de oração tendiam a enfraquecer, mas ele nos reunia de novo para a luta e estava sempre pronto para se alegrar quando parecíamos romper na vitória da fé e estar “em contato com o trono”.

Talvez um de seus primeiros livros possa melhor nos dar uma indicação real para toda a sua vida e ministério. Ele é chamadoThe Centrality and Supremacy of the Lord Jesus Christ (A centralidade e a supremacia do Senhor Jesus Cristo). Foi aí onde ele começou, e foi aí onde ele terminou, pois se tornou perceptível em seus anos finais que perdeu o interesse em assuntos e concentrou sua atenção na pessoa de Cristo. Cristo é central! Nenhum de nós vai alegar ter estado sempre “no centro”, e ele certamente não faz tal afirmação, mas era o objetivo de sua vida e o alvo de toda a sua pregação e ensino reconhecer aquela centralidade e reverenciar [e submeter-se à]5 aquela supremacia. Em seu funeral, havia centenas que responderam plenamente à sugestão de que o irmão Sparks os tinha ajudado a conhecer Cristo de forma mais plena e mais satisfatória. Se alguém pode fazer homens perceberem algo mais do valor e da maravilha de Cristo, de modo que O amem mais e O sirvam melhor, então, tal pessoa não viveu em vão. Muitos no mundo inteiro podem dizer sinceramente que, por meio das palavras escritas ou faladas de “T. A-S.” [ou TAS], foi isso que lhes aconteceu e, especialmente com aqueles que vieram à fé em Cristo como Salvador graças a seu ministério, serão sua alegria no dia de Jesus Cristo. Além disso, algumas das verdades, que não eram de forma alguma aceitas quando proclamou-as anos atrás, já se tornaram amplamente aceitas entre os cristãos evangélicos. Por isso, é possível que, no longo prazo, seu ministério possa provar ter sido mais frutífero do que pareceu para ele ou para outros. É função do mordomo ser fiel, e isso ele buscou ser: apenas o Mestre é competente para julgar seu sucesso.

A primeira mensagem que eu o ouvi dar, em 1924, foi um apelo aos presentes para se apressarem em direção ao alvo para o prêmio, e concluiu com uma referência à entrada abundante no reino eterno que é prometida em 2Pedro 1:11. Agora, depois de mais de 47 anos de alegrias e provações por viver para Cristo, ele terminou sua carreira, e nós confiamos que sua entrada tenha sido de fato rica e abundante. Embora ele tenha ido embora, sua mensagem ainda traz o desafio para nós, que fomos deixados para trás, e, embora seus lábios estejam agora em silêncio, suas orações por nós ainda serão respondidas.

Parece algo significativo o fato de que ele foi para estar com Cristo imediatamente após o feriado da Páscoa, pois o culto de encerramento de nossas Conferências de Segunda-feira da Páscoa sempre foram um destaque, como muitos dos que estavam presentes concordarão. O irmão Sparks poderia dar mensagens longas, e muitas vezes o fez, mas sua mensagem de encerramento na ocasião era invariavelmente breve e direta ao ponto. O ponto era freqüentemente a Segunda Vinda de Cristo, e, à medida que nos reuníamos em grande número ao redor da mesa do Senhor e concluíamos com uma música triunfante sobre “A esperança da vinda do Senhor”, realmente o céu desceu e a glória encheu nossa alma. Naquela segunda-feira de Páscoa não houve essa reunião, mas na manhã seguinte cedo, nosso irmão passou tranquilamente para a presença de Cristo, a fim de aguardar ali o momento em que a esperança se tornará uma realidade gloriosa e vamos todos juntos encontrar o Senhor “nos ares”.

A voz do irmão Sparks não é mais ouvida entre nós, mas no culto de sepultamento a voz de seu Senhor e a nossa pareciam soar pelas salas, gritando: “Certamente, venho sem demora!” Como um só homem, toda a multidão respondeu: “Vem, Senhor Jesus.” Nesse ambiente, nós saímos para a luz do sol a fim de colocar o corpo de nosso irmão para descansar e cantar triunfantemente em torno de seu túmulo aberto: “Um dia Ele virá. Oh, glorioso dia!”

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(Traduzido por Francisco Nunes de An Appreciation of T Austin-Sparks by Harry Foster, original aqui. Se houver qualquer sugestão para aprimoramento deste trabalho, por favor, deixe um comentário.)

1The Honor Oak Christian Fellowship & Conference Centre, geralmente chamado de Christian Fellowship Centre ou Honor Oak, era uma construção para conferências cristãs e treinamento localizada na rodovia Honor Oak, na região sudeste de Londres. O centro foi a base para o ministério de seu fundador, o evangelista e escritor britânico T. Austin-Sparks, que havia sido anteriormente o ministro da igreja batista Honor Oak, de 1921 a 1926. Mais informações aqui. (N.T.)

2Este é o refrão do hino We limit not the truth of God (Não limitemos a verdade de Deus), letra de George Rawson. A letra completa e a melodia estão aqui.

3Raised up, no original, permite ambas traduções. (N.T.)

4Local de hospedagem junto ao Honor Oak. (N.T.)

5Bow, no original, permite ambas traduções. (N.T.)

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O esconderijo da Sua força

Há não muito tempo, encontramos uma carta numa antiga revista A Witness and A Testimony1, que foi escrita em janeiro de 1945; e, mesmo sabendo o que, na Inglaterra, as pessoas haviam sofrido nos intensos anos da II Guerra Mundial, parece que a tinta ainda está úmida e isto foi escrito para o Corpo de Cristo ontem.

Amados de Deus,

Que tempo de testes para a fé os santos enfrentam exatamente agora! E que tempo de fúria satânica! O que isso tudo significa? Parece haver somente duas respostas. Ou o Senhor está preparando movimento novo, e talvez final, para a consumação de Seu propósito na terra – o qual requer um estado que irá garantir profundidade, força e permanência, de modo que aquela plenitude real deverá marcar a recolha das colheitas para a glória em Sua manifestação – ou este é o fim de uma fase e o Senhor está vindo para os frutos maduros. Se Apocalipse 12 representa uma situação do fim dos tempos, então há muita coisa aqui que se ajusta com aquilo. As palavras aqui são, sem dúvida, proféticas, pois Apocalipse não foi escrito como história, mas como profecia em sua maior parte, isto é, não o que era passado, mas o que era naquele momento e o que viria a ser. O grande tema desse capítulo é: “Agora é chegada a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derrubado” (v. 10; grifos do autor).

Salvação aqui é “livramento de cada calamidade, vitória sobre inimigos, recuperação de doença e libertação do cativeiro”. O reino e a autoridade [poder] aqui referidos são resistidos pelo grande acusador, e uma grande batalha nos céus é travada para lograr o estabelecimento deles [o reino e a autoridade] pela emancipação dos eleitos tirados da esfera do poder de Satanás. Isso não joga luz sobre o teste de fé e o intenso conflito pelo qual os santos estão passando? Aqui está a explicação para as manifestações de resposta à oração há tanto tempo esperadas, as libertações postergadas, a passagem do poder de Deus da esfera temporal para a espiritual em nossa experiência: “O esconderijo da Sua força”.

A combinação de fé testada em relação às coisas visíveis e o intenso conflito na vida espiritual é muito verdadeiro em relação a esse assunto. Conforme clamamos por “salvação” em um ou outra de suas formas, e temos ficado apenas conscientes do conflito e da demora, o acusador vem e levanta perguntas sérias sobre nosso relacionamento com Deus e do relacionamento de Deus conosco. É a velha pergunta: “Se és Filho de Deus…” Assim, nós somos derrubados, ele acusa e busca fazer-nos aceitar que fomos colocados de lado, que fomos dispensados, que Deus não tem mais o que fazer conosco. O triunfo sobre isso é por testemunhar contra ele por meio do sangue do Cordeiro, pela declaração de nosso testemunho e pela eliminação do interesse próprio e de não amar-preocupar-se com a vida até a morte. O resultado é que ele é derrubado, e isso é a natureza e o objetivo da provação e da batalha. Que imensa questão está amarrada a uma pequena palavra: se. “Se… então, por quê?” Essa foi a pergunta de Gideão. Que foi apresentado a Cristo.

Mas, louvado seja Deus, o fim é revelado: o acusador é derrubado e o reino, o poder, a autoridade de Deus e de Seu Cristo são vistos chegando. Apesar de não querermos sugerir que um complexo-de-satanás deva ser desenvolvido, queremos instar que uma olhada para além das coisas, para a parte e o lugar dele nelas, será uma grande libertação da paralisia das próprias coisas. Quer estejamos vivos para isso ou não, “temos que lutar […] contra as hostes espirituais da maldade” (Ef 6.12; grifo do autor), e somente quando atacarmos as forças espirituais por trás das coisas, na infinita virtude do sangue do Cordeiro, poderemos permanecer de posse da chave da situação. Mas vamos lembrar do valor do “eles” (Ap 12.11). É necessária uma ação coletiva, e nós precisamos tomar com muito mais seriedade a oração unida contra as forças espirituais. Assim, qualquer que seja o significado imediato da presente experiência, a necessidade é a mesma: um povo com força espiritual para levar à derrubada de Satanás, ou em situações e posições específicas ou na sua expulsão final das regiões celestiais.

Que o Senhor nos fortaleça com poder para essa batalha que, conforme Ele desejar que enfrentemos, teremos no novo ano.

Vosso, em Sua vida e esperança
T. Austin-Sparks

Irmãos, ao lermos essa carta, a frase “O esconderijo de Sua força” destaca-se, e nós só a encontramos uma vez na Escritura, em Habacuque 3.4. Quando uma frase ou palavra é mencionada somente uma vez na Palavra de Deus, usualmente se refere a algo que é importante para Deus e para Seu povo. Habacuque é um pequeno livro profético que foi, provavelmente, escrito ao mesmo tempo em que Jeremias profetizou e a nação de Israel, como um todo, estava em um estado de idolatria e apostasia, como “aconteceu nos dias de Ló”.

Pouco se sabe de Habacuque além do que está em seus escritos, que nos permitem imediatamente reconhecer que era um guerreiro de oração, profundamente comprometido com o propósito de Deus. Ele era um homem que devia ter uma comunhão sem sombras com seu Senhor, pois três capítulos de seu livro são escritos em forma de colóquio, o que significa um discurso mútuo entre os que são íntimos e familiarizados um com o outro.

Assim, Habacuque e o Senhor estão mantendo uma comunhão recíproca, Espírito a espírito, alma a alma, profundeza a profundeza. Quando o discurso mútuo começa, vemos que Habacuque está desencorajado por não poder ver na esfera temporal que Deus estava trabalhando nas coisas de acordo com Seu plano: os ímpios governavam e pareciam não sofrer julgamento e os justos estavam sofrendo grandemente.

Habacuque ora (1.1-4):

“Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? […] Por que razão me mostras a iniqüidade [problemas, com referência especial à natureza e às conseqüências da malignidade], e me fazes ver a opressão [injustiça que vem para o justo e o honesto]?”

“Até quando, Senhor! Até quando!” Habacuque perguntou isso como muitos de nós o fazem em tempos de tribulação. No entanto, algo que precisamos saber é que o clamor de Habacuque não é por seus desejos pessoais, mas está orando em nome de todos aqueles que sofrem nos tempos maus.

Deus responde a Habacuque (vv. 5-11):

“Vede entre os gentios e olhai, e maravilhai-vos, e admirai-vos; porque realizarei em vossos dias uma obra que vós não crereis, quando for contada. […]” O Senhor menciona do julgamento que estava por vir. Ele diz a Habacuque que, não importa quão ruins as coisas possam parecer no reino natural, Ele está trabalhando nelas de acordo com o conselho de Sua própria vontade.

Habacuque continua o discurso com seu Senhor, por vezes ainda desencorajado, mas também encorajado, pois diz (vv. 12-17; 2.1):

“Sobre a minha guarda estarei e sobre a fortaleza me apresentarei e vigiarei, para ver o que falará a mim, e o que eu responderei quando eu for argüido.”

Deus lhe responde e lhe diz que Seu propósito e conselho certamente virá no tempo que Ele determinou (2.2-20):

“A visão é ainda para o tempo determinado, mas se apressa para o fim e não enganará; se tardar, espera-o, porque certamente virá, não tardará.” E diz que, durante o tempo da espera, a fé do fiel será provada! “O justo pela sua fé viverá.”

Esta é a única ordem que o Senhor dá a Habacuque: “Mas o justo pela sua fé viverá”. Nessa escritura, a palavra “mas” é muito importante. É uma conjunção adversativa, marcando geralmente um contraste distintivo, uma contradistinção em relação a tudo que o cerca. Em outras palavras, o Senhor está dizendo: “Quando as coisas parecem piorar, quando o inimigo parece estar conseguindo vencer, o justo deve viver por sua fé”. O Senhor está dizendo a Habacuque que a vida dele deve ser um contraste distinto, deve ser diametralmente oposta a tudo que Satanás instiga no mundo ou no meio do povo de Deus. Habacuque deve viver e se mover e ter seu ser na esfera da fé.

Então, o Senhor continua a falar do julgamento, bem como muitas palavras proféticas que seriam (e são) muito difíceis para os fiéis entenderem. No entanto, bem no meio de todo esse julgamento, Ele espantosamente declara:

“Porque a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar. […] Mas o Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra.” (2.14,20)

Quando Deus partilha isso com Habacuque, o profeta irrompe numa gloriosa oração que é um salmo de louvor bem como uma oração de guerra do Espírito. Pois, mesmo que possa parecer que todas as coisas não estejam funcionando de acordo com o propósito de Deus, Habacuque vem a perceber que o exato oposto é verdadeiro: Deus está de fato ocultando Seu poder, e no reino invisível o inimigo está sendo derrotado e os eleitos de Deus estão sendo libertados para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus.

“[…] e ali estava o esconderijo da sua força. […] e os montes perpétuos foram esmiuçados; ou outeiros eternos se abateram, porque os caminhos eternos lhe pertencem” (3.4,6).

Amados, vamos nos tornar guerreiros de oração, tal como Habacuque, por unir-nos aos justos de todas as eras que, no meio de suas provações, viveram pela fé no Filho de Deus, e vamos, no Espírito, abraçar o encargo de nosso Senhor para Seu povo (o nome Habacuque implica “aquele que abraça o encargo”) e cantar como Habacuque:

“Porque ainda que a figueira não floresça
nem haja fruto na vide;
ainda que decepcione o produto da oliveira
e os campos não produzam mantimento;
ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas
e nos currais não haja gado;
todavia eu me alegrarei no Senhor,
exultarei no Deus da minha salvação.
O Senhor Deus é a minha força,
e fará os meus pés como os das cervas
e me fará andar sobre as minhas alturas”
(vv. 17-19).

Amém! Amém! Amém!

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1 Essa revista, Uma Testemunha e um Testemunho, cujo editor era T. Austin-Sparks, não é mais publicada. Ele partiu para o Senhor na primavera de 1971.

(Traduzido por Francisco Nunes do livreto The hiding of His power, publicado em 1994 por Emmanuel Church, Tulsa, Oklahoma, EUA, sem indicação de autoria.)

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Nossa vida de oração (G. Setzer)

“Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos.” (Efésios 6.18)

Neste capítulo de Efésios, a partir do versículo 10, o tema é “toda a armadura de Deus”, da qual o cristão necessita para poder estar firme contra os ataques do diabo. Paulo usa a imagem de uma armadura romana tal como era usada pelos soldados de sua época. Ele menciona a oração como ponto fulminante, e nisso ele vai muito além da mera imagem.

No versículo 18, o apóstolo utiliza quatro vezes a palavra “todo” ou equivalente, mostrando-nos quatro ensinamentos precisos para nossa vida de oração. Elas tem relação com o tempo da oração, com os tipos de oração, com a perseverança em oração e com os motivos de oração.

O tempo da oração

“Orando em todo o tempo”.
Aqui somos exortados a orar em todo o tempo, ou seja, não somente nos momentos habituais, de manhã ou à noite, ou quando estamos em grandes dificuldades ou diante de decisões importantes. A oração deveria caracterizar nossa vida cotidiana.

O apóstolo Paulo fazia isso real em sua vida de fé. Por exemplo, em 2Tessalonicenses, indica que ele mesmo e seus colaboradores davam graças e oravam sempre por aqueles cristãos (1.3,11), e, na primeira carta, diz: “Orando abundantemente dia e noite” (3.10).

Tipos de oração

“Com toda a oração e súplica no Espírito”.
De acordo com as circunstâncias e com o que o Espírito diz a nosso coração, podemos nos dedicar a diferentes tipos de oração. Não pedimos apenas por coisa específicas para nós mesmos e para os demais de acordo com as necessidades que conhecemos, mas também suplicamos, intercedemos, combatemos, louvamos e exaltamos a Deus e confessamos nossas falhas.
O apóstolo Paulo sabia dar graças a Deus (Rm 1,8), bendizê-Lo (2Co 1.3), dar-Lhe glória (Ef 3.21), intercedia por cristãos individualmente (2Tm 1.3) ou coletivamente (Cl 1.9-11).

A perseverança em oração

“Vigiando nisto com toda a perseverança e súplica”.
Não devemos nos descuidar da oração, mas perseverar nela, e com “toda a perseverança”. O Senhor animava Seus discípulos a “orar sempre e nunca desfalecer” (Lc 18.1).

O apóstolo Paulo nos dá um exemplo notável. Tendo ouvido da fé e do amor dos efésios, não cessava de dar graças por eles e de lembrar deles em suas orações (Ef 1.15,16). O mesmo ocorria com relação aos cristãos de Colossos, dos quais havia ouvido por Epafras: não cessava de orar por eles e de pedir que fossem “cheios do conhecimento da sua [de Deus] vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual” (Cl 1.9).

Os motivos de oração

“Por todos os santos.”
Apresentamos a Deus as necessidades específicas que conhecemos e que Ele põe em nosso coração. No entanto, o apóstolo nos convida a orar por todos os cristãos, não somente por nossos parentes, amigos ou aqueles a quem conhecemos. Não podemos exluir nenhum cristão do alcance de nossa oração; deve haver um lugar para cada um deles em nosso coração.

O apóstolo acrescenta: “E por mim“.

Os obreiros do SEnhor sentem a necessidade das orações dos crentes a seu favor, para sutentá-los em seu serviço e em suas circunstâncias, freqüentemente adversas.

Considerando as epístolas de Paulo, vemos que ele punha em prática o que nos exorta a fazer, aqui em Efésios. Sua vida de oração era abundante. Orava intensamente pelos crentes de Roma, de Éfeso, de Corinto, de Colossos e de muitos outros lugares. A cada dia, sua grande preocupação era com todas as igrejas (2Co 11.28) e, desse peso no coração, resultavam numerosas orações.

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(Autoria: G. Setzer. Traduzido por Francisco Nunes da revista Creced, mayo-junio, n. 3/2013, publicada por Ediciones Bíblicas, Perroy, Suíça. O texto pode ser usado e distribuído livremente, desde que não alterado, com a indicação de autoria, fonte e tradução. Proibido seu uso com fins comerciais.)

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Como se conduzir na caminhada cristã (Jonathan Edwards)

Carta de Jonathan Edwards a uma jovem, escrita no ano de 1741

Minha querida jovem amiga,

Como era do seu desejo que eu a mandasse, por escrito, algumas diretrizes em como conduzir-se a si mesma em sua Caminhada Cristã, agora o faço. As doces lembranças das coisas maravilhosas que vi em sua igreja inspiram-me a fazer qualquer coisa que estiver a meu alcance, contribuindo para a alegria e prosperidade espirituais do povo de Deus que aí está.

1. Aconselho-te a manter o esforço e o fervor na religião, como se estivesse em seu estado natural, procurando converter-se. Aconselhamos pessoas com convicção a serem fervorosas e violentas para o Reino dos Céus; mas elas não devem ser menos vigilantes, trabalhadoras e fervorosas na seara quando já convertidas, porém, ainda mais, pois há infinitas coisas a mais a se fazer. Por ser esta uma característica que nos falta, muitas pessoas, em poucos meses de conversão, começam a perder seu doce e vivo senso das coisas espirituais, crescendo geladas e em trevas, “desviando-se da fé e a si mesmos se atormentando com muitas dores” (1 Tm 6; 10), enquanto se tivessem atentado às palavras do apóstolo em Filipenses 3; 12-14, seus caminhos seriam como “a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv 4; 18)

2. Não deixe de procurar a Deus, de jejuar e orar pelas mesmas coisas que exortamos a pessoas não-convertidas a orar e jejuar, tendo você já passado por este processo. Ore para que seus olhos estejam abertos, para que receba a visão correta, conhecendo-te a ti mesma, e para seus pés descansem em Deus. Que você veja a glória de Deus e Cristo, e tenha o amor de Cristo derramado em todo o teu coração. Aqueles quem tem a muitas destas coisas, ainda assim precisam orar por elas, pois ainda há tanta cegueira, dificuldade, orgulho e corrupção, que necessitam ter o trabalho de Deus sobre eles a fim de receber luz e vida, sendo trazidos da escuridão para a maravilhosa luz de Deus, recebendo como que uma nova conversão e ressurreição dos mortos. Há poucos deveres convenientes a um não-convertido que também não o são, de certa maneira, para o povo de Deus.

3. Quando ouvir a um sermão, ouça por si mesma. Mesmo que provavelmente o que está sendo pregado seja para não-convertidos ou para aqueles que, de outras maneiras, estão em diferentes circunstâncias que você. Assim, deixe com que a principal intenção de sua mente seja a ponderação: em quais aspectos isto é aplicável a mim? E em que posso melhorar para o próprio bem de minha alma?

4. Apesar de Deus ter perdoado e esquecido seus pecados, não os esqueça: lembre-se sempre deles, de como era uma escrava sem esperança na terra do Egito. Traga à memória suas ações de pecado antes de sua conversão, assim como o apóstolo Paulo está sempre mencionando sua antiga atitude de blasfêmia, em que perseguia o Espírito e maltratava o povo de Deus, humilhando seu coração, dizendo ser “o menor dos apóstolos”, indigno de “ser chamado apóstolo”, “menor dos santos” e “o maior dos pecadores”. Confesse sempre seus pecados a Deus e deixe com que este texto esteja sempre em sua mente: “para que te lembres e te envergonhes, e nunca mais fale a tua boca soberbamente, por causa do teu opróbrio, quando eu te houver perdoado tudo quanto fizeste, diz o SENHOR Deus.” (Ez 16; 63)

5. Lembre-se que você tem muito mais motivos para lembrar-se e humilhar-se dos seus pecados agora, desde que se converteu, do que antes. Tudo isso se deve a suas muitas obrigações para com a vida com Deus, olhando para os escolhidos de Cristo, amando sempre sua amabilidade, apesar de toda a sua falta de valor desde sua conversão.

6. Esteja sempre vigilante para com seu contínuo pecado e não pense que você se preocupa muito com ele. Ainda sim, não esteja desencorajada nem permita que ele anule seu coração, pois, apesar de sermos exageradamente pecadores, temos um Advogado com o Pai, a saber, Jesus Cristo, o Santo. O sangue cuja preciosidade, o mérito cuja retidão, a grandeza cujo amor e fé infinitamente sobrepujam as mais altas montanhas de nossos pecados!

7. Quando começar a orar, ou tomar parte na Ceia do Senhor, ou participar de qualquer outra atividade de adoração, venha a Cristo como Maria Madalena fez!  Venha, e coloque-se aos Seus pés, e os beije, derrame perante Ele o doce óleo perfumado de amor oriundo de um coração puro e quebrantado, como ela derramou o perfume precioso de sua jarra de alabastro! “E eis que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com o unguento.” (Lc 7; 37-38)

8. Lembre-se que orgulho é a pior víbora do coração, o grande distúrbio da paz da alma e da doce comunhão com Cristo: foi o primeiro pecado e se encontra bem baixo na fundação da obra de Satanás, sendo muito dificilmente arrancado fora, pois é o mais escondido, secreto e arruinador de todas as luxúrias, inserindo insensibilidade no meio da religião e até mesmo sob a desculpa de humildade. “O temor do SENHOR consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu os aborreço.” (Pr 8:13)

9. Que você faça um correto julgamento de si mesma, vendo sempre nos outros as melhores descobertas, o melhor conforto, pois têm esses dois lados: uns te fazem menor e insignificante, como uma criança. Outros, animam e consertam seu coração em uma disposição firme em negar-se a Deus, passar tempo com Ele e por Ele.

10. Se em algum momento você se encontrar em dúvidas sobre o estado de sua alma, em partes escuras e sem sentido, é necessário rever sua experiência passada. Mas não invista muito tempo e esforços neste caminho. Ao contrário, disponha-se com todo o seu ser a procurar ardentemente uma nova experiência, nova luz, novas ações de fé e amor. Uma nova descoberta da gloriosa face de Cristo fará mais sobre aterrorizadoras nuvens negras do que examinar experiências passadas durante um ano, sob as melhores nuances que podem dar.

11. Quando pouco se exercita a graça e a corrupção prevalece juntamente com o medo, não tente tirar isto de seu coração de qualquer outra maneira além de reviver o amor a Deus. Assim, o medo será efetivamente expulso, como a escuridão desaparece de um quarto quando os deliciosos raios de sol penetram-no.

12. Quando aconselhar e alertar as pessoas, o faça com vontade e afeição, com firme convicção. Lembre-se que estará falando ao seu próximo deixando que suas palavras contenham expressão de sua própria pequenez, mas também da graça soberana que te faz diferente.

13. Se você organizar encontros devocionais com jovens mulheres como você, uma vez a cada certo tempo, além de participar de outros encontros gerais, será muito proveitoso e útil.

14. Em quaisquer dificuldades, necessidades ou longos períodos de escassez, qualquer caso específico, para você ou outros, separe um dia para oração secreta e jejum. Gaste o dia, não tão somente pelas petições que faz, mas procurando seu coração olhando para sua vida, confessando seus pecados perante Deus. Não como se costuma fazer quando se ora publicamente, mas como um resumo a Deus de todos os pecados de sua vida, desde a infância, antes e depois da conversão, incluindo as circunstâncias e decaídas em relação a eles, apresentado diante d’Ele todas as particulares abominações de seu coração da maneira mais completa possível.

15. Não permita que os adversários da cruz reprovem a verdadeira religião. Quão retamente deveriam se comportar os filhos remidos e amados do Filho de Deus! Ainda, “caminhem como filhos da luz e do dia” e “adquira a doutrina de Deus seu Salvador”. E, especialmente, pondere sobre as virtudes cristãs que te fazem parecida com o Cordeiro de Deus. Seja humilde e submissa de coração, pura, celestial, amando a todos. Faça atos de amor aos outros e auto-negação pelos outros. Que haja em você uma disposição em pensar sobre os outros maior do que em você mesma.

16. Na sua vida, caminhe com Deus e siga a Cristo como uma pequena, pobre e desprotegida criança tomando a mão de Cristo. Mantenha seus olhos nas marcas das feridas em Suas mãos e lado, donde veio o sangue que te purifica do pecado, escondendo sua nudez nas vestes brancas celestiais.

17. Ore frequentemente pelos ministros da igreja de Deus, especialmente para que Ele continue seus glorioso trabalho que tem começado, até o dia da terra estar cheia de Sua glória.

FONTE: http://gracegems.org/26/Edwards_letter.htm

Tradução: Projeto Castelo Forte

(Fonte)

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Jesus orava (M. Wolfinger)

A vida do Senhor Jesus na Terra era vivida em comunhão contínua com Seu Deus e Pai. Essa comunhão se manifestava numa perfeita dependência, cuja expressão era a oração. “Orando”: este era o sinal distintivo do Senhor como homem na Terra, e disso dão freqüente testemunho os Evangelhos. Somente no Evangelho de Lucas nós O encontramos sete vezes em oração. Nenhum homem foi tão constante na oração; e, no entanto, Ele era Deus e, como tal, não necessitava depender dela. Mas, como homem perfeito na Terra, se dirigia a Deus em oração como nenhum outro.

Quanto regozijo Deus teve e quão honrado Ele foi ao ver SEu Filho na Terra, no meio da humanidade que se havia desviado Dele e se corrompido! (Veja Sl 14.3.) O profeta Isaías compara este mundo a uma terra seca, que não pode produzir nenhum fruto para Deus. No entanto, nesse terreno estéril devia brotar um “renovo”, uma “raíz” (53.2). Como isso aconteceria? Pela vinda do Senhor Jesus, o santo servo de Deus, o único homem que produziu um fruto perfeito para Deus. Esse santo servo tinha uma vida de oração e de inteira dependência de Deus.

Ficamos admirados quando vemos que o Filho de Deus e, ao mesmo tempo, verdadeiro homem, se consagrou a Deus em oração como nenhum outro o fez. É uma verdade que nos assombra e que nos mostra que Jesus tomou perfeitamente a condição humana sendo ao mesmo tempo Deus.

Os próprios discípulos, que foram seus companheiros de caminho a cada dia, ficaram impressionados com essa vida de oração sem igual. Lucas indica isso ao relatar o pedido que um deles fez ao Senhor: “Senhor, ensina-nos a orar” (11.1). Desejam orar como seu Mestre orava, reconhecendo que, por si mesmos, não eram capazes. Não deveria ser este também nosso desejo a fim de nos parecermos mais com nosso Senhor a esse respeito?

Habitualmente, o Senhor se retirava para um lugar isolado ou aproveitava a tranqüilidade da noite para estar a sós com Deus e orar. Os discípulos sabiam que Ele orava, mas sabiam muito pouco do conteúdo de Suas orações. Os Evangelhos muito raramente relatam as palavras que o Senhor pronunciou nestas ocasiões. Encontramos algo em LUcas 22 e em João 17.

Entre as preciosas passagens que relatam as palavras do Senhor em Suas orações, podemos mencionar o salmo 16. É certo que é Davi quem se expressa ali, mas o apóstolo Pedro indica, em Atos 2, que essas palavras podem ser postas na boca de nosso Senhor (vv. 25-28).

Vejamos por um momento o início desta oração: “Guarda-me, ó Deus, porque em Ti confio” (Sl 16.1). Que motivo de adoração e, ao mesmo tempo, de humilhação para nós ver como o Senhor se confiava ao cuidado de Deus! Aquele que era absolutamente sem pecado e que não tinha nenhuma fraqueza — como nós tão freqüentemente temos — pedia, no entanto, que Deus O guardasse. Com uma profunda dependência Ele se confiava a Deus. Que maravilha!

“Porque em Ti confio.” O fundamento de Seu pedido era a confiança plena no poder do Deus Forte (ver 22.19) que pode guardá-Lo. Essa confiança de nosso Senhor era tão grande que os homens, até mesmo Seus inimigos, puderam vê-la e dela testemunhar quando Ele estava na cruz: “Confiou em Deus” (Mt 27.43).

Que exemplo para nós que, muitíssimo mais que Ele, necessitamos do cuidado de Deus e da dependência que se expresssa na oração!

(Traduzido por Francisco Nunes da revista Creced, n. 2/2012. Esse texto pode ser divulgado livremente, desde que não usado para fins comerciais, não seja alterado e seja mantida a informação sobre sua fonte.)

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A Confissão do Ministro

Uma Oração Puritana

Ó DEUS,
Reconheço que muitas vezes faço a tua obra sem o teu poder,
e peco por causa do meu culto morto, frio e cego;
por causa da minha falta de luz interior, amor e deleite;
por causa da minha mente, coração e língua movendo-se sem o teu auxílio.

No meu coração vislumbro o pecado ao buscar a aprovação dos outros;
É essa a minha vileza, ter na opinião dos homens a minha regra, ao passo que
deveria contemplar o bem que tenho feito,
e dar-te glória,
considerar o pecado que tenho cometido e lamentar por ele.

A minha fraude diária é pregar, e orar,
e estimular os sentimentos espirituais dos outros
para auferir louvores,
quando a minha regra deveria ser considerar-me diariamente mais vil
que qualquer outro homem a meus próprios olhos.

Nada obstante tu mostras o teu poder mediante a minha fraqueza,
de tal modo que quanto mais débil sou, tanto mais apto estou para ser usado,
pois tu armas uma tenda de graça na minha fraqueza.

Ajuda-me a me regozijar nas minhas fraquezas e te louvar,
a reconhecer as minhas deficiências diante dos outros
e não ser desencorajado por eles,
para que possam enxergar a tua glória mais claramente.

Ensina-me que eu tenho de agir mediante um poder sobrenatural,
pelo qual posso tentar realizações acima da minha força,
e suportar males acima do meu poder,
agindo por Cristo em tudo, e
tendo o seu poder superior para me socorrer.

Que eu aprenda de Paulo
cuja presença era fraca,
cuja fraqueza era grande,
cuja palavra era desprezível,
mas tu o consideraste fiel e bendito.
Senhor, deixa que me ampare em ti assim como ele,
e ache o meu ministério teu.

Tradução: Marcos Vasconcelos
Extraído de: The Valley of Vision:
A Collection of Puritan Prayers & Devotions
,
organizado por Arthur Bennett, p.187.

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Oração

Fale a Deus tudo o que vai em seu coração, como quem descarrega para um amigo todas as suas alegrias e dores. Conte-Lhe seus problemas, para que Ele possa confortá-lo; fale-Lhe de suas alegrias, para que Ele possa moderá-las; conte-Lhe seus anseios, para que Ele possa purificá-los; fale de suas antipatias, para que Ele o ajude a superá-las; fale de suas tentações, para que Ele possa protegê-lo delas; mostre-Lhe as feridas de seu coragao, para que Ele possa sará-las; exponha-Lhe sua indiferença para com o bem, sua inclinação para o mal, sua instabilidade. Conte-Lhe como o amor por si mesmo torna-o injusto com os outros, como a vaidade o tenta a ser insincero, e como o orgulho mascara o que você é realmente para si mesmo e para os outros.
Se voce derramar dessa maneira, perante Ele, todas as suas fraquezas, necessidades e problemas, não haverá falta de assunto para a conversa. Você nunca conseguirá esgotar o assunto, pois ele está sempre se renovando. As pessoas que não têm segredos umas para as outras nunca ficam sem ter o que conversar. E elas não medem suas palavras, pois não há nada para ser guardado consigo; nem precisam estar a procurar coisas para dizer. Elas falam do que está cheio o coração; sem parar para ponderar, elas dizem o que pensam. Felizes são aqueles que conseguem atingir esse grau de familiaridade e de profundidade em sua comunhao com Deus.

(François Fénelon)

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Afinal, a mulher pode ou deve usar véu? (José Carlos Jacintho de Campos)

Está se tornando usual, em nossos dias, a aplicação indevida dos verbos poder e dever. Conforme a conveniência ou ponto de vista que se queira defender, dissimuladamente fazem a substituição desses verbos em artigos ou comentários bíblicos que passam desapercebidos pelos menos atentos, gerando costumes ou tradição ao arrepio da sã doutrina.

O verbo poder representa a faculdade ou possibilidade de fazermos alguma coisa de acordo com o nosso livre-arbítrio. Tanto é verdade que esse verbo não é conjugável no modo imperativo. Já o verbo dever tem o significado absoluto de ter a obrigação de fazer-se aquilo que está determinado ou sugerido.

Para exemplificar: podemos cometer pecado? Sim, porque isso faz parte da influência carnal que possuímos, está dentro da nossa capacidade física ou mental; por isso pecamos e diariamente temos de confessar nossos pecados a Deus (1Jo 1.8-10). Por outro lado, devemos viver assiduamente no pecado? Claro que não, pois isto está claramente determinado na Palavra de Deus que não devemos permanecer no pecado, tendo em vista que é nisto que se diferenciam os filhos de Deus e os filhos do diabo (1Jo 3.9,10). Portanto, nem tudo que se pode fazer é o que deve ser feito, sob pena de estarmos pecando e nos identificando com os desobedientes a Deus.

Ninguém, em sã consciência, discordará da afirmação de Paulo que os maridos devem amar a esposa assim como Cristo amou a Igreja a ponto de se entregar por ela (Ef 5.22-33). Sabiamente, as mulheres dão grande ênfase a esta passagem, tendo em vista que a elas é determinado que sejam submissas ao marido, como ao Senhor, logo a recíproca tem de ser verdadeira, ou seja, as mulheres se submetem por obediência ao Senhor e, em nome dessa mesma obediência, o marido lhes deve amor na mesma plenitude que Cristo amou a Sua Igreja.

Dever implica em obrigação; logo, não cumprir aquilo que é determinado na Bíblia é desobediência a Deus.

O que causa estranheza é que o mesmo vernáculo – deve – usado em Efésios 5.28, que, no original grego, denota uma inquestionável obrigação moral, não é aceito, principalmente pelas mulheres, em 1Coríntios 11.10, que afirma que a mulher deve trazer um sinal de submissão ou autoridade em sua cabeça por causa dos anjos. Nesta passagem o verbo está conjugado no modo imperativo afirmativo, que não deixa nenhuma dúvida quanto à ordem nele contida. Como é possível o mesmo verbo ter sentidos diferentes em Efésios 5.28 e em 1Coríntios 11.10? Dever implica em obrigação; logo, não cumprir aquilo que é determinado na Bíblia é desobediência a Deus.

É impressionante como muitas pessoas têm gasto um precioso tempo levantando argumentos, até mesmo absurdos, para justificar o descumprimento da determinação bíblica que a mulher deve cobrir a cabeça nas reuniões da igreja. Esses argumentos geram uma confusão tamanha que faz com que as lideranças de algumas igrejas locais deixem o uso do véu a critério pessoal de cada irmã, como se houvesse duas verdades na Bíblia.

A isto chamamos de a Síndrome de Pilatos, ou seja, conhece-se a verdade, porém é “politicamente correto” não a aplicar; com isso, “lavam-se as mãos” jogando a responsabilidade da decisão sobre as mulheres. Esse procedimento, de não assumir responsabilidades, foi utilizado por Pilatos para encaminhar Jesus Cristo para a morte. Por definição: responsabilidade não se transfere, assume-se para não se tornar um irresponsável.

Creio ser oportuno avaliarmos alguns dos argumentos apresentados por aqueles que procuram justificar a desobediência do não uso do véu pelas mulheres nas reuniões públicas realizadas pela igreja local.

O Argumento Restritivo

“O assunto era específico à igreja em Corinto.”

Os que assim argumentam se estribam no erro de que a Primeira Epístola aos Coríntios se prende obstinadamente a fatos locais; logo, o uso do véu pelas mulheres seria específico para aquela igreja local.

Sem dúvida, essa afirmação é absurda, pois é claríssima a universalidade da epístola: “À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para serem santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome do Senhor Jesus, Senhor deles e nosso” (1.2). Será por demais pretensioso afirmar que os males que afligiam aquela igreja jamais ocorreriam em outras. O Espírito Santo orientou Paulo nesse sentido a fim de que as demais igrejas aprendessem com os erros cometidos por aqueles irmãos e evitassem os mesmos procedimentos.

Sabemos que, apesar dessas admoestações, esses erros não deixaram de ser praticados, pois, ainda hoje, cometem-se os mesmos pecados apesar das advertências contidas nesta carta. Dizer-se que assuntos correlatos à ordem nos cultos, à participação na ceia, ao ordenamento dos dons espirituais, à sublimidade do amor, à ressurreição dos mortos e aos assuntos pertinentes à coleta seriam específicos à igreja em Corinto é, no mínimo, por desconhecimento bíblico, pois, se for de caso pensado, é má-fé.

O Argumento Cultural

“O uso do véu era um costume social da época em Corinto.”

Pelo fato de Paulo fazer uma referência quanto ao costume social do tamanho do cabelo a ser usado por homens e mulheres (1Co 11.14,15), isto não significa que ele estivesse fazendo o mesmo com o véu.

A comparação é uma figura de linguagem que facilita o ensino ou a explicação sobre determinado aspecto. Um quilo de ilustração vale por uma tonelada de explicações, porém, quando o espírito farisaico prevalece não há ilustração que dê jeito. Lembremo-nos das parábolas de Cristo e a rebeldia dos judeus.

Se a afirmação que o uso do véu para as mulheres é coisa do passado e era aplicado somente naqueles dias, isto vale dizer que o inverso também é verdadeiro, ou seja, os homens de hoje deveriam orar com a cabeça coberta, pois Paulo teria determinado somente para aquela época que o homem devia, ao contrário das mulheres, orar com a cabeça descoberta (v. 4). Teriam, porventura, os homens de hoje de usar o “tallith” (um xale de quatro pontas) sobre a cabeça como faziam e fazem atualmente os judeus que oram com a cabeça coberta nas sinagogas, tendo em vista que o costume da cabeça descoberta seria somente para aquela época?

Percebam o absurdo dessa interpretação! Se não bastasse isso, se o uso fosse válido somente para aquela época, isto equivale dizer que hoje em dia os anjos do Senhor não mais estariam ao redor daqueles que O temem. O verso 10 de 1Coríntios 11 é claríssimo: a mulher deve trazer a cabeça coberta por causa dos anjos. Ensinar que a mulher não deve usar véu é o mesmo que dizer que os anjos não existem ou não atuam mais!

O escritor de Hebreus não deixa dúvida quanto ao ministério dos anjos junto à igreja: “São todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor dos que hão de herdar a salvação” (Hb 1.14). Os anjos do Senhor não podem contemplar a desobediência das servas, pois o uso do véu pela mulher é um sinal da sua submissão, assim como eles são submissos e se cobrem com suas asas ao comparecerem perante o Trono de Deus (Is 6.2).

Com base nesse mesmo trecho de Isaías 6.2, há afirmações incorretas de que o homem também deveria cobrir a cabeça em suas orações a Deus. A Palavra de Deus é claríssima a esse respeito: “Na verdade, o homem não deve cobrir a cabeça por ser ele imagem e glória de Deus” (1Co 11.7).

É lamentável a errônea interpretação de que a sujeição das mulheres pelo uso do véu é um sinal de que elas são inferiores aos homens. Isto é ignorância!

Convém ressaltar que o citado verso 10 de 1Coríntios 11 contém uma profunda sabedoria. O vernáculo grego exousia significa “o direito de fazer alguma coisa”, ou seja, a cabeça coberta da mulher lhe outorga autoridade para orar, adorar e exercer os seus dons espirituais e, com essa atitude, ela se legitima perante os anjos e concomitantemente perante a igreja, conforme os versos 13 e 16 de 1Coríntios 11. Portanto, fica extremamente claro que essa legitimidade é manifestada pelo véu que a mulher trouxer na sua cabeça, pois o exercício da sua autoridade está sendo demonstrado pelo sinal da sua submissão. Isto é sabedoria de Deus!

É lamentável a errônea interpretação de que a sujeição das mulheres pelo uso do véu é um sinal de que elas são inferiores aos homens. Isto é ignorância! Submissão não é sinônimo de inferioridade. Jesus sujeitou-se ao Pai, porém jamais Lhe foi inferior porque Ele – assim como o Pai – é Deus. Jesus deixou claro isso ao afirmar que, enquanto Ele aqui estivesse, o Pai seria maior e não melhor que Ele. Isto diferencia sujeição de inferioridade (Jo 10.30; 17.11,21-23). Qualquer outra interpretação fica por conta do inimigo de nossa alma.

O Argumento da Substituição

“O cabelo comprido substitui o uso do véu na igreja.”

Jamais Paulo fez tal afirmação. O uso da figura de linguagem do cabelo comprido das mulheres, que para elas era uma glória, pois a cabeleira lhes fora dada em lugar da mantilha (1Co 11.15), é uma explicação à sua própria indagação. “Julgai entre vós mesmos: é conveniente que uma mulher ore com a cabeça descoberta a Deus?” (v. 13). Essa figura de linguagem em hipótese nenhuma anula a obrigatoriedade do cumprimento do verso 10.

É erro grotesco afirmar-se que o cabelo comprido do verso 15 substitui o véu do verso 6, pois os vernáculos usados no original grego para essas vestimentas não são os mesmos; ou seja, no verso 6 trata-se realmente de um véu, peça de tecido mais leve, e, no verso 15, de mantilha, vestimenta feminina mais pesada.

Aprendemos em hermenêutica que, em nenhuma hipótese, devemos fixar uma doutrina ou norma tendo como base uma figura de linguagem, pois ela serve somente para ilustrar. Aquilo que está sendo ilustrado é que deverá prevalecer.

O Argumento da Ausência

“Se não houver varão presente às reuniões, a mulher pode orar sem véu.”

Outra afirmação improcedente. O que é que tem a ver uma coisa com a outra? A mulher não usa véu por causa do homem, mas por causa dos anjos, como sinal da sua autoridade e submissão à ordenança contida na Palavra de Deus. Os versos 5 e 6 de 1Coríntios 11 são extremamente claros: “Toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a sua cabeça, porque é a mesma coisa como se estivesse rapada. Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também; se, porém, para a mulher é vergonhoso ser tosquiada ou rapada, cubra-se de véu.”

Paulo ilustra a cabeça descoberta com a punição que era dada às mulheres devassas [rapar o cabelo]. O Espírito Santo levou Paulo a ser extremamente enérgico nessas colocações. De fato, ele está afirmando que seria vergonhoso para a mulher orar com a cabeça descoberta porque, desta forma, estaria se colocando no mesmo nível daquelas que, por viverem no pecado, eram excluídos da sociedade.

O Argumento Indecoroso

“Paulo não gostava de mulher.”

Sem dúvida, essa afirmação vem do inferno. O movimento feminista infiltrado em algumas igrejas denominacionais tem lançado essa leviandade, com a maldosa insinuação de que Paulo era casto por não gostar de mulher.

Quanta maldade somente para justificar o uso do púlpito e o não uso do véu pelas mulheres nas reuniões públicas da igreja local! As revelações contidas na Palavra de Deus não são de entendimento humano, mas por inspiração do Espírito Santo. Paulo afirma em 2Timóteo 3.16: “Toda Escritura é divinamente inspirada”. Pedro reafirma em 1Pedro 1.20.21: “Nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo.”

Portanto, quem manda as mulheres se cobrirem nas reuniões públicas da igreja com o véu não é Paulo, mas o Espírito Santo que é de Deus. A maledicência lançada contra Paulo é indecente, pois ele jamais se desagradou das mulheres ou as menosprezou, como ele mesmo escreve em Gálatas 3.28: “Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois de Cristo Jesus.”

Propositadamente as feministas se esquecem da menção que Paulo faz em suas epístolas às valorosas e dedicadas servas que, como ele, gastaram a vida em prol do Evangelho, e que, por certo, oravam com a cabeça coberta. É torpeza colocar dúvida sobre a masculinidade de Paulo pelo fato de ele praticar a castidade (1Co 7.7-9). Por trás de toda essa desavença criada pelas feministas em torno do uso do véu, está o velado descontentamento das mulheres em usá-lo por entenderem que Paulo teria sido extremamente injusto com elas na medida em que as colocou em sujeição ao homem. Essa idéia é absurdamente errada! A sujeição da mulher ao homem vem desde a criação, e não se trata de uma “invenção” de Paulo, mas é uma determinação de Deus.

Desde o princípio da criação a liderança do homem e a sujeição da mulher são determinadas por Deus, tendo em vista que o homem é a imagem e glória de Deus e a mulher, a glória do homem (11.7). O homem foi colocado no mundo como representante de Deus para exercer domínio sobre a terra e a sua cabeça descoberta é um testemunho silencioso desse fato.

Portanto, o homem não deve cobrir a cabeça, pois tal ato seria um grande insulto a Deus porque estaria cobrindo a Sua glória. À mulher nunca foi dada essa liderança. Deus a colocou como ajudadora do homem. O diabo, em sua astúcia, induziu Eva a usurpar a liderança que pertencia a Adão na medida em que ela, sozinha, decidiu manter aquele fatídico diálogo. Por isso, Deus determinou à mulher: “Ele [o homem] te dominará” (Gn 3.16). Eliminar essa sujeição é coisa do diabo; desde o princípio ele persiste nisso.

O Argumento do Paradigma

“Nas igrejas denominacionais históricas as mulheres não usam véu.”

Se somos como somos é porque entendemos que assim devemos ser como igreja de Cristo que somos; ou seja: se nos reunimos dessa forma é porque cremos que devemos ter por modelo a igreja primitiva, que é algo sobremodo difícil em nossos dias em virtude das muitas tradições que foram criadas no meio tido como evangélico.

Assim como ocorreu no judaísmo e no catolicismo, o protestantismo se tem conduzido mais pelas tradições humanas do que propriamente pelas revelações contidas na Palavra de Deus. Amamos os irmãos denominacionais, porém, se nos reunimos procurando o padrão autêntico das igrejas neo-testamentárias, isso significa que não devemos aceitar tradições humanas misturadas ao ajuntamento solene.

As mesmas vozes que evocam o costume das denominacionais históricas para o não uso do véu pelas mulheres são as mesmas que não concordam, dentre tantas outras coisas, com a diferenciação que é feita entre o clérigo e o leigo cujo princípio eclesiástico nega, de fato, a unidade de todos os crentes. O vocacionamento clerical é estranho aos ensinamentos contidos na Palavra de Deus, pois “como pedras vivas, somos edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo” (1Pe 2.5). Portanto, todos os cristãos nascidos espiritualmente de novo possuem o mesmo sacerdócio.

Que diremos, então, acerca de distorções doutrinárias? Por que, então, somente determinada prática nos serve, como o não uso do véu, e não há concordância em relação às demais? Não seria uma hipocrisia pensarmos dessa forma, ou seja, naquilo que atende aos anseios das mulheres as tradições das igrejas denominacionais devem ser seguidas? Creio que Paulo nos dá essa resposta em 1Coríntios 11.16: “Se alguém quiser ser contencioso [ao permitir que a mulher ore sem véu], nós não temos tal costume, nem tampouco as igrejas de Deus.”

O Argumento Doutrinário

“A obrigatoriedade do uso do véu não é um ponto doutrinário por estar revelado em apenas uma passagem da Palavra de Deus.”

É sobremodo estranho o ensino que surgiu em nosso meio de que uma doutrina bíblica somente é válida quando existe no mínimo mais de uma passagem que confirme a sua condição como tal.

O nosso assunto aqui não é o de abrir um debate sobre hermenêutica, porém, se essa afirmação fosse verdadeira, a maioria das citações escatológicas não seria doutrinária. Basta lermos o Apocalipse e veremos que grande parte dos assuntos nele contidos estão revelados somente lá; ou ainda, não poderemos afirmar que os mortos não serão arrebatados antes dos vivos simplesmente pelo fato de isso estar revelado apenas em 1Tessalonicenses 4.15-17.

É impressionante como se inventa tanto por causa de algo tão simples que é o uso do véu pelas mulheres.

O Argumento da Concorrência

“O tamanho e a cor do véu promovem um desfile de moda na igreja.”

Por último, justifica-se o não-uso do véu pelo fato de que poderá haver entre as mulheres uma concorrência ou desfile de moda pela multiplicidade de cores e tamanhos dos véus. Justificar que o uso do véu criaria uma disputa de moda entre as irmãs é uma afirmação temerária. Os vestidos, as calças compridas (por vezes coladas ao corpo), as saias (por vezes curtas demais), as bluas, os sapatos, as meias, os brincos, os anéis, os colares, os esmaltes, os batons, etc. não causam concorrência, mas o véu promoverá isso?! Não devemos subestimar a Deus dessa forma, pois é o Espírito Santo que determina o uso do véu.

Quanto ao tamanho gerar um modismo, pelo fato de que, quanto menor o véu, mais elegante a mulher fica, particularmente pode-se entender que se é ruim usar um véu pequeno, pior será não usar nenhum. Porém, é verdadeiro que está havendo um abuso em nossos dias pelo uso de véus minúsculos, que os descaracterizam como a cobertura estabelecida na Palavra de Deus.

Pelo fato do seu tamanho não ser determinado explicitamente no citado trecho, isto não significa que qualquer coisa que se coloca sobre a cabeça estaria cumprindo com a divina determinação. Convém lembrar que o uso do véu ordenado por Deus não é uma mera vestimenta, mas um sinal (1Co 11.10) e, por inferência, sabemos que qualquer que seja um sinal, ele somente atinge seu objetivo na medida que revela nitidamente aquilo que ele se propôs mostrar.

A prudência e a moderação são virtudes recomendadas para cercear qualquer tipo de exagero tanto para mais como para menos, pois há que se ter acentuado cuidado com as posições extremistas.

Segundo o consagrado servo do Senhor William MacDonald (The Believer’s Bible Comentary), “o véu somente é válido quando o seu uso exterioriza a graça interior da mulher. A coisa mais importante no uso do véu deve ser a certeza de que o coração está realmente submisso: o véu sobre a cabeça das mulheres possui esse real significado (…)”.

Portanto, o tamanho e a cor não são coisas fundamentais; o que verdadeiramente importa é a sujeição das mulheres às determinações contidas na Palavra de Deus. As cores e tamanhos serão adequados por elas próprias segundo a graça que interiormente possuem pela habitação do Espírito Santo.

Isto equivale dizer que o não-uso do véu significa a inexistência de reverência e temor a Deus, e é uma questão definitiva e incontestável na Palavra de Deus. A recusa ou omissão das mulheres com respeito ao uso do véu nas reuniões públicas da igreja são demonstrações de rebeldia a Deus. As vozes discordantes são por conta de interpretações de particular elucidação, não por revelação divina.

Que diremos, pois, à vista destes argumentos? Atentemos para o convite de Paulo: “Sede meus imitadores, como também eu o sou de Cristo” (1Co 11.1). Permita Deus que assim seja!

 

(Extraído de um xerox desse artigo na revista Amados…, 32, sem identificação de editora ou de local de publicação. Se alguém conhecer os detentores dos direitos autorais desse texto ou se a revista ainda é publicada, favor entrar em contato.)

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A. W. Tozer Oração

Orar até orar de verdade é o desafio do cristão (A. W. Tozer)

O Dr. Moody Stuart, um homem de oração, certa vez estabeleceu regras que o guiassem em suas orações. Entre essas regras, havia a seguinte: `Ore até orar de verdade´. A diferença entre orar até o momento em que você pára de orar, e orar até você realmente orar é ilustrada pelo evangelista americano John Wesley Lee. Ele sempre comparava um período de oração com um culto na igreja, e insistia que muitos de nós terminamos a reunião antes do culto ter terminado. Ele confessou que certa vez saiu cedo demais de uma reunião de oração e foi indo por uma rua para cuidar de alguns negócios urgentes. Ele não tinha caminhado muito quando uma voz em seu interior o repreendeu. `Filho,´ – a voz parecia perguntar – `você pronunciou a bênção quando a reunião não havia ainda terminado?´ Ele caiu em si e imediatamente voltou correndo ao lugar da reunião de oração, onde permaneceu até que toda a carga que sentia saiu e a bênção sobre si desceu.

O hábito de interromper nossas orações antes de termos realmente orado é algo tão comum quanto infeliz. Com freqüência os últimos dez minutos podem significar mais para nós do que a primeira meia hora, porque temos que gastar um bom tempo até atingirmos a verdadeira condição para uma oração efetiva. Pode ser que tenhamos que lutar com os nossos pensamentos de forma a retirá-los das muitas distrações que resultam do fato de habitarmos num mundo todo em desordem.

Aqui, assim como em todas as demais questões espirituais, temos que ter certeza de que estamos distinguindo o ideal do real. O ideal seria vivermos a cada momento num estado de perfeita união com Deus de forma que nenhum preparo fosse necessário. Mas na verdade são poucos os que honestamente podem dizer que é isso o que acontece em sua vida. Para sermos francos, a maioria de nós tem de admitir que com freqüência enfrentamos uma luta antes de ter condições de escapar de uma alienação emocional e de um senso de irrealidade que às vezes prevalecem em nós.

Não importando o que um idealismo sonhador possa dizer, somos forçados a encarar as coisas no nível da realidade prática. Se quando vamos orar o nosso coração sente-se endurecido e não espiritual, não deveríamos convencer-nos do contrário. Antes, devemos admitir a situação com franqueza, e então orar até o fim. Alguns cristãos chegam a sorrir diante da expressão `orar até o fim´, mas isso ou algo parecido com isso, é encontrado nos escritos de quase todos os grandes santos de oração, dos dias de Daniel até hoje.´

Não podemos parar de orar antes de termos orado de verdade.

(Extraído do livro Este mundo: lugar de lazer ou campo de batalha, Danprewan Editora)

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Jejum Oração

João Crisóstomo sobre jejum

Você jejua? Dê-me prova disto por suas obras.
Se você vê um homem pobre, tenha piedade dele.
Se você vê um amigo sendo honrado, não o inveje.
Não deixe que somente a sua boca jejue, mas também o olho e o ouvido e o pé e as mãos e todos os membros de nossos corpos.
Que as mãos jejuem, sendo livres de avareza.
Que os pés jejuem, cessando de correr atrás do pecado.
Que os olhos jejuem, disciplinando-os a não fitarem o que é pecaminoso.
Que os ouvidos jejuem, não ouvindo conversas más e fofocas.
Que a boca jejue de palavras vis e de criticismo injusto.
Porque, qual é o proveito se nos abstemos de aves e peixes, mas mordemos e devoramos os nossos irmãos?
Possa Aquele que veio ao mundo para salvar pecadores nos fortalecer para completarmos o jejum com humildade, tendo misericórdia de nós e nos salvando.

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