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Vida cristã

Segurança, certeza e gozo da salvação eterna

George Cutting

Quando estamos numa estação ferroviária ouvimos, com certa frequência, a seguinte pergunta: “Em que classe você está viajando?” Você, leitor, com toda a certeza está de viagem – de viagem para a Eternidade – e pode ser que neste momento esteja muito próximo da estação final: a Morte. Permita-me, então, que lhe pergunte: “Nesta jornada pela vida, em que classe você está viajando?”

Neste caso podemos pensar em três diferentes classes, e vou explicar quais são a fim de que você possa responder à minha pergunta como que diante de Deus; sim, diante dAquele a Quem certamente todos nós temos que prestar contas.

Na PRIMEIRA CLASSE viajam, por assim dizer, os que estão salvos e sabem disso.

Na SEGUNDA CLASSE viajam aqueles que não têm certeza da sua salvação, mas que, no entanto, desejam tê-la.

Na TERCEIRA CLASSE viajam aqueles que não estão salvos e nem tampouco se interessam pelo assunto.

Volto a perguntar: “Em qual destas classes você está viajando?” Oh, como é importante que você possa responder claramente a esta pergunta!

Há pouco tempo, numa viagem que fiz de trem, no momento em que o trem se preparava para partir da estação, vi chegar um homem que se precipitou ofegante para dentro do vagão onde eu me encontrava.
– Isto é que é correr! – exclamou um dos passageiros.
– É verdade – respondeu o homem respirando com dificuldade – mas ganhei quatro horas e por isso valeu a pena.

“Ganhei quatro horas”! Ao ouvir estas palavras não pude deixar de pensar comigo mesmo: “Se para ganhar quatro horas valeu a pena fazer um tão grande esforço, quanto mais para ganhar a Eternidade!” E, contudo, existem milhares de pessoas, que embora sejam bastante prudentes em tudo o que se refere aos seus interesses mundanos, parecem não ter um mínimo de bom senso quando alguém lhes fala de seus interesses eternos!

Apesar do infinito amor de Deus para com os pecadores, manifestado na morte de Jesus Cristo na cruz; apesar do Seu declarado ódio ao pecado; da evidente brevidade da vida humana; dos terrores do julgamento depois da morte; da terrível perspectiva de sofrer insuportáveis remorsos ao achar-se no inferno, separado para sempre de Deus; apesar de tudo isso, muitos correm para o seu triste fim tão descuidados como se não existisse nem Deus, nem morte, nem julgamento, nem céu, nem inferno! Que Deus tenha misericórdia de você, leitor, se você for uma dessas pessoas, e que neste momento Ele abra os seus olhos para que você reconheça o perigo que é continuar despreocupadamente no caminho que conduz à perdição eterna.

Caro leitor, quer você acredite ou não, a sua situação é bem crítica. Não deixe, portanto, de enfrentar o quanto antes a questão da Eternidade e do destino que você terá nela, pois qualquer demora poderá ser fatal. Lembre-se de que o costume de deixar para amanhã o que se pode fazer hoje é sempre prejudicial e neste caso poderá ter consequências desastrosas. Quão verdadeiro é o ditado: “A estrada do MAIS TARDE conduz à cidade do NUNCA”! Rogo, pois, encarecidamente, querido leitor, que não continue a viajar por um caminho tão enganoso e perigoso, pois está escrito na Bíblia Sagrada: “Eis aqui agora o dia da salvação” (2 Co 6.2).

Talvez você diga: – Não sou indiferente aos interesses da minha alma; longe de mim tal pensamento, mas a minha maior inquietação exprime-se por outra palavra: INCERTEZA. Por esta razão encontro-me entre os passageiros da segunda classe de que falou.

Pois bem, amigo leitor, tanto a indiferença como a incerteza são filhas da mesma mãe: a incredulidade. A indiferença provém da incredulidade no que diz respeito ao pecado e às suas consequências presentes e eternas. A incerteza, com sua consequente inquietação, provém da incredulidade acerca do infalível remédio que Deus oferece a você. Ora, estas páginas são dirigidas especialmente àqueles que, como você, desejam ter a completa e incontestável certeza da salvação.

Até certo ponto posso compreender bem a inquietação de sua alma e estou convencido de que quanto mais sinceramente interessado você estiver neste assunto, maior será a sua avidez para ter a certeza de que está real e verdadeiramente salvo da ira divina dirigida contra o pecado. “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?” (Mt 16.26), disse o Senhor Jesus.

Suponhamos que o filho de um pai amoroso encontra-se viajando de navio. Chega, entretanto, a notícia de haver naufragado, numa costa estrangeira, o navio em que ele se encontrava. Quem poderá descrever a angústia que a incerteza produz no ânimo daquele pai enquanto não se certificar, por um testemunho fidedigno, de que o seu filho está salvo? Suponhamos ainda outra hipótese. Numa noite escura e tempestuosa você está seguindo por um caminho desconhecido. Ao chegar a uma encruzilhada você encontra alguém e lhe pergunta qual é o caminho que conduz ao povoado aonde deseja chegar, e ele, indicando um dos caminhos, responde: “Parece-me que é aquele, mas não tenho certeza; espero não estar enganado”. Você ficaria satisfeito com uma resposta tão vaga e indecisa? Decerto que não. Você precisaria ter certeza, do contrário cada passo que desse naquela direção só aumentaria a sua inquietação. Por isso, não admira que tenha existido homens que, sentindo-se pecadores expostos à ira divina, não conseguiram mais dormir, e nem mesmo comer, enquanto a questão da salvação de suas almas não estivesse resolvida. Podemos sentir muito pela perda de nossos bens, ou talvez até mesmo pela perda de nossa saúde, mas o mais penoso de tudo seria a perda de nossa alma.

Pois bem, amigo leitor, há três coisas que, com o auxílio do Espírito Santo, desejo mostrar a você, as quais, na própria linguagem das Sagradas Escrituras são as seguintes:

1. O CAMINHO DA SALVAÇÃO (Atos 16.17).

2. O CONHECIMENTO DA SALVAÇÃO (Lucas 1.77)

3. A ALEGRIA DA SALVAÇÃO (Salmo 51.12).

Estas três coisas, embora intimamente ligadas, baseiam-se, todavia, cada uma delas, em verdades diferentes, de modo que é muito possível uma pessoa saber qual é o caminho da salvação, sem contudo ter o conhecimento de estar pessoalmente salva; ou mesmo conhecer que está salva, sem possuir contudo a alegria que deve acompanhar esse conhecimento. Falaremos, pois, em primeiro lugar do

CAMINHO DA SALVAÇÃO

A primeira parte da Bíblia Sagrada, o Antigo Testamento, está repleta de figuras ou símbolos de coisas espirituais, como diz o apóstolo Paulo: “Tudo o que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito” (Rm 15.4). Vejamos, pois, qual o sentido espiritual de uma dessas figuras contidas no Antigo Testamento, no livro de Êxodo, onde se lêem estas palavras em relação à lei dada por Deus, por intermédio de Moisés, ao seu povo na antiguidade: “Porém tudo o que abrir a madre da jumenta, resgatarás com cordeiro; e se o não resgatares, cortar-lhe-ás a cabeça: mas todo o primogênito do homem entre teus filhos resgatarás” (Êx 13.13). Com estas palavras na memória, voltemos, em pensamento, a uns três mil anos atrás e vamos supor que nos encontramos perto de dois homens que estão conversando seriamente, um deles sacerdote de Deus e o outro um simples e pobre camponês israelita. Nossa atenção é atraída pelos gestos e pela maneira de ambos, que demonstra estarem tratando de um assunto importante. Ao observá-los, descobrimos que o assunto diz respeito a um jumentinho que está ao lado deles.

– Vim perguntar – diz o pobre israelita – se não pode ser feita uma exceção a meu favor, só desta vez. Este animal é o primogênito de uma jumenta que tenho e, embora eu saiba o que diz a lei de Deus a seu respeito, espero que haja misericórdia e seja poupada a vida do jumentinho. Sou apenas um pobre em Israel e não posso pensar em perder este animal.

O sacerdote, porém, responde com firmeza:

– A lei de Deus é clara e não admite dúvidas: “TUDO o que abrir a madre da jumenta, resgatarás com cordeiro; e se o não resgatares, cortar-lhe-ás a cabeça”. Por que, então, você não traz um cordeiro?

– Ah, senhor, não tenho nenhum cordeiro! – replica o homem.

– Então vá comprar um e traga-o aqui; caso contrário o jumento terá que ser morto.

– Ai de mim! – exclama o pobre homem – neste caso todas as minhas esperanças estão perdidas, pois sou muito pobre e não posso de maneira alguma comprar um cordeiro.

Mas, durante a conversa, aproxima-se uma terceira pessoa que, ouvindo a triste história do homem, volta-se para ele e lhe diz bondosamente:

– Não fique desanimado, pois posso resolver o seu problema. Temos em casa um cordeiro que é muito querido de todos os de minha família, pois não tem nem uma única mancha nem defeito algum, e nunca se extraviou; vou já buscá-lo.

Pouco depois o homem está de volta, trazendo o cordeiro que em seguida é morto e o seu sangue derramado. O sacerdote volta-se então para o pobre israelita e lhe diz:

– Agora você pode levar o seu jumentinho para casa e ficar certo de que não precisará matá-lo. Graças ao seu amigo, o cordeiro morreu no lugar dele e, portanto, o jumentinho fica, com toda a justiça, totalmente livre.

Ora, querido leitor, acaso você não vê nisto um quadro divino da salvação do pecador? Em consequência dos seus pecados a justiça de Deus exige a sua morte, isto é, o seu justo castigo. A única alternativa que resta a você é a morte de um substituto aprovado por Deus. Você jamais poderia, de si mesmo, providenciar o necessário para sair da desesperada situação em que se encontra. Deus, porém, na Pessoa de Seu amado Filho, supriu, Ele próprio, um Substituto: “Eis o Cordeiro de Deus”, disse João Batista aos seus discípulos ao contemplarem o bendito e imaculado Salvador. “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29).

E, com efeito, Jesus subiu ao Calvário, “levado como a ovelha para o matadouro” (At 8.32), e ali “padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus” (1 Pd 3.18). “O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação” (Rm 4.25). De modo que Deus, ao justificar o ímpio que crê em Jesus; ao absolvê-lo de toda a culpa, em nada sacrifica as justas exigências do Seu trono dirigidas contra o pecado. Ele é absolutamente justo em assim justificar aquele que tem fé em Jesus (Romanos 3.26). Bendito seja Deus, por nos dar um tal Salvador e uma tal salvação!

Caro leitor, você crê no Filho de Deus? Se você responder “Sim! Como um pecador condenado tenho encontrado nEle Aquele em Quem posso confiar com toda a segurança. Creio verdadeiramente nEle!”, neste caso posso lhe assegurar que, perante Deus, o grande valor do sacrifício e morte de Cristo, conforme Deus o aprecia, aproveita tanto à sua alma como se você mesmo tivesse sofrido, em si mesmo, a condenação merecida.

Oh, que admirável salvação é esta! É grande, é digna de Deus! Por ela Deus satisfaz os desejos do Seu bondoso coração, dá glória ao Seu amado Filho, e assegura a salvação do pobre pecador que nEle crê. Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que determinou que o Seu próprio Filho completasse essa grande obra e recebesse por ela todo o louvor; e que nós, pobres criaturas culpadas, não somente alcançássemos toda a bênção por meio da fé nEle, mas também gozássemos eternamente a bem-aventurada companhia dAquele que assim nos abençoou! “Engrandecei ao Senhor comigo, e juntos exaltemos o Seu nome” (Sl 34.3).

Mas, talvez você pergunte ansiosamente: “Como é que ainda não tenho completa certeza da minha salvação, embora já não confie mais em mim mesmo, nem nas minhas obras, mas só, única e inteiramente em Cristo e na Sua obra? Como é que, se um dia os sentimentos do meu coração me dizem que estou salvo, no dia seguinte me vejo assaltado de dúvidas? Sou como um navio surpreendido pela tempestade, sem poder achar ancoradouro seguro em nenhuma parte”. Ah! eis aí o seu engano, e vou explicar o por quê. Porventura você já ouviu falar de algum capitão que procurasse ancorar seu navio lançando a âncora para dentro do próprio navio? Nunca! Ele sempre a lança para fora!

Vejamos, então, o seu caso. Pode ser que você já esteja completamente convencido de que a segurança de sua alma, quanto ao julgamento divino, depende somente da morte de Cristo; porém você imagina, ao mesmo tempo, que são os seus sentimentos que hão de lhe dar a CERTEZA da sua participação nos benefícios dessa morte. Vamos olhar novamente para a Bíblia, pois quero que você veja nela o modo como, pela Sua Palavra, Deus nos dá:

O CONHECIMENTO DA SALVAÇÃO

Antes, porém, de procurarmos o versículo que você deve ler cuidadosamente, o qual nos ensina COMO UM CRENTE PODE SABER QUE TEM A VIDA ETERNA, permita-me citá-lo de maneira errada, ou seja, da maneira como muitos parecem entendê-lo: “Estes alegres sentimentos vos dou a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus”. Compare agora isto com a bendita e inalterável Palavra divina, e permita Deus que você possa se firmar nela, rejeitando todos os pensamentos vãos. Ora, o versículo de que falei é o versículo 13 do capítulo 5 da Primeira Epístola de João, que na Bíblia (Versão Almeida Atualizada) está escrito assim: “ESTAS COISAS VOS ESCREVI a fim de SABERDES que TENDES a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus”.

A história sagrada do Antigo Testamento nos relata um acontecimento que explica exatamente o modo pelo qual nós podemos ter a inabalável certeza da salvação de que o versículo acima nos fala. Esse acontecimento é a saída do povo de Israel da terra do Egito, o que lemos no capítulo 12 do livro de Êxodo. Como podiam os primogênitos do povo de Israel saber, com toda a certeza, que estavam seguros durante aquela terrível noite da Páscoa, quando Deus derramava sobre o Egito o Seu tremendo castigo? Vamos supor que nos encontramos no Egito nessa solene ocasião, e que visitamos duas das casas dos israelitas. Na primeira casa encontramos toda a família aterrorizada e cheia de receios, dúvidas e incertezas:

– Qual é o motivo de tanta palidez e medo?- perguntamos.

– Ah! – responde o primogênito, – o anjo da morte vai atravessar a terra do Egito esta noite, e não sei o que será de mim quando chegar a meia-noite. Só depois que o anjo exterminador tiver passado por nossa casa, e a hora do juízo tiver terminado, é que saberei que estou salvo, mas antes disso não sei como posso ter a certeza de que nada me há de acontecer. Os nossos vizinhos do lado dizem que têm certeza da sua segurança, mas acho que isso é ter muita presunção. O melhor que eu posso fazer é passar esta longa e terrível noite esperando que tudo me saia bem.

– Porém – inquirimos – o Deus de Israel não providenciou um meio de segurança para o Seu povo?

– Certamente que sim – responde ele – e nós já usamos esse meio. O sangue de um cordeiro de um ano, cordeiro sem defeito algum, já foi devidamente espargido com um molho de hissopo sobre a verga e ombreiras da porta; mas apesar disso, não temos ainda plena certeza de que eu esteja seguro.

Deixemos agora esta pobre gente, atribulada e cheia de dúvidas, e entremos na casa ao lado. Que notável contraste se apresenta logo à nossa vista! A paz e o sossego brilham em todos os rostos. Ali estão todos, de cajado na mão, a comer o cordeiro assado e já prontos para caminhar.

– Qual é o motivo de tão grande tranquilidade em noite tão solene? – perguntamos.

– Ah! – respondem todos – estamos aguardando as ordens de Jeová, nosso Deus, para sairmos de viagem, quando então daremos as últimas despedidas ao chicote do tirano e à cruel escravidão do Egito.

– Mas esperem! Vocês estão se esquecendo de que à meia-noite o anjo de Deus vai percorrer a terra do Egito, ferindo de morte os primogênitos…?

– Sabemos disso muito bem, mas o nosso filho já está perfeitamente seguro porque já espargimos o sangue na porta, segundo a vontade e ordem do nosso Deus.

Mas também os vizinhos fizeram o mesmo, – respondemos, – e contudo estão todos tristes, porque não têm nenhuma certeza de segurança.

– Ah – diz o primogênito com firmeza – mas nós não temos somente o sangue espargido: temos também uma confiança absoluta na Palavra inabalável do nosso Deus. Deus disse: “Quando Eu vir o sangue, passarei por vós”. Portanto Deus fica satisfeito VENDO O SANGUE lá fora, e nós aqui dentro ficamos descansando na SUA PALAVRA. O sangue espargido é a base da nossa segurança. A palavra proferida por Deus é a base da nossa certeza de salvação. Porventura há alguma coisa que possa tornar-nos mais seguros do que o sangue espargido, ou que possa dar-nos mais certeza do que a Palavra proferida por Deus? Nada, absolutamente nada. Eis a razão da nossa paz!

Ora, leitor, qual dessas duas famílias você acha que estava mais ao abrigo da espada do anjo da morte? Talvez você diga que era a segunda, onde todos gozavam daquela tranquila confiança. Você está enganado: ambas estavam igualmente seguras, pois a segurança de ambas dependia, não dos sentimentos dos que estavam dentro da casa, mas sim da maneira como Deus apreciava o sangue espargido fora da casa, sobre a porta. Se você quiser ter a certeza da sua própria salvação, leitor, não dê atenção aos seus sentimentos, mas sim ao testemunho infalível da Palavra de Deus. “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim TEM a vida eterna” (Jo 6.47).

A fim de esclarecer mais este ponto, vou me valer de um simples exemplo tirado da vida cotidiana. Certo lavrador, não tendo pastagens suficientes para o seu gado, e ouvindo dizer que uma bela pastagem próxima à sua casa está para alugar, comunica ao proprietário seu interesse em arrendá-la. Passa-se algum tempo sem que receba resposta do proprietário. Enquanto isso, um vizinho visita o lavrador e lhe diz:

– Estou certo de que ele alugará a pastagem a você. Você não se lembra de que no último ano o proprietário enviou-lhe um presente de caça, e não recorda também da maneira como o cumprimentou quando passou por sua casa há alguns dias?” Eis agora o lavrador todo cheio de esperanças!

No dia seguinte encontra-se com outro vizinho, que durante a conversa lhe diz:

– Receio que você não poderá usar aquela pastagem. Ouvi dizer que o sr. Fulano também a quer, e você sabe como ele é amigo do proprietário.

Esta notícia faz desvanecer as esperanças do pobre lavrador; e assim continua ele; um dia muito esperançoso, outro dia cheio de dúvidas. Por fim recebe uma carta pelo correio e, ao reconhecer a letra do proprietário da pastagem, abre-a com viva ansiedade; mas à medida que vai lendo, o sobressalto vai se transformando em satisfação que se lhe retrata no rosto.

– Está tudo resolvido,- exclama, dirigindo-se à sua esposa; – acabaram-se as dúvidas e os receios! O proprietário diz que me arrenda a pastagem por todo o tempo que eu quiser, e em condições muito favoráveis. Isto me basta; agora já não me importo mais com a opinião de ninguém, seja lá quem for; a palavra do proprietário assegura-me a posse.

Quantas pobres almas há por aí, às quais acontece o mesmo que aconteceu ao lavrador; andam agitadas e perturbadas porque escutam as opiniões dos homens, ou se ocupam com os pensamentos e sentimentos dos seus próprios corações, ao passo que, se com sinceridade recebessem a Palavra de Deus, como sendo a Palavra de Deus, as dúvidas que os atribulam cederiam imediatamente seu lugar à CERTEZA.

As Escrituras dizem que aquele que crê está salvo, e que aquele que não crê está condenado. Não pode haver dúvida, nem em um caso nem em outro, pois é Deus Quem o diz, e para o crente de coração sincero a Palavra de Deus resolve tudo. “Porventura diria Ele, e não o faria? ou falaria, e não o confirmaria?” (Nm 23.19). Deus tem falado, e o crente, satisfeito, pode dizer:

Mais provas não exijo eu
Nem mais demonstração;
Já sei que Cristo padeceu
Para minha salvação.

Mas, talvez haverá alguém que ainda pergunte: “Como hei de saber com certeza se tenho a verdadeira fé?” A esta pergunta temos que responder com outra pergunta: “Você tem fé no verdadeiro Salvador: isto é, no bendito Filho de Deus?” A questão não é saber se a sua fé é muita ou pouca, forte ou fraca, mas se a Pessoa em quem você colocou a sua confiança é digna dela. Há alguns que se agarram a Cristo com uma energia semelhante à do homem que se afoga. Há outros, porém, que apenas tocam, por assim dizer, na orla do Seu vestido; mas os primeiros não estão mais seguros do que os últimos. Todos fizeram a mesma descoberta, isto é, que em si mesmos não há nada em que possam confiar, mas que podem todavia fiar-se seguramente em Cristo, podem fiar-se tranquilamente na Sua Palavra, e podem, portanto, descansar com toda a confiança na eterna eficácia da Sua obra perfeita. É isto que se entende por crer nEle, e é Sua a promessa: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim, tem a vida eterna” (Jo 6.47).

Portanto, cuidado leitor; não ponha sua confiança nas suas boas intenções ou no seu arrependimento e penitências, ou em quaisquer outros atos religiosos, nem mesmo nos seus piedosos sentimentos, nem na educação moral que possa ter recebido, nem em quaisquer outras coisas semelhantes. É até possível que você confie firmemente em algumas destas coisas, ou em todas elas juntas, e contudo venha a perder-se eternamente; porém a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, por mais fraca que seja, salva eternamente, ao passo que a fé, mesmo que forte, em outra coisa ou pessoa qualquer é apenas o fruto de um coração enganado.

Deus, no Evangelho, apresenta a você o Senhor Jesus Cristo, e diz: “Este é o meu Filho amado, em Quem Me comprazo” (Mt 3.17). É como se Deus dissesse: “Ainda que você não possa confiar em si mesmo, pode contudo confiar sem receio em Jesus”. Bendito, mil vezes bendito Senhor Jesus! Quem não há de confiar em Ti e exaltar o Teu nome?

– Creio deveras nEle, – disse-me um dia uma jovem, com certa tristeza, – todavia não me atrevo a dizer que estou salva, com receio de dizer talvez uma mentira.

Esta jovem era filha de um negociante de gado em uma pequena vila, e seu pai havia ido, naquele mesmo dia, à feira e ainda não tinha voltado.

– Suponhamos agora – disse-lhe eu – que quando seu pai voltar você lhe pergunte quantas ovelhas comprou hoje, e ele responda: “Dez”. Suponhamos ainda que logo em seguida entre um freguês e lhe pergunte: “Quantas ovelhas seu pai comprou hoje?” Porventura você responderia: “Não me atrevo a dizer, com receio de mentir”?

Nisto, a mãe da menina, que escutava nossa conversa, disse com certa indignação: – Isso seria o mesmo que dizer que seu pai é mentiroso.

Ora, querido leitor, você não percebe que essa menina, embora bem intencionada, estava realmente a fazer do Senhor Jesus um mentiroso, quando dizia: “Eu creio no Filho de Deus, porém não me atrevo a dizer que tenho a vida eterna, porque receio dizer talvez uma mentira”? Que incredulidade!

– Mas, – alguém poderá dizer, – como posso ter a certeza de que realmente creio? Tenho me esforçado muitas vezes para crer, e procurado ler no meu íntimo se o tenho conseguido; mas quanto mais penso na minha fé, a mim menos parece que eu creia.

Meu amigo, a maneira como você olha para estas coisas não poderia ter outro resultado, e o fato de você dizer que se esforça para crer demonstra claramente que não compreende a questão. Deixe-me, portanto, apresentar-lhe outro exemplo para explicar melhor este ponto.

Suponhamos que você se encontre certa noite em sua casa e entre alguém dizendo que o chefe da estação da estrada de ferro acaba de morrer esmagado por um trem. Acontece, porém, que esse indivíduo que lhe traz a notícia há muito tempo é tido em toda a vizinhança como um grande mentiroso. Você acreditaria nele, ou se esforçaria para acreditar nele?

– Decerto que não! – você me responderá prontamente.

– E por que não?

– Porque eu o conheço bem demais para saber que é um mentiroso.

– Mas, – pergunto – como é que você sabe que não crê no que ele disse? Será que para isso você precisou examinar sua fé?

– Não; é porque sei que o homem que me dá a notícia não é digno de confiança.

Pouco depois entra um outro indivíduo e diz:

– O chefe da estação foi hoje atropelado por um trem e ficou esmagado.

Após ele sair, escuto você dizer prudentemente:

– Agora estou quase crendo que seja verdade, pois conheço este homem desde pequeno e pelo que me lembre, só me enganou uma vez.

– Ora, – pergunto eu de novo, – será que desta vez você sabe que quase crê por ter examinado sua própria fé?

– Não; é porque tenho em conta o caráter de quem me dá a notícia.

Este homem acaba de sair de sua casa e entra um terceiro. Este, que é um amigo que lhe inspira a mais absoluta confiança, não faz mais do que confirmar a notícia. Desta vez então você diz:

– Agora é que creio, João; por ser você quem está me afirmando isto, eu posso crer.

Insisto ainda na minha pergunta, que como você há de recordar, é apenas um eco da sua:

– Como é que você pode SABER agora que crê tão positivamente no que disse o seu amigo?

– É porque conheço bem a pessoa e o caráter dela – você me responde. – Nunca, em toda a sua vida, me enganou, e não a julgo capaz de fazê-lo.

Pois bem, é justamente por esta razão que eu também sei que creio no Evangelho: é por ele me ser mandado pelo próprio Deus. O apóstolo João diz: “Se recebemos o testemunho dos homens, o TESTEMUNHO DE DEUS é maior; porque o testemunho de Deus é este, que de Seu Filho testificou… quem a Deus não crê mentiroso O fez: PORQUANTO NÃO CREU NO TESTEMUNHO que Deus de Seu Filho deu” (1 Jo 5.9,10). E Paulo diz: “Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça” (Rm 4.3).

Em certa ocasião uma pessoa ansiosa pela salvação disse a um servo de Deus:

– Ah! senhor, eu não posso crer! -, ao que lhe respondeu o pregador com muito acerto:

– É verdade?… E em QUEM você não pode crer? – Esta simples pergunto foi suficiente para lhe abrir os olhos. Até ali tinha pensado que a fé era alguma coisa misteriosa que deveria sentir dentro de si, e que sem senti-la não poderia ter certeza da sua salvação. Mas afinal a fé do crente faz com que ele olhe, não para si mesmo, mas, ao contrário, para Cristo e para a Sua obra consumada no Calvário, e o leve a aceitar confiadamente o testemunho que um Deus fiel dá acerca de ambos e assim alcança a paz. Quando uma pessoa se volta para o sol, a sua sombra fica para trás; assim também quando nos voltamos para Cristo glorificado no céu, não mais nos preocupamos conosco.

Fica pois demonstrado que a bendita PESSOA do Filho de Deus ganha a nossa confiança; a Sua OBRA CONSUMADA nos dá segurança eterna; e a PALAVRA de Deus, acerca de todo o que nEle crê, nos dá a certeza inalterável de tal segurança. Encontramos em Cristo e na Sua obra o caminho da Salvação; e na Palavra de Deus o conhecimento da Salvação.

– Mas – dirá talvez o leitor, – se tenho a vida eterna, como é que tenho sentimentos tão inconstantes, perdendo com frequência toda a minha alegria e consolação, achando-me sem paz e quase tão triste como antes de ter sido convertido?

Esta pergunta nos leva a tratar de nosso terceiro ponto que é:

O GOZO DA SALVAÇÃO

A Palavra de Deus nos ensina que, enquanto o crente é salvo da ira futura pela obra de Cristo, e tem a certeza da salvação pela Palavra de Deus, ele conserva a consolação e alegria pelo poder do Espírito Santo que habita em si (1 Co 6.19).

Convém lembrar que toda pessoa salva ainda tem em si o que as Sagradas Escrituras chamam de “carne”, isto é, a natureza pecaminosa com que nascemos, e que começa a se manifestar desde a nossa mais tenra infância. O Espírito Santo no crente resiste à “carne”, e fica entristecido sempre que ela se manifesta por pensamentos, palavras ou obras. Quando o crente procede de um modo digno do Senhor, o Espírito Santo produz em sua alma o seu bendito fruto: amor, gozo, paz, etc. (veja Gálatas 5.22). Porém quando ele procede de um modo carnal e mundano, o Espírito Santo é entristecido e, como consequência, falta, na vida do crente, este fruto espiritual.

Permita-me, leitor, expor sua situação, como crente, da seguinte forma:

A obra de Cristo e a sua salvação: Ficam em pé ou caem juntamente;

O seu comportamento e o seu gozo: Ficam em pé ou caem juntamente.

Se fosse possível a obra de Cristo cair por terra, o que graças a Deus nunca poderá acontecer, a sua salvação cairia juntamente com ela. Porém, quando por qualquer descuido você não tiver um comportamento próprio de um cristão, (o que pode muito bem acontecer), você ficará também sem desfrutar o gozo.

Em Atos dos Apóstolos, está escrito a respeito dos primeiros cristãos que andavam “no TEMOR DO SENHOR e CONSOLAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO” (At 9.31); e também “os discípulos estavam cheios de ALEGRIA e do ESPÍRITO SANTO” (At 13.52). Depois de sermos convertidos, o nosso gozo espiritual será sempre proporcional ao caráter espiritual do nosso comportamento.

Você percebe agora, leitor, em que consiste o seu engano? Você tem confundido duas coisas diversas, que são: a segurança da salvação, e o gozo que resulta dela. Se porventura você entregar-se à sua vontade-própria, ao seu mau gênio, ou aos prazeres mundanos, etc., o Espírito Santo Se entristecerá e logo você perderá sua alegria
espiritual e talvez pense ter perdido também a sua segurança. Repito, porém, mais uma vez:

A sua SEGURANÇA depende da obra que Cristo fez por você.

A sua CERTEZA depende da Palavra que Deus dirige a você.

O seu GOZO depende de você não entristecer o Espírito Santo que habita em você.

Se você, sendo filho de Deus, entristecer o Espírito Santo, a sua comunhão com Deus Pai e com o Seu bendito Filho ficará, como conseqüência, logo interrompida; e enquanto você, arrependido, não reconhecer e confessar o seu pecado a Deus, aquela comunhão e aquele gozo não lhe serão restaurados.

Suponhamos que uma criança qualquer faça uma maldade. Sentindo que praticou o mal e desconfiando que seus pais já saibam do ocorrido, ela mostra logo em seu rosto os evidentes sinais de perturbação. Meia hora antes ela estava alegre a gozar juntamente com os pais de um passeio no jardim, agradando-se naquilo que agradava a eles também, e gozando aquilo que eles também desfrutavam. Em outras palavras, ela estava em comunhão com eles; tinham todos os mesmos sentimentos. Mas isso cessou num momento, e como criança travessa e desobediente, nós a encontramos agora em um canto, toda triste. Os pais, notando sua tristeza, perguntam-lhe pelo motivo, dizendo-lhe que, se tiver feito qualquer maldade, deve confessar tudo e eles a perdoarão; mas o orgulho e a teimosia a mantém ali calada.

Onde está agora a alegria que essa criança tinha há meia hora? Desapareceu completamente. Por que? Porque se interrompeu a comunhão entre ela e seus pais, devido à sua maldade. Mas o que é feito do parentesco que, há meia hora, existia entre ela e seus pais? Porventura desapareceu isto também? Acaso cessou ou se interrompeu? Certamente que não.

O seu PARENTESCO depende do seu nascimento.

A sua COMUNHÃO depende do seu comportamento.

Passado, porém, algum tempo, ela sai do canto, onde tinha permanecido, e já arrependida e com o coração quebrantado, humilha-se e confessa toda a sua falta, do princípio ao fim, de modo que os pais percebem que ela odeia agora, tanto quanto eles, a sua desobediência e travessura. Então, tomando-a nos braços, cobrem-na de beijos. A sua alegria restabelece-se, porque também a sua comunhão com os pais está agora restabelecida.

Lemos que o rei Davi, tendo em certa ocasião pecado gravemente, se arrependeu e voltou-se para Deus orando: “Torna a dar-me a alegria da tua salvação” (Sl 51.12). Notemos que não pediu que lhe fosse restituída a salvação, mas a alegria da salvação.

Imaginemos agora o caso de outra maneira. Suponhamos que enquanto a criança se encontrava no canto, soluçando e sem dar provas de querer reatar comunhão com seus pais, se ouvisse um grito de “Fogo!” O que iria ser da criança? Porventura seus pais a deixariam naquele canto para ser consumida pelo fogo que devora a casa? Impossível! Seria até mais provável que ela fosse a primeira pessoa que os pais tirariam para fora de casa e poriam a salvo. Todos devem saber perfeitamente que o amor de parentesco é uma coisa, e que o gozo da comunhão é outra inteiramente diferente.

Ora, quando um crente cai em pecado, a sua comunhão com Deus Pai fica por algum tempo interrompida, e falta-lhe o gozo até que, com o coração contrito, se volte para o Pai e Lhe confesse os seus pecados. Então, confiando na Palavra de Deus, sabe que está de novo perdoado; porque a Sua Palavra claramente diz que: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo, para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça” (1 Jo 1.9).

Assim, pois, ó filho querido de Deus, lembre-se sempre destas duas importantes verdades: que não há nada tão forte como o LAÇO DE PARENTESCO; e nada há tão frágil como o LAÇO DA COMUNHÃO. Todas as forças e todas as maquinações da terra e do inferno reunidas não podem quebrar o primeiro, ao passo que basta apenas um pensamento impuro, ou uma palavra leviana, para quebrar imediatamente o segundo.

Se porventura você tiver alguma vez a sua alma atribulada, humilhe-se perante Deus, e examine a sua consciência. E quando você tiver descoberto o ladrão, o pecado que lhe roubou a alegria, traga-o para a luz da presença de Deus; isto é, confesse o seu pecado a Deus, seu Pai, e julgue-se a si mesmo, pelo seu descuido e pela falta de vigilância da sua alma que, assim, deixou entrar às escondidas o inimigo. Mas não confunda nunca, NUNCA, a sua segurança com o seu gozo.

Não imagine, todavia, que o julgamento de Deus é menos severo contra o pecado do crente, do que contra o do incrédulo. Ele não tem dois modos diferentes de tratar com o pecado. Seria impossível a Deus passar por alto, sem julgar, tanto os pecados do crente como os do incrédulo que rejeita ao Seu precioso Filho. Há, porém, entre os dois casos a seguinte diferença:

O pecado do crente foi previsto por Deus, havendo-o lançado sobre Cristo, o Cordeiro divino, quando Este foi crucificado no Calvário. Ali, de uma vez para sempre, foi levantada a grande questão criminal da sua culpa, recaindo o castigo, que o crente merecia, sobre o seu bendito Substituto. “Levando Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” (1 Pd 2.24). O incrédulo, porém, que rejeita ao Senhor Jesus Cristo, há de sofrer, ele próprio, as consequências eternas dos seus pecados no lago de fogo.

Ora, quando um crente comete uma falta, a questão criminal do pecado não pode ser suscitada novamente contra ele, porque o próprio Jesus, constituído agora o Juiz de todos, é Quem a resolveu de uma vez para sempre sobre a cruz; porém a questão da comunhão é levantada dentro da sua alma pelo Espírito Santo, todas as vezes que o crente O entristece.

Permita-me que, em conclusão, me sirva de outro exemplo. Imaginemos uma noite serena e magnífica, com a lua brilhando com o seu maior esplendor. Um homem está olhando atentamente para um lago profundo, em cuja superfície a lua se reflete admiravelmente e, dirigindo-se a um amigo que está ao seu lado, lhe diz:

– Como a lua está linda esta noite, tão cheia e brilhante!

Porém, apenas acaba de falar, seu companheiro deixa cair uma pedra dentro do lago e logo o primeiro exclama:

– Que é isto? a lua fez-se em pedaços, e os seus fragmentos estão batendo uns contra os outros na maior confusão!

– Que absurdo! – responde seu companheiro. – Olhe para cima e você verá que a lua não mudou em coisa alguma. A superfície da água do lago, que a reflete, é que sofreu mudança, ficando agitada.

Amigo crente, aplique a você mesmo este simples exemplo. O seu coração é como o lago. Quando você não concede nele lugar para o mal, o bendito Espírito de Deus revela a você as perfeições e glórias de Cristo, para sua consolação e gozo. Mas no exato momento em que você acolhe em seu coração um mau pensamento, ou que de seus lábios escapa uma palavra ociosa, sem ser logo julgada, o Espírito Santo começa, por assim dizer, a alterar a superfície do lago, e a sua felicidade e gozo se desvanecem fazendo com que você fique inquieto e perturbado até que, com espírito quebrantado diante de Deus, Lhe confesse o pecado que tem sido a causa da sua perturbação. Aí então ficará restaurado o sossego de seu espírito, e você desfrutará de novo o gozo da comunhão com Deus.

Enquanto o seu coração se sente assim intranquilo, porventura você acha que a OBRA DE CRISTO SOFREU ALGUMA MUDANÇA? Isto jamais poderá acontecer; e por conseqüência também a realidade da sua salvação não sofreu mudança. Mudou a PALAVRA DE DEUS? É claro que não. Então permanece inabalável a certeza da sua salvação. O que foi que mudou então? A AÇÃO DO Espírito SANTO em você. Ele, em vez de lhe mostrar as glórias do Senhor Jesus, e de assim encher o seu coração com o sentimento do valor da Pessoa e da obra de Cristo, Se vê na necessidade de deixar essa preciosa ocupação para encher a sua consciência com o sentimento do seu próprio pecado, sua fraqueza e sua falha. Ele o privará de sua consolação e de seu gozo enquanto você mesmo não se julgar, reprovando o mal que Ele julga e reprova. Porém, quando isto
acontece, restabelece-se novamente a sua comunhão com Deus. Que, pela graça do Senhor, tenhamos sempre uma santa vigilância sobre nós mesmos, a fim de não entristecermos “o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção” (Ef 4.30).

Querido leitor, por mais fraca que seja a sua fé, fique certo de que o bendito Senhor em Quem você tem depositado sua confiança jamais mudará. “Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e ETERNAMENTE” (Hb 13.8). A OBRA de Cristo consumada jamais mudará: “tudo quanto Deus faz durará ETERNAMENTE: nada se lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar” (Ec 3.14). A PALAVRA por Deus pronunciada jamais mudará. “Secou-se a erva, e caiu a sua flor: mas a palavra do Senhor permanece PARA SEMPRE” (1 Pd 1.24,25).

Assim, pois, o alvo da nossa fé, o fundamento da nossa esperança, e a base da nossa certeza, são igualmente perduráveis. Com confiança então podemos já cantar:

Ó Deus e Pai, Te agradecemos
A paz, perdão e Teu amor;
Com gratidão reconhecemos
Que temos parte em Teu favor.

Permita-me, pois, leitor, que pergunte a você uma vez mais: “Em que classe você está viajando?” Eleve a Deus o seu coração e dê-Lhe já, sem demora, a sua resposta.

“Quem a Deus não crê mentiroso o fez: porquanto não creu no testemunho que Deus de Seu Filho deu” (1 Jo 5.10). “Aquele que aceitou o Seu testemunho, esse confirmou que DEUS É VERDADEIRO” (Jo 3.33).

Querido leitor, meu desejo é que a alegre certeza de possuir esta tão grande salvação encha o seu coração e domine toda a sua vida, agora e até que Jesus venha.

Escrito por George Cutting (1834 – 1934) por volta de 1900

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Vida cristã

Características de Abuso Espiritual

Muitas pessoas estão tão mergulhadas no sistema que nem percebem que são vítimas disso. Lawrence A. Pile no artigo The Other Side of Discipleship (http://wellspringretreat.org/other_side.html) lista sete características de grupos que ele chama de TACOs (totalist aberrant Christian organizations), as quais vou citar aqui e fazer meus comentarios pessoais (os itens são do artigo e as descrições são minhas). Quando li o artigo fiquei impressionado como as coisas se repetem (vejo isso acontecendo em varias denominações). O pior é que essas coisas são vistas até com naturalidade e as pessoas não conseguem nem imaginar que poderia ser diferente.

1) Scripture Twisting (Distorção da Escritura): para defender os abusos usam de doutrinas do tipo “cobertura espiritual”, distorcem o sentido biblico da autoridade e submissão, etc. Encontram justificativas para qualquer coisa. Estes grupos geralmente são fundamentalistas e superficiais em seu conhecimento bíblico. O que o lider ensina é aceito sem muito questionamento e nem é verificado nas Escrituras se as coisas são mesmo assim, ao contrario do bom exemplo dosbereanos que examinavam tudo o que Paulo lhes dizia.

2) Autocratic Leadership (liderança autocrática): discordar do líder é discordar de Deus. É pregado que devemos obedecer ao ditador, digo discipulador, mesmo que este esteja errado. Um dos “bispos” de uma igreja diz que se jogaria na frente de um trem caso o “apóstolo” ordenasse, pois Deus faria um milagre para salvá-lo ou a hora dele tinha chegado. A hierarquia é em forma de pirâmide (às vezes citam o salmo 133 como base), e geralmente bastante rígida. Em muitos casos, não é permitido chamar alguém com cargo importante pelo nome (seria uma desonra), mas sim pelo cargo que ocupa, como por exemplo “pastor Fulano”, “bispo X”, “apóstolo Y”, “o rimão, etc. Alguns afirmam crer em “teocracia” e se inspiram nos líderes do Antigo Testamento. Dizem que democracia é do demônio, até no nome.

3) Isolationism (Isolacionismo): o grupo possui um sentimento de superioridade. Acredita que possui a melhor revelação de Deus, a melhor visão, a melhor estratégia. Eu percebi que a relação com outros ministérios se dá com o objetivo de divulgar a marca (nome da denominação), para levar avivamento para os outros ou para arranjar público para eventos. O relacionamento com outros ministérios é desencorajado quando não proibido. Em alguns grupos no louvor são tocadas apenas músicas do próprio ministério.

4) Spiritual Elitism (Elitismo espiritual): é passada a idéia de que quanto maior o nível que uma pessoa se encontra na hierarquia da denominação, mais esta pessoa é espiritual, tem maior intimidade com Deus, conhece mais a Biblia e até que possui mais poder espiritual (unção). Isso leva à busca por cargos. Quem está em maior nível pode mandar nos que estão abaixo. Em algumas igrejas, o número de discipulos ou de células é indicativo de espiritualidade. Em algumas igrejas existem camisetas para diferenciar aqueles que são discípulos do pastor. Quanto maior o serviço demonstrado à denominação, ou quanto maior a bajulação, mais rápida é a subida na hierarquia.

5) Regimentation of Life (controle da vida): quando os líderes, especialmente em grupos com discipulado, se metem em áreas particulares da vida das pessoas. Controlam com quem podem namorar, se podem ou não ir para a praia, se devem ou não se mudar, roupas que podem vestir, etc. É controlada inclusive a presença nos cultos. Faltar em algum evento por motivos profissionais ou familiares é um pecado grave. Um pastor, discípulo direto do líder de uma denominação, chegou a oferecer atestados médicos falsos para que as pessoas pudessem participar de um evento, e meu amigo perdeu o emprego por discordar dessa imoralidade.

6) Disallowance of Dissent (rejeição de discordâncias): não existe espaço para o debate teológico. A interpretação seguida é a dos lideres. É praticamente a doutrina da infalibilidade papal. Qualquer crítica é sinônimo de rebeldia, insubmissão, etc. Este é considerado um dos pecados mais graves. Outros pecados morais não recebem tal tratamento. Eu mesmo precisei ouvir xingamentos por mais de duas horas por discordar de posicionamentos políticos da denominação na qual congregava. Quem pensa diferente é convidado a se retirar. As denominações publicam as posições oficiais, que são consideradas, obviamente, as mais fiéis ao original. Os dogmas são sagrados.

7) Traumatic Departure (saída traumática): quem se desliga de um grupo destes geralmente sofre com acusações de rebeldia, de falta de visão, egoísmo, preguiça, comodismo, etc. Os que permanecem no grupo são instruídos a evitar influências dos rebeldes, que são desmoralizados. Os desligamentos são tratados como uma limpeza que Deus fez, para provar quem é fiel ao sistema. Não compreendem como alguém pode decidir se desligar de algo que consideram ser visão de Deus. Assim, se desligar de um grupo destes é equivalente a se rebelar contra o chamado de Deus. Muitas vezes relacionamentos são cortados e até familias são prejudicadas apenas pelo fato de alguém não querer mais fazer parte do mesmo grupo ditatorial.

Um dos lideres do movimento de discipulado nos EUA, Bob Mumford, reconheceu esses erros graves, se arrependeu e pediu perdão. É muito difícil para os líderes reconhecerem seus erros, pois acreditam estarem investidos de autoridade divina em tudo o que fazem. O orgulho cega.

Eu acredito que as coisas podem ser diferentes. Luto para que a igreja seja como Jesus quer, como vemos no Novo Testamento. Para terminar, volto ao tema com o texto de 1 Pedro 5:2-4:

“Sede pastores do rebanho de Deus, confiado a vós; cuidai dele, não por coação, mas de coração generoso; não por torpe ganância, mas livremente; não como dominadores daqueles que vos foram confiados, mas antes, como modelos do rebanho. Assim, quando aparecer o pastor supremo, recebereis a coroa permanente da glória.”

Escrito por Rolf Jesse Furstenau

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Vida cristã

Natal? Festa cristã?

Alexandre Rodrigues

O Natal sempre foi e ainda é uma data importante no calendário mágico dos adoradores dos espíritos da natureza (demônios).
O argumento de que estavam “tirando a glória do deus pagão e dando esta glória a Cristo” é um argumento muito antigo…
Imaginem vocês a repercussão daquele dia lá pelo 4º século da era cristã quando o poderoso imperador de Roma, Constantino, declarou legalizada a religião romana ou, pior ainda, imagine quando mais o imperador de Roma, Justiniano, declarou a religião cristã a religião oficial do Estado Romano…
Imaginem só o que aconteceu com os belos e esplêndidos templos greco-romanos? Viraram templos “igrejas” cristãs, santuários da fé, casas de oração…
Mas e as bonitas estátuas de dianas, apolos e jupiteres?
Viraram estátuas das virgens santas, de varões da fé, pedros, paulos e mártires…
Tudo para “maior glória de Deus”.
De fato ainda hoje na Europa existem santuários e “igrejinhas” católicas onde ainda pode-se ver curiosas estátuas representando “relações sexuais entre ninfas e faunos”, tem lá representações fálicas (quem não conhece a palavra, por favor, confira no dicionário)…
Agora, o problema, é que não estamos, na verdade, muito reocupados com “a verdade”…Somos consumistas e vivemos o “aqui e o agora”, se estou “curtindo” e “fico feliz” e “me sinto bem” toco em frente e vou lá encher minha casa de pinheirinhos, bolinhas coloridas, bolotas ou pinhas, papais noeis vermelhos com seus duendes em seu carro puxado por “renas voadoras”… E vou ai aceitando uma dezena de “costumes das nações”, coisas ridiculas que nada tiveram a ver com o nascimento de Jesus e digo que estou comemorando…
Seria como se minha esposa e filhos resolvessem comemorar meu aniversário e fizessem todo ano uma festa num dia em que eu não nasci e usassem fantasias havaianas, ovos coloridos russos, bonecos esquimós e o personagem principal para meus filhos é um velhinho bosquimano caçador de sonhos, ou seja, um tipo de pajé ou um tipo de feiticeiro africano com vestes tipicas…E ainda querem que eu me sinta honrado e me sinta a vontade…
Quem estudar um pouco sobre culturas e datas importantes ligadas aos cultos pagãos vai descobrir que 25 de dezembro é comemorado o “renascimento da luz” porque é a noite mais longa do ano, no hemisfério norte (http://paginasesotericas.tripod.com/solsticioseequinocios.htm) e era muito dificil convencer os adoradores da natureza a deixarem passar em branco um dia sagrado como aquele. O imperador romano e o clero católico tinham duas opções: forçar os pagão a não saírem aos campos para cultuar com festas aquela data ou “cristianizar” a data, ou seja, a escolha da data do Natal, não foi livre, não foi soberana e nem tampouco foi determinada por Deus.
Fica a pergunta: Deus se agrada de obediência a ele ou nos dá liberdade de ficar inventando datas e festas em homenagem a ele?
Ele é Deus de confusão?
Tabernáculo, Templo, datas e festas do AT não eram todas detalhadamente reveladas e estabelecidas por Deus através de Moisés e dos profetas?
Se você conferir as datas de festas católicas verá que muitas delas, se não todas, são datas pagãs em que pagãos continuam ocultamente com sua religião particular de adoração a natureza e a demônios. A mais evidente talvez seja o dia de finados, dia dos mortos, 2 de novembro, mesma data em que pagãos cultuavam também os mortos e iam se encontrar com demônios e espiritos da natureza… Que necessidade havia de o catolicismo instituir um “dia dos mortos”? Era a exigência e a imposição dos adoradores de demônios e o clero católico mais uma vez cedeu à pressão…
Como disse não fico criticando as pessoas que comemoram o Natal, apenas não comemoro bem como não comemoram o Natal inúmeros outros cristãos, e explico minhas razões para quem me pergunta… [E eu, Francisco, não o comemoro pelas mesmas razões.]
Enfim a comemoração do aniversário de nascimento de Jesus de um ponto de vista estritamente bíblico é ridicula. João escreveu seu evangelho e últimas epístolas uns 60 anos após a morte e ressurreição de Jesus e não menciona nem de longe tal costume, ou seja, os primeiros cristãos jamais se preocuparam em comemorar a data do nascimento de Jesus até que veio o imperador Constantino e quis dar uma desculpe para manter a festa de seu deus Sol, Mithra chamada Natalis Solis Invictus (nascimento do Sol invencível).
Reis e imperadores idólatras é que gostam de festa de aniversário.
Na Bíblia só se menciona duas festas de aniversário, uma no AT e outra no NT.
Uma é a festa de aniversário de Faraó quando José estava na prisão.
Outra é a festa de aniversário do rei Herodes quando João Batista estava na prisão.
Na festa de Faraó morreu o padeiro do rei condenado a ser enforcado.
Na festa de Herodes foi cortada a cabeça de João Batista e apresentada numa bandeja de prata.
Quem lê entenda…
“Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis vos dedicar? Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de vós, que não haja trabalhado em vão para convosco” (Gl 4.9-11).

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Charles Spurgeon Vida cristã

Apatia

A apatia está por toda a parte. Ninguém se preocupa em verificar se o que está sendo pregado é verdadeiro ou falso. Um sermão é um sermão, não importa o assunto; só que, quanto mais curto, melhor.

Charles Haddon Spurgeon

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Bíblia

O que a igreja primitiva cria acerca da autoridade da Escritura?

William Webster

A Reforma do século 16 foi responsável por restaurar à Igreja o princípio de Sola Scriptura, um princípio que havia operado dentro da Igreja Cristã a partir do início da era pós-apostólica.

Primeiro, os apóstolos de Jesus Cristo ensinaram oralmente; entretanto, com o findar da era apostólica, toda revelação especial que Deus tencionou preservar ao homem foi reunida por escrito, nas Escrituras. Sola Scriptura é, pois, o ensino, baseado na própria Escritura, de que há somente uma revelação especial de Deus que o homem possui hoje – a.s, A Bíblia.
Logo, as Escrituras devem ser materialmente suficientes e ser, por sua própria natureza (i.e., por serem inspiradas por Deus), a autoridade final para a Igreja. Isto também implica dizer que não há porção da revelação que tenha sido preservada na forma de tradição oral, independente da Palavra escrita. Não possuímos qualquer ensino de um Apóstolo atualmente – fora das Escrituras. Somente as Escrituras, então, registram para nós o ensino apostólico e a revelação final de Deus.

O Concílio de Trento negou a suficiência da Escritura

O Concílio de Trento no décimo sexto século declarou que a revelação especial de Deus não estava contida unicamente nas Escrituras. Foi estabelecido que a revelação especial estava contida em parte na forma escrita, nas Escrituras, e em parte na tradição oral – e que, portanto, as Escrituras não eram materialmente suficientes.

Esta tem sido a visão universal dos teólogos católicos romanos ao longo dos séculos, desde o Concílio de Trento. Entretanto, é interessante observar que mesmo no círculo católico romano existe um debate hodiernamente, entre os teólogos, acerca da verdadeira natureza da Tradição. Não há um claro entendimento acerca do que vem a ser a Tradição no Catolicismo Romano, atualmente. Alguns estão concordes com a definição proposta por Trento enquanto outros a rechaçam.

Os Pais Apostólicos e os Apologistas sustentaram Sola Scriptura

A visão promovida pelo Concílio de Trento contradizia a crença e a prática da Igreja Primitiva. A Igreja sustentava o princípio de Sola Scriptura. Ela cria que toda doutrina deveria ser provada a partir da Escritura e que, se alguma prova bíblica não pudesse ser extraída, tal ensino deveria ser rejeitado.

Os Pais da Igreja Primitiva (a exemplo de Inácio, Policarpo, Clemente, Barnabé e também o Didaquê) ensinaram a doutrina cristã e defenderam o Cristianismo contra as heresias. Ao fazerem isto, porém, a única autoridade para a qual apelaram foi a Escritura. Em seus escritos, exalava o espírito do Antigo e Novo Testamentos. O mesmo se diz dos escritos de apologistas como Justino Mártir e Atenágoras. Não há qualquer apelo, em qualquer desses escritos, para a autoridade da Tradição como se esta fosse um separado e independente corpo de revelação.

Irineu e Tertuliano sustentaram Sola Scriptura

É com os escritos de Irineu e Tertuliano, na segunda metade do segundo século, que encontramos, pela primeira vez, o conceito de Tradição Apostólica (uma tradição supostamente herdada pela Igreja a partir dos apóstolos, na forma oral). A palavra “tradição” significava simplesmente ensino. Irineu e Tertuliano enfatizaram que todos os ensinos dos bispos, que eram repassados oralmente, estavam arraigados na Escritura e podiam ser provados a partir dela.

Ambos apresentam o real conteúdo doutrinário da Tradição Apostólica que era oralmente pregada nas igrejas. A partir disto, pode-se ver nitidamente que toda a sua doutrina derivava da Sagrada Escritura. Não havia doutrina à qual eles se referiam como sendo Tradição apostólica que não pudesse ser encontrada na Escritura.

Em outras palavras, a Tradição apostólica, tal como definida por Irineu e Tertuliano, era simplesmente o ensino da Escritura. Foi Irineu quem declarou que, embora os Apóstolos tenham inicialmente pregado oralmente, o ensino deles foi posteriormente posto por escrito (nas Escrituras), e que as Escrituras haviam se tornado desde aquele tempo o pilar e o fundamento da fé da Igreja. Sua exata declaração é a seguinte:

“De nada mais temos aprendido o plano de nossa salvação, senão daqueles através de quem o evangelho nos chegou, o qual eles pregaram inicialmente em público, e, em tempos mais recentes, pela vontade de Deus, nos foi legado por eles nas Escrituras, para que sejam o fundamento e pilar de nossa fé.” [1]

A Tradição, quando em referência à proclamação oral, assim como a pregação ou ensino, foi vista primordialmente como a apresentação oral da verdade escriturística, ou a codificação da verdade bíblica na expressão de credo. Não há apelo nos escritos de Irineu ou Tertuliano a uma tradição, em questões de doutrina, que não seja encontrada na Escritura.

Ao contrário, estes homens tiveram de contender com os Gnósticos, os quais foram os primeiros a asseverar e ensinar que possuíam uma tradição oral apostólica que operava independentemente da Escritura. Irineu e Tertuliano rechaçaram tal noção e apelaram somente para a Escritura na proclamação e defesa da doutrina. A historiadora da Igreja, Ellen Flessman-van Leer confirma este fato:

“Para Tertuliano, a Escritura é o único meio para refutar ou validar uma doutrina quanto ao seu conteúdo… Para Irineu, a doutrina da Igreja certamente nunca é meramente tradicional; ao contrário, a noção de que poderia haver alguma verdade transmitida exclusivamente de viva voz (oralmente) é a linha de pensamento Gnóstica … Se Irineu quer provar a veracidade de uma doutrina materialmente, ele recorre à Escritura, porquanto, através dela, o ensino dos apóstolos está objetivamente acessível. A prova da tradição e da Escritura serve para um e o mesmo fim: identificar o ensino da Igreja como o ensino apostólico original. O primeiro estabelece que o ensino da Igreja é aquele ensino apostólico, e o segundo, o que este ensino apostólico de fato é”. [2]

A Bíblia era a autoridade final para a Igreja Primitiva. Era materialmente suficiente e o árbitro final em todas as matérias de verdade doutrinária, assim como J.N.D.Kelly assinala:

“A mais clara demonstração do prestígio que as Escrituras gozavam é o fato de que quase todos os esforços teológicos dos Pais, quer pretendessem ser polêmicos ou construtivos, foram dirigidos à exposição da Bíblia. Ademais, de todos era bem sabido que, para que qualquer doutrina obtivesse aceitação, primeiramente dever-se-ia estabelecer a sua base escriturística”. [3]

Heiko Oberman comenta acerca do relacionamento entre Escritura e Tradição na Igreja Primitiva:

“Para a Igreja Primitiva, a Escritura e a Tradição não eram mutuamente exclusivas em nenhum sentido: kerigma (a mensagem do evangelho), Escritura e Tradição coincidiam completamente. A Igreja pregava o kerygma, que se achava in totum na forma escrita nos livros canônicos. A tradição não era entendida como uma adição ao kerygma contido na Escritura, mas como uma forma de repassar o mesmo kerygma em forma viva; em outras palavras, tudo era encontrado na Escritura e ao mesmo tempo tudo era uma tradição viva”. [4]

Cirilo de Jerusalém sustentou Sola Scriptura

O fato de que a Igreja Primitiva era fiel ao princípio de Sola Scriptura é claramente visto a partir dos escritos de Cirilo de Jerusalém (o bispo de Jerusalém na metade do século IV). Ele é o autor do que é conhecido como Discursos Catequéticos.

Esta obra é uma extensiva série de discursos repassados a novos crentes expondo as principais doutrinas da fé. Não há, de fato, nenhum apelo em todos os Discursos a uma Tradição apostólica que seja independente da Escritura.

Ele declarou em termos explícitos que, caso apresentasse qualquer ensino àqueles catecúmenos que não pudesse ser validado pela Escritura, deveriam rejeitá-lo. Este fato confirma que sua autoridade como um bispo estava sujeita à sua conformidade diante das Escrituras em seu ensino. O fragmento seguinte é algo de sua declaração acerca da autoridade final da Escrituras diante daqueles discursos.

“Que este selo permaneça sempre em tua mente, o qual foi agora, por meio do sumário, colocado em teu coração e que, se o Senhor o permitir, daqui em diante, será elaborado de acordo com nossas forças por provas da Escritura. Porque, concernente aos divinos e sagrados Mistérios da Fé, é nosso dever não fazer nem a mais insignificante observação sem submetê-la às Sagradas Escrituras, nem sermos desviados por meras probabilidades e artifícios de argumentos. Não acreditem em mim porque eu vos digo estas coisas, a menos que recebam das Sagradas Escrituras a prova do que vos é apresentado: porque esta salvação, a qual temos pela nossa fé, não nos advém de arrazoados engenhosos, mas da prova das Sagradas Escrituras”. [5]

“Mas enquanto avanças naquilo que estudas e professas, agarra-te e sustentes apenas a esta fé, que pela Igreja é entregue a ti e é estabelecida a partir de toda Escritura. Por nem todos poderem ler a Escritura, sendo uns por ignorância e outros pelos negócios da vida, o conhecimento da mesma está fora do alcance deles; assim, a fim de que suas almas não pereçam por carecerem de instrução, por meio dos Artigos, que são poucos, procuramos abranger toda a doutrina da Fé […] E para o presente momento, confiamos a Fé à memória, meramente atentando às palavras; esperando, porém, que, no tempo oportuno, possa-se provar cada um destes Artigos de Fé pelas Divinas Escrituras. Pois os artigos de Fé não foram compostos ao bel-prazer dos homens: antes, os mais importantes pontos dela foram selecionados a partir de todas as Escrituras, forjando o único ensino da Fé. E, como a semente de mostarda em seu pequeno grão contém muitos ramos, assim também esta Fé, em umas poucas palavras, tem abrangido em seu seio o pleno conhecimento da piedade contido em ambos, Antigo e Novo Testamentos. Diante disso, irmãos, observem e sustentem as tradições que agora recebem, e escrevei-as sobre a tábua de vossos corações”. [6]

Observe que, na passagem, Cirilo declara que os catecúmenos estão recebendo a tradição, e ele os exorta a que sustentem as tradições que ora recebem. Não obstante, a partir de qual fonte esta tradição derivava? Obviamente ela derivava das Escrituras, as quais são aquele ensino ou tradição ou revelação de Deus, que foi entregue aos Apóstolos e repassado à Igreja, e que agora nos está acessível apenas na Escritura.

É significativo que Cirilo de Jerusalém, que está comunicando a inteireza da fé àqueles crentes, não faça nem mesmo um apelo para uma tradição oral a fim de basear seus ensinos. A plenitude da fé está baseada sobre a Escritura e a Escritura somente.

Gregório de Nissa sustentou Sola Scriptura

Gregório de Nissa também enunciou este princípio. Ele declarou:

“A generalidade dos homens ainda flutua em suas opiniões acerca disto, as quais são tão errôneas como eles são numerosos. Quanto a nós, se a filosofia gentílica, que trata metodicamente todos estes pontos, fosse realmente adequada para uma demonstração, com certeza seria supérfluo adicionar uma discussão acerca da alma a tais especulações. Mas ainda que tais especulações procedessem, no que se refere ao assunto da alma, avançando tanto quanto satisfizessem ao pensador na direção das conseqüências já antevistas, nós não estamos autorizados para tomar tal licença – refiro-me a sustentar algo meramente por que nos satisfaz; pelo contrário, nós fazemos com que as Sagradas Escrituras sejam a regra e a medida de cada postulado; nós necessariamente fixamos nossos olhos sobre isto, e aprovamos somente aquilo que se harmoniza com o sentido de tais escritos”. [7]

A Igreja Primitiva operou sobre a base de Sola Scriptura

Estas citações anteriores são simplesmente representativas da Igreja dos primeiros pais como um todo. Cipriano, Orígenes, Hipólito, Atanásio, Firmiliano e Agostinho são apenas alguns dos que poderiam ser citados como proponentes do princípio de Sola Scriptura em adição a Tertuliano, Irineu, Cirilo e Gregório de Nissa. A Igreja Primitiva operou sobre a base do princípio de Sola Scriptura. E foi este princípio histórico que, com efeito, os Reformadores tencionavam restaurar à Igreja. O uso extensivo da Escritura pelos pais da Igreja Primitiva desde o início é observado nos seguintes fatos:

Irineu: Conheceu a Policarpo, que foi discípulo do Apóstolo João. Viveu entre 130 e 202 d.C. Citou 24 dos 27 livros do Novo Testamento, tomando mais de mil e oitocentas citações somente do Novo Testamento.

Clemente de Alexandria: Viveu entre 150 e 215 d.C. Citou todos os livros do Novo Testamento, exceto Filemom, Tiago e a Segunda Epístola de Pedro. Ele faz cerca de duas mil e quatrocentas citações do Novo Testamento.

Tertuliano: Ele viveu entre 160 e 220 d.C. Fez cerca de sete mil e duzentas citações do Novo Testamento.

Orígenes: Ele viveu 185 e 254 d.C., tendo sucedido a Clemente de Alexandria na escola Catequética em Alexandria. Fez aproximadamente dezoito mil citações do Novo Testamento.

Ao fim do terceiro século, a inteireza do NT poderia ser virtualmente reconstruída a partir dos escritos dos Pais da Igreja.

Costumes e Práticas como Tradição Oral Apostólica

É verdade que a Igreja Primitiva também sustentava o conceito de tradição em referência a alguns costumes e práticas eclesiásticas. Cria-se, muito freqüentemente, que certas práticas haviam realmente sido herdadas dos Apóstolos, mesmo que elas não pudessem ser validadas a partir das Escrituras. Estas práticas, contudo, não envolviam as doutrinas de fé e eram, por vezes, contraditórias entre diferentes seguimentos da Igreja.

Um exemplo disto é encontrado já no começo do segundo século, na controvérsia acerca de quando celebrar a Páscoa. Certas Igrejas celebravam em um dia diferente daquelas do Ocidente, mas cada uma reivindicava que sua prática particular foi herdada diretamente a partir dos apóstolos. Na realidade, isto levou ao conflito com o Bispo de Roma, o qual exigia que os bispos do Oriente se submetessem à prática do Ocidente. Mas eles recusaram-se a fazê-lo, por crerem firmemente que estavam aderindo a uma Tradição apostólica.

Quem estava correto? Não há maneira de determinar isto, se é que alguma dessas práticas tinha, verdadeiramente, origem apostólica. É interessante notar, contudo, que um dos proponentes da visão do Oriente foi Policarpo, que foi um discípulo do apóstolo João. Há outros exemplos desta espécie de reivindicação na história da Igreja. Mas, apenas pelo fato de certos Pais afirmarem que uma determinada prática é de origem apostólica, não significa necessariamente que seja. Significa simplesmente que eles assim o criam. Não existe, porém, um modo de verificar se, de fato, trata-se de uma tradição dos Apóstolos.

Houve numerosas práticas nas quais a Igreja Primitiva se engajou por crer que eram de origem apostólica (enumeradas por Basílio, o Grande), mas que ninguém as pratica hodiernamente. Diante disso, está claro que tais apelos para a Tradição oral apostólica – em referência a costumes e práticas – são carentes de algum significado.

As reivindicações da Igreja Católica acerca da Tradição como uma autoridade não são válidas

A Igreja Católica Romana afirma possuir uma Tradição oral apostólica que é independente da Escritura, e que é obrigatória a todos os homens. Para tal reivindicação, apela-se à declaração de Paulo em 2 Tessalonicenses 2.15: “Por isso, irmãos, firmem-se e retenham as tradições que receberam, quer seja por palavra quer seja por epístola nossa”.

Roma assegura que, pelo ensino de Paulo nesta passagem, Sola Scriptura é falso, posto que o apóstolo deixou ensinos aos Tessalonicenses em ambas as formas, oral e escrita. Entretanto, o que há de interessante em tais afirmações é que os apologistas romanos jamais documentam as doutrinas específicas a que Paulo estava se referindo, e que eles reivindicam possuir e ser autoritativa a todos os homens. Desde Francisco de Sales até os escritos de Karl Keating e Robert Sungenis, existe uma ausência muito notória de documentação acerca das doutrinas específicas às quais Paulo estava se referindo.

Sungenis editou recentemente uma obra em defesa do ensino católico romano acerca da tradição, intitulada de Not By Scripture Alone; que pretendia ser uma refutação definitiva ao ensino protestante de Sola Scriptura. Seu livro possui 627 páginas. Contudo, nem mesmo uma vez, no livro inteiro, o autor define o conteúdo doutrinário desta suposta Tradição apostólica que é autoritativa a todos os homens! Ainda assim, se nos afirma que ela existe, que a Igreja Católica a possui, e que nós somos obrigados, portanto, a nos submeter, porque somente esta Igreja possui a plenitude da revelação de Deus a partir dos Apóstolos.

O que Sungenis e outros autores católicos romanos falham em definir é o conteúdo e as doutrinas específicas da suposta “tradição apostólica”. E razão pela qual eles não nos revelam isto é simplesmente porque ela não existe. Se tais tradições existissem e fossem algo de importância, por que Cirilo de Jerusalém não as mencionaria em seus Discursos Catequéticos?
Desafiamos a quem quer que seja a listar-nos as doutrinas das quais Paulo se refere em 2 Tessalonicenses 2.15, e que ele diz aos tessalonicenses que lhes foram entregues oralmente. Afinal, a única revelação especial que o homem possui hodiernamente de Deus é aquela que os Apóstolos deixaram por escrito, nas Escrituras Sagradas.

Estas eram a crença e a prática da Igreja Primitiva. Este mesmo princípio foi aderido pelos Reformadores. Eles buscaram restaurá-lo à Igreja, após a corrupção doutrinária que se havia infiltrado através da porta da tradição.

O ensino de um corpo separado de revelação apostólica conhecido como Tradição, de natureza oral, não foi originada com a Igreja Cristã, mas, sim, com o Gnosticismo. Foi uma tentativa dos Gnósticos de amparar a sua autoridade pela asseveração de que as Escrituras não eram suficientes. Eles afirmavam que possuíam a plenitude da revelação Apostólica porque não detinham apenas a revelação dos Apóstolos nas Escrituras, mas também, a tradição oral dos mesmos e, adicionalmente, a chave para interpretar e entender esta revelação.

Tal como os Pais da Igreja Primitiva repudiaram aqueles ensinos e reivindicações confiando e apelando exclusivamente para as Sagradas Escrituras, assim também devemos fazer.

“Minhas ovelhas ouvem a minha voz e eu as conheço, e elas me seguem” (João 10.27).

Notas do Autor
[1] Alexander Roberts and James Donaldson, editors, Ante-Nicene Fathers (Peabody: Hendriksen, 1995) Vol. 1, Irenaeus, “Against Heresies” 3.1.1, p. 414.
[2] Ellen Flessman-van Leer, Tradition and Scripture in the Early Church (Assen: Van Gorcum, 1953) pp. 184, 133, 144.
[3] J. N. D. Kelly, Early Christian Doctrines (San Francisco: Harper & Row, 1978), pp. 42, 46.
[4] Heiko Oberman, The Harvest of Medieval Theology (Cambridge: Harvard University, 1963), p. 366.
[5] A Library of the Fathers of the Holy Catholic Church (Oxford: Parker, 1845), “The Catechetical Lectures of S. Cyril” Lecture 4.17.
[6] Ibid., Lecture 5.12.
[7] Philip Schaff and Henry Wace, editors, Nicene and Post-Nicene Fathers (Peabody: Hendriksen, 1995) Second Series: Volume V, Gregory of Nyssa: Dogmatic Treatises, “On the Soul and the Resurrection”, p. 439.
Fonte: Site da Equipe Em Espírito

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Vida cristã

Os benefícios do inverno

Jeanne Guyon

Vejo o inverno como uma estação que dá excelentes exemplos do trabalho de transformação do Senhor na vida do cristão. Quando ele chega, é como se o mundo vegetal refletisse a imagem da purificação, mediante a qual Deus remove as imperfeições da vida de seus filhos.

Quando o frio tem início nas asas de uma tempestade de inverno, as árvores vão gradualmente perdendo as folhas. O verde logo é trocado pelo tom de marrom funesto; e as folhas caem e morrem. Presencia-se a perda da bonita vestimenta do verão. Que sensação experimenta você, ao contemplar essa pobre árvore? Você sente como que uma revelação.

Debaixo de todas as lindas folhas estão toda espécie de irregularidades e defeitos. Eles eram invisíveis em razão das folhas que os cobriam. Agora começam a ser revelados! A árvore já não é bonita na sua superfície aparente. Mas será que ela mudou? Não de todo. Tudo continua a ser exatamente como era antes. Tudo prossegue sendo como sempre foi! É certo que as folhas já não estão lá para esconder o que é real. A beleza da sua vida exterior apenas ocultou o que sempre estivera lá.

A mesma coisa acontece com você. O mesmo sucede com todo cristão. Nós podemos parecer bonitos… até que a vida desapareça! Então não haverá dúvida: o cristão irá mostrar-se com todos os seus defeitos. Se Deus não trabalhar para purificá-lo, você se mostrará despido de todas as suas virtudes! Contudo, dentro da árvore existe uma vida; e assim como a árvore, você não está se tornando pior; está simplesmente se vendo como realmente é! É preciso saber que no interior da árvore de inverno ainda há uma vida que produziu lindas folhas na última primavera.

Não, o cristão no mais profundo do seu ser não foi privado de sua virtude essencial. Ele não perdeu vantagens; apenas perdeu algo humano, o senso da própria bondade pessoal, e em seu lugar descobriu sua total desventura. Ele perdeu a comodidade pelo fato de seguir o Senhor. Essa comodidade nasceu mais em virtude da ignorância sobre si mesmo do qualquer outra razão.

Assim como acontece com a árvore acontece com você.

O cristão, espoliado e exposto, aparece perante os próprios olhos como algo desnudo; e todos que estão a sua volta lhe vêem pela primeira vez os defeitos – defeitos que estavam privilegiadamente escondidos, ocultos pelas graças externas.

Algumas vezes tal revelação é tão devastadora para o orgulho do cristão, que ele simplesmente nunca se recupera, decidindo ser um cristão em outro nível; ou renunciando totalmente a idéia de seguir o Senhor.

Através do inverno, longo e frio, a árvore parece estar morta, como muitas da floresta. Mas ela sabe que isso não é verdade. No momento parece que a destruição é total, mas na verdade repousa em algum lugar.

Essa árvore está se submetendo a um processo que preserva sua vida e a fortalece. Afinal, o que o inverno faz com ela? Ele faz com que seu interior se contraia. A vida que está no seu interior não vai mais ser usualmente consumida! Ela vai ficar concentrada no interior do seu tronco e na porção mais oculta de sua raiz, sendo empurrada até bem fundo.

O inverno preserva a árvore – não importa o quanto ela pareça estar morta. É verdade que suas folhas caem, deixando-a deformada e exposta; no entanto, nunca esteve mais viva! Durante o inverno, a fonte e o princípio da vida ficam mais firmemente estabelecidos do que em qualquer outra estação.

Nas outras estações a árvore tem de utilizar toda sua força de vida para adornar-se e embelezar-se. Mas ela faz isso despendendo muita vida, extraindo sua vitalidade das raízes e das partes mais profundas do tronco. É preciso que exista um inverno. Ele é necessário para que ela viva, sobreviva e floresça; e volte a florescer.

A virtude tem uma maneira interior de fazer com que o cristão pense profundamente, enquanto desaparece totalmente da superfície, deixando os efeitos externos e naturais notadamente visíveis!

Se temos olhos para ver, então nos damos conta de que isso é bonito.

A graça faz exatamente a mesma coisa com a nossa vida. Deus levará as folhas. Algo fará com que elas caiam. A virtude externa entrará em colapso. Ele faz isso para fortalecer a principal das virtudes. A fonte da vida deverá ser reconstruída. Alguma coisa bem lá no interior da alma ainda funciona. Em algum lugar dentro do espírito as funções que são consideradas as mais importantes (na estimativa de Deus) nunca descansam. O que continua ainda está muito bem escondido. É a humildade.

O que está acontecendo é o puro amor.

O que continua na parte mais interior é a renúncia e o desprezo pelo eu. O homem interior está fazendo progressos. A alma está aventurando-se para adiante, dentro do interior. Verdadeiramente, parece que as manobras de Deus estão concentradas nas partes externas do cristão, e nem por um momento se pode vislumbrar que não seja agradável à vista. No entanto, não se desenvolveu na alma nenhum novo defeito! Somente faltas antigas vieram a tona! E por estarem expostas cicatrizam mais facilmente.

Se você ousar desafiar a peregrinação espiritual, lembre-se dos dias de calamidade, do período de seca, e do tempo que o homem chamará de inverno espiritual: A vida está lá!

Se o inverno vier…

(Extraído do livro Aventura Espiritual, Jeanne Guyon, Editora Danprewan)

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Escatologia

Esperando em Deus pela vinda de Seu Filho

T. Austin-Sparks

“Sede vós semelhantes a homens que esperam pelo seu Senhor” (Lc 12:36 )

“Até a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo; a qual em suas épocas determinadas, há de ser revelada pelo bendito e único Soberano, o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores” (I Tm 6:14-15).

“Deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro, e para aguardardes dos céus o seu Filho” (I Ts 1:9-10 )

Esperando em Deus no céu, e esperando dos céus o Seu Filho. A espera em Deus por Sua presença e Seu poder na vida diária será a única preparação verdadeira para esperarmos por Cristo em humildade e real santidade. Esperar por Cristo vindo dos céus para nos levar aos céus dará a verdadeira tonalidade, esperança e regozijo á espera em Deus. O Pai que, a Seu tempo próprio, revelará a Seu Filho dos céus, é o Deus que nos prepara para esta revelação do Seu Filho, à medida em que esperamos Nele. A vida presente e a glória vindoura são conectadas inseparavelmente em Deus e em nós.

Algumas vezes existe o perigo delas serem separadas. É sempre mais fácil estar compromissado com a vida cristã do passado e do futuro do que ser fiel na vida cristã hoje. Quando olhamos o que Deus fez no passado, ou o que Ele fará no tempo em que há de vir, pode ser que deixemos escapar o clamor pessoal da responsabilidade presente e a atual submissão à Sua obra. A espera em Deus deve sempre levar à espera por Cristo como sendo a gloriosa consumação da Sua obra; e a espera por Cristo deve nos lembrar sempre da nossa responsabilidade de esperarmos em Deus, como sendo a única prova de que esperamos por Cristo em espírito e em verdade. Existe o perigo de ficarmos mais ocupados com as coisas que estão por vir do que com Ele mesmo, o qual está vindo. No estudo dos eventos vindouros a uma certa esfera de ação para a imaginação, razão e ingenuidade humanas, e nada, a não ser uma profunda e humilde espera em Deus pode nos livrar de confundir o interesse e o prazer do estudo intelectual com o verdadeiro amor por Ele mesmo e pela Sua vinda. A esperança desta gloriosa vinda o fortalecerá na espera em Deus, com respeito ao que Ele está para fazer em você, agora. O mesmo amor onipotente que está para revelar essa glória está trabalhando em você, agora mesmo, a fim de adequá-lo para essa glória. “A bendita esperança e o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo”, é um dos grandes laços de união entregues à Igreja através das eras. “Ele virá para ser glorificado em Seus santos, e para ser admirado em todos aqueles que crêem”. Então todos nós nos encontraremos, e a unidade do corpo de Cristo será vista em sua glória divina. Jesus recebendo os Seus e apresentando-os ao Pai. Aqueles que Lhe pertencem se encontrando com Ele e adorando aquela bendita face, em amor indescritível. Os seus se encontrando uns com os outros no enlevo do próprio amor de Deus ! Esperemos, ansiemos e amemos o aparecimento do nosso Senhor e Noivo Celestial! Um amor terno para com Ele, e um amor terno de uns para com os outros é o verdadeiro e único espírito de noiva. Não é quando estamos mais ocupados com assuntos proféticos, mas sim quando, em humildade e amor, estamos mais unidos ao nosso Senhor e ao Seus irmãos, que tomamos então o lugar de Noiva. Esperar por sua vinda significa esperar por Sua gloriosa manifestação vindoura da unidade do corpo, enquanto buscamos aqui manter essa unidade em humildade e amor. Aqueles que mais amam são aqueles que estão mais prontos para a Sua vinda. O amor de uns para com os outros é a vida e a beleza da Sua noiva – a igreja. E como isso pode se efetuar? Amado filho de Deus! Se você quer aprender a esperar corretamente pelo Seu Filho vindo do céu, viva agora mesmo esperando em Deus no céu. Lembre-se de como Jesus viveu sempre esperando em Deus. Ele nada podia fazer por Si mesmo.

Esperar mesmo por Cristo é t ão diferente de esperar pelas coisas que podem vir a acontecer! Esse último, qualquer cristão pode fazer; mas para que haja o anterior, Deus precisa operar em ti todos os dias, pelo Seu Espírito Santo. Portanto, todos vós que esperais em Deus olhai para Ele a fim de receberdes graça para esperar do céu o Seu Filho, no próprio Espírito que provém do céu. E você que espera pelo Seu Filho, espere em Deus continuamente para que Ele revele Cristo em você. A revelação de Cristo em nós, como aquela que é dada para os que esperam em Deus, é a verdadeira preparação para a plena revelação de Cristo em glória.

“Somente em Deus, ó minha alma, espera”. (Sl 62:1)

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Deus

A soberania de Deus

A. W. Tozer

A soberania de Deus é o atributo pelo qual Ele governa toda a Sua criação, e para ser o Deus soberano, Ele tem de ser onisciente, todo-poderoso e totalmente livre. Estas são as razões:

Se houvesse vestígios de conhecimento, ainda que pequenos, estranhos para Deus, Seu domínio acabaria naquele ponto. Para ser Senhor sobre toda a criação, Ele deve possuir todo o conhecimento. E se Deus perdesse um infinitésimo desse poder, esta perda poria fim ao Seu reinado e destruiria Seu Reino; este átomo de força desprovido de Deus pertenceria a outra pessoa, e Deus seria um governante limitado e, consequentemente, não soberano.

Além disso, Sua soberania exige que Ele seja totalmente livre, o que significa simplesmente que Ele deve ser livre para fazer o que bem entender em qualquer lugar, em qualquer momento, a fim de cumprir o Seu propósito eterno em cada um dos pormenores sem interferência. Se não fosse totalmente livre, Deus não seria completamente soberano.

Para compreender a idéia de liberdade irrestrita, é necessário um enorme esforço da mente. Não estamos psicologicamente condicionados a entender o conceito de liberdade a não ser em suas formas imperfeitas. Nossos conceitos sobre ela foram formados em um mundo em que não existe a liberdade total. Aqui, cada objeto natural depende demuitos outros objetos, e esta dependência limita sua liberdade.

Wordsworth, no início de seu “Prelude”, alegrou-se por ter fugido da cidade em que ficara por muito tempo confinado e estava “agora livre, livre como um pássaro para ir onde bem quisesse”. No entanto, estar livre como um pássaro não é, de fato, livre. O naturalista sabe que o pássaro supostamente livre, na verdade, vive toda a vida em uma gaiola de receios, fomes e instintos; está limitado pelas condições climáticas, pelas diversas pressões do ar, pelo suprimento de comida do local, pelos predadores e pela ligação mais estranha de todas: a irresistível compulsão a permanecer naquele pequeno pedaço de terra e ar que lhe foram destinados pelo sistema da terra dos pássaros. O pássaro mais livre está, com todas as outras criaturas, constantemente envolvido por um conjunto de necessidades. Somente Deus é livre.

Diz-se que Deus é totalmente livre porque ninguém e nada pode impedí-Lo. Ele é capaz de agir como sempre lhe agrada, em todos os lugares, eternamente. Portanto, ser livre significa também que Ele deve possuir autoridade universal. Sabemos pelas Escrituras e podemos concluir a partir de outros de Seus atributos lque Deus tem poder ilimitado. E quanto à Sua autoridade?

O simples fato de discutir a autoridade do Deus Todo-Poderoso parece algo um pouco sem sentido, e questioná-la seria sem sentido. É possível imaginar o Senhor Deus dos Exércitos tendo de pedir permissão a alguém ou algo a um ser maior? A quem Deus recorreria para obter permissão? Quem é maior do que o Altíssimo? Quem é mais forte do que o Todo-Poderoso? Que posição preceda a do Eterno? Perante quel trono Deus se ajoelharia? Onde está o maior de todos a quem Deus deve apelar? “Assim diz o Senhor, Rei de Israel, Seu Redentor, o Senhor dos Exércitos: Eu Sou o primeiro e Eu Sou o último, e além de mim não há Deus” (Is. 44:6).

A soberania de Deus é fato bastante evidente nas Escrituras, e está declarado em alto som pela lógica da verdade. No entanto, reconhece-se que há certos problemas que até agora não foram solucionados de maneira satisfatória. São dois os principais problemas.

O primeiro é a presença de coisas que não têm a aprovação de Deus na criação, tais como o mal, a dor e a morte. Se Deus é soberano, Ele poderia ter impedido que essas coisas existissem. Por que Ele não o fez?

O Zendavesta, livro sagrado do Zoroastrismo, a mais imponente das principais religiões contrárias à Bíblia, concentrou-se nitidamente nesta dificuldade o suficiente para admitir a possibilidade de um dualismo teológico. Existiam dois deuses, Ormazd e Ahriman, e esses entre si criaram o mundo. O bom Ormazd criou todas as coisas boas e o mau Ahriman criou o restante. O princípio é bastante simples. Sem soberania, Ormazd não tinha com o que se preocupar e, ao que parece, não se importava em dividir seus privilégios com o outro.

Para o cristão, esta explicação não vale, uma vez que claramente contradiz a verdade ensinada de forma tão enfática por toda a Bíblia: que há um Deus e que somente Ele criou o céu e a terra e todas as coisas que nela há. Os atributos de Deus são constituídos de tal forma que é impossível a existência de outro Deus. O cristão admite que não tem a última palavra para o enigma da existência do mal. Contudo, ele sabe o que esta resposta não é. E sabe que o Zendavesta também não tem a resposta.

Embora não tenhamos uma explicação completa sobre a origem do pecado, pouco sabemos. Em Sua soberana sabedoria, Deus permitiu que o mal existisse em áreas cuidadosamente restritas de Sua criação, um tipo de foragido cujas atividades são temporárias e limitadas em termos de expansão. Ao fazer isto, Deus agiu de acordo com Sua infinita sabedoria e bondade. O que passa disto, ninguém sabe no momento; e mais do que isso, ninguém precisa saber. O nome de Deus é suficiente para garantir a perfeição de Suas obras.

Outro problema real criado pela doutrina da soberania divina está relacionado à vontade do homem. Se Deus rege o universo por meio de Seus soberanos desígnios, como é possível ao homem exercer o livre-arbítrio? E se este não pode exercer o livre-arbítrio, como pode ser responsabilizado por sua conduta? Será que ele não é um simples títere cujas ações são determinadas por um Deus ;que vive escondido e que puxa os fios como bem entende?

A tentativa de responder a estas perguntas resultou em uma nítida divisão da Igreja cristã em dois campos que deram destaque ao nome de dois renomados teólogos, Jacobus Armínios e João Calvino. Grande parte dos cristãos está satisfeita em fazer parte de um campo ou de outro, negando ou a soberania de Deus ou o livre-arbítrio do homem. Parece possível, no entanto, reconciliar estas duas posições sem prejudicar qualquer uma delas, embora o esforço resultante possa mostrar-se insuficiente aos sectários de um campo ou de outro.

A minha opinião é a seguinte: Deus soberanamente ordenou que o homem fosse livre para exercer a escolha moral, e o homem, no princípio, cumpriu este mandamento fazendo sua escolha entre o bem e o mal. Ao optar pelo mal, ele não vai de encontro à vontade soberana de Deus, mas a cumpre, visto que o desígnio eterno não se refere à escolha que deve ser feita pelo homem, mas à sua liberdade para fazê-la. Se, em sua total liberdade, a vontade de Deus foi a de dar ao homem a liberdade limitada, quem está lá para erguer a mão e dizer: “O que fizeste?”. O homem tem o livre-arbítrio porque Deus é soberano. Um Deus que não seja totalmente soberano não pode conceber liberdade moral a Suas criaturas. Ele teria receio de fazê-lo.

Talvez uma simples ilustração possa nos ajudar a entender esta questão. Um transatlântico deixa Nova York rumo a Liverpool. Seu destino foi determinado pelas autoridades competentes.Nada pode alterá-lo. Esta é, ao menos, uma rápida descrição de soberania.

A bordo do navio estão vários passageiros. Estes não estão nas poltronas, nem suas atividades são, por lei, determinadas por eles. Eles têm total liberdade para irem onde bem quiserem. Comem, dormem, divertem-se, descansam no convés, lêem, conversam, fazem o que bem entendem; no entanto, o tempo todo estão sendo levados pelo grande navio ao porto predeterminado.

Tanto a liberdade como a soberania estão ilustradas neste exemplo e não se contradizem. Creio que o mesmo acontece com a liberdade do homem e a soberania de Deus. O imponente transatlântico do soberano plano de Deus mantém seu curso firme sobre o mar da História. Deus move-se tranquilo e desimpedido com o objetivo de realizar estes propósitos eternos que foram planejados em Cristo Jesus antes do início do mundo. Não sabemos se tudo isto está incluído nestes propósitos; no entanto, o suficiente foi revelado para nos munir de um amplo conjunto de coisas que estão por vir e nos dar uma boa esperança e firme convicção de bem-estar no futuro.

Sabemos que Deus cumprirá todas as promessas feitas aos profetas; sabemos que os pecadores, um dia, serão tirados da terra; sabemos que um povo remido entrará no gozo de Deus e que os justos brilharão no Reino de seu Pai; sabemos que as perfeições de Deus ainda serão proclamadas por todo o universo, que todas as formas de inteligência criadas pertencerão ao Senhor Jesus Cristo para a glória de Deus Pai, que a presente ordem imperfeita será revertida e que um novo céu e uma nova terra serão estabelecidos para sempre.

Com relação a todas estas coisas, Deus está agindo com infinita sabedoria e perfeita precisão de ação. Ninguém pode dissuadí-Lo de Seus propósitos; nada pode desviá-Lo de Seus planos. Uma vez que Ele é onisciente, é impossível haver circunstâncias imprevistas, ou acidentes. Como Ele é soberano, é impossível haver ordens contrárias ou fim da autoridade, e como Ele é onipotente, é impossível não haver todo o poder para realizar Seus desígnios estabelecidos. Deus é auto-suficiente para realizar todas essas coisas.

Enquanto isso, as coisas não são tão fáceis quanto parece sugerir essa rápida descrição. O mistério da iniquidade já opera. Dentro do vasto campo da vontade permissiva e soberana de Deus, o terrível conflito entre o bem e o mal continua crescendo com total fúria. Deus ainda está no controle do vendaval e da tempestade, mas a tempestade e o vendaval estão presentes e, como seres responsáveis, devemos fazer nossa escolha na presente situação moral.

Algumas coisas foram ordenadas pela determinação livre de Deus, e uma delas é a lei da escolha e consequências. Deus ordenou que todos os que prontamente se submetem ao Seu Filho Jesus Cristo na obediência da fé recebem a vida eterna e se tornam filhos de Deus. Outrossim, ordenou que todos os que amam as trevas e continuam em rebelião contra a autoridade superior dos céus permanecem em um estado de alienação espiritual e, por fim, passam pela morte eterna.

Colocando toda a questão em termos individuais, chegamos a algumas conclusões importantes e extremamente pessoais. No conflito moral que agora assola o mundo à nossa volta, quem está do lado de Deus está do lado vitorioso e não tem como perder; quem está do outro lado está do lado da derrota e não pode vencer. Neste ponto, não há chance nem como arriscar. Há liberdade para escolher de que lado deveremos estar, mas não para negociar as consequências da escolha uma vez que ela tenha sido feita. Pela misericórdia de Deus, podemos nos arrepender de uma escolha errada e mudar as consequências por meio de uma escolha nova e acertada. Não podemos ir além disso.

Toda questão da escolha moral está centrada em Cristo Jesus. Ele claramente afirmou: “Quem não é por mim é contra mim” (Mt. 12:30), e: “Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo.14:6). A mensagem do Evangelho incorpora três elementos distintos: um anúncio, uma ordem e um convite. Anuncia as boas novas da redenção consumada com misericórdia, ordena que todos os homens de todas as partes do mundo se arrependam e convida a todos para que submetam às condições da graça por meio da fé em Jesus Cristo como Senhor e Salvador.

Todos nós temos duas opções: obedecer ao Evangelho ou nos desviar dele, incrédulos, e rejeitar sua autoridade. A escolha é toda nossa,mas as consequências resultantes dessa escolha já foram determinadas pela vontade soberana de Deus, e não há como recorrer.

O Senhor desceu do alto
E baixou dos mais altos céus,
E sob os pés tinha
A escuridão dos céus.

Cavalgava um querubim e serarim
Que Ele levou majestosamente,
E nas asas dos poderosos ventos
Veio voando.

Sentou-se sereno sobre as águas,
Para conter Sua fúria;
E Ele, como Senhor e Rei soberano,
Reinará para todo o sempre.

(Paráfrase do Salmo 18, por Thomas Sternhold)

(Extraído de Verdadeiras Profecias, de A. W. Tozer – Editora dos Clássicos)

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Igreja Vida cristã

A Ceia do Senhor: simplicidade e sublimidade

William J. Watterson

I Co 11:20-34 – A Ceia, o único memorial de Cristo instituído para esta dispensação, apresenta duas características aparentemente contraditórias: simplicidade e sublimidade. Vamos examiná-las resumidamente.

A Instituição da Ceia

O Novo Testamento contém quatro relatos da instituição da Ceia: Mateus 26:26-28; Marcos 14:22-24; Lucas 22:19-20; I Coríntios 11:20-34. Apesar do lugar de destaque que a Ceia ocupa nos corações daqueles que amam a Cristo (e com toda razão), é interessante notar que a Palavra de Deus destaca a simplicidade desta celebração. O Novo Testamento fala relativamente pouco acerca duma reunião tão preciosa; não porque a Bíblia desconhece a importância da Ceia, mas para enfatizar que esta reunião só é preciosa devido ao Senhor do qual ela fala.

Afirmamos que a Ceia é uma reunião simples pelos seguintes motivos:

a) Instituída num contexto simples

As quatro narrativas da instituição da Ceia mostram que ela foi instituída de uma forma bem simples, sem qualquer ostentação. O Senhor não preparou um ambiente especial, e nem mesmo preparou, de antemão, seus discípulos, avisando-os de que iria instituir esta reunião. Eles estavam reunidos para outro propósito e não para a instituição da Ceia, mas para a celebração da Páscoa. E no meio daquela festa dos judeus, sem qualquer aviso prévio, o Senhor instituiu a Ceia.

b) Realizada com elementos simples

Ao fazer isto, Ele não utilizou-se de alguma coisa cara e especial, mas de dois elementos simples, que estavam em abundância ali sobre a mesa. Ele tomou, simplesmente, um pão e um cálice. Não eram elementos trazidos especialmente para a ocasião; eram elementos trazidos ali devido à festa da Páscoa, e que Ele aproveitou para instituir a Ceia. Todos os anos, havia pães e cálices sobre a mesa na festa da Páscoa. O Senhor usou aquilo que estava ali à Sua disposição.

c) Realizada de forma simples

Toda a cerimônia é marcada pela simplicidade. “O Senhor Jesus tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei: isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.” Só isto! Eu reconheço, é claro, que este ato aparentemente tão simples é repleto de instrução e solenidade. Mas repare este fato: do ponto de vista da liturgia, do ritual, da forma de celebração, a Ceia não poderia ser mais simples!

Por quê?

Faríamos bem se meditássemos nisto. Por que a instituição da Ceia é caracterizada por tanta simplicidade?

O Senhor poderia ter levado Seus discípulos para algum lugar especialmente preparado, avisando-os de que o propósito de sua reunião seria a instituição de algo muito importante. Poderia ter usado elementos atraentes e caros. Poderia ter estabelecido um ritual requintado e atraente. Mas não o fez.

Na Velha Aliança foi assim. As instruções para a construção do Tabernáculo foram dadas no monte Sinai, no meio de vozes, trovões e relâmpagos. A construção foi feita com materiais caros como ouro, e era de uma beleza impressionante (no seu interior). E não era de qualquer forma que os sacerdotes oficiavam; havia muitos rituais relacionados com a adoração no Tabernáculo.

Mas a instituição da Ceia está em absoluto contraste com todo este ritual do Velho Testamento. No meio da festa da Páscoa, sem qualquer aviso prévio, usando elementos comuns e normais, o Senhor institui uma celebração extremamente simples. Nada de rituais, nada de pompa e glória humana. Apenas uma cerimônia simples.

A razão é clara. A Ceia não é uma reunião para provocar admiração em ninguém devido à beleza de seus rituais e cerimônias. Não foi instituída para atrair, de qualquer forma, a carne (que sempre gosta da pompa dos rituais tradicionalistas). É, pelo contrário, uma reunião que, quando celebrada em sua simplicidade original, impressiona qualquer pessoa espiritual presente, por trazer à memória a pessoa do Senhor Jesus. Ele é o motivo e a razão de ser desta celebração. Ela impressiona quem já pertence a Cristo e O ama, mas não tem nada para agradar ou atrair o incrédulo. É uma celebração simples, porque a importância está na Pessoa de quem lembramos. O valor não está nos símbolos, mas na Pessoa de quem estes símbolos falam.

Um ritual requintado, uma celebração bela e atraente chamaria toda a atenção para si, desviando nossa atenção do Senhor. A simplicidade da Ceia não ofusca, mas destaca a glória do Senhor.

Por este motivo, devemos zelar pela simplicidade desta reunião. Abandoná-la significa desonrar o Senhor. Não podemos permitir que nada e nem ninguém chame para si a atenção durante a Ceia. Muitas igrejas, bem intencionadas, e querendo mostrar a importância que dão à Ceia, acabam por destruí-la. A beleza dos preparativos, a programação formal (onde alguém é responsável por “presidir” a Ceia, alguém serve os elementos a todos os participantes, etc), e coisas semelhantes apenas servem para agradar aos olhos humanos, e acabam tirando a nossa atenção daquele que é o centro e a razão da Ceia, o nosso amado Senhor Jesus Cristo.

Uma reunião preciosa

Apesar de extremamente simples, a instituição da Ceia nos lembra que é, também, uma reunião das mais preciosas para o cristão. O homem só sabe valorizar o exterior, mas esta reunião, que não tem nada para atrair a carne, nada para impressionar o ser humano, é preciosa para toda aquele que é salvo.

O principal motivo pelo qual celebramos a Ceia é para lembrar do Senhor. Três vezes lemos estas palavras ditas pelo Senhor: “Em memória de Mim”. Pode haver ocupação mais nobre, mais preciosa, para um cristão do que lembrar do seu Senhor?

Lamentavelmente a correria do dia a dia torna-nos tão esquecidos. Durante a semana, lembramos do Senhor muito menos do que deveríamos. Quão precioso, então, que podemos celebrar a Ceia todo domingo. Pelo menos durante aquela hora temos o privilégio de ocuparmo-nos somente com o Senhor. Estamos ali, não para aprender nem ensinar; não para pedir nem agradecer por orações respondidas; não para exortar nem consolar; estamos ali somente para lembrar! Lembrar daquele que representa tudo para nós.

Quanto mais importante uma pessoa, mais importância terá qualquer coisa feita em memória desta pessoa (uma estátua, um memorial, etc). Tratando-se do Senhor Jesus Cristo, aquele que é “mais sublime do que os céus” (Hb. 7:26), percebemos um pouco da importância de celebrar a Ceia, pois ela é em memória dEle.

Outra indicação da importância da Ceia está no juízo solene pronunciado sobre aqueles que participarem indignamente (I Co 11:27-34). Aos olhos de Deus, participar indignamente torna alguém “culpado do corpo e do sangue do Senhor”. Quem participa indignamente “come e bebe para sua própria condenação”. A Ceia é preciosa aos olhos de Deus, e Ele não permite que alguém participe indignamente sem sofrer as conseqüências. Não é um acontecimento qualquer, onde qualquer um pode chegar de qualquer forma. É algo precioso para Deus, pois fala da morte do Seu Filho Unigênito, e deveria ser precioso para nós também.

Ainda há, porém, pessoas que desprezam este memorial. Ainda há cristãos que proclamam seu amor por Cristo com todo o ânimo quando podem falar ou cantar, mas ausentam-se da Ceia. Irmão, se você diz que ama ao Senhor, mas não tem interesse em lembrar dEle da forma como Ele pediu, alguma coisa está muito errada.

Que cada leitor já salvo pondere estas coisas. Estamos dando a devida importância à Ceia do Senhor, sem afastarmo-nos da simplicidade que caracterizou sua instituição? Deus permita que sim.

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De Mim procede o teu fruto

Charles Spurgeon

“De Mim procede o teu fruto”.
(Oséias 14.8)

Nosso fruto procede de nosso Deus como da união. O fruto dos galhos está diretamente ligado à raiz. Cortando-se a conexão, os galhos morrem, e nenhum fruto é produzido. Em virtude de nossa união com Cristo nós geramos frutos. Cada cacho de uvas esteve primeiro na raiz, passou através do caule, e fluiu através dos vasos condutores, e foi moldado externamente na fruta, mas esteve antes no caule; assim também, toda boa obra esteve primeiro em Cristo, e então é produzida em nós. Ó cristão, avalie esta preciosa união com Cristo; porque esta deve ser a fonte de toda fertilidade que você pode esperar conhecer. Se você não estivesse ligado a Jesus Cristo, você seria um ramo estéril de fato.

Nosso fruto provém de Deus como da providência espiritual. Quando as gotas de orvalho caem do céu, quando a nuvem parece cair do alto, e está a ponto de destilar seu líquido precioso, quando o brilho do sol faz reluzir os frutos nos cachos, cada bênção celestial parece murmurar para a arvore e dizer: “De Mim procede o teu fruto.” O fruto deve muito à raiz — que é essencial para a produtividade — mas ele também deve muito mais às influências externas. Quanto nós devemos à graciosa e providência de Deus! Na qual Ele nos provê constantemente com ânimo, ensino, consolação, força, ou o qualquer coisa que nós necessitarmos. A isso nós devemos toda a nossa utilidade ou virtude.

Nosso fruto provém de Deus como de um sábio agricultor. A faca de lâminas afiadas do jardineiro auxiliam a árvore a dar frutos, diminuindo os cachos, e podando os galhos excedentes.

Que seja assim, cristão, com relação a poda que o Senhor lhe concede. “Meu Pai é o agricultor. Todo galho que, estando em Mim, não der fruto, Ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda.” Desde que nosso Deus é o autor de nossa boa vontade espiritual, vamos dar a Ele toda a glória de nossa salvação.

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O homem: a habitação de Deus

A. W. Tozer

No mais profundo de cada indivíduo existe um santuário particular onde habita a misteriosa essência do seu ser. Esta realidade interior é aquela parte do homem que é o que é sem referência a qualquer outra parte de sua complexa natureza. Trata-se do “eu sou” do homem, um dom do EU SOU que lhe deu a vida.

O EU SOU que é Deus auto-existente e original; o “eu sou” que é o homem tem origem em Deus e depende a cada momento das ordens de seu Criador para continuar a existir. Um deles é o Criador exaltado sobre todos, o ancião de dias, habitando na luz inatingível. O outro é uma criatura e, embora privilegiada em relação a todas as demais, não passa mesmo assim de criatura dependente de generosidade divina e um pedinte diante do seu trono.

A entidade humana oculta de que falamos é chamada nas Escrituras de
“espírito do homem”. (I Co 10:11) “Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito que nele está? Assim também as coisas de Deus ninguém as conhece senão o Espírito de Deus”. Da mesma maneira que o auto-conhecimento de Deus se encontra no Espírito Eterno, o do homem se faz pelo seu próprio espírito, e seu conhecimento de Deus é obtido pela influência direta do Espírito divino sobre o humano.

A importância de tudo isto jamais pode ser superestimada, à media que refletimos, estudamos e oramos. Ela revela a espiritualidade essencial do ser humano, negando que o homem seja uma criatura dotada de espírito e declarando que ele é um espírito dotado de corpo. Aquilo que faz dele um ser humano não é o seu corpo mas seu espírito, impregnado da semelhança de Deus.

Uma das afirmativas que nos dão mais liberdade no Primeiro Testamento é esta: “Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é Espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (João 4:23-24). A natureza da adoração mostrada aqui sendo absolutamente espiritual. A verdadeira religião não fica presa a datas e jejuns, vestes e cerimônias, sendo colocada no lugar que lhe pertence – a união do espírito
do homem com o Espírito de Deus.

Do ponto de vista humano a perda mais trágica sofrida na Queda foi a partida do Espírito de Deus deste santuário interior. No ponto mais oculto do ser humano existe uma sarça(um arbusto) preparada para ser a habitação do Deus Trino. Deus planejou repousar ali e brilhar, ardendo como uma chama moral e espiritual. O homem, por ter pecado, perdeu este privilégio magnífico e indescritível e deve habitar agora sozinho nesse lugar. Tão íntimo e oculto ele é, que ninguém pode chegar até ele, senão somente Cristo, e Ele só entrará mediante o convite da Fé. “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo” (Apocalipse 3:20).

Mediante a operação misteriosa do Espírito por ocasião do novo nascimento, aquilo que Pedro chama de “natureza divina” penetra no mais íntimo do coração do crente e estabelece ali a sua morada. “E se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”, pois, “o próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8:9, 16). Tal indivíduo é um verdadeiro cristão, e somente uma pessoa assim. O batismo, a confirmação, receber os sacramentos – nada disso tem significado a não ser que o ato supremo de Deus também tenha lugar na regeneração. As exterioridades religiosas podem ser significado para a alma habitada por Deus; para quaisquer outros elas não só são inúteis como podem tornar-se até mesmo armadilhas que os façam cair num conceito de segurança falso e perigoso.

“Guarde o seu coração com toda a diligência” é mais que um ditado sábio, mas uma responsabilidade solene colocada sobre nós por Aquele que mais interessa pela nossa pessoa. Devemos dar toda atenção a essas palavras, a fim de não escorregarmos.

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A raiz dos justos

A. W. Tozer

Uma diferença entre a fé dos nossos pais como concebida pelos pais, e a mesma fé como entendida e vivida por seus filhos, é que os pais estavam interessados na raiz da matéria, enquanto que os seus descendentes atuais parecem interessados somente no fruto.

Parece ser esta a nossa atitude para com certas grandes a almas cristãs cujos nomes são honrados entre as igrejas, como por exemplo, Agostinho e Bernardo em tempos mais antigos, ou Martinho Lutero e John Wesley em tempos mais recentes.

Hoje escrevemos biografias de vultos como esses e celebramos o seu fruto. “A raiz dos justos produz o seu fruto”, diz o sábio em Provérbios. Os nossos pais olhavam bem para a raiz da árvore e se dispunham a esperar com paciência pelo aparecimento do fruto.

Nós exigimos o fruto imediatamente, ainda que a raiz seja fraca e cheia de calosidades, ou inexistia completamente. Os impacientes cristãos de hoje desculpam as crenças simples dos santos doutros tempos e sorriem da sua séria abordagem de Deus e das coisas sagradas. Eram vítimas da sua perspectiva religiosa limitada, mas ao mesmo tempo eram grandes e vigorosas almas que conseguiram obter uma experiência espiritual satisfatória e fazer muita coisa boa no mundo apesar de seus defeitos. Assim, imitaremos o seu fruto sem aceitar a sua teologia e sem incomodar-nos demasiadamente com a adoção da sua atitude de tudo ou nada para com a religião.

Assim dizemos (ou mais provavelmente pensamos sem dizer), e toda voz da sabedoria, todo dado da experiência religiosa, toda lei da natureza nos diz quão errados estamos. O galho que se desliga da árvore numa tempestade pode florir por breve tempo e pode dar ao transeunte despreocupado a impressão falsa de que é um ramo saudável e frutífero, mas a sua tenra inflorescência logo perece, e o próprio ramo seca-se e morre. Não há vida duradoura, separada da raiz.

Muita coisa que passa por cristianismo hoje é o brilhante e breve esforço do ramo cortado para produzir seu fruto na estação própria. Mas as profundas leis da vida estão contra isso. A preocupação com as aparências e a correspondente negligência para com a raiz que está fora da vista, raiz da verdadeira vida espiritual, são sinais proféticos que passam desapercebidos.

Resultados “imediatos” é tudo que importa, rápidas provas do sucesso
presente, sem se pensar na próxima semana ou no próximo ano. O pragmatismo
religioso avança desenfreadamente entre os ortodoxos.

A verdade é o que quer que funcione. Se dá resultado, é bom. Há apenas uma prova para o líder religioso: sucesso. Tudo se perdoa, exceto o fracasso. Uma árvore pode resistir a quase toda e qualquer tempestade se sua raiz é firme, mas a figueira que o Senhor Jesus Cristo amaldiçoou secou “desde a raiz”, ela toda “secou” imediatamente. Uma igreja firmemente enraizada não pode ser destruída, mas nada pode salvar uma igreja cuja raiz secou. Estímulos, campanhas promocionais, ofertas em dinheiro, belo edifício – nada pode trazer de volta a vida à árvore sem raiz.

Como uma feliz desconsideração pela coerência da metáfora, o apóstolo Paulo nos exorta a atentar para as nossas origens. “Arraigados e alicerçados em amor”, diz ele no que é obviamente uma confusão de figuras; e outra vez concita os seus leitores a permanecerem “arraigados e edificados nele”, o que encara o cristão como uma árvore bem arraigada e como um templo edificar-se sobre sólido fundamento.

A Bíblia inteira e todos os grandes santos do passado se unem para dizer-nos a mesma coisa. “Nada considerem com líquido e certo” eles nos dizem. “Voltem para as fundas raízes. Abram o coração e sondem as Escrituras. Levem sua cruz, sigam o seu Senhor e não dêem atenção à moda religiosa que passa. As massas estão sempre erradas. Em cada geração o número de justos é pequeno. Certifiquem-se de que estão entre eles.”

“O homem não será estabelecido pela iniqüidade; mas a raiz dos justos não será removida”.

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