A lei mostra aquilo que o homem deveria ser.
A graça mostra aquilo que Deus é.
(C.H. Mackintosh)
Ainda me lembro de uma noite, há vários anos, quando visitava uma igreja em Queens, Nova York. Na ocasião, uma carta acabara de chegar da China. Uma irmã de Watchman Nee enviara uma carta que Nee lhe escrevera pouco antes de sua morte. Aqueles que a leram disseram que a grafia dos caracteres era forte, bem como o tom das poucas palavras que escrevera: “Aprendi como manter minha alegria.”
Quão freqüentemente nos dias que se seguiram, ao passar uma nuvem negra sobre meu espírito, lembrei-me que quando aquilo ocorreu Nee já estivera na prisão por mais de 20 anos. Ainda que estivesse fisicamente fraco, ele se regozijava em seu espírito. Ele aprendeu o segredo de manter a alegria no Senhor.
Alegria ou depressão — a escolha é sempre minha. A cada dia, posso esclher submergir minha raízes em Teu rio de graça, de forma que minha expressão será de gozo. Vejo, então, que minha escolha é o segredo para manter minha alegria diária.
A vida pode parecer difícil, mas Deus é tão bom e misericordioso;
A vida pode parecer injusta, mas Deus é tão justo e amoroso;
A vida pode parecer imprevisível, mas Deus é tão soberano;
A vida pode parecer temporária, mas Deus é eterno.
Isso me ajuda a reconhecer que manter uma perspectiva correta faz toda a diferença. Se fitar meus olhos naquilo que terei de enfrentar hoje, sucumbirei em depressão. Somente quando contemplo além de hoje para ver o que Deus planejou na eternidade é que posso dizer: “Alegria indizível e cheia de glória” (1Pe 1.8).
Hoje você tem a escolha de ser um infeliz, deprimido e viver ao sabor das circunstâncias, de forma que essa atmosfera não apenas lhe envolverá, como também envolverá outros. Mas você pode escolher ser alegre, de tal maneira contagiante, que outros serão contaminados por sua alegria. Entendo que Jesus era um varão de dores, que conhecia a tristeza por causa da condição ao Seu redor. Mas também estou convicto de que Ele viveu segundo uma perspectiva de longo prazo: “Em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz” (Hb 12.2).
Jesus considerou o corredor do tempo para ver o que agradaria Seu Pai, e assim Ele ignorou o que era temporal para viver por aquilo que é eterno.
“Pai, somente pela Tua graça é que posso fazer essa mesma escolha.”
(DeVern Fromke, Histórias que Abrem a Janela Mais Ampla de Deus, Edições Tesouro Aberto)
Pense nisso e faça a escolha mais sábia.
Tenha um bom dia!
Charles Spurgeon
Tradução: Walter Andrade Campelo
Um mal está no declarado campo do Senhor, tão grosseiro em seu descaramento, que até o mais míope dificilmente deixaria de notá-lo durante os últimos anos. Ele se tem desenvolvido em um ritmo anormal, mesmo para o mal. Ele tem agido como fermento até que toda a massa levede. O demônio raramente fez algo tão engenhoso quanto sugerir à Igreja que parte de sua missão é prover entretenimento para as pessoas, com vistas a ganhá-las.
Da pregação em alta voz, como faziam os Puritanos, a Igreja gradualmente baixou o tom de seu testemunho, e então tolerou e
desculpou as frivolidades da época. Em seguida ela as tolerou dentro de suas fronteiras. Agora as adotou sob o argumento de atingir as massas.
Meu primeiro argumento é que prover entretenimento para as pessoas não está dito em parte nenhuma das Escrituras como sendo uma função da Igreja. Se este é um trabalho Cristão, porque Cristo não falou dele? “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” (Marcos 16:15). Isto está suficientemente claro. Assim teria sido se Ele tivesse adicionado “e proporcionem divertimento para aqueles que não tem prazer no evangelho.” Nenhuma destas palavras, contudo, são encontradas. Não parecem ter-lhe ocorrido.
Então novamente, “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores… para a obra do ministério” (Efésios 4:11-12). Onde entram os animadores? O Espírito Santo silencia no que diz respeito a eles. Foram os profetas perseguidos porque divertiram o povo ou porque o rejeitaram? Em concerto musical não há lista de mártires.
Além disto, prover divertimento está em direto antagonismo com o ensino e a vida de Cristo e de todos os seus apóstolos. Qual foi a atitude da Igreja quanto ao mundo? “Vós sois o sal” (Mateus 5:13), não o doce açucarado – algo que o mundo irá cuspir e não engolir. Curta e severa foi a expressão: “deixa os mortos sepultar os seus mortos.” (Mateus 8:22) Ele foi de uma tremenda seriedade.
Se Cristo introduzisse mais brilho e elementos agradáveis em Sua missão, ele teria sido mais popular quando O abandonaram por causa da natureza inquiridora de Seus ensinos. Eu não O ouvi dizer: “Corra atrás destas pessoas, Pedro, e diga-lhes que nós teremos um estilo diferente de culto amanhã, um pouco mais curto e atraente, com pouca pregação. Nós teremos uma noite agradável para as pessoas. Diga-lhes que certamente se agradarão. Seja rápido Pedro, nós devemos ganhar estas pessoas de qualquer forma.” Jesus se compadeceu dos pecadores, suspirou e chorou por eles, mas nunca procurou entretê-los.
Em vão serão examinadas as Epístolas para se encontrar qualquer traço deste evangelho de entretenimento! A mensagem delas é: “Saia, afaste-se, mantenha-se afastado!” É patente a ausência de qualquer coisa que se aproxime de uma brincadeira. Eles tinham ilimitada confiança no evangelho e não empregavam outra arma.
Após Pedro e João terem sido presos por pregar o evangelho, a Igreja teve uma reunião de oração, mas eles não oraram: “Senhor conceda aos teus servos que através de um uso inteligente e perspicaz de inocente recreação possamos mostrar a estas pessoas quão felizes nós somos.” Se não cessaram de pregar a Cristo, não tiveram tempo para arranjar entretenimentos. Dispersos pela perseguição, foram por todos lugares pregando o evangelho. Eles colocaram o mundo de cabeça para baixo (Atos 17:6). Esta é a única diferença! Senhor, limpe a Igreja de toda podridão e refugo que o diabo lhe tem imposto, e traga-nos de volta aos métodos apostólicos.
Finalmente, a missão de entretenimento falha em realizar os fins desejados. Ela produz destruição entre os novos convertidos. Permita que os negligentes e escarnecedores, que agradecem a Deus pela Igreja os terem encontrado no meio do caminho, falem e testifiquem. Permita que os oprimidos que encontraram paz através de um concerto musical não silenciem! Permita que o bêbado para quem o entretenimento dramático foi um elo no processo de conversão, se levante! Ninguém irá responder. A missão de entretenimento não produz convertidos. A necessidade imediata para o ministério dos dias de hoje é crer na sabedoria combinada à verdadeira espiritualidade, uma brotando da outra como os frutos da raiz. A necessidade é de doutrina bíblica, de tal forma entendida e sentida, que coloque os homens em fogo.
A alma vê também que Jesus é um Salvador completo, perfeito, que oferece ao pecador, não apenas perdão, mas perdão abundante e sem medida; que não apenas lhe dá justiça, mas uma justiça maior que a justiça humana, uma justiça completamente divina; não apenas lhe dá o Espírito, mas dá rios de água viva e inundações sobre o sedento e árido terreno da alma dele. A alma descobre isso em Jesus, e nada pode fazer a não ser escolhê-Lo e deleitar-se Nele com um novo e particular amor, que diz: ‘Meu Amado é meu!’ E se alguém lhe pergunta: ‘Como tu te atreves, verme vil, a dizer que o Salvador é teu?’, a resposta é esta: ‘Porque eu sou Dele. Ele me escolheu desde antes da fundação do mundo, mesmo que eu nunca O houvesse escolhido; Ele derramou Seu sangue por mim, apesar de eu, por Ele, jamais ter derramado nem uma única lágrima; Ele clamou por mim, apesar de eu nunca ter-me preocupado com Ele; Ele me viu a mim, mesmo quando eu jamais houvesse me preocupado em conhecê-Lo. Ele me amou primeiro; por isso, eu O amo. Ele me escolheu; por isso eu O escolhi para sempre.’ ‘Meu Amado é meu, e eu sou Dele’.
(Robert McCheyne, em Mensajes Bíblicos, publicado por The Banner of Truth Trust. Traduzido por Francisco Nunes.)
Lance Lambert
Em algum lugar na eternidade passada, antes da fundação do mundo, antes mesmo que o homem caísse, o clamor de Deus ecoou através dos céus: ‘A quem enviarei e quem irá por nós?’ (Is 6.8). Era o clamor do coração do Pai quando anteviu e deparou com o complexo problema do pecado e vergonha humanos; o problema aparentemente insolúvel de uma humanidade ‘satanizada’.
A resposta ao problema não era a destruição dos homens, embora, se não fosse pelo amor de Deus, aquela teria sido uma solução simples. A resposta seria a reconciliação dos homens, trazê-los de volta ao plano e propósito originais de Deus, em eterna união com ele. Foi o Filho quem respondeu, tanto ao chamado como ao problema – ‘Eis-me aqui, envia-me a mim’.
Estas maravilhosas palavras: ‘Então disse eu: eis aqui venho; no rolo do livro está descrito a meu respeito: deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu’, cumpriram-se quando o Messias Jesus veio a este mundo (Sl 40.8; cf. Hb 10.5-10).
É claro que desde o princípio, Jesus, como homem, sabia exatamente qual era a sua obra. Desde o momento em que Pedro fez sua grande confissão: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’ (Mt 16.16), Jesus começou a revelar aos seus discípulos qual era sua suprema obra. Toda a sua vida, até este momento, havia sido tão somente uma preparação para isto. O dia da sua grande obra, que representa o foco central de todo o tempo e história, e do qual depende o divino propósito da salvação e redenção, chegou com a sua crucificação.
Quanto Custou a Jesus
Contudo, não devemos nunca cair na armadilha de pensar que, pelo fato de a obra da nossa salvação ter-se completado no curso de um breve dia, foi fácil para o Messias. Custou-lhe tudo! Naquelas poucas horas condensou-se um mundo de sofrimento e angústia que supera toda a imaginação humana.
A linguagem é totalmente inadequada, mesmo quando divinamente inspirada, para descrever ou interpretar aquela espécie de sofrimento. Nenhum dos escritores dos evangelhos tentou descrever os REAIS sofrimentos do Messias. Eles registraram pura e simplesmente os fatos. Mesmo os apóstolos declararam apenas suas conseqüências espirituais e sua interpretação – que ele levou nossos pecados, que ele sofreu em nosso lugar, que ele foi feito pecado por nós. Em momento algum, tentaram descrever o custo e o sofrimento. É como se todos estivessem cientes de que isso estava além dos limites da linguagem e da compreensão humana; que era algo tão santo, tão maravilhoso, tão misterioso e inescrutável, tão imenso e eterno em sua significação, que a mais eloqüente oratória do mundo fracassaria em descrevê-lo e a mais refinada mente teológica falharia em defini-lo.
A história real de como aquele que não tinha pecado foi feito pecado por nós, de como o Cordeiro de Deus se tornou, naquelas terríveis horas, a ‘serpente levantada’ (2 Co 5.21; Jo 1.29; Jo 3.14), nunca poderá ser contada. Tudo o que temos são indícios que revelam profundezas impenetráveis de angústia e sofrimento. Vemos os atos; observamos a humilhação, a tortura, o escárnio. Ouvimos suas palavras e seu clamor; vemos suas reações, a dor física e a morte.
Assistimos a tudo e estamos cônscios de que esta é uma parte mínima da história. Porque os sofrimentos físicos do Messias não foram os reais sofrimentos pelos quais passou. Eram apenas indícios exteriores de uma infinita e inexprimível dor. Seu verdadeiro serviço foi oferecido e realizado no domínio do invisível. O servo do Senhor passa, como passou, fora do alcance da nossa visão dentro da escuridão; além desse ponto não podemos penetrar. Chegamos ao limite da nossa finita habilidade de entender e apenas podemos curvar nossas cabeças e nossos corações.
Lá, naquele lugar de escuridão, sua alma tornou-se a oferta pelos nossos pecados; ele foi ferido, traspassado pelas nossas transgressões, moído pelas nossas iniqüidades. Lá, ele sofreu pelo nosso bem-estar, pela nossa paz; foi castigado, para que as nossas infelizes e torturadas consciências pudessem conhecer paz com Deus. Lá, nossas tristezas e pesares foram levados por ele; nossos males e enfermidades acharam nele seu alvo (ver Is 52.13-53.12).
Ele tomou sobre si tanto a raiz como o fruto de todo o pecado, pois toda a nossa iniqüidade foi colocada sobre ele. Foi o pecado de todo o mundo que ele levou sobre si – toda a sua maldade e impiedade, toda a sua incessante odiosidade, a dor de toda a história. Naquelas poucas horas tudo isso foi ajuntado e colocado sobre aquela querida estrutura humana.
O Cordeiro de Deus
Não foi por alguma estranha coincidência que o Messias morreu por ocasião da Páscoa. Aquela festa comemorava a gloriosa libertação por Deus de um povo em escravidão e miséria. Além disso, no centro daquela comemoração estava um cordeiro imolado, um cordeiro sem mancha, macho de um ano, cujo sangue fora colocado sobre a verga e sobre os umbrais das portas de cada família crente.
João Batista disse de Jesus: ‘Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!’ (Jo 1.29). Não foi portanto, por acaso que o Messias morreu quando os cordeiros estavam sendo imolados para a comemoração. Ele era a realização daquele antigo simbolismo.
Para os poderes satânicos das trevas, foi a sua hora. Quando, no Getsêmani, eles se acharam impotentes para impedir que a obra do Messias fosse completada, seu ódio e furor não conheceram limites. Foram tão terríveis aquelas horas finais que até mesmo a criação retrocedeu em horror.
Colossenses 1.17 declara que ‘nele subsistem todas as coisas’. Quando o Messias foi feito pecado por nós e tornou-se uma ‘maldição’, foi como se a criação natural, toda contida nele, entrasse em choque. A terra tremeu, as pedras se fenderam (Mt 27.51) e a luz da natureza mergulhou em trevas (Mc 15.33). Foi como se o próprio ser de Deus fosse envolvido por uma insuportável dor e, em conseqüência, o próprio universo fosse afetado.
Mesmo que não compreendamos o mistério desta questão, ela revela algo da realidade e profundidade dos sofrimentos do Messias. Vindo daquelas negras e impenetráveis profundezas de dor e escuridão ouvimos, ecoando pelos séculos, o temível brado do coração partido do Messias: ‘Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?’ (Mc 15.34).
O Messias foi feito pecado por nós e ‘foi da vontade do Senhor esmagá-lo’; era o próprio Deus que submetia o Messias ao sofrimento. Jesus estava sozinho, não apenas no nível humano; foi desamparado pelo próprio Pai por causa do nosso pecado.
Toda a extensão do que ele fez, precisamente como sofreu, como se tornou nosso pecado, o imensurável preço envolvido – tudo está muito além da nossa capacidade de compreensão. O que nós sabemos e conhecemos por experiência, se realmente cremos nele, é que ele nos salvou. De algum modo, além da nossa limitada compreensão, um vasto universo de pecado, de dor e infelicidade, de sofrimento e morte, foi concentrado nessa experiência. O Senhor depositou sobre ele a iniqüidade de todos nós e ele as levou embora para o esquecimento.
Ele pagou o derradeiro preço, à custa da sua própria vida, e sofreu pelos nossos pecados, o justo pelo injusto, de maneira a trazer-nos para Deus. O Messias provou a morte por cada homem, para daí em diante trazer muitos filhos à glória (Hb 2.9-10).
Por Que Ele o Fez?
Por estranho que possa parecer, é na zombaria cruel dos principais sacerdotes e escribas que deparamos com a verdade. Eles, inconscientemente, profetizaram quando disseram: ‘A outros salvou; a si mesmo não pode salvar’ (Mc 15.31).
Eles nunca proferiram palavra mais verdadeira. Toda a sua vida foi gasta para a salvação dos outros da morte, da corrupção, da escravidão e da doença, do pecado e de Satanás. Agora, contudo, no sentido mais profundo, ele não podia salvar a si próprio.
Não que não tivesse poder para fazê-lo. Todo o poder do universo estava ao seu comando, mas ele o usaria tão somente para sacrificar-se, não para salvar-se. Foi o seu amor por nós que aboliu qualquer possibilidade de autopreservação! Não foram os cravos que o prenderam ao madeiro, nem a presença dos rudes soldados que o guardavam lá, mas um amor Divino. Aquele amor o cravou na cruz com mais eficácia que qualquer outra coisa no universo.
Verdadeiramente, o amor de Jesus ultrapassa o conhecimento. É inteiramente inexplicável. Havia muitas coisas que o Servo do Senhor poderia ter feito, mas para que servisse a Deus verdadeiramente, o amor ao Pai e o amor por nós o fez rejeitá-las. Há nisso uma profunda lição para todos os que desejam servir a Deus. Há muitas coisas que poderíamos fazer mas, se verdadeiramente servimos a Deus, descobriremos que não poderemos fazê-las, por amor a Deus e por amor aos outros. O amor Divino sempre nos prenderá à vontade de Deus; sempre nos tornará prisioneiros do Senhor Jesus.
Os principais sacerdotes e escribas estavam totalmente cegos ao que acontecia naquela cruz. O Messias não podia salvar-se a si próprio, porque estava nos salvando e seria impossível fazer os dois ao mesmo tempo. Ele tinha de escolher entre salvar-se e salvar ao homem caído – por infinito amor e graça, escolheu salvar o homem caído. Na verdade, seu amor era tão grande, que através de sua morte, estava abrindo as portas da salvação até mesmo aos principais sacerdotes e escribas. Anás e Caifás, Pilatos e a multidão que zombou e escarneceu dele naquele dia – todos podiam encontrar vida, se tão somente se voltassem para Deus e cressem nele.
Eles pensavam que Jesus estava acabado, que o seu ‘estranho’ poder e influência estavam quebrados e os seus lábios finalmente silenciados. Não poderiam estar mais enganados. Porque exatamente ali, onde aquelas mãos e pés estavam pregados à cruz, onde aparentemente nenhum grande milagre foi realizado, nenhum poder dinâmico demonstrado, nenhuma poderosa mensagem pregada – ali o milagre dos milagres foi efetuado, o mais poderoso e eficaz poder na história das eras foi manifestado e a maior mensagem a ser pregada na terra foi pronunciada. Quando Jesus morreu com aquele grande brado: ‘Está consumado’, o véu do Templo rasgou-se em dois, de alto a baixo (Jo 19.30; Mc 15.37-38). O Messias nunca proferiu uma mensagem mais poderosa e significativa do que aquela que foi contida nesta palavra, ‘consumado’, nem jamais exerceu poder mais eficaz do que quando consumou a obra da nossa salvação e nos reconciliou com Deus.
Quando Jesus morreu, o véu do santuário se rasgou em dois, de alto a baixo, porque a condição para reconciliar a humanidade caída com Deus fora cumprida através do Messias. Aquele véu simbolizava a alienação do homem caído da presença de Deus, estando ele aquém da glória de Deus por causa do pecado. Representava o fechamento dos portões da Cidade Eterna, o lugar da habitação de Deus, para aquela espécie de homem, barrando-o de toda aquela ordem de vida.
Mas agora aquele véu fora rasgado pelo próprio Deus; ele mesmo destrancou e abriu aqueles portões. O que ninguém mais poderia fazer, o Messias fez. Ele não somente ganhou para nós uma eterna salvação, por mais tremenda e maravilhosa que seja, por si só, este fato! Porém, ele também pôs fim à antiga ordem, à velha criação, ao velho homem e à velha natureza! E, como o Servo de Deus, assentou uma sólida e eterna base para uma nova ordem, uma nova criação, um novo céu e uma nova terra, onde há justiça. Um novo homem veio através dele. Toda esta ordem das coisas que foi instituída através de Satanás, por causa da queda do homem, foi julgada e extirpada no Messias; nele foi crucificada, sepultada e lançada fora para sempre.
Além disso, naquele mesmo lugar de julgamento, uma porta de esperança foi aberta. Um novo dia raiou na noite que, humanamente falando, parecia ser a mais negra de todas. Para todos os que temiam ao seu nome, o Sol da Justiça levantou-se com cura nas suas asas. Para estes, um novo e eterno dia, com nova vida, novo poder e novo propósito, estava chegando. Para o Servo do Senhor, Jesus, os portais eternos estavam levantando suas cabeças. Ele adentrou-os triunfantemente e juntamente, somente pela graça de Deus, todos aqueles que criam nele também entraram.
Cada aspecto do Messias Jesus é singular. Seja o mistério da sua pessoa, ao mesmo tempo, Deus e homem; seja o fato das muitas profecias que predisseram sua vinda, seu nascimento, sua obra suprema e a glória que se seguiria; ou seja a beleza do seu caráter – ele é único. E se isso o coloca muito acima de tudo e de todos, sua obra apenas acrescenta mais à sua singularidade. Pois ninguém mais poderia ter feito o que o Senhor Jesus fez.
Como está escrito de maneira simples e profunda na Enciclopédia Judaica: ‘Se, como os cristãos crêem, o mártir Jesus foi ao mesmo tempo o Messias, então sua morte tem uma importância cósmica’.
Em tudo isso, vemos um pouco do que custou ao Messias realizar a obra que Deus lhe confiou. Foi um preço além da imaginação humana, porém ele, voluntariamente, pagou aquele preço e a si mesmo se ofereceu. Desde que somos tão não merecedores, levanta-se a questão sobre o porquê ele entregaria sua vida por nós. Há somente uma resposta adequada. Ele não morreu por amor ao dever, nem por satisfação e glória próprias. Nem mesmo poderíamos dizer, em um nível mais elevado, que morreu somente para a honra e glória de Deus, sem qualquer consideração por nós, como povo. Ele se tornou o Cordeiro de Deus e levou sobre si nossos pecados por causa do seu imensurável e imortal amor. Como colocou o apóstolo Paulo: Ele ‘me amou e a si mesmo se entregou por mim’ (Gl 2.20). Tal amor é tão inescrutável quanto inexplicável.
O Rei dos Reis
Nisto vemos o coração de Rei e Messias. Ele não é o Rei messiânico meramente pela sua linhagem, ainda que esta fosse tanto autêntica quanto pura; realmente era da descendência direta do rei Davi. Nem é o Rei messiânico só porque foi predestinado para o ser, ainda que este fato estivesse predito desde o princípio e divinamente pré-ordenado. Ele é Rei primordialmente porque é digno de ser Rei e de assumir o trono. Nele vemos a espécie de caráter e natureza que não pode fazer outra coisa senão reinar. Através desse caráter interior, ele transformou uma coroa de espinhos na mais inestimável e radiante coroa jamais usada por alguém.
Nele vemos um conceito de realeza, liderança e autoridade, que não tem par. Este conceito se baseia em caráter, em altruísmo, em uma obra sacrificial e em uma vida inteiramente dedicada aos outros. Seu reinado está fundado em amor divino, em absoluta verdade e em transparente realidade.
Isto, por si só, é razão suficiente para chamá-lo digno. O apóstolo João, em sua visão do céu e da eternidade, viu no centro de tudo o trono de Deus e no trono um ‘Cordeiro, como havendo sido morto’ (Ap 5.5,6). No glorioso coração de uma vasta e triunfante multidão de adoradores num novo céu e nova terra, está o crucificado Messias. O ‘Cordeiro, como havendo sido morto’ é o Messias entronizado, levando para sempre as cicatrizes do seu sofrimento, as marcas dos cravos em suas mãos e pés e a marca da lança no seu lado.
João viu o Messias tomar o livro selado com sete selos, representando a mente e a vontade de Deus, a qual ninguém, judeu ou gentio, fora capaz de compreender, e assistiu-o romper os selos e abri-los. O Messias Jesus cumprira o eterno propósito de Deus, redimindo uma inumerável multidão de cada nação na terra e trazendo muitos filhos à glória. Ninguém mais, em tempo algum, foi achado digno de herdar o trono de Deus, para poder restaurar todas as coisas ao Pai e realizar toda a sua vontade, durante todas as eras por vir.
No ‘Cordeiro, como havendo sido morto’, a chave para a história judaica foi finalmente encontrada, desvendando tudo o que antes era inexplicável e tornando em glória seus infortúnios. Pois o propósito de Deus não foi frustrado, mas cumprido através da queda do povo judeu; nem o seu amor por esse povo desvaneceu com a sua queda, pelo contrário, provou-se, através dos anos, imortal. No fim, todo o Israel, o verdadeiro povo eleito de Deus, judeus e gentios, será salvo para não mais pecar e a terra será cheia com o conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar.
Deus declarou solenemente, desde o princípio: ‘Tão certo, porém, como eu vivo, e como a glória do Senhor encherá toda a terra…’ (Nm 14.21).
Naquele dia, as palavras proféticas de Isaías se cumprirão: ‘Todo vale será levantado, e será abatido todo monte e todo outeiro; e o terreno acidentado será nivelado e o que é escabroso, aplanado. A glória do Senhor se revelará; e toda a carne juntamente a verá; pois a boca do Senhor o disse’ (Is 40.4,5).
Da destra de Deus o Messias Jesus, Cordeiro de Deus e Leão de Judá, reinará para sempre. O Rei dos Judeus tornou-se o Rei dos reis e Senhor dos senhores e ‘do aumento do seu governo e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o estabelecer e o fortificar em retidão e em justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos Exércitos fará isso’ (Is 9:7).
As palavras proféticas do Rei Davi concernentes ao Messias, proferidas tanto tempo atrás, finalmente se concretizarão (ver Sl 72.17-20): ‘Permaneça o seu nome eternamente; continue a sua fama enquanto o sol durar, e os homens sejam abençoados nele; todas as nações o chamem bem-aventurado. Bendito seja o Senhor Deus, o Deus de Israel, o único que faz maravilhas. Bendito seja para sempre o seu nome glorioso, e encha-se da sua glória toda a terra.Amém e amém.’
(Extraído do livro The Uniqueness of ISRAEL, por Lance Lambert, 1980; páginas 246-254. Publicado originalmente na revista À Maturidade.
É permitido baixar este arquivo, copiar, imprimir e distribuir este material, desde que explicite a autoria do mesmo.
O cristão, o genuíno cristão, percebe que é, de fato, uma alma solitária em meio a um mundo que não lhe oferece comunhão. Penso que se sucumbir de vez em quando e entregar-se às lágrimas, o cristão não deve sentir que é fraco. Trata-se de uma solidão normal em meio a um mundo que o repudia. Ele tem de ser um homem solitário! (…) Esse sentimento de não pertencer ao mundo é uma parte de nossa herança cristã. Esse sentimento de pertencer a outro mundo — e não a este — esconde-se no coração do cristão e o distingue das pessoas à sua volta. Muitos de nossos hinos vieram à tona graças a essa mesma solidão, esse sentimento de pertencer a uma cidadania diferente e superior!
(A. W. Tozer)
“… que andam passeando dentro do fogo” (Dn 3.25)
As chamas não impediram os movimentos deles; andavam no meio do fogo. Ele foi uma das avenidas pelas quais seguiram em direção ao ponto final. O conforto da revelação de Cristo não é que ela nos ensine a nos emanciparmos do sofrimento, mas a nos emancipar por meio do sofrimento.
Ó Deus, ensina-me a ver que, quando as sombras descem, estou apenas num túnel. Basta-me saber que um dia tudo estará bem.
Eu sei que um dia chegarei à glória da ressurreição. Mas eu quero mais, ó Pai: quero que seja o Calvário que me leve até lá. Quero ver nas sombras deste mundo as sombras de uma estrada – a estrada para a casa de meu Pai. Diga-me que eu tenho somente que subir esta avenida, pois a Tua casa fica lá no alto! Eu não sofrerei dano algum do sofrimento, se andar no meio do fogo.
(George Matheson)
Ó Pai, eu estremeço ao ser provado!
Sei que sairei como ouro refinado,
Mas enquanto no fogo,
Quero ver-Te a meu lado.
Quero ver-Te, Senhor!
(Extraído de Manancias no Deserto, dia 8 de maio, de Lettie Cowman, Editora Betânia)
F. J. Huegel
Se o estudo da Bíblia é para trazer o enlevo espiritual e tem como seu fruto a benção que Deus pretendia, ele deve ser em acordo com o principal princípio da interpretação bíblica; isto é, que tal estudo procure reconhecer que as Escrituras têm um fim supremo. Esse fim supremo é Jesus Cristo: “Vocês diligentemente estudam as Escrituras… As Escrituras que testificam de mim”. O Senhor Jesus Cristo é o Alfa e o Ômega da Bíblia. No momento em que perdemos de vista este fato podemos encontrar muito daquilo que é edificante, mas perdemos a chave. Precisamos esquadrinhar as Escrituras com o propósito de conhecer e amar o Redentor de uma humanidade maldita e pecadora. Este Redentor as Escrituras proclama fielmente. Se falharmos nisso, nenhum poder no céu ou na terra será capaz de remover o véu dos nossos olhos. O verdadeiro significado das Santas Escrituras nunca será revelado a nós.
Não somente é necessário ter em mente que a Bíblia tem o Senhor Jesus Cristo como seu supremo fim, precisamos também ter diante de nós o fato de que Cristo mesmo tinha em vista um alvo plenamente compreensível o qual Ele nunca perdeu de vista. Ele é o Cordeiro imolado desde a fundação do mundo. Ele foi “entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus”, ainda que mãos fracas O crucificaram. Este era Seu transcendente fim, Ele veio para morrer. Quando no monte da transfiguração falou com Moisés e Elias na presença de Pedro, Tiago e João, as duas mais significantes figuras do Velho Testamento encontraram os três principais apóstolos do Novo Testamento, com o Messias transfigurado como o centro, enquanto a voz de Deus foi ouvida dizendo: “Este é Meu Filho amado, a Ele ouvi”. E qual foi o tema desta sublime entrevista? Poderia haver somente um tema expressando o mais profundo interesse do céu e ao mesmo tempo a maior necessidade da terra, a morte do Salvador que Ele deveria consumar em Jerusalém. Sim, é a cruz. O maior dos apóstolos disse que ele não se gloriaria em nada mais. Desde a fundação do mundo, o Cristo de Deus estava na marcha em direção ao monte chamado Calvário.
Nós não iremos muito longe com Jesus nosso Senhor até que olhemos as coisas com Seus olhos e adotemos Seu ponto de vista. Estaremos maravilhados e seriamente amedrontados como estavam os apóstolos quando Jesus, no caminho para Jerusalém, disse a eles que o Filho do Homem deveria ser entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas que O condenariam à morte e O entregariam aos gentios para ser escarnecido e açoitado, cuspido e morto (Mc 10:32-34). Mas, ademais do nosso medo e admiração viria uma nova revelação do Filho de Deus: “Um Cordeiro como se tivesse sido morto”. É o ponto de vista do Calvário que habilita alguém a penetrar o mais profundo dos mistérios das Escrituras e entrar para a vida da mais plena libertação e vitória que elas oferecem ao crente.
“Está consumado!” Nunca houve uma palavra tão grave, nem haverá jamais alguma para superá-la. Este é o maior momento, não somente na história da humanidade, mas em toda a história moral de Deus. Aqui temos a obra-prima de Deus. Seu mais sublime feito histórico, que permanecerá como tal por todas as eras vindouras.
Alguém pode ficar chocado pelo fato de que nem João nem nenhum outro dos escritores, movidos como foram pelo Espírito Santo, buscou entrar nos detalhes do sofrimento físico do Salvador. Estes foram apenas uma escassa reflexão da mais profunda agonia de ordem cósmica. Este não foi um mero martírio. Este não foi mera devoção por uma causa sublime que aceita todas as coisas em resignação por causa do amor. Este não foi um mero exemplo de auto-sacrifício que devemos seguir. Este não foi um esforço para conduzir os homens ao arrependimento por uma persuasão moral impingida pelo sofrimento do Filho de Deus. Todas as teorias do homem concernentes à expiação, e existem muitas, sucumbem quando todos os fatos que têm que ver com a cruz são tomados em conta.
Este é o sofrimento de Deus pelos pecadores do mundo. “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo… Àquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus… Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós… Temos a redenção pelo seu sangue, a redenção dos nossos delitos”. Somente termos fortes como estes encontrados nas epístolas de Paulo são realmente adequados quando procuramos o significado do Calvário, pois as expressões de Paulo são inspiradas pelo Espírito Santo cuja missão é de tomar das coisas de Cristo e revelá-las ao coração do crente.
Somos muito gratos a João por cada palavra que nos deu concernente à crucificação. É a ele que estamos em débito pela conservação daquela mais significativa das sete últimas palavras do nosso infinitamente adorável Salvador quando falou desde a cruz: “Está consumado”, palavras proferidas, Mateus nos diz, com grande voz. Não é de admirar que a terra tremeu, que as rochas foram rachadas, que o véu do templo foi rasgado em duas partes de cima a baixo. Não é de se admirar que as sepulturas foram abertas e que muitos corpos de santos que dormiam ressuscitaram. Não é de admirar que o capitão da guarda romana, vendo estas coisas, temeria grandemente e clamaria dizendo: “Verdadeiramente este era o Filho de Deus”. Mas para alcançar o mais profundo significado do grito triunfante do Salvador, que marca a consumação da Sua obra de Redentor do mundo, devemos ir para as cartas de Paulo. Aqui o véu é posto de lado e vemos pela iluminação do Espírito Santo que, escarnecido pela turba, ridicularizado com ódio incomensurável e desprezado pelos fariseus e sacerdotes, ultrajado pelas autoridades judaicas, nosso Senhor, em Sua paixão e agonia sobre o maldito madeiro, morreu para a destruição das obras do príncipe das trevas e para a redenção do mundo. João, quando escreve sua primeira carta às igrejas, diz que o sangue de Jesus Cristo limpa de todo pecado, e podemos estar seguros de que ele disse isso não como uma teoria teológica a respeito do amargo sofrimento do Redentor e morte na cruz do Calvário, mas como alguém que, junto com inumeráveis milhões pelos séculos, experimentaram a paz que vem a todos aqueles que com sua carga de pecado e culpa lançaram-se sobre a misericórdia de Deus como revelada no Crucificado.
Os cristãos encontram na cruz do Redentor a garantia divina da remissão dos seus pecados, o mais elevado incentivo para uma vida santa, para a fé em Deus, amor pelos seus companheiros, para o auto-sacrifício e para a obediência à vontade do Pai, custe o que custar. A cruz é a revelação suprema da própria glória de Deus porque quando o grito “Está consumado” adentrou o céu desde os lábios do Salvador, sim, e baixou ao inferno, em legitimidade e verdade uma nova fundação foi colocada para a vida do mundo. Na luz da ressurreição do Salvador, pela afirmação da Santa Bíblia e a iluminação do Espírito Santo, os pecadores que experimentaram a redenção pelo Seu poder sabem que isso é assim. Esse grito foi o soar da morte da velha ordem, pois o homem velho foi crucificado juntamente com Cristo. Temos isso expresso com poder e beleza divinos nestas palavras de Paulo: “Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo” (Cl 2:14-15).
Ele é o Rei dos Reis e, podemos adicionar, Ele nunca foi mais majestoso do que naquela hora, nunca mais real do que quando na cruz do Calvário gritou, “Está consumado”. Ele reina desde o madeiro. Que trono é a cruz! Que coroa é a cora de espinhos! A terra nunca poderia coroá-Lo mais adequadamente, pois Seu incomensurável amor abraçou toda a humanidade e, identificando a Si mesmo com os pecados de todos, sofreu “o justo pelo injusto”, fazendo a paz em uma plena descarga da culpa de todo o mundo sobre o Seu amargo sofrimento e morte. Os espinhos eram nossos pecados, o escárnio a recompensa por nossa culpa, os pregos cravados em Suas tremulas mãos, os vergões pelos quais somos sarados.
Não é de se admirar que leríamos no Salmos 24 o registro da recepção do Salvador, quando Ele ressuscitou e ascendeu ao céu, em termos tão esmagadores. “Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória. Quem é este Rei da Glória? O Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso na guerra. Levantai, ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória. Quem é este Rei da Glória? O Senhor dos Exércitos, ele é o Rei da Glória”.
Do livro: João olha para a cruz, de F.J. Huegel
Fonte: Revista O Vencedor, edição nº3 Fevereiro-Maio 2007
Há um belo e conhecido trecho no livro do profeta Habacuque. Ele começa sua declaração com a palavra “Ainda”, indicando uma circunstância à qual contraporá outra.
“Ainda
que a figueira não floresça,
nem haja fruto na vide;
o produto da oliveira minta,
e os campos não produzam mantimento;
as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco,
e nos currais não haja gado”.
Então, ele apresenta sua conclusão, iniciando-a por “Todavia”:
“Todavia,
eu me alegro no Senhor,
exulto no Deus da minha salvação.” (3.17,18)
Não é toda a nossa vida uma constante luta entre o “todavia” que teremos em resposta aos “aindas” que enfrentamos? Não é o desafio constante de nosso dia-a-dia ter fé para dizer que “ainda que”, “todavia” manteremos o coração firme no Senhor? Não é nosso anelo dizer, com verdade e sem temor que, “ainda que…”, “todavia” nos alegraremos no Senhor, exultaremos em Deus? Não é a grande busca de nosso coração, se de fato conhecemos a Deus, ficarmos satisfeitos com Ele em lugar de encontrar sentido, conforto e segurança nas coisas?
Habacuque experimentou isso. Habacuque aprendeu “a estar contente em toda e qualquer situação” (cf. Fp 4.11), não porque as situações fossem sempre boas, mas porque se relacionava com o Senhor de todas as coisas, de todas as circunstâncias, não com elas.
“Ainda” e “Todavia”: eis aí a pedra-de-toque de nossa fé!
(Francisco Nunes, 14.07.07)
“Não floresceu a figueira!”
– A vara de Arão floresceu!
Meu Salvador está vivo.
Para ser meu socorro perfeito,
Deus mesmo o elegeu!
“Já não há fruto na vide!”
– Mas há na videira de Deus!
Dela sou ramo seguro,
E a seiva de vida do tronco
Circula nos seus!
“Não mais produz a oliveira!”
– Mas o óleo de Deus não tem fim.
Da plenitude que há em Cristo
Derrama ainda agora, abundante,
Também sobre mim!
“Já não há mais mantimento!”
– Mas há o pão do céu, para mim!
Dele me vem o sustento;
E a rica fatura que há nele
Jamais terá fim!
“Gado… as ovelhas… se foram!”
– Eu tenho o Cordeiro de Deus!
Seu sacrifício é perfeito.
Lavando no sangue, possuo
O reino dos céus!
Falhem-me as coisas, que importa?
Eu tenho Jesus, meu Senhor!
Nada me falta, Ele é tudo.
Minha alma se alegra e descansa
No meu Salvador!
(Mananciais no Deserto, Lettie Cowman, Editora Betânia)
Arthur Pink
Uma das mais infelizes e trágicas características de nossa civilização é a excessiva desobediência aos pais por parte dos filhos, quando menores, e a falta de reverência e respeito, quando grandes. Infelizmente, isto se evidencia de muitas maneiras inclusive em famílias cristãs.
Em nossas abundantes viagens nestes últimos trinta anos, fomos recebidos em muitos lares. A piedade e a beleza de alguns deles ainda permanecem em nosso coração como agradáveis e singelas recordações. Outros lares, porém, nos transmitiram as mais dolorosas impressões. Os filhos obstinados ou mimados não apenas trazem para si mesmos perpétua infelicidade, mas também causam desconforto para todos os que se relacionam com eles e prenunciam coisas ruins para os dias vindouros.
Na maioria dos casos, os filhos são menos culpados do que os pais. A falta de honra aos pais, onde quer que a achemos, deve-se, em grande medida, aos pais afastarem-se do padrão das Escrituras. Atualmente, o pai imagina que cumpre suas obrigações ao fornecer alimento e vestuário para os filhos e, ocasionalmente, ao agir como um tipo de policial da moralidade. Com muita freqüência, a mãe se contenta em desempenhar a função de uma criada doméstica, tornando-se escrava dos filhos, realizando várias tarefas que estes poderiam fazer, para deixá-los livres em atividades frívolas, em vez de treiná-los a serem pessoas úteis. A conseqüência tem sido que o lar, o qual deveria ser, por causa de sua ordem, santidade e amor, uma miniatura do céu, degenerou-se em “um ponto de parada para o dia e um estacionamento para a noite”, conforme alguém sucintamente afirmou. Antes de esboçar os deveres dos pais em relação aos filhos, devemos ressaltar que eles não podem disciplinar adequadamente os filhos, a menos que primeiramente tenham aprendido a governar a si mesmos. Como podem eles esperar que a obstinação de suas crianças seja dominada e controladas as manifestações de ira, se eles mesmos dão livre curso a seus próprios sentimentos? O caráter dos pais é amplamente reproduzido em seus descendentes. “Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem” (Gn 5.3). Os pais devem eles mesmos viver em submissão a Deus, se desejam obediência da parte de seus filhos. Este princípio é enfatizado muitas e muitas vezes nas Escrituras. “Tu, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo?” (Rm 2.21). A respeito do pastor ou presbítero da igreja, está escrito que ele tem de ser alguém “que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?)” (1Tm 3.5). E, se um homem ou uma mulher não sabem como dominar seu próprio espírito (Pv 25.28), como poderão cuidar de seus filhos? Deus confiou aos pais um solene e valoroso privilégio. Não exageramos ao afirmar que em suas mãos estão depositadas a esperança e a bênção, ou a maldição e a ruína da próxima geração.
Sua família é o berçário da Igreja e do Estado, e, de acordo com o que agora cultivam, tais serão os frutos que colherão posteriormente.
Eles deveriam cumprir seu privilégio com bastante diligência e oração. Com certeza, Deus lhes pedirá contas referente à maneira como criaram os filhos, que a Ele pertencem, sendo-lhes confiados para receberem cuidado e preservação.
A tarefa que Deus confiou aos pais não é fácil, em especial nestes dias excessivamente maus. Entretanto, poderão obter a graça de Deus, se a buscarem com sinceridade e confiança. As Escrituras nos fornecem as regras pelas quais devemos viver, promessas nas quais temos de nos apropriar e, precisamos acrescentar, as terríveis advertências, para que não realizemos essa tarefa de maneira leviana.
Instrua seu filho
Queremos mencionar aqui quatro dos principais deveres confiados aos pais. Primeiro, instruir os filhos. “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te” (Dt 6.6,7). Este dever é sobremodo importante para ser transferido aos outros; Deus exige dos pais, e não dos professores da Escola Dominical, a responsabilidade de educar os filhos. Tampouco essa tarefa deve ser realizada de maneira esporádica ou ocasional, mas precisa receber constante atenção. O glorioso caráter de Deus, as exigências de sua lei, a excessiva malignidade do homem, o maravilhoso dom de Seu Filho e a terrível condenação que será a recompensa de todos aqueles que O desprezam e rejeitam – estas coisas precisam ser apresentadas constantemente aos filhos. “Eles são pequenos demais para entendê-las”, é o argumento de Satanás, visando a impedir os pais de cumprirem seu dever. “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef 6.4). Temos de observar que os “pais” são especificamente mencionados neste versículo, por duas razões: eles são o cabeça da família e o governo desta lhes foi confiado. Os pais são inclinados a transferir sua responsabilidade à esposa. Essa instrução deve ser ministrada pela leitura da Bíblia e de explicar aos filhos as coisas adequadas à sua idade. Isto deveria ser acompanhado de ensinar-lhes um catecismo. Um constante falar aos mais novos não se mostra tão eficiente quanto a diversificação com perguntas e respostas. Se nossos filhos sabem que serão questionados após ou durante a leitura bíblica, ouvirão mais atentamente: fazer perguntas os ensina a pensarem por si mesmos. Este método também leva a memória a reter mais os ensinos, pois o responder perguntas definidas fixa idéias específicas em nossa mente. Observe quantas vezes Jesus fez perguntas aos Seus discípulos.
Seja um bom exemplo
Segundo, boas instruções precisam ser acompanhadas de bons exemplos. O ensino proveniente apenas dos lábios provavelmente será ineficaz. Os filhos são espertíssimos em detectar inconsistências e rejeitar a hipocrisia. Neste aspecto, os pais precisam humilhar-se diante de Deus, buscando todos os dias a graça que desesperadamente necessitam e somente Ele pode dar. Que cuidado eles precisam ter, para que diante de suas crianças não digam e façam coisas que tendem a corromper-lhes a mente ou produzam más conseqüências, se elas as imitarem! Os pais necessitam estar constantemente alertas contra aquilo que pode torná-los desprezíveis aos olhos daqueles que deveriam respeitá-los e honrá-los. Não apenas devem instruir os filhos no caminho da santidade, mas eles mesmos devem andar neste caminho, mostrando por sua prática e conduta quão agradável e proveitoso é ser orientado pela lei de Deus. No lar de pessoas crentes, o supremo alvo deve ser a piedade familiar – honrar a Deus em todas as ocasiões –, e as outras coisas, subordinadas a este alvo.
Quanto à vida familiar, nem o esposo nem a esposa deve transferir para o outro toda a responsabilidade pelo aspecto espiritual da vida da família. A mãe com certeza tem a incumbência de suplementar os esforços do pai, pois os filhos desfrutam mais de sua companhia. Se existe a tendência de os pais serem muito rígidos e severos, as mães são propensas a ser muito brandas e clementes; portanto, têm de vigiar mais contra qualquer coisa que enfraquecerá a autoridade do pai. Quando este proibir alguma coisa, ela não deve consenti-la às crianças. É admirável observar que a exortação dada em Efésios 6.4 é precedida por “enchei-vos do Espírito” (5.18), enquanto a exortação correspondente em Colossenses 3.21 é precedida por “habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo” (v. 16), demonstrando que os pais não podem cumprir seus deveres a menos que estejam cheios do Espírito Santo e da Palavra de Deus.
Discipline seu filho
Terceiro, a instrução e o exemplo precisam ser reforçados mediante a correção e a disciplina. Antes de tudo, isto implica no exercício de autoridade – a correta aplicação da lei divina. A respeito de Abraão, o pai dos fiéis, Deus afirmou: “Porque Eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito” (Gn 18.19).
Pais crentes, meditem nestas palavras com cuidado. Abraão fez mais do que simplesmente dar conselhos: ele ensinou com vigor a lei de Deus e ordenou sua casa. As regras com que ele administrou seu lar tinham o objetivo de seus filhos guardarem “o caminho do SENHOR” – aquilo que era correto aos olhos de Deus. Este dever foi cumprido pelo patriarca a fim de que a bênção de Deus estivesse sobre sua família. Nenhuma família pode crescer adequadamente sem leis familiares, que incluem recompensas e castigos. Isto é especialmente importante na primeira infância, quando ainda o caráter moral não está formado e as crianças não apreciam ou entendem seus motivos morais. As regras devem ser simples, claras, lógicas e flexíveis, tais como os Dez Mandamentos – poucas, mas relevantes regras morais, em vez de centenas de restrições insignificantes.
Uma das maneiras de provocarmos desnecessariamente nossos filhos à ira é atrapalhá-los com muitas restrições insignificantes e regras detalhadas e arbitrárias, procedentes de pais perfeccionistas. É de vital importância para o bom futuro dos filhos que estes sejam trazidos em submissão desde cedo. Uma criança malcriada representa um adulto ímpio – nossas prisões estão superlotadas com pessoas que tiveram a liberdade de seguir seu próprio caminho durante a infância. A mais leve ofensa de uma criança quebrando as regras do lar não deve ficar sem a devida correção; pois, se ela achar clemência ao transgredir uma regra, esperará a mesma clemência em relação a outras ofensas, e sua desobediência se tornará mais freqüente, até que os pais não tenham mais controle, exceto por meio do exercício de força brutal. O ensino das Escrituras é claro quanto a este assunto: “A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela” (Pv 22.15; ver também 23.13,14). Por isso, Deus afirmou: “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina” (13.24). E, ainda: “Castiga a teu filho, enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo” (19.18). Não permita que uma afeição insensata o impeça de cumprir seu dever. Com certeza, Deus ama os filhos Dele com um sentimento paternal mais profundo do que você ama seus filhos, mas Ele nos diz: “Eu repreendo e disciplino a quantos amo” (Ap 3.19; cf. Hb 12.6). “A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe” (Pv 29.15).
A severidade tem de ser utilizada nos primeiros anos de uma criança, antes que a idade e a obstinação endureçam-na contra o temor e a pungência da correção. Poupe a vara e você arruinará seu filho; não a utilize e terá de sofrer as conseqüências. É quase desnecessário salientar que as Escrituras citadas anteriormente não têm o propósito de incutir-nos a idéia de que nosso lar deve ser caracterizado por um reino de terror. Os filhos podem ser governados e disciplinados de tal maneira que não percam o respeito e a afeição pelos pais. Estejamos atentos para não estragar-lhes o temperamento, por fazer exigências ilógicas e provocá-los à ira, por castigá-los expressando nossa própria ira. O pai tem de punir um filho desobediente, não porque ficou bravo, e sim porque é correto fazer isso – Deus o exige, bem como a rebeldia de seu filho. Nunca faça uma ameaça se não tenciona cumpri-la.
Lembre que estar bem informado é bom para seu filho, mas ser bem controlado é ainda melhor. Esteja atento às inconscientes influências que cercam seu filho. Estude meios para tornar seu lar atraente, não pela utilização de recursos carnais e mundanos, mas por servir-se de ideais nobres, por incutir-lhes um espírito de altruísmo e desenvolver uma comunhão agradável e feliz. Não permita que seus filhos se associem a más companhias. Verifique cautelosamente as revistas e livros que entram em seu lar, observe os amigos que ocasionalmente seus filhos convidam para vir ao lar e as amizades que eles estabelecem. Antes mesmo de o reconhecerem, muitos pais permitem aos filhos relacionarem-se com pessoas que arruínam a autoridade paternal, transtornam seus ideais e semeiam frivolidade e pecado.
Ore por seus filhos
Quarto, o último e mais importante dever, no que se refere ao bem-estar físico e espiritual de seus filhos, é a intensa súplica a Deus em favor deles. Sem isto, todos os outros deveres são ineficazes. Os meios são inúteis, exceto quando o Senhor os abençoa. O trono da graça tem de ser fervorosamente buscado, para que sejam coroados de sucesso os nossos esforços em educar os filhos para a glória de Deus. É verdade que precisa haver uma humilde submissão à soberana vontade de Deus, um prostrar-se ante a verdade da eleição. Por outro lado, o privilégio da fé consiste em apropriar-se das promessas divinas e em recordar que a ardente e eficaz oração de um justo produz muitos resultados. A Bíblia nos diz que o piedoso Jó “chamava… a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles” (1.5). Uma atmosfera de oração deve permear o lar e ser respirada por todos os que dele compartilham.
E. M. Bounds
Os grandes mestres da doutrina cristã tem encontrado sempre na oração a fonte mais elevada de iluminação. Para não passar dos limites da Igreja Anglicana, diz-se do Bispo Andrews que passava cinco horas diárias sobre os joelhos. Tem-se chegado às maiores resoluções práticas que têm enriquecido e aformoseado a vida humana nos tempos cristãos por meio da oração.
(Cannon Liddon).
Ainda que muitas orações privadas, por sua própria natureza, têm de ser curtas; ainda que a oração pública, como regra, deva ser condensada; ainda que tem seu valor e lugar a oração breve, contudo, em nossas comunhões privadas com Deus o tempo tem um valor essencial. Muito tempo passado com Deus é o segredo da oração eficaz. A oração que se converte em força poderosa é o produto imediato de largas horas passadas com Deus. Nossas orações pequenas devem seu alcance e eficiência às orações extensas que as tem precedido. Uma oração curta não pode ser eficaz se o que a faz não tem tido uma luta contínua com Deus. A vitória da fé de Jacó não se haveria efetuado sem essa luta de toda a noite. Não se adquire o conhecimento de Deus com pequenas e inopinadas visitas. Deus não derrama Seus dons sobre os que vem vê-Lo por casualidade ou às pressas.
A comunhão constante com Deus é o segredo para conhecê-Lo e para ter influência com Ele. O Senhor cede ante a persistência de uma fé que O conhece. Confere Suas bênçãos mais ricas aos que manifestam desejo e estima por estes bens, tanto pela constância como pelo fervor de sua importunidade. Cristo, que nisto, como em tudo, é nosso Modelo, passou noites inteiras em oração. Seu costume era orar muito. Tinha um lugar habitual de oração. Largos períodos de tempo em oração formaram Sua história e Seu caráter. Paulo orava dia e noite. Daniel, no meio de importantes ocupações, orava três vezes ao dia. As orações de Davi de manhã, ao meio-dia e à noite eram indubitavelmente mui prolongadas em muitas ocasiões. Ainda que não saibamos exatamente o tempo que estes santos da Bíblia passaram em oração, temos indicações de que lhe dedicaram boa parte dele e, em algumas ocasiões, foi seu costume consagrar-lhe largos períodos da manhã.
Não queremos que se pense por isto que o valor das orações tem de ser medido com o relógio, senão que desejamos recalcar a necessidade de estar longo tempo a sós com Deus; se nossa fé não tem produzido este distintivo, se deve ao fato de que é uma fé débil e superficial. Os homens que, em seu caráter se têm assemelhado a Cristo e que têm impressionado o mundo com ele, são os que têm passado tanto tempo com Deus, que este hábito se tornou uma característica notável de sua vida. Charles Simeon dedicava das quatro às oito horas da manhã a Deus. O senhor Wesley passava duas horas diárias em oração. Começava às quatro horas da manhã. Uma pessoa que o conheceu bem escreveu: “Tomava a oração como sua ocupação mais importante, e se lhe via sair depois de suas devoções com uma serenidade no rosto que quase resplandecia”. John Fletcher molhava as paredes de seu quarto com o alento de suas orações. Algumas vezes orava toda a noite; sempre, freqüentemente, com grande fervor. Toda sua vida foi uma vida de oração. “Não me levantarei de meu assento” – dizia – “sem elevar meu coração a Deus.” A experiência de Lutero era esta: “Se deixo de passar duas horas em oração cada manhã, o inimigo obtém a vitória durante o dia; tenho muitos assuntos que não posso despachar sem ocupar três horas diárias de oração”. Seu lema era: “O que tem orado bem tem estudado bem”.
O arcebispo Leighton acostumava estar tanto tempo a sós com Deus que sempre parecia encontrar-se em uma meditação perpétua. “A oração e adoração constituíam sua ocupação e prazer”, disse seu biógrafo. O bispo Ken passava tanto tempo com Deus que se dizia que sua alma estava enamorada do Senhor. Estava na presença do Altíssimo antes que o relógio desse as três da manhã. O bispo Asbury se expressava assim: “Procuro tão freqüentemente como me é possível levantar-me às quatro da manhã e passar duas horas em oração e meditação”. Samuel Rutherford, cuja piedade ainda deixa sentir sua fragrância, se levantava de madrugada para comunicar-se com Deus em oração. Joseph Alleine deixava o leito às quatro da manhã para ocupar-se na oração até às oito. Caso ouvisse que alguns artesãos haviam começado a trabalhar antes de que ele houvesse levantado, exclamava: “Quão envergonhado estou! Não merece meu Mestre mais do que o deles?’. O que conhece bem esta classe de ações tem a sua disposição o banco inextinguível dos céus. Um pregador escocês, dos mais piedosos e ilustres, dizia: “Meu dever é passar as melhores horas em comunhão com Deus. Não posso abandonar em um canto o assunto mais nobre e proveitoso. Emprego as primeiras horas da manhã, das seis às oito, porque durante elas não há nenhuma interrupção. O melhor tempo, a hora depois da merenda, o dedico somente a Deus. Não descuido o bom hábito de orar antes de deitar, porém ponho cuidado para que o sonho não me venha. Quando desperto na noite devo levantar-me e orar. Depois do café da manhã, dedico alguns momentos à intercessão”. Este era o plano de oração que seguia Robert M’Cheyne. A famosa sociedade de oração metodista nos envergonha: “Das cinco às seis da manhã e das cinco às seis da tarde, oração privada”. John Wech, o santo e maravilhoso pregador escocês, considerava mau empregado o dia se não havia dedicado oito ou dez horas dele a orar. Tinha uma beca para envolver-se na noite quando se levantava a orar. Lamentando-se sua esposa por encontrá-lo no solo chorando, a contestava: “Oh, mulher, tenho de responder por três mil almas e não sei o que passa com muitas delas!”
Fonte
Charles Haddon Spurgeon
“Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne” (Ezequiel 36.26).
Você notará… Deus não tem prometeu aperfeiçoar nossa natureza ou remendar nosso coração partido. Não, Sua promessa consiste em nos dar um novo coração e um espírito de retidão. A natureza humana está muito longe de ser apenas melhorada. Não é como uma casa que precisa de pequenos reparos, tais como substituir uma telha ou fazer um reboco no teto. Não! Ela está completamente corrompida. Até seu alicerce está arruinado. Do teto ao alicerce, não há uma viga sequer que não tenha sido comida pelos cupins. Não existe mais solidez, está toda apodrecida e pronta para desabar. Deus não faz tentativas ou experimentos com o homem; Ele não escora as paredes com estacas ou pinta novamente as portas; não ornamenta e embeleza, mas determina que a velha casa seja completamente derrubada e uma nova seja construída em seu lugar. Como já mencionei, isto é mais do que ser restaurada ou melhorada. Se apenas algumas peças estivessem em mau estado, poderiam ser consertadas. Se tão somente uma ou duas engrenagens desta grande máquina chamada “humanidade” estivessem quebradas, o Criador colocaria tudo em ordem. Trocaria as peças quebradas, substituiria a roda danificada, e a máquina voltaria a trabalhar. Pelo contrário, os reparos são necessários por toda parte; não há sequer uma alavanca que não esteja quebrada ou eixo sem estragos; nenhuma das engrenagens funciona corretamente. A cabeça toda está doente e o coração completamente debilitado. Da sola dos pés à cabeça, a raça humana está toda infestada de chagas e feridas pútridas. Por isso, o Senhor, não pensa em apenas um simples reparo. Ele faz tudo completamente novo!
(Extraído de Textos da Reforma)