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A cruz: a base do ministério de vida

A segunda Carta aos Coríntios é, acima de tudo, um livro de sofrimento. Ali vemos o servo de Deus, Seu vaso escolhido, passando por terríveis provas de fogo e sofrendo como, talvez, nenhum outro apóstolo ou servo do Senhor jamais tenha experimentado. O sofrimento está gravado no livro todo: sofrimento físico, mental e espiritual; alguns foram passageiros e outros, permanentes. Mas ele mostra o motivo para esses sofrimentos ao dizer: “Levando sempre no corpo o morre de Jesus, para que também Sua vida se manifeste em nosso corpo” (4.10). Essa é a base de todo ministério em vida. É preciso haver sofrimento e dor; é preciso haver a cruz, se a vida de Cristo tiver de ser manifestada. “De modo que, em nós, opera a morte, mas, em vós, a vida”.

Sempre que houver um afastamento da cruz, uma fuga do Calvário, uma recusa do caminho da dor e do sofrimento, uma indisposição para pagar o preço e sofrer dor e perda, então, haverá pobreza, morte, superficialidade e vazio que nada nos dará para ministrarmos aos filhos de Deus. “Que a morte nunca cesse de operar em mim, para que a vida também nunca cesse de fluir para os outros.”[1]

Qual é a explicação para a superficialidade e pobreza tão marcantes no ministério nestes dias? É porque os ministros mesmos experimentaram muito pouco. Eles deram um jeito de escapar da cruz sempre que Deus a ofereceu ou designou a eles. Sempre existe um meio de escape, outro caminho cujo preço não seja tão alto, um caminho inferior e não o caminho da cruz. Quão raros e poucos são os realmente ricos espiritualmente. E por quê? Porque seus sofrimentos não foram abundantes.

Os arranjos de Deus são perfeitos. Ele sabe que tipo de sofrimento cada um precisa: se é físico, material, mental ou espiritual. Quando Deus em Sua sabedoria os faz chegar a nós, porque vê que precisamos deles, regozijemo-nos e procuremos ver o Senhor neles. Vamos aceitá-los com alegria, reconhecendo que somos totalmente fracos e incapacitados para eles, mas que Ele é graciosamente capaz. Ele realmente é, e, na circunstância, nós O encontramos em Sua plenitude e suficiência. Conhecemos a Deus de forma real porque O encontramos fazendo em nós e por nós o que não podemos fazer. Assim somos capacitados a ministrá-Lo em vida aos outros, a edificar o Corpo, a espalhar vida – Sua vida – onde quer que formos. Sempre que a morte estiver realmente operando em nós, então, e só então, é que a vida pode verdadeiramente fluir para os outros.

O Quebrantamento Produz o Ministério

Isaque representa aquele que tinha tudo por meio dos dons. Observe que tudo o que recebeu veio do seu pai. Era algo objetivo para ele, algo fora dele. Até mesmo quando Isaque abençoou os filhos, ele ficou bastante confuso, pois estava quase cego e confundiu os rapazes. Não foi assim com Jacó, pois este havia sido quebrado e realmente foi espatifado pelo Senhor; e o Espírito de Deus trabalhou interiormente a própria vida de Deus nele, até que ele disse: “A Tua salvação espero, ó Senhor!” (Gn 49.18). Quando abençoou seus filhos, ou melhor, os filhos de José, Jacó sabia exatamente o que estava fazendo. Ele o fez com inteligência. Ele disse: “Eu sei meu filho, eu o sei” (Gn 48.19). Jacó tinha luz, Jacó tinha revelação, porque havia sido quebrado.

Muitos perguntam: “Por que muitos servos bastante usados por Deus falham ou terminam sendo colocados de lado, isto é, não são mais usados por Ele? Quem pode dizer que Deus já os havia usado? e se Ele usou, foi apenas concedendo dons. Deus, em Seu direito soberano, escolheu alguém para lhe conceder um dom temporário, para ser usado por Ele durante algum tempo, porque o homem não era interiormente digno de qualquer outro ministério.

“Temos porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (2Co 4.7). O Senhor nos conduz através de provas de fogo, as quais não poderíamos suportar nem por elas passar, situações em que não seríamos vitoriosos e nas quais seríamos terminados; todavia, é exatamente aí que descobrimos que aquilo que é precioso em nosso interior funciona. Por causa daquilo que é precioso dentro do vaso, por causa da vida de Cristo no interior de nós seguimos até o fim. Somos vitoriosos onde não poderíamos ser. Levamos no corpo o morrer de Jesus e, consequentemente, a vida de Jesus se torna manifesta.

Você só pode ajudar as pessoas na proporção em que você mesmo tenha sofrido. Quando maior o preço pago, mais você pode ajudar os outros; quanto menor o preço, menos você pode ajudar os outros. À medida em que você passa por provas de fogo, teste, aflições, perseguições e conflitos, e à medida em que você permite ao Espírito Santo operar o morrer de Jesus em você, a vida, a vida de Cristo, fluirá para os outros.


[1] Palavras de despedida do irmão Nee, quando seu navio partiu de Xangai para a Inglaterra em 1938 (N.E. em inglês)

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O quebrantamento e a disciplina (Watchman Nee)

Para o homem exterior ser quebrantado, é imperativo uma plena consagração. Mesmo assim, devemos entender que este ato de crise por si só, não resolverá a totalidade do nosso problema no serviço. A consagração é meramente uma expressão da nossa disposição para estar nas mãos de Deus, e pode ocorrer em apenas uns poucos minutos. Não pense que Deus pode acabar Seus tratos conosco neste tempo tão curto. Embora estejamos dispostos a oferecer-nos completamente a Deus, estamos apenas no começo da estrada espiritual. É como entrar pelo portão. Depois da consagração, deve haver a disciplina do Espírito Santo para nos tornar em vasos dignos para o uso do Mestre. Sem consagração, o Espírito Santo encontra dificuldade em nos disciplinar. Mesmo assim, a consagração não pode servir como substituto da Sua disciplina.

Aqui, pois, há uma distinção vital: nossa consagração somente pode ser de acordo com a medida do nosso discernimento espiritual e da nossa compreensão, mas o Espírito Santo disciplina de acordo com Suas próprias luzes. Realmente não sabemos o quanto a nossa consagração envolve. Nossa luz é tão limitada que, quando nos parece que está no seu auge, aos olhos de Deus é negra como breu. A exigência excede a tudo quanto temos a possibilidade de consagrar – pelo menos, no nosso entendimento limitado. A disciplina do Espírito Santo, por outro lado, nos é medida conforme nossa necessidade vista na própria luz de Deus. Ele conhece nossa necessidade especial e, portanto, pelo Seu Espírito, ordena nossas circunstâncias de tal maneira que leva a efeito o quebramento do homem exterior. Veja até que ponto a disciplina do Espírito Santo transcende nossa consagração.

Visto que o Espírito Santo opera conforme a luz de Deus, Sua disciplina é eficiente e completa. Freqüentemente estranhamos as coisas que nos acontecem, mas, se fôssemos deixados por conta própria, poderíamos enganar-nos com a melhor das nossas escolhas. A disciplina que Ele ordena transcende nosso entendimento. Quão freqüentemente somos apanhados despreparados e concluímos que, decerto, uma coisa tão drástica não é nossa necessidade. Muitas vezes, Sua disciplina desce sobre nós repentinamente, sem recebermos aviso prévio! Talvez insistamos que estamos vivendo “na luz”, mas o Espírito Santo está tratando conosco de acordo com a luz de Deus. A partir do momento em que O recebemos, Ele tem ordenado nossas circunstâncias para nosso proveito de acordo com Seu conhecimento de nós.

A operação do Espírito Santo em nossas vidas tem seu lado positivo bem como negativo – ou seja, há tanto um lado construtivo quanto um destrutivo. Depois de nascermos de novo, o Espírito Santo habita em nós, mas nosso homem exterior mui freqüentemente O priva de Sua liberdade. É como procurar andar com um par de sapatos do tamanho errado. Porque nosso homem exterior e o interior estão em desacordo entre si, Deus tem de empregar quaisquer meios de considera eficaz em demolir qualquer fortaleza sobre a qual nosso homem interior não tem controle algum.

Não é mediante o fornecimento de graça ao homem interior que o homem interior que o Espírito Santo quebranta o exterior. É lógico que Deus quer que o homem interior seja forte, mas Sue método é utilizar meios externos para diminuir nosso homem exterior. Seria quase impossível para o homem interior realizar isto, visto que, os dois são tão diferentes quanto à sua natureza que dificilmente podem causar qualquer ferida um ao outro. A natureza do homem exterior e a das coisas externas são semelhantes. Desta maneira, o primeiro pode ser facilmente afetado por estas últimas. As coisas externas podem ferir os homem exterior muito dolorosamente. É assim que Deus usa coisas externas para tratar do nosso homem exterior.

Você se lembra que a Bíblia diz que dois pardais são vendidos por um asse (Mt 10:29) e que cinco pardais são vendidos por dois asses (Lc. 12:6). O preço certamente é barato, e o quinto pardal é oferecido de graça. Mesmo assim, “nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai. E quanto a vós outros, até os cabelos da cabeça estão todos contados” (Mt 10:29, 30). Não somente cada cabelo é contado, como também é numerado. Podemos, portanto, ter certeza de que todas as nossas circunstâncias são ordenadas por Deus. Nada é acidental.

A providência de Deus é de acordo com Seu conhecimento das nossas necessidades, e tem em mira o despedaçar do nosso homem exterior. Sabendo que uma certa coisa externa nos afetará assim, Ele dispõe a situação a fim de nos fazer encontrar com ela uma vez, duas vezes, e talvez até mais vezes. Você não percebe que todos os eventos da sua vida durante os últimos cincos anos ou dez anos foram ordenados por Deus para sua educação? Se você murmurou e se queixou, você estava ignorando a disciplina do Espírito Santo. Lembre-se de que tudo quanto nos acontece é medido pela mão de Deus para nosso bem supremo. Embora, provavelmente não seja o que escolheríamos, Deus sabe o que é melhor para nós. Onde estaríamos nós hoje, se Deus não tivesse nos disciplinado assim por meio de ordenar nossas circunstâncias? É exatamente isto que nos conserva puros, andando nos Seus caminhos. Como são estultos aqueles que têm murmurações na sua boca e rebelião no seu coração diante das próprias coisas que o Espírito Santo lhe distribuiu sob medida para seu próprio bem.

Tão logo somos salvos, o Espírito Santo começa a distribuir disciplina; mas não pode agir livremente até que nossa consagração seja completa. Depois da pessoa ser salva mas ainda não consagrada, e enquanto ainda ama a si mesma mais do que a Deus, o Espírito Santo, mesmo assim, está operando para trazê-la sob controle e quebrantar seu homem exterior, afim de que, Ele possa operar sem impedimento.

Finalmente, vem um momento em que você percebe que não pode viver por si só e para si mesmo. Na luz vaga que você possui, você vem para Deus e diz: “Consagro-me a Ti. Quer venha a vida, quer venha a morte, entrego-me nas Tuas mãos” Isto fortalecerá a obra do Espírito Santo na sua vida. Nisto acha-se a importância da consagração: deixa o Espírito Santo operar sem restrição. Não ache estranho, portanto, quando muitas coisas inesperadas lhe acontecem depois da sua consagração.

Você disse ao Senhor: “Senhor! Faz o que achas melhor na minha vida.” Agora, depois de você ter-se colocado assim incondicionalmente nas Suas mãos, o Espírito Santo pode operar livremente em você. Para resolver de todo o coração que seguirá ao Senhor, você deve prestar bastante atenção à obra disciplinar do Espírito Santo.
O Maior Meio de Graça
Deus tem outorgado Sua graça a nós desde o dia em que fomos salvos. As maneiras pelas quais podemos receber graça da parte de Deus são chamadas os “meios de graça.” A oração e o escutar uma mensagem são dois exemplos, porque através destes meios, podemos aproximar-nos de Deus e receber graça. Este termo descritivo: “os meios de graça,” tem sido universalmente aceitos pela Igreja no decurso dos séculos. Recebemos graça através das reuniões, das mensagens, das orações, e assim por diante. Mas decerto o maior meio de graça que não podemos nos dar ao luxo de negligenciar, é disciplina do Espírito Santo. Nada pode ser comparado com este meio de graça – nem as mensagens, nem a meditação nem o louvor. Entre todos os meios de graça dados por Deus, parece que este é o mais importante.

Seguir a história deste meio de graça pode mostrar-nos quão longe já andamos com o Senhor. O que experimentamos diariamente, no lar ou na escola ou na fábrica ou na estrada, é ordenado pelo Espírito Santo para nosso máximo benefício. Se não tiramos proveito deste maior meio de graça, sofremos uma perda terrível. Nenhum dos outros meios pode substituí-lo, por mais preciosos que sejam. As mensagens nos alimentam, a oração nos restaura, a Palavra de Deus nos refrigera, e ajudar aos outros libera nosso espírito. Mas se nosso homem exterior permanecer forte, damos a todos aqueles que entram em contato conosco, a impressão de sermos mistos e impuros. As pessoas reconhecerão nosso zelo mas também nossos motivos mistos, nosso amor para com o Senhor, mas também nosso amor para conosco. Sentem que somos um irmão precioso, porém difícil, pois nosso homem exterior não foi quebrantado. Não nos esqueçamos que embora sejamos edificados através de mensagens, da oração, e da Bíblia, o maior meio de edificação é a disciplina do Espírito Santo.

A partir de então deve haver, da nossa parte, uma consagração completa de modo que devemos submeter-nos àquilo que o Espírito Santo ordena. Semelhante submissão traz bênçãos para nós. Se ao invés disto, disputamos com Deus e seguimos nossas próprias inclinações, perdermos o caminho da Sua bênção. Uma vez que reconhecemos que todas as providências de Deus são para nosso máximo proveito – até mesmo coisas que nos são desagradáveis – e estamos dispostos a aceitar estas coisas como medidas disciplinares da parte d’Ele, veremos como o Espírito Santo fará uso de todas estas coisas ao lidar conosco.

Tratamentos de Vários Tipos

Sejam quais forem as coisas ás quais você está ligado, Deus tratará delas uma após a outra. Nem sequer trivialidades tais como as vestes, o comer e o beber podem escapar à mão cuidadosa do Espírito Santo. Ele não negligenciará uma só área na sua vida. Você pode até mesmo ignorar sua afinidade por uma certa coisa, mas Ele sabe, e tratará dela de modo muitíssimo eficiente. Até que venha o dia em que todas estas coisas são destruídas, você não conhece a liberdade perfeita. Nestes tratamentos, você pode finalmente reconhecer a eficiência do Espírito Santo. Coisas há muito esquecidas, são trazidas à mente pelo Senhor. As obras de Deus são perfeitas, e nada menos do que a perfeição pode satisfazer a Ele. Deus não pode parar no meio do caminho. Às vezes, tratará com você através d’outras pessoas, planejando para você ficar junto com uma pessoa com quem está zangado, ou a quem despreza, ou de quem tem ciúmes; ou, muito freqüentemente, é através daqueles que você ama. Antes disto, você não sabia quão impuro e misturado você era, mas depois você reconhece quanto “lixo” havia em você. Você pensava que era totalmente do Senhor, mas, depois de receber a disciplina do Espírito Santo, começa a reconhecer os efeitos de longo alcance que as coisas externas tinham sobre você.

Além disto, a mão de Deus pode tocar na vida dos nossos pensamentos. Descobrimos que nossos pensamentos são confusos, independentes, descontrolados. Fingimos ter mais sabedoria do que outros. É então que o Senhor nos deixa colidir com um muro ou espatifar-nos até o pó – tudo para nos mostrar que não devemos ter a ousadia de usar nossos pensamentos desordenadamente. Uma vez que tenhamos sido iluminados nisto, temeremos nossos próprios pensamentos como o fogo. Da maneira como se recolhe a mão imediatamente diante a chama, assim nós também nos recolheremos instantaneamente quando encontramos nossos pensamentos descontrolados. Lembraremos a nós mesmos: “Não é assim que devo pensar; estou com medo de seguir meus próprios pensamentos.”

Além disto, Deus assim disporá nossas circunstâncias de modo que possa lidar com nossas emoções. Algumas pessoas são extremamente emotivas. Quando estão jubilosas, não podem se conter; quando estão deprimidas, não podem ser consoladas. A totalidade da vida delas gira em torno das suas emoções, e seu júbilo resulta em dissipação, e sua depressão em inatividade. Como Deus retifica esta situação? Coloca-as em situações em que não ousam ser demasiadamente felizes quando estiverem jubilosas, nem demasiadamente tristes quando estiverem deprimidas. Somente podem depender da graça de Deus e viver pela Sua misericórdia, não pelas suas emoções instáveis.

Embora sejam bem comuns as dificuldades com os pensamentos e emoções, a dificuldade maior e mais prevalecente é com a vontade. Nossas emoções são desregradas por nossa vontade não foi tratada. A raiz está em nossa vontade. A mesma coisa diz respeito a nossos pensamentos. Talvez posamos pronunciar com a boca as palavras: “Não se faça a minha vontade, e, sim, a tua,” mas quantas vezes realmente deixamos o Senhor assumir o controle quando as coisas acontecem? Quanto menos você conhece a si mesmo, tanto mais facilmente pronuncia tais palavras. Quanto menos iluminado você está, tanto mais fácil a submissão a Deus parece ser. Aquele que fala com facilidade barata comprovou que nunca pagou o preço.

Somente quando somos tratados por Deus é que realmente vemos quão endurecidos somos e quão dispostos a termos nossa própria opinião. Deus precisa tratar conosco para tornar nossa vontade terna e dócil. Pessoas resolutas estão convictas de que seus sentimentos, modos e julgamentos sempre estão certos. Considere como Paulo recebeu esta graça registrada em Filipenses: “Não confiamos na carne” (3:3). Nós, também, devemos ser levados por Deus a uma situação em que não ousamos confiar em nosso próprio julgamento. Deus permitirá que cometamos engano após engano até compreendermos que este será nosso padrão para o futuro, também. Realmente precisamos da graça do Senhor. Freqüentemente o Senhor permite que ceifemos conseqüências sérias dos nossos julgamentos.

Finalmente, você ficará tão aflito com seus fracassos que dirá: “Temo meus próprios julgamentos assim como temo o fogo do inferno. Senhor, tendo a cometer enganos. A não ser que Tu sejas misericordioso comigo, a não ser que Tu me apóies, a não ser que Tu me detenhas com Tua mão, errarei mais uma vez”. Este é o começo da destruição do homem exterior: quando você já não ousa confiar em si mesmo. Suas opiniões usualmente lhe vêm facilmente até que tenha sido tratado por Deus repetidas vezes e tenha sofrido muitos fracassos. Então, você se rende e diz: “Deus, não ouso pensar, não ouso decidir.” Esta é a disciplina do Espírito Santo: quando todos os tipos de coisas e todos os tipos de pessoas estão fazendo pressões de todas a direções.

Não pense que haverá qualquer relaxamento desta lição! Muitas vezes, o fornecimento da palavra de Deus pode estar em falta, ou outro meio de graça pode ser insuficiente, mas este meio de graça especial – a disciplina do Espírito Santo – sempre está conosco. Você pode dizer que não tem oportunidade de escutar a Sua palavra e ser suprido por ela mas isto nunca acontecerá no caso da disciplina do Espírito Santo. Dia após dia, Ele está planejando amplas oportunidades para você aprender.

Uma vez que você se rende a Deus, esta disciplina satisfará sua necessidade muito mais do que o fornecimento da Sua palavra. Não é apenas para os cultos, os habilidosos, os dotados; não, é o caminho para todo filho de Deus. O fornecimento da palavra de Deus, o poder da oração, a comunhão dos crentes – nenhuma destas coisas pode substituir a disciplina do Espírito Santo. È porque você precisa não somente ser edificado; precisa também ser quebrantado, de ser livrado de todas as numerosas coisas na sua vida que não podem ser levadas para a eternidade.

A Cruz em Operação

A cruz é mais do que uma doutrina; deve ser posta em prática. Não pense que o caminho para a humildade é lembrando-nos constantemente que não devemos ser orgulhosos. Devemos ser feridos uma vez após outra – ainda que chegue a vinte vezes – até que nos rendamos e já não somos orgulhosos. Nunca suponhamos que isto se realiza meramente por meio de seguir o ensino de um determinado irmão. Não, é porque nosso orgulho tem sido quebrado através do tratamento por Deus.

Mediante a operação da cruz, aprenderemos a depender da graça de Deus, não da nossa memória. Quer lembremos, quer não, permanece o fato de que Ele está realizando uma obra que é fidedigna e duradoura. Anteriormente, o homem exterior e o interior não podiam ficar de mãos dadas; mas agora o homem exterior espera meigamente, com temor e tremor diante de Deus.

Cada um de nós tem necessidade desta disciplina da parte do Senhor. Ao passarmos em revista a história do nosso passado, não podemos deixar de ver a mão de Deus lidando com a independência, o orgulho, e o egoísmo do nosso homem exterior. Descobrimos o significado das coisas que nos aconteceram.

A Liberação do Espírito, Watchman Nee

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Vivendo pela vida de Deus (Watchman Nee)

A. Vivendo pela Vontade do Homem ou pela Vida de Deus

“Constituído, não conforme a lei de mandamento carnal, mas segundo o poder da vida indissolúvel”. (Hb 7:16)

“Não temas; eu sou o primeiro e o último, e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e do inferno”. (Ap 1:17,18)

“Ao qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte; por quanto não era possível fosse ele retido por ela”. (At 2:24)

“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca”. (Mt 26:41)

“Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim; ainda que morra viverá”. (Jo 11:25)

“Para o conhecer e o poder da sua ressurreição e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte”. (Fp 3:10)

“E qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais”. (Ef 1:19-20)

“Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”. (Cl 1:29)

“Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado”. (Rm 7:14)

“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a natureza da tribulação que nos sobreveio na Ásia, porquanto foi acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida. Contudo, já em nós mesmos tivemos a sentença de morte, para que não confiemos em nós, e, sim em Deus que ressuscita os mortos”. (II Co 1:8-9)

“Então ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza”. (II Co 12:9a)

“Posto que buscais prova de que em mim Cristo fala, o qual não é fraco para convosco, antes é poderoso em vós”. (II Co 13:3)

Muitas pessoas estão vivendo pela vontade própria, e não pela vida de Deus. Eles são cristãos porque decidiram sê-lo. Decidiram por sua vontade. Eles querem santificação e estão determinados a obtê-la. Resolveram experimentar vitória em suas vidas. Por melhor que isso possa parecer, estas pessoas estão vivendo pela sua vontade. Suas vidas estão totalmente dentro da esfera de suas vontades. Semelhantemente, muita obra cristã é realizada também nesta esfera.

Você deveria ser um bom cristão, deveria ter vitória, e deveria ser cheio com o Espírito. Mas o máximo que consegue alcançar é somente desejar isso. “O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26:41b). “Pois o querer fazer o bem está em mim; não, porém o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” (Rm 7:18b – 19). O desejo da vontade não pode lhe dar o poder de fazê-lo, pois a carne é mais forte.

Aquele que confia na vontade certamente será derrotado. A vontade é muito fraca; ela não pode levar alguém a ser vitorioso. Ela somente consegue funcionar à medida em que algo a move ou empurra. Esta não é a vida de Cristo; é a vida da vontade. Ela está destinada à derrota.

A vida de Cristo, no entanto, está acima do plano da vontade. A Sua vida nos ampara; nos leva consigo e nos conduz naturalmente. Nós nada fazemos; Ele tudo faz. Sua vida flui e transborda sobre a vontade e as circunstâncias. Não lutamos nem nos esforçamos para trilhar o caminho. Ele simplesmente nos carrega consigo, em Seus braços.

Em relação à nossa fraqueza física, a mesma regra se aplica. Não podemos nos forçar a vencer nossas fraquezas ou a viver acima delas.. A vida de Cristo, porém, simplesmente flui e nos carrega consigo. Não precisamos nos reanimar e prosseguir, pois Cristo o faz por nós. Como descrito em II Coríntios 1:8-9, Paulo estava em completo desânimo tanto interna quanto externamente. Ele estava verdadeiramente em uma condição desesperadora, onde acabara-se toda a esperança. Então ele declarou que confiava na vida de ressurreição do nosso Senhor Jesus. Apenas a vida não é suficiente, é necessária a vida de ressurreição. Enquanto Romanos 7 nos mostra que a vontade é impotente – pois ela não consegue nos levar à vitória, Romanos 8 nos fala que “a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus nos livrou da lei do pecado e da morte” (v. 2).

B. Vivendo pela Sabedoria Humana ou pela Vida de Deus
“Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que com santidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria humana, mas na graça divina, temos vivido no mundo, e mais especialmente para convosco”. (II Co 1:12)

“Quando se aproximava do Egito, quase ao entrar, disse a Sarai, sua mulher: Ora, bem sei que és mulher de formosa aparência; os egípcios, quando te virem, vão dizer: É mulher dele, e me matarão, deixando-te com vida. Dize, pois, que és minha irmã, para que me considerem por amor a ti e, por tua causa, me conservem a vida”. (Gn 12:11-13)

“Aconteceu que, num daqueles dias, estando Jesus a ensinar o povo no templo e a evangelizar, sobrevieram os principais sacerdotes e os escribas, juntamente com os anciãos, e o argüiram nestes termos: Dize-nos: Com que autoridade fazes estas cousas? ou quem te deu esta autoridade? Respondeu-lhes: Também vos farei uma pergunta; dizei-me: O batismo de João era dos céus ou dos homens? Então eles arrazoavam entre si: Se dissermos: Do céu, ele dirá: Porque não acreditastes nele? Mas se dissermos: Dos homens, o povo todo nos apedrejará; porque está convicto de ser João um profeta. Por fim disseram que não sabiam. Então Jesus lhes replicou: Pois nem eu vos digo com que autoridade faço estas cousas”. (Lc 20:1-8)

“Porque eu desci do céu não para fazer a minha própria vontade; e sim, a vontade daquele que me enviou”. (Jo 6:36)

Vimos que não é pela vontade do homem que vivemos. Agora veremos que também não é a sabedoria humana o princípio que governa a vida. Todo aquele que age baseado em sua sagacidade está no caminho errado. A única pergunta que deveríamos fazer é: “Qual é a vontade de Deus?” Não permitamos de modo algum que nossa esperteza se envolva nisso. Você teme dificuldades ou problemas? Se teme, a sagacidade ou a sabedoria humana imediatamente aparecem. Você busca a gloria dos homens? Se busca, então a sagacidade se introduz rapidamente.

No entanto, se o seu desejo é seguir somente a vontade de Deus (após esta lhe ter sido mostrada), então você não será afetado pelas críticas dos homens. Atenha-se apenas à vontade de Deus. Não se importe com o que o mundo pensa; nem considere que conseqüências podem haver.

Não confie na vontade ou sabedoria humana; confie apenas na graça de Deus. Quando você cometer um erro grave, e estiver em dificuldades, simplesmente clame a Deus: “Senhor, tem misericórdia de mim e ajuda-me.” Não tente se desembaraçar com mais manobras, mas lance-se sobre a misericórdia de Deus. Ele dispersará as nuvens e o livrará.

Aqueles que são brilhantes são os que se metem em mais problemas, por que confiam em sua sabedoria. Pessoas que são bem menos brilhantes têm poucos problemas, na medida em que confiam somente em Deus. Porém, onde há sagacidade, sempre haverá desonestidade, engano e pecado. Pesar a questão olhar seus vários ângulos, calcular o que pode acontecer se dissermos ou fizermos isto ou aquilo – tudo isso é sagacidade. Todavia, para o cristão isso é pecado. Deus não permitirá que você aja de acordo com sua própria forma de pensar e, sim, segundo Sua vontade. Algumas vezes você pode sentir como se estivesse caminhando diretamente contra algo pavoroso, mas se esta for Sua vontade e o Seu caminho, então não tente discutir, mas simplesmente obedeça, com a fé de uma criança.

C. A Lei do Espírito da Vida
“Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros”. (Rm 7:22-23)

“Porque a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto ao que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando a seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado. A fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito”. (Rm 8:2-4)

O homem apresentado em Romanos 7 vive pela sua vontade. Toda a sua vida e conduta são controladas por ele mesmo. Embora sua vontade possa ser boa, sua conduta é má. Ele se conforta dizendo, “eu anseio por Deus; minha vontade é dEle; eu odeio o pecado, não desejo fazer nada errado; desejo a vontade de Deus e quero glorificá-Lo em todas as coisas”. Contudo, isso é o máximo que essa pessoa pode fazer. Ele não viu que tudo isso está na esfera da vontade. Por esta razão, ele continua debaixo da lei. O poder da sua vontade se torna o único poder da sua vida; sendo assim, ele não é capaz de sair da fraqueza para a consecução.

Muitos cristãos controlam-se bem. Eles mantêm um forte domínio sobre si. Estão determinados a não pecar, nem a ofender os outros.. Com força eles se seguram, refreiam e controlam, querendo fazer de si mesmos pessoas que agem de determinada maneira e falam com um certo tom de voz, que eles aprovam. Eles, portanto, forçam a si mesmos a fazer o que não querem e se reprimem sob o poder da vontade. Mas tudo isso não passa da lei, a lei da vontade natural. Contudo, Romanos 8:2 nos diz que “a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte.” Se alguém não tem experimentado isso, ou é porque não nasceu de novo ou porque não foi bem instruído no evangelho pleno de Jesus Cristo. Ele conhece apenas um evangelho imperfeito, ou então não crê realmente na Palavra de Deus, por falta de revelação.

Como a lei do Espírito da vida vence a lei do pecado e da morte? No momento em que você é salvo, você sabe o que deve fazer. Você não precisa pesar e raciocinar para saber se uma palavra ou atitude é correta ou não. Há algo dentro de você que lhe diz tudo. Portanto, não é uma questão de saber, mas sim de obedecer ou não a essa voz interior, essa luz interior. A lei do Espírito da vida está operando dentro de você o tempo todo, mas pode ser que você não tenha aprendido a obedecê-la. A forma com que esta lei vence a outra é simples, natural, sem esforços. Ao reconhecer e crer nesta lei da vida que está operando em seu interior, você simplesmente eleva sues olhos e diz ao Senhor: “Senhor, eu não posso; mas Tu podes”. Isso é tudo o que você tem que fazer. Não é uma questão de tentar, mas de reconhecer esta vida em você, a qual é Cristo. Você apenas a observa viver, fluir e operar naturalmente sem esforço algum.

Imagine que você seja convidado para ir a uma casa onde, no passado, você sempre falava de maneira carnal e fazia coisas que não glorificavam ao Senhor. Será que você precisa se preparar orando muito sobre esse assunto, decidindo não repetir o que dizia ou fazia antes, e clamando ao Senhor para ajudá-lo? Não, você simplesmente crê que há uma nova lei operando em você – a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus. E esta lei o libertará. Descanse no poder da lei da vida. Não fique tentando, nem fique ansioso. Apenas confie totalmente nesta vida, nessa lei. E se você se esquecer, o Espírito o lembrará, pois isto é Sua responsabilidade. A lei opera naturalmente e sem esforço. Confie Nele com uma fé de criança, livre dos esforços, das lutas ou do empenho da vontade.

Será que essa lei espontânea está operando em você? Será que tem fluido de você, sem esforço, uma vida simples e espontânea?

D. Deixe de Tentar
“Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves? Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé” (Mt 6:26-30)

“Agora, pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. (Rm 8:1)

Há uma nova lei operando em nós que é maior que a lei antiga. Creia nesta nova lei. Creia que ela está operando, e que continuará a operar. Simplesmente siga essa lei. É assim que os cristãos vivem.

As pessoas não salvas, por outro lado, precisam controlar-se. Elas precisam refrear e ordenar as suas vidas pelas suas vontades. Os salvos, no entanto, podem soltar-se. Eles podem abandonar todo esforço próprio e desistir de tentar e lutar com suas vontades. Eles se renderão nas mãos de Deus. Deixe de tentar e deixe Deus agir.

E. A Palavra de Deus é Viva
“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, é mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração”. (Hb 4:12)

“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração: prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno”. (Sl 139:23-24)

“A revelação das tuas palavras esclarece, e dá entendimento aos simples”. (Sl 119:130)

“Mas todas as cousas, quando reprovadas pela luz, se tornam manifestas; porque tudo que se manifesta é luz”. (Ef 5:13)

“Àquele lugar chamou Jacó Peniel, pois disse: Vi a Deus face a face, e a minha vida foi salva”. (Gn 23:30)

“A vida estava nele, e a vida era a luz dos homens”. (Jo 1:4)

Como vamos saber que parte de nossos pensamentos ou decisões é de Deus e que parte é nossa? Algumas vezes há apenas uma diferença mínima e conseqüentemente descobrimos que não podemos diferenciá-las. Podemos nos perguntar: “Isso sou eu, ou é o Senhor, em mim? Isso procede do meu espírito ou da minha alma?” Tentamos dissecar nossos pensamentos, palavras e ações a fim de saber qual parte é natural e qual é espiritual. Esta é uma tarefa extremamente difícil, e ficamos desesperados quando tentamos fazer a discriminação.

Tentar fazer isso é fatal. Somente resulta em perplexidade e hesitação. Nada é exato ou firme; é como estar sempre num labirinto ou em um nevoeiro. Toda essa abordagem, porém, está errada. Deus nunca nos disse que podemos distinguir dentro de nós o que é alma e o que é espírito. Tal abordagem está errada e a pessoa que tenta fazê-la também estará errado. Deus nunca quis que fizéssemos isso, porque se olharmos para dentro de nós mesmo, só veremos trevas. Examinar-se a si mesmo a esse respeito nunca nos levará a achar luz. Pois tudo é escuridão dentro em nós. Seguir este caminho não nos levará a lugar algum. É um beco sem saída. Portanto precisamos parar com essa prática.

“A palavra de Deus é viva e eficaz, é mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração”. Quando dizemos ou sentimos que estamos certos ou errados, o ponto fundamental é: Como sabemos? De onde veio a luz – ou seja, o conhecimento de que isso ou aquilo está certo ou errado? De dentro de nós ou da palavra de Deus? Houve revelação? Tem que haver revelação ou luz baseada na Palavra de Deus para que possamos realmente ver. No momento em que o Espírito Santo envia luz sobre a Palavra de Deus, vemos e sabemos.

Devemos ter a luz que mata. Sob tal luz vemos que tudo o que é nosso está centralizado na alma. Portanto precisamos de revelação, porque ela mata e realiza a obra. Deus não opera de outra maneira à parte da revelação. Obter revelação é suficiente, pois a obra então é realizada. No momento em que a recebemos e nos vemos como Deus nos vê, somos enfraquecidos e nossa vida da alma morre. A luz que vem da revelação traz consigo o poder; ou melhor, ela mesma é o poder. Sendo assim, tudo depende de revelação. Depois que a recebemos nada mais resta para Deus fazer. Não há um segundo passo a tomar – a revelação é a chave de tudo.

Em Peniel, Jacó disse: “Vi a Deus face a face.” Esse é o local de revelação. Não apenas uma experiência, é estar face a face com o próprio Deus. Não é meramente uma operação de Deus, é a própria Luz. A luz mata, mas melhor ainda, a luz purifica. A única razão para não termos luz é não termos lugar para ela. Fechamos a porta. Estamos fechados para a luz. Ore para que possamos estar abertos a ela. Não obteremos luz até que estejamos abertos para ela. E quando a luz vem, ela mata. Portanto, após recebermos a luz, não mais devemos olhar para dentro de nós e nos perguntar se estamos certos ou errados, se é da alma ou do espírito. Somente ore: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração: prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.”

Você deve aprender a se abrir. Não engane a si mesmo, nem seja soberbo. Seja humilde e aprenda a ser sincero. Muitas vezes não somos sinceros para com Deus e com Sua Palavra. Algumas vezes a luz vem devagar, pouco a pouco. Mas quando ela vier, renda-se a ela. Ande mansamente com temor e tremor. Lide com o eu até o limite máximo, ou melhor, deixe o Espírito Santo lidar com você sem restrições. A razão pela qual somos carentes de discernimento em relação às situações de outros é porque não permitimos que Deus nos dê luz com respeito a nós mesmos. Precisamos primeiro discernir nosso próprio eu. Então poderemos ajudar outros a ver.

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Vida cristã Watchman Nee

Vida nas profundezas (Watchman Nee)

Leitura da Bíblia: Mc 4:5-6, 16-17; Os 14:5-7; Ct 4:12.

A partir das três passagens acima, podemos refletir sobre que tipo de viver entre os cristãos agrada a Deus, que tipo de viver e perseverante e imutável, e que tipo de viver pode sobreviver aos infortúnios e suportar testes. Por que alguns cristãos no inicio de sua experiência parecem tão brilhantes, mas depois de algum tempo não se pode encontrá-los? Por que é que alguns desistem na metade do caminho durante sua peregrinação? Por que é que alguns não conseguem seguir o Senhor ate o fim? Isto tem um relacionamento muito íntimo com o modo como vivem. Se um cristão não tem vida normal, ele e inseguro e é fácil desistir. Portanto, não devemos negligenciar esta questão.

UMA VIDA SUPERFICIAL

Marcos 4:5-6 diz: “Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o Sol a queimou; e porque não tinha raiz, secou-se”. Esta e uma das parábolas do Senhor Jesus sobre a semeadura de sementes. Nos versículos 16-17, o Senhor explica aos discípulos esta parábola: “Semelhantemente São estes os semeados em solo rochoso, os quais, ouvindo a palavra, logo a recebem com alegria. Mas eles não têm raiz em si mesmos, sendo antes de pouca duração; em lhes chegando a angustia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam”. Pela explicação do Senhor, vemos que esta e uma vida superficial que não pode suportar ou resistir ao teste das provações. Este tipo de vida aparentemente tem um bom começo, mas acaba miseravelmente. De acordo com este fenômeno, é algo que “logo nasceu”. Assim que brotou, obviamente a casca exterior da semente rompeu-se, e ela germinou. Isto quer dizer: a palavra não e mais simples doutrina para esta pessoa, mas foi transformada em vida. Como germinou e germinou rapidamente, igualmente, é como se o desenvolvimento fosse tão rápido e o progresso tão maravilhoso que ela tem razão de sentir-se satisfeita. Contudo, o fim é decepcionante, porque quando o sol está alto, ela é queimada e seca. Ela é a mais rápida para germinar, bem como para secar. Brotos que não podem resistir ao calor do sol têm pouca esperança de amadurecer e estão sujeitos a secar muito cedo. A condição da vida de muitos cristãos e exatamente assim. Muitos cristãos, imediatamente após ouvirem a palavra, prontamente a recebem com alegria sob a ilusão de que obtiveram tudo, entenderam tudo, estão preparados para pagar qualquer preço, e estão prontos para andar em qualquer caminho. Diante de Deus, eles têm a vontade e a consagração; diante dos homens, eles dão testemunho e são bastante zelosos. Contudo, quando menos esperam, quando lhes sobrevém alguma provação, eles logo começam a ficar abalados, sentem-se um tanto desanimados, acham insuportável, fogem diante do medo e, inevitavelmente, caem.

Irmãos e irmãs, para nós que já somos cristãos, o queimar do sol e indispensável porque ajuda nosso crescimento e auxilia nosso amadurecimento. Se você não pode manter-se em pé, e cai assim que encontra o calor do sol, isto indica quão superficial você é. o queimar do sol apenas exporá sua verdadeira condição; ele não roubará o que você realmente possui. É possível que a Palavra de Deus seja incapaz de suportar o queimar do sol? Não. O problema é como a Palavra de Deus é recebida. Por que ela germinou imediatamente, e secou assim que foi exposta ao calor do sol? Qual é a causa? Na Palavra do Senhor, podemos ver três razões para isto.

Primeira razão: Superficialidade do solo

A primeira razão é a superficialidade do solo. Isto significa que não há terreno e conseqüentemente nenhuma profundidade. Um cristão cujo solo é superficial nada tem interiormente. Quando tal pessoa ouve a palavra, toda frase parece ser prontamente recebida e bem compreendida. Ele está apto para transmiti-la a outras pessoas e pronto a dar testemunho diante delas. É tão fácil tal pessoa perder a verdade que ouviu, destruí-la, e desfazer o que disse a outras pessoas. Ela é facilmente satisfeita e também, sente fome facilmente; ela torna-se feliz e triste facilmente; ela com facilidade se entusiasma e também esfria; facilmente ri e chora. Tal pessoa é superficial; tal pessoa está vivendo em suas emoções e circunstâncias.

Sabemos que se uma árvore é alta, suas raízes devem ser profundas. Algumas podem atingir a profundidade de até três ou quatro quilômetros. Uma árvore que não consegue absorver água da superfície, sabe-se que aprofunda suas raízes até atingir a fonte de água. As palmeiras no Deserto da Arábia, apesar do calor do sol, permanecem com folhagem verde, porque extraem água descendo as profundezas, capacitando­-as a resistir ao sol ardente. Se um cristão aprofundou suas raízes, ele também será capaz de resistir ao calor do sol. Oh! Todos aqueles que vivem nos seus sentimentos ou influenciados pelas circunstâncias são pessoas sem profundidade. Também aqueles que são propensos a oscilar por suas emoções, e são influenciados pelo ambiente, não tem profundidade. Aqueles cuja vida está profundamente enraizada não prestam atenção as circunstâncias, nem vivem por sentimento, mas somente por fé. Eles não olham nem dependem das circunstâncias, mas vêem o Senhor atrás delas. Tais pessoas têm o amparo, o suporte e o poder que vem de Deus, em vez de serem influenciados pelas circunstâncias. Se uma pessoa não vive olhando para o Senhor por trás das circunstâncias, mas para as emoções e circunstâncias, não haverá uma única verdade ou ensinamento que ela seja capaz de possuir profundamente. Quando as circunstâncias São favoráveis, ela é ativa e eufórica, mas assim que encontra provações, torna­-se desanimada, depressiva e melancólica. Assim que a cruz a confronta, tal pessoa cai. Irmãos e irmãs, se vocês ficam abatidos e recuam quando encontram provações, isto prova que estão sem profundidade. Quando o sol os queima, imediatamente vocês murcham.

Segunda Razão: Falta de Raiz

A segunda razão e a ausência de raiz. Que é raiz? A parte de uma árvore exposta à vista é o tronco e o que está fora da vista, no solo, é a raiz; aquela parte com vida e que é visível são os galhos; a parte com vida, mas que é invisível é a raiz. Portanto, a raiz representa a vida escondida. Todo aquele que não tem raiz no Senhor, sua vida deve ser seca. Todo aquele que não tem vida oculta espiritualmente, e nada tem, além do que é manifesto diante dos homens, não tem raiz. Raiz e a parte invisível oculta; o que e exposto e visível não é raiz. Raiz é a invisível parte oculta; o que e exposto e visível não é raiz. Irmãos, vocês devem perguntar-se: além daquela parte de sua vida que é visível diante dos homens, quanto de vida oculta você tem diante do Senhor? Se tudo o que você tem é o pouco que é o exposto, nada há de maravilhoso porque você murcha assim que o sol se levanta e esquenta. Em nosso viver espiritual não há nada capaz de nos sustentar como a vida escondida. Se encontrarmos um irmão ou irmã que caíram, não olhemos a queda como um acontecimento acidental ou repentino. Ao invés disso, devemos perceber que anteriormente havia algo errado com sua vida oculta diante de Deus. Desde que ele não tem raiz, ele cai quando o sol se levanta para queimá-lo.

Em Mateus 6:6, o Senhor Jesus diz: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, e, fechada a porta, oraras a teu Pai que esta em secreto; e teu Pai que vê em secreto, te recompensara”. Fechar a porta é a vida oculta, e isso é raiz. Aqui, o Senhor fala de um modo peculiar: o Pai vê em secreto. Oh! a oração pode ser vista! Sempre pensamos que a oração é ouvida mas o Senhor diz que ela e vista. Portanto, algumas vezes não temos palavras na presença de Deus, mas apenas uma atitude – isto e precioso também. Oh! irmãos e irmãs, que proporção de sua vida é vista por Deus em secreto? Ou tudo o que vocês tem e visível diante dos homens? Quanto de sua vida espiritual diante de Deus nunca foi divulgado? Quanto da experiência que vocês tem é comparado com a que Paulo manteve em segredo das outras pessoas por quatorze anos? (2 Co 12:2). Se nada têm, isto indica que você não tem raiz. Se você e uma pessoa sem raiz, você imediatamente cairá quando o sol se levanta para queimá-lo. Irmãos e irmãs, daquilo que vocês possuem, apenas o que Pode sobreviver ao teste das provações é digno de confiança. Se vocês não aprofundaram suas raízes o bastante, vocês estão sujeitos a fracassar.

Terceira Razão: Empedramento do Solo

A terceira razão é que embaixo da superfície terrestre também há pedras. Não é que uma pessoa com pouca terra esteja sem vontade de aprofundar suas raízes, mas as pedras lá estão para obstruí-las. Superficialmente, ela é como as outras pessoas, mas em seu interior há pecados escondidos e ego endurecido. Na Bíblia, pedra tem diversos sentidos, um dos quais e o coração de pedra (Ez 36:26). Se desejamos aprofundar nossas raízes, não devemos endurecer nossos corações (Hb 3:8). Muitos cristãos nunca foram contrariados em seu modo de pensar e nunca foram quebrados. Eles sempre têm muitas razões para rejeitar a vontade de Deus e insistir em seus próprios pontos de vista, se uma coisa deve ser feita deste ou daquele modo. Eles têm pedras interiormente, e seu coração é muito duro. Deus tem de destruir suas pedras interiores antes que possam aprofundar suas raízes. Há apenas uma espécie de pessoa que aprofunda as raízes: aquele que teme a Palavra do Senhor (Is 66:5). Irmãos e irmãs, vocês precisam saber que um coração insubmisso a Deus e um coração de pedra. Devemos pedir a Deus que nos ilumine para ver quão grandes são as pedras em nós. Se temos pedras interiormente, não podemos aprofundar raízes. Então, quando o sol se levanta e esquenta, como não murchar?

As pedras não existem apenas por causa de um coração endurecido, mas também por causa de pecados ocultos. Talvez, em sua vida, haja um determinado pecado do qual você não se livrou, porque o preço é alto demais para que você tenha coragem de tratar com ele. Ou talvez a exigência de Deus seja forte demais para você ceder, resultando em argumentação e discussão com Deus. Se você tolera que seu pecado oculto permaneça, você não pode aprofundar raízes. Como, então, evitar de murchar quando o sol aparece e esquenta?

O QUEIMAR DO SOL

Irmãos e irmãs, sem luz nós não compreenderíamos quão superficiais somos. Se não fosse pelo queimar do sol, não poderíamos entender porque aqueles que desabrocham mais rapidamente, são também aqueles que murcham mais rapidamente. Quantas vezes nos enganamos sendo complacentes com nosso estado espiritual e vemo-nos como pessoas maravilhosas! Contudo, para nossa grande surpresa, quando o sol aparece e esquenta, imediatamente murchamos.

Por que Deus permite o queimar do sol e também consente que dificuldades nos sucedam? Irmãos, vocês devem saber que esta é a expressão final e máxima do amor do Senhor – a cruz. Oh! nada há que possa cultivar nossa vida espiritual tão bem quanto a cruz; nenhum teste pode ser melhor que a cruz. Um dia, quando ouvimos a palavra da verdade, aceitamo-la com alegria, imediatamente, e também consagramo-nos a Deus. Supomos que somos muito certos e super valorizamo-nos; assim Deus especialmente nos envia os testes e a cruz para que sejamos capazes de ver-nos. Conseqüentemente, um dia nós até mesmo temos uma controvérsia com Deus. O que esperamos de Deus não é esta direção, mas Ele verdadeiramente faz assim. Aonde Deus quer que vamos, não é aonde gostáramos de ir; o que Ele nos designa para fazer não é o que estamos dispostos a fazer. Portanto, não estamos satisfeitos; e inevitavelmente entendemos mal e culpamos Deus, e temos uma controvérsia com Ele. Irmãos, por favor, lembrem-se de que esta controvérsia é que os leva a condição de murchar. Todo murchar espiritual começa com desentendimento com Deus. Oh! se Deus cede e você vence, você esta condenado a murchar. Portanto, a cruz é-nos um teste para decidir se nossa vida penetrará nas riquezas ou murchara. Em outras palavras, se nossa vida será abundante ou secará depende de como tratamos com nossa divergência com Deus. Se você prevalece e Deus cede, não há outro resultado para sua vida a não ser murchar. Portanto você nunca deve regozijar-se por sua vitória aparente nem se deleitar em sua liberdade. Você precisa saber que isto simplesmente mostra que sua vida logo murchará, e que seu viver degenerar-se-á em breve. Isto e o que a experiência de muitos cristãos confirma. Não há uma vez em que Deus cede, e que sua vida permanece abundante. Portanto, se entre Deus e você ainda existe uma negociação não concluída, um problema não resolvido, e um ponto obscuro sobre a vontade de Deus, você deve ser extremamente cuidadoso. Se está em dúvida, insatisfeito com os arranjos de Deus e escolhe o caminho que você mesmo considera bom, então não precisa esperar ate o resultado tornar-se aparente; anteriormente você já começou a murchar.

Irmãos e irmãs, não devemos imaginar que realmente adquirimos algo simplesmente por ouvir uma mensagem. Deus terá de criar circunstâncias tais que vocês verdadeiramente sentirão a necessidade da palavra que ouviram, de maneira a testar se aceitaram realmente ou superficialmente a palavra. Deus tem de arquitetar uma circunstância para revelar-lhes que nenhum preceito da Escritura pode ser adquirido sem pagar-se um preço. Por exemplo, depois que ouviram uma palavra sobre paciência, Deus arranjar-lhes-á tribulação porque “tribulação produz paciência” (Rm 5:3). Quando ouvirem a palavra sobre obediência, Deus ira prová-los com situações difíceis para que aprendam a obediência pelas coisas que sofrem (Hb 5:8). Após ouvirem a palavra sobre doçura, Deus, um dia, leva-os, face a face com muitas pessoas e problemas irritantes, que os fazem aprender a “ser brando para com todos” (2 Tm 2:24). Depois de ouvirem a palavra que diz que devem ter fé, Deus parecera ocultar-Se e não lhes dar atenção quando chamarem por Ele, para que não vacilem por incredulidade, mas sejam fortes na fé, dando gloria a Deus (Rm 4:20). Cada vez que vocês ouvirem alguma palavra, se suportarem o teste, a palavra então estará garantida em vocês.

Deus nunca permitirá que paremos no estágio de ouvir uma mensagem e consagrar-nos. Ele deve testar-nos. Deus somente pode fazer uso daqueles vasos que ainda podem permanecer firmes após passar pelo teste da provação. Certa vez uma irmã idosa, ha muito tempo a serviço do Senhor, falou a um irmão jovem que começava a servir: “Todo pão colocado nas mãos do Senhor, Ele primeiramente parte, e então distribui a outras pessoas. Um pão não partido não pode tornar-se sustento para a vida de outras pessoas. E muito comum que, por um lado consagremo-nos a Deus, mas por outro lado, nosso corarão silenciosamente fala com esperança: Oh! Senhor, eu realmente já me consagrei a Ti, mas peço-Te que nunca me quebres! Todos nós esperamos que o pão permaneça intacto para sempre, e que fique permanentemente onde foi colocado. Mas nenhum pão nas mãos do Senhor fica inteiro. Se você não deseja ser quebrado pelo Senhor; então, não se coloque em Suas mãos”. Irmãos e irmãs, estas são palavras ditas pela experiência pessoal daqueles que conhecem o Senhor. Todo pão colocado nas mãos do Senhor é partido por Ele. Aqui é onde esta a dificuldade de muitos irmãos: após ouvir um sermão, alguém alegremente diz: “Oh! Senhor, eu ofereço-Te tudo o que tenho”. Mas, quando o Senhor esta partindo-o, esperava que isto não acontecesse. Irmãos e irmãs, enquanto estão nas mãos de Deus, vocês não estão dispostos a ser quebrados por Ele. Tal vida é a mais dolorosa. Se vocês esperam que sua vida seja abundante, devem permitir que Deus ordene muitos testes para prová-los.

VIDA NAS PROFUNDEZAS

Oséias 14:5-7 diz: “Serei para Israel como orvalho, ele florescerá como lírio, e lançará as suas raízes como o cedro do Líbano. Estender-se-ão os seus ramos, o seu esplendor será como o da oliveira, e a sua fragrância como a do Líbano. Os que se assentam de novo a sua sombra voltarão; serão vivificados como o cereal, e florescerão como a vide; a sua fama será como a do vinho do Líbano”. Nesta passagem, Líbano e mencionado três vezes: uma vez como um lírio, uma vez como uma oliveira e uma vez como o vinho. Por que e dada tal ênfase ao Líbano aqui? E porque o cedro da montanha do Líbano e muito alto e suas raízes são muito profundas. A Bíblia usa o cedro do Líbano para representar a maior e mais alta árvore na terra; ele também é apresentado como símbolo daquelas pessoas que aprofundam suas raízes. Nesta passagem, o lírio é a primeira alusão ao Líbano, depois a oliveira e finalmente o vinho. o fato de a Bíblia falar desta maneira tem um profundo significado. Apenas falaremos brevemente a esses respeito aqui.

Por que o lírio é comparado ao Líbano? Um lírio e puro e bonito. O lírio referido aqui cresce no deserto e não no jardim de uma casa. Não há jardineiro para cultivá-lo, mas depende unicamente do calor do sol, da chuva e do orvalho para sustento. Nós, cristãos, somos os lírios dos vales (Ct 2:1), confiando totalmente no cultivo e sustento de Deus. Uma vida espiritual pura e bela provém de uma comunhão ininterrupta com Deus. Portanto, é dito para crescer como o lírio e lançar suas raízes como o cedro do Líbano.

Por que uma oliveira é citada junto ao Líbano? Aos olhos dos homens, uma oliveira não tem beleza. Se dissermos que a beleza e a peônia (N.R. – erva com grandes flores, de grande beleza ornamental), e fácil para as pessoas entenderem, mas dever-se-ia dizer o contrário em relação a uma oliveira. Contudo, a Bíblia mostra que a beleza aos olhos de Deus não e a beleza superficial, mas o fruto na realidade. A oliveira e uma árvore que gera um fruto que produz óleo – sua beleza esta no seu fruto. A beleza de um cristão está em gerar o fruto do Espírito. Isto pode ser adquirido apenas lançando e fixando raízes nas profundezas. Portanto, é dito que sua beleza é como a oliveira e seu aroma como o Líbano.

Por que o vinho está relacionado ao Líbano? E dito: “florescerão como a vide”. Alguma vez já vimos a flor da vide? Sua flor é minúscula! Logo apos o florescer, as uvas aparecem. Nunca vimos a flor da vide num vaso de flores. Por que não é dito que a flor e como a do pessegueiro ou como o crisântemo? Porque a flor que Deus honra não e para as pessoas apreciarem, mas a que pode produzir fruto como a vida. O que Deus requer de um cristão e que lance raízes e produza frutos abundantemente. Eis porque é dito que eles florescerão como a vide, e a sua fragrância será como a do vinho do Líbano.

Líbano é citado três vezes aqui – todas com o propósito de chamar nossa atenção à vida nas profundezas. Embora esta vida nas profundezas seja como o lírio crescendo num vale isolado, como a oliveira que não é bonita exteriormente e como a vide que não se sobressai ao florescer, ainda assim ela e o resultado de olhar para Deus com simplicidade, e é capaz de produzir muito fruto. Este e o tipo de viver que um cristão deve ter. E impossível ter esta espécie de viver, a não ser que aprofundemos as raízes. Para atingir este tipo de viver deve haver um exercício regular diário. Separe pelo menos um pequeno tempo somente para orar ler a Palavra lendo e orando simultaneamente na presença de Deus. Se possível, também reserve algum tempo para orar pelos santos, pelas igrejas em vários lugares, e pela obra de Deus. Se um cristão não lê a Escritura e não ora toda manhã, é inútil falar sobre vida em profundidade. Lançar raiz não são meras palavras, mas uma prática verdadeira em nosso viver diário. Quando você começa a aprender, é necessário pagar um preço por isto. Possa o amor de Deus atrair-nos para as profundezas, dia após dia, para que possamos aprofundar nossas raízes cada vez mais.

Para viver uma vida nas profundezas, é necessário ter comunhão íntima e direta com o Senhor. Cantares 4:12 diz: “Jardim fechado es tu, minha irmã, noiva minha, manancial recluso, fonte selada”. Aqui é falado sobre um jardim. Como é visto na Bíblia, um jardim foi a primeira idéia de Deus.

Diferente de uma terra comum para plantação de um modo geral, ou de um campo especifico para lavoura, um jardim é somente para beleza e desfrute. Num jardim pode haver árvores, mas o propósito não é a madeira; ou pode haver árvores frutíferas, mas ainda o propósito não é gerar frutos. A importância de um jardim esta relacionada a suas flores. Elas foram plantadas apenas por sua beleza. Plantar flores e, portanto, para a satisfação dos olhos. Descrever este jardim como um “jardim fechado” significa que ele não é um parque público ao qual todos tem acesso para ter prazer, mas é fechado exclusivamente para Cristo. A beleza interior e para ser vista e apreciada somente por Cristo. Este tipo de viver não pretende agradar aos homens mas apenas a Cristo.

Este tipo de vida e “um manancial recluso”. Um manancial é para as pessoas usarem; embora seja assim, ainda está reservado para o Senhor.

Esta espécie de vida e “uma fonte selada”. Um manancial é produzido pelo trabalho humano, mas uma fonte não. Um manancial é para os homens, mas uma fonte e para Deus. Uma fonte e para a alegria e o contentamento que adquirimos na presença de Deus. Tal experiência não é para ser deliberadamente exposta a outras pessoas porque ela e uma fonte selada.

Resumindo, um cristão nunca deveria, intencionalmente, exibir sua beleza, busca e experiência espirituais para que outros vejam. Por outro lado, tudo deveria ser silenciosamente selado para o Senhor. Somente esta espécie de vida nas profundezas satisfará o coração do Senhor.

Irmãos e irmãs, nossa vida e muitas vezes tão superficial e uma grande parte dela é exposta na superfície. Possa o Senhor conceder-nos graça permitindo que a cruz faça uma obra profunda em nosso interior para que possamos firmar raízes a fim de ter vida nas profundezas para cumprir as exigências de Deus e satisfazer Seu coração.

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Doze Cestos Cheios, vol. 4, Editora Árvore da Vida.

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Testemunho Vida cristã Watchman Nee

Minha jornada espiritual (Watchman Nee)

Não tendo ainda passado dois anos após sua conversão, Watchman Nee escreveu esse testemunho, o qual foi publicado na revista Spiritual Light, em dezembro de 1921.

Uma vez habitei “nas tendas da perversidade” (Sl 84:10), andei “segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, e do espírito que agora atua nos filhos da desobediência” (Ef 2:2), eu vivi “segundo as inclinações da [minha] carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e [era] por natureza [filho] da ira, como também os demais” (Ef 2:3).

Então ouvi “a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus” (Hb 4:14) que está construindo uma morada para mim, pois “na casa de meu Pai”, Ele disse, “há muitas moradas” (Jo 14:2).

Uma vez eu estive completamente desesperado, exatamente “como escrito: Não há justo, nem sequer um, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, e à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos há destruição e miséria, desconhecem o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos. Ora, sabemos que tudo o que a lei diz para os que vivem na lei o diz, para que se cale toda a boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus” (Rm 3:10-19). Fiz, então, uma investigação: “Jesus lhes perguntou: Credes que eu posso fazer isso? Responderam-lhe: sim, Senhor” (Mt 9:28).

Agora eu ando como tendo sido depurado do “velho fermento, para que [fosse] nova massa, como [sou] de fato sem fermento. Pois também Cristo, [meu] Cordeiro pascal, foi imolado” (I Co 5:7). Eu “[recebi] o dom do Espírito Santo” (At 2:38) que habita dentro de mim.

Hoje eu percorro “o caminho, e a verdade, e a vida” (Jo 14:6). Agora vejo a Deus, pois “Quem me vê a mim”, disse Jesus, “vê o Pai” (Jo 14:19).

Finalmente encontrei a casa que havia a tanto procurado – “da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus” (I Co 5:1). Esta casa tem somente uma porta, pois vejo que “se alguém entrar por mim”, declarou Jesus, “será salvo” (Jo 10:9). Agora eu compreendo a verdade da declaração de Jesus: “batei e abrir-se-vos-á” (Mt 7:7).

A casa em que hoje eu vivo, possui um quarto de música – “Gloriai-vos no seu santo nome; alegre-se o coração dos que buscam o Senhor. Buscai o Senhor e o seu poder; buscai perpetuamente a sua presença” (Sl 105:3-4). Possui um aposento para conversação – onde eu devo orar “sem cessar” (I Ts 5:17). Tem, da mesma forma, um quarto de leitura – para examinar “as Escrituras todos os dias para ver se as cousas eram de fato assim” (At 17:11). Tem um salão para preleções – “Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns” (I Co 9:22). Meu quarto, para finalizar, é “o peito de Jesus” (Jo 13:25). Minha atual residência é onde “estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vivem em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2:20-21). Meu endereço é os “lugares celestiais” (Ef 2:6). Sempre que você me visitar no espírito de “feliz o homem que me dá ouvidos [isto é, ouve a Sabedoria, que é Cristo], velando dia a dia às minhas portas, esperando às ombreiras da minha entrada” (Pv 8:34), você encontrará não apenas a mim, mas também os santos meus companheiro. Dê ouvidos ao que o servo diz: Vinde, porque tudo já está preparado” (Lc 14:17).

Então “nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e assim, estaremos para sempre com o Senhor” (I Ts 4:17). Depois de serem cumpridas estas palavras, eu terei meu lar onde “vi também tronos, e nestes sentaram-se… Vi ainda a alma dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tão pouco a sua imagem, e nem receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos. Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. Bem aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade: pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos” (Ap 20:4-6). E o cântico que entoarei será “…um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhes os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação” (Ap 5:9).

Não muito depois, juntamente com meus amados mudarei para “um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram e o mar já não existe” (Ap 21:1). Pois “segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (II Pe 3:13).

“E assim,” nessa ocasião, a palavra – “se alguém está em Cristo, é nova criatura: as cousas velhas já passaram; eis que se fizeram novas” – será plenamente realizada, e de forma gloriosa experimentarei a verdade desta palavra: “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo alegrai-vos” (Fl 4:4).

Da mesma forma os santos do passado fizeram sua jornada espiritual. No entanto, estas linhas também representam o que eu mesmo tenho experimentado e ardentemente espero. Na verdade, ao escrever esta última parte, eu me encontrava com lágrimas de regozijo. Suponho, porém, que você, que é salvo, possui o mesmo sentimento em relação à volta do Senhor Jesus. Aqueles que são lavados pelo sangue de Jesus são, naturalmente, otimistas para com a vida. Mas, onde você, que não possui a segurança de estar salvo, passará a morte eterna? Por favor, considere este assunto.

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Cristo Vida cristã Watchman Nee

A Autoridade da Vida (Watchman Nee)

De acordo com Romanos 12.4, no Corpo de Cristo há muitos membros – cada um com seu lugar e função particulares, pois Deus fez todos os membros diferentes um do outro. A pergunta que precisamos analisar é: como podem todos esses membros, com suas funções variadas, serem ajustados e ligados como um só Corpo.

A Autoridade da Cabeça

O primeiro princípio do viver no Corpo de Cristo é estar em sujeição à autoridade da Cabeça, visto que a própria existência do Corpo, com suas funções e atividades variadas, depende da autoridade.

Sempre que a autoridade perde seu terreno em nós, o corpo é imediatamente paralisado. Aquela parte do corpo que é desobediente é a parte que experimenta a paralisia. O corpo que não se sujeita ao comando da cabeça é apenas um corpo paralisado. Onde existe a vida, existe autoridade. É inconcebível rejeitar a autoridade e ainda receber vida.

Todos os que estão cheios de vida são obedientes à autoridade. Como, por exemplo, minha mão física pode ter vida e ao mesmo tempo resistir ao controle da cabeça?

Minha mão está viva porque pode ser comandada pela cabeça. O próprio viver da mão significa que minha cabeça é capaz de dirigi-la e utilizá-la. O mesmo é verdadeiro com respeito ao relacionamento entre qualquer membro do Corpo de Cristo e a Cabeça. O primeiro princípio para cada membro que vive no Corpo de Cristo, portanto, é obedecer ao Senhor, que é a Cabeça.

Se você e eu não formos tratados até chegar ao ponto de nos tornarmos obedientes, então o que sabemos sobre o Corpo é meramente doutrinário por natureza, e não um assunto de vida. Que bênção é ter Deus tratando nossa vida natural, fazendo com que estejamos em sujeição a Cristo, a Cabeça!

Devemos buscar a obediência diariamente. Não só precisamos buscar oportunidades que nos façam avançar espiritualmente a fim de que nos tornemos santos e justos, mas também precisamos buscar diante de Deus cada oportunidade de obedecer, para que também aprendamos a obediência.

A Autoridade dos Membros

O segundo princípio do viver no Corpo é que nenhum membro tem qualquer autoridade, pois a autoridade está somente na Cabeça. Seria um sério erro se um membro alegasse possuir autoridade em si mesmo. Um membro não possui autoridade direta; ele tem apenas a autoridade que lhe foi delegada pela Cabeça. E essa autoridade não é apenas posicional, mas é totalmente decorrente da vida. Essa autoridade não vem por meio da nomeação, mas pelo ser.

Se um membro não é um olho, o Corpo não pode estabelecê-lo como olho. Se não é mão, o Corpo não pode fazer dele mão pelo simples fato de nomeá-lo como tal. Um membro tem a autoridade de segurar ou de ver somente porque ele pode segurar ou ver. E visto que ele atua de acordo com essa norma, as pessoas recebem ajuda.

É um erro muito estúpido se, em uma igreja, a autoridade está relacionada à posição e não à vida, se uma pessoa é nomeada por causa de sua posição social e não por sua espiritualidade. A Palavra de Deus claramente nos mostra que a autoridade está na vida, não na posição ou no histórico de alguém. A autoridade é estabelecida em uma pessoa em decorrência de seu viver, não por meio da nomeação. Essa pessoa, em sua vida pessoal e corporativa, experimentou tratamentos em questões práticas e aprendeu o que outras pessoas ainda estão por aprender. No Corpo de Cristo, toda autoridade procede da vida.

Ainda que, em uma assembléia local, haja nomeações pela direção de Deus, ainda assim não devem ser feitas de acordo com a posição, mas de acordo com a vida. Quando a vida e a nomeação concordam, você deve se submeter; de outro modo, a vida cessará em você e você será deslocado do Corpo – significando com isso que você não se mantém ligado firmemente à Cabeça. Se existe algo errado entre você e outro irmão, você não pode dizer que tem um relacionamento normal com a Cabeça. Se fez mal a outro membro do Corpo, pode ser que você não esqueça de nenhum ensinamento e pode até continuar em sua obra de ministério como antes, porém você perdeu a Palavra da vida.

Portanto, na Igreja, precisamos aprender a submetermo-nos uns aos outros. Se os membros não se submetem mutuamente, a vida mencionada em Romanos 8 não poderá se manifestar. Pelo contrário, os irmãos sentirão como se o ar lhes faltasse – dificilmente eles conseguirão prosseguir. Porém, aqueles que discernem o Corpo de Cristo consideram a submissão a mais jubilosa prática.

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Vida cristã Watchman Nee

Cristão ou membro do Corpo (Watchman Nee)

Ser cristão é individual, ao passo que ser membro é coletivo. Ser cristão se faz por si mesmo, ao passo que ser membro é para o Corpo. Uma vez que a pessoa vê o Corpo de Cristo, ela está livre do individualismo, e já não viverá para si mesma, mas para o Corpo. O Corpo de Cristo não é uma doutrina: não é um ensinamento, mas uma vida. Se percebermos que um cristão nada mais é que um membro, não nos orgulharemos mais. Tudo depende do que vemos. Os que vêem que são membros certamente valorizam o Corpo. e honram os outros membros. Eles não vêem apenas as próprias virtudes, mas prontamente reconhecem que os demais são melhores do que eles.

Cada membro tem sua função, e todas as funções são para o Corpo. A função de um membro é de todo o Corpo. Quando um membro faz algo, todo o Corpo o faz. Não podemos separar os membros do corpo. Portanto, o movimento dos membros do Corpo deve ter em vista o Corpo. Tudo que os membros fazem deve ser para o Corpo. Efésios 4 fala que o Corpo cresce até ser varão perfeito (VRC). Não diz que os indivíduos crescem até ser varões perfeitos. No capítulo três, a capacidade de conhecer o amor de Cristo e compreender qual é a largura, o cumprimento, a altura e a profundidade do Senhor é com todos os santos. Ninguém pode conhecer ou compreender sozinho. Uma pessoa individualmente não tem tempo nem capacidade para experimentar o amor de Cristo de tal maneira.

(Extraído do livro O Mistério de Cristo)

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Cristo Escatologia Watchman Nee

Desde Betânia

Este hino foi composto por Watchman Nee depois da invasão comunista na China, a qual resultaria em sua prisão em 1952. Ela expressa o mais sublime, profundo, doce, saudoso, real, desesperado anelo pela volta do Senhor. A melodia usada é Danny Boy. Impossível não ler sem sentir o coração apertar, tanto de saudade do Senhor quanto de vergonha por não termos o mesmo sentimento…

Desde Betânia

Desde Betânia, quando nos deixaste,
Saudade imensa inundou meu ser.
Não tenho mais tocado a minha harpa –
Como tocar, se a Ti não posso ver?
Na solidão da noite tão profunda,
Fico em silêncio e calmo a meditar
Nessa distância, pois de mim tão longe estás
E há quanto tempo prometeste regressar!

Sem lar, recordo Tua manjedoura,
Olhando a cruz não posso me alegrar.
E Tu me lembras o meu lar futuro,
Mas é a Ti quem mais quero encontrar.
Sem Ti não tem sabor minha alegria;
Doçura, encanto, aos hinos vêm faltar,
Vazios são meus dias, pois aqui não estás.
Senhor, Te peço, não demores a voltar.

Embora aqui Tua presença eu goze,
De Ti saudade estou sempre a sentir.
Mesmo gozando o Teu amor imenso,
Anseio pelo dia em que hás de vir.
Mesmo na paz me sinto tão sozinho;
Por Ti suspiro em meio do prazer.
Jamais minha alma tem satisfação total,
Pois o Teu rosto amado não consigo ver.

Com sua terra sonha o peregrino,
Com sua pátria, o exilado, além.
Distante, o noivo pensa em sua amada.
De amados pais, saudade os filhos têm.
Assim também anelo ver Teu rosto,
Ó meu querido e amado Salvador.
Ah! se eu pudesse, agora, a Tua face ver!
Té quando esperarei por Ti, ó meu Senhor?

Tu lembras que buscar-me prometeste,
E junto a Ti em breve me levar?
Mas tantos dias e anos já passaram,
Cansado estou e peço-Te lembrar.
Tuas pegadas vejo tão distantes,
E quanto tempo ainda vai passar?
Ansioso clamo a Ti, e peço, ó Salvador:
Oh, não demores! Vem, Senhor, me arrebatar.

O dia nasce e morre, e assim as noites.
E quantos santos já não estão aqui
Tanto esperaram pela Tua volta,
E há muito tempo estão dormindo em Ti.
Ó meu Senhor, por que não Te manifestas?
Espesso véu está a Te ocultar –
Quantos remidos Teus estão a Te esperar!
Será que a nossa espera não vai mais findar?

Sei que também anseias por voltares
E arrebatar os redimidos Teus.
Por isso peço não mais demorares;
Depressa vem levar-nos para Deus.
Ó vem, Senhor, a Tua Igreja clama;
Não ouves Tua Noiva a Te chamar?
Olhando o céu, saudosa, diz a suspirar:
“Amado Noivo, não demores a voltar!”

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Livros Watchman Nee

Qué haré, Señor?

Minha história com esse livro é uma sucessção de “milagres”.

Eu o encontrei em um sebo. Na verdade, em uma livraria evangélica que estava vendendo uns livros do irmão que a havia arrendado. Estranhamente, um irmão que aprecia muito o autor deste livro, Watchman Nee. Curioso…

Bem, o livro é muito feio. Uma capa com nuvens verdes (!) e miolo em papel jornal. Ar de livro velho, muito velho. Mas como era de Watchman Nee, eu o comprei.

Ele ficou guardado em minha estante até que, um dia, sem nada para ler, bati com os olhos nele. Comecei a devorá-lo.

Nessa época, eu estava saindo do movimento da igreja local (Árvore da Vida, Witness Lee, Dong Yu Lan…). Por isso, eu passava por um perí­odo de extrema luta espiritual, de muitas dificuldades exteriores, perseguições por parte de irmãos, questionamentos em relação a minha vida toda com o Senhor e com aquilo que eu cria e praticava. Mas, de maneira muito doce e profunda, Ele me foi conduzindo passo a passo, bem como a outros irmãos que passavam pela mesma situação, por meio das mensagens do livro.

Ele discorre sobre o ministério de Pedro, de Paulo e de João, sobre suas características peculiares e como se complementam. A cada um desses homens Deus comissionou algo específico, que é complementado pelos demais. Naquela época, isso foi uma afirmação muito salvadora, pois eu ouvia do líder da denominação a que eu pertencia que Paulo havia falhado e que João, sim, era “o” homem… É que o tal apóstolo se comparava a João… Ele chegou a dizer que, se pudesse mudar de nome, adotaria o de João.

Detalhando cada ministério, Nee destaca em Pedro a pregação do evangelho, o alcançar das pessoas. O capítulo “Jesus, o amigo dos pecadores” é alguma das coisas mais ternas, doces, libertadoras e profundas que já tive o prazer de ler. Já li esse capítulo, sem exagero, pelo menos duas dezenas de vezes, para muitas pessoas, em muitas oportunidades. Ele mostra que o que Deus mais procura é um coração sincero, e que essa é a chave para a pregação do evangelho. (Curiosamente, tive de dar uma cópia desse capítulo para o antigo dono do livro…)

O capítulo “O Filho intervém” é de outra de imensurável praticidade. Também foi a direção divina para mim naquele período. Nee fala do conflito que pode haver entre uma vontade A e uma vontade B de Deus para nós. Ambas são de Deus, mas existe um conflito entre elas. Como proceder? Qual delas realizar primeiro?

Ao falar do ministério de Paulo, Nee destaca a edificação da igreja, e muitos tópicos relativos a ela. Seu discernimento sobre a natureza celestial da igreja é maravilhoso! Ele afirma (citação livre): “A igreja não tem de chegar a algum lugar, pois ela já está lá. A igreja é celestial!”

A leitura cuidadosa dessa seção do livro mostra quão diferente era a visão de Nee daquela de seus seguidores no que diz respeito à igreja na cidade. Ele repudiava o localismo, como uma ênfase excessiva na delimitação da cidade como base de reunião dos cristãos, pois via o perigo sectarista de isso excluir alguns filhos de Deus. Aqueles que se dizem seus continuadores deveriam ler com atenção e vergonha esse livro…

Ao falar do ministério de João, ele destaca o processo de Deus de remendar a obra da edificação, de cuidar das brechas. Fala dos vencedores, citados em Apocalipse 2 e 3, como aqueles que cumprem o que Deus havia planejado para todo o Seu povo.
Apesar da horrível apresentação visual, o livro merece cinco estrelas por seu conteúdo inestimável.

Obs.: Já foi publicado em português pela Editora dos Clássicos com o nome A Direção de Deus para o Homem, que não faz jus ao nome original nem ao conteúdo.

Qué haré, Señor?
Watchman Nee
Editorial Hebron, Argentina

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Vida cristã Watchman Nee

Lei e graça

A graça significa que Deus fez algo por mim. A lei significa que eu faço alguma coisa por Deus. Deus tem certos requisitos santos e justos que me impõe: isto é a lei. Ora, se a lei significa que Deus requer algo da minha parte, então, ser liberto da lei significa que Ele não requer mais coisa alguma de mim, porque Ele mesmo fez a necessária provisão. A lei implica em Deus requerer que eu faça algo por Ele; a libertação da lei implica que Ele já fez por mim, por Sua graça, tudo quanto exigia de mim, isentando-me do seu cumprimento. Eu (o homem carnal de Rm 7.14) não preciso fazer nada para Deus — é isto o que significa ser liberto da lei. O problema em Romanos 7 consiste em que o homem, na carne, procura fazer alguma coisa para Deus. Esta tentativa imediatamente nos coloca de novo debaixo da lei, e a experiência de Romanos 7 começa a ser a nossa.

(Watchman Nee, A Vida Cristã Normal, pág. 102, Editora Fiel)

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Dinheiro Igreja Vida cristã Watchman Nee

A questão das finanças (Watchman Nee)

A distinção entre a igreja e a obra deve ser claramente definida na mente do obreiro, especialmente com relação às questões financeiras. Se um obreiro fizer uma visita rápida a certo lugar a convite da igreja, então, é bem correto que ele receba hospitalidade dela. Mas se ficar por tempo indeterminado, deve assumir o encargo sozinho diante de Deus; doutro modo, sua fé em Deus minguará. Mesmo que um irmão voluntariamente lhe ofereça hospitalidade gratuita, esta deve ser declinada, pois a vida de fé deve ser cuidadosamente mantida.

É correto que os irmãos dêem ofertas ocasionais aos obreiros, como fizeram os filipenses para com Paulo, mas eles não devem assumir a responsabilidade por nenhum obreiro. As igrejas não tem obrigações oficiais por nenhum obreiro, e estes devem atentar para que elas não assumam tais obrigações. Deus nos permite aceitar ofertas, mas não é a Sua vontade que outros se tornem responsáveis por nós.

Ofertas de amor podem ser enviadas aos obreiros dos seus irmãos no Senhor, mas nenhum cristão devem considerar-se sob obrigação legal para com eles. Não são responsáveis nem por sua alimentação, hospedagem e despesas de viagens. A total responsabilidade financeira da obra repousa sobre os ombros daqueles a quem a obra foi comissionada por Deus

Não é digno de ser chamado servo de Deus quem não pode ser responsável pelas próprias necessidades e pela necessidades da obra a que Deus o chamou. Não é a igreja local, e sim, aquele a quem a obra foi comissionada, que deve arcar com todos os encargos financeiros ligados a ela.

(A Vida Cristã Normal da Igreja, Watchman Nee, Editora Árvore da Vida)

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Vida cristã Watchman Nee

O tesouro no vaso de barro (Watchman Nee)

Poder na Fraqueza

Você já começou a entender o que significa ser um cristão? Ser um cristão é ser uma pessoa em quem aparentes incompatibilidades coexistem, mas em quem é o poder de Deus que muitas vezes triunfa. Um cristão é alguém em cuja vida há um inerente e misterioso paradoxo; e esse paradoxo é de Deus. Algumas pessoas concebem o cristianismo como todo o tesouro e não o vaso. Se, por vezes, o vaso de barro é visível em um servo de Deus, elas acham que esse servo é um caso perdido, enquanto a concepção de Deus é que, nesse mesmo vaso, Seu tesouro deveria ser encontrado.

Neste ponto devemos fazer uma cuidadosa distinção entre homem e “a carne” no homem – entre a limitação que é inerente em nosso ser humano e a natureza carnal do homem com sua inveterada tendência para pecar, uma tendência que nos deixa (à parte da ajuda do Espírito Santo) totalmente impossibilitados de agradar a Deus. Essa distinção é a mais importante por causa da facilidade com que, mesmo em um filho de Deus, alguém influencia o outro, e com que a natureza humana em nós cede à natureza carnal. Que fique bem claro, portanto, que eu definitivamente não tenho a intenção, neste capítulo, de justificar ou fechar os olhos para o pecado ou a carnalidade. A carne deve ser resistida e entregue à morte – a morte da cruz. No entanto, a fraqueza, neste outro sentido, deve permanecer. Nosso bendito Senhor foi, por nossa causa, “crucificado em fraqueza”, contudo vive pelo poder de Deus (2 Co 13.4); e, quanto a nós, é em nossa fraqueza que Seu poder se aperfeiçoa. Há, portanto, uma “enfermidade” na qual é possível gloriar-se (12.9).

Assim Paulo diz-nos que ele tinha “um espinho na carne” (12.7). O que era eu não sei, mas sei que esse espinho o enfraquecia muito, e que, por três vezes, ele orou para que o espinho fosse tirado. No entanto, em resposta, Deus apenas lhe assegurou: “A minha graça te basta” (12.9). Somente isso – mas isso era suficiente.

Como o poder do Senhor pode ser manifestado à perfeição em um homem fraco? Pelo cristianismo, pois o cristianismo é isso. O cristianismo não é a remoção da fraqueza, nem é simplesmente a manifestação do poder divino. É a manifestação do poder divino na presença da fraqueza humana. Sejamos claros neste ponto. O que o Senhor está fazendo não é algo meramente negativo – ou seja, eliminar a nossa enfermidade. Nem, quanto a isso, é meramente positivo – conceder força em qualquer situação, a esmo. Não, Ele nos deixa com a enfermidade e concede a força ali. Ele está concedendo Sua força aos homens, mas essa força é manifestada em sua fraqueza. Todo o tesouro que Ele dá é colocado em vasos de barro.

Fé Quando há Dúvida

O que acabamos de dizer é uma impressionante verdade sobre a fé. Inúmeras pessoas vieram a mim e contaram seus temores e preocupações mesmo enquanto buscavam confiar no Senhor. Faziam seus pedidos, tomavam posse das promessas de Deus e, não obstante, sempre surgiam dúvidas inesperadas. Deixe-me dizer-lhe que o tesouro da verdadeira fé aparece em um vaso que pode ser dolorosamente atacado pela dúvida, e o vaso de barro, por causa da presença da dúvida, não invalida o tesouro; pelo contrário, o tesouro nesse ambiente resplandece com uma beleza maior. Não me entenda mal: não estou incentivando a dúvida. A dúvida é uma marca da deficiência em um cristão, mas eu gostaria de deixar claro que o cristianismo não é só uma questão de fé, mas da fé que triunfa na presença da dúvida.

Gosto de lembrar-me da oração da igreja primitiva para que Pedro fosse liberto das mãos dos ímpios. Quando Pedro voltou da prisão e bateu à porta da casa onde a igreja estava reunida em oração, os cristãos exclamaram: “É o seu anjo!” (AT 12.15). Você vê? Havia fé ali, a verdadeira fé, o tipo de fé que poderia trazer uma resposta de Deus; e, não obstante, ainda havia a fraqueza do homem, e a dúvida estava bem ali perto, por assim dizer. Porém, hoje, a fé que muitas pessoas que fazem parte do povo de Deus declaram exercer é maior do que a exercida pelos cristãos reunidos na casa de Maria, mãe de João Marcos. E elas têm certeza disso! Estão certas de que Deus enviará um anjo, e que todas as portas da prisão se abrirão diante delas. Se uma rajada de vento soprar: “Há um Pedro batendo na porta!”. Se a chuva começar a balbuciar: “Há um Pedro batendo na porta de novo!”.

Essas pessoas são muito crédulas, muito confiantes. Sua fé não é necessariamente um objeto genuíno. Até no cristão mais consagrado, o vaso de barro sempre está ali, e, pelo menos para ele, está sempre em evidência, embora o fator determinante nunca seja o vaso, mas o tesouro dentro dele. Na vida de um cristão normal, só quando a fé aumenta positivamente de modo a agarrar-se a Deus é que pode surgir ao mesmo tempo uma questão quanto a se talvez ele possa estar enganado. Quando ele está mais forte no Senhor, muitas vezes está mais consciente da sua incapacidade; quando ele está mais corajoso, talvez esteja mais ciente do temor no íntimo; e no ponto em que ele está mais alegre, uma sensação de angústia prontamente lhe sobrevém novamente. Somente a excelência do poder o leva às alturas. Porém este paradoxo é, em si, uma evidência, tanto de que há um tesouro como de que é ali que Deus gostaria que ele estivesse.

Deveria ser um motivo de grande gratidão a Deus o fato de que nenhuma fraqueza meramente humana precisa limitar o poder de Deus. Somos inclinados a pensar que onde há tristeza não pode haver alegria; que onde há lágrimas não pode haver louvor; que onde a fraqueza é visível falta poder; que quando estamos cercados por inimigos seremos confinados; que onde há dúvida não pode haver fé. Entretanto, deixe-me declarar com força e com confiança que Deus está procurando levar-nos ao ponto onde tudo que é humano só tem por objetivo prover um vaso de barro para conter o tesouro divino. Daqui para frente, quando estivermos conscientes da depressão, que não cedamos a essa depressão, mas nos entreguemos ao Senhor; quando a dúvida ou o temor surgir em nosso coração, que não nos entreguemos a eles, mas ao Senhor, e o tesouro resplandecerá ainda mais gloriosamente, por causa do vaso de barro.

(Extraído do livro A Direção de Deus Para o Homem, de Watchman Nee, Editora dos Clássicos, julho de 2004)

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