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Vida cristã

Duas Formas de Esperar

Há duas formas em que os cristãos podem esperar o cumprimento dos intuitos de Deus para eles: com paciência até que se cumpra o tempo de Deus; ou com um ânimo inquieto, procurando sempre a ocasião de ‘ajudar’ a Deus. Estas duas atitudes estão muito bem representadas em dois personagens do Antigo Testamento: Davi e Jacó.

Davi tinha sido ungido bem novo como rei de Israel, mas não tomou o trono pela força. Davi tinha tudo a seu favor para apressar o tempo do cumprimento desse intuito: A unção repousava sobre ele, o povo o aclamava como o seu salvador, os sacerdotes o reconheciam, e o próprio filho do rei descartado o ajudava. Esperar o quê? Às vezes até as circunstâncias pareciam estar preparadas por Deus para que tomasse o reino por sua mão. No entanto, Davi não se deixava seduzir pelas circunstâncias aparentemente favoráveis, pois ele conhecia a Deus, e sabia quais eram os princípios pelos quais ele atua. Sabia que Deus não utiliza meios carnais para obter fins espirituais. Sabia que não há rebelião válida no reino de Deus. Sabia que Deus é poderoso para levar adiante o que se propôs. Por isso, Davi esperou pacientemente em Deus.

Jacó, por sua vez, também sabia da eleição de Deus. Rebeca, sua mãe, sabia ainda melhor, inclusive desde antes do seu nascimento. No entanto, isso não lhes bastou, porque ambos tramaram enganar a Isaque, o pai e o marido, para conseguir astutamente o que Deus já tinha decidido lhe dar por graça. As conseqüências de uma e outra atitude são muito claras e
exemplificadoras.

Jacó teve que permanecer 20 anos longe da sua casa, vivendo como um proscrito, servindo esforçadamente sob a dura mão de Labão, um parente ardiloso, com a consciência afligida pelos temores de um irmão burlado e vingativo. As suas tarefas pastorais resultaram-lhe em uma carga terrível, como o próprio Jacó diria mais tarde a Labão: “Estes vinte anos estive
contigo; as suas ovelhas e as suas cabras nunca abortaram, nem eu comi carneiro das suas ovelhas. Nunca te trouxe o arrebatado pelas feras; eu pagava o dano; o furtado assim de dia como de noite, me era cobrado. De dia me consumia o calor, e de noite a geada, e o sono fugia dos meus olhos. Assim estive vinte anos em sua casa ? e trocaste o meu salário dez
vezes”. Que carga! Que peso! Este é o caminho que se segue quando se utiliza os recursos da carne. A burla é burlada até que o coração deprime.

Davi, ao contrário, desprezou toda intervenção do homem e esperou só em Deus. O seu caminho não esteve isento de quebrantamentos; mas esses quebrantamentos serviram para temperar o aço e purificar o ouro. Quanto do formoso caráter de Davi se forjou naqueles dias. Quanto do caráter de Cristo pôde encarnar Davi, para expressá-lo em seguida através dos seus Salmos. Enquanto Jacó pagava o preço do seu arrebato, Davi construía proféticamente o caráter do Messias.

O homem carnal é impaciente, e sempre procura ajudar a Deus. O seu tempo “sempre está pronto” (Jo. 7:6). O homem espiritual, ao contrário, é paciente, e, mesmo que as circunstâncias lhe sorriem ou lhe rujam, ele espera em Deus, porque a seu tempo Deus se lembrará dele.

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Evangelho Testemunho

O Artista e a Cigana

Há muitos anos, achava-se o pintor Stenburg no seu estúdio. De pé, com o dedo polegar da mão direita no bolso da blusa, e tendo na esquerda o cachimbo, que tinha tirado da boca em sinal de respeito, conversava com a pessoa que nessa ocasião o visitava, o padre Hugo, vigário da opulenta igreja de São Jerônimo. Stenburg era ainda novo, mas já tinha fama em Düsseldorf, e alguns afirmavam que seu nome seria um dia conhecido em todo o mundo. Ele pensava porém, com tristeza, que quando esse dia chegasse já teria passado a idade de gozar a riqueza que tardava tanto em vir. Entretanto, tentava aproveitar a vida no presente. Amava a sua arte, e, vez por outra, ficava tão absorto em sua obra que chegava a se esquecer de tudo, menos do quadro que tinha no cavalete.

Contudo, apesar de ter produzido algumas obras de bastante merecimento, não tinha, até então, feito ainda nenhuma que o satisfizesse completamente, nem tinha alcançado o seu ideal. Seus trabalhos eram bons, mas desejava fazer coisa melhor. Assim vemos que Stenburg não era um homem inteiramente feliz. Havia certo desassossego em seus belos olhos, e um tom de aspereza na voz, que, para quem o observasse de perto, eram indícios de um espírito pouco tranqüilo. Fora isso, porém, tinha a aparência de um homem alegre e feliz, mostrando, quando era preciso, uma habilidade fina para o negócio, e que era daqueles que sabiam bem zelar por seus interesses. É ele que fala agora.

– Não, isso não pode ser: asseguro-lhe que a quantia que V. Rev. me oferece não me pagaria o trabalho de um painel tão grande como esse que acaba de me indicar. Precisa ter muitas figuras, e todas bem estudadas. A crucificação é um assunto difícil, e tem sido tratada tantas vezes que não seria fácil fazer um quadro diferente de todos os outros, como eu desejava que fosse.

– Bem, eu não faço preço. Sei que o senhor é um homem honrado, e não é a igreja de São Jerônimo que paga o quadro. É uma oferta de um penitente.

– Ah! Isso agora é diferente. Por favor, volte em um mês, e terei já prontos os estudos para a obra.

Separaram-se, contentes um com o outro, e durante as semanas seguintes Stenburg estudou a composição do quadro, indo para esse fim ao bairro judaico à procura de modelos para suas diferentes figuras.

O vigário ficou satisfeito. Desejava que a figura do centro fosse a cruz do Redentor, deixando os acessórios ao gosto do artista. Vinha de tempos a tempos visitá-lo, acompanhado algumas vezes por outro padre, a fim de ver o andamento do trabalho. O quadro devia ser colocado na igreja no dia da festa, a 1o. de junho, e ia já bastante adiantado.

Com o rebentar das primeiras folhas e o desabrochar das primeiras flores, que indicava a aproximação da primavera, apoderou-se do pintor um desejo ardente de deixar Düsseldorf e ir pelos campos afora, ao acaso, esboçando as bonitas paisagens que o campo oferecia. Um dia, próximo de um bosque, deparou com uma moça cigana que fazia cestos de palha. A sua fisionomia era bela; o cabelo negro como carvão caía-lhe em ondas até à cintura, e o mísero e esfarrapado vestido vermelho, já desbotado pelo sol, ainda aumentava seu aspecto pitoresco. Mas o que na moça atraiu bastante a atenção do artista foram seus olhos negros, irrequietos e límpidos, cuja expressão mudava a todo o momento, refletindo-se neles alternadamente, com admirável rapidez, a tristeza, a alegria e a zombaria.

“Que soberbo quadro que esta moça daria!”, pensou Stenburg. “Mas quem haveria de comprar um retrato de uma cigana? Ninguém!”

Os ciganos eram então odiados em Düsseldorf, e o fato de ser cigano era um crime perante a lei

A jovem ao ver o pintor largou o trabalho, pôs-se de pé e, elevando as mãos acima da cabeça, e dando estalos com os dedos para marcar o compasso, pôs-se a dançar com grande ligeireza diante dele, com um cativante e alegre ar de brincadeira.

– Assim! Não se mexa! – exclamou Stenburg, fazendo um esboço rapidamente. Mas por mais rápido que fosse, era difícil à moça sustentar aquela posição; contudo não se mexeu, mas o suspiro de alívio que lhe saiu dos lábios, ao deixar cair os braços, mostrou bem ao artista quanto lhe havia custado o esforço.

Ela não é só bela, é mais alguma coisa”, pensou Stenburg. “É um excelente modelo. Vou pintá-la como dançarina espanhola.”

Fizeram logo ali um ajuste para Pepita ir três vezes por semana ao estúdio de Stenburg a fim de servir de modelo.

À hora marcada apresentou-se. Ficou maravilhada com o que viu, e depois de correr com os grandes olhos o estúdio todo em volta, fixando a vista nas porcelanas, nas esculturas, etc., começou a examinar os quadros, chamando-lhe principalmente a atenção o grande quadro, já quase pronto. Olhou para ele atentamente, e em seguida, indicando com o dedo a principal figura, perguntou com voz meio receosa:

– Quem é aquele?

– É o Cristo – respondeu Stenburg com indiferença.

– Que estão fazendo com Ele?

– Estão crucificando-O – respondeu o artista. – Mas vire-se um pouco mais para a direita. Assim! Está bem!

Stenburg, quando trabalhava, era homem de poucas palavras.

– Que gente é aquela que está em volta Dele? Aqueles que têm cara tão má?

– Fique quieta – respondeu o artista. – Eu não posso falar contigo e você só tem de ficar na posição que eu indicar.

A moça não ousou tornar a falar, mas continuou a observar o quadro, e cada vez que vinha ao estúdio ficava mais fascinada com ele. De quando em quando atrevia-se a fazer uma pergunta, porque a curiosidade a matava.

– Por que é que O crucificaram? Ele era muito mau?

– Não, era muito bom.

Daquela vez nada mais pôde aprender, mas todas as palavras lhe ficaram gravadas na memória, cada frase lhe ia desvendando mais o mistério.

– Então, se Ele era bom porque lhe fizeram isso? Foi por pouco tempo? Deixaram-No ir embora depois?

– Olha, foi porque…

O artista calou-se, e foi arrumar o cinto que a moça usava.

– Por que foi? – repetiu Pepita, quase sem poder respirar.

O pintor voltou para o seu cavalete; e olhando para ela comoveu-o aquela fisionomia em que aparecia o ardente desejo de saber.

– Escute; vou contar a você de uma vez para sempre, e depois não me faça mais perguntas – e contou-lhe a história da Cruz, uma história nova para Pepita, mas já tão antiga para o pintor que tinha deixado de comovê-lo. Ele pôde pintar aquela agonia mortal sem que um nervo sequer vibrasse; mas quanto à moça, o pensamento daquele suplício torturava-lhe o coração. Seus grandes olhos estavam inundados de lágrimas que o orgulho de cigana não deixava cair.

O quadro grande e o da dançarina ficaram prontos ao mesmo tempo. Tinha chegado o dia da última visita de Pepita ao estúdio. O belo quadro que a representava não tinha para ela atrativo algum, mas em compensação ficou parada e absorta diante do outro.

– Tá aqui – disse-lhe o artista – aqui está o teu dinheiro e mais uma moeda de ouro. Você me deu sorte: a “Dançarina” já foi vendida. Talvez volte a precisar de ti daqui a algum tempo, mas por enquanto não. É preciso não encher o mercado, nem mesmo do teu bonito rosto.

A jovem voltou-se vagarosamente.

– Muito obrigada, senhor! – disse ela, notando-se-lhe nos olhos a mais viva comoção, e, com o pensamento fixo no quadro, acrescentou:

– O senhor deve amá-Lo muito… visto que Ele tez tudo isso por você… Não é verdade?

Stenburg corou de vergonha. A pobre moça, de vestido desbotado, saiu do estúdio, mas suas palavras de queixume penetraram no coração do artista. Ele tentou esquecê-las, mas foi em vão. Apressou-se em enviar o quadro ao seu destino, mas não pôde esquecer as palavras: “Fez tudo isso por ti.”

Por fim, não pôde suportar aquela agonia. Queria encará-la e vencê-la. Foi confessar-se para obter a paz pela qual tanto anelava, mas foi inútil, porque essa paz só se obtém quando Cristo é o único alvo da fé. Fez um desconto generoso no preço do quadro, e isso lhe deu sossego de espírito por uma semana ou duas, mas logo se levantou de novo a antiga pergunta: “O senhor deve amá-Lo muito, não é verdade?”, e essa pergunta requeria uma resposta.

Perdeu o sossego e não podia prestar atenção ao trabalho. Assim, pois, vagueando ao acaso, ouviu coisas que até então lhe eram desconhecidas. Um dia viu um grupo de pessoas que se dirigiam às pressas para uma casa de aparência humilde, próxima aos muros da cidade, e logo notou outro grupo que do lado oposto se dirigia para a mesma casa, entrando pela porta baixa. Perguntou o que havia ali de extraordinário, mas a pessoa a quem se dirigiu ou não quis ou não pôde responder-lhe, o que despertou ainda mais sua curiosidade.

Alguns dias depois soube que morava ali um desconhecido, um dos “Reformadores” – um daqueles desprezados que sempre se baseavam na Palavra de Deus. Era pouco respeitável, e até pouco seguro, ter sequer um simples contato com essa gente. Mas era possível que ele fosse encontrar ali o que procurava? Stenburg ouvira dizer que esses reformadores arriscavam tudo, e freqüentemente tudo perdiam, por amor à verdade que sustentavam. Talvez eles possuíssem o segredo da paz. Por isso o artista foi observar, e ver, mas sem, de modo algum, se querer associar com eles; contudo, ninguém pode se aproximar do fogo sem sentir o calor.

Entrou, e achou-se na presença de um homem que podia viver à vontade, mas sofria privações; que podia ser considerado, mas era desprezado; que podia ser estimado e respeitado, mas era abandonado; e que, apesar de tudo isso, estava tranqüilo e até feliz. Este pregador falava e tinha aparência de um homem que andava na terra em comunhão com Cristo, e para quem Cristo era tudo. Stenburg encontrou finalmente aquilo porque anelava – uma fé viva. Seu novo amigo emprestou-lhe por algum tempo uma preciosa cópia do Novo Testamento, mas, sendo perseguido e expulso de Düsseldorf algumas semanas depois, teve de partir levando o livro consigo; mas seu ensino ficou bem gravado no coração de Stenburg.

Ah! Agora acabaram-se as dúvidas! Ele sentia claramente no coração o fogo de um amor ardente! “Ele fez tudo isso por mim! Como poderei não falar aos homens desse amor, desse amor sem limites, que pode alegrar-lhes a vida, assim como alegrou a minha? Esse amor é também para eles, mas eles não o vêem, assim como eu o não via também. Como posso empregá-lo? Não tenho o dom de orador, sou um homem de poucas palavras. Ainda que fizesse esforço, nunca poderia explicar o que sinto. Esse amor de Cristo abrasa-me o coração, mas não o posso exprimir.”

Com tais pensamentos o artista fez com o lápis que tinha na mão um esboço tosco de uma cabeça coroada de espinhos, e ao mesmo tempo umedeciam-se-lhe os olhos. De repente brotou esta idéia do seu espírito: “Sei pintar! O meu pincel O anunciará. Ah! no outro quadro Sua face só revelava agonia, mas não era essa a expressão da verdade. Faltava ali o amor inexprimível, a compaixão infinita, o sacrifício voluntário!”

O artista caiu de joelhos, e orou para que pudesse pin­tar dignamente, e por esse modo pregar.

Começou a obra, e o fogo do gênio brilhou até alcançar e mesmo ultrapassar seus limites. O quadro da crucificação ficou uma maravilha – quase divino!

Não quis vendê-lo; fez doação dele à sua terra natal, sendo exposto na galeria pública, onde se reuniam para o admirar muitos dos cidadãos, que ao contemplá-lo emudeciam e se comoviam profundamente, voltando para casa com o conhecimento do amor de Deus, e repetindo consigo mesmo as palavras que tão claramente estavam escritas por baixo do quadro:

“Tudo isto Eu fiz por ti;

Que fazes tu por Mim?”

Stenburg também costumava ir ali, e, a um canto da galeria, observava o povo que se juntava em roda do quadro, orando a Deus para que abençoasse seu sermão ali delineado. Um dia, depois de todos terem saído, ele viu uma pobre moça de pé a chorar amargamente defronte do quadro. Aproximou-se dela e perguntou-lhe:

– Que foi, moça?

Ela se voltou-se. Era Pepita.

– Oh, senhor, se Ele tivesse me amado assim – disse ela apontando para aquela face que indicava tanto amor. – Eu não sou mais que uma pobre cigana. Este amor é para ti, mas não para uma pessoa como eu – e não pôde conter as lágrimas de desespero.

– Pepita, esse amor também é para ti!

E então o pintor disse-lhe tudo. Conversaram até à hora de fechar a galeria. Ele agora não se aborrecia de responder às perguntas da jovem, porque era aquele o assunto que mais apreciava. Contou-lhe a história daquela maravilhosa vida, daquela morte sublime, da glória suprema da ressurreição, e também lhe explicou a união que aquele amor efetua. Ela escutou, recebeu e creu: “Tudo isto Eu fiz por ti.”

Haviam decorridos dois anos desde que fora encomendado o quadro. Voltou o inverno, o frio era intenso, e o vento soprava pelas ruas estreitas de Düsseldorf, fazendo estremecer as vidraças da casa do artista. Tinha terminado seu trabalho daquele dia, e estava sentado ao pé do fogão onde ardia um fogo muito confortador, lendo uma cópia do seu querido Evangelho, que tinha obtido com dificuldade. De repente bateram à porta, e entrou um homem que vestia um jaquetão de peles muito usado, no qual se viam sinais de neve. O cabelo negro caía-lhe em caracóis à roda do rosto. Lançou um olhar esfomeado para o pão e a carne que estavam sobre a mesa, ao mesmo tempo que dava seu recado:

– O senhor pode me acompanhar, por favor, para um caso muito urgente? – disse

– Onde? – perguntou o pintor. Era isso que ele não devia dizer, pois a polícia podia vir a sabê-lo, e expulsá-los de lá, como já tinha feito várias vezes.

– Por que você quer que eu vá?

– Não posso lhe dizer, senhor – responde o homem –, mas alguém que está morrendo deseja vê-lo.

– Coma alguma coisa – disse o artista –; eu irei com você.

O homem murmurou palavras de agradecimento, ao mesmo tempo em que devorava a comida.

– Você está com fome?

– Oh, senhor, todos nós morrendo de fome.

Stenburg foi buscar um saco cheio de comida.

– Você pode levar isto? – perguntou ao homem.

– Ah, meu senhor, com todo prazer! Mas venha depressa, não há tempo a perder.

O artista foi atrás dele, seguindo-o rapidamente por várias ruas até saírem da cidade e chegarem ao campo. A claridade da lua, que ia nascendo, mostrava que se aproximavam do bosque. Entraram nele. As ramadas estavam cobertas de neve, e os enormes troncos eram tantos que se misturavam. Não havia caminho, mas o homem não exitava. Caminhava rapidamente e em silêncio à frente de Stenburg. Por fim chegaram a um vale cercado de árvores, onde se viam algumas barracas.

– Por favor, entre ali – disse o homem indicando ao artistas uma das barracas, e voltando-se para um grupo de homens, mulheres que estava ao seu redor, falou-lhes numa língua estranha e tirou o saco de cima dos ombros.

O artista entrou na barraca com dificuldade. O luar brilhante iluminava aquele miserável interior. Sobre umas folhas secas jazia uma forma humana. Era uma moça de rosto macilento.

– Pepita! – disse o pintor.

Ao som dessa voz, Pepita abriu os olhos. Aqueles belos olhos pretos ainda conservavam o brilho. Desenhou-se nos lábios um sorriso, e, apoiando-se nos cotovelos, disse:

– Sim, ELE vem me buscar! Ele me estende as mãos! Elas têm sangue! Por ti… Tudo isto Eu fiz por ti …

Com essas palavras, despediu-se do artista.

Muitos anos depois de o pintor e a cigana terem se encontrado na mansão celeste, chegou a Düsseldorf em sua esplêndida carruagem um jovem nobre e elegante, e, enquanto os cavalos descansavam, ele foi visitar a afamada galeria. Era rico, jovem, inteligente; o mundo sorria-lhe e tinha a seu alcance os tesouros desta terra. Percorreu a galeria e ficou extasiado defronte do quadro de Stenburg. Leu e tornou a ler as palavras que estavam gravadas na moldura.

Não podia afastar-se dali. Seu coração estava preso. O amor de Cristo tinha-se apoderado de sua alma. Passaram-se horas e chegou a noite. O guarda pôs a mão no ombro do choroso fidalgo, e disse-lhe que tinha de fechar a galeria, pois já era noite. Mas não! Para ele era antes o raiar da vida eterna. Aquele jovem era Zinzendorf. Ele voltou para a hospedaria, e entrou em sua carruagem, não com o objetivo de seguir para Paris, mas de voltar para sua casa. Desde aquele momento depôs sua vida, fortuna, fama, tudo aos pés Daquele que tinha murmurado ao seu coração as palavras:

“Tudo isto Eu fiz por ti;

Que fazes tu por Mim?”

Zinzendorf, o iniciador das Missões Moravianas, respondeu àquelas palavras com uma vida de absoluta dedicação à vontade do Senhor, até à morte.

O quadro de Stenburg já não existe na galeria de Düsseldorf, destruído com ela em um incêndio, mas pregou seu sermão, e Deus serviu-se dele para anunciar Seu dom – o Substituto do Calvário – de quem o apóstolo Paulo disse: “O qual me amou, e se entregou por mim” (Gl 2.20).

Vimos como a história do amor infinito e divino revelado em Cristo crucificado comoveu e prendeu extasiada a bela cigana Pepita; como venceu e inspirou o célebre pintor Stenburg; como atraiu e satisfez o jovem fidalgo Zinzendorf – mas que diremos de nós mesmos? Leitor, o que você diz? Você pode unir sua voz à nossa e exclamar: “Nós O amamos, porque Ele nos amou primeiro” (1Jo 4.19)?

Mas talvez você ainda nunca tenha ouvido essa história sublime que cativou Pepita. Leia por mais uns momentos, pois vamos resumi-la.

“O Pai enviou Seu Filho para Salvador do mundo” (1Jo 4:14), e sobre isso lemos:

“Cristo morreu por nossos pecados (…) e foi sepultado (…) e ressuscitou ao terceiro dia” (1Co 15.3,4).

Por Sua morte, o Salvador fez expiação por nossos pecados: em Sua sepultura vemos, pela fé, o fim de tudo quanto éramos como pecadores; e em Sua ressurreição nós O vemos sair de entre os mortos e subir para a glória celeste, sendo Ele o princípio de uma nova família – a família de Deus. Pela fé podemos dizer: sobre a cruz do Calvário, Cristo identificou-se com nosso pecado, e tomou nosso lugar no sofrimento e na morte; e agora, se cremos Nele, o amor divino nos identifica com Ele no poder de uma nova vida e no lugar de bênção que Ele atualmente ocupa com Deus na glória celeste.

Oh! Que conheçamos esse amor inexprimível, amor que a morte não pôde vencer, amor que atualmente desde a glória celeste nos atrai, ao ponto de dizermos como Paulo: “O amor de Cristo nos constrange”. E, inspirados por tal amor, assim como Zinzendorf e nosso artista, somos levados a mostrar, por vidas dedicadas a Ele, a gratidão e alegria de corações satisfeitos pelo amor divino.

(Obs. 1: A frase que estava no quadro Stenburg inspirou Francis Ridley Havergal [1836 – 1879] a escrever o hino “I Gave My Life for Thee”, com música de Philip Paul Bliss [1838 – 1876]; há uma melodia alternativa de William Herbert Jude [1851 – 1922]. Este hino está presente em alguns hinários em português.)

(Obs. 2: O sítio oficial do Conde Zinzendorf registra que o nome do pintor era, na verdade, Domenico Feti, e o nome do quadro era “Ecce Homo” (Eis o homem, em latim)

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Charles Spurgeon Estudo bíblico

A Entrada Triunfal em Jerusalém

(The Triumphal Entry Into Jerusalem)

Um Sermão (Nº 0405)

Pregado na Manhã de Domingo, 18 de Agosto de 1861 por

C. H. Spurgeon

No Metropolitan Tabernacle, Newington– Inglaterra

“Dizei à filha de Sião: Eis aí te vem o teu Rei, humilde, montado em um jumento, num jumentinho, cria de animal de carga.” Mateus 21:5.

Nós lemos o capítulo do qual nosso texto é tomado; deixe-me agora recontar o incidente para sua audiência. Havia uma expectativa na mente popular do povo judeu, que o Messias estava para vir. Eles esperavam que ele fosse um príncipe temporal, alguém que devia guerrear contra os Romanos e restaurar aos Judeus sua nacionalidade perdida. Havia muitos que, embora não cressem em Cristo com uma fé espiritual, esperavam entretanto que talvez Ele pudesse ser para eles um grande libertador temporal, e nós lemos que em uma ou duas ocasiões eles quiseram tomá-lo para fazê-lo rei, mas ele ocultou-se. Havia um ansioso desejo que uma pessoa ou outra deveria levantar o estandarte da rebelião e liderar o povo contra seus opressores. Vendo os feitos poderosos de Cristo, o desejo é pai do pensamento, e eles imaginaram que Ele podia, provavelmente, restaurar a Israel o reino e torná-los livres. O Salvador à distância via que estava adentrando a uma crise. Para ele, ela deveria ser morta por ter desapontado a expectativa popular, ou deveria ceder aos desejos do povo, e ser feito rei. Você sabe qual foi a escolha. Ele veio para salvar outros, e não para fazer-se rei no sentido em que eles entendiam. O Senhor tinha operado o mais notável milagre, ele tinha ressuscitado Lázaro da morte após ele ter estado por quatro dias na sepultura. Este era um milagre tão inesperado e tão espantoso, que tornou-se o assunto da cidade. Multidões foram de Jerusalém a Betânia, eram somente duas milhas de distância, para ver Lázaro. O milagre fora bem autenticado, havia uma multidão de testemunhas, e foi em geral aceito como sendo uma das grandes maravilhas do século, e eles inferiram disto que Cristo devia ser o Messias. O povo determinou que agora eles deveriam fazê-lo rei, e que agora ele deveria liderá-los contra as hostes de Roma. Ele, não pretendia tais coisas, entretanto prevaleceu o entusiasmo deles pelo qual Ele pôde ter a oportunidade de realizar o que tinha sido escrito pelos profetas. Você deve imaginar que todos aqueles que espalharam os galhos no caminho e clamaram “Hosana” desejavam Cristo como príncipe espiritual. Não, eles pensavam ser ele um libertador temporal, e quando eles descobriram mais tarde que estavam enganados odiaram-no na mesma proporção que o tinham amado, e “Crucifica-o, crucifica-o” era um clamor tão alto e veemente quanto “Hosana, bendito o que vem em nome do Senhor.” Nosso Salvador assim utilizou-se do equivocado entusiasmo deles para diversos fins e propósitos. Era necessário que a profecia fosse cumprida – “Alegra-te muito, ó filha de Sião; Exulta ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta.” Era necessário além disso, que ele reivindicasse publicamente ser o Filho de Davi, e que reivindicasse ser o legítimo herdeiro do trono de Davi, – isto ele fez nesta ocasião. Era necessário também, que ele deixasse seus inimigos sem desculpas. A fim de que eles não dissessem: “Se tu és o Messias, dize-nos claramente,” ele disse-lhes claramente. Este adentrar montado pelas ruas de Jerusalém era um manifesto e proclamação de seus direitos reais tão claro quanto poderia ser emitido. Eu penso, além disso, – e sobre isso eu construirei o discurso destas manhã, – Eu penso que Cristo utilizou o fanatismo popular como uma oportunidade de pregar-nos um vivo sermão, incluindo grandes verdades que são tão sujeitas a serem esquecidas por causa de nosso caráter espiritual, incluindo-as na forma externa e símbolo sua própria montaria como rei escoltado por hostes de seguidores. Nós viemos a isto como o assunto do nosso sermão. Dependamos dele.

I. Uma das primeiras coisas que aprendemos é isto. Por este modo através das ruas em pompa, Jesus Cristo foi aclamado como um rei. Aquela reivindicação tinha sido em grande medida, até agora, conservada na obscuridade, mas antes que Ele fosse para o seu Pai, quando a ira de seus inimigos tivesse alcançado sua mais extrema fúria, e quando sua própria hora de mais profunda humilhação tivesse chegado, ele fez uma reivindicação aberta diante dos olhos de todos os homens para ser chamado e reconhecido como um rei. Ele intima primeiro seus arautos. Dois discípulos vêm. Ele envia sua ordem – “Ide a aldeia que está diante de vós, e logo achareis presa uma jumenta e, com ela um jumentinho.” Ele reúne sua corte. Seus doze discípulos, aqueles que sempre acompanhavam-no, estão a sua volta. Ele monta o jumento, que em tempos antigos tinha sido domado pelos legisladores judaicos, os governadores do povo. Ele começa a cavalgar através das ruas e as multidões batem suas mãos. É reconhecido que não menos do que três mil pessoas deveriam estar presentes naquela ocasião, alguns indo adiante, alguns seguindo após ele, e outros parados ao lado para ver o espetáculo. Ele cavalgava para sua capital; as ruas de Jerusalém, a cidade real, estão abertas para Ele, como um rei, Ele sobe para seu palácio. Ele era um rei espiritual, e portanto Ele não ia para o palácio temporal mas para o palácio espiritual. Ele cavalga para o templo, e então tomando posse dele, começa a ensinar nele como não tinha feito antes. Ele tinha estado algumas vezes no pórtico de Salomão, mas ele estava mais freqüentemente na encosta da montanha do que no templo; mas agora, como um rei, ele toma posse de seu palácio, e ali, sentado em seu trono profético, ele ensina o povo em sua corte real. Vós príncipes da terra, dêem ouvidos, há alguém que clama ser enumerado convosco. É Jesus, o Filho de Davi, o Rei dos Judeus. Dai lugar a Ele, vós imperadores, daí lugar a Ele! Dai lugar ao homem que nasceu numa manjedoura! Dai lugar ao homem cujos discípulos eram pescadores! Dai lugar a Ele cuja veste foi de um camponês, sem costura, tecido de cima abaixo! Ele não usa nenhuma coroa, exceto a coroa de espinhos, contudo ele é mais nobre do que vocês. Sobre seus lombos ele não veste púrpura, entretanto ele é muito mais real do que vocês. Sobre seus pés não havia nenhuma sandália prateada adornada com pérolas, porém ele é mais glorioso do que vocês. Dai lugar a Ele! Dai lugar a Ele! Hosana! Hosana! Deixem-no ser novamente proclamado Rei! Rei! Rei! Deixem-no valorizar seu lugar sobre Seu trono, alto acima dos reis da terra. Isto é o que Ele fez, proclamou-se Rei.

II. Além disto, Cristo por seu ato mostrou que tipo de Rei ele poderia ter sido se tivesse se agradado, e que tipo de rei ele pode ser agora, se ele desejar. Tinha sido este o desejo de nosso Senhor, aquelas multidões que seguiram-no nas ruas realmente tinham-no coroado lá e então, e dobrando os joelhos, eles tinham-no aceito como o ramo que brotou da seca raiz de Jessé – a ele que tinha vindo – o governante, o Siló entre o povo de Deus. Tivesse ele dito apenas uma palavra, e eles teriam arremetido com ele sobre suas cabeças para o palácio de Pilatos, e tomando-no de surpresa, com uns poucos soldados na terra, Pilatos poderia logo ter sido feito prisioneiro, e ter sido provado por sua vida. Diante do indomável valor e da tremenda fúria de um exército judeu, a Palestina poderia ter sido rapidamente limpa de todas as legiões romanas, e ter se tornado novamente uma terra real. Mais ainda, nós afirmamos, com seu poder de operar milagres, com poder pelo qual os soldados recuaram quando ele disse: “sou eu;” Ele podia ter limpado não somente aquela terra, mas todas as outras, ele podia ter marchado de país em país, e de reino em reino, até que toda cidade real e cada estado régio tivesse cedido a sua supremacia. Ele poderia ter feito aqueles que vivem em ilhas no mar curvarem-se diante dele, e aqueles que habitam o deserto poderiam ter sido obrigados a lamber o pó. Não havia razão, Ó vós reis da terra, para que Cristo não tivesse sido mais poderoso do que vocês. Se seu reino fosse deste mundo, ele poderia ter fundado uma dinastia mais duradoura do que as vossas, ele poderia ter reunido tropas diante das quais vossas legiões se derreteriam como a neve diante do sol de verão, ele poderia ter destruído a imagem de Roma, até, uma massa despedaçada, como um vaso de cerâmica destruído por uma haste de ferro, ele poderia ser feito em pedaços.
Ainda é assim, meu irmão. Se for a vontade de Deus, ele pode fazer seus santos, cada um deles, príncipes, ele pode fazer sua Igreja rica e poderosa, ele pode elevar sua religião se ele preferir, e fazê-la a mais magnificente e suntuosa. Se esta for sua vontade, não há razão para que toda a glória que nós lemos no Velho Testamento sob Salomão, não possa ser dada a Igreja sob o grande Filho de Davi. Mas ele não veio para fazer isto, e por isso a impertinência daqueles que pensam que Cristo deve ser adorado com uma esplêndida arquitetura, com magníficas vestimentas, com orgulhosas procissões, com a aliança do estados com igrejas, fazendo os bispos da igreja magnificentes senhores e governadores, erguendo a própria igreja, e tentando colocar sobre seus ombros aquelas roupas que nunca lhe caberão, vestimentas que nunca foram destinadas a ela. Se Cristo se preocupasse com esta glória do mundo, ela logo estaria a seus pés. Se ele desejasse tomá-la, quem levantaria uma palavra contra sua reivindicação, ou quem levantaria um dedo contra o seu poder! Mas ele não se preocupa com isso. Levem suas quinquilharias para outro lugar, tirem suas lantejoulas daqui, ele não as quer. Removam sua glória, e sua pompa, e seu esplendor, ele não necessita de nada de suas mãos. Seu reino não é deste mundo, de outro modo seus servos lutariam, e seus ministros estariam vestidos com mantos de escarlate, e seus servos estariam assentados entre os príncipes, Ele não se preocupa com isto. Povo de Deus, não busque por isso. O que seu Mestre não teria, não procurem para si próprios. Oh! Igreja de Cristo, o que teu marido desdenhou, desdenhe você também. Ele poderia ter tido isso, mas ele não teve. E ele leu para nós a lição, que se todas estas coisas podem ser da Igreja, foi bom para ele ter passado por elas e dizer: “Elas não são para mim – Eu não pretendo brilhar nestas plumas emprestadas.”

III. Mas em terceiro lugar, e aqui jaz o cerne do assunto, você viu que Cristo reivindicou ser um rei; você viu que tipo de rei ele poderia ter sido e não foi, mas agora você verá que tipo de rei ele é, e que tipo de rei ele reivindica ser. Qual era seu reino? Qual sua natureza? Qual era sua autoridade real? Quais foram seus súditos? Quais suas leis? Qual seu governo? Agora você perceberá imediatamente da passagem tomada como um todo, que o reino de Cristo é um reino muito estranho, totalmente diferente de qualquer coisa que jamais foi vista ou que ainda será vista.
Ele era um reino, em primeiro lugar, no qual os discípulos são os cortesãos. Nosso bendito Senhor não tinha príncipes à espera, nem porteiros de bastão negro, nenhuma guarda real que ocupasse o lugar daqueles altos oficiais? Porque uns poucos pobres e humildes pescadores, que eram seus discípulos. Aprenda , então, que se no reino de Cristo você quer ser um nobre você deve ser um discípulo; sentar aos seus pés é a honra que ele lhe dará. Ouvindo suas palavras, obedecendo seus mandamentos, recebendo sua graça – esta é a verdadeira dignidade, esta é a verdadeira magnificência. O mais pobre homem que ama a Cristo, ou a mais humilde mulher que está desejando aceitá-lo como seu mestre, torna-se imediatamente membro da nobreza que espera por Cristo Jesus. Que reino é este que faz pescadores nobres, e camponeses príncipes enquanto eles ainda continuam pescadores e camponeses! Este é o reino do qual nós falamos, no qual o discipulado é o mais alto grau, no qual o serviço divino é a mais alta patente.
Este era um reino, é estranho dizê-lo, no qual as leis do rei, não estão, nenhuma delas, escritas em papel. As leis do rei não são proclamadas pela boca do arauto, mas escritas no coração. Você não percebe que na narrativa Cristo manda seus servos ir e pegar seu corcel real, tal qual ele estava, e esta era a lei: “Soltai-o e deixai-o ir?” Mas onde estava escrita a lei? Estava escrita no coração do homem a quem pertenciam a jumenta e o jumentinho, pois ele imediatamente disse: “Deixai-os ir” cordialmente e com grande alegria; ele pensou ser uma grande honra contribuir para a cerimônia real deste grande Rei de paz. Assim, irmãos, no reino de Cristo você não verá nenhum enorme livro de leis, nem juristas, nem procuradores, nem advogados que necessitem esclarecer a lei. O livro da lei está aqui no coração, o advogado está aqui na consciência, a lei está escrita não mais em pergaminho, nem mais promulgada e escrita, como foram os decretos de Roma, sobre aço e aflição, mas sobre as tábuas de carne do coração. A vontade humana é persuadida à obediência, o coração humano é moldado à imagem de Cristo, seu desejo se torna o desejo de seus súditos, sua glória seu alvo principal, e sua lei o maior deleite de suas almas. Estranho reino este, que não necessita de nenhuma lei, salvo aquelas que são escritas sobre o coração de seus súditos.
Estranho ainda, como alguns pensarão dele, este era um reino no qual riquezas incertas não partilham o que quer que seja de sua glória. Lá vai o Rei, o mais pobre de toda a classe, por que aquele Rei não tinha onde reclinar a cabeça. Lá vai o Rei, o mais pobre de todos, sobre o jumento de outro homem que ele tinha emprestado. Lá vai o Rei, alguém que está para morrer; desprovido de seu manto para morrer nu e exposto. E ele ainda é o Rei do seu reino, o Principal, o Príncipe, o Líder, o Coroado de toda a geração, simplesmente porque ele tinha o mínimo. Ele era quem tinha dado mais aos outros e retido o mínimo para si mesmo. Ele que era o menos egoísta e mais abnegado, ele que viveu o máximo para os outros, era o Rei deste reino. E olhe para os cortesãos, olhe para os príncipes! Eles eram todos pobres também; eles não tinham nenhuma bandeira para colocar do lado de fora das janelas, então eles lançaram suas pobres roupas sobre as sacadas ou as penduraram das janelas quando ele passava. Eles não tinha púrpura brilhante para fazer um tapete para os pés de seu jumento, então eles lançaram suas próprias roupas surradas no caminho, eles espalharam ao longo do caminho ramos de palmeira que eles podiam facilmente obter das árvores que guarneciam a estrada, porque eles não tinham nenhum dinheiro com o qual custear a despesa de um grande triunfo. A cada caminho este era um pobre fato. Nenhum brilho de ouro, nenhuma bandeira ostentada, nenhum soprar de trombetas de prata, nenhuma pompa, nenhuma circunstância! Era o triunfo da própria pobreza. Pobreza entronizada sobre o animal próprio da pobreza cavalgando através das ruas. Estranho reino este, irmãos! Eu creio que nós o reconhecemos – um reino no qual aquele que é o principal entre nós, não é aquele que é mais rico em ouro, mas aquele que é mais rico em fé; um reino que não depende de nenhum rendimento exceto o rendimento da divina graça, um reino que oferece a cada homem sentar-se sob sua sombra com deleite, seja ele rico ou pobre.
Estranho reino este! Mas, irmãos, aqui está alguma coisa talvez ainda mais excessivamente extraordinária, ele era um reino sem força armada. Oh, príncipe, onde estão teus soldados? Este é teu exército? Este milhares que te servem? Onde estão tuas espadas? Eles carregam galhos de palmeira. Onde estão teus equipamentos? Eles estão quase se desnudando para calçar teu caminho com suas roupas. Estas é tua hoste? Estes são teus batalhões? Oh estranho reino, sem um exército! O mais estranho Rei, que não usa nenhuma espada, mas cavalga adiante no meio deste povo conquistando e para conquistar um estranho reino, no qual há a palma sem a espada, a vitória sem a batalha. Sem sangue, sem lágrimas, sem devastação, sem cidades queimadas, sem corpos mutilados! Rei de paz, Rei de paz, este é teu domínio! Ainda é assim no reino sobre o qual Cristo é rei hoje, não há força para ser usada. Se os reis da terra dissessem para os ministros de Cristo: “Nós lhe emprestaremos nossos soldados,” nossa resposta deveria ser: “O que nós podemos fazer com eles? – como soldados eles são inúteis para nós” Será um dia ruim para a igreja quando ela emprestar o exército daqueles iníquos gentios, o imperador Constantino também pensou que poderia fazê-la grande, Ela não nada além de poluição, degradação e vergonha, e aquela igreja que pediu às tropas civis para ajudá-la, aquela igreja que faria seu Sábados obrigatórios às pessoas pela força da lei, aquela igreja que teria seus dogmas proclamados com o ressoar dos tambores, e fez o punho ou a espada tornarem-se suas armas, não conheceu de que espírito ela é. Estas são armas carnais. Elas são fora de propósito em um reino espiritual. Seus exércitos são pensamentos amorosos, suas tropas são palavras amáveis. O poder pelo qual ele governa seu povo não é a mão forte e o braço estendido da polícia ou dos soldados, mas pelas ações de amor e palavras de superabundante bênção ele declara seu soberano poder.
Este era um estranho reino também, meus irmãos, porque ele não tinha qualquer pompa. Se você reclamar sua pompa, que pompa singular ela era! Quando nossos reis são proclamados, três estranhos indivíduos, como nunca se vê em outras ocasiões, chamados arautos, vêm cavalgando à frente para proclamar o rei. Estranhas são suas vestes, romântico seu traje, e com som de trombetas o rei é magnificamente proclamado. Então vem a coroação e como a nação se emociona de ponta a ponta com êxtase quando o novo rei está para ser coroado! Que multidão enche as ruas. Algumas vezes as fontes eram feitas para fluir vinho, e raramente havia uma rua que não estava forrada com trapezistas por toda a parte. Mas aqui vem o Rei dos reis, Príncipe dos reis da terra, nenhum cavalo colorido empinado que mantivesse a distância os filhos da pobreza; ele esta montado sobre um jumento, e enquanto cavalga adiante, fala gentilmente às pequenas crianças que clamam: “Hosana,” e quer bem às mães e pais da mais baixa estirpe que se comprimem à sua volta. Ele é acessível; ele não é separado deles; ele não reclama ser seu superior, mas servo deles não menos grandioso que um rei, ele era servo de todos. Sem trombetas soando – ele estava contente com a voz dos homens, nenhum adorno sobre seu jumento, mas as vestimentas de seus próprios discípulos, nenhuma pompa além da pompa que corações amorosos sinceramente rendidos a ele. Assim ele cavalga; seu reino de submissão, o reino de humilhação. Irmãos, nós podemos pertencer àquele reino também; nós podemos sentir em nossos corações que Cristo vem a nós para subjugar toda altivez e todo pensamento orgulhoso, que cada vale seja ser elevado, e cada monte seja humilhado, e toda a terra exaltada naquele dia!
Ouça novamente, e este talvez seja um lado impressionante do reino de Cristo – ele veio estabelecer um reino sem impostos. Onde estão os cobradores de impostos do Rei? Você diz que ele não tinha qualquer imposto; sim ele tinha, mas que imposto ele era! Cada homem, de bom grado, despia-se de suas vestimentas; ele nunca pediu isto; seu rendimento fluía livremente dos presentes dados de bom grado por seu povo. O primeiro tinha emprestado e seu jumento e o jumentinho, os outros tinham entregue suas roupas. Aqueles que tinham poucas roupas para repartir, retiraram os galhos das árvores, e ali estava declarado de vez que não custava qualquer coisa a nenhum homem, ou particularmente que nada era exigido de qualquer homem, mas todas as coisas eram dadas espontaneamente. Este é o reino de Cristo – um reino que não se mantém do dízimo, contribuições à igreja ou impostos de Páscoa, mas um reino que vive sobre a livre vontade de ofertar de um povo disposto, um reino que não exige nada de qualquer homem, mas que vem a ele com uma força mais poderosa eficácia do que exigência, dizendo a ele: “Tu não estás debaixo da lei, mas sob a graça, sendo comprados por preço”, dedique a si mesmo e tudo o que você tem ao serviço do Rei dos reis! Irmãos, vocês me acham um louco ou fanático em falar de um reino deste tipo? De fato, seria fanatismo se nós disséssemos que qualquer simples homem pudesse estabelecer tal domínio. Mas Cristo fez isto, e hoje há dezenas de milhares de homens neste mundo que chamam-no Rei, e que sentem que ele é mais Rei deles do que o governante de sua terra nativa; que eles dão a ele uma mais sincera homenagem do que eles deram ao amado soberano, eles sentem que seu poder sobre eles é tal que eles não desejam resistir – o poder do amor, que seus presentes a ele são tão pequenos, por isso eles desejam dar a si mesmos de agora em diante, Isto é tudo o que eles podem fazer. Maravilhoso e inigualável reino! Tal qual nunca se encontrará sobre a terra.
Antes de deixar este ponto, eu gostaria de observar que este era um reino no qual todas as criaturas foram consideradas. Porque Cristo tinha dois animais? Havia um jumento e um jumentinho, cria de jumento; ele montou o filhote de jumento porque ele nunca tinha sido montado antes. Eu já observei diversos comentaristas para ver o que eles dizem acerca disso, e um antigo comentarista me fez rir – Eu creio que ele não fará você rir também – dizendo que Cristo ordenando a seus discípulos para trazerem o filhote e também a mãe nos ensinaria que os infantes devem ser batizados tanto quanto seus pais, o que me parece ser um argumento eminentemente digno do batismo infantil. Pensando no assunto acima, contudo, eu considero que há uma melhor razão a ser dada, – Cristo não teria qualquer dor em seu reino, ele não teria nem mesmo um jumento sofrendo por ele, e se o filhote fosse tirado de sua mãe, lá estaria a pobre mãe no estábulo em casa, pensando em seu filhote, e lá estaria o filhote desejando voltar, como aquelas vacas que os filisteus usaram quando eles devolveram a arca, e que foram mugindo enquanto seguiam seu caminho, porque seus bezerros estavam em casa. Impressionante reino de Cristo no qual o animal natural possuirá sua parte!. “Porque a criatura foi sujeita a vaidade de nosso pecado.” Ele era um animal que sofria por causa do nosso pecado, e Cristo pretende que seu reino traga de volta os animais à sua primitiva felicidade. . Ele nos faria homens misericordiosos, considerando até mesmo os animais. Eu creio que quando seu reino vier totalmente, a natureza animal será reconduzida à sua felicidade original. “Então o leão comerá feno como o boi, a criança de peito brincará na toca da áspide, e a criança desmamada colocará sua mão no esconderijo do basilisco.” A velha tranqüilidade do Éden, e a familiaridade entre o homem e as criaturas e as criaturas inferiores, retornará novamente. E mesmo agora, sempre que o Evangelho é totalmente conhecido no coração do humano, o homem começa a reconhecer que ele não tem direito deliberado para matar um pardal ou um verme, porque ele está no domínio de Cristo, e aquele que não montou o jumentinho sem ter a mãe dele ao seu lado, para que isso pudesse ser em paz e alegria, não teria qualquer de seus discípulos pensando negligentemente da mais inferior criatura feita pela sua mão. Bendito reino este que considerou até mesmo o desprezado! Deus cuida dos bois? Oh, que ele cuide; e que o próprio jumento, aquele herdeiro do trabalho, seja cuidado. O reino de Cristo, então, cuidará de animais tanto quanto de homens.
Mais uma vez: Cristo montando através das ruas de Jerusalém, ensinou publicamente que seu reino era um reino de alegria. Irmãos, quando grandes conquistadores cavalgam através das ruas, você freqüentemente ouve da alegria do povo; como as mulheres atiram rosas no caminho, como eles se amontoam em volta do herói do dia, e balançam seus lenços para mostrar sua apreciação pela libertação que ele operou. A cidade foi longamente sitiada, o campeão desarraigou os sitiadores, e o povo terá descanso agora. Desocupando totalmente os portões, limpam as estradas e deixam o herói vir, permitem ao mais inferior pajem que está entre seus seguidores seja honrado neste dia por causa da libertação. Ah! Irmãos, quantas lágrimas, contudo, são aquelas ocultadas nestes triunfos! Há uma mulher que ouve o som dos sinos da vitória, e diz: “Ah! Vitória sem dúvida, mas eu estou de luto, e meus pequeninos estão órfãos” E dos balcões de onde a beleza olha para baixo e sorri, há talvez uma desconsideração naquele momento por amigos e parentes sobre os quais eles em breve eles terão de chorar, porque cada batalha é com sangue, e cada conquista é com tristeza, e cada grito de vitória tem seu luto, seu lamento, e ranger de dentes. Cada som de trombetas por causa da vitória conseguida, cobre o choro, os lamentos, e a profunda agonia daqueles que têm perdido seus parentes! Mas em teu triunfo, Jesus, não houve lágrimas! Quando as crianças clamavam: “Hosana,” elas não tinham perdido seus pais na batalha. Quando homens e mulheres gritavam: “Bendito o que vem em nome do Senhor,” eles não tinha nenhum motivo para chorar com a respiração presa, ou para estragar sua alegria com a lembrança da miséria. Não, em seu reino há alegria pura e sem mistura. Gritem, gritem, vocês que são súditos do Rei Jesus! Vocês têm aflições, mas não dele, problemas podem vir porque vocês estão no mundo, mas elas não vem dele. Seu serviço é perfeita liberdade. Seus caminhos são caminhos de conforto, e suas veredas são paz.
“Alegre-se o mundo, o Salvador vem,
O Salvador há muito prometido;
Prepare cada coração uma canção
E cada voz uma melodia”
Ele vem lançar fora suas lágrima e não fazê-las fluir, ele vem tirar você do seu lamaçal e colocá-lo sobre seu trono, para tirá-lo das suas masmorras e fazê-lo saltar em liberdade.
“Bênçãos abundam onde ele reina,
O prisioneiro salta por quebrar suas cadeias;
O cansado encontra eternal descanso,
E todas as eras de necessidade são abençoadas.”
Singular reino este!

IV. E agora eu venho para o meu quarto e último tópico. O Salvador, em sua entrada triunfal na capital de seus pais, declarou-nos muito claramente os efeitos práticos do reino. Ora, quais são eles? Um dos primeiros efeitos foi que toda a cidade se comoveu. O que isto significa? Isto significa que cada pessoa tinha alguma coisa a dizer sobre ele, e que cada pessoa sentiu alguma coisa porque Cristo montou através da rua. Havia alguns que inclinavam-se do topo de suas casas, olhavam a rua e diziam um ao outro – “Aha! Você já viu brincadeira mais tola do que esta? Humpf! Lá está Jesus de Nazaré, lá em baixo montando um jumento! Certamente se ele pretendia ser rei podia ter escolhido um cavalo. Olhe pra ele! Eles chamam isto pompa! Lá está um velho pescador atirando somente sua mal-cheirosa roupa; Eu diria que ele estava pescando nelas há uma ou duas horas atrás?” “Olhe,” alguém diz, “veja aquele velho mendigo jogando seu gorro pro ar por alegria!” “Aha!” dizem eles, “Há coisa mais ridícula do que esta?” Eu não posso colocar isto nos termos que eles o teriam descrito; se eu pudesse, eu acho penso que o faria. Eu gostaria de fazer você ver quão ridículo isto deve ter parecido ao povo. Por que se o próprio Pilatos tivesse ouvido sobre ele teria dito – “Ah! Não há muito o que temer disto. Não há temor que aquele homem derrube César; Não há temor que ele em algum tempo destrua um exército. Onde estão suas espadas? Não há nenhuma espada entre eles! Eles não têm nenhum clamor que soe como rebelião; seus sons são somente alguns versos religiosos tirados dos Salmos.” “Oh!” diz ele, “Tudo isto é desprezível e ridículo.” E esta era a opinião de um grande número em Jerusalém. Talvez esta seja sua opinião, meu amigo. O reino de Cristo, você diz, é ridículo; você talvez não acredite que há alguma pessoa que é governada por ele embora nós digamos que nós o temos como nosso Rei, e que sentimos que a lei do amor é uma lei que nos constrange a doce obediência. “Oh,”você diz, “isto é fingimento e hipocrisia.” E há alguns que estão presentes onde eles têm incensórios dourados, e altares, e sacerdotes e eles dizem: “Oh! Uma religião que é tão simples – cantando uns poucos hinos, e oferecendo improvisada oração! – Ah! Dê-me um bispo com uma mitra – um ótimo indivíduo envolvido em tecido – que isto é coisa para mim.” “Oh!,” diz outro, “deixe-me ouvir o ressoar dos órgãos; deixe-me ver as coisas feitas sistematicamente, deixe-me ver alguns ornamentos também; deixe o homem surgir coberto em roupas apropriadas para mostrar que ele é um tanto diferente das outras pessoas; não o deixem ficar vestido como se ele fosse um homem comum; deixe-me ver alguma coisa no culto diferente de todas as coisas que eu já vi antes.” Eles o querem vestido com alguma pompa, e porque não é assim eles dizem – “Ah! Humpf!” Eles o ridicularizam, e isto é tudo que Cristo tem da multidão de homens que se acham excessivamente sábios. Ele é para eles loucura e eles passam por ele com desprezo. Seus escárnios serão em breve trocados por lágrimas senhores! Quando ele vier com real pompa e esplendor vocês irão chorar e lamentar, porque vocês negaram o Rei da Paz.
“O Senhor virá! De uma terrível forma,
Com coroa de arco-íris e manto de tempestade,
Com voz de querubim e asas de vento,
O Julgamento marcado de toda humanidade.”
Então você achará perturbador tê-lo tratado com desprezo. Sem dúvida, havia outros em Jerusalém, que estavam cheios de curiosidade. Eles diziam – “Meu Deus, o que pode ser isto? O que isto significa? O que é isto?” “Eu gostaria que você viesse,” eles diziam aos seus vizinhos, “e nos contassem a história deste homem singular, nós gostaríamos de saber sobre ele.” Alguns deles diziam: “Ele foi para o templo, eu diria que ele fará um milagre;” Assim afastados eles correram, e se apertaram, e se espremeram, e se amontoaram para ver uma maravilha. Eles eram como Herodes, eles desejavam ver algum milagre operado por ele. Este foi também o primeiro dia da chegada de Cristo, e, é claro o entusiasmo podia durar uns nove dias se ele prosseguisse, assim eles estavam muito curiosos sobre isso. E isso é tudo o que Cristo tem de milhares de pessoas. Eles ouvem sobre um reavivamento da religião. Bem, eles gostariam o que é isso e ouvir sobre isso. Há alguma coisa acontecendo em tal e tal local de culto; bem, eles gostariam de ir mesmo que fosse somente para ver o lugar. “Há um estranho ministro dizendo coisas esquisitas, vamos ouvi-lo. Nós tínhamos intenção de sair” – vocês sabem que eu tenho em vista vocês mesmos – “nós tínhamos a intenção de ir a uma excursão hoje,” você diz, “mas, ao invés disto, vamos lá.” Apenas isto, curiosidade, curiosidade; isto é tudo tem hoje, e ele que morreu sobre a cruz tornou-se um tema para uma história sem propósito, e ele que é Senhor de anjos e adorado por homens, é discutido como se fosse um Bruxo do Norte ou algum excêntrico impostor! Ah! Daqui a pouco, você achará perturbador tê-lo tratado assim; porque quando ele vier, e quando todo olhos vê-lo, você que simplesmente inquiriu curiosamente por ele descobrirá que ele perguntará por você, não com animosidade mas com ódio, e dirá – “Apartai-vos, vós malditos, para o fogo eterno.” Mas anônimos na multidão houve alguns que foram ainda piores, porque eles observavam a coisa toda com inveja. “Ah!” disse o Rabi Simeon para o Rabi Hillel, “o povo nunca esteve tão satisfeito conosco. Nós conhecemos muito mais do que aquele impostor; nós lemos do começo ao fim todos os nossos livros religiosos.” “Você não se lembra dele,” disse alguém, “que quando ele era um menino era especialmente precoce? Você se lembra quando ele veio ao templo e conversou conosco, e desde então ele enganava o povo,” Pensando em que ele brilhava mais do que eles, que ele era mais estimado no coração das multidões do que eles eram, embora eles fossem altamente orgulhosos. “Oh!” disse o fariseu, “ele não usa nenhum filactério, e eu fiz os meus bem grandes; eu fiz minhas vestimentas até quase as extremidades, para que elas possam ser superiores.” “Ah!” diz outro, “Eu dizimo minha menta, meu anis, meu cominho, e fico no canto da rua e toco trombeta quando dou um centavo, mas, ainda assim, o povo não me coloca sobre um jumento; eles não batem palmas e dizem: ‘Hosana’ para mim, mas toda a terra vai atrás deste homem como um bando de crianças. Além disso, pense neles indo ao templo perturbando seus superiores, perturbando a nós que estamos fazendo uma exibição de nossas pretensas orações em pé no pátio!” E isto é o que Cristo tem de um grande número. Eles não gostam de ver a causa de Cristo progredir. Pelo contrário, eles necessitariam que Cristo fosse rebaixado para que eles pudessem engordar a si mesmos com o roubo, eles precisariam que sua igreja fosse desprezível. Eles gostam de ouvir da queda de pastores cristãos. Se eles podem achar falhas em um cristão, “noticiem isto, noticiem isto, noticiem isto,” dizem eles. Mas se um homem anda honestamente, se ele glorifica a Cristo, se a Igreja cresce, se almas são salvas, imediatamente há barulho e toda a cidade se movimenta, todo barulho começa e é conduzido por falsidade, fazendo acusações, e calúnias contra o caráter do povo de Cristo. De um modo ou de outro, homens por certo são movidos, se eles não são movidos ao escárnio, se eles não são movidos ao questionamento, eles são movidos a inveja. Mas benditos são aqueles alguns em Jerusalém que foram movidos ao regozijo. Oh! Havia muitos que, como Simeão e Ana regozijaram por ver aquele dia, e muitos deles foram para casa e disseram: “Senhor, agora podes despedir em paz o teu servo, porque meus olhos viram a tua salvação.” Havia uma mulher, há muito acamada, na rua de trás de Jerusalém, que sentou-se me sua cama e disse: “Hosana,” e desejou descer para a rua, para que pudesse atirar seu velho manto no caminho, e pudesse saudar aquele que era o Rei dos Judeus. Havia muitos olhos lacrimejantes que lançaram fora suas lágrimas naquele dia, e muitos crentes enlutados que começaram naquela hora a regozijar com indescritível alegria. E assim há alguns de vocês que ouvem de Cristo o Rei com alegria. Você se unem ao hino, não como nós temos todos juntados nossas vozes, mas com o coração.

“Regozijem-se o Salvador reina,
O Deus de paz e amor
Quando ele limpou nossas manchas.
Tomou seu assento nas alturas
Regozijem-se, regozijem-se!
Regozijem-se em alta voz, vós santos, regozijem-se

Este é, então, o primeiro efeito do reino de Cristo! Sempre que ele vem, a cidade é movimentada. Não acredite que o Evangelho é pregado de maneira nenhuma se não faz barulho. Não acredite, meu irmão, que o evangelho é pregado no modo de Cristo se ele não deixa alguns irritados e alguns felizes, se ele não faz muitos inimigos e alguns amigos.

Há ainda outro efeito prático do reino de Cristo. Ele subiu ao templo e lá em uma mesa, um monte homens com cestas contendo pares de pombas. “Pombas , senhor, pombas!” Ele olhou para eles e disse: “Tirem essas coisas daí.” Ele falou com grande furor. Havia outros trocando dinheiro para que o povo entrasse para pagar seu meio siclo, Ele derrubou as mesas e colocou-os para correr, e logo esvaziou todo o pátio de todos aqueles mercadores tiravam lucro da religiosidade, e fazendo da religião um pretexto para sua própria compensação. Agora isto é o que Cristo faz sempre que ele vem. Eu desejaria que ele viesse um pouco mais na Igreja da Inglaterra, e a purgasse da venda de nomeações, a livra-se daquela maldita simonia que ainda é tolerada pela lei e a limpasse dos homens que são oportunistas, que tomam aquilo que pertence aos ministros de Cristo, e aplicam para seu próprio uso. Eu gostaria que ele estivesse envolvido em todos os nossos lugares de adoração, para que de uma vez por todas pudesse ser visto que aqueles que servem a Deus, o servem porque o amam, e não pelo que podem obter com isso. Eu gostaria que cada professor de religião tivesse completamente claro em sua própria consciência que ele nunca fez uma profissão para gerar respeitabilidade ou estima, mas que somente fez isso naquela que ele pode honrar a Cristo e glorificar seu Mestre. O significado espiritual disso tudo é este – Nós não temos nenhuma casa de Deus hoje; tijolos e argamassa não são santos, os lugares onde nós cultuamos a Deus são lugares de adoração, mas eles não são casas de Deus, não mais do que nós que estamos neles. Nós não cremos na superstição que faz qualquer lugar santo, mas nós somos o templo de Deus. Os próprios homens são templos de Deus, e onde Cristo vem ele expulsa os compradores e negociantes, ele elimina todo o egoísmo. Eu nunca acreditarei que Cristo, o Rei fez de seu coração o palácio dele até que você não seja mais egoísta. Oh, quantos professores há que querem obter tanta honra, tanto respeito! Quanto a dar ao pobre, pensando que é mais abençoado dar do que receber, quanto alimentar o faminto e vestir o desnudo, como vivendo para os outros e não para si mesmos – eles não pensam nisto. Ó Mestre, venha ao teu templo e expele nosso egoísmo, agora vem, tira todas aquelas coisas que fazem-no conveniente para servir Mamom para que sirva a Deus; ajuda-nos a viver para ti, e viver para os outros pelo viver contigo, e não viver para nós mesmos!
O último efeito prático do reino de nosso Senhor Jesus Cristo foi que ele organiza uma grande festa; ele teve, se eu posso falar assim, um dia de recepção na sala real, e quem foi o povo que veio para atendê-lo? Ora, vós cortesãos, os discípulos, nobreza alta e baixa que vêm esperar por ele. Aqui vem um homem, ele tem uma bandagem aqui, e o outro olho tem quase falhando – faça-o entrar, aqui vem outro, seus pés estão totalmente virados e contorcidos – faça-o entrar, aqui vem outro avançando sobre duas muletas, ambas as pernas são defeituosas, e outro perdeu as suas pernas. Aqui eles vêem e aqui está a recepção. O próprio Rei vem aqui e prepara um grande encontro, e o cego e o coxo são seus convidados, e agora ele vem, ele toca aquele olho cego e a luz brilha nele; ele fala a este homem com um perna seca, ele anda; ele toca dois olhos de uma vez, e ambos vêem,e ao outro diz: “Eu lançarei fora suas muletas, ponha-se ereto e regozije e salte com alegria.” Isto é o que o Rei faz todas as vezes que ele vem. Venha aqui esta manhã, eu te suplico, tu grande Rei! Há olhos cegos aqui que não podem ver tua beleza. Anda, Jesus, anda no meio desta multidão e toca os olhos. Ah! Então irmãos, se ele fizer isto, você dirá: “Há uma beleza nele que eu nunca vi antes.”Jesus, toca seus olhos, eles não podem lançar fora sua própria cegueira, tu podes fazê-lo! Ajude-os a olhar para ti pendurado sobre a cruz! Eles não podem fazê-lo a menos que tu os habilite. Possam eles fazer isto agora, e encontra vida em ti! Ó Jesus, há alguns aqui que estão coxos – joelhos que não se dobram, eles nunca oraram; Há alguns aqui cujos pés não correrão no caminho dos teus mandamentos – pés que não os levarão onde teu nome é louvado, e onde tu és tido em honra. Anda, grande Rei, anda em solene pompa através desta casa, e faze-a como o antigo templo! Mostra aqui o teu poder e prepara teu grande encontro na recuperação do coxo e curando o cego “Oh!” disse alguém, “Eu desejaria que ele abrisse meus olhos cegos.” Alma, ele fará isso, sussurre sua oração agora, e isto será feito, porque ele está junto de ti agora. Ele está em pé ao teu lado, ele fala a ti e diz – “Olhe pra mim e seja salvo, tu o mais vil de todos.” Há outro, e ele diz – “Senhor, eu quero ser íntegro.” Ele diz – “Seja íntegro então.” Creia nele e ele te salvará. Ele está próximo a você irmão. Ele não está no púlpito mais do que está no banco, nem em um banco mais do que em outro. Não diga – “Quem irá ao céu para encontrá-lo, ou às profundezas para trazê-lo?” Ele está perto de você; ele ouvirá sua oração mesmo que você não fale; ele ouvirá seu coração falar. Oh! Diga a ele – “Jesus, cura-me,” e ele fará isto; ele fará isto agora. Deixe-nos sussurrar um oração, e então nós nos separaremos.
Jesus, cura-nos! Salva-nos Filho de Davi, salva-nos! Tu vês quão cegos nós somos – Oh! Dá-nos a visão da fé! Tu vês o quão coxo nós somos – Oh! Dá-nos a força da graça! E agora, agora mesmo, tu Filho de Davi, arranca nosso egoísmo, e vem e vive e reina em nós como em teu templo-palácio! Nós pedimos isto, Ó tu grande Rei, por tua própria causa. Amém. E antes de deixarmos este lugar, clamemos novamente: “Hosana, hosana, hosana. Bendito o que vem em nome do Senhor.”

Traduzido pelo: Rev. Marco Antonio Rodrigues

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