“Deus pode mandar-lhe, amigo, alguns pacotes com conteúdos valiosos. Não se aflija se vierem com uma aparência grosseira. Pode estar certo de que ali dentro estão escondidos tesouros de amor, de bondade e de sabedoria. Se aceitarmos o que Ele nos manda e confiarmos Nele quanto à bondade ali contida, mesmo no escuro, conheceremos o significado dos segredos de Sua providência.”
(A. B. Simpson)
No final desse dia, ainda há oportunidade de acolher com mansidão tudo o que o Senhor tem enviado a você, e dizer-lhe: “Pai, é tudo bom se vem de Tuas mãos!”
Eu não me dirijo somente ao não convertido, porque sou daqueles que crêem que a igreja precisa se arrepender muito antes que muita coisa de valor possa ser feita no mundo. Acredito firmemente que o baixo padrão de vida cristã está mantendo muita gente no mundo e nos seus pecados. Se o incrédulo vê que o povo cristão não se arrepende, não se pode esperar que ele se arrependa e se converta de seu pecado. Eu tenho me arrependido dez mil vezes mais depois que conheci a Cristo, do que em qualquer época anterior, e penso que a maioria dos cristãos precisa se arrepender de alguma coisa.
Assim, quero pregar tanto para os cristãos como para os não-convertidos, tanto para mim mesmo quanto para aquele que nunca conheceu a Cristo como seu Salvador.
Há cinco coisas que fluem do verdadeiro arrependimento:
1. Convicção.
2. Contrição.
3. Confissão de pecado.
4. Conversão.
5. Confissão de Cristo diante do mundo.
Convicção
Quando um homem não está profundamente convicto de seus pecados, é um sinal bem certo de que ainda não se arrependeu de verdade. A experiência tem me ensinado que as pessoas que têm uma convicção muito superficial de seus pecados, cedo ou tarde recaem em suas velhas vidas. Nos últimos anos tenho estado bem mais ansioso por uma profunda e verdadeira obra de Deus entre os já convertidos do que em alcançar grandes números. Se um homem confessa ser convertido sem reconhecer a atrocidade de seus pecados, provavelmente se transformará num ouvinte endurecido que não irá muito longe. No primeiro sopro de oposição, na primeira onda de perseguição ou ridículo, eles serão carregados de volta para o mundo.
Creio que é um erro lamentável conduzirmos tantas pessoas à igreja que nunca experimentaram a verdadeira convicção de pecados. O pecado no coração do homem é tão negro hoje quanto o foi em qualquer outra época. Às vezes penso que está mais negro. Porque quanto maior a luz que uma pessoa tiver, maior sua responsabilidade, e por conseguinte maior a sua necessidade de profunda convicção.
Até que a convicção de pecados nos faça cair de joelhos, até que estejamos completamente humilhados, até que tenhamos perdido toda esperança em nós mesmos, não podemos encontrar o Salvador.
Há três coisas que nos levam à convicção: (1) A Consciência; (2) A Palavra de Deus; (3) O Espírito Santo. Todos os três sao usados por Deus.
Muito antes de existir a Palavra escrita, Deus tratava com o homem através da consciência. Foi por isto que Adão e Eva se esconderam da presença do Senhor Deus entre as árvores do Jardim do Éden. Foi isto que convenceu os irmãos de José quando disseram: ‘Na verdade, somos culpados, no tocante a nosso irmão, pois lhe vimos a angústia da alma, quando nos rogava, e não lhe acudimos. Por isso’, disseram eles (e lembre-se, mais de vinte anos haviam se passado depois que eles o venderam como cativo), ‘ por isso nos vem essa ansiedade’.
É a consciência que devemos usar com nossos filhos antes de atingiram uma idade onde podem entender a Palavra e o Espírito de Deus. E é a consciência que acusa ou inocenta o ímpio.
A consciência é ‘uma faculdade divinamente implantada no homem, que o pede a fazer o que é certo’. Alguém disse que ela nasceu quando Adão e Eva comeram do fruto proibido, quando seus olhos foram abertos e ‘conheceram o bem e o mal’. Ela julga, mesmo contra nossa vontade, os nossos pensamentos, palavras, e ações, aprovando ou condenando-os de acordo com a sua avaliação de certo ou errado. Uma pessoa não pode violar sua consciência sem sentir a sua condenação.
Mas a consciência não é um guia seguro, porque freqüentemente ela só dirá que uma coisa é errada depois de você a praticar. Ela precisa ser iluminada por Deus porque faz parte de nossa natureza caída. Muitas pessoas fazem o que é errado sem serem condenadas pela consciência. Paulo disse: ‘Na verdade, a mim me parecia que muitas cousas devia eu praticar contra o nome de Jesus, o Nazareno’ (At 26:9). A própria consciência precisa ser educada.
Outra vez, a consciência freqüentemente é como um relógio despertador, que a princípio desperta e acorda, mas com o tempo a pessoa se acostuma com ele, e então perde o seu efeito. A consciência pode ser asfixiada. Creio que cometemos um erro em não dirigirmos as pregações mais para a consciência.
Portanto, no devido tempo a consciência foi suplantada pela Lei de Deus, que no seu tempo foi cumprida em Cristo.
Neste país cristão, onde as pessoas têm Bíblias, a Palavra de Deus é o meio que Deus usa para produzir convicção. A Bíblia nos diz o que é certo e o que é errado antes de você cometer o pecado, e assim o que você precisa é aprender e apropriar-se de seus ensinos, sob a direçao do Espírito Santo. A consciência comparada à Bíblia é como uma vela comparada ao sol lá no céu.
Veja como a verdade convenceu aqueles judeus no dia de Pentecostes. Pedro, cheio do Espírito Santo, pregou que ‘este Jesus que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo’. ‘Ouvindo eles estas cousas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?’ (At 2: 36, 37).
Em terceiro lugar, enfim, o Espírito Santo convence. Algumas das mais poderosas reuniões de que já participei foram aquelas em que houve uma espécie de quietude sobre o povo e parecia que um poder invisível se apoderava das consciências. Lembro-me de um homem que veio à reunião e no momento em que entrou, sentiu que Deus estava lá. Um senso de reverência veio sobre ele, e naquela mesma hora sentiu convicção e se converteu.
Contrição
A próxima coisa é a contrição, o profundo sentimento de tristeza segundo Deus e humillhação de coração por causa do pecado. Se não houver verdadeira contrição, o homem voltará direto para o seu velho pecado. Esse é o problema com muitos cristãos.
Um homem pode sentir raiva e se não houver muita contrição, no dia seguinte sentirá raiva outra vez. A filha pode dizer coisas indignas, ofensivas à sua mae, e porque sua consciência lhe perturba ela diz: ‘Mãe, sinto muito. Perdoe-me’.
Mas logo há um outro impulso genioso, porque a contrição não foi profunda nem verdadeira. Um marido diz palavras agressivas à sua esposa, e então para aliviar sua consciência, compra um buquê de flores para ela. Ele não quer enfrentar a situação como um homem e dizer que errou.
O que Deus quer é contrição, e se não houver contrição, não há arrependimento completo. ‘Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os de espírito oprimido.’ ‘Coração compungido e contrito não o desprezarás, ó Deus.’ Muitos pecadores lamentam por seus pecados, lamentam por não poderem continuar pecando; mas se arrependem apenas com corações que não estão quebrantados. Não creio que saibamos como nos arrepender atualmente. Precisamos de um João Batista, que ande pelo país, gritando: ‘Arrependam-se! Arrependam-se!’
Confissão de pecado
Se tivermos verdadeira contrição, ela nos levará a confessarmos nossos pecados. Creio que nove décimos dos problemas em nossa vida cristã são resultado de não fazermos isso. Tentamos esconder e cobrir nossos pecados. Há muito pouca confissão deles. Alguém disse: ‘Pecados não confessados na alma são como uma bala no corpo’.
Se você não tiver poder, talvez seja porque há algum pecado que precisa ser confessado, alguma coisa em sua vida que necessita ser removida. Não importa quantos salmos você cante, ou a quantas reuniões você compareça, ou o quanto você ore e leia a sua Bíblia, nada disso encobrirá esse tipo de problema. O pecado deve ser confessado, e se o meu orgulho me impede de confessar, não devo esperar misericórdia de Deus nem respostas às minhas oraçoes.
A Bíblia diz: ‘O que encobre as suas transgressões, jamais prosperará’ (Pv 28:13). Pode ser um homem no púlpito, um sacerdote por trás do altar, um rei no trono _ não me importo quem ele seja. O homem está tentando fazer isso há seis mil anos. Adão o tentou e falhou. Moisés o tentou quando enterrou o egípcio que matou, mas falhou.
‘Sabei que o vosso pecado vos há de achar.’ Por mais que você tente enterrar o seu pecado, este tornará a aparecer mais cedo ou mais tarde, se não for apagado pelo Filho de Deus. Se o homem nunca conseguiu fazer isso em seis mil anos, é melhor você e eu desistirmos de tentar.
Há três maneiras de se confessar pecados. Todo pecado é contra Deus, e a Ele deve ser confessado. Há pecados que eu não preciso confessar a pessoa alguma no mundo. Se o pecado foi entre mim e Deus, devo confessá-lo sozinho no meu quarto. Não preciso cochichá-lo no ouvido de nenhum mortal. ‘Pai, pequei contra o céu e diante de Ti.’ ‘Pequei contra Ti, contra Ti somente, e fiz o que é mal perante os teus olhos.’
Mas se fiz algo errado a alguma pessoa, e ela sabe que a prejudiquei, devo confessar o pecado não somente a Deus mas também a esta pessoa. Se o meu orgulho me impede de confessar meu pecado, não preciso ir a Deus. Posso orar, posso chorar, mas isso não adiantará. Primeiro confesse àquela pessoa, e depois a Deus, e veja com que rapidez Ele lhe ouvirá e lhe enviará a paz. ‘Se pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma cousa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta.’ (Mt 5: 23, 24). Esse é o caminho bíblico.
Há outra classe de pecados que devem ser confessados publicamente. Suponha que fui conhecido como um blasfemador, um alcoólatra ou um depravado. Se me arrependo de meus pecados, devo ao público uma confissão. A confissão deve ser tão pública quanto foi a trangressão. Muitas vezes uma pessoa dirá algo maldoso a respeito de outra na presença de terceiros, e então tentará apaziguar isso indo somente à pessoa prejudicada. A confissão deve ser feita de forma que todos os que ouviram a transgressão possam ouvir a confissão.
Somos bons em confessar o pecado de outras pessoas, mas se experimentarmos um verdadeiro arrependimento, ficaremos mais que ocupados cuidando dos nossos próprios pecados. Quando alguém dá uma boa olhada no espelho de Deus, não encontrará ali faltas dos outros; tem coisas demais a ver em si mesmo.
‘Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça’ (1 Jo 1:9). Obrigado Senhor pelo Evangelho! Crente, se há algum pecado em sua vida, resolva confessá-lo, e seja perdoado. Não deixe nenhuma nuvem entre você e Deus. Garanta o seu título para a mansão que Cristo foi preparar para você .
Conversão
A confissão leva à verdadeira conversão, e não pode haver uma verdadeira conversão, até que se tenha dado esses três passos.
Agora a palavra conversão significa duas coisas. Dizemos que uma pessoa é ‘convertida’ quando nasce de novo. Mas conversão também tem um significado diferente na Bíblia. Pedro disse: ‘Arrependei-vos…e convertei-vos'(At 3:19). Existe uma versão que traduz assim: ‘Arrependei-vos e voltai-vos’. Paulo disse que não foi desobediente à visao celestial, mas começou a pregar a judeus e gentios para que se arrependessem e se voltassem para Deus. Um certo teológo de outra época disse: ‘Todos nós nascemos de costas para Deus. O arrependimento é uma mudança de trajetória. É uma volta de cento e oitenta graus.’
Pecado é afastar-se de Deus. Como alguém disse, é aversão a Deus e conversão para o mundo; enquanto que o verdadeiro arrependimento significa conversão a Deus e aversão ao mundo. Quando há verdadeira contrição, o coração está entristecido por causa do pecado; quando há verdadeira conversão, o coração fica liberto do pecado. Deixamos a velha vida, somos transportados do reino das trevas para o reino da luz. Maravilhoso, não é ?
A não ser que nosso arrependimento inclua essa conversão, não vale muito. Se alguém continua em pecado, é a prova de uma profissão inútil. E como bombear água para fora do navio, sem tampar os vazamentos. Salomão disse: ‘Se o povo orar… e confessar teu nome, e se converter dos seus pecados…'(2 Cr 6:26).
Oração e confissão não seriam de proveito nenhum enquanto o povo continuasse em pecado. Vamos prestar atenção à chamada de Deus. Vamos abandonar o velho caminho perverso. Voltemos ao Senhor, e Ele terá misericórdia de nós, e ao nosso Deus, porque Ele perdoará abundantemente.
Confissão de Cristo
Se você é convertido, o próximo passo é confessar isso abertamente. Ouça: ‘Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa a respeito da salvação’ ( Rm 10:9, 10 ).
A confissão de Cristo é o clímax da obra de verdadeiro arrependimento. Devemos isso ao mundo, aos nossos semelhantes cristãos e a nós mesmos. Ele morreu para nos redimir, e podemos estar envergonhados ou com medo de confessá-Lo? A religião como uma abstraçao, como uma doutrina, tem pouco interesse para o mundo, mas aquilo que as pessoas podem testemunhar da experiência pessoal sempre tem peso.
Ah, amigos, estou tão cansado de cristianismo medíocre. Vamos nos entregar cem por cento por Cristo. Não vamos dar um som inseguro. Se o mundo quer nos chamar de tolos, que o faça. É apenas por um pouco. O dia da coroação está chegando. Graças a Deus pelo privilégio que temos de confessar a Cristo!
“… Eu estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora vivo na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo se entregou por mim.” Gálatas 2:19-20
Este trecho escolhido começa com um Eu maiúsculo na versão em inglês da American R.V. Existem dois “Eu(s)” maiúsculos nas Escrituras, os quais são exatamente opostos. Um é o Eu de Lúcifer: é a primeira vez que a palavra “Eu” foi usada no universo de Deus e foi quando ele a pronunciou. O outro “Eu” é o Eu do nosso Senhor, o qual Ele usou com Seus discípulos, quando Ele disse “Eu em vós”. O que Lúcifer realmente queria dizer quando ele primeiro usou a palavra Eu, foi – “Não mais Deus, mas Eu”. Isto fez dele o arqui-traidor. Quando ele continuou dizendo – “Eu irei”, isso foi um ato de auto-traição ”.
Adão e Eva fizeram a mesma escolha que Lúcifer já tinha feito – O “Eu em lugar de Deus”. “Eu” tornou-se o centro da visão deles, e eles também disseram: “Não mais Deus, mas Eu”. Este “Eu” é também o centro da sua vida e da minha, e quer viver para ele mesmo. Se tiver que haver história nas nossas vidas, deverá haver primeiro uma mudança no nosso relacionamento tanto para com o “Eu” como para com Deus. Nossas vidas devem ser reajustadas de tal maneira que ao invés de – “Não mais Deus, mas Eu”, seja “Já não sou Eu, mas Cristo” de Gálatas 2:19-20.
Mas o “Eu” nunca sairá do trono por si mesmo. Ele nunca se rebaixará ou se retirará em favor de Cristo. Ele deve ser removido afim de ser substituído por Cristo, como centro de nossas vidas. Como se pode fazer isto? Existe somente um lugar aonde isso pode ser feito, e esse lugar é na Cruz de Cristo. O caminho de Deus é o caminho da Cruz, e o caminho da Cruz significa morte. Nós não podemos dizer de uma forma real “Cristo vive em mim” antes de dizermos – “Eu estou crucificado com Cristo”. Essa é a ordem de Deus e não pode ser mudada. Quando o velho “Eu” se retira através da crucificação, a nova vida entra através da ressurreição. Quando o velho “Eu” cai e morre, o novo “Eu” surge e vive.
Por que razão o velho “Eu” é tão abominável e odioso aos olhos de Deus, para que Ele deva tratar tão drasticamente com ele? Eu estou sempre procurando uma visão nova deste versículo. Alguns anos atrás eu compreendi este verso de uma maneira bem definida como um padrão para a minha vida diária. Recentemente eu li um folheto, e recebi uma nova luz nesse versículo, o qual deu lugar a uma nova linha de pensamento com respeito à razão porque Deus teve que levar o velho “Eu” à Cruz para ser crucificado com Jesus Cristo. Eu vou pedir a você que abra a Bíblia em Marcos 10:32-45, e leia esse trecho antes de continuar a ler este artigo.
Nesta passagem o Senhor Jesus contou aos Seus discípulos do sofrimento que O esperava; da zombaria, do tormento e dos acoites, tudo para terminar em morte de crucificação. Alguém poderia pensar que seus corações tivessem sido comovidos enquanto eles visualizavam a agonia que O esperava. Mas muito pelo contrário! Suas palavras pareciam não dizer nada a eles. Por quê? Porque eles estavam preocupados com eles mesmos. Dois deles, Thiago e João, vieram a Ele dizendo: “Mestre, queremos que nos conceda o que te vamos pedir”. Isto é o Ego falando. – Tu nos concedas! Não há nenhum desejo de fazer algo para Ele.
O Senhor Jesus perguntou: “Que quereis que vos faça?” Quanta graça! Que incomparável altruísmo e humildade! Então os dois disseram: “Permite-nos que na Tua glória nos assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda.” Permiti-nos! Não importa que tipo de lugar os outros dez tenham; qualquer lugar será bom pra eles; mas cuida para que nós tenhamos os melhores lugares, por obséquio. Depois que o Senhor tenha nos colocado assentados, pode então assentar os outros em qualquer lugar. Lembre-se que estes dois eram ardentes fundamentalistas. Eles acreditavam no céu. Haveria de haver uma Terra Gloriosa, e eles queriam se assegurar de que eles teriam os melhores lugares ali; eles iriam reservá-los, e queriam obter essa solicitação antes mesmo que os outros tivessem uma chance
O Senhor fez desta solicitação uma ocasião para ensiná-los mais alguma coisa: “Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu bebo?” Sim! Vocês estarão comigo na Terra Gloriosa, mas há alguma coisa antes da Terra Gloriosa. Há o cálice – a Cruz! Vocês estão prontos para ir à Cruz? Os lugares que vocês terão na Glória irão depender do fato de vocês irem àquela Cruz comigo ou não; de vocês beberem aquele cálice comigo. Eles não tinham pensado nisto! Eles pensaram somente nos lugares que eles iriam ocupar na Glória – puro e extremo egoísmo. Mas a Cruz vem antes da Glória; o cálice precede o lugar, não somente para eles, mas também para você e para mim. Quando os dez ouviram a conversa eles ficaram muito aborrecidos pelo fato dos dois terem se antecipado a eles e pedido os melhores lugares. A raiva deles suscitou do Senhor Jesus estas palavras maravilhosas, as quais prefiguram a Cruz, e colocam-na bem no centro da experiência cristã:
“Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e dar a sua vida em resgate por muitos”. (Marcos 10:43-45)
Não pensariam vocês que a palavra “próprio” teria atingido-os até o âmago? O “próprio” Filho do Homem! Ele tinha o direito de vir esperando ser servido porque Ele era o Filho de Deus. Mas Ele veio também como o Filho do Homem, e isso é o que Ele próprio Se chama aqui. O ego espera obter, Cristo veio para dar. Ele veio não para ser servido, mas pra servir, até mesmo para Se dar a Si próprio à morte da Cruz.
O “Eu” sempre espera que alguém o sirva. Ele não vem para servir, mas para ser servido. Sim! O “Eu” quer que todo mundo e todas as coisas o sirvam – pessoas, circunstâncias, e mesmo ocasionalmente o tempo.
O velho “Eu” tem um grande senso de sua própria importância, e uma presunçosa estimativa de suas próprias habilidades. Ele fica terrivelmente chateado se sua importância não é reconhecida, se seus dons não são valorizados, se seus direitos não são admitidos, ou se ele não é considerado apropriadamente; tudo porque ele veio para ser servido, e não para servir.
O velho “Eu” sabe muita coisa da Bíblia, mas nada da parte que diz: “preferindo-vos em honra uns aos outros”; ou que fala de “não procurando o que é propriamente seu”, ou de “alegrai-vos com os que se alegram”. Sendo assim isso dá lugar ao ciúme e à inveja, talvez até mesmo à falta de perdão, ressentimento, e ódio, tudo porque ele veio para ser servido, não para servir. Ele pode finalmente até fazer uma bondade a alguém, e então quase ter um colapso nervoso porque ele não foi suficientemente apreciado. Os agradecimentos não foram bastante profusos, porque ele veio para ser servido, não para servir.
Ele se orgulha de seu firme julgamento e sábio conselho; e ama ser consultado. Se as pessoas se dão bem sem seu conselho, ou se o seu conselho é dado mas ignorado, então sua reputação sofre. Ele veio para ser servido. Ele tinha que falar numa reunião e esperava uma grande audiência, mas não havia uma grande audiência; ou talvez a grande audiência estava lá; mas simplesmente saiu sem dizer qualquer palavra de como a reunião tinha sido um sucesso, ou comentado da mensagem maravilhosa que tinha sido dada. Então o velho “Eu” foi para casa cabisbaixo e triste, julgando-se falho e sentindo-se extremamente deprimido e aborrecido. Ele não veio para servir, mas para ser servido e estava desapontado.
Ele queria entregar-se ao trabalho cristão, tinha esperado ardentemente por isso, mas pelo o que ele iria ganhar disto e não pelo o que ele representaria ao trabalho. Logo ele ficou desapontado e cansado e queria desistir. Por quê? Porque ele não veio para ministrar, mas para ser ministrado; e não recebeu o que esperava.
A Principal Causa do Problema
O problema que você e eu temos em nossas vidas e serviço é devido principalmente ao “Eu”. Naturalmente não pensamos assim! Nós continuamos a fazer exatamente aquilo que começou no Éden, nós tentamos colocar a culpa noutro lugar. Mas nenhum de nós pode jamais ser roubado de qualquer paz, alegria, descanso, poder, ou qualquer outra coisa em nossas vidas, que pertence a nós pelo fato de sermos cristãos, a não ser através do velho “Eu”. Ele fica tão amolado por pequenas coisas. A água é cortada justamente na hora que alguém começa a lavar a louça; a carta não vem no dia exato em que é esperada; ou até mesmo alguém começa a escrever uma carta e acaba a tinta da caneta! Como o velho “Eu” se indigna e se enfurece! Que momentos difíceis! Por quê? Ele está ocupado com ele mesmo, toda a vida gira em torno dele. Ele veio, não para ministrar, mas para ser ministrado. É então de se estranhar que haja algum lugar que Deus possa achar para ele a não ser na Cruz do Calvário?
Agora voltemos ao nosso verso. “Eu fui crucificado com Cristo”. Eu acredito que Paulo estava dando testemunho pessoal. Ele nos deu a doutrina que esta em Romanos 6:6, mas aqui ele dá o seu testemunho pessoal de que isto é um fato e de que isto passou a ser a sua própria realidade de vida. Paulo está dizendo aqui: – Eu, Paulo, fui crucificado com Cristo, e não é mais o velho homem que é o centro da minha vida; Outro veio para tomar seu lugar. Já não sou “Eu”, mas Cristo! – Podemos dizer o mesmo como uma realidade viva?
Mas Quem é o Cristo? Qual é a Sua vida? Uma vida assim humilde, santa, pura, justa, tal vida de amor, – isto é este Cristo, Quem é tudo isso, este Cristo não é outro, Quem vive em você e em mim. Que espécie de vida Ele vive? Exatamente a mesma espécie de vida que Ele viveu aqui na terra. Não é outra vida. Ele vive exatamente a vida que Ele está vivendo agora à mão direita de Deus. E Cristo vive em mim!
Existem certo princípios que governaram a vida de Cristo quando Ele viveu aqui na terra; princípios bem definidos e afirmamos muito claramente na Palavra de Deus, e eu vou mencionar a vocês cinco deles. Eu creio que se deixar Cristo viver completamente em mim, então Ele vai viver de acordo com esses mesmos princípios.
Primeiro – Ele vivia puramente para a glória de Deus. Não havia um simples traço de auto-glorificação no Filho do Homem. Ele disse na Sua oração sacerdotal: “Eu terminei o trabalho que Tu me deste”. Isto nos ensina que mesmo antes do desejo de fazer a obra do Pai, o desejo ardente do Seu coração era glorificar o Seu Pai. Ele tanto glorificou o Pai que pôde dizer a Felipe quando este perguntou se poderia ver o Pai – “Aquele que vê a Mim vê o Pai”. Assim este é o primeiro princípio da vida do Nosso Senhor – Glorificar a Deus, e não auto-glorificação.
Segundo – Ele viveu em completa obediência ao Seu Pai. Não houve nenhum agrado próprio em Sua vida. “Eu sempre faço as coisas que Lhe aprazem”; sempre, e não algumas vezes. Este foi um principio permanente em Sua vida – viver para agradar ao Pai.
Terceiro – Ele viveu em completa obediência ao Seu Pai. Não Havia nenhum traço de vontade própria nEle. Ele continuamente dizia: “não seja feita a Minha vontade, mas a Tua”. Em todas as coisas e em todo momento este também era um princípio permanente na vida do Filho do Homem aqui na terra.
Quarto – Ele vivia em absoluta dependência de Seu Pai. Não havia auto-confiança. Ele disse: “… o Filho nada pode fazer de Si mesmo, senão aquilo que vir o Pai”.
Quinto – Ele viveu somente para Seu Pai. Não havia apenas nenhuma vontade própria, mas também nenhum caminho próprio. Ele disse: “O Pai enviou-Me” e “Eu terminei a obra que o Pai me deu a fazer”.
Ora o Cristo que vive em você e em mim, pretende viver exatamente em acordo com estes cinco princípios, de maneira que em nossas vidas haverá glorificação do Senhor Jesus Cristo, e não auto–glorificação: o nosso viver será somente para agradá-Lo, e não para agrado próprio, mas uma vontade completamente entregue em submissão ao Senhor Jesus Cristo. Nós seremos realmente Seus escravos. Será uma vida vivida sem auto-confiança, nunca fazendo nada de nós mesmos. Acreditando que Ele vive Sua vida em nós, nossa dependência estará totalmente nEle.
Paulo aplicou isso na sua própria vida. O mesmo Cristo deve viver a mesma vida em você e em mim. Isto é tão profundo, e assim mesmo tão simples, justamente uma Pessoa Divina vivendo Sua vida num ser humano. Não é que Cristo vai viver Sua vida em nós com nossa ajuda. Não é que Ele vai nos ajudar a viver a vida cristã. Não é nenhuma dessas duas coisas. É exatamente o que nosso verso diz – Cristo vivendo plenamente Sua vida em nós. Acreditamos nisto? É esta a vida que você e eu temos vivido até o dia de hoje? Temos estado conscientes de que há uma Pessoa Divina dentro de nós, realmente vivendo Sua vida em nós?
Isso não poderia ser afirmado de maneira mais simples. Ainda temos nossa personalidade humana, mas existe outra pessoa vivendo, e vivendo em todas as áreas da nossa vida, não em uma pequena parte, mas em toda parte. O velho “Eu” está crucificado e portanto deve ser despojado como lemos Efésios. O novo “Eu”, o qual é Cristo em nós, a vida sobrenatural de uma Pessoa sobrenatural deve ser vivida plenamente em nós. Isso é verdade pra você e para mim?
Autora: Ruth Paxson Extraído da Revista, À Maturidade, Número 22– Verão de 1992
“Demora e sofrimento são parte certa da bêncão que Deus nos prometeu. Uma demora durante a vida de Abraão, que parecia tornar impossível o cumprimento da promessa de Deus, foi seguida por uma demora aparentemente insuportável aos descendentes dele. Mas foi apenas uma demora: eles saíram com ‘grandes riquezas’. A promessa foi cumprida.”
(C. G. Trumbull)
Não desanime se a promessa do Senhor parece demorada. Ao final deste dia, ela estará um dia mais próxima. Que o Senhor sustente você e o ensine a “tirar forças de tudo o que acontecer hoje”.
“Você pediu para ser semelhante a seu Senhor? Você tem desejado o fruto do Espírito em sua vida, e tem orado pedindo brandura, bondade e amor? Então, não tema o tormentoso temporal que está varrendo sua vida neste momento. Há uma bênção nessa tempestade; e haverá rica frutificação no ‘após’ “.
(Henry Ward Beecher)
Que teu coração encontre descanso e paz no Senhor que caminha tranquilamente sobre as ondas em meio à tempestade.
Não mais o príncipe deste mundo, que escraviza e nos rouba a razão de viver, iludindo-nos com o prazer transitório do pecado. Não mais o pecado, senhor exigente e implacável, que nos obrigava a fazer aquilo de que agora nos envergonhamos. Não mais o mundo, que nos fazia servi-lo sob o látego feroz, tirando-nos a palha todo dia e exigindo cada vez mais de nós.
Há outro rei! Aleluia! Um rei bondoso, que governa com um cetro de justiça sustentado por mãos feridas. Um rei que governa da cruz, coroado de espinhos, vestido de sangue. Um rei que desceu à miséria do povo, gerada pelos outros reis, para dela resgatá-lo e fazê-lo Consigo governar. Um rei que lava pés sujos, que abençoa criancinhas, que toca leprosos, que chama mortos, que resgata pecadores, que é digno de que por Ele se desperdice nardo puro. Um rei que caminha com os Seus, sem se envergonhar de lhes chamar irmãos, e com eles estará até a consumação do século. Um rei que, ao vê-los cometer tantas tolices, ora ao Pai: “Perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem.” Um rei, cuja beleza da santidade constrange nosso coração a amá-Lo por nos ter amado primeiro. Um rei por quem vale a pena viver e morrer.
Oh, que maravilhosa notícia: “Há outro rei, Jesus”!
(Francisco Nunes, 28.10.2005)
Que o Rei conquiste você a deixá-Lo reinar completamente em sua vida.
“Por que alguns crentes são tão ansiosos, tão temerosos? Evidentemente porque não deixaram o seu caminho com o Senhor. Levaram o fardo a Ele, mas o trouxeram de volta consigo.”
(Autor desconhecido)
Leve tudo a Ele e deixe tudo com Ele. As mãos feridas são as mais habilitadas a cuidarem de nós.
Alguém já disse que é mais fácil reconhecer a pornografia do que defini-la. Os dicionários nos dizem que pornografia é o caráter imoral ou obsceno de uma publicação. Material pornográfico é aquele que descreve ou retrata atos ou episódios obscenos ou imorais. Essas definições não ajudam muito pois conceitos como “obscenos” e “imorais” são bastante subjetivos no mundo de hoje. Classificar material pornográfico em “soft” (nudez e sexo implícito) e “hardcore” (sexo explícito contendo cenas de degradação, violência e aberrações) só ajuda didaticamente. Para muitos, Playboy é uma revista pornográfica. Para outros, não. Entretanto, da perspectiva da ética bíblica, definição acima é mais que suficiente.
A popularidade da pornografia
É exatamente pela complexidade do assunto, agravado pela omissão de boa parte das igrejas no Brasil, que muitos evangélicos estão confusos quanto ao mesmo, e não poucos são viciados em alguma forma de pornografia. Aqui estão as minhas razões para essa constatação:
1) A tremenda popularidade da pornografia no mundo de hoje. Uma estatística de 1995 revelou que os americanos gastam mais em pornografia do que em Coca-Cola. Não é difícil de imaginar que a situação no Brasil não seria muito diferente. Até países antigamente fechados, como a China, em 1993 assistiu a uma enxurrada de material pornográfico em seus limites, após ter aberto, mesmo que um pouco, as suas fronteiras para receber ajuda estrangeira. Mensalmente, cerca de 8 milhões de cópias de revistas pornográficas circulam no Brasil. Em 1994 a venda de vídeos pornôs chegou perto de 500 milhões de dólares. Não é de se admirar que as locadoras reservam cada vez mais espaço nas prateleiras para vídeos pornôs. Segundo uma pesquisa, em 1992, 1 a cada 4 brasileiros assistiu a um filme de sexo explícito. O mesmo fizeram 13% das mulheres entrevistadas. Em 1995 esse número dobrou para os homens e aumentou um pouco em relação às mulheres.
2) A imensa facilidade para se conseguir material pornográfico no mundo de hoje. Como na maioria dos demais países “civilizados” (uma conhecida exceção é o Irã) material pornográfico pode ser encontrado e consumido facilmente no Brasil em diversas formas: cinema, canais abertos de televisão, televisão a cabo e no sistema “pay-per-view”, Internet, fitas de vídeo, CD-ROMs com material pornográfico, gravuras, exposições de arte erótica, livros, revistas e vídeogames, entre outros. Parece não haver fim à criatividade do homem em utilizar-se dos avanços tecnológicos para a difusão da pornografia. Como disse o escritor francês Restif de la Bretone no século 18, “La dépravation suit le progrès des lumières” (“A depravação segue o progresso das luzes”).
O que tem de mais em ver pornografia?
Muito embora os evangélicos em geral sejam contra a pornografia (alguns apenas instintivamente) nem todos estão conscientes do perigo que ela representa. Menciono alguns deles em seguida:
1) Consumir deliberadamente material pornográfico é violar todos os princípios bíblicos estabelecidos por Deus para proteger a família, a pureza e os valores morais. A própria palavra “pornografia” nos aponta esse realidade. Ela vem da palavra grega pornéia, que juntamente com mais outras 3 palavras (pornos, pornê e pornéuo) são usadas no Novo Testamento para a prática de relações sexuais ilícitas, imoralidade ou impureza sexual em geral. Freqüentemente essas palavras de raiz porn- aparecem em contextos ou associadas com outras palavras que especificam mais exatamente o tipo de impureza a que se referem: adultério, incesto, prostituição, fornicação, homossexualismo e lesbianismo. O Novo Testamento claramente condena a pornéia: ela é fruto da carne, procede do coração corrupto do homem, é uma ameaça à pureza sexual e devemos fugir dela, pois os que a praticam não herdarão o reino de Deus. A pornografia explora exatamente essas coisas – adultério, prostituição, homossexualismo, sadomasoquismo, masturbação, sexo oral, penetrações com objetos e – pior de tudo – pornografia infantil, envolvendo crianças de até 4 anos de idade.
2) Consumir deliberadamente material pornográfico é contribuir para uma das indústrias mais florescentes do mundo e que, não poucas vezes, é controlada pelo crime organizado. Segundo um relatório oficial em 1986, a indústria pornográfica nos Estados Unidos é a terceira maior fonte de renda para o crime organizado, depois do jogo e das drogas, movimentando de 8 a 10 bilhões de dólares por ano. Acredito que o quadro é ainda pior hoje. A indústria da pornografia apoia e promove a indústria da prostituição e da exploração infantil. O dinheiro que pais de família gastam com pornografia deveria ir para o sustento de sua família. Alguns podem alegar que consomem apenas material soft contendo somente cenas de nudez – esquecendo que esse material é produzido pela mesma indústria ilegal que produz e distribui a pornografia infantil.
Pornografia e a escalada da violência
Não são poucos os relatórios feitos por comissões de pesquisadores que denunciam a estreita relação entre a pornografia e a crescente onda de estupros, assédio sexual e exploração infantil nos países “civilizados”. Vários dos temas mais comuns em pornografia do tipo hardcore incluem cenas de seqüestro e estupro de mulheres, geralmente com espancamento e tortura, além de outras formas obscenas de degradação. A mensagem que a pornografia passa aos consumidores é que quando a mulher diz “não” na verdade está dizendo “sim”, e que se o estuprador insistir, ela não somente aceitará como também passará a gostar. Assim, a violência contra a mulher é exposta como algo válido e normal. A mulher é vista como objeto sexual a ser usado ao bel-prazer dos homens.
Uma outra forma de hardcore é a pornografia infantil. Esse material exibe cenas de sexo envolvendo crianças e adolescentes. Em alguns casos, crianças aparecem assistindo a cenas de sexo oral por adultos, Noutras, são violentadas e estupradas por adultos. Noutras, fazem sexo entre si. Esse material ilegal, mórbido, desumano e obsceno está disponível pela Internet até mesmo em servidores estacionados em universidades federais, conforme denúncias de jornais em dias recentes. Grandes provedores têm seções onde usuários podem bater papo sobre sexo e trocar imagens de sexo explícito com crianças, algumas delas tão degradantes, segundo uma denúncia feito pelo Instituto Gutemberg em Julho de 1997, que faz da revista “Penetrações Profundas” uma publicação para freiras.
Associado com a pornografia hardcore está o surto de violência sexual contra as mulheres e crianças nas sociedades modernas onde esse material pode ser obtido facilmente. Estudos por especialistas americanos mostram que existe uma estreita relação entre pornografia e a prática de crimes sexuais. Eles afirmam que 82% dos encarcerados por crimes sexuais contra crianças e adolescentes admitiram que eram consumidores regulares de material pornográfico. O relatório oficial do chefe de polícia americano em 1991 diz: “Claramente a pornografia, quer com adultos ou crianças, é uma ferramenta insidiosa nas mãos dos pedofílicos [viciados em sexo com crianças]”. A pornografia está estreitamente associada ao crescente número de estupros nos países civilizados. Só nos Estados Unidos, o número conhecido pela polícia cresceu 500% em menos de 30 anos, que corresponde ao aumento da popularidade e facilidade em se encontrar material pornográfico. Cerca de 86% dos condenados por estupro admitiram imitação direta das cenas pornográficas que assistiam regularmente.
Crentes “voyeurs”?
Há boas razões para acreditarmos que o número de evangélicos no Brasil que são viciados em pornografia é preocupante. Pesquisadores estimam que nos Estados Unidos cerca de 10% dos evangélicos estão afetados. Considerando que no Brasil a facilidade de se obter material pornográfico é a mesma – ou até maior – que nos Estados Unidos, considerando que a igreja evangélica brasileira não tem a mesma formação protestante histórica da sua irmã americana, considerando a falta de posição aberta e ativa das igrejas evangélicas brasileiras contra a pornografia, como acontece nos Estados Unidos, não é exagerado dizer que provavelmente mais que 10% dos evangélicos no Brasil são consumidores de pornografia. Talvez esse número seja ainda conservador diante do fato conhecido que os evangélicos no Brasil assistem mais horas de televisão por dia que muitos países de primeiro mundo, enchendo suas mentes com programas que promovem a violência e o erotismo, e assim abrindo brechas por onde a pornografia penetre e se enraize.
Mais preocupante ainda é a probabilidade de que grande parte desse percentual é de jovens evangélicos adolescentes. Uma pesquisa feita por Josh McDowell em 22 mil igrejas americanas revelou que 10% dos adolescentes havia aprendido o que sabiam sobre sexo em revistas pornográficas. 42% deles disse que nunca aprendeu qualquer coisa sobre o assunto da parte de seus pais. E outros 10% confessaram ter assistido a um filme de sexo explícito nos últimos 6 meses. Uma extrapolação, ainda que conservadora, para a realidade das igrejas brasileiras é de deixar pastores e pais em estado de alarma.
O escândalo envolvendo o pastor Jimmy Swaggart em 1988 revelou abertamente uma outra face do problema, que há pastores evangélicos que também são viciados em pornografia. Uma pesquisa feita em 1994 entre pastores evangélicos americanos revelou uma relação estreita entre o consumo de pornografia e a infidelidade conjugal. Por causa do receio de serem apanhados e de estragarem seus ministérios, muitos pastores optam por consumir pornografia como voyeurs a praticar o adultério de fato, embora alguns acabem eventualmente caindo na infidelidade prática. Quando eu me preparava para escrever esse ensaio, li diversos artigos sobre pornografia publicados em revistas americanas e européias de aconselhamento pastoral. Muitos deles são abertamente dirigidos para ajudar pastores viciados em pornografia.
Falta de decência
Infelizmente parece que estamos nos acostumando à falta de decência. Tornamo-nos como os pagãos. Temos a mesma atitude que eles têm para com a nudez e a exposição dos órgãos sexuais. A arqueologia revelou que em muitas das paredes dos templos pagãos cananitas, que foram destruídos pelos israelitas quando conquistaram a terra (Lv 26.1; Nm 33.52), havia desenhos de órgãos sexuais masculinos e femininos. Essas são as formas mais antigas de pornografia que conhecemos. Os cananitas aparentemente representavam os órgãos genitais nas paredes para excitar os adoradores e estimulá-los à prática da prostituição sagrada. Os israelitas, em contraste, tinham uma atitude totalmente diferente quanto à exposição dos órgãos sexuais. Em suas Escrituras Sagradas estava escrito que Deus cuidou em cobrir a nudez do primeiro casal após a queda (Gn 2:25; 3:7-10). Havia uma preocupação em que as vestimentas cobrissem os órgãos genitais, ao ponto de que havia uma determinação na lei de Moisés de que o sacerdote deveria ter cuidado para não subir as escadas do altar de forma a deixar que seus órgãos genitais ficassem expostos (Dt 20:26). Cão, o filho de Noé, foi condenado por ter visto a nudez de seu pai. A própria Bíblia se refere à genitália de forma reservada, usando às vezes eufemismos como “nudez” (Lv 18), “pele nua” (Ex 28.42), “membro viril” (Dt 23.1), “entre os pés” (Dt 28.57) e “parte indecorosa” (1 Co 12.23), só para citar alguns exemplos.
Podemos fazer alguma coisa, sim!
Acredito que os pastores e as igrejas evangélicas no Brasil podem fazer algumas coisas: ler os estudos e relatórios sobre os efeitos da pornografia feitos por comissões especializadas; pregar sobre o assunto e especialmente dar estudos para grupos de homens; desenvolver uma estratégia pastoral para ajudar os membros das igrejas que são adictos à pornografia; não esquecer que muitos pastores podem precisar de ajuda eles mesmos; criar comissões que se mobilizem ativamente contra a pornografia, utilizando-se dos dispositivos legais que o permitam (uma possibilidade é encorajar os políticos evangélicos a tomar posições bem definidas contra a pornografia); desenvolver uma abordagem que trate da sexualidade de forma bíblica, positiva e criativa; tratar desses temas desde cedo com os adolescentes da Igreja expondo o ensino bíblico de forma positiva; orar especificamente pelo problema.
Não estou pregando uma cruzada de moralização, embora evidentemente a igreja evangélica brasileira poderia tirar bastante proveito de uma. A pornografia é um mal de graves conseqüências espirituais e sociais embora não acredite que devamos fazer dela o inimigo público número 1, como algumas organizações moralistas e fundamentalistas dos Estados Unidos. Afinal das contas, a raiz desse problema – e de outros – é o coração depravado e corrompido do homem, que só pode ser mudado pelo Evangelho de Cristo. Hitler conseguiu em 4 anos banir da Alemanha todas as formas de pornografia e perversão e incutir na geração jovem de sua época a aspiração por altos valores morais e pela pureza da raça ariana. Os motivos eram errados e o projeto de Hitler acabou no desastre que conhecemos. Não acabaremos com a depravação moral somente com leis e discursos políticos. Jack Eckerd, um empresário milionário dono de um negócio que rendia mais de 2,5 milhões de dólares por ano, ao se converter a Cristo em 1986, determinou que todas as publicações pornográficas vendidas em suas 1.700 lojas fossem retiradas, mesmo que isso significasse a perda de alguns milhões de dólares anuais. Quando o coração é mudado as mudanças morais seguem atreladas.
Temos aqui algum perigo de cairmos num cristianismo efeminado e fraco (soft), sob o apelo de uma teologia etérea (irreal) e arrogante. O cristianismo nasceu para ser resistente; não uma planta exótica, mas, sim, uma planta forte,imune ao frio, rodeada por um vento cortante; não lânguida (frouxa), nem infantil nem covarde.
Anda com passo forte e postura ereta; é bondoso, mas firme; suave, mas correto; calmo, mas não superficial; prestativo mas não imbecil; decidido, mas não grosseiro. Não teme falar a palavra severa de condenação contra o erro, nem levantar a voz contra os males ao redor, sob o pretexto de que não é deste mundo; não evita dar uma reprovação honesta só para que não venha a ser responsabilizado por ter exibido um sentimento anticristão.
Chama pecado de pecado, onde quer que ele se encontre, e antes arriscaria a acusação de atuar com um sentimento mau que não cumprir um dever explícito.
Propomo-nos a não condenar palavras fortes usadas em discussões honestas. No calor (da discussão) pode estar escondida uma víbora que salta diante de nós, mas nós a sacudimos e ela não nos causará nenhum mal.
A religião de ambos os Testamentos, tanto do Antigo quanto do Novo, é marcada por testemunhos francos e fervorosos contra o mal.
Falar palavras amaciadas em tal caso será sentimentalismo, mas não é cristianismo. Seria traição da causa de verdade e da retidão. Se qualquer um deve ser franco, valoroso, honesto, alegre (eu não digo obtuso nem rude, pois um cristão deve ser cortês e gentil); o cristão é aquele que provou que o Senhor é gracioso, e ele aguarda e apressa a a vinda do dia de Deus.
Sei que esse cobrirá de amor uma multidão de pecados; mas não chama o mal de bem só porque foi um homem bom que fez este mal; não desculpa inconsistências só porque o irmão inconsistente tem um nome honrado e um espírito fervoroso; desonestidade e mundanismo continuam sendo desonestidade e mundanismo, embora exibido em um que parece ter alcançado uma posição elevada e realizações fora do comum.
Novos privilégios sempre trazem novas responsabilidades e resulta que estas responsabilidades criam novos riscos. Se esta era é a mais favorecida da história dos homens, ela tem, portanto, que enfrentar o maior e mais sério risco. Estes riscos são os de resistir, entristecer e extinguir o Espírito. Estes termos não se referem ao mesmo risco. Existem os que não resistem ao Espírito que ainda assim O entristecem; existem também aqueles que não resistem e não O entristecem no sentido em que o apóstolo usou a palavra, no entanto estão em perigo perpetuo de O extinguir. O perigo de resistir ao Espírito é daqueles que não nasceram de novo; o perigo de entristecer o Espírito é daqueles que nasceram do Espírito e são habitados por Ele; o perigo de extinguir o Espírito é daqueles sobre os quais Ele depositou algum dom para o serviço.
Em João 3:7 Jesus disse a Nicodemos: “É preciso nascer de novo”. Isto se refere ao primeiro ato do Espírito em uma pessoa. Para a mulher Samaritana Ele disse em João 4:14: “Aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna”. Isto se refere ao segundo aspecto da obra do Espírito no crente, como um perene e perpétuo jorrar. Para a multidão que estava na festa Ele disse em João 7:38: “Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva”, referindo-se à obra do Espírito, em seu fluir através do crente a fim de renovar outras vidas.
Os três aspectos da obra do Espírito – regeneração, habitação e provisão – revelam os riscos destes tempos.
Em relação à regeneração o perigo é definido pela palavra resistir. Em relação à habitação o perigo é definido pela palavra entristecer. Em relação à provisão para a obra o perigo é definido pela palavra extinguir.
A primeira destas palavras ocorre na defesa de Estevão. Depois de ter enumerado os atos de rebelião que tinham caracterizado a história do povo, ele exclamou em Atos 7:51: “Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito”. Resistir ao Espírito Santo consiste em uma hostilidade determinada a Seus propósitos e obra. Naquele momento nem sempre era evidentemente intencional; o pecado está no fato de que eles não perceberam a oportunidade quando ela veio.
Quando seus irmãos venderam José, eles não entenderam que estavam vendendo o seu libertador para a escravidão. Foi um pecado de cegueira. Quando o povo falhou em entender Moisés, o rejeitaram e murmuraram contra ele, eles não compreenderam toda a missão divina para a qual ele foi levantado. Eles foram hostis à obra do Espírito Santo de Deus e sua hostilidade foi o resultado da cegueira. Resistir ao Espírito Santo, no entanto, não é necessariamente intencional; pode ser o resultado da cegueira; mas quando Deus trata com as pessoas Ele leva em conta a causa da cegueira, e onde esta causa é criada por eles mesmos. Ele os responsabiliza. O ciúme e o ódio de sua legítima posição cegaram os irmãos de José; e o mesmo espírito de malícia estava na raiz da oposição a Moisés. Eles estavam cegos, e por causa da cegueira cresceu a hostilidade.
Os crentes precisam continuamente examinar a si mesmos se estão na fé. Existem muitos que negariam veementemente a acusação de serem hostis aos propósitos divinos, cujas vidas estão fora de toda a harmonia com os movimentos do Espírito. Aquele que veio para estabelecer o reino de Deus no coração do povo, Aquele que veio para trazer para a vida humana justiça e amor como forças que transformam e transfiguram, ainda não está apto para concluir tais propósitos neles, porque o Espírito Santo está sendo resistido. Aos Corintios (II Co 13:5) o apóstolo escreveu: “Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé”. É um alerta solene, que ocorre depois da expressão de um temor de sua parte (II Co 12:20): “Porque temo que, quando chegar,… haja contendas, invejas, iras,…, tumultos”. Todo tipo de impureza pode ser resumido em um pensamento de falta de amor. Dentre as coisas que o apóstolo estava temendo, não havia nenhuma que fosse obra de notória impureza. Era o espírito de facção, sismo e divisão que ele temia; e seu temor provocou sua advertência. “Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé”. Esta foi a palavra dita, não para o mundo lá fora, mas para os que professam ser Cristãos. A questão, tanto para as pessoas que resistem ao Espírito, quanto para as que são uma parte da força no mundo que é hostil ao Espírito, está estabelecida, não pelo julgamento que os vizinhos fazem, mas pelo julgamento claro como a luz e penetrante como o fogo, quando no lugar da intimidade com Deus a oração é sinceramente oferecida: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos, vê se há em mim algum caminho perverso, e guia-me pelo caminho eterno”. (Sl 139:23-24).
O segundo perigo é o de entristecer o Espírito Santo. Não há palavra no Novo Testamento que mais clara e graciosamente revele a ternura do coração de Deus. A palavra ‘entristecer’ significa literalmente ‘causar mágoa’ e é revela um caso extraordinário da forma na qual Deus graciosamente usa o ser humano para a ilustração de Sua própria atividade de afeição e pensamento. Há um entendimento de que é difícil pensar que Deus se entristece, e ainda se curva para esta grande palavra, a fim de ensinar que é possível aos Seus filhos, habitados pelo Espírito, causarem tristeza ao Seu coração. Não deixe ninguém minimizar o valor desta palavra. Não aflija, não cause tristeza, não magoe o coração de Deus.
As palavras ocorrem em meio ao mais magnífico argumento a respeito da sublime chamada de Deus para o Seu povo, e está conectada com a declaração (Ef 1:13-14), “No qual também vós, tendo ouvido a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, e tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa, o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus, para o louvor da sua glória”. O Espírito Santo sela para o dia da redenção. Quando Ele faz morada no coração da alma confiante, não é somente para a benção presente, mas é também para a consumação. Quando o Espírito Santo toma posse de uma alma e concede vida, aquela vida é a profecia e a promessa para uma eventualidade. Para aqueles que são filhos de Deus o completo significado do fato ainda não existe (I Jo 3:2), “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é, o veremos”.
Ninguém pode imaginar qual será a glória da Sua vinda, nem mesmo pode saber qual será a glória dos filhos de Deus quando a obra de Deus estiver acabada em suas vidas. O Espírito Santo no interior sela até aquele glorioso fim. A selagem não consiste em simplesmente colocar uma marca de possessão sobre uma propriedade, mas no trabalhar na vida de toda a beleza e graça do Próprio Cristo. Como quando nosso abençoado Senhor foi transfigurado na montanha, não foi a transfiguração de uma glória que veio sobre Ele, mas a da glória que já era residente em Seu interior, brilhando através do véu da Sua carne. Deste modo, quando o Espírito sela, Ele assim faz pelo dom da vida, que é capaz de transformar o caráter.
É deste segundo aspecto da obra do Espírito que surge o segundo risco. Sempre que Ele é impedido, sempre que Ele é desobedecido, sempre que Ele dá alguma nova revelação de Cristo que não traz resposta, Ele é entristecido. O coração de Deus está triste quando, pela desobediência de Seus filhos, Seu propósito de graça neles é obstruído. Que tristeza! Quão freqüentemente o Espírito Santo tem sido entristecido; quão freqüentemente Ele traz alguma visão do Mestre que exige devoção, reivindicando uma nova consagração; e porque o caminho da devoção e da consagração é sempre o caminho do altar e da cruz, os filhos do Seu amor retrocedem. O Espírito tem sido entristecido porque, impedido em Seus propósitos, o dia do aperfeiçoamento dos Seus santos tem sido postergado e a vinda do Reino de Deus tem sido atrasada. É um pensamento muito terrível o de que o entristecimento do Espírito dentro da Igreja posterga a vinda do Reino de Deus ao mundo. Na medida em que os homens são obedientes ao Espírito interior e permitem a Ele ter Seu caminho em todas as áreas da vida, nessa proporção estão apressando a vinda do dia de Deus, trazendo o Reino de Paz.
O terceiro e último perigo é o descrito pelas palavras (I Ts 5:19), “Não extingais o Espírito”. A palavra extinguir não se refere à morada interior do Espírito para vida e desenvolvimento no crente. Ela se refere inteiramente à Sua presença como um poder em serviço. A palavra em si é sugestiva. Resistir pressupõe a vinda do Espírito Santo para atacar a fortaleza da alma. Entristecer pressupõe a residência do Espírito como o Consolador interior. A palavra extinguir pressupõe a presença do Espírito como um fogo. Esta sugestão do fogo traz de volta as palavras (At 2:3), “E lhes apareceram umas línguas como que de fogo, que se distribuíam, e sobre cada um deles pousou uma”. Fogo era o símbolo de poder para adorar, orar e profetizar. No argumento do apóstolo as duas coisas estão ligadas (I Ts 5:19-20). “Não extingais o Espírito; não desprezeis as profecias”. Aqui está o terceiro perigo. O Espírito, que veio sobre o crente para adorar, orar e profetizar, pode ser extinto. É possível que o dom do Espírito Santo, concedido para o serviço, possa ser perdido. É possível que aqueles sobre os quais tenha caído, desapercebida pelos olhos mortais, a Língua de Fogo, aqueles que têm sido chamados por Deus para o lugar do verdadeiro serviço na Igreja, possam extinguir o Espírito e assim perderem o seu poder de testemunho.
Há muita extinção do Espírito Santo pelo serviço que não espera, mas se apressa, e pela queima de fogo estranho sobre os altares de Deus. A tentativa de conduzir a obra do Reino de Deus por meios mundanos, a permanente profanação das coisas santas pela aliança com coisas que são impuras, a pressão do espírito de cobiça (mamom) no serviço de Deus, têm causado a extinção do Espírito. Porque Deus jamais permitirá que o Fogo do Espírito Santo seja misturado com fogos estranhos sobre Seus altares. O que é verdade para as Igrejas é verdade para o indivíduo. Deus tem equipado o Seu povo para o serviço com dons espirituais. Para cada um algum Fogo do dom de pregar ou de influir tem sido dado; mas tem sido perdido quando cessado de ser usado na lealdade para com Cristo. Muitos perdem seu dom de poder para o serviço e se tornam estéreis de resultados no trabalho para Deus porque prostituem um dom celestial para um serviço sórdido e egoísta, para a glorificação de suas próprias vidas, ao invés de exercitarem o dom somente para a sua verdadeira finalidade.
Os crentes constantemente extinguem o Espírito por tentarem trabalhar em sua própria força, esperando que Deus intervenha e complemente suas deficiências. Deus não virá e ajudará homens a fazerem suas próprias obras. Ele pede que eles se doem a si mesmos a Ele para fazer a Sua obra. Este não é um jogo inútil de palavras, a diferença é radical. Se os homens fazem os seus planos de serviço e então pedem a Deus para ajuda-los, eles podem, pela própria afirmação do ego, extinguir o Espírito. Se, por outro lado, esperam a visão e a voz Divina, eo caminho divinamente apontado, se esperam até que ouçam Deus dizendo, ‘Estou indo para lá, precisaria que você fosse comigo’, então o Espírito Santo pode exercitar Seu dom em suas vidas. O Espírito é extinto pela deslealdade a Cristo, ou quando Seu dom é usado em algum outro propósito além daquele n o qual o coração de Deus está posto.
Não resista, não entristeça, não extinga o Espírito!
De O Espírito de Deus (The Spirit of God). (www.editorarestauracao.com.br)
Eu cunhei essa frase, esse jogo de palavras, dia 9 de maio de 2005, em uma lista de que participo após ler o artigo do Márcio Redondo “Apostolado ou Apostolice”. (Posteriormente, criei a expressão Não Sigo Apóstolo(bo)s.) Depois, vou comentar mais sobre o chamado movimento apostólico. Penso que o Márcio já apresentou as linhas gerais do assunto. Quero comentá-lo de um ponto de vista mais prático, daquilo que as pessoas que seguem após tolos têm sido induzidas a fazer e como entendo o apostolado nesses tempo finais.
Isso é só o início. Só quis mesmo registrar a parternidade da frase, que já está sendo usada por aí .
O assunto é sério e exige nossa reflexão.
Ao considerar o processo de degradação da Igreja, percebe-se que ele seguiu determinadas etapas ou processos. Primeiramente, Cristo foi sendo eclipsado, deixado de lado. Sua queixa à igreja em Éfeso, de que ela abandonara seu primeiro amor, é representativo do início desse processo. O amor de muitos esfriou e pouca fé era encontrada na terra.
Após o Senhor ser deixado de lado, foi a vez de Sua Palavra. Um fato está inteiramente ligado ao outro. Uma vez que a centralidade de Cristo é ignorada, Sua Palavra, que é fonte última de autoridade, fé e prática na Igreja, vai sendo substituída pela tradição humana, pela hierarquia religiosa, pelo legalismo. E assim foi. As obras do nicolaítas dão lugar a sua doutrina, a um corpo de ensinamentos que defendem sua autoridade e maneira de conduzir o povo de Deus.
Como resultado desses dois fatos anteriores, o terceiro não podia ser outro: a perda da realidade e prática da Igreja. Uma vez que o Cabeça da Igreja é ignorado e Sua Palavra é substituída por opiniões e invenções humanas, é evidente que Sua Igreja também viria a ser danificada. Já que os homens não mais se importam com o Senhor da Igreja nem com aquilo que Sua Palavra diz sobre ela, eles começaram a criar as hierarquias, os nomes especiais, as exigências denominacionais, a construir templos e ministérios para si mesmos, dando lugar ao trono de Satanás e despojando o Senhor.
O que chamado movimento apostólico pretende? Ele quer começar as coisas pelo fim. Sua proposta é impor os chamados apóstolos (e toda a tralha de títulos e posições que inventou) a uma Igreja dividida, fragmentada, exclusivista ou, por outro lado igualmente perigoso e não aprovado biblicamente, ecumênica. O chamado movimento apostólico admite pequenos impérios: cada um que deseja ser apóstolo ou qualquer outro título pomposo cria seu ministério ou sua “igreja”, coloca sobre ela seu nome ou algum que revele sua modéstia (o termo “internacional” está cada vez mais presente; em breve teremos grupos “galácticos” ou “intergalácticos”, já que certa “empresa” usa o adjetivo “universal”) e pronto! Mais um passo dado para a restauração do apostolado! Quanta tolice!
Não pode haver genuíno resgate (prefiro esse termo a restauração; conferir Resgate ou Restauração, de Dana Congdon, Edições Tesouro Aberto) de qualquer verdade sem haver o resgate das verdades que lhe são anteriores e lhe servem de base. Se há que haver o tal ministério apostólico, antes é preciso haver a “redescoberta” do lugar de Cristo e da absoluta submissão a Ele. Em conseqüência, Sua Palavra, não as sandices e férteis imaginações dos líderes atuais, será de novo a autoridade absoluta e suprema para julgar todos os ensinamentos e práticas. Por respeito à Palavra, e sujeitos a ela, então, os cristãos voltarão a viver a Igreja, não mais sob os nomes especiais e as muitas divisões, mas apenas em nome de Cristo. E é nesse ambiente normal, bíblico, correto, baseado na Palavra e dominado por ela, é que surgirão homens exercendo as funções (não posições nem títulos) dadas por Deus para servir Seu povo.
Em nossa consideração destas doutrinas bíblicas, chegamos agora a uma nova seção da doutrina particular com que estivemos tratando, ou seja, a doutrina sobre Deus. Vocês se lembrarão de que temos considerado o que a Bíblia nos diz sobre o ser, a natureza e o caráter de Deus, como aprouve a Ele nos revelar essas particularidades nas Escrituras. Consideramos, igualmente, os nomes que Deus aplicou a Si próprio como uma parte desta revelação de Seu ser essencial, bem como Sua relação com a criação. E isso, por sua vez, nos trouxe à consideração da grande, poderosa e inescrutável doutrina da bem-aventurada santíssima Trindade.
Agora, considerando ainda a doutrina sobre Deus, chegamos à próxima seção, que é obviamente a seguinte: as obras de Deus; a atividade de Deus; o que Deus fez. Esta é uma espécie de subseção ou ramo da doutrina geral concernente a Deus. E a pergunta é: o que vem a seguir? Que é que vamos considerar? Estamos para considerar as obras de Deus; portanto, se lhes fosse formulada a seguinte pergunta: “O que vocês pensam vir a seguir na seqüência bíblica e na ordem lógica?” Sinto-me curioso em saber a resposta que vocês dariam. Posso estar equivocado, mas acredito que, se eu fosse fazer a pergunta, muitos provavelmente diriam que obviamente nos dirigiremos imediatamente à doutrina da Criação.
Ora, é evidente que há um sentido em que essa seria a resposta correta, mas, francamente, a minha impressão é que não é, embora descobrirão, se examinarem certos livros que tratam destes assuntos, que é precisamente isso o que eles fazem. Vocês poderiam citar um bom número de autoridades que vão diretamente da doutrina da natureza e caráter de Deus à questão da Criação. Mas tal procedimento parece-me completamente errôneo. E antibíblico, e portanto não é a coisa certa e própria a fazer.
Antes de abordarmos a doutrina sobre a Criação, há algo que devemos considerar primeiro, e procedemos assim porque a Bíblia nos fala sobre ele, ou seja, a Bíblia, antes mesmo de dizer-nos o que Deus fez, nos conduz ao caráter de todas as atividades de Deus. Há muito na Bíblia, como pretendo mostrar-lhes, sobre o modo como Deus faz as coisas, e é importante que consideremos isso antes de considerarmos exatamente o que Deus fez.
Há seguramente grandes princípios que sublinham e caracterizam todas as obras de Deus. Noutras palavras, antes de Deus criar o mundo e o homem, Ele ponderou, Ele intentou e determinou certas coisas. Daí, esta abordagem deve entrar neste ponto. Certas coisas foram decididas na mente e no conselho eterno de Deus, antes que Ele fizesse qualquer coisa no âmbito da Criação, e a impressão que tenho, portanto, é que esta é a seqüência obviamente cronológica (se podemos usar tal termo), certamente a seqüência obvia e lógica que deve ser seguida.
Ora, a descrição que é apresentada na Bíblia referente ao modo ou ao método de Deus operar consiste no que comumente se chama a doutrina dos decretos eternos de Deus. Essas são coisas que Deus determinou e ordenou antes que tivesse feito qualquer coisa. Ora, quero admitir muito francamente que estou chamando sua atenção outra vez para um tema extremamente difícil. Não peço desculpas por isso porque, como lhes mostrarei, esta não é uma questão de escolha. A obrigação de alguém, ao expor a Bíblia, é a de expor toda a Bíblia. Todavia admito que este é um tema muito difícil, e creio que é por isso que muitos dos livros não o incluem. Mas ele é tão escriturístico, que precisa ser encarado. É como a doutrina sobre a santíssima Trindade – em certo sentido, se acha além de nossas mentes. Entretanto, segundo vimos acerca dessa doutrina, não devemos evitá-la só pelo fato de ser difícil.
Para o encorajamento de vocês, contudo, creio poder prometer-lhes que algumas destas doutrinas primárias e preliminares são mais difíceis em razão de estarmos tratando com a mente do Eterno, e de estarmos, portanto, considerando algo que se acha além do nosso finito entendimento e da apreensão de nossos débeis e ínfimos intelectos. De certo ponto de vista, as doutrinas do homem, da criação e da salvação são, necessariamente, muito mais fáceis.
“Mas”, alguém poderá dizer, “em vista da dificuldade e inescrutabilidade dela, por que é preciso considerá-la? Por que não entramos diretamente nas doutrinas da Criação, do homem e da Queda? É nisso que estamos realmente interessados; é isso que queremos saber.” Muito bem, é preciso que apresentemos algumas respostas a uma objeção como essa. Minha primeira razão para chamar sua atenção para esta doutrina, como já me expressei, é que ela se acha revelada na Bíblia; e diante desse fato, ela exige obviamente a nossa consideração e estudo.
Posso colocá-lo assim: não seria bastante surpreendente observar e considerar quão inclinados somos nós a ler apenas certas porções da Bíblia? Gostaria de saber se vocês lêem o nono capítulo da Epístola aos Romanos com tanta freqüência como lêem o oitavo. Se porventura vocês são daqueles que lêem a Bíblia a esmo, então não o fazem. Ora, não temos o direito de escolher e selecionar somente o que queremos da Bíblia. Já concordamos que ela é a Palavra inspirada de Deus. Se creio nisso acerca da Bíblia, do começo ao fim, então devo levar em conta toda a minha Bíblia. O fato de haver porções que me deixam perplexo, não é motivo para afastar-me delas. Devo lê-la inteiramente, apegar-me a ela toda; devo tentar compreendê-la totalmente. E desde que esta eminente doutrina dos decretos de Deus está na Bíblia, então é minha obrigação estudá-la.
Eis outra razão – e creio que vocês concordarão comigo quando tivermos concluído: ela nos revelará inusitados aspectos da glória do próprio Deus. Ela nos oferecerá, por assim dizer, uma maior e mais excelente concepção de Deus, o que, por sua vez, promoverá nossa adoração a Deus. jamais me canso de dizer que a real dificuldade da evangelização moderna é que não empregamos tempo suficiente com a doutrina a respeito de Deus.
Sentimo-nos tão interessados numa experiência subjetiva, e numa salvação subjetiva, que nos esquecemos desta doutrina do próprio Deus; e tal fato é responsável por muitos de nossos conflitos e problemas. Quanto mais conhecermos sobre Deus e Sua infinitude, tanto mais O adoraremos.
Outra razão, portanto, para considerarmos esta doutrina está no fato de que ela nos poupará de muitos erros. A maioria dos erros em que homens e mulheres têm caído ao longo dos séculos, e em muitas outras questões que se tem suscitado, tem sido em razão do fato de nunca terem chegado a compreender, como deviam compreender, o ensino da Bíblia no tocante aos decretos eternos de Deus.
E minha última razão para chamar sua atenção para ela é que, quanto a mim, não conheço nada que me transmite maior consolação do que esta doutrina particular. Não hesito em dizer que nada me transmite conforto mais Profundo do que saber que por trás de mim, ínfima criatura que sou, transitando por este mundo momentâneo, existe esta doutrina dos decretos eternos do próprio Deus.
Muito bem, se essa é a razão por que a estamos considerando, então deixem-me dizer apenas uma palavra sobre como a consideraremos, e como tal coisa é tão importante. A primeira coisa que temos a fazer, quando estamos considerando esta doutrina, consiste em livrar-nos de nossos preconceitos e de todo e qualquer gênero de espírito partidário. Pelo termo “espírito partidário” quero dizer que todos nós somos inclinados a assumir certas posições e, inconscientemente, estamos às vezes muito mais preocupados em defender o que pensamos ser aquilo em que temos sempre crido, do que em descobrir a verdade.
A outra forma negativa é que não devemos aproximar-nos deste tema filosoficamente. Sei que continuo falando sobre isso! A filosofia é uma grande maldição na esfera da fé cristã porque, por implicação, a filosofia é sempre algo que se inclina a entender todas as coisas como um todo. Esse é o intento da filosofia -avaliar tudo com a mente humana. Mas estamos agora tratando de algo para o qual a mente é completamente inadequada.
Portanto, devemos compreender que, quando nos aproximamos deste tema, há aspectos dele que, por implicação, não conseguiremos entender.
E então, positivamente, devemos aproximar-nos deste tema com humildade; devemos aproximar-nos dele com reverência; devemos aproximar-nos dele pela fé e com uma pronta admissão de nossas próprias limitações. Devemos aproximar-nos dele com uma mente aberta, buscando e inquirindo pelo ensino das Escrituras. Devemos achegar-nos num espírito infantil, prontos a receber o que nos é revelado, e prontos, devo acrescentar, a não fazer perguntas que vão
além da revelação das Escrituras.
Aliás, estou cada vez mais convencido de que fé é a disposição de alguém submeter-se aos limites bíblicos. É a disposição de não fazer perguntas sobre coisas que não se acham reveladas nas Escrituras. Fé consiste em dizer: “Muito bem, levarei em conta tudo quanto é registrado na Bíblia, e não quero saber de nada mais além disso. Estou satisfeito com a revelação.” Devemos aproximar-nos desta grande doutrina dessa forma.
Acima de tudo, é preciso que compreendamos que há certas coisas que, com nossas mentes finitas, não seremos capazes de conciliar umas com as outras. Ora, estou tentando evitar o uso de termos técnicos o quanto posso, todavia aqui devo introduzir a palavra antinomia – não antimônio. O que é uma antinomia? E aquela posição em que nos são dadas duas verdades, as quais, por nós mesmos, não podemos conciliar. Há certas antinomias finais na Bíblia, e, como pessoas de fé, devemos estar dispostos a aceitar tal fato. Quando alguém diz: “Oh, mas você não pode conciliar esses dois”, você deve prontamente dizer: “É verdade, não posso. Não presumo ser capaz de fazê-lo. Eu não sei. Só creio no que me é dito nas Escrituras.”
Pois bem, aproximamo-nos desta grande doutrina assim: à luz das coisas que já consideramos sobre o ser, a natureza e o caráter de Deus, esta doutrina dos decretos eternos deve ser deduzida como uma necessidade suprema e absoluta. Devido Deus ser quem é e o que Ele é, Ele tem de operar da maneira como Ele opera, Como temos visto, todas as doutrinas na Bíblia são consistentes umas com as outras, e quando estamos considerando alguma doutrina específica, devemos lembrar que ela deve ser sempre consistente com todas as demais. Portanto, quando decidimos estudar o que a Bíblia nos afirma sobre o modo como Deus age, devemos tomar cuidado para não dizermos algo que contradiga o que já afirmamos sobre Sua onisciência, Sua onipotência e todas as demais coisas, que juntos temos concordado estarem nas Escrituras.
Ora, tendo dito tudo isso, permitam-me fazer uma afirmação positiva da doutrina e, a fim de torná-la clara, pô-la-ei na forma de uma série de princípios.. O primeiro é que, desde a eternidade, Deus tem tido um plano imutável com referência às Suas criaturas. A Bíblia está constantemente fazendo uso de uma frase como esta: “Antes da fundação do mundo” (Vejam Ef 1:4). Como o apóstolo Paulo disse sobre o nascimento de nosso Senhor: “Mas, vindo a plenitude dos tempos…” (Gl 4:4).
Podemos colocá-lo em termos negativos: Deus jamais faz algo com indiferença. Nunca há algo incerto em Suas atividades. Poderia pô-lo ainda noutra forma: Deus jamais tem uma segunda reflexão. Lembrem-se de que já concordamos que Ele é onisciente e onipresente, que Ele conhece tudo desde o princípio ate o fim, Portanto Ele não pode ter uma segunda reflexão. Nada é acidental, casual, incerto ou fortuito. Deus tem um plano, um propósito definido sobre a criação, sobre os homens e as mulheres, sobre a salvação, sobre a vida neste mundo na sua totalidade, sobre o fim de tudo, sobre o destino final. Tudo o que Deus tem feito e causado é segundo o Seu próprio plano eterno, e esse é fixo, certo, imutável e absoluto. Essa é a primeira afirmação.
A segunda consiste em que o plano de Deus compreende e determina todas as coisas e eventos, de toda espécie, que acontecem. Se vocês crêem que Deus determinou certos fins, então precisam crer que Ele determina tudo o que conduz a esses fins. Se crêem que Deus decidiu criar num dado ponto, que Ele decidiu que o fim do mundo, de acordo com o tempo, deve suceder num dado ponto, seguramente, se o fim é determinado, tudo o que conduz a esse fim deve ser também determinado; e vocês compreendem que há também uma espécie de interrelação entre todos os eventos e coisas que acontecem, e que todos estão se dirigindo para esse fim. Desse modo, a doutrina dos decretos eternos de Deus declara que todas as coisas são finalmente determinadas e decretadas por Ele.
Por conseguinte, se tudo está determinado por Deus, devem-se incluir, necessariamente, as ações livres, as ações voluntárias de agentes livres e voluntários. Ora, essa é uma afirmação fundamental.. Deixem-me fragmentá-la um pouco e apresentar-lhes a evidência escriturística. Com respeito ao sistema como um todo, isso é colocado muito claramente pelo apóstolo Paulo. Diz ele: “De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra; nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade” (Ef 1:10,11). Com efeito, isso se aplica a todas as coisas. Paulo está falando ali do cosmo como um todo sendo unido em Cristo, e ele diz que Deus irá realizar isso dessa maneira.
Em seguida temos mais evidência escriturística a demonstrar que Deus, dessa maneira, governa, controla e determina os eventos que aparentam aos nossos olhos ser totalmente fortuitos. No livro de Provérbios, lemos: “A sorte se lança no regaço, mas do Senhor procede toda a sua disposição” (Pv 16:33). Chamamos “sorte” uma questão de probabilidade e casualidade, não é verdade? Vocês “lançam” a sorte. Sim, diz essa passagem das Escrituras: “mas do Senhor procede toda a sua disposição”. Também no Novo Testamento lemos que nosso Senhor diz: “Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai” (Mt 10:29). Um pequeno pardal estatela-se morto e cai por terra. Acidente, diz você. Casualidade. Absolutamente, não! “Nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai.” A vida de um pequeno pardal está nas mãos de Deus. Ele, porém, prossegue: “E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados” (v. 30). Há eventos que parecem ser totalmente acidentais, no entanto são controlados por Deus.
Em seguida, tomem nossas ações livres. Leiam Provérbios 21:1: “Como ribeiros de águas, assim é o coração do rei na mão do Senhor; a tudo quanto quer o inclina.” O rei parece estar livre, porém Deus está controlando-o como controla os próprios rios. Efésios 2:10 nos declara: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” E Filipenses 2:13 nos diz: “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade.”
Não obstante, chegamos a algo mais extraordinário e surpreendente: as Escrituras nos ensinam que até mesmo as ações pecaminosas estão nas mãos de Deus. Ouçam Pedro pregando no dia de Pentecoste, em Jerusalém: ‘A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, tomando-o vós, o crucificastes e matastes pelas mãos de injustos” (At 2:23). Em seguida, Pedro o coloca nestes termos: “Porque verdadeiramente contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel” – prestem atenção – “para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer” (At 4:27,28). O terrível pecado daqueles homens fora determinado de antemão, pelo conselho de Deus.
Temos também um tremendo exemplo disso no livro de Gênesis, aquela famosa declaração de José a seus irmãos. José, rememorando os fatos de sua história, virou para seus irmãos e disse: “Assim não fostes vós que me enviastes para cá, e sim Deus…” (Gn 45:8). Do nosso ponto de vista, foram eles que o fizeram. Eles haviam agido perversamente, haviam feito algo muito ímpio, movidos por motivos mercenários e como resultado de sua própria inveja. “Mas”, disse José, “não fostes vós que me enviastes para cá, e sim Deus”. Estas ações pecaminosas emanaram deste grande e eterno decreto de Deus.
Ora, sejamos bem explícitos sobre isto. Em vista do que já concordamos sobre a santidade de Deus, devemos uma vez mais dizer o seguinte: Deus não causa o mal em nenhum sentido, em nenhum grau. Deus não aprova o mal. Ele, porém, permite que os agentes perversos o realizem, e então o administra para Seus próprios fins sábios e santos.
Ou avaliem-no assim, se o preferirem: o mesmo decreto de Deus que ordena a lei moral, que proíbe e pune o pecado, também permite sua ocorrência. Limita-o, porém, e determina o canal específico ao qual ele será restringido, bem como a finalidade exata para a qual ele será dirigido, e controla suas conseqüências para o bem. A Bíblia nos ensina isso claramente. Ouçam novamente aquele relato sobre José e seus irmãos em Gênesis 50:20. Disse José: “Vós bem intentastes mal contra mim, porém Deus o tornou em bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar em vida a um povo grande.” E creio que, em muitos aspectos, o exemplo mais chocante de todos se encontra na traição de Jesus por Judas: uma ação livre e voluntária, e no entanto um componente do grande e eterno propósito e plano de Deus.
Assim sendo, isso me conduz à minha terceira proposição geral, ou seja: todos os decretos de Deus são incondicionais e soberanos. Eles não dependem, em nenhum sentido, das ações humanas. Não são determinados por alguma coisa que a pessoa possa ou não fazer. Os decretos de Deus não são nem ainda determinados à luz do que Ele sabe que as pessoas irão fazer. Eles são absolutamente incondicionais. Não dependem de nada, a não ser da própria vontade e da própria santidade de Deus.
Entretanto – quero deixar isto bem claro – não significa que não exista o que se chama causa e efeito na vida. Isso não significa que não exista o que se chama ações condicionais. Sim, existe aquilo a que se chama, na natureza e na vida, causa e efeito. O que a doutrina afirma, porém, é que cada causa e efeito, bem como as ações espontâneas, são componentes do decreto do próprio Deus. Ele determinou agir dessa maneira particular. Deus decretou que o fim que Ele tem em vista será cumprido, certa e inevitavelmente, e que nada poderá impedi-lo nem frustrá-lo.
Deixem-me apresentar-lhes agora a minha evidência para tudo isso. Tomem a profecia de Daniel: “E todos os moradores da terra são reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra: não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: que fazes?” (Dn 4:35). Nada pode impedir a mão de Deus, nem mesmo questioná-la. Ou então ouçam a nosso Senhor afirmar este mesmo fato em Mateus 11:25,26: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim te aprouve.” Por que Deus tem escondido estas coisas aos “sábios e entendidos” e as revelado aos “pequeninos”? Só existe uma resposta – “porque assim te aprouve”, porque assim pareceu bem aos Seus olhos.
Paulo também afirma a mesma coisa: “E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef 1:5). Recomendo-lhes um cuidadoso estudo da primeira metade do primeiro capítulo da Epístola aos Efésios. Atentem bem para tudo o que ela diz, e saberão que tudo o que Deus tem feito é sempre “segundo o beneplácito de Sua vontade”. Nada mais, absolutamente. E inteiramente pela graça.
Mas, naturalmente, vocês encontrarão esta doutrina afirmada ainda mais claramente naquele grande e poderoso capítulo nove da Epístola aos Romanos. Desejo, neste momento, enfatizar especialmente o versículo 11. Vocês descobrirão que ele é um versículo entre parênteses; porém, que grandioso versículo! Que declaração! “Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama).” O argumento de Paulo consiste em que Deus decretara que o mais velho servisse ao mais jovem, porque, mesmo antes que houvessem nascido, Ele havia dito: ‘Amei Jacó, e aborreci Esaú” (v. 13).
“Por que”, vocês perguntam, “Deus amou Jacó, porém odiou Esaú? Foi em razão do que eles fizeram?” Não. Antes que nascessem, antes mesmo que fossem concebidos, Deus escolheu Jacó e não Esaú. Não tinha nada a ver com suas obras, em sentido algum.
O propósito de Deus é incondicional e absolutamente soberano. Ouçam a Paulo dizer novamente: “Que diremos, pois? Que há injustiça da parte de Deus? de maneira nenhuma” (Rm 9:14). Que Deus os livre de chegarem a tal conclusão! É impossível – “Pois diz a Moisés: compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece. Porque diz a Escritura a Faraó: para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” (Rm 9:15-18).
Deixem-me apresentar o quarto princípio, o qual é que: os decretos de Deus são eficazes. Ora, isso, naturalmente, se deduz necessariamente. Visto que Deus é um Senhor soberano, em virtude de Sua onipotência e de Sua grandeza, Seus propósitos jamais podem fracassar. O que Deus determina e decreta, infalivelmente devera ser cumprido. Nada pode impedi-lo. Nada pode frustrá-lo.
E isso me traz ao quinto princípio: os decretos de Deus são em todos os aspectos perfeitamente consistentes com Sua própria natureza muitíssimo sábia, benevolente e santa. Creio que não é necessário que eu argumente tal fato. Noutras palavras, não existe contradição em Deus. Nem pode haver. Deus é perfeito, como temos visto, e Ele é absoluto, e tudo quanto estou expressando agora se entrosa perfeitamente com tudo quanto já consideramos antecipadamente. Conforme já os adverti na introdução, vocês e eu, aqui na terra, com nossas mentes finitas e pecaminosas, somos confrontados com um problema. Ei-lo: por que Deus decretou permitir o pecado? E há somente uma resposta a essa pergunta: simplesmente não sabemos. Sabemos que Ele decretou permitir o pecado, do contrário o pecado jamais teria acontecido. Por quê, não sabemos. Eis aqui um problema insolúvel. Veremos, porem, tudo claramente quando estivermos na glória e face a face com Deus.
De duas coisas podemos estar certos e devemos sempre asseverar: primeira, Deus jamais é a causa do pecado. Em Habacuque 1: 13, vocês encontrarão expresso: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal.” Tiago diz: “… Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta” (Tg 1: 13). Segunda, o propósito de Deus é, em todas as coisas, perfeitamente consistente com a natureza e o modo de agir de Suas criaturas. Noutras palavras, ainda que não possamos conciliá-lo, há uma conciliação final. Os decretos de Deus não negam a existência de agentes livres. Tudo o que sabemos é isto: ainda que Deus concedeu esta liberdade, Ele, não obstante, a tudo governa a fim de que Seus fins determinados possam ser concretizados.
Como pode Deus decretar tudo e ainda manter-nos responsáveis pelo que fazemos? Eis a resposta:
“Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: porque me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou” (Rm 9:20-23).
“Mas”, talvez vocês perguntem, “como você concilia estas duas coisas?”
Respondo: não posso. Sei que a Bíblia me afirma as duas coisas: que o homem, em certo sentido, é um agente livre, e, em contrapartida, que os decretos eternos de Deus governam todas as coisas.
Em seguida, devo apresentar minha última proposição, ou seja, a salvação dos homens e das mulheres e dos anjos em particular foi determinada por Deus antes da fundação do mundo. Isso Ele faz inteiramente de acordo com o Seu beneplácito e de Sua graça. Devo remetê-los novamente a Mateus 11:25,26. E em João 6:37, lemos: “Todo aquele que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.” E no versículo 44 nosso Senhor diz: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer.” Em Atos 13:48, leio o seguinte: “e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna.”
Em 2 Tessalonicenses 2:13, vocês encontram: “Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade.” Em seguida, em sua carta a Timóteo, Paulo diz: “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos” (2Tm 1:9).
Especialmente, porém, gostaria de enfatizar novamente aquela grande afirmação, a qual já citei, de Romanos 9:20-23. O apóstolo Paulo, pregando esta grande doutrina dos decretos eternos de Deus, imagina alguém em Roma dirigindo-lhe uma pergunta e dizendo: eu não entendo isso. A mim soa contraditório, injusto. Se o que você me diz sobre estes decretos é verdadeiro, então a impressão que fica é que Deus é injusto. O questionador diz a Paulo: “Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem resiste à sua vontade?” (Rm 9:19).
E a réplica de Paulo é:
“Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou)”
Eis aí a resposta do apóstolo. Eis aí a resposta das Escrituras. Eis aí, portanto, a resposta de Deus, a nós e por nós, enquanto estamos neste mundo passageiro. Ela se acha além de nós. Não podemos apreender o supremo funcionamento da mente de Deus. Não adianta perguntar: por que isso? e, por que aquilo? Por que Deus levantou Faraó? Por que Ele escolheu Jacó e não Esaú? Por que Ele nos castiga, se todas as coisas estão determinadas e decretadas? A resposta é: “Mas, ó homem, quem és tu?” Vocês estão opondo sua própria mente contra a de Deus. Estão ignorando quão ínfimos vocês são, quão finitos vocês são, quão pecaminosos em resultado da Queda. Vocês têm que abrir mão do entendimento até chegarem à glória. Tudo o que vocês têm a fazer aqui, no momento, é crer que Deus é sempre consistente consigo mesmo, e aceitar o que Ele explícita e abertamente nos revelou sobre Seus decretos eternos, sobre o que Ele determinou e decidiu antes mesmo que criasse o mundo.
E, acima de tudo, compreendam que, se vocês são filhos de Deus, é em razão de Deus o ter determinado, e o que Ele determinou a seu respeito é indiscutível, seguro e certo. Nada e ninguém pode jamais tirá-los de Suas mãos, nem tampouco levá-lo a renunciar Seu propósito com relação a vocês. A doutrina dos decretos eternos de Deus existiu antes da fundação do mundo. Ele me conheceu. Conheceu a vocês. E os nossos nomes foram escritos no “livro da vida do Cordeiro” antes mesmo que o mundo fosse criado, antes mesmo que vocês e eu, ou algum outro, entrássemos nele.
Curvemo-nos diante de Sua Majestade. Humilhemo-nos em Sua augusta presença. Submetamo-nos à revelação que Ele tão graciosamente Se agradou em nos comunicar.
(Extraído do livro Deus o Pai, Deus o Filho, Dr. Martyn Lloyd-Jones, Editora PES)