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Espírito Santo J. T. Mawson

Não me detenhais

O capitulo 24 de Gênesis é um dos mais impressionantes e magníficos relatos do Antigo Testamento. Isaque, o filho amado, é uma imagem de Cristo, o homem celestial ressuscitado, que antes, em figura, havia morrido (cap. 22). O desejo de Abraão de que Isaque tivesse uma esposa simboliza o mesmo desejo do coração de Deus para que Cristo tenha uma esposa idônea. Por último, essa missão é encomendada a um servo cujo nome não é mencionado, que vai a um país distante a fim de cumprir a vontade de seu senhor e volta trazendo Rebeca. Isso nos fala da operação do Espírito Santo, que trabalha incansavelmente a fim de tomar deste mundo uma esposa para o Cordeiro. Mas gostaríamos que essas verdades não somente sejam compreendidas em nosso espirito, mas também tenham um poderoso efeito em nossa alma.

Todo este capítulo é magnífico. Do início ao fim, Isaque se constitui o centro e o objeto. Abraão o amava e lhe deu tudo o que possuía (24.36). Lemos o mesmo a respeito de Cristo: “O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou nas Suas mãos” (Jo 3.35). O servo de Abraão não busca nada para si nem fala de si mesmo. Seu objetivo é cumprir a vontade de Abraão; faz tudo para Isaque. Da mesma forma, lemos a respeito do Espírito Santo: “Quando vier o Espirito da verdade, Ele vos guiará em toda a verdade, porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir. Ele Me glorificará, porque há de receber do que é Meu, e vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é Meu; por isso vos disse que há de receber do que é Meu e vo-lo há de anunciar” (Jo 16.13-15).

Rebeca, ainda sem ter visto Isaque, é atraída por ele. Ela segue seu caminho com o fim de juntar-se a seu esposo sabendo somente o que o servo lhe tinha dito de Isaque. Concernente aos cristãos, a Palavra diz: “Jesus Cristo, ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso” (1Pe 1.7,8).

O desejo de Abraão, a atividade do servo, o amor de Rebeca: tudo é para Isaque. Que grande dia na vida espiritual do cristão quando considera que todos os pensamentos do Pai têm a Cristo como objeto e que a atividade principal do Espirito Santo, enviado pelo Pai, é revelar-lhe as glórias de Cristo, de maneira que seja atraído somente a Ele! O resultado desse afeto por seu Senhor é estar unido ao Objeto amado de seu coração! Dessa maneira, nossos afetos se distanciam do mundo e suas vaidades e se concentram em Cristo, contemplando-O em glória e esperando aquele dia no qual O veremos.

A missão do servo era encontrar uma esposa para o filho de seu senhor, e Abraão, por meio de um solene juramento, lhe encomendou que seu filho não voltasse àquele lugar, mas, dali, lhe tomasse uma esposa e a levasse para longe de sua terra a fim de a levar onde Isaque se encontrava. Se não compreendemos bem este importante ponto, isto é, que a Igreja é tomada deste mundo para pertencer a Cristo onde Ele está, enganaremos a nós mesmos com respeito a essa solene verdade a respeito de Cristo e Sua Igreja e no que concerne à atividade do Espirito Santo na Terra. A Igreja, então, como esposa do Cordeiro, deve ser conduzida pelo Espirito Santo ao lugar onde Cristo se encontra. A ignorância sobre essa grande verdade levou muitos cristãos piedosos a associar o nome de Cristo com movimentos que, por mais úteis que sejam, somente têm a visão fixa no mundo atual. Essa mesma ignorância também faz com que muitos outros se ocupem apenas com as próprias circunstâncias e tenham por único objetivo viver uma vida sem dificuldades aqui na Terra.

“Agora, pois, se vós haver de fazer benevolência e verdade a meu Senhor […]”, isto é, atuar de maneira justa e boa em relação a ele, era o que o servo havia pedido (Gn 24.49). Esse é o chamamento que o Espirito Santo faz hoje em dia. O cristão que ignora os direitos que pertencem unicamente a Cristo não se conduz de maneira justa e piedosa com respeito a Ele e ao Pai. Para poder seguir Aquele que se deu por nós e empreender nosso caminho para ir a Seu encontro, devemos, pois, dar as costas ao mundo, que sempre nos incita a ser infiéis ao Senhor. Isso não acontecerá a menos que Cristo seja um objeto muito mais brilhante e mais valioso que as melhores coisas que possamos encontrar neste mundo.

O cristão que se compromete com o mundo se esqueceu que a Igreja foi desposada com um só marido para ser apresentada como uma virgem pura a Cristo (2Co 11.2).

Mas não é somente o mundo que mantém nosso coração longe de Cristo; às vezes, nossos relacionamentos naturais também representam obstáculos que atrapalham nossa caminhada em direção a Ele. Assim, por exemplo, vemos que a mãe e o irmão de Rebeca tentam reter a jovem, impedindo que ela vá o mais rápido possível ao encontro de Isaque. Na opinião deles, não havia nenhuma razão pela qual fazer essa viagem: “Fique a donzela conosco alguns dias, ou pelo menos dez dias, depois irá”. A isso, o servo responde de imediato: “Não me detenhais” (Gn 24.55,56).

Quero insistir neste último ponto. Creio que a voz do Espírito pode se fazer compreender com clareza por meio dessas palavras. E o que tem ouvidos, ouça o que o Espírito tem a dizer! Um estilo mundano e compromissos com o mundo impedem que o Espírito realize Sua tarefa. A indiferença para com Cristo O entristece muito. O orgulho e a satisfação pessoal atrapalham Sua atividade, e não há orgulho mais detestável a Seus olhos que o orgulho religioso. Ele não pode tomar o que é de Cristo e nos dar se nós somos indiferentes, desatentos, e colocamos nossa atenção somente em nós mesmos. O mundanismo é algo ruim, já que é motivo para que o coração fique dividido. Mas a pretensão religiosa é ainda algo pior, já que coloca o “eu” como origem e fim de todas as coisas. Submete Cristo e seus interesses a nós mesmos. É como se Rebeca tivesse se ataviado com as jóias que havia recebido e se dirigisse a casa de suas amigas ostentando, dizendo: “Olhem como sou rica! Observem o quanto eu prosperei, e de nada tenho falta!”

Mas Rebeca não tinha um pensamento assim. Ela respondeu fielmente ao chamamento daquele que buscava não somente seu coração, mas também sua mão. Não era uma pessoa indecisa, pois, no instante em que foi chamada, respondeu com grande determinação.

Também não a vemos solicitando algum conselho ou pedindo um tempo para estudar sobre o assunto. “Irei” (v. 58), respondeu àqueles que tentavam detê-la. Quanta alegria deve ter sentido o servo ao ouvir essas palavras! Rebeca não o atrasaria.

O Espírito Santo é paciente conosco. Ele nos selou para que sejamos de Cristo, tomando assim posse de nós, e não nos abandonará jamais. Sua obra consiste em fazer com que os Seus tenham um pensamento unânime, isto é, levar-nos a sentir o que Ele sente e, então, clamar junto com Ele: “Vem, Senhor Jesus” (Ap 22.20).

O Espírito aguarda pacientemente aquele dia de alegria no qual a Igreja, uma Igreja gloriosa, será apresentada a Cristo. Então, Cristo encontrará nela a recompensa completa de todo Seu padecimento e dor. Será um grande dia no céu, como o descreve o apóstolo João em 19.6-8: “E ouvi como que a voz de uma grande multidão, e como que a voz de muitas águas e como que a voz de grandes trovões, que dizia: Aleluia! Pois já o Senhor Deus Todo-Poderoso reina. Regozijemo-nos, e alegremo-nos e demos-lhe glória, porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou. E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente, porque o linho fino são as justiças dos santos”.

Deteremos o Espírito, que é quem prepara a esposa para aquele dia? Que Deus não o permita! Submetamo-nos sem reservas à obra de graça do Espirito Santo e digamos resolutamente como Rebeca: “Irei”.

 

(Fonte da imagem)

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Bíblia Charles Spurgeon Citações Espírito Santo George Müller Gotas de orvalho Osvald Chambers Santidade Vida cristã

Gotas de orvalho (98)

Cedo de manhã, o orvalho do céu!

Você já ouviu Jesus proferir-lhe uma palavra dura? Se não, duvido que O tenha ouvido dizer alguma coisa.

(Oswald Chambers)

Deus não pode exigir o pagamento duas vezes: primeiro, da mão ensangüentada de meu Fiador, e, então, de novo, de mim.

(A. M. Toplady)

Hoje em dia ouvimos alguém extrair de seu contexto uma frase isolada na Bíblia e clamar: “Eureka!”, como se tivesse descoberto uma nova verdade; no entanto, não achou um diamante, mas um pedaço de vidro quebrado.

(C. H. Spurgeon)

O vigor de nossa vida espiritual está na proporção exata do lugar que a Bíblia ocupa em nossa vida e em nossos pensamentos.

(George Müller)

Não podemos fazer progresso na santidade a menos que empreguemos mais tempo lendo e ouvindo a Palavra de Deus e meditando sobre ela; pois é ela que é a verdade pela qual somos santificados.

(Charles Hodge)

O homem pode despedir a compaixão de seu coração, mas Deus nunca fará isso.

(William Cowper)

Sem a presença do Espírito Santo não há convicção, nem regeneração, nem santificação, nem purificação e nem obras aceitáveis. A vida está no Espírito vivificante.

(W. A. Criswell)

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Gotas de orvalho (82)

Gotas de orvalho que alimentam a fé!

É nos estágios sucessivos da experiência que o crente vê mais distintamente, e adora mais profundamente e se apega com mais firmeza à justiça conquistada por Cristo. Qual é a escola onde ele aprende sua insignificância, sua pobreza e sua absoluta escassez? É a escola da santa e profunda aflição. Em nenhuma outra escola isso se aprende, e com nenhum outro professor além de Deus. Ali, seus altos pensamentos são trazidos para baixo, e somente o Senhor é exaltado.

(Octavius Winslow)

O amor de uma esposa pelo marido talvez comece pela provisão de suas necessidades, mas depois ela o amará também pela doçura de sua pessoa. Assim a alma primeiramente ama a Cristo por causa da salvação, mas, quando é trazida a Ele e descobre quanta doçura há Nele, ela passa a amá-Lo por causa Dele mesmo.

(Richard Sibbes)

Aqueles pecados que parecem ser os mais doces na vida mostrarão serem os mais amargos na morte.

(Thomas Brooks)

O céu pagará qualquer prejuízo que possamos sofrer para ganhá-lo; mas nada pode pagar o prejuízo de perdê-lo.

(Richard Baxter)

A mera possessão de privilégios religiosos não salvará a alma de ninguém. Você pode ter vantagens espirituais de todo tipo; você pode viver e gozar das mais ricas oportunidades e meios de graça; você pode desfrutar da melhor pregação e das instruções mais verdadeiras; você pode morar no meio da luz, do conhecimento, da santidade e da boa companhia. Tudo isso é possível; contudo, você ainda pode permanecer não-convertido e estar perdido para sempre. Para salvar almas, é requerido muito mais do que privilégios. Joabe era o capitão de Davi, Geazi era o criado de Eliseu, Demas era companheiro de Paulo, Judas Iscariotes era discípulo de Cristo e Ló teve uma esposa mundana e incrédula. Todos eles morreram em seus pecados. Eles baixaram à cova apesar do conhecimento, das advertências e das oportunidades; e todos eles nos ensinam que os homens não necessitam só de privilégios. Eles precisam da graça do Espírito Santo.

(J. C. Ryle)

Se Cristo esperou para ser ungido com o Espírito Santo antes de sair para pregar, nenhum jovem deveria se atrever a subir a um púlpito antes de ser ungido pelo Espírito Santo.

(F. B. Meyer)

Ainda que Deus não tenha nenhuma satisfação em nos afligir, não nos poupará nem da mais dolorosa correção, se Ele puder, dessa forma, conduzir Seu amado filhinho para casa, a fim de habitar no Filho de Seu amor. Cristão, ore por graça, a fim de ver em cada tribulação, seja pequena ou grande, o Pai apontando para Jesus e dizendo: “Permaneça Nele!”

(Andrew Murray)

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Exposição da Epístola aos Hebreus

Algumas partes das vestes do sumo sacerdote descritas por Moisés eram meros “memoriais”, ou lembretes das maiores e eternas coisas por vir. As doze pedras preciosas do peitoral do sumo sacerdote eram meramente “pedras de memória”. Elas testificavam sobre os fundamentos de doze pedras preciosas (Ap 21.19,20) da cidade eterna na qual os santos ressurretos de Deus habitarão (Êx 28.12,29; 39.7). O testemunho de Moisés sobre Melquisedeque, o sacerdote-rei, é a base do argumento sobre a intenção de Deus de deixar de lado o sacerdócio de Arão. E, por fim, o argumento sobre o descanso futuro do sétimo dia do Altíssimo se volta para o testemunho de Moisés em relação à obra da criação e à observância do descanso do sétimo dia sob a lei. O testemunho de Moisés, como afirma o Espírito de Deus, é incontestável – e os judeus estavam prontos para confessar isso. Nesta base, então, o apóstolo1 enquadraria seu argumento aos hebreus. Como poderiam eles se recusar a ouvir Moisés, sua testemunha confiável, quando ele testificou de um Mestre, Líder e Sumo Sacerdote maior?

Na afirmação “Cristo, como Filho, sobre a Sua própria casa” (Hb 3.6) não se destaca Sua fidelidade a um superior, e esse é o ponto agora diante de nós. “Tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus” (10.21; 1Pd 2.5; 4.17). De Moisés fora dito: “Fiel em toda a Minha casa”. Mas Cristo está sobre ela (10.21). Jesus estava aqui tipificado por José, tanto em sua humilhação como em sua exaltação. “José achou graça em seus olhos [de Potifar], e servia-o; e ele o pôs sobre a sua casa, e entregou na sua mão tudo o que tinha” (Gn 39.4). Deus “me tem posto [diz José novamente] por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa e como regente em toda a terra do Egito” (45.8). Faraó, diz Estêvão, “o constituiu governador sobre o Egito e toda a sua casa” (At 7.10).

 

“Cuja casa somos nós.”

Aqui, o sentido de “casa” é estreitado para significar “família”. Deus não está agora habitando “em templos feitos por mãos de homens” (17.24), pois qual edifício na terra poderia o homem construir que servisse à grandeza Daquele que enche o céu e a terra? Mas, enquanto isso, Deus olha para os redimidos de Cristo e habita neles, e a Igreja é a “morada de Deus em Espírito” (Ef 2.22), uma casa de pedras vivas (1Pe 2.5). É a nova criação espiritual, na qual o Altíssimo tem prazer. Os que crêem constituem o povo e a casa de Deus, sobre os quais Cristo preside. Mas é sob esta condição que habitam Nele: se retiverem firmemente o que já possuíam como crentes (e Paulo inclui a si mesmo, pois usa o pronome nós; Hb 3.14).

Eles deviam conservar “firmes a confiança e a glória da esperança até ao fim”. Qual é a esperança em questão? É aquela ligada ao chamamento celestial: a vinda de Cristo para reinar em Sua glória, e a associação de Sua fiel irmandade a Ele naquele dia. O esplendor dessa esperança foi ofuscada na mente deles devido à longa demora e pela pressão da perseguição. Esqueceram que “se sofrermos [com Cristo], também com Ele reinaremos” (2Tm 2.12). A vida de Cristo é o modelo a que os cristãos devem se moldar: primeiro sofrer; então, entrar na glória.

Que essa é a esperança é estabelecido por muitas provas. Esse é o propósito dos prévios dois capítulos de Hebreus, que apresentam Cristo como um segundo período a ser trazido à terra habitável. É o reino de justiça que alguém deve, como Seu seguidor, desfrutar com Cristo, no dia em que a perversidade dos inimigos de Cristo for abatida com mão forte e as obras de Deus forem postas em sujeição ao homem; é a grande salvação, o descanso de Deus, a primeira ressurreição (Hb 2.3; 4.1,3,10; Ap 20.5,6). É a vinda do reino milenar de Deus, de que Cristo tão frequentemente testificou. Porém nossa esperança é somente uma (Ef 4.4): sermos apreciados por patriarcas e profetas, e pelos aceitos por Deus mediante a Lei, assim como por aqueles julgados dignos mediante o Evangelho. É a esperança originada na liderança do Senhor. O desfrute da boa terra era a esperança ligada à missão de Moisés; a nossa é a glória de mil anos. Em Cristo “os gentios esperarão. Ora, o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pelo poder do Espírito Santo” (Rm 15.12,13). “A graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador, Jesus Cristo” (Tt 2.11-13).

Aumentar a fé dos cristãos no retorno de nosso Senhor e encorajar sua esperança do reino são os principais objetos desta epístola.

Vislumbres daquele dia foram dadas por Moisés nos descansos ligadas aos setes da Lei. Vemos isso também anunciado na promessa de Moisés ao subir a montanha; e após o banquete dos setenta anciãos na presença de Deus, quando ele os manda ficar onde estavam, pois retornaria para eles (Êx 24.14). Aumentar a fé dos cristãos no retorno de nosso Senhor e encorajar sua esperança do reino são os principais objetos desta epístola.

Quando no início creram, eles retiveram com alegre confiança interior a expectativa do breve retorno e reino de Cristo; e todo coração transbordava para os outros com exultação da glória a ser manifesta, e sua própria participação nela. “Venha, junte-se ao povo do Senhor! Ele virá brevemente para nos fazer Seus companheiros na glória!” Mas, com a demora de ano após ano, a confiança interior decaiu e o testemunho exterior, em conseqüência, enfraqueceu (Pv 13.12).

Em quarenta dias, a expectativa do reaparecimento de Moisés se foi, e, com sua extinção, despontou a idolatria; enquanto Arão, que deixara o alto posto que lhe fora dado e descera para a planície, tornou-se o culpado fabricante de um ídolo e seu sumo sacerdote.

O Espírito de Deus, então, nos ordena a nos mantermos firmes interiormente e a, exteriormente, testificar com ousadia aos demais acerca do retorno e do reino de nosso Senhor Jesus Cristo. Devemos ter firmeza até o fim – não até a nossa morte, mas até Seu reaparecimento. O enfraquecimento e o abalo dessa esperança produziram, quanto a seus efeitos, o endurecimento, a esterilidade e a desobediência dos cristãos hebreus, dos quais Paulo reclama.

“Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a Sua voz, não endureçais o vosso coração, como na provocação, no dia da tentação no deserto, onde vossos pais me tentaram, me provaram e viram por quarenta anos as minhas obras” (Hb 3.7-9).

O argumento que segue a 4.12 é uma exortação aos crentes buscarem o descanso milenar e a se guardarem de provocar Deus, como fez Israel, pois o mesmo Deus que excluiu Israel da terra da promessa excluirá os ofensores no dia da recompensa, quando Cristo tomar o reino. Paulo aplica a esse propósito as advertências de Salmos 95. Assim, essa passagem corre paralelamente com as advertências do Sermão do Monte, que foi também endereçado aos crentes, e com outras passagens que tratam da entrada no reino da glória. Muitas são as passagens que tratam da recompensa vindoura, que testificam da necessidade de diligência a fim de obtê-la e da probabilidade de ser perdida.

O apóstolo caracteriza a passagem que está prestes a dar como decisiva, pois é inspirada pelo Espírito Santo, o qual fala em Salmos e em toda a Santa Escritura. Então, nosso Senhor ensina: “O próprio Davi disse pelo Espírito Santo” (Mc 12.36). “A Escritura não pode ser anulada” (Jo 10.35).

A presente dispensação é descrita como hoje. É um período especial, (1) do chamado de Deus para a obediência a Cristo e (2) do julgamento de Seu povo a caminho da glória. Com a fé no sangue de Cristo, como o Cordeiro da verdadeira Páscoa, começa nosso resgate de Satanás, do mundo e da maldição. Então, vem a passagem pelas águas do batismo, após as quais o deserto tem início. Mas multidões de crentes preferem continuar no Egito, a despeito da ordem de avançar.

 

“Se ouvirdes […] a Sua voz”

Jesus é nosso Moisés, o Líder para a glória. “E o lugar do Seu repouso será glória” (Is 11.10, lit.). “Por que Me chamais ‘Senhor, Senhor’, e não fazeis o que Eu digo?” (Lc 6.46). “Este é o Meu amado Filho […] escutai-O” (Mt 17.5). A obediência ao Filho é obediência também ao Pai. Essa foi a palavra que veio de Deus, quando o quadro em miniatura do reino da glória foi dado [no monte da transfiguração]. “Nem todo o que Me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos céus” (7.21). Hoje é o convite e o dia do julgamento; amanhã, a glória.

Não obstante, no deserto Israel desobedeceu às ordens de provas de Deus. Jeová disse aos israelitas: “Eis que tenho posto esta terra diante de vós; entrai e possui-a” (Dt 1.8). Moisés reitera a palavra: “Eis aqui o Senhor, teu Deus, tem posto esta terra diante de ti; sobe, toma posse dela” (v. 21). Eles se recusaram, afirmando que não poderiam entrar por causa dos perigos.

 

“Não endureçais o vosso coração”

O obediente escuta, pois é a Palavra de Deus. Porém aqueles que são rebeldes desprezam as promessas, contestam as ameaças, não obedecerão às ordens. Eles se fortalecem em sua resistência ao Altíssimo. Quantos crentes vêem o batismo, no entanto, com vários pretextos desprezam a ordem e se recusam a confissão de Cristo que ele carrega consigo!

Quem, a não ser os crentes professos, desobedecem a Cristo?

 

“Como na provocação, durante o dia da tentação no deserto”

Logo após deixar o Mar Vermelho, e antes de chegar ao Sinai, Israel começou a provocar Deus pela murmuração por causa da necessidade de comida no deserto. Em Refidim, os israelitas murmuraram novamente. Estavam quase prontos a apedrejar Moisés, pois pensavam que a culpa fosse dele. O Senhor ajuda em ambos os casos, mas o lugar é chamado “Tentação” e “Luta” (Êx 17). Outra vez há um clamor por água, em Cades, e o lugar também é chamado de “Luta” (Nm 20). Moisés é conduzido a fazer menção disso, mesmo em sua palavra de bênção diante da morte: “E de Levi disse: Teu Tumim e teu Urim são para o teu amado, que tu provaste [tentaste] em Massá, com quem contendeste junto às águas de Meribá” (Dt 33.8).

Contudo parece, na passagem de que estamos tratando, que o Senhor considerou todo o tempo da jornada no deserto como um tempo de provocação e tentação. A maior crise ocorreu como registrada em Números 13 e 142, que analisaremos agora.

 

“Eles viram as Minhas obras por quarenta anos”

As obras da criação de Deus já haviam há muito sido completadas, e Seu repouso ali foi quebrado. Na criação, os anjos romperam em louvores e cantando hinos de alegria. Mas agora Deus trabalhava no interesse de novas obras de redenção para os israelitas: eles eram livres, eram povo de Deus. Ele os sustentou por quarenta anos, ainda que murmurassem contra Ele. Sua punição, então, seria que, quando o descanso de Deus chegasse, assim como com Seu antigo descanso na criação, eles não teriam parte nele.

Por quarenta anos o Senhor fora provocado; apesar de Suas obras maravilhosas a favor do povo, este não confiou e desobedeceu. Deus realizou as maravilhas da criação por apenas seis dias. Seus sinais redentores foram feitos por quarenta anos: sinais de poder contra os inimigos dos israelitas; sinais de favor para os israelitas, misturados com juízos contra os desobedientes que havia entre eles. As maravilhas da redenção são relatadas muito mais amplamente do que as da criação, pois elas diziam respeito a nós mais de perto, e são consideradas por nosso Deus como mais importantes e de maior glória para Ele. Mas Israel não percebeu seu significado; ele não se sujeitou ao Grande Governador.

O obediente escuta, pois é a Palavra de Deus.

Então, finalmente temos o efeito dessa contínua provocação ao Altíssimo. Ele foi ofendido. O mau comportamento de Seu próprio povo O tocou mais intimamente do que o dos egípcios. Ele descobre a fonte das provocações dos ofensores: “Estes sempre erram em seu coração” (Hb 3.10). Pois o coração por natureza é “inimigo de Deus” (Rm 8).

 

Eles não conheceram os caminhos de Deus

Os “caminhos” de uma pessoa significam sua conduta como consequência de seu caráter. Suponhamos que haja alguém que foi muito gentil para com um pobre homem em sua doença. Desse ato afirmo sua disposição permanente. Diria que é de um caráter benevolente. Então, de observarmos os efeitos afirmamos a natureza das coisas. […] Assim, os israelitas deveriam ter aprendido sobre o caráter de Jeová, sobre Seus atos com respeito a eles. Eles deveriam tê-Lo amado por Sua bondade e O temido por Sua impressionante justiça.

Eles não viram Sua razão nas várias provas acontecidas pelo caminho. Pensaram que, se Deus os guiasse, não haveria problemas. Porém, essa não era a mente divina. Ele condescendeu explicar-lhes Suas razões nessas provações. “E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os Seus mandamentos ou não” (Dt 8.2). Eles prometeram obediência perfeita; porém eram ignorantes a respeito de seu orgulho, de sua perversidade e de sua inimizade conta Deus, e o Altíssimo exibiria o mal do coração deles, o mal em suas palavras e ações. “Sabes, pois, no teu coração que, como um homem castiga a seu filho, assim te castiga o Senhor, teu Deus” (v. 5). Moisés, no fim, assume o mesmo procedimento. “Tendes visto tudo quanto o Senhor fez perante vossos olhos, na terra do Egito, a Faraó, e a todos os seus servos e a toda sua terra; as grandes provas que os teus olhos têm visto, aqueles sinais e grandes maravilhas; porém não vos tem dado o Senhor um coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de hoje” (Dt 29.2-4).

 

“Assim, jurei na Minha ira que não entrarão no Meu repouso”

Eis aqui – aquilo em que muitos não acreditarão – a ira de Deus contra Seu povo por causa da contínua desobediência. Não pode nem mesmo um pai estar de modo justo zangado com a desobediência e a provocação de um filho? Por fim, ocorreu Seu juramento de exclusão.

Olhemos um pouco mais de perto para a crise que suscitou esse juramento.

O povo propôs enviar doze espias para ver a terra antes de entrar nela. A proposta emergiu em parte da descrença; mas Moisés e o Senhor a sancionaram. Os espias retornaram após quarenta dias, trazendo testemunho da fertilidade da terra, e também exemplares de uvas, romãs e figos encontrados nela. “Vamos possuir a boa terra”, disse Calebe. Então, os espias sem fé se opuseram a ele. Tão gigantescos eram os habitantes, tão fortificadas e grandes eram as cidades que eles não poderiam possuí-la. Todo o povo tomou o partido da descrença. Pesaram seus próprios poderes contra os obstáculos a serem superados, e deixaram o poder de seu Deus. Cada um encorajou o outro a não crer, até imaginaram e disseram que Jeová somente os havia guiado pelo deserto com o propósito de entregá-los à espada dos cananeus! Calebe e Josué foram encorajá-los. “A terra é boa! Se nosso Deus for conosco, os cananeus não poderão se opôr a nós. Não se rebelem contra o Senhor!” “Mas toda a congregação disse que os apedrejassem; porém a glória do Senhor apareceu na tenda da congregação a todos os filhos de Israel. E disse o Senhor a Moisés: Até quando Me provocará este povo? E até quando não crerá em Mim, apesar de todos os sinais que fiz no meio dele?” (Nm 16.10,11). Moisés intercedeu, ou toda a congregação seria destruída. Em resposta, “disse o Senhor: Conforme à tua palavra lhe perdoei. Porém, tão certamente como Eu vivo e como a glória do Senhor encherá toda a terra,3 e que todos os homens que viram a Minha glória e os Meus sinais, que fiz no Egito e no deserto, e Me tentaram estas dez vezes e não obedeceram à Minha voz, não verão a terra de que a seus pais jurei, e nenhum daqueles que Me provocaram a verá” (vv. 20-23).

Agora segue uma íntima aplicação dessa história para os crentes hoje.

“Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel [de incredulidade], para se apartar do Deus vivo” (Hb 3.12).

Três vezes a expressão “qualquer de vós”4 é trazida para alertar os crentes hebreus daquele tempo. “Para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (v. 13). “Pareça que algum de vós fica para trás” (4.1). O Espírito Santo previu que a objeção seria feita: “Apliquem todo tipo de advertência aos professos: eles não são dos nossos! Como podem os crentes ser acusados de incredulidade no coração?” Mas como poderiam crentes apartarem-se, no coração, do Deus vivo? Vejamos um exemplo. “Por que o Senhor nos traz a esta terra, para cairmos à espada e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos ao Egito? E diziam uns aos outros: Constituamos um líder e voltemos ao Egito” (Nm 14.3,4). Era o voltar atrás do coração, não realizado em ato porque Deus chegou para impedir.

Ao ouvir isso, deveríamos supor que uma negativa deve ter, por algum acidente, caído do texto, e que deveríamos ler: “Vede, irmãos, que não há em qualquer de vós um coração mau e infiel”. “Nenhum de vós se endureceu pelo engano do pecado”. Mas não: é endereçado aos descrentes entre os crentes! Em qual coração não há um pouco desse velho fermento? Os israelitas deixaram o Egito por fé na mensagem de Deus dada por Moisés, mas a alma deles recuou quando foram colocados face a face com os obstáculos na terra. “Então eu vos disse: Não vos espanteis nem os temais. O Senhor, vosso Deus, que vai adiante de vós, Ele pelejará por vós, conforme a tudo o que fez convosco, diante de vossos olhos […] Mas nem por isso crestes no Senhor, vosso Deus“ (Dt 1.29,30,32).

“Mas por que comparar um povo que anda segundo a carne com o agora povo regenerado de Deus?”

Porque assim Deus faz aqui! Porque, mesmo no regenerado, estão os remanescentes do velho Adão.

“Mas a igreja de Cristo não está debaixo da lei, mas debaixo da graça, e nenhum perigo pode ameaçá-la.”

Se é assim, esta epístola é um erro, pois é baseada no princípio oposto: que, embora os crentes estejam agora salvos pela graça, eles, no aspecto do galardão, devem, como o antigo povo de Deus, ser tratados “de acordo com as obras”. A Epístola aos Hebreus é de Deus?

 

“Um coração mau e infiel [de incredulidade], para se apartar do Deus vivo”

O “Deus vivo” desta passagem é o Senhor Jesus. Foi declarado que Ele é o Criador e o Sustentador de tudo. [No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.1-3).] “Eis que Deus é grande, e nós não O compreendemos, e o número dos Seus anos não se pode esquadrinhar” (Jó 36.26). Pedro assim confessou Cristo: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16). E o Filho é da mesma natureza de Seu Pai. Assim Jesus, em ressurreição, descreve a Si mesmo: “Eu sou o primeiro e o último, e o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno” (Ap 1.17,18). Ele é o Senhor da vida; provou assim ser na ressurreição; [Aquele que irá] introduzir outros no reino pela primeira ressurreição, por meio de Seus méritos (5.9,10). O Novo Testamento nos diz também que os israelitas no deserto tentaram a Cristo (1Co 10.9).

“Não seria melhor voltarmos ao Egito? E diziam uns aos outros: Constituamos um líder e voltemos ao Egito” (Nm 14.3,4). Esse foi o afastamento de coração entre eles e Jeová. E um risco semelhante estava assaltando os cristãos hebreus. Eles foram tentados a retornar a Moisés e à Lei, deixando Jesus, o Senhor, por causa da perseguição e dos perigos do caminho para Seu reino milenar.

A fé amolece o coração; a incredulidade o endurece.

“Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (Hb 3.13).

O remédio a ser oposto a esse perigo é uma constante exortação de uns aos outros. Quanto quer que dure o perigo da queda, esse é o período que Deus chama de Hoje. “Hoje não endureçais vosso coração”. Estamos em constante perigo; apliquemos constantemente essa arma da exortação. Vigiemos para não deixar de confiar em Deus e para não retrocedermos com medo dos inimigos a serem encontrados, assim perdendo o dia de especial glória para o qual fomos chamados. Busquemos o prêmio de nosso chamado. Busquemos “em primeiro lugar o reino de Deus e sua [ordenada] justiça” como o meio para isso (Mt 6.33).

Aquele que ouve a Palavra de Deus não deve endurecer o coração. A fé amolece o coração; a incredulidade o endurece. A fé nos faz tremer de Sua Palavra; a incredulidade faz pouco das promessas e dos avisos do Senhor. “Desprezaram a terra aprazível; não creram na Sua palavra” (Sl 106.24). Quando os israelitas foram mandados a subir, eles não foram, apesar de Deus estar com eles. Quando foram proibidos, eles subiram, ainda que Deus estivesse contra eles. Tudo vai bem conosco quando reverenciamos a autoridade de Deus manifestada em Sua Palavra. Mas permanecer em oposição a toda ordenação Dele é perigoso. O pecado se espalha pela alma como um câncer. Nós podemos nos fazer de surdos às ameaças de Deus, mas, por fim, elas se provarão verdadeiras. Podemos nos encorajar ou consolar com o número daqueles que, como nós, desobedecem; mas a multidão dos desobedientes em Israel era teve desculpa. Seiscentos mil homens, e um igual número de mulheres, pereceram: foram apenas dois que entraram.

Essa palavra de advertência é também como um espelho para nós na história apresentada. Calebe acalma os murmúrios dos israelitas diante de Moisés, e exorta-os a subirem de uma vez e possuírem a terra. Mais tarde, Calebe e Josué exortam o povo a obedecer; mas a multidão furiosamente resiste ao apelo e clama que os dois fiéis sejam apedrejados. Então, toda esperança de restauração do povo se vai, quando a exortação é rejeitada e o coração está endurecido a ponto de procurar a morte dos servos fiéis. O pacto de Deus, assim, vai adiante contra os descrentes e rebeldes, e, enquanto eles tentam, presunçosamente, subir, são abatidos diante do inimigo, pois o Senhor não estava com eles. Quantos estão agora endurecendo-se contra o batismo, “o Reino Pessoal”, e a recompensa segundo as obras!

Notas

1O autor acredita que Paulo, chamado de “o apóstolo”, é o autor de Hebreus. Essa é a opinião mais comum entre os cristãos, mas não é unânime. (N. do R.)

2É notável que a referência aos capítulos 13 e 14 ocorra logo após a referência, em Hb 2.2, a Moisés como o “servo fiel” em Nm 12. (N. do E.)

3Eis aqui uma pista de “Meu descanso”. Eis aqui uma intimação do dia milenar, quando toda a terra será cheia da glória de Deus e o “Filho do homem” será seu centro (Sl 8). (N. do E.)

4Nos três versículos citados, as mesmas palavras gregas são usadas, apesar da diferente tradução em cada um deles. (N. do R.)

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Indicações de sexta (7)

Confronte todas as coisas com a verdade da Bíblia

 

Toda sexta-feira, uma pequena lista de artigos cuja leitura recomendamos. Além disso, indicaremos também uma mensagem e um hino para serem ouvidos. Nosso desejo é que lhe sejam úteis para aprofundar seu conhecimento do Senhor, para capacitar você a servi-Lo melhor e para despertar em você mais amor por Ele.
É sempre importante relembrar o que dizemos em Sobre este lugar: a menção a um autor ou a alguma fonte não implica aprovação total ou incondicional de tudo o que é ali ensinado nem indicado em outros links ou em vídeos relacionados, etc; indica, outrossim, que naquele artigo específico há conteúdo bíblico a ser apreciado.

Artigos que merecem ser lidos

  1. Carta aberta aos pais cristãos de filhos incrédulos. Poucas coisas angustiam tanto pais cristãos quanto filhos que ainda não obedecem à fé ou que dela apostataram. Esse artigo pode lhe trazer ajuda, consolo e orientação prática.
  2. O que é a comunhão da igreja? Basta os cristãos estarem juntos para haver comunhão? A genuína comunhão é marca distintiva da igreja que se reúne segundo o modelo do Novo Testamento.
  3. “Deus não é um prato de buffet que você monta de acordo com o seu gosto” ou “A verdade importa para você?”, de J. P. Moreland. Será verdade que não uma verdade absoluta não faz diferença ou que ela é impossível? Como argumentar com quem pensa assim?
  4. “Deus me revelou”. Devemos dar ouvidos a quem alega ter uma revelação nova de Deus, à parte de Sua Palavra?

Mensagem que merece ser ouvida

Amando a Deus com todo o nosso entendimento, por Héber Campos Júnior

Hino que merece ser ouvido

It’s well with my soul

Letra de Horatio G. Spafford (1873) e música, Ville du Havre, de Philip P. Bliss (1876). Inspirado em 2Reis 4.26 e Salmos 146.1. A música recebeu o nome do navio em que as filhas de Spafford pereceram. Ironicamente, Bliss morreu num trágico acidente de trem, ao tentar salvar a esposa, pouco tempo depois de escrever a música. Veja mais detalhes abaixo.

Enquanto lê a letra, ouça essa maravilhosa versão orquestral do hino.

Letra em inglês

When peace, like a river, attendeth my way,
When sorrows like sea billows roll;
Whatever my lot, Thou hast taught me to say,
It is well, it is well with my soul.

Refrain
It is well with my soul,
It is well with my soul,
It is well, it is well with my soul.

Though Satan should buffet, though trials should come,
Let this blest assurance control,
That Christ hath regarded my helpless estate,
And hath shed His own blood for my soul.

My sin—oh, the bliss of this glorious thought!—
My sin, not in part but the whole,
Is nailed to the cross, and I bear it no more,
Praise the Lord, praise the Lord, O my soul!

For me, be it Christ, be it Christ hence to live:
If Jordan above me shall roll
No pang shall be mine, for in death as in life
Thou wilt whisper Thy peace to my soul.

But, Lord, ’tis for Thee, for Thy coming we wait,
The sky, not the grave, is our goal;
Oh, trump of the angel! Oh, voice of the Lord!
Blessed hope, blessed rest of my soul!

And Lord, haste the day when the faith shall be sight,
The clouds be rolled back as a scroll;
The trump shall resound, and the Lord shall descend,
Even so, it is well with my soul.

Tradução literal em português

Está tudo bem com minha alma

Quando a paz, como um rio, estiver presente em meu caminho,
Quando tristezas se agitarem como ondas do mar –
Seja qual for minha sorte, Tu me ensinaste a dizer:
“Está tudo bem, está tudo bem com minha alma”.

Refrão
Está tudo bem com minha alma,
Está tudo bem com minha alma,
Está tudo bem, está tudo bem com minha alma.

Embora Satanás tenha de me esbofetear, embora provas tenham de vir,
Que esta certeza abençoada tome o controle:
Que Cristo considerou minha situação sem esperança
E derramou Seu próprio sangue por minha alma.

Meus pecados – Oh, a felicidade desse glorioso pensamento! –,
Meus pecados, não em parte, mas todos eles,
Estão pregados na cruz, e eu não os carrego mais.
Louve ao Senhor, louve ao Senhor, ó minha alma!

Para mim, seja Cristo, seja Cristo, portanto, a viver:
Se o Jordão1 acima devo atravessar,
Sem angústia estarei, pois, na morte como na vida,
Tu irás sussurrar Tua paz para minha alma.

Mas, Senhor, é por Ti, por Tua vinda que esperamos,
O céu, não a sepultura, é nosso objetivo.
Oh, trombeta do anjo! Oh, a voz do Senhor!
Bendita esperança, abençoado descanso de minha alma!

E, Senhor, apressa o dia em que a fé será visão,
As nuvens serão enroladas como um pergaminho,
A trombeta ressoará e o Senhor descerá.
Todavia, estará tudo bem com minha alma.

Versão em português

Sou feliz com Jesus

Se paz a mais doce me deres gozar,
Se dor a mais forte sefrer;
Oh, seja o que for, Tu me fazes saber
Que feliz com Jesus hei de estar.

Refrão
Sou feliz com Jesus!
Sou feliz com Jesus,
Meu Senhor!

Embora me assalte o cruel Satanás,
E ataque com vis tentações,
Oh, sim certo estou, mesmo em tais provações,
Em Jesus acharei força e paz.

Jesus, meu Senhor, ao morrer sobre a cruz
Livrou-me da culpa e do mal;
Salvou-me Jesus, oh, mercê sem igual!
Sou feliz, hoje vivo na luz.

A vinda eu anseio do meu Salvador;
Em breve virá me buscar;
E então lá no céu vou pra sempre morar,
Com remidos na luz do Senhor

Nota biográfica

Esse hino foi escrito depois de dois grandes traumas na vida de Spafford, um devoto cristão e estudante das Escrituras, amigo de D. L. Moody e de Ira Sankey. O primeiro foi o enorme incêndio de Chicago em outubro de 1871, que o arruinou financeiramente (advogado rico, ele havia investido em imóveis na cidade). Em 1873, durante uma travessia do Atlântico, da qual ele havia desistido pouco antes da partida, as quatro filhas de Spafford (com 11, 9, 7 e 2 anos) morreram em uma colisão com outro navio. Sua esposa, Anna, sobreviveu e enviou-lhe o agora famoso telegrama: “Única salva”. Várias semanas depois, quando o navio em que Spafford estava (ele viajou para encontrar-se com a esposa) passou perto do local onde as filhas morreram, o Espírito Santo inspirou essas palavras. Elas falam da eterna esperança que todos os crentes têm, não importando a dor e o sofrimento eles tenham na terra. O hino foi cantado pela primeira vez em 24 de novembro de 1876, por Bliss mesmo, em uma grande reunião evangelística de Moody.

Nota

1 Referência à morte, muito usada antigamente pelos cristãos. (N. do R.)


(Tradução do hino por M. Luca. Revisão de Francisco Nunes)

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A acusação contra Estêvão, sua defesa e seu martírio (Robert Govett)

 

O significado do discurso do primeiro mártir

Poucos leitores ou mesmo estudantes da Escritura percebem muita força na defesa de Estevão, registrada em toda a sua extensão em Atos 7. Parece-lhes apenas uma citação desconexa de partes da história patriarcal e israelita, tendo pouca ou nenhuma influência sobre as acusações feitas contra ele. Eles pensam também que, muito provavelmente, a defesa foi interrompida antes de chegar à conclusão pretendida pela violência provocada ou que se iniciava. Portanto, eles são incapazes de perceber por que os inimigos de Estêvão estavam tão exasperado com o discurso.

Com a ajuda do Senhor, o Espírito, penso ser capaz de conduzir o leitor a um tal ponto de vista que ele possa perceber que a defesa do mártir é cheia de vigor, dando forte testemunho contra os pontos de vista de seus acusadores e uma real e triunfante refutação de suas acusações.

Estêvão era um dos sete judeus de língua grega designados pela igreja em Jerusalém e pelos apóstolos para atender à nova tarefa emergencial, que surgiu da necessidade de suprir as necessidades das viúvas helenistas daquele dia (cap. 6). Estêvão era um dos novos diáconos; mas, além disso, ele operou muitos prodígios e milagres. Ele foi levado à discussão com os judeus do partido contrário a Cristo. Provavelmente, a discussão se deu na sinagoga dos libertinos (v. 9)1; e, ao que parece, o desafio se originou com eles.

No conflito, Estêvão provou-se vitorioso, pela sabedoria e pela graça do Espírito Santo que lhe foram dadas. Isso desagradou o partido derrotado, e seus membros procuraram matá-lo. É mais fácil matar um homem de Deus do que refutar os argumentos que ele deriva das Escritura.

Eles o acusaram, então, de blasfêmia contra Moisés e contra Deus. Eles o apresentaram perante o conselho religioso da nação e trouxeram contra ele falsas testemunhas que afirmavam: “Este homem não cessa de proferir palavras blasfemas contra este santo lugar [o templo] e a lei. Porque nós lhe ouvimos dizer que esse Jesus Nazareno há de destruir este lugar e mudar os costumes que Moisés nos deu” (vv. 13,14).

A resposta de Estêvão nos apresenta, de modo indireto, os argumentos geralmente utilizados pelos judeus que se opõem ao Messias. Vemos neles os homens da carne e da lei, cheios de justiça própria, confiantes de serem melhores do que seus pais e com direito de esperar o cumprimento das bênçãos prometidas a Israel por Moisés e os profetas (Lc 18.9; Mt 23.30). Nós os vemos aqui esperando um Messias reinante e recusando o Sofredor. Entre os acusadores de Estêvão estavam saduceus, homens que criam que as únicas recompensas e punições eram recebidas nesta vida; a imortalidade do homem era, para eles, apenas um dogma dos fariseus. Esses homens podiam mediria a criminalidade de cada pessoa pela história dela. Se um problema se abatia sobre alguém, isso era uma prova de culpa e de que ele era recusado pelo Altíssimo (Lc 13.1-5).

Assim, os argumentos dos oponentes judeus de Estêvão tinham a seguinte forma:

“Jesus não é o Cristo.”

  1. “Como Ele pode ser o Messias se nunca recebeu de Deus o trono e o cetro prometidos ao Filho de Davi (Sl 72; 89)? Jesus falou muitas vezes sobre o reino de Deus, mas este nunca veio (Lc 17.20). Se Ele fosse o profeta como Moisés, como Seus amigos afirmam, Ele teria tido a confiança de Israel e teria provado ser o Libertador de Israel, como Moisés foi (cap. 24). Agora, pelo contrário, quando foi preso e condenado, Ele nunca se livrou da maldita e cruel morte da crucifixão. Deus não liberta sempre Seus amados servos quando estão em dificuldades e em perigo de morte? Não foi prometido que o Messias seria coberto pela mão de Deus, salvo e exaltado (Sl 91.14,15; 41)?”
  2. “Não foi prometido nas Escrituras que os inimigos do Messias seriam cortados (Sl 89.23; 72.9; 97.3)? Como veio a acontecer, então, se Jesus era o Messias, que os discípulos de Moisés que resistiram a Suas reivindicações e mataram o povo Dele não foram destruídos por juízos miraculosos, como os profetas anunciaram.” A partir dos apelos feitos a Jesus na cruz, vemos que esse argumento era considerado muito poderoso e satisfatório. Passantes, escribas, anciãos, sumos sacerdotes, espectadores, soldados, os ladrões, todos, judeus e gentios, juntaram-se a desafiá-Lo a descer da cruz e a salvar-se, se Ele fosse verdadeiramente o Cristo, o Rei de Israel, o Filho de Deus (Mt 27.39-44; Lc 23.35-46). Era de supor, portanto, que Sua morte tenha sido a destruição de Suas pretensões.
  3. Outro argumento contra as reivindicação de nosso Senhor era fundado sobre a decisão judicial de Sua própria nação contra Ele. “O sábio, o douto, o poderoso haviam rejeitado Suas alegações e deram a sentença de morte contra Ele. Escribas e sacerdotes em seu concílio O condenaram como blasfemo. E a lei dizia que a decisão dos sacerdotes e dos juízes em Jerusalém devia ser considerada infalível (Dt 17.8-11). Ele foi justamente condenado à morte, então, por ser um enganador (Mt 27.63; Jo 7.48).” Esse argumento também foi considerado de grande peso, como podemos ver pelo discurso dos dois discípulos de Emaús indo. “Jesus”, eles disseram, “foi homem profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo. No entanto, os principais sacerdotes e governantes O entregaram aos romanos para ser condenado à morte e O crucificaram. Se Sua própria nação O rejeitou como impostor, como Ele poderia ser o Messias? O povo do Messias seria de súditos voluntários, como o salmista declarou” (Sl 110; Lc 24.19-21).
  4. “Como Ele poderia ser o Messias, se Ele ameaçou destruir o templo e mudar os costumes de Moisés? Não foram todos os reis piedosos da linhagem de Davi zelosos com a manutenção de toda a lei, restaurando-a quando ela caía em desuso?”
  5. “Por fim, como poderiam os cristãos ser ‘os filhos do reino’ do Messias, como eles pretendiam, quando eles eram desprezados, detidos e despojados? Em vez de serem exaltados, eles estavam perdendo até mesmo os privilégios que haviam conquistado pela lei de Moisés. Se Jesus fosse de fato seu Cabeça, como diziam, por que Ele não os defende? Por que Ele não os vinga daqueles que os maltratam? O que havia acontecido com Ele? Se Ele havia ressuscitado, por que não se mostra, para que pudessem vê-Lo e confessá-Lo como de fato ressurreto?”

Agora, o discurso de Estêvão transmite, principalmente na forma de narrativa, uma resposta àqueles argumentos, e a outros semelhantes. Visto desse ponto de vista, sua defesa é uma rajada bem dirigida – cada tiro é o que disse – e derrubando irresistivelmente seus oponentes.

O mártir toma a história de Abraão, de José e de Moisés, e por essas duas ou três testemunhas estabelece cada palavra.

1. Primeiramente, toma o caso de Abraão.

O que Israel pensa acha dele? Que ele era “o amigo de Deus, o grande e justo cabeça de sua nação, seu pai, fonte das promessas feitas a si mesmo e à nação”.

Se agora vamos julgar pelas circunstâncias, como eles iriam provar seu ponto de vista a partir da vida de Abraão?

O Altíssimo começou tirando-o de seu país, parentes e amigos. Abraão devia deixara a todos por uma terra estrangeira, da qual ele não sabia de nada. Deus prometeu-lhe que a (a) terra seria dele e que uma (b) posteridade numerosa quanto a areia da terra e como as estrelas do céu lhe seria dada.

O Altíssimo cumpriu essas promessas feitas a ele?

(a) Será que Ele lhe deu a terra da Palestina como sua posse? “E não lle lhe deu nela herança, nem ainda o espaço de um pé” (At 7.5).

Ele prometeu a terra à sua descendência. Israel obteve isso? Ou Jacó? Ou os doze patriarcas?

(b) Ele viu o cumprimento de uma inumerável descendência? Por longos anos, ele não teve filho (v. 5).

O que Deus diz sobre a descendência de Abraão? “A sua descendência seria peregrina em terra alheia, e a sujeitariam à escravidão e a maltratariam por quatrocentos anos” (v. 6).

Como, então, eles deviam julgar Abraão, se usassem com ele a mesma medida que usaram com Jesus Cristo? Eles deveriam dizer: “Ficou claro que Abraão foi iludido ou era um impostor, pois ele não havia ainda apreciado as promessas que ele imaginou que o Todo-Poderoso lhe havia feito!”

Mas, se o tratamento da descendência de Abraão por 400 anos foi tão grave como predito, então, isso era prova de que os crentes em Jesus como o Cristo não foram iludidos, porque eles foram afligidos e perseguidos em sua própria terra, e por mais tempo que aquilo.

A seguir, não há nenhuma prova contra Jesus ser o Herdeiro individual e o Cabeça prometido da descendência de Abraão, por Ele ter sido recusado e rejeitado até a morte.

Como eles poderiam responder? “Nós admitimos tudo isso, mas outra era está vindo, em que Abraão, Isaque e Jacó serão ressuscitados dentre os mortos, e a descendência deles irá, então, desfrutar a terra e se tornar inumerável, enquanto outras promessas serão cumpridas para eles, que estão incluídos no reinado do Messias, o grande Herdeiro de Abraão. Além disso, Deus prometeu, no exato momento em que ratificou a aliança com Abraão, que Ele julgaria a nação que os perseguiu e os tiraria de sua servidão para servi-Lo em riqueza e liberdade.”

Para esse argumento, a resposta era facilmente evidente.

“Nós, cristãos, concordamos com vocês. Mas, se o tempo futuro de retribuição e do cumprimento das promessas serve no caso de Abraão, serve para nós também. Nós também dizemos: “O julgamento é vindo sobre aqueles que perseguem a descendência espiritual de Abraão, os filhos de sua fé. E os verdadeiros filhos de Abraão devem ter uma maior libertação e melhores riquezas do que aqueles do Israel resgatado do Egito. Assim, afinal de contas, Jesus pode ser o herdeiro de Abraão, a semente a quem a promessa foi feita (Gn 15.18). Jeová deu um símbolo do tempo de angústia que devia preceder a libertação, o qual deve confirmar nossa fé: quando o pacto foi ratificado, um forno de fumaça precedeu a tocha de fogo (v. 17). Ou seja, a fornalha de tijolos e o rigor do Egito deveriam preceder o glorioso livramento (Dt 4.20; Is 62.1). Muito longe de a presente perseguição provar que nós e nosso Senhor não somos a descendência de Abraão, ela é, na verdade, uma prova a nosso favor!”

Também a observação de Estêvão, de que o Deus da glória mostrou-se a Abraão, na Mesopotâmia, muito antes de habitar em Canaã, é uma refutação inicial da idéia deles de que o culto a Jeová só poderia ocorrer na terra santa e na cidade santa.

O mártir, a seguir, fala do pacto da circuncisão (Gn 17), que se seguiu ao primeiro pacto (cap. 15), e, então, traça a linha da posteridade circuncidada de Abraão até José.

2. José

“O que vocês, hebreus, pensam de José?”

“Ele era grande e sábio, o favorecido de seu pai e de seu Deus, governante do mundo e libertador de Israel em tempo de extrema necessidade. Ele também era amado por Deus, como testemunham os sonhos que falavam de sua grande exaltação, e que, como enviados do céu, foram por fim cumpridos.”

Mas o que dizer de sua história terrena, tanto no meio da própria família como com os gentios?

“Os patriarcas, movidos de inveja, venderam José para o Egito” (At 7.9). Eles o odiavam, e nem sequer conseguiam falar pacificamente com ele. No Egito, ele é falsamente acusado, contado com os transgressores e enfiado na prisão por seu mestre gentio. O que vocês dizem dele agora? Esses problemas tão repetidos e que continuaram por tanto tempo não provam que ele fora rejeitado por Deus! Quando seus irmãos disseram: “Eis lá vem o sonhador-mor! Vinde, pois, agora, e matemo-lo e lancemo-lo numa dessas covas, e veremos que será de seus sonhos” (Gn 37.19,20), qual foi o partido aprovado? Quem foi condenado por Deus: os onze chefes da nação ou José? “Deus era com ele” (At 7.9; cf. Gn 39.2,3,21,23).

O homem rejeitado era o homem aprovado por Deus. Portanto, a mesma conduta por parte de Israel contra Cristo, incitada pelo mesmo espírito de inveja, não é prova de que Jesus não é o Cristo, o Filho amado de Deus (Mt 27.18; Mc 15.19). José foi vendido por vinte moedas de prata (Gn 37.28); Jesus, por trinta (Mt 26.15). José foi entregue aos midianitas; Jesus, aos romanos.

Será que aflição e humilhação provam que José foi abandonado pelo Altíssimo? Se isso não aconteceu, não pode a mesma aflição ser usada como argumento contra Jesus. Deus não apenas estava com José, mas “livrou-o de todas as suas tribulações e lhe deu graça e sabedoria ante Faraó, rei do Egito, que o constituiu governador sobre o Egito e toda a sua casa” (At 7.10).

Talvez, então, pode ser verdade que Jesus desprezado, vendido, falsamente acusado por Seus irmãos, pode não só ter sido livrado de todas as Suas provações pela ressurreição, mas ter sido promovido no alto diante do Rei dos reis, para ser governante do mundo e Senhor da família de Deus, tanto de anjos como de homens! José, rejeitado por sua própria família, e esquecido, encontrou casa e glória no Egito. Jesus, desprezado como “um sonhador” por Israel, foi, no entanto, considerado supremamente sábio pelo Governante da terra e do céu!

A primeira metade da vida de José é fortemente marcada pela aflição. “Até ao tempo em que chegou [se cumpriu] a sua [de José] palavra, a palavra do Senhor o provou” (Sl 105.19). A segunda metade foi gloriosa como nunca vista anteriormente, e sem interrupção. Não poderia, portanto, ser assim um dia com o rejeitado Nazireu também?

Vocês dizem: “Como Ele pode ser o Messias e Libertador de Israel se não pôde livrar a Si mesmo da degradante morte da crucificação?” Tentem o mesmo raciocínio com José! Ele poderia ser o exaltado de Deus e o libertador de sua nação e do mundo que não podia se livrar de ser lançado em um poço, de ser vendido por menos do que o preço de um escravo e ser jogado num calabouço como um malfeitor sob falsa acusação?

Logo veio o juízo sobre seus perseguidores. A fome os assaltou. O Egito era o único país onde se podia obter comida. Isso os trouxe involuntariamente às mãos de José. Ele era dono da vida e da fortuna deles, e estava ciente disso. Talvez isso seja uma tipologia de um dia por vir, o dia da Grande Tribulação, quando Israel lançará suas esperanças no Messias e vai pedir Sua ajuda e Sua vinda, ignorante de que Jesus é o Messias.

Na segunda vez em que os patriarcas foram a José, este se revelou a eles, e deu a conhecer sua parentela a Faraó.

Assim também, Jesus, o rejeitado em Sua primeira vinda, pode, em Sua segunda vinda, fazer-se conhecer a seus irmãos de Israel e perdoá-los, enquanto Ele os estabelece no alto das nações do mundo e os reúne em sua própria terra.

Jacó e os outros patriarcas morreram no Egito, nunca recebendo a posse da terra da promessa. Eles tiveram uma tumba em Canaã.2 Eles eram apenas peregrinos e estrangeiros. Não seria maravilhoso, então, se os cristãos ocupassem o mesmo lugar de fé? Pois Israel e Jerusalém agora se tornaram Egito (Ap 11.8). Então, Deus começou a cumprir Sua profecia a Abraão com respeito às aflições e escravidão do povo no Egito. Seu aumento além da medida provou que Deus não se esqueceu deles. No entanto, esse aumento foi o motivo de sua aflição. Ele fez o Egito e seu rei muito ciumento deles. Talvez, então, o rápido crescimento dos cristãos naqueles dias fosse a prova de que Deus estava com eles, e as aflições que suportaram não fosse uma prova contra eles, mas, sim, uma evidência de que eles eram a verdadeira semente de Abraão, abençoados por Deus conforme a promessa, e prestes a serem libertados.

3. Moisés

Chegamos agora à história crítica de Moisés.

O que dizer de Moisés? “Ele era o chefe e mais fiel dos servos de Deus, o maior dos homens. Deus o amava e falou face a face com ele, e colocou Sua glória sobre o semblante dele.”

Apliquem agora a Moisés o mesmo princípio pelo qual vocês condenaram Cristo. O que vocês teriam pensado dele, se o julgassem pelas circunstâncias de sua vida?

Que ele foi rejeitado por Deus! Embora tenha liderado sua nação com a esperança da terra que manava leite e mel, ele próprio ficou fora dela pela decisão judicial de Deus. Isso não põe por terra o que vocês pensam de Moisés? Nem desfaz um pouco seu ponto de vista sobre Cristo?

Mas vamos com Estêvão entrar mais particularmente nessa história.

1. Moisés nasceu quando o momento da libertação prometida se aproximava, mas ele estava em perigo desde o nascimento. Jesus, por Sua vez, nasceu em circunstâncias em que não havia nenhuma prova contra Ele, mas, sim, uma evidência de que Ele era o predito profeta como Moisés, a quem Ele começou a se assemelhar a partir do momento de Seu nascimento.

Moisés “era mui formoso”, ou “formoso para Deus”, como trazem algumas traduções (At 7.20). Não foi Jesus muito mais reconhecido por Deus, como comprovado pelo cântico dos anjos que glorificaram o Altíssimo no nascimento Dele? E o que dizer do testemunho de Jeová em Seu batismo? “Tu és o Meu Filho amado em quem Me comprazo” (Mc 1.11).

“Moisés foi instruído em toda a ciência dos egípcios, e era poderoso em suas palavras e obras” (At 7.22). Jesus foi grande em sabedoria, de modo que surpreendia a todos os que O conheceram, embora a houvesse adquirido sem ensino humano (Mt 13.54). Jesus é descrito pelos dois discípulos que iam para Emaús como “homem profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo” (Lc 24.19).

Moisés, caso quisesse, poderia ter morado na casa do rei, muito acima das aflições que se abateram sobre seu povo; e seria uma maneira justa de estar próximo ao trono do Egito, se não no próprio trono. Mas seu coração de compaixão enternecia-se por seus irmãos oprimidos. Ele deixou, então, de forma voluntária, sua glória para tomar parte com o povo aflito de Deus, quando ele tinha 40 anos, e plenamente competente para pesar as conseqüências dessa escolha. Não pode, então, ser Jesus o Profeta como Moisés, se Ele desceu de um trono mais elevado, movido pela compaixão por Israel e o mundo? Será que eles admiram Moisés por sua condescendência desinteressada? Por que, então, não admirar Jesus também pela mesma razão?

Isso não foi tornar-se um profeta como Moisés, embora ainda fosse superior a ele?

Moisés, empenhado com o bem-estar de seu povo, em uma ocasião deu um passo adiante, por meio de um ato público, para testemunhar quão completamente ele havia tomado o lado de Israel. “E, vendo maltratado um deles [israelitas], o defendeu e vingou o ofendido, matando o egípcio” (At 7.24). Não foi a conduta de Jesus como essa, quando Ele avançou para libertar Seu povo da escuridão espiritual, para resgatá-lo da doença e para mostrar Seu poder sobre Satanás e a morte? “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou fazendo o bem e curando a todos os que eram oprimidos do diabo, porque Deus era com ele” (At 10.38). Jesus a ninguém feriu com a morte3, mas Ele libertou os oprimidos por demônios e venceu o príncipe deles.

Moisés ficou desapontado em sua tentativa de envolver-se com as aflições de seu povo. “E ele cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus lhes havia de dar a liberdade [salvação, na tradução usada pelo autor] pela sua mão, mas eles não entenderam” (7.25). A causa de Jesus foi assim também! Deus estava dando uma salvação superior para Israel e para o mundo, e Jesus iria fazê-los conhecê-la, mas eles não a perceberam! Talvez esse tenha sido o tempo predito da cegueira dos filhos de Israel, quando eles deveriam ver o Messias e Suas obras e não O receberem, deveriam ouvir Suas palavras de sabedoria e não as compreenderem (Is 6).

Temos, a seguir, a descrição da crise do esforço de Moisés. Seu próprio povo estava dividido, a parte injusta prevalecendo (At 7.26). Ele alegremente teria removido as discórdias [entre os israelitas], como um primeiro passo para o salvamento deles. Mas o que fazia mal a seu próximo rejeitou-o, tanto por palavras como por obras. Ele repeliu Moisés e negou sua missão de libertação, reprovando Moisés com próprio ato deste a favor de seu compatriota. Não seria, então, que a bondade e a graça de Jesus com respeito a Israel tenham sido de igual modo incompreendidas pela nação e seu propósito de redimi-la, recusado pela seita orgulhosa e opressora dos fariseus? Não que, em certo sentido, a censura lançada contra Moisés possa ser dirigida contra os judeus. Quando foi solicitado a dividir uma herança entre dois irmãos em desacordo, Jesus se recusou, com palavras como este opositor de Moisés: “Homem, quem Me pôs por juiz ou repartidor entre vós?” (Lc 12.14). Moisés, pela justiça, matou o egípcio. Cristo, na graça, libertou alguns da morte e curou a orelha ferida de um de Seus perseguidores. Moisés foi censurado por seu ato de graça com respeito a Israel, um ato que colocou sua vida em perigo? E não foi a morte de Cristo instigada por ter Ele ressuscitado Lázaro dentre os mortos? Por outro lado, Ele foi insultado na cruz por Seus inimigos com: “Salvou os outros e não pode salvar a Si mesmo” (Mc 15.31).

Qual dos dois partidos, então, eles [os judeus que ouviam Estêvão] diriam estar certo em palavras e atos na primeira ocasião? Moisés? Ou Israel? “Moisés!”, eles responderiam. Talvez, então, a rejeição a Jesus por parte da nação era como o mal nos dias deles, como a recusa de Moisés tinha sido nos dias de outrora!

Poderia Deus amar Moisés e estar com ele, apesar da rejeição nacional? Isso não pode ser verdade com respeito a Jesus? É a Pedra rejeitada, rejeitada pelos construtores cegos de Israel, que um dia será a Pedra de esquina.

Desse modo, Moisés, rejeitado, está em perigo de vida e foge. Por 40 anos, ele se demora em outra terra; ali encontra uma esposa e tem uma família. Jesus rejeitado poderia ter fugido, mas, por amor a outros, entregou Sua vida. Enquanto não está pronto, Israel se afasta para outra região, onde é gratamente recebido. Se Jesus deve se afastar de Seu povo por um tempo maior do que o de Moisés, Ele ainda seria o único semelhante a Seu antecessor, e Sua ausência de Seu povo cego e oprimido não seria nenhuma prova contra Sua missão divina, mas, sim, a favor dela.

Avançamos para a segunda e, desta vez, bem-sucedida visita a Israel. “E, completados quarenta anos, apareceu-lhe o anjo do Senhor no deserto do monte Sinais, numa chama de fogo no meio de uma sarça” (At 7.30). A primeira aparição de Deus a Abraão originou a dispensação patriarcal. Essa aparição de Jeová a Moisés originou a dispensação mosaica.

De Moisés se pode dizer que sua primeira tentativa de libertar Israel havia sido prematura. Ele agiu provocado por seus sentimentos naturais, não endossado por qualquer comissão sobrenatural de Deus. Foi apenas na segunda ocasião que milagres lhe foram dados, e, assim, ele foi bem-sucedido.

Mas da missão de Jesus isso não poderia ser dito. Deus apareceu a Jesus em Seu batismo. O novo nome de Deus, como Pai, Filho e Espírito, estava lá exibido no ato. Moisés foi obrigado a perguntar o nome de Deus que ele deveria apresentar a Israel; Jesus estava ciente dele: Ele é o Filho. Moisés tem medo, e é avisado para não se aproximar sem preparação. Jesus não tem medo, e sobre Ele o céu se abriu e o Espírito desceu e repousou sobre Ele. Não há aqui um maior do que Moisés?

Mas se for dito: “O aparecimento de Moisés teve lugar depois de sua rejeição e de sua fuga”, nós ainda encontraremos novas semelhanças que se revelam e novas superioridades. Pela intercessão do Cristo ascenso, como Pedro testemunha, o Espírito Santo, como o anjo (ou O enviado) do Senhor, desce em fogo sobre os discípulos do Cristo rejeitado. Não poderiam eles, então, ser a sarça que queimava, mas não se consumia? Moisés se maravilhou da visão. E não se maravilharam os homens de Israel vindos de todas as nações, quando o Espírito Santo desceu em vento e fogo, deu aos 120 que falassem novas línguas, enquanto línguas de fogo que não consumia estavam sobre a cabeça deles? Do fogo da sarça saiu a voz de Jeová, testificando que Ele era o Deus dos pais. Não podem, assim, os testemunhos dos apóstolos inspirados serem verdade: que essa nova manifestação veio do Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó (At 313,25; 5.30; 22.14).

Onde foi que aconteceu essa manifestação de Deus nos dias de Moisés? Na Terra Santa e em seu templo? Não, mas antes de qualquer tabernáculo ou templo terem sido construídas, no deserto da Arábia! Por que, então, eles [os judeus que apedrejavam Estêvão] deviam imaginar, que a revelação de Si mesmo que Deus fazia fora confinada ao templo ou que Ele era obrigado a morar apenas lá? Não foi essa aparição de Deus no deserto a Moisés que anulou quaisquer antigos locais de moradia de Deus, se eles existissem? Então, não poderia ser verdade que a Igreja de Deus, Sua casa de pedras vivas [e obedientes4], fosse o lugar de Sua morada atual, deixando de lado o templo de Herodes?

Enquanto Moisés era rejeitado, Israel continuava sob opressão dos gentios. Então, não pode ser verdade, se Jesus fosse o profeta como Moisés, e superior a ele, que Israel pudesse continuar cego em relação a Deus e oprimido por homens, enquanto rejeitar Jesus, por mais longo que esse tempo possa ser?

“Agora, pois, vem, e enviar-te-ei ao Egito” (At 7.34).

“A este Moisés, ao qual eles haviam negado, dizendo: Quem te constituiu príncipe e juiz?, a este enviou Deus como príncipe e libertador, pela mão do anjo que lhe aparecera na sarça” (v. 35).5

A nação negou Moisés e o afastou. Negou-o naqueles exatos aspectos em que, como ele viu, o Deus de Israel desejava usá-lo. A nação estava certa em sua negação? Eles [os contemporâneos de Estêvão] diziam: “Não!” Não pode, então, a nação estar errada em outra negação, esta diante de Pilatos? O Espírito Santo os acusou disso: “”O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou Seu Filho [servo6, na versão usada pelo autor], Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes7, tendo ele determinado que fosse solto. Mas vós negastes o Santo e o Justo e pedistes que se vos desse um homem homicida. E matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dentre os mortos” (3.13-15). Não poderia, então, Jesus, apesar de ser o rejeitou de Israel, ser, no entanto, o Escolhido de Deus? Ainda que vos, ó homens de Israel, diante de Pilatos tenhais rejeitado a Jesus como seu rei, Ele não pode ainda ser o Rei eleito de Deus? A boa vontade de Deus e Seu conselho para o futuro não foram mais plenamente declarados na ressurreição de Jesus dentre os mortos do que na extensão da vida de Moisés? Sim! Jesus é, portanto, declarado ser o Juiz de todos (10.42; 17.31). Talvez, então, Jesus seja o libertador de há muito esperado! Sua rejeição por parte dos grandes homens de Israel fez os dois no caminho de Emaús vacilarem. Mas o Salvador rapidamente os endireitou: “Porventura não convinha que o Cristo padecesse [primeiro] estas coisas e [então] entrasse na Sua glória?” (Lc 24.26). Não deveria a Pedra que seria a Pedra de esquina ser primeiramente rejeitada pelos sábios construtores de Israel? Na rejeição de Moisés por Israel, a quem isso condena? A Moisés? Ou a Israel? Talvez, então, a condenação deles a Jesus não era além da luta de Israel contra o Escolhido de Deus, e uma condenação de si mesmo!

Moisés, no trabalho de libertação, não estava sozinho. Uma Pessoa Divina participou com Seu mandamento divino para organizar tudo e para acabar com todo o poder humano com a força divina. E não foi a mesma coisa, em parte, mostrada quando o Espírito Divino, no batismo de Jesus, desceu sobre Ele? Então, Ele começou a agir publicamente na sabedoria e no poder de Deus. Isso não foi algo superior à comissão de Moisés no deserto? E o que havia acontecido depois disso? Não tinham ouvido todos de Jerusalém a respeito da descida do Espírito Santo no Pentecostes, em vento e fogo? E da sabedoria divina e do poder de milagres que se seguiram, atestando, então, de Jesus como o Libertador ascenso?

“Foi este [Moisés] que os conduziu para fora, fazendo prodígios e sinais na terra do Egito, e no Mar Vermelho e no deserto por quarenta anos” (At 7.36).

Repetidamente, aquele que fala [Estêvão] justapõe, a sua contrariada audiência, a identidade do Escolhido de Deus com a daquele que foi negado pelos pais! Eles [os israelitas do passado] falaram de Moisés naquele dia de outrora com desprezo: “Este Moisés” (v. 35). Agora, eram homens dos dias de Estêvão que, com desprezo similar, tratavam o Senhor da glória: “Esse Jesus Nazareno” (6.14). Nos dias de Estêvão, a nação inteira se levantou para vingar no mártir um suposto desrespeito contra Moisés, embora, mesmo sem nenhuma palavra pronunciada! Talvez, então, um dia as coisas possam se inverter no que dizem respeito a Jesus, e a nação possa adorá-Lo e regozijar-se Nele como seu libertador a quem seus pais perseguiram e mataram!

Moisés, que na primeira aparição a Israel não operou nenhum milagre, na segunda ocasião não veio armado com o poder de realizar sinais e maravilhas? Como, então, não pode ser crido que Jesus, o qual em Seu primeiro apelo a Israel mostrou sinais e maravilhas maiores e mais numerosos do que os de Moisés, opere prodígios ainda maiores na ainda futura libertação de Israel?

Por um período de 40 anos, milagres no Egito, no Mar Vermelho e no deserto ocorreram. Não pode, então, haver um período em que, de acordo com o pacto de maravilhas feito com Moisés (Êx 34), a mão de Deus fira e resgate pelo poder de Jesus seja vista?

“Este é aquele Moisés que disse aos filhos de Israel: O Senhor, vosso Deus, vos levantará dentre vossos irmãos um profeta como eu; a ele ouvireis” (At 7.37).

Moisés, o outrora rejeitado de Israel, predisse um profeta que seria como ele. Ele seria como Moisés em poder, em caráter e em história. Talvez, então, Moisés tenha dado a entender que o Profeta que viria a seguir e que seria como ele seria semelhante a ele também ao ser rejeitado por Israel em Sua primeira aparição! Se assim for, essa rejeição a Jesus por Sua nação não era nenhuma prova contra Sua missão dada por Deus, mas, sim, uma testemunha a seu favor! Moisés pôde testemunhar dos filhos de seu povo que eles tinham sido rebeldes contra o Senhor desde que os conhecera (Dt 9.7). Talvez o profeta que fora predito teria o mesmo testemunho a dar, um testemunho não aplicável a Sua própria condenação, mas para a condenação de Israel!

“A Ele ouvireis” (At 7.37).

Oh! Então, esse novo profeta deveria ser também um doador de lei, um emitente de mandamentos divinos! Talvez esses mandamentos possam ser uma revogação de alguns ou de todos aqueles de Moisés! Então, não seria blasfêmia contra Moisés testemunhar que o profeta que ele predissera havia chegado e que o novo profeta deveria ser ouvido, de preferência ao velho. Moisés não mudara os costumes dos pais? Para ser como Moisés, então, Jesus deveria mudar os deles [os contemporâneos de Estêvão]!

Moisés era manso? Jesus foi ainda mais manso. Certa vez, Moisés, sob forte provocação, orou contra seus oponentes. Jesus permitiu aos Seus que procedessem a flagelação, as cuspidas, as zombarias e a crucificação!

Nesse ponto, o mártir se volta contra seus acusadores com imensa força: “Vocês me acusam de blasfêmia contra Moisés. Vocês lhe obedecem? Vocês não estão em evidente oposição a ele? Ele predisse um sucessor para si mesmo, que seria guia e legislador para Israel. Vocês O rejeitaram; mais que isso, vocês O negaram e mataram. Você falam Dele com desprezo. Agora, em tudo isso, vocês não estão sendo testemunhas contra si mesmos? Seus pais não lançaram sobre Moisés as mesmas provocações que vocês lançam contra Jesus? Jesus, então, é o profeta como Moisés; é como ele em história e na comissão dada por Deus; é como ele em caráter é como ele também em sua rejeição por Israel.”

“Este é o que esteve entre a congregação no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai e com nossos pais, o qual recebeu as palavras de vida para no-las dar” (At 7.38).

A glória de Moisés foi vista não só na libertação de Israel, mas em sua presença com a congregação de Deus durante os quarenta anos no deserto. Jesus também não fez uma congregação, a quem Ele liderou tão verdadeiramente como Moisés? Se eles insultassem os seguidores de Jesus com sua rejeição, com a perda da herança e com sofrimentos, os discípulos poderiam responder: “Sim, esse Jesus que nos tirou do mundo nos indicou um enterro sob as águas e uma ressurreição a partir dali, que corresponde à passagem de Israel pelo Mar Vermelho. Nossa libertação é muito maior do que a antiga, e se encontrarmos problemas agora, isso apenas corresponde às provações da anterior congregação8 (ou “igreja”) de Deus no deserto. Cristo ainda está conosco, como Moisés estava com Israel, apesar das provações do povo no deserto.”’

Mas Moisés não estava sozinho em sua tarefa no deserto. Com ele foi o anjo do Senhor, o anjo da aliança, Aquele que falou com ele no monte Sinai. Então, podemos dizer de Jesus: “Eis que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos [ou da era]. Amém.” (Mt 28.20). E não poderia Estêvão gabar-se de que o Espírito Santo ainda habitava com [os membros obedientes d]a Igreja de Cristo? Ele também não era um anjo falando? Não estavam profetas em todos os lugares cuja palavra era: “Assim diz o Espírito Santo”? Moisés teria ficado feliz por terem todos do povo do Senhor sinalizados pelo Espírito sobre eles. Estêvão podia afirmar que esse desejo de Moisés fora cumprido em todos os crentes daquele dia. O Senhor tinha visivelmente dado o Espírito em poder a todos os que obedeceram a Jesus. Eles receberam dons ou de palavra ou de atos. Pedro já tinha apelado para isso como um poderoso testemunho a seu favor (At 5.32).

Será que Deus do passado falou no deserto? Ele estava, naquele momento, falando a Israel em sua terra. Será que o Senhor distribuiu do Espírito que estava sobre Moisés a setenta anciãos? Não seria maior do que Moisés Aquele que concedeu profecia, ou línguas ou cura a cada um que O aceitou?

Eram vivos os oráculos de Moisés? Os oráculos de Cristo, pelo Espírito Santo, davam vida. Eles testemunham Daquele que é ressurreição e vida.

“Ao qual nossos pais não quiseram obedecer, antes o rejeitaram e em seu coração se tornaram ao Egito, dizendo a Arão: Faze-nos deuses que vão adiante de nós, porque a esse Moisés, que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu” (At 7.39,40).

O paralelo e sua força ainda continuam e se aprofundam. Mesmo depois de Israel ter visto as maravilhas operadas por Deus por intermédio de Moisés e ter-lhe reconhecido como seu libertador, eles não amavam obedecer. Eles não estavam satisfeitos com as restrições sob as quais ele os tinha liderado; e rejeitaram-no com desprezo, mesmo quando falaram dele para Arão, seu irmão. Eles desejavam ser não o povo separado de Deus, mas ser como as nações. Também nos dias de Estêvão, os herodianos, homens que glorificavam os romanos e adotavam suas práticas, eram sinais da terrível incredulidade de Israel nos últimos dias.

Moisés, por causa de sua ausência, invisível no monte, mas aparecendo na presença do Senhor por causa do povo, foi desprezado e deixado de lado pelas tribos, e, com ele, seu Deus. Mas o que é dito dos homens dos dias de Estêvão zombando de Jesus: “O que aconteceu com seu Cristo?”? A mesma provocação que seus pais haviam lançado a Moisés. A mesma resposta deveria ser dada quanto a Moisés, como os discípulos de Jesus deram a respeito de Cristo: “Ele está no alto, na presença de Deus por nós”. Mas a boca de Arão foi impedida de dar esse testemunho, pois ele com os outros anciãos tinham, na incredulidade, deixado o lugar que Moisés lhes tinha atribuído (Êx 24.14).

O desprezo que os judeus daquela época estavam expressando por Jesus – “Esse Jesus Nazareno há de destruir este lugar” –, seus pais o haviam pronunciado da mesma maneira contra Moisés: “Porque a esse Moisés, que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu”. Isso foi particularmente mordaz. Cerca de seis ou sete vezes o mártir faz uso da palavra de desprezo dele para glorificar Moisés, e revelar-lhes a oposição entre os pensamentos divinos de Moisés e os da nação. “A este Moisés, ao qual haviam negado […] a esse enviou Deus” (v. 35). “Foi este [Moisés] que os conduziu” (v. 36). “Este é aquele Moisés que disse […]” (v. 37). “Este [Moisés] é o que esteve entre a congregação no deserto” (v. 38).

“E naqueles dias fizeram o bezerro, e ofereceram sacrifícios ao ídolo e se alegraram nas obras das suas mãos” (v. 41).

O resultado da incredulidade de Israel quanto ao retorno de Moisés do monte foi idolatria. Moisés e seu Deus foram juntos colocados de lado. Está acontecendo exatamente o mesmo agora, em nossos dias. Com a cessação da expectativa com respeito ao retorno de Cristo, há cada vez mais uma inclinação em direção a imagens. E, embora Israel nos dias de Estêvão se opusesse aos ídolos, irá, no entanto, nos últimos dias cair na idolatria. Isso é sugerido na parábola do Salvador sobre o retorno do espírito mau para a casa que ele voluntariamente tinha deixado por algum tempo. Ele irá retornar com sete espíritos piores do que si mesmo (Mt 12).

Isso é-nos mostrado em Apocalipse 9.20, 21. Nos dias de Moisés, os israelitas adoraram um bezerro. Nos últimos dias, haverá a adoração a Satanás e a seu rei besta selvagem (cap. 13). Com a rejeição ao Cordeiro e a Seu Pai, Satanás, seu rei blasfemo e o falso profeta tomarão lugar.

“Mas Deus se afastou e os abandonou a que servissem ao exército do céu, como está escrito no livro dos profetas: Porventura me oferecestes vítimas e sacrifícios no deserto por quarenta anos, ó casa de Israel? Antes tomastes o tabernáculo de Moloque e a estrela do vosso deus Renfã, figuras que vós fizestes para as adorar. Transportar-vos-ei, pois, para além da Babilônia” (At 7.42,43).

Deus estava tão descontente com esse ato de idolatria nos dias de Moisés, que judicialmente entregou o povo ao culto ao exército do céu. E, em conseqüência direta, surgiu um sistema de adoração falsa, zombando das promessas e das esperanças dadas por Jeová. Eles carregavam no deserto um tabernáculo rival, dedicada ao rei Moloque, o rei do céu. Eles também carregavam a estrela de Renfã, que significa “O que cura”. Assim, em lugar vez de “O Senhor que te sara” (Jeová Rafá [heb.], Êx 15.26) e da estrela que procederia de Jacó, com o cetro que subiria de Israel (Nm 24.17), eles criaram uma falsa adoração de acordo com sua própria concepção. Jesus, em cujo nascimento apareceu a verdadeira estrela, Jesus, o verdadeiro Rei do céu e rei dos judeus, em Sua vida tinha se mostrado como o que curava cada enfermidade e cada doença das pessoas. Quando Jesus foi rejeitado, o julgamento de Deus sobre Israel poderia ter sido muito mais grave e Seu abandono mais completo no dia por vir do que no primeiro caso. Amós tinha previsto um cativeiro ainda por vir. E quando isso acontecer, poderia ser diferente de o templo reconstruído de Herodes ser novamente destruído, como tinha sido o anterior?9

Essa passagem do discurso de Estêvão é dirigida contra determinados idéias e fundamentos falaciosos de Israel sobre esse assunto, expressas do seguinte modo: “Deus não pode tirar-nos de novo de nossa terra, pois nós não somos idólatras, como nossos pais foram. Nós somos obedientes a Moisés, zelosos de suas leis, odiamos ídolos. A nós, então, e a nosso tempo pertencem as promessas de Jeremias, Ezequiel e Zacarias: de que Jerusalém, seu templo e sua nação não serão arrancados ou derrubados para sempre”.

Não é assim. Deus nunca perdoou Israel pelo pecado do bezerro (Êx 32.35). A idolatria irrompeu novamente na terra, e sob os reis (1Rs 12). Seu terceiro e último aspecto ainda está por vir, que será os dias de cativeiro de Israel, no dia da grande tribulação.

A parte do discurso de Estêvão que se segue refere-se à acusação de ele ter blasfemado contra o templo.

“Estava entre nossos pais no deserto o tabernáculo do testemunho [ou de testemunha], como ordenara Aquele que disse a Moisés que o fizesse segundo o modelo que tinha visto” (At 7.44).

Eles se gabavam do templo e de Moisés. Mas Moisés e os pais tinham apenas um templo em movimento. Aquele só era adequado para sua freqüente mudança de lugar. Ele também era “o tabernáculo do testemunho”, não “o templo da realização [dos tipos e das profecias]”. Esse edifício prestou testemunho em vários aspectos.

  1. Contra a idolatria dos israelitas. Não era o tabernáculo de Jeová um testemunho contra o de Moloque? Como o tabernáculo de Jeová, que comportava Sua arca da aliança, foi um testemunho das coisas melhores por vir de acordo com Suas promessas, assim o tabernáculo de Moloque era nada mais que um símbolo dos dias sombrios de juízo de Deus ainda por vir. O primeiro proclamava que povo deveria entrar na terra e os inimigos das tribos, exterminados, enquanto o outro indicava o triunfo dos inimigos de Israel e as tribos sendo varridas para fora da terra da promessa de Jeová.
  2. Mas o tabernáculo do testemunho feito por Moisés também fora um testemunho de um sistema de coisas ainda por vir, muito superior a si mesmo. Pois Moisés, como mediador de Israel, subiu a Deus, estava no meio do tabernáculo celestial e viu os modelos [pelos quais o tabernáculo e seus móveis deveriam ser feitos] lá em cima, os quais, quando desceu, deveria copiar. Assim, o tabernáculo terrestre e o templo que se seguiu foram testemunhas do tabernáculo celestial do qual Estêvão dava testemunho como sendo aquele em que Jesus tinha entrado. [Estêvão poderia ter dito:] “Vocês se vangloriam do tabernáculo terrestre. Mas os vasos e móveis dele são apenas cópias daqueles em meio aos quais nosso Mediador e Sacerdote ascenso, o Senhor Jesus, está ministrando (Hb 9). É onde Deus está agora, e Jesus é, como Moisés, Mediador de uma aliança, de uma melhor aliança, tanto quanto as coisas celestiais são superiores às da terra”.

“O qual [tabernáculo], nossos pais, recebendo-o também, o levaram com Josué [nome hebraico com o mesmo significado de Jesus: Jeová salva] quando entraram na posse das nações que Deus lançou para fora da presença de nossos pais, até os dias de Davi, que achou graça diante de Deus e pediu que pudesse achar tabernáculo para o Deus de Jacó. E Salomão lhe edificou casa” (At 7.45-47).

O lugar de adoração sob Moisés, e mesmo por quatrocentos anos, era apenas uma tenda, movida de um lugar para outro. Davi desejou construir uma casa para o Senhor, mas, ainda que tenha encontrado grande favor com Jeová, não lhe foi permitido. Foi muito significativo que Moisés não tenha podido levar seu povo para terra da promessa. Ele teve de dar lugar a Jesus (Josué, em hebraico). Não poderia, então, ser Jesus, a quem desprezaram, o conquistador, Aquele que lhes deve dar a posse de sua terra em um dia por vir e derrubar os inimigos gentios, como os profetas predisseram?

“Mas o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens, como diz o profeta: ‘O céu é o meu trono e a terra, o escabelo dos meus pés. Que casa me edificareis?’, diz o Senhor, ‘Ou qual é o lugar do meu repouso? Porventura não fez a minha mão todas estas coisas?’” (At 7.48-50).

Embora, no passado, o Senhor tenha prometido um dia habitar em Jerusalém, e no templo da cidade (S. 68.16; 132.14; Ez 43.7), isso ainda não foi cumprido. Ele havia deixado a terra e voltado ao céu, como mostrou Ezequiel (8.4; 9.3; 10.3,4,18,19; 11.22,23). Para lá Jesus tinha foi, como os apóstolos haviam testemunhado à nação de Israel (At 2; 3). Na devoção de Israel ao templo terreno, como o local de residência de Deus naquela época, a nação estava realmente lutando contra Deus.

Assim, o mártir tem mostrado que Jeová não estava vinculado a nenhum lugar de manifestação. Ele havia se revelado a Abraão na Mesopotâmia; a Moisés, na sarça do deserto e no topo da montanha. Então, Ele se mudou de lugar para lugar, com as peregrinações de Seu povo. Mesmo quando o povo entrou na terra, havia ainda apenas uma tenda, por longos anos. Embora Deus tenha prometido habitar no templo de Salomão, seria apenas em certas condições, com a quebra das quais o Senhor abandonaria a morada que o homem tinha feito. Portanto, não era uma blasfêmia contra Deus dizer, como Jesus tinha dito, que o templo reconstruído por Herodes deveria ser destruído.

“Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim, vós sois como vossos pais. A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que anteriormente anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora fostes traidores e homicidas; vós, que recebestes a lei por ordenação de anjos e não a guardastes” (At 7.51-53).

A circuncisão era o orgulho de israelitas. O mártir tira esse orgulho deles. Eles tiveram a circuncisão na carne, mas não no espírito; o sinal, não a coisa significada. Seu próprio Moisés os havia censurado, como sendo de dura cerviz, rebeldes contra Deus e cegos. Eles se recusaram a se converter do mal por qualquer testemunho (Lv 26.41; Dt 10.16). O coração deles rejeitava os mandamentos de Deus. Além disso, eles se recusavam até mesmo a ouvir as palavras do Senhor, proferidas por Estêvão, o inspirado, como, naquela ocasião, viriam a demonstrar.

Eram os homens diante de Estêvão melhores do que seus pais? De maneira nenhuma! Eles rejeitaram o Filho de Deus. Após o Espírito descer para dar testemunho do Filho, rejeitaram o Espírito também. Eles haviam rejeitado os profetas e os perseguido. Mesmo aqueles em cuja boca Deus havia posto mensagens de esperança, sobre o Libertador por vir, foram maltratados e mortos. Como, então, eles podiam imaginar que sua condenação nacional e oficial a Cristo realmente refutada as reivindicações que Ele fazia? Isso somente os condenava. Isso mostrou apenas que o espírito de todos de Israel ao longo do tempo era do mesmo tipo. Se eles mataram os precursores do Messias, homens inspirados pelo Espírito Santo, por que se admirar de que houvessem matado o próprio Messias?

Jesus aqui é identificado por um título particular: “o Justo”. Os salmos freqüentemente falam das aflições do justo. Os israelitas testemunharam de conspirar contra Ele, de discursar orgulhosamente contra Ele e de terem-No vendido. Mas tanto os salmos como os profetas testemunharam Sua glória futura. “Ele verá o fruto do trabalho da Sua alma e ficará satisfeito; com o Seu conhecimento o Meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniqüidades deles levará sobre Si” (Is 53.11). “Levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e agirá sabiamente, e praticará o juízo e a justiça na terra”(Jr 23.5; Zc 9.9).

Um homem foi distinguido acima do mundo dos pecadores como “Jesus Cristo, o justo” (1Jo 2.1). Como os israelitas tinham servido a Ele? Eles o traíram entregando-O aos romanos e levando-O à morte.

Mas eles não eram estritos observadores da lei? Não! Embora os anjos a tenham proclamado, eles e seus pais a haviam desobedecido toda, especialmente em sua recusa ao profeta predito por Moisés e pela crucificação do Justo.

Tal era o testemunho do Espírito Santo contra aqueles homens de justiça própria. Tal era o desmanchar-se de todos os seus argumentos! Uma declaração tranquila de fatos inegáveis dada por Deus espatifou todas as objeções de confiança deles. O efeito do discurso é dado notavelmente, mais ainda no original do que na tradução.

“E, ouvindo eles isto, enfureciam-se em seu coração e rangiam os dentes contra ele” (At 7.54).

Eles se recusaram a aceitar o testemunho. Portanto, eles estavam atribulados com a verdade. Ela não poderia ser negada. Era mais forte que o coração deles. Eles podiam resistir como madeira, mas a verdade era forte como ferro, afiada com muitos dentes como a serra10. Cada declaração era uma nova ponta a perfurá-los. Isso foi entregue com o poder do Espírito Santo. Eles não iriam ceder, mas exibiram com raiva seu ódio pela verdade. Eles eram como os próprios condenados. Ranger os dentes é uma das características dos perdidos. Aqui, os transgressores rangem os dentes contra o inspirado pelo Espírito Santo, o homem que era justo por meio da fé. Pois isso foi escrito: “O ímpio maquina contra o justo e contra ele range os dentes. O Senhor se rirá dele, pois vê que vem chegando o seu dia” (Sl 37.12,13; 112.10; 35.16).

O mensageiro do Senhor foi odiado com uma malícia que não pôde conter até mesmo sua expressão visível. Isso mostra quão completamente todo o discurso falou contra os sentimentos e os argumentos deles.

Faltava-lhes, porém, mais um ponto.

“Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus e Jesus, que estava à direita de Deus. E disse: ‘Eis que vejo os céus abertos e o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus’” (At 7.55,56).

Ele tinha provado o argumento de que Deus não estava ligado a qualquer lugar na terra. Ele tinha apresentado o testemunho de Moisés, de que havia um melhor santuário de Deus do que aquele que o homem edificou na terra. Ele citou o profeta como uma prova de que, nesta dispensação, Deus não habita em templos feitos por mãos na terra. Mas agora Estêvão está ainda a se tornar uma testemunha ocular do verdadeiro templo e da glória de Deus no céu. Lá, ele contempla a Jesus, a quem eles rejeitaram, de pé no lugar da mais alta honra com Deus, onde nem Moisés nem Elias são vistos.

O discurso tinha mostrado que, apesar da condenação dos israelitas a Jesus, Ele pôde subir aos céus. Mas agora Estêvão, com os olhos abertos pelo Espírito de Deus, pode testemunhar: “Ele está no céu, eu O vejo!”

Ele chama Jesus de “Filho do homem”. Esse é Seu título em Daniel 7.13,14. Foi Dele, então, que Daniel falou como o governante de toda a terra. Esse é o título do Governador de todas as coisas no céu e na terra (Sl 8) no prometido dia da glória.

Isso não podia ser suportado. Como a víbora surda, eles taparam os ouvidos, recusando-se a ouvir a verdade (Sl 58.4.) Eles se apressam sobre ele com pés ligeiros para derramar sangue. Eles lançam pedras, e dessa forma muitos puderam tomar parte em sua morte.

Eles o lançaram fora da cidade, como fizeram com nosso Senhor, porque o discípulo que é perfeito será como seu Mestre.

Ele ora a Jesus, como o Salvador, ao partir, orou ao Pai: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (At 7.59). O Redentor, então, é “o Senhor” do salmo 110. O Pai fez do Jesus rejeitado Senhor e Cristo. Estêvão, portanto, O tem como Adonai, ou Senhor, Senhor Jesus. “Senhor, não lhes imputes este pecado” (At 7.60). O antigo sumo sacerdote é contra ele, mas o novo Sumo Sacerdote no céu está do seu lado, uma Ajuda divina. Com o sangue da nova aliança é também vindo um novo espírito, muito além do antigo. Quando “o Espírito de Deus revestiu a Zacarias, filho do sacerdote Joiada” para testemunhar contra a idolatria de Israel, “eles conspiraram contra ele e o apedrejaram por mandado do rei, no pátio da casa do Senhor […] o qual, morrendo, disse: O Senhor o verá e o requererá” (2Cr 24.18-22). Assim, no mesmo ano, os inimigos entraram na terra, roubaram-na e mataram os príncipes do povo, enquanto o rei assassino era morto por seus próprios servos que conspiraram contra ele.

No caso do presente mártir, a terra se fechou contra o homem de fé, o inspirado pelo Espírito de Cristo. Mas o céu se abriu para ele, e, pela visão das glórias lá, ele pôde ignorar a tempestade na terra. A morte, para ele, foi roubada de seu aguilhão. Ele apenas “adormeceu” (At 7.60). Na primeira e bendita ressurreição ele reinará com seu Mestre.

De todo o argumento, então, vemos que uma nova dispensação deve surgir a fim de cumprir as promessas feitas aos patriarcas, a Israel e à Igreja de Cristo. O tempo do cumprimento das esperanças dos patriarcas nunca havia chegado a eles. Eles estão esperando. O banquete não pode começar até que todos os convidados estejam assentados e o Rei se coloque em Seu verdadeiro lugar (Mt 22.1-14). Para nós, se aceitos por Cristo, o lugar mais elevado na era que está chegando deverá ser atribuído (Hb 11.39,40).

Agora é o tempo da paciência de Deus, de chamamento de um mundo mau ao arrependimento, de chamamento para os homens de fé saírem do mundo a fim de trabalhar e sofrer por e com um Cristo rejeitado. O reino da glória por vir está diante de nós, como conforto para nós sob provações por Cristo e como recompensa e prêmio de nossa vocação (Fp 3). Logo, os dias de vingança pelo sangue dos mártires irão cair sobre a terra, e os discípulos vigilantes serão guardados da hora da tentação que há de vir sobre toda a terra habitável, para testar seus moradores e exibir sua pecaminosidade (Mt 23; 24; Ap 16). Naquele dia, a glória de Jesus vai encher o céu e a terra, e Israel vai lamentar sua cegueira e suas transgressões contra Ele. Então, aqueles que trabalharam por Cristo e sofreram com Ele, com Ele serão exaltados e reinarão mil anos (Ap 20.4-6).

Coragem, então, cristãos que sofrem por Cristo! A semente inferior de Abraão foi deixada em cativeiro e provações por 400 anos. Por que admirar-se, então, se a semente superior da fé de Abraão é chamada a sofrer muito e por um período mais longo? Nosso chamado não é para consertar o mundo e encontrar nossa porção aqui embaixo, nessa vida fugaz. Mas devemos esperar até que o Redentor vem, até que os mortos em Cristo despertem e o Salvador distribua Seus galardões a Seus servos fiéis. Que estejamos entre os que se reunirão em alegria naquele dia!

Notas

1 Judeus que anteriormente eram escravos romanos, mas haviam sido libertados por seus amos. (N. do E.)

2 “Jacó desceu ao Egito, e morreu, ele e nossos pais; e foram transportados para Siquém e depositados na sepultura que Abraão comprara por certa soma de dinheiro aos filhos de Hamor, pai de Siquém” (At 7.15,16). “A memória de Estêvão tropeçou aqui? Não foi de Efrom, o heteu, a sepultura que Abraão comprou (Gn 23)? E não estava a caverna de Macpela situada não em Siquém, mas em Hebrom?” Sim, se (1) a leitura do grego está correta e (2) se o mártir se refere à mesma transação registrada em Gênesis 23. (2) Mas, disso podemos bem duvidar. Nem tudo o que Abraão ou Jacó fez está escrito (48.22). (1) A leitura atual pode não ser aceita. Tregelles, com a autoridade de bons manuscritos, lê: “Que Abraão comprara por certa soma de dinheiro aos filhos de Hamor em Siquém”. (N. do E.)

A American Standard Version, a English Standard Version e a International Standard Version trazem essa forma, enquanto a tradução de Darby e a King James Version trazem “father” (pai) em itálico, indicando que a palavra não se encontra nos originais utilizados. (N. do T.)

3 Isto é, durante o tempo de Sua primeira vinda à terra, mas isso não se aplica ao futuro: “E ferirei de morte a seus filhos, e todas as igrejas saberão que Eu sou Aquele que sonda os rins e os corações. E darei a cada um de vós segundo as vossas obras” (Ap 2.23). (N. do E.)

4 Ver At 5.32. (N. do E.)

5 Moisés disse: “Toma minha vida”; Jesus deu Sua vida. (N. do E.)

6 Referência ao “servo, o justo” de Is 53.11. Paulo é o primeiro a dar testemunho de Cristo como “o Filho” (At 9). (N. do E.)

7 Mesma palavra de At 7.35. (N. do E.)

8 A palavra grega ekklesia é traduzida por “congregação” em At 7.38 (a KJ traduz por “igreja” nesse versículo), mas também por “igreja”, “ajuntamento” (19.32) e “assembléia” (vv. 39,41). (N. do T.)

9 Isso se refere ao cerco de Jerusalém no ano 70 (aproximadamente 35 anos após o discurso de Estêvão) pelo general romano Tito. Na ocasião, a cidade foi saqueada e o templo, queimado e demolido. (N. do T.)

10 “When they heard these things, they were cut to the heart” (KJV). Foram cortados, feridos, retalhados, lancetados, feridos no coração, como se tivessem sido serrados ao meio [idéia dada pelo verbo grego]. Todos ficaram cheios de angústia, com grande dor e desconforto; eles estavam cheios de ira e de loucura e não podia suportar nem a si mesmos nem a Estêvão. (John Gill, adaptado) (N. do T.)


(Traduzido por Francisco Nunes de Stephen’s Accusation, Defence, and Martyrdom, de Robert Govett. Você pode usar esse artigo desde que não o altere, não omita a autoria, a fonte e a tradução e o use exclusivamente de maneira gratuita. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)

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O Espírito vivificador (James Smith)

O Espírito dá vida!

“O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita” (Jo 6.63).

Toda a verdadeira religião1 começa com a vivificação do Espírito. Quando experimentamos isso…
começamos a desejar coisas espirituais,
abrimos os olhos para um mundo novo,
nos tornamos famintos e sedentos de justiça,
e, por fim, provamos que o Senhor é bom.

Temos, então…
novos pensamentos,
novos desejos,
novas esperanças,
novos temores,
novas alegrias e
novas dores.

Os olhos estão fixos em Cristo,
o coração segue Cristo e
o principal desejo da alma é ser como Cristo.

O Espírito não nos vivifica só no início, mas por toda a vida precisamos e somos dependentes da vivificação do Espírito. Ele nos vivifica a orar, e Ele nos vivifica em oração. É Seu vivificar que coloca…
vida em nossas ações de graças,
energia em nossas orações,
confiança em nossas expectativas e
nos permite resistir a Satanás, firmes na fé.

Se Seu poder vivificador é retido, rapidamente nos tornamos maçantes, frios, sem vida e inativos! Não temos…
nenhum poder na oração,
nenhum prazer em ordenanças,
nenhuma liberdade em falar aos santos2,
nenhum proveito ao ler a Palavra de Deus.

Todo dever se torna uma tarefa,
cada privilégio torna-se um fardo e
cada cruz parece insuportável!

Enquanto estamos sob a operação vivificadora do Espírito, podemos fazer todas as coisas. Mas, sem Seu vivificar, não podemos fazer nada.

Freqüentemente, muito freqüentemente, temos de clamar por amarga experiência: “A minha alma está pegado ao pó; vivifica-me segundo a Tua palavra!” (Sl 119.25).

“Espírito vivificador, vivifica minha alma todos os dias!”

Notas

1 Smith, assim como muitos autores do passado (Andrew Murray e Tozer, por exemplo), usa a palavra religião em um sentido positivo, significando relacionamento com Deus. Pode ser entendida como vida cristã. (N. do T.)

2 Isto é, os cristãos, os irmãos com quem nos reunimos. (N. do T.)


(Traduzido por Francisco Nunes. Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria e de tradução e seja exclusivamente para uso gratuito. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)

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Gideão e o sinal do velo

Devemos pedir sinais para conhecer a vontade de Deus?

Conhecer a vontade de Deus por meio de sinais?

Gideão havia recebido uma clara missão da parte de Deus: “Vai nesta tua força e livrarás a Israel das mãos dos midianitas” (Jz 6.14-16). Para isso, Deus lhe havia dado uma dupla promessa: Ele mesmo estaria com Gideão e lhe daria a vitória. Além disso, com paciência e amor Deus havia preparado a Seu servo Gideão para essa grande missão. Lemos sobre isso nos versículos 17 a 32. Agora, no versículo 33, havia chegado o momento em que Gideão devia começar sua tarefa.

O momento oportuno para cumprir a missão

O próprio Deus mostrou o momento preciso em que Gideão deveria agir. Esse momento foi tornado claro por meio de três acontecimentos:

  1. Os inimigos se preparavam para um combate (v. 33). Gideão não necessitou esperar muito tempo para que se apresentasse a ocasião de cumprir sua tarefa. O próprio Deus a apresentou: os inimigos se reuniram no vale de Jezreel. Isso foi um sinal evidente para Gideão de que havia chegado o momento exato para cumprir a missão dada por Deus. Por acaso, ele devia ficar de braços cruzados, olhando como os midianitas atacavam o povo de Israel? De modo algum! Ele tinha a clara missão de vencer Midiã. Agora Gideão tinha de agir, pois Deus lhe havia ordenado isso.
  2. O Espírito de Deus veio sobre Gideão (v. 34). Se, por um lado, Deus apresenta a ocasião, por outro, também dá toda a força e os recursos necessários. Assim, a pessoa pode levar a cabo com fidelidade a missão que lhe é dada. Isso foi o que aconteceu com Gideão: o Espírito de Deus veio sobre ele, e, com esse poder, Gideão pôde dar o primeiro passo. O fato de o Espírito de Deus tê-lo habilitado deveria ter tornado muito evidente de que, agora, lhe competia pôr-se em marcha.
  3. Tocar a trombeta teve um resultado (v. 34). Com o poder do Espírito de Deus, Gideão tocou a trombeta e viu o resultado que isso gerou. Primeiro, os homens do entorno (os abiezritas) vieram a ele; a seguir, os de Manassés, Aser, Zebulom e Naftali fizeram o mesmo. De boa vontade, ouviram o chamamento da trombeta e se reuniram com Gideão. Isso também era uma obra de Deus claramente reconhecível.

Nessa cena, a trombeta representa a Palavra de Deus. Quando Deus dá o poder de Seu Espírito para uma missão, também opera por meio de Sua Palavra. Ela produzirá resultado nos corações e confirmará o servo do Senhor como instrumento por meio do qual Ele deseja operar. Gideão experimentou isso, e ocorre o mesmo em nosso tempo. Se um servo comunica no momento certo a mensagem apropriada da Palavra de Deus, o efeito se manifestará.

Esses três acontecimentos não eram suficientes para que Gideão, confiando na ajuda de Deus, executasse a missão que havia recebido do próprio Deus? Ainda precisava de mais confirmações?

Gideão pede um sinal

Compreendemos muito bem que Gideão estava temeroso frente a enorme superioridade de seus inimigos. Mas também constatamos que os sinais não lhe deram mais segurança. Depois de Deus ter-lhe respondido claramente à primeira solicitação de um sinal, Gideão pediu um segundo. Não se sentiu mais seguro com o primeiro sinal. Mesmo depois de ter visto os dois sinais, Gideão continuou assustado. Suas mãos só se fortaleceram quando Deus o socorreu (7.9-14). Somente depois disso Gideão adorou e pôde empreender o combate com valentia e força.

Sem julgar Gideão, vemos que não é necessário, nem sequer útil, pedir sinais. Deus se mostrou misericordioso para com Gideão. Não reprovou Seu servo em nada e lhe permitiu ver a realização de seus rogos. No primeiro sinal, não lhe deu apenas um pouco de água no velo, mas uma medida transbordante, uma taça cheia de água. E no segundo sinal, não lhe deu apenas um pouco de água sobre a terra, mas “sobre toda a terra havia orvalho” (6.40). Essa é a soberana graça de Deus, da qual somente podemos nos maravilhar; mas, ao mesmo tempo, não ignoremos o fato de que faltou a confiança e o poder da fé a Gideão. Estejamos seguros de que Deus quer nos guiar mediante Seu Espírito ao nos dar Sua paz em nosso coração para a decisão correta. Não devemos exigir nem pedir sinais; com isso não ganhamos nada no processo de decisão. Isso vale ainda mais para nós, [cristãos], porque temos o Espírito de Deus morando em nós, diferentemente de Gideão, que era um crente do Antigo Testamento. Seria um desprezo a Deus se nos deixássemos dirigir por sinais exteriores em vez de deixar que Seu Espírito trabalhe em nós.

Como Deus deixa Sua vontade clara para nós

Freqüentemente perguntamos qual é a vontade de Deus para nossa vida. Alguns cristãos se perguntam durante toda a vida qual tarefa Deus preparou para eles (Ef 2.10) Quem permanece nesse estado provavelmente continuará se perguntando isso até o leito de morte. Nesse caso, o tempo em que podia ter cumprido a vontade de Deus terá sido gasto infrutuosamente. Mas Deus põe muitas tarefas diante de nós. Se estivermos dispostos a cumpri-las, Ele nos ajudará a reconhecer a tarefa essencial que tem preparada para nós. Considerando a vida de Gideão, vamos resumir como Deus deixa Sua vontade clara.

  1. Deus havia preparado Gideão para uma missão. Gideão conhecia os pensamentos de Deus com respeito a seu povo (Jz 6.13) e usava toda a sua energia para obter alimento (v. 11). Se nos ocuparmos com a Palavra de Deus, conheceremos os caminhos que Deus quer ensinar aos Seus e encontraremos no Senhor Jesus, o verdadeiro trigo, o alimento para a nova vida. Isso propiciará crescimento espiritual e nos preparará para conhecer cada vez mais a vontade de Deus para nossa vida.
  2. Deus falou a Gideão por meio de Seu anjo, ensinou-lhe a tarefa que deveria realizar e lhe mostrou os recursos para cumpri-la (vv. 14-16). Do mesmo modo, Deus falará conosco, por meio de Sua Palavra e de Seus servos, a fim de mostrar-nos o que deseja para nossa vida.
  3. Deus encontrou Gideão e lhe deu Sua paz (vv. 23,24). Essa paz (ou tranqüilidade) na comunhão com Deus lhe permitiu reconhecer a vontade específica de Deus e cumpri-la. Para nós também essa paz na comunhão com Deus é decisiva. “Desejo verdadeiramente cumprir a vontade de Deus?”
  4. Gideão recebeu uma tarefa para desempenhar diretamente em seu entorno, na casa de seu pai (v. 25). Cumpriu essa tarefa com fidelidade, ainda que tivesse medo dos homens. Em nossa caso também, esse é o caminho para progredir em reconhecer a vontade de Deus. Ele nos mostra coisa em nossa vida e em nosso entorno o que podemos fazer para Ele. Também nos mostra as coisas que devemos pôr em ordem para Lhe podermos ser úteis. Se estamos dispostos a obedecer a Deus nessas coisas, então, continuaremos crescendo espiritualmente e reconheceremos Sua vontade em outras situações da vida.
  5. Deus dirigiu a situação de maneira que os inimigos se reuniram. Assim, ficou claro para Gideão que havia chegado o momento e a necessidade de cumprir a tarefa. Deus também proporcionará situações assim em nossa vida.
  6. O Espírito de Deus veio sobre Gideão. Também a nós Deus quer igualmente guiar por Seu Espírito. O Espírito Santo, que hoje vive permanentemente em cada crente, nos mostra os pensamentos de Deus, nos ajuda a entender a Bíblia, a Palavra de Deus, opera em nós e nos guia passo a passo. Estamos dispostos a tirar todos os obstáculos para ser cheios Dele (Ef 5.18)?
  7. Por fim, Gideão tocou a trombeta e viu que, por meio disso, o povo se reuniu. Em sentido figurado, experimentou que a Palavra de Deus opera. Em nossa vida, também experimentamos – se lemos a Palavra de Deus e a aplicamos – como operar essa Palavra, a saber, em nossa própria vida e em nosso entorno.

Esses são alguns dos meios pelos quais Deus, por princípio, quer nos mostrar Sua vontade hoje. Temos notado que, por um lado, é importante estar preparados para reconhecer a vontade de Deus e, por outro, que há indicações concretas pelas quais distinguimos o bom caminho e o momento apropriado.

Para conhecer a vontade de Deus, não existe uma receita-padrão nem nos chegará diretamente uma voz ou uma carta do céu1. Os sinais exteriores, quando se manifestam, só são úteis em casos muito raros. É o que vemos no caso de Gideão e o velo. Sem dúvida, ainda hoje podemos experimentar que Deus nos mostra claramente Sua vontade se Lhe pedimos francamente e se temos a atitude correta em relação a Ele.

(Ch. Rosenthal, de Folge mir nach, 7/2014)

Conhecer a vontade de Deus

É muito natural para cada crente buscar e conhecer a vontade do Senhor. Sem essa ajuda e segurança interior, o cristão se sente perdido. Por isso, é para Ele uma verdadeira necessidade conhecer a vontade do Senhor antes de agir. Essa é a teoria. Lamentavelmente, a prática, com muita freqüência, é diferente.

No entanto, é de grande importância não fazer nada sem a dependência de nosso Deus. Dois versículos da Bíblia mostram isso: “Para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2). “Nós também […] não cessamos de orar por vós e de pedir que sejais cheios do conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual, para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-Lhe em tudo” (Cl 1.9,10).

Os pontos a seguir foram compilados por vários jovens após uma reunião compartilhada com eles.

Algumas condições

  1. Estar sinceramente disposto a obedecer à vontade de Deus, mesmo quando preferiríamos que ela fosse diferente. “Se alguém quiser fazer a vontade Dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus” (Jo 7.17).
  2. Uma atitude dependente de Deus.
  3. Estar disposto a esperar até que haja clareza. “Aquele que crer não se apresse” (Is 28.16).

Alguns impedimentos

  1. A decisão já havia sido tomada e pedimos a Deus que nos dirija. “E Ele lhes cumpriu o seu desejo” (Sl 106.15).
  2. Falta de fé. “Peça […] com fé, em nada duvidando; porque o que duvida […] Não pense […] que receberá do Senhor alguma coisa” (Tg 1.5-7).
  3. Motivos impuros. “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites” (Tg 4.3).
  4. Falsas expectativas. “Nós esperávamos que fosse Ele o que remisse Israel” (Lc 24.21).
  5. Impaciência. Leia 1Samuel 13.8-11.
  6. Falta de comunhão com Deus por causa de um pecado não julgado. Leia Provérbios 28.9; Salmo 66.18.
  7. Relacionamento desordenado com irmãos na fé. “Vai reconciliar-te primeiro com teu irmão” (Mt 5.23,24; Mc 11.25).
  8. Comportamento incorreto do marido no matrimônio. Leia 1Pedro 3.7.

Alguns auxílios

  1. O Espírito Santo
  2. Buscar a vontade de Deus em Sua Palavra, a Bíblia (com constância e perseverança).
  3. Orar sinceramente para ser dirigido e guiado, também nos pormenores da vida cotidiana.
  4. O conselho de irmãos espirituais (ainda que não digam sempre o que se quer ouvir).
  5. O conselho dos pais.
  6. As circunstâncias se desenrolam de maneira positiva? “Uma porta grande e eficaz se me abriu” (1Co 16.9).
  7. A paz interior na decisão.
  8. A oração de outros irmãos espirituais pelo assunto. Leia Daniel 2.17,18.

Perguntas de auto-análise

  1. É permitido? “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convêm” (1Co 10.23).
  2. É útil? (V. 23, primeira parte.)
  3. Edifica? (V. 23, segunda parte.)
  4. Serve para o bem de meu próximo? “Ninguém busque o proveito próprio; antes, cada um o que é de outro” (vv. 24,33).
  5. Posso dar graças a Deus por isso? “Eu com graça participo […]” (v. 30).
  6. É para a glória de Deus? “Fazei tudo para glória de Deus” (v. 33).
  7. Sou uma pedra de tropeço, motivo de escândalo? “Não deis escândalo” (v. 32).
  8. Nisso sou um imitador do Senhor Jesus e de Paulo? “Sede meus imitadores, como também eu de Cristo” (11.1).

(De Folge mir nach, 06/1996)

Nota

1Sobre isso, diz Augustus Nicodemus: “Quer ouvir Deus? Leia a Bíblia. Quer ouvir Deus audivelmente? Leia a Bíblia em voz alta.” (N. do T.)


(Traduzido por Francisco Nunes de Un mensaje bíblico para todos, 05-06/2015, publicado por Ediciones Bíblicas Para Todos (Suíça). Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria e de tradução e seja exclusivamente para uso gratuito. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)

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Presença de Deus (Watchman Nee)

A razão pela qual muitos cristãos não experimentam o poder do Espírito é que lhes falta reverência para com Ele. E falta-lhes reverência porque os olhos deles não foram abertos para o solene fato da presença divina habitando em nós. O fato é incontestável, porém eles ainda não se deram conta disso. Por que alguns filhos de Deus levam uma vida vitoriosa, enquanto outros se encontram em um estado de constante derrota? A diferença não se deve à presença ou ausência do Espírito (pois Ele habita em todo filho de Deus), mas a isto: alguns sabem que Ele habita em nós, e outros, não; e, consequentemente, alguns reconhecem a autoridade de Deus sobre sua vida, enquanto outros continuam sendo seus próprios mestres. Descobrir que seu coração é a habitação de Deus será uma revolução na vida de qualquer cristão.
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Uma surpreendente obra de Deus (1/2) (Kevin DeYoung)

Existem apenas algumas coisas que permanecem semanalmente na minha lista de oração. Uma delas é o avivamento ou reavivamento. Eu acredito que Deus tenha se movido no passado para inflamar grandes avivamentos. Eu acredito que ele pode fazê-lo novamente. E eu acredito que seria bom que os cristãos pregassem e orassem por um avivamento cristocêntrico em nossos dias, que ame o Evangelho, glorifique a Deus e seja dado pelo Espírito.

Claro, isso levanta a questão: o que é verdadeiro avivamento? Vou chegar a uma definição em um momento e falarei mais sobre o modelo bíblico de renovação e reforma no próximo texto, mas permita-me começar mostrando algumas noções falsas sobre avivamento.

Primeiro, avivamento não é reavivalismo. Obviamente, quando você adiciona o “ismo” isso soa assustador, mas eu acho que há uma distinção importante a defender. Entendo por reavivalismo um evento programado, produzido e determinado por homens. No início do século XIX, uma mudança profunda aconteceu. Considerando que antes avivamentos eram vistos como obras da soberania de Deus pelo que alguém orava e jejuava mas não conseguia planejar, a partir de 1800 os avivamentos tornaram-se produções programadas. Você poderia montar uma barraca e anunciar um avivamento na próxima quinta-feira. Se você colocar uma música nova aqui, um coral lá, um certo estilo de pregação, um banco para os pecadores arrependidos, você pode ter certeza de uma resposta. Isso é um avivamento feito por homens, não verdadeiro avivamento.

Segundo, avivamento não é individualismo. Com isso quero dizer que um avivamento é um evento corporativo. É uma coisa maravilhosa quando Deus muda um só coração, especialmente no meio de muitos ossos secos, mas não é disso que estamos falando. Quando Deus envia um avivamento, ele varre uma igreja inteira, várias igrejas ou comunidades, e toca uma diversidade de pessoas (por exemplo, jovens, velhos, ricos, pobres, educados, incultos). Não é apenas uma transformação individual, de tão maravilhoso que é.

Terceiro, avivamento não é emocionalismo. De fato, verdadeiro avivamento pode produzir grande emoção. Mas a emoção em si não indica uma verdadeira obra do Espírito. Você pode levantar as mãos, ou ficar duro, chorar histericamente, ou ter uma grande calma, cair no chão, saltar para cima e para baixo, gritar Amém, fazer orações altas ou suaves, se sentir muito espiritual ou se sentir muito insignificante. Estes são o que Jonathan Edwards chama de “não-sinais”. Eles não dizem nada de um jeito ou de outro. Se você levanta as mãos ao cantar uma canção de louvor, isso pode significar que você está encantado com o amor de Deus, ou pode significar que você tem uma personalidade expressiva e a música proporciona uma liberação de energia. Se você canta um hino com solenidade e gravidade, pode ser que você está cantando com profundo temor e reverência, ou pode significar que a sua religião é mero formalismo e você está realmente entediado. Verdadeiro avivamento é marcado por mais do que a presença ou ausência de emoção tremenda.

Quarto, avivamento não é idealismo. Avivamento não significa que o céu chega na terra. Ele não inaugura uma utopia espiritual. Não resolve todos os problemas da igreja. Na verdade, o avivamento, com todas as suas bênçãos, geralmente traz novos problemas. Muitas vezes existe controvérsia. Pode haver orgulho e inveja. Pode haver suspeita. E além dessas obras da carne, Satanás muitas vezes desperta falsos avivamentos. Ele semeia sementes de confusão e engano. Assim, tanto quanto nós devemos ansiar por avivamento, não devemos esperar que ele seja a cura para todos os problemas da vida, e muito menos um substituto para décadas de tranquilidade, obediência fiel e crescimento.

Então, o que é verdadeiro avivamento? Aqui está a minha definição: O verdadeiro avivamento é uma soberana, repentina e extraordinária obra de Deus pela qual ele salva pecadores e traz vida nova para o seu povo.

  • O verdadeiro avivamento é uma soberana (dependente do tempo de Deus, realizado por Deus , concedido conforme a vontade de Deus)
  • repentina (conversões, crescimento e mudanças acontecem de forma relativamente rápida)
  • extraordinária (incomum, surpreendente)
  • obra de Deus (não nossa)
  • pela qual ele salva pecadores (regeneração levando a fé e arrependimento)
  • e traz vida nova para o seu povo (com afeições, comprometimento e obediência renovados).

Um dos melhores exemplos do verdadeiro avivamento na Bíblia é a história de Josias, em 2 Reis 22-23. A história não é um projeto para ser imitado em todos os aspectos, especialmente porque Josias é rei sobre uma teocracia. Mas a história é instrutiva, na medida em que nos dá uma imagem de uma soberana, rápida e extraordinária obra de Deus.

Vamos ver com o que isso se parece no próximo texto.

Kevin DeYoung. Website: http://thegospelcoalition.org/. Original: A Surprising Work of God (1 of 2)

Traduzido por Annelise Schulz. Por iPródigo.com. Original: Uma surpreendente obra de Deus (1)

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Cumprimento das antigas profecias

Recebi por email muito tempo atrás. Não sei quem é o autor.
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Segundo o cristianismo, o Messias enviado por Deus para salvar o seu povo cumpriria tudo o que foi dito a respeito dele por parte do Senhor através dos profetas, como por exemplo:

  • Nasceria em Belém de Judá (Miquéias 5:2)
  • de uma virgem (gr. phanteros) (Isaías 7:14)
  • por intermédio de Deus (Salmos 2:7)
  • descendente de Jacó (Números 24:17)
  • da tribo de Judá (Gênesis 49:10)
  • iria para o Egito (Oséias 11:1)
  • surgiria da Galiléia (Isaías 9:1)
  • um mensageiro prepararia o seu caminho (Malaquias 3:1) clamando no deserto (Isaías 40:3)
  • o Espírito de Deus iria repousar sobre Ele (Isaías 11:2)
  • faria profecias (Deuteronômio 18:18)
  • abriria os olhos dos cegos e os ouvidos dos surdos (Isaías 35:5)
  • curaria os coxos e os mudos (Isaías 35:6)
  • falaria em parábolas (Salmos 78:2)
  • mesmo sendo pobre, seria aclamado rei, em um jumento (Zacarias 9:9)
  • seria rejeitado (Salmos 118:22)
  • traído por um amigo (Salmos 41:9)
  • por trinta moedas de prata (Zacarias 11:12)
  • moedas essas que seriam dadas a um oleiro (Zacarias 11:13)
  • seria ferido, e depois abandonado por seus discípulos (Zacarias 13:7)
  • seria acusado injustamente (Salmos 35:11)
  • seria ferido pelas nossas transgressões (Isaías 53:5)
  • não responderia aos seus acusadores (Isaías 53:7)
  • seria cuspido e esbofeteado (Isaías 50:6)
  • seria zombado depois de preso (Salmos 22:7,8)
  • teria os pés e mãos transpassados (Salmos 22:16)
  • na terra dos seus amigos (Zacarias 13:6)
  • junto com transgressores (Isaías 53:12)
  • oraria pelos seus inimigos (Salmos 109:4)
  • seria rejeitado e ferido por nossas iniquidades (Isaías 53:3-5)
  • lançariam sortes para repartir as suas vestes (Salmos 22:18)
  • o fariam beber vinagre (Salmos 69:21)
  • clamaria a Deus no seu desamparo (Salmos 22:1)
  • entregaria seu espírito a Deus (Salmos 31:5)
  • não teria os ossos quebrados (Salmos 34:20)
  • a Terra se escureceria, mesmo sendo dia claro (Amós 8:9,10)
  • um rico o sepultaria (Isaías 53:9)
  • assim como Jonas ficou três dias dentro do grande peixe (Jonas 1:17; Mat.16:21; Lucas 11:30)
  • Ele ressuscitaria (Salmos 30:3)
  • no terceiro dia (Oséias 6:2)
  • subindo também aos céus (Salm. 68:18; Atos 1:11)
  • e sendo recebido pelo seu Pai, à sua direita (Salm. 110:1; Atos 7:55)

Então, aproximadamente dois mil anos atrás, Jesus Cristo teria vindo ao mundo e teria cumprido essas profecias a respeito de sua primeira vinda.

  • Jesus Cristo, o último Adão, I CORÍNTIOS 15:45

 Os milagres relatados

As Curas

Mateus

Marcos

Lucas

João

Um leproso

8:2-4

1:40-42

5:12-13

O servo de um centurião romano

8:5-13

7:1-10

A sogra de Pedro

8:14-15

1:30-31

4:38-39

Dois endemoninhados gadarenos

8:28-34

5:1-15

8:27-35

Um paralítico

9:2-7

2:3-12

5:18-25

Uma mulher com hemorragia há 12 anos

9:20-22

5:25-29

8:43-48

Dois cegos

9:27-31

Um homem mudo e endemoninhado

9:32-33

Um homem com a mão definhada

12:10-13

3:1-5

6:6-10

Um endemoninhado cego e mudo

12:22

11:14

A filha endemoninhada de uma cananéia

15:21-28

7:24-30

Um menino lunático

17:14-18

9:17-29

9:38-43

Dois cegos

20:29-34

10:46-52

18:35-43

Um surdo que falava com dificuldade

7:31-37

Um endemoninhado na sinagoga

1:23-26

4:33-35

Um cego de Betsaida

8:22-26

Uma mulher que andava curvada

13:11-13

Um homem hidrópico

14:1-4

Dez homens leprosos

17:11-19

Um servo do sumo sacerdote

22:50-51

O filho enfermo de um nobre

4:46-54

Um enfermo do tanque de Betesda

5:1-9

Um homem cego de nascença

9:1-7

 

O Poder Sobre a Natureza

Mateus

Marcos

Lucas

João

Jesus acalma o vento e o mar

8:23-27

4:37-41

8:22-25

Jesus caminha sobre as águas

14:25

6:48-51

6:19-21

A 1ª multiplicação de pães e peixes

14:15-21

6:35-44

9:12-17

6:6-13

A 2ª multiplicação de pães e peixes

15:32-38

8:1-9

O peixe com uma moeda na boca

17:24-27

A figueira se torna estéril

21:18-22

11:12-14,20-25

A água é transformada em vinho

2:1-11

A 1ª pesca milagrosa

5:1-11

A 2ª pesca milagrosa

21:1-11

 

O Poder Sobre a Morte

Mateus

Marcos

Lucas

João

Ressurreição da filha de Jairo

9:18-25

5:22-24,35-42

8:41-56

Ressurreição do filho de uma viúva

7:11-15

Ressurreição de Lázaro em Betânia

11:17-45

Sua própria ressurreição

28:1-7

16:1-6

24:1-9

20:11-18

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Espírito Santo Martin Lloyd-Jones Santidade Vida cristã

Mortificando o pecado pelo Espírito Santo (D. M. Lloyd Jones)

“Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne. Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis” (Romanos 8.12-13).

 

A santificação é um processo em que o próprio homem desempenha uma parte. Nessa parte, o homem é chamado a fazer algo “pelo Espírito”, que está nele. Consideraremos agora o que exatamente o homem tem de fazer. A exortação é esta: “Se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo”. O crente é chamado a mortificar os feitos do corpo.

Temos, primeiramente, de abordar a palavra corpo, que se refere ao nosso corpo físico, nossa estrutura física, conforme vemos também no versículo 10. A palavra não significa “carne”. Até o grande Dr. John Owen se enganou neste ponto e trata a palavra como uma alusão à “carne” e não ao “corpo”. Mas o apóstolo, que antes falara tanto a respeito de “carne”, agora fala sobre o “corpo”. Ele fez isso no versículos 10 e 11, assim como o fizera no versículo 12 do capítulo 6. Paulo se referia a este corpo físico em que o pecado ainda permanece e que um dia será ressuscitado em “incorruptibilidade” e glorificado, para tornar-se semelhante ao corpo glorificado de nosso bendito Senhor e Salvador.

Enfatizo novamente que temos de ser claros neste assunto, porque está sujeito a ser mal entendido. O ensino não é que o corpo humano ou a matéria são inerentemente pecaminosos. Já houve heréticos que ensinaram esse erro conhecido como dualismo. Ao contrário disso, o Novo Testamento ensina que o homem foi criado bom tanto em corpo, alma e espírito. Não ensina que a matéria é sempre má e que, por essa razão, o corpo é sempre mau. Houve um tempo em que o corpo era… totalmente livre do pecado. Mas, quando o homem caiu e pecou, todo o seu ser caiu, e ele se tornou pecaminoso no corpo, mente e espírito.

Temos visto que pelo novo nascimento o espírito do homem é liberto. Ele recebe vida nova — “O espírito é vida, por causa da justiça” (Rm 8.10). Mas o corpo ainda “está morto por causa do pecado”. Esse é o ensino do Novo Testamento! Em outras palavras, embora o crente seja regenerado, ainda permanece em um corpo mortal. Por isso enfrentamos problemas para viver a vida cristã, visto que temos de lutar contra o pecado enquanto estivermos neste mundo, pois o corpo é fonte e instrumento de pecado e corrupção. Nossos corpos ainda não foram redimidos. Eles o serão, mas agora o pecado ainda permanece neles.

Conforme vimos, o apóstolo deixa isso bem claro. Em 1 Coríntios 9.27, ele disse: “Esmurro o meu corpo” (1 Coríntios 9.27), porque o corpo nos impele a obras más. Isso não significa que os instintos do corpo são em si mesmos pecaminosos. Os instintos são naturais e normais, não sendo, inerentemente, pecaminosos. Mas o pecado que permanece em nós está sempre tentando levar os instintos naturais a direções erradas. O pecado tenta levá-los a “afeições imoderadas”, a exagerá-los; tenta fazer-nos comer demais, satisfazer em excesso todos os nossos instintos, de modo que se tornem “imoderados”. Vendo esse assunto de outro ângulo, esse princípio pecaminoso tenta impedir-nos de dar atenção ao processo de disciplina e autocontrole ao qual somos constantemente chamados nas páginas das Escrituras. O pecado remanescente no corpo tende a agir dessa maneira. Por isso, o apóstolo fala sobre os “feitos do corpo”. O pecado tenta tornar o natural e normal em algo pecaminoso e mau.

O termo “mortificar” explica-se a si mesmo. “Mortificar” significa matar, trazer à morte… logo, a exortação diz que temos de matar, por um fim nos “feitos do corpo”. De uma perspectiva prática, esta é a grande exortação do Novo Testamento em conexão com a santificação e se dirige a todos os crentes.

Como devemos fazer isso?… O apóstolo esclarece: “Se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo” — pelo Espírito! É claro que o Espírito é mencionado particularmente porque a sua presença e sua obra são características peculiares do verdadeiro cristianismo. Isto é o que diferencia o cristianismo da moralidade, do “legalismo” e do falso puritanismo — “pelo Espírito”. O Espírito Santo, conforme já vimos, está em nós crentes. Você não pode ser um crente sem o Espírito Santo. Se você é um crente, o Espírito Santo de Deus está em você, agindo em você. Ele nos capacita, nos dá forças e poder. Ele nos traz a grande salvação que o Senhor Jesus Cristo realizou, capacitando-nos a desenvolvê-la. Portanto, o crente nunca deve se queixar de falta de capacidade e poder. Se o crente diz: “Eu não posso fazer isso”, está negando as Escrituras. Aquele que é habitado pelo Espírito Santo nunca deve proferir tais palavras; fazê-lo significa negar a verdade a respeito dele mesmo.

Conforme disse o apóstolo João, o crente é alguém que pode dizer: “Temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça” (Jo 1.16). No capítulo 15 de seu evangelho, João descreve os cristãos como ramos da Videira Verdadeira. Por isso, nunca devemos afirmar que não temos poder. Certamente, o Diabo está ativo no mundo e tem grande poder; contudo, “maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo” (1 Jo 4.4). Ou considere novamente aquela importante declaração feita em 1 João 5.18-19: “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado”. A expressão “não vive em pecado” expressa uma ação contínua no presente, e o sentido é este: “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive pecando”. Por que não? Porque “Aquele que nasceu de Deus” — ou seja, o Senhor Jesus Cristo — “o guarda, e o Maligno não lhe toca”.

João afirmou que isso é verdade em relação a todos os crentes. O crente não vive no pecado porque Cristo está vivendo nele, e o Maligno não pode tocar-lhe. Isso significa não somente que o Maligno não exerce controle sobre o crente, mas também que o Maligno não pode nem mesmo tocar-lhe. O crente não está sobre o poder do Maligno. E, para incutir isso no crente, João afirmou em seguida: “Sabemos que somos de Deus”; e quanto ao mundo: “O mundo inteiro jaz no Maligno” (1 Jo 5.19). O mundo está nos braços e domínio do Maligno, que o controla… O Diabo tem completamente em suas mãos e controle o mundo e os homens que pertencem ao mundo, os quais são suas vítimas indefesas. Não há sentido em dizer a tais pessoas que mortifiquem “os feitos do corpo”; elas não podem fazer isso, porque estão sob o poder do Diabo. Mas a situação do crente é outra; ele pertence a Deus e o Maligno não lhe pode tocar. O Diabo pode rugir para o crente e amedrontá-lo ocasionalmente, mas não pode tocar-lhe e, muito menos, controlá-lo.

Essas são afirmações típicas que o Novo Testamento faz a respeito do crente. E, quando compreendemos que o Espírito está em nós, experimentamos o seu poder. Somos chamados a usar e exercitar o poder que está em nós pela habitação do Espírito Santo. “Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne. Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito” — que habita em vós —, “mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis.” A exortação diz que devemos exercitaro poder que está em nós “pelo Espírito”. O Espírito é poder e está habitando em nós. Por isso, somos instados a exercer o poder que está em nós.

Mas, como isso se realiza na prática?… Para começar, temos de entender nossa posição espiritual, pois muitos de nossos problemas se devem ao fato de que não compreendemos e não recordamos quem e o que somos como crentes. Muitos se queixam de que não têm poder e de que não sabem fazer isto ou aquilo. O que precisamos dizer-lhes não é que eles são absolutamente incapazes e que devem desistir. Pelo contrário, todos os crentes precisam ouvir estas palavras de 2 Pedro 1.2-4: “Graça e paz vos sejam multiplicadas, no pleno conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor. Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade”. Tudo que “conduz à vida e piedade” nos foi dado por meio do “conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude”. E, outra vez: “Pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas [por meio dessas mui grandes e preciosas promessas] vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo”.

Apesar disso, há crentes que lamentam e se queixam de não terem forças. A respostas para esses crentes é esta: “Todas as coisas que dizem respeito à vida e à piedade lhes foram dadas. Parem de lamentar, murmurar e queixar-se. Levantem-se e usem o que está em vocês. Se vocês são crentes, o poder está em vocês pelo Espírito Santo. Você não estão desamparados”. Todavia, o apóstolo Pedro não parou ali. Ele disse também: “Aquele a quem estas coisas não estão presentes” — em outras palavras, o homem que não faz as coisas sobre as quais foi exortado — “é cego, vendo só o que está perto” (2 Pe 1.9). Ele tem uma visão curta, havendo “esquecido da purificação dos seus pecados de outrora”. Não possui uma visão verdadeira da vida cristã. Está falando e vivendo como se fosse uma pessoa não-regenerada. Ele diz: “Não posso continuar sendo cristão; é demais para mim”. Pedro exorta esse homem a compreender a verdade a respeito de si mesmo. Precisa ser despertado, ter seus olhos abertos e sua memória refrescada. Ele precisa se animar e fazer, em vez de lamentar as suas imperfeições.

Além disso, temos de compreender que, se somos culpado de pecado, entristecemos o Espírito Santo de Deus, que está em nós. Pecamos a todo momento. O fato deveras grave não é o de que pecamos e nos tornamos infelizes, e sim o de que entristecemos o Espírito de Deus que habita em nosso corpo. Quão frequentemente pensamos nisso? Acho que, ao falarem comigo a respeito desse assunto, as pessoas sempre falam sobre si mesmas — “meu erro”. “Estou sempre caindo nesse pecado.” “Este pecado está me desanimando.” Falam completamente a respeito de si mesmas. Não falam sobre o seu relacionamento com o Espírito Santo. E, por essa razão: o homem que compreende que o maior problema de sua vida pecaminosa é o fato de que está entristecendo o Espírito Santo, esse homem para de fazer isso imediatamente. No momento que o crente percebe que esse é o seu verdadeiro problema, ele lida com esse problema. Não se preocupa mais com seus próprios sentimos. Quando o crente compreende que está entristecendo o Espírito Santo de Deus, ele age imediatamente.

Outra consideração importante sobre este tema geral é o fato de que temos sempre de fixar-nos no alvo crucial. Pedro enfatizou isso no mesmo capítulo da sua epístola: “Procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 1.10-11). Se vocês fizerem o que exorto-os a fazer, ele disse, a morte, quando lhes chegar, será algo maravilhoso. Você não somente entrarão no reino de Deus; antes, terão uma entrada ampla. Haverá um desfile triunfante; os portões do céu serão abertos, e haverá grande regozijo. Pedro não estava se referindo à nossa salvação presente, e sim à nossa glorificação final, à nossa entrada nos “tabernáculos eternos” (Lc 16.9).

Portanto, temos de manter os olhos fixos nesse alvo. Nosso maior problema é que sempre estamos olhando para nós mesmos e para o mundo. Se pensarmos mais e mais sobre nós mesmos como peregrinos da eternidade (o que, de fato, somos), todo o nosso viver será transformado. Paulo afirmou isso no versículo 11 deste capítulo. Mantenham seus olhos nisso, eles disse em outras palavras; mantenham seus olhos no alvo. João disse a mesma coisa: “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é. E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro” (1 Jo 3.2-3). A causa de muitos de nossos problemas, como crentes, é que vivemos demais para este mundo. Persistimos em esquecer que somos apenas “peregrinos e forasteiros” neste mundo. Pertencemos ao céu; nossa pátria está no céu (Fp 3.20), e estamos indo para lá. Se apenas mantivéssemos isso diante de nossa mente, o problema de nossa luta contra o pecado assumiria um aspecto diferente…

Devemos nos mover agora do geral para o específico, relembrando-nos de que tudo é feito “pelo Espírito”, com uma mente iluminada por Ele. O que temos de fazer especificamente? O ensino do apóstolo pode ser considerado sob dois aspectos: direto e negativo, indireto e positivo.

No aspecto direto ou negativo, a primeira coisa que o crente tem de fazer é abster-se do pecado. É bem simples e direto! Pedro disse: “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma” (1 Pe 2.11). Esse é um ensino bastante claro. Aqui não há qualquer sugestão de que somos incapazes, temos de desistir da luta e entregar tudo ao Senhor ressuscitado. Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes…” — parem de fazer isso, parem imediatamente, não o façam mais! Vocês precisam se abster totalmente desses pecados, essas “paixões carnais, que fazem guerra contra a alma”. Vocês não têm o direito de dizer: “Sou fraco, não posso; as tentações são poderosas”.

A resposta do Novo Testamento é: “Parem de fazer isso”. Vocês não precisam de hospital e de um tratamento médico; precisam recompor-se e compreender que são “peregrinos e forasteiros”. “Exorto-vos… a vos absterdes.” Vocês não têm qualquer negócio com essas coisas. Lembrem outra vez o ensino de Efésios 4: “Aquele que furtava não furte mais… Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe”. Não haja em vocês nenhuma dessas conversas ou gracejos tolos! Não façam isso! Abstenham-se! É tão simples e claro como estas palavras: parem de fazer isso!

Em segundo lugar, de modo específico, citando outra vez as palavras do apóstolo em Efésios: “Não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as. Porque o que eles fazem em oculto, o só referir é vergonha” (Ef 5.11-12). Observe o que ele disse: “Não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas”. Vocês não devem apenas abster-se dessas coisas, mas também não ter comunhão com pessoas que fazem essas coisas ou têm esse modo de vida. “Não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as.” O princípio governante de sua deve ser o não associar-se com pessoas desse tipo. Fazer isso é ruim para você e lhe será prejudicial… Não devemos ter qualquer comunhão com o mal; antes, precisamos fugir dele e manter-nos tão distantes quanto pudermos.

Outro termo é “esmurrar” (1 Co 9.27). “Esmurro o meu corpo”, disse o apóstolo. “Todo atleta” — ou seja, aquele que compete nas corridas — em tudo se domina”. As pessoas que passam por treinos visando as grandes competições atléticas são bastante cuidadosas quanto à sua dieta; param de fumar e ingerem bebidas alcoólicas. Quão cuidadosos eles são! E fazem tudo isso porque desejam ganhar o prêmio! Se eles faziam isso, disse Paulo, por causa de coisas corruptíveis, quanto mais devemos disciplinar-nos a nós mesmos… O corpo tem de ser “esmurrado”. Nas palavras de nosso Senhor registradas em Lucas 21.34, há uma sugestão a respeito de como isso deve ser feito. Ele disse: “Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração fique sobrecarregado com as conseqüências da orgia, da embriaguez e das preocupações deste mundo, e para que aquele dia não venha sobre vós repentinamente”. Não coma bem beba demais; não se preocupe excessivamente com as coisas deste mundo. Coma o suficiente e o alimento correto; mas não se torne culpado de “excesso”. Se uma pessoas satisfaz em demasia seu corpo, com alimento, bebida ou outra coisa, ele achará mais difícil viver uma vida cristã santificada e mortificar os feitos do corpo. Portanto, evite todos esses obstáculos, pois, do contrário, seu corpo se tornará indolente, pesado, moroso e lânguido. Há uma intimidade tão grande entre o corpo, a mente e o espírito, que achará grande problema em seu conflito espiritual. “Esmurre o corpo.”

Outra máxima usada pelo apóstolo, na Epístola aos Romanos, se acha no capítulo 13: “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” (v. 14). Se querem mortificar os feitos do corpo, “nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências”. O que isso significa? Em Salmos 1, achamos um discernimento claro quanto ao significado dessas palavras do apóstolo. Eis a prescrição: “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores” (Sl 1.1). Se vocês querem viver esta vida piedosa e mortificar os feitos do corpo, não gastem tempo permanecendo nas esquinas das ruas, porque, se fizerem isso, provavelmente cairão em pecado. Se permanecerem no lugar por onde o pecado talvez passará, não se surpreendam se voltarem para casa em tristeza e infelicidade, porque caíram no pecado. Não se detenham no “caminho dos pecadores”. E, menos ainda, devem vocês assentar-se “na roda dos escarnecedores”. Se permanecerem em tais lugares, não haverá surpresa em caírem no pecado. Se vocês sabem que certas pessoas lhes são má influencia, evitem-nas, fujam delas. Talvez vocês digam: “Eu me ajunto com elas para ajudá-las, mas percebo que, todas as vezes, elas me levam ao pecado”. Se isso é verdade, não estão em condições de ajudá-las…

No livro de Jó, o homem sábio disse: “Fiz aliança com meus olhos” (Jó 31.1). Era como se dissesse: “Olhem diretamente, não olhem para a direita ou para a direita. Cuidem de seus olhos propensos a vaguear, esses olhos que se movem quase automaticamente e veem coisas que iludem e induzem ao pecado”. “Faça uma aliança com os seus olhos”, declara esse homem. Concorde em não olhar para coisas que tendem a levá-lo ao pecado. Se isso era importante naqueles dias, é muito mais importante em nossos dias, quando temos jornais, cinemas, outdoors, televisão e assim por diante! Se há uma época em que os homens precisam fazer aliança com seus olhos, esta época é agora. Tenham cuidado com o que leem. Certos jornais, livros e diários, se os lerem, eles lhes serão prejudiciais. Vocês devem evitar tudo que lhes prejudica e diminui sua resistência. Não olhem na direção dessas coisas; não queira nada com elas… Na Palavra de Deus, vocês são instruídos a mortificar “os feitos do corpo” e não satisfazer “a carne no tocante às suas concupiscências”. Agradeça a Deus pelo evangelho poderoso. Agradeça a Deus pelo evangelho que nos diz que agora somos seres responsáveis em Cristo e que nos exorta a agir de um modo que glorifica o Salvador. Portanto, “nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências”.

Meu próximo assunto é sobremodo importante: enfrentem as primeiras movimentações e impulsos do pecado em vocês; combatam-nos logo que aparecerem. Se não fizerem isso, estão arruinados. Vocês cairão, conforme somos ensinados na epístola de Tiago: “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte”. O primeira moção do pecado é um encantamento, um leve incitação de cobiça e sedução. Esse é o momento em que temos de lidar com o pecado. Se deixarem de enfrentar o pecado nesse estágio, ele os vencerá. Cortem o mal pela raiz. Ataquem-no de imediato. Nunca lhes permitam qualquer avanço. Não o aceitem de maneia alguma. Talvez sintam-se inclinados a dizer: “Bem, não farei tal coisa”; mas, se aceitam a ideia em sua mente e começam a afagá-la e entretê-la em sua imaginação, vocês já estão derrotados. De acordo com o Senhor, vocês já pecaram. Não precisam realmente cometer o ato; nutri-lo no coração já é o suficiente. Permitir isso no coração significa pecar aos olhos de Deus, que conhece tudo a respeito de nós e vê até o que acontece na imaginação e no coração. Portanto, destruam o mal pela raiz, não tenham qualquer relação com ele, parem-no imediatamente, ao primeiro movimento, antes que comece a acontecer esse processo ímpio descrito por Tiago.

No entanto, lembrem-se de que isto — que será nosso próximo assunto — não significa repressão. Se vocês apenas reprimirem uma tentação ou esse primeiro movimento do pecado, ele provavelmente surgirá novamente com mais vigor. Nesse sentido, concordo com a psicologia moderna. A repressão é sempre má. “Então, o que devo fazer?”, alguém pergunta. Eu respondo: quando sentir aquele primeiro movimento do pecado, erga-se e diga: “Isto é mau; isto é vileza; é aquilo que expulsou do Paraíso os nossos primeiros pais”. Rejeite-o, enfrente-o, denuncie-o, odeie-o pelo que é. Assim, terá lidado realmente com o pecado. Você não deve apenas fazê-lo recuar, com um espírito de temor e de maneira tímida. Traga-o à luz, exponha-o, analise-o e, denuncie-o pelo que ele é, até que o odeie.

Meu último assunto neste tema é que, se você cair no pecado (e quem não cai?), não restaurem a si mesmos de modo superficial e apressado. Leiam 2 Coríntios 7 e considerem o que Paulo disse sobre a “a tristeza segundo Deus” que produz arrependimento. Outra vez, tragam à luz aquilo que fizeram, contemplem-no, analisem-no, exponham-no, denunciem-no, odeiem-no e denunciem a si mesmos. Mas não façam isso de um modo que os atire nas profundezas da depressão e desânimo! Sempre tendemos a ir aos extremos; ou somos muito superficiais ou muito profundos. Não devemos curar superficialmente a ferida (cf. Jr 6.14), mas tampouco devemos lançar-nos no desespero e melancolia, dizendo que tudo está perdido, que não podemos ser crentes, e retornar ao estado de condenação. Isso é igualmente errado. Temos de evitar ambos os extremos. Façam uma avaliação honesta de si mesmos e do que fizeram, condenando totalmente a si mesmos e seu ato; porém compreendam que, confessando-o a Deus, sem qualquer desculpa, “ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.9). Se vocês fizerem essa obra de maneira superficial, cairão novamente no pecado. E, se vocês se lançarem em um abismo de depressão, hão de sentir-se tão desesperados que cairão em mais e mais pecado. Uma atmosfera de melancolia e fracasso leva a mais fracasso. Não caiam em nenhum desses erros, mas respondam à obra da maneira como o Espírito sempre nos instrui a fazê-la.

 

Extraído de Romans: Na Exposition of Chapter 8:15-17, The Sons of God, p. 132-144, publicado pela Banner of Truth Trust.

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Tradução: Pr. Wellington Ferreira

© Editora FIEL 2009.

O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.

(Fonte)

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