Deus usa homens que são fracos e frágeis o suficiente para se apoiarem Nele.
(Hudson Taylor)
Se quisermos obter de Deus tudo o que Lhe pedimos, as palavras de Cristo devem permanecer ou continuar em nós. Devemos estudar Suas palavras, devorar regularmente Suas palavras, deixá-las penetrar em nossos pensamentos e em nosso coração, mantê-las na memória, obedecer a elas constantemente, deixá-las moldar e conformar nossa vida diária e todos os nossos atos. Esse é realmente o método de permanecer em Cristo.
(R. A. Torrey)
Devemos afastar nossa mente de tudo que possa nos desviar, na carreira cristã, de olhar para Jesus.
(Isaac Ambrose)
Viva para ser esquecido, para que Cristo seja lembrado.
(Dixon Edward Hoste)
Deus sempre manterá Suas palavras e promessas e provará que são verdadeiras, para que seja visto como totalmente digno de confiança.
(Herman Bavinck)
Tenha coragem e não tema seguir um Jesus crucificado fora do arraial, carregando Sua sagrada reprovação.
(George Whitefield)
Quão incoerente! Reconhecer que sou cego, suplicar-Lhe que me conduza e, ainda assim, querer, ao mesmo tempo, escolher meu próprio caminho.
(John Newton)
O objetivo de Cristo, quando Ele traz os crentes à união Consigo mesmo, é resgatá-los e purificá-los absoluta e perfeitamente; portanto, os resíduos presentes de algumas contaminações não são absolutamente inconsistentes com essa união.
“Também dizei a Arquipo: Atenta para o ministério que recebestes do Senhor, para o cumprires” (Cl 4.17).
Terminando sua carta à igreja em Colossos, Paulo chamou a atenção de um daqueles irmãos de uma maneira que também chama nossa atenção. Quem era Arquipo? Qual era seu ministério? Por que Paulo achou necessária essa exortação pessoal numa carta pública? Embora tenhamos poucas informações nas Escrituras sobre Arquipo, podemos descobrir algumas coisas sobre ele que também são importantes para nossos dias.
Comparando essa carta com a carta a Filemom, ficamos convencidos de que Arquipo é o mesmo citado em Filemom 2, que era parente de Filemom e Afia, e ajudava muito na igreja em Colossos, que se reunia na casa de Filemom.
Paulo o chamou de “companheiro de lutas”, indicando que, em seu ministério, Arquipo enfrentava dificuldade e oposição do mesmo tipo que Paulo enfrentava no ministério a favor daquela igreja. Em Colossenses 2, Paulo revela que essa “luta” era principalmente contra os falsos ensinadores que estavam procurando infiltrar-se naquela igreja. Esses confiavam em seus “raciocínios” e “filosofias” sobre a pessoa do Senhor Jesus Cristo (vv. 4,8). Ensinavam a necessidade de não comer certas comidas e de guardar o sábado (v. 16). Baseavam seus ensinos nas “visões” que receberam (v. 18). Tudo isso nos mostra que o ministério de Arquipo era também lutar contra estas “doutrinas dos homens”, ensinando o valor da pessoa e da obra do Senhor Jesus Cristo, em quem “habita corporalmente toda plenitude da Divindade” (Cl 2.9).
Nós temos a mesma luta hoje, com tantas seitas falsas propagando idéias baseadas em sabedoria humana, na lei, em visões, etc. Um pouco de meditação aqui revelará que os erros ensinados hoje são idênticos à situação em Colossos, quando Paulo e Arquipo lutavam pelo Evangelho verdadeiro. Não podemos nos calar sobre este grande perigo satânico que procura infiltrar, misturar e destruir o testemunho verdadeiro do Senhor Jesus Cristo com seu fermento ecumênico. A maneira mais usada por Satanás hoje não é a perseguição violenta, mas a imitação e a mistura com as denominações, até a igreja local perder completamente sua função divina como “santuário de Deus” e se tornar parte de uma organização humana com seu evangelho social que somente produz muito joio e pouco trigo. Não devemos ser enganados pelo crescimento rápido dessas seitas — “eles procedem do mundo; por esta razão falam da parte do mundo, e o mundo os ouve” (1Jo 4.5).
Notamos também que Arquipo recebeu este ministério “do Senhor”. Não foi um ministério escolhido por ele, nem dado por anjos ou por homens. Paulo nem precisava explicar para Arquipo qual era o ministério dele; ele bem o sabia, e a igreja em Colossos também sabia como era importante aquele ministério em dias de muitos falsos ensinos.
Como Arquipo, todos os filhos de Deus receberam um ministério do Senhor. “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu” (1Pd 4.10). Não podemos escolher nosso serviço ao Senhor; é Ele quem escolhe para nós. Se procurarmos fazer algo que Ele não escolheu, haverá confusão e não bênção; mas, quando todos os membros do Corpo sabem, e fazem, seu trabalho, haverá paz e bênção e crescimento na igreja.
Por que esta exortação pessoal numa carta pública? Sem dúvida, foi uma surpresa para Arquipo ouvir seu nome mencionado por Paulo dessa maneira. Parece que não havia motivo visível para essa mudança na atitude do apóstolo, e claramente Arquipo não estava sob disciplina, ou Paulo não podia encorajá-lo assim sem primeiro saber de seu arrependimento e restauração à comunhão da igreja.
Contudo, alguma coisa tinha acontecido para o desanimar no ministério. Provavelmente, ele estava cansado e pensava em “parar um pouco” ou que já tinha cumprido seu trabalho. Paulo não podia esconder sua preocupação por dois motivos: a igreja precisava muito do ministério de Arquipo, e também Arquipo estava perdendo o galardão que o Senhor queria lhe dar mais tarde. “Se perseveramos, também com Ele reinaremos; se O negarmos, Ele por Sua vez nos negará” (2Tim 2.12).
Parece-nos que há muitos “Arquipos” nas igrejas que conhecemos, e para falar a verdade, quem entre nós não sente a tentação de “parar um pouco” na luta? Temos de lembrar que o único motivo justo para parar é quando chegarmos ao “fim” (Hb 6.11), quando o Senhor nos chamar para o descanso, ou por Sua vinda ou pela morte. João Batista “completou sua carreira” (At 13.25), mas somente quando desceu sobre seu pescoço a espada de Herodes. Paulo completou sua carreira, mas somente quando o tempo de sua partida tinha chegado (2Tm 4.6).
Não existe aposentadoria no serviço de Deus! Quando alguém falou sobre aposentadoria a um estimado e ativo servo de Deus, agora com Ele, mas naquele tempo com mais de noventa anos, ele respondeu que Satanás tinha trabalhado muito mais do que ele e nem pensava em parar, mas de fato trabalha mais agora do que nunca!
Gostaríamos de saber mais sobre o resultado desta exortação de Paulo. Sem dúvida, foi forte o remédio! Arquipo já está com Cristo, passou o tempo de servir. Será que podemos duvidar do valor da exortação que recebeu? Cremos que ele será sempre grato pelo “remédio” que recebeu naquele dia, mesmo que tenha sido uma injeção bastante dolorida na hora!
Esta exortação foi colocada na Escritura, não somente para Arquipo, mas também para cada um de nós. Seria muito triste, depois de ter corrido bem, parar agora, tão perto do fim da corrida, e perder o prêmio. Que Deus encoraje a cada um de nós a cumprir o ministério que Ele nos deu, pois, embora a luta seja grande, o fim está perto e a vinda do Senhor está próxima.
Agora desejo com Cristo viver,
com Ele a carreira acabar;
pois sei que, no meio das perturbações,
com Jesus sempre em paz posso estar.
“Concedeu-lhes o que pediram, mas fez definhar-lhes a alma” (Sl 106.15).
O evangelho coloca diante de nós Cristo e seu Reino em contraste com o mundo e suas atrações. Insta conosco para escolher. De fato, toda sua influência é direcionada para mostrar que a escolha é inevitável. Mas, quando a vontade faz sua escolha eterna e abre sua vida ao reinado e governo do Salvador, somente o primeiro passo na vida cristã foi dado. Existe diante de nós todo um caminho de peregrinação que teremos de percorrer com paciência na companhia de nosso Senhor.
E, no decorrer deste caminho, sempre rondando nossos passos, existe a cilada sutil de se escolher um bem menor. Pois a vida é uma longa série de escolhas, escolhas que precisam ser feitas diariamente, entre aquilo que é supremo e superior e aquilo que é secundário, entre o que agrada a si mesmo e o que agrada a Deus.
O perigo mais comum não é o que muitos imaginam: desviar-se e cair no pecado. É antes a tentação que aparece com freqüência alarmante de escolher o bom em vez do melhor, de escolher algo que tem inúmeros pontos a favor, mas não é a vontade explícita de Deus para nós.
Quando nos comprometemos a qualquer outro curso de vida, que não seja de absoluta fidelidade ao bem superior, estamos nos posicionando lamentavelmente fora do contato vivo com Deus, que às vezes pode conceder-nos nossos desejos e, ao mesmo tempo, deixar nossa alma definhar-se.
Israel, a quem este texto em Salmos se refere, foi um forte exemplo disso. O propósito de Deus para a nação era que não tivesse um soberano terreno; Ele mesmo seria seu Senhor e seu Rei. Israel seria exemplo e modelo ao mundo inteiro. Mas Israel se rebelou. O povo queria ser igual, e não diferente, às outras nações. Pediram um rei para guiá-los à batalha; queriam um monarca com toda a pompa e todo o esplendor.
Mesmo assim, Deus não os deixou a seus próprios desejos nem os rejeitou. Com efeito, Deus disse a Samuel: “Muito bem; nomeie um rei para eles; não estão escolhendo o melhor, e vou permitir que tenham o bem inferior escolhido por eles mesmos. É a única maneira de mostrar-lhes a tolice do que estão fazendo.”
A história subseqüente da nação mostrou realmente o perigo de se escolher um bem inferior. Israel tinha uma posição geográfica crucial e visada por todos os povos que levantavam impérios. Desta forma, era mais importante ainda que estivesse sob a proteção de Deus. Mas escolheu um caminho diferente, e qual foi o resultado? Desastre após desastre em guerras e conquistas por outros povos. A terra foi dilacerada por dissensões e agitações e, por fim, o povo foi retirado e levado ao cativeiro.
Se essas ilustrações de um princípio de vida puderem servir de alguma forma para nós, certamente seria para mostrar a ênfase que Deus dá às escolhas que são feitas em cada crise moral e espiritual. É comum dizer que nossas escolhas atestam nosso caráter e que a direção a que a mente da pessoa se volta involuntariamente mostra que tipo de pessoa é. A seriedade da vida é que cada dia somos testados a respeito dos fundamentos e inspirações vitais de nosso ser.
Há momentos em que somos tentados a seguir rumos em que ganho material e vantagem pessoal estão em primeiro lugar. Somos tentados a garantir para nós mesmos vantagens atuais, e a colocar conforto, facilidade e prosperidade como nossos objetivos principais. Perguntamos: “Não podemos tirar proveito máximo dos dois reinos?”
O perigo é, ao tentar conciliar as duas coisas, escolhermos o bem inferior. E, se isto acontecer, Deus não nos abandonará, pois Ele nunca faz isso. Mas Ele permite que a escolha inferior corrija nossa vontade própria e nos conduza de volta ao lugar de obediência de todo coração a Ele.
A escolha de um bem inferior pode resultar no abafamento de nossos instintos mais espirituais, na perda de uma comunhão mais íntima com Deus e na ausência daquela divina parceria de poder em que Deus fortalece e usa as pessoas para Sua glória.
É sempre um grande desafio de fé compreender o que é o melhor de Deus, mas, quando o reconhecemos, isso traz a exigência imediata de uma resposta. Seguir a luz divina que vem para nos guiar e submeter todas as nossas escolhas à vontade de Deus são os testes mais severos que a vida nos reserva. Mas feliz de fato é o homem cuja coragem não hesita, cujos ideais não são renegados, na hora de sua provação.
Nossa vida presente e o treinamento que temos aqui são apenas uma preparação para o serviço eterno. A escolha de um bem inferior sempre resultará no empobrecimento da influência presente, pois, se um homem quiser exercer influência superior, ele deve viver em função das coisas superiores.
Sabemos de pais que se dizem cristãos, mas cuja escolha de um bem inferior se reflete na vida insatisfatória de seus filhos. Em vez de buscarem primeiro o reino de Deus, a perspectiva de sua vida no lar é influenciada em grande medida pelo mundo, pelas convenções da sociedade, não pelas convicções do coração. E seus filhos tomaram uma medida muito inferior de Deus por causa dessa imagem distorcida que os pais refletiram.
O Exemplo de Nosso Senhor
Nem tudo é desalento, porém. Para nos aliviar no meio de todas essas advertências, temos sempre presente a inspiração da própria vida do Senhor, na qual encontramos o mais forte apelo ao nosso coração para escolher o mais alto. Pois, ao lermos o registro de Sua vida, nos dias de Sua carne, vemo-Lo como aquele que sempre, coerentemente, escolhia o melhor de Deus. “Desci do céu, não para fazer a Minha própria vontade, e, sim, a vontade Daquele que Me enviou” (Jo 6.38). “O Filho do homem […] não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20.28).
E, no fim de Sua vida, quando o cálice estava cheio, amargo e pesado, ouvimo-Lo no Jardim, ainda fiel ao propósito governante de Sua vida redentora: “Todavia não seja o que Eu quero, mas o que Tu queres” (Mc 14.36). E, escolhendo o melhor de Deus, Ele bebeu o cálice até o fim.
Para os homens hoje, o melhor de Deus se expressa no chamado de Cristo: Segue-Me. Segui-Lo corajosa, coerente e lealmente é escolher a melhor e mais alta de todas as alternativas da vida.
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J. Stuart Holden era um pregador anglicano e um dos palestrantes regulares das famosas Conferências Keswick na Inglaterra no início do século 20.
O capitulo 24 de Gênesis é um dos mais impressionantes e magníficos relatos do Antigo Testamento. Isaque, o filho amado, é uma imagem de Cristo, o homem celestial ressuscitado, que antes, em figura, havia morrido (cap. 22). O desejo de Abraão de que Isaque tivesse uma esposa simboliza o mesmo desejo do coração de Deus para que Cristo tenha uma esposa idônea. Por último, essa missão é encomendada a um servo cujo nome não é mencionado, que vai a um país distante a fim de cumprir a vontade de seu senhor e volta trazendo Rebeca. Isso nos fala da operação do Espírito Santo, que trabalha incansavelmente a fim de tomar deste mundo uma esposa para o Cordeiro. Mas gostaríamos que essas verdades não somente sejam compreendidas em nosso espirito, mas também tenham um poderoso efeito em nossa alma.
Todo este capítulo é magnífico. Do início ao fim, Isaque se constitui o centro e o objeto. Abraão o amava e lhe deu tudo o que possuía (24.36). Lemos o mesmo a respeito de Cristo: “O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou nas Suas mãos” (Jo 3.35). O servo de Abraão não busca nada para si nem fala de si mesmo. Seu objetivo é cumprir a vontade de Abraão; faz tudo para Isaque. Da mesma forma, lemos a respeito do Espírito Santo: “Quando vier o Espirito da verdade, Ele vos guiará em toda a verdade, porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir. Ele Me glorificará, porque há de receber do que é Meu, e vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é Meu; por isso vos disse que há de receber do que é Meu e vo-lo há de anunciar” (Jo 16.13-15).
Rebeca, ainda sem ter visto Isaque, é atraída por ele. Ela segue seu caminho com o fim de juntar-se a seu esposo sabendo somente o que o servo lhe tinha dito de Isaque. Concernente aos cristãos, a Palavra diz: “Jesus Cristo, ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso” (1Pe 1.7,8).
O desejo de Abraão, a atividade do servo, o amor de Rebeca: tudo é para Isaque. Que grande dia na vida espiritual do cristão quando considera que todos os pensamentos do Pai têm a Cristo como objeto e que a atividade principal do Espirito Santo, enviado pelo Pai, é revelar-lhe as glórias de Cristo, de maneira que seja atraído somente a Ele! O resultado desse afeto por seu Senhor é estar unido ao Objeto amado de seu coração! Dessa maneira, nossos afetos se distanciam do mundo e suas vaidades e se concentram em Cristo, contemplando-O em glória e esperando aquele dia no qual O veremos.
A missão do servo era encontrar uma esposa para o filho de seu senhor, e Abraão, por meio de um solene juramento, lhe encomendou que seu filho não voltasse àquele lugar, mas, dali, lhe tomasse uma esposa e a levasse para longe de sua terra a fim de a levar onde Isaque se encontrava. Se não compreendemos bem este importante ponto, isto é, que a Igreja é tomada deste mundo para pertencer a Cristo onde Ele está, enganaremos a nós mesmos com respeito a essa solene verdade a respeito de Cristo e Sua Igreja e no que concerne à atividade do Espirito Santo na Terra. A Igreja, então, como esposa do Cordeiro, deve ser conduzida pelo Espirito Santo ao lugar onde Cristo se encontra. A ignorância sobre essa grande verdade levou muitos cristãos piedosos a associar o nome de Cristo com movimentos que, por mais úteis que sejam, somente têm a visão fixa no mundo atual. Essa mesma ignorância também faz com que muitos outros se ocupem apenas com as próprias circunstâncias e tenham por único objetivo viver uma vida sem dificuldades aqui na Terra.
“Agora, pois, se vós haver de fazer benevolência e verdade a meu Senhor […]”, isto é, atuar de maneira justa e boa em relação a ele, era o que o servo havia pedido (Gn 24.49). Esse é o chamamento que o Espirito Santo faz hoje em dia. O cristão que ignora os direitos que pertencem unicamente a Cristo não se conduz de maneira justa e piedosa com respeito a Ele e ao Pai. Para poder seguir Aquele que se deu por nós e empreender nosso caminho para ir a Seu encontro, devemos, pois, dar as costas ao mundo, que sempre nos incita a ser infiéis ao Senhor. Isso não acontecerá a menos que Cristo seja um objeto muito mais brilhante e mais valioso que as melhores coisas que possamos encontrar neste mundo.
O cristão que se compromete com o mundo se esqueceu que a Igreja foi desposada com um só marido para ser apresentada como uma virgem pura a Cristo (2Co 11.2).
Mas não é somente o mundo que mantém nosso coração longe de Cristo; às vezes, nossos relacionamentos naturais também representam obstáculos que atrapalham nossa caminhada em direção a Ele. Assim, por exemplo, vemos que a mãe e o irmão de Rebeca tentam reter a jovem, impedindo que ela vá o mais rápido possível ao encontro de Isaque. Na opinião deles, não havia nenhuma razão pela qual fazer essa viagem: “Fique a donzela conosco alguns dias, ou pelo menos dez dias, depois irá”. A isso, o servo responde de imediato: “Não me detenhais” (Gn 24.55,56).
Quero insistir neste último ponto. Creio que a voz do Espírito pode se fazer compreender com clareza por meio dessas palavras. E o que tem ouvidos, ouça o que o Espírito tem a dizer! Um estilo mundano e compromissos com o mundo impedem que o Espírito realize Sua tarefa. A indiferença para com Cristo O entristece muito. O orgulho e a satisfação pessoal atrapalham Sua atividade, e não há orgulho mais detestável a Seus olhos que o orgulho religioso. Ele não pode tomar o que é de Cristo e nos dar se nós somos indiferentes, desatentos, e colocamos nossa atenção somente em nós mesmos. O mundanismo é algo ruim, já que é motivo para que o coração fique dividido. Mas a pretensão religiosa é ainda algo pior, já que coloca o “eu” como origem e fim de todas as coisas. Submete Cristo e seus interesses a nós mesmos. É como se Rebeca tivesse se ataviado com as jóias que havia recebido e se dirigisse a casa de suas amigas ostentando, dizendo: “Olhem como sou rica! Observem o quanto eu prosperei, e de nada tenho falta!”
Mas Rebeca não tinha um pensamento assim. Ela respondeu fielmente ao chamamento daquele que buscava não somente seu coração, mas também sua mão. Não era uma pessoa indecisa, pois, no instante em que foi chamada, respondeu com grande determinação.
Também não a vemos solicitando algum conselho ou pedindo um tempo para estudar sobre o assunto. “Irei” (v. 58), respondeu àqueles que tentavam detê-la. Quanta alegria deve ter sentido o servo ao ouvir essas palavras! Rebeca não o atrasaria.
O Espírito Santo é paciente conosco. Ele nos selou para que sejamos de Cristo, tomando assim posse de nós, e não nos abandonará jamais. Sua obra consiste em fazer com que os Seus tenham um pensamento unânime, isto é, levar-nos a sentir o que Ele sente e, então, clamar junto com Ele: “Vem, Senhor Jesus” (Ap 22.20).
O Espírito aguarda pacientemente aquele dia de alegria no qual a Igreja, uma Igreja gloriosa, será apresentada a Cristo. Então, Cristo encontrará nela a recompensa completa de todo Seu padecimento e dor. Será um grande dia no céu, como o descreve o apóstolo João em 19.6-8: “E ouvi como que a voz de uma grande multidão, e como que a voz de muitas águas e como que a voz de grandes trovões, que dizia: Aleluia! Pois já o Senhor Deus Todo-Poderoso reina. Regozijemo-nos, e alegremo-nos e demos-lhe glória, porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou. E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente, porque o linho fino são as justiças dos santos”.
Deteremos o Espírito, que é quem prepara a esposa para aquele dia? Que Deus não o permita! Submetamo-nos sem reservas à obra de graça do Espirito Santo e digamos resolutamente como Rebeca: “Irei”.