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Citações Gotas de orvalho Vários

Gotas de orvalho (336)

Cada homem no mundo está em uma de duas posições: ou ele está ‘debaixo do pecado’ ou está ‘debaixo da graça’. Ele ou está sob o controle do pecado e sendo por este governado, ou ele está sob o reino da graça e sendo por ela governado.

(Martyn Lloyd-Jones)

Ah, cristãos! Vocês são um povo tentado. Vocês são sempre pobres e necessitados. E Deus pretendeu que fosse assim, a fim de lhes dar constantes mensagens para irem a Jesus.

(Robert Murray McCheyne)

Assim, em meio a muitas dificuldades e provas e alguns desencorajamentos, temos abundantes motivos para louvar a Deus por Sua bondade e para prosseguir na força do Senhor.

(George Müller)

Ressuscitou verdadeiramente o Senhor!

(Lc 24.34)

Um maior que Moisés estende as mãos por nós no céu, e por meio de Sua intercessão nós iremos prevalecer.

(J. C. Ryle)

Nenhum crime entre os homens é considerado mais vil do que a ingratidão, mas poucos pecados lamentamos menos diante de Deus.

(Charles Spurgeon)

O sangue de Cristo é o maior remédio soberano para almas doentes pelo pecado.

(John Owen)

Todo arrependimento verdadeiro e salvador tende à prática da santidade.

(Jonathan Edwards)

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Charles Spurgeon Testemunho

Que contraste, mistura e paradoxo eu sou!

Como você se vê?

(Uma carta de Charles Spurgeon, escrita aos 17 anos)

 

Meu querido pai,

Eu estou muito confortável aqui e, posso dizer, feliz. Não fosse por meu coração vil, eu me regozijaria. Eu sou o menor do povo de Deus – e estou certo de que sou o pior. Mas ainda sou um de Seu povo – eu creio em Jesus e confio Nele. Convicção de pecado, eu entendo, é a evidência de verdadeira vida espiritual. Eu posso me lançar em Seus braços, embora eu não possa descansar em meus méritos, porque eu não tenho nenhum. Jesus, e Jesus somente, é minha defesa certa.

Eu devo bendizer ao Senhor por tornar-me filho Dele – isso vem de Sua própria soberana misericórdia. Nenhuma boa palavra falhou. Eu tenho sentido a corrupção se levantar, e o velho homem é forte – mas a graça divina sempre vem no tempo crítico e me salva de mim mesmo! Somente o Senhor me mantém! Eu não tenho esperança de perseverar senão por Seu poder. Eu sei que Seu braço todo-poderoso é todo-suficiente.

Eu quero me sentir “menos do que nada”, mas essa é uma conquista muito grande.

Às vezes, eu derramo meu coração doce e livremente, em outro momento eu com muita dificuldade consigo apresentar uma petição. Que contraste, mistura e paradoxo eu sou! Minha maior preocupação é crescer em graça, e seguir em frente na corrida celestial!

Eu espero que o senhor e minha querida mãe estejam bem. Eu os amo.

Seu afetuoso filho,

Charles.

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Como Jesus venceu o mundo (Charles Spurgeon)

Ele não usou aquela forma de energia que é peculiar ao mundo mesmo para fins altruístas. Não posso conceber um homem, mesmo à parte do Espírito de Deus, tornando superior à riqueza e desejando somente a promoção de algum grande princípio que tomou seu coração. Mas você normalmente vai notar que, quando os homens o fizeram, eles estavam prontos para promover o bem usando o mal, ou pelo menos julgaram que os grandes princípios poderiam ser imputados pela força das armas, ou da propina ou da política. Maomé tinha agarrado uma grande verdade quando disse: “Não há Deus senão Deus.” A unidade da divindade é uma verdade de máximo valor; mas, então, vem o meio a ser utilizado para a propagação dessa grande verdade: a cimitarra. “Cortem a cabeça dos infiéis! Se eles têm falsos deuses ou se não possuem a unidade da divindade, não são dignos de viver.”

Você pode imaginar nosso Senhor, Jesus Cristo, fazendo isso? Pois, se tivesse feito, então, o mundo o teria conquistado. Mas ele conquistou o mundo sem ter empregado essa forma de poder nem no menor grau. Ele poderia ter reunido uma tropa a seu redor e, com Seu exemplo heróico juntamente com Seu poder miraculoso, teria rapidamente varrido o império romano e convertido. Depois, em toda a Europa e na Ásia e na África, Suas legiões vitoriosas poderiam ter pisando sobre todo o mal, e, com a cruz como Sua bandeira e a espada como Sua arma, os ídolos teríam caído e faria todo o mundo se curvar a Seus pés. Mas não. Quando Pedro tirou a espada, “Jesus disse-lhe: Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão” (Mt 26.52). Bem disse Ele: “O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos” (Jo 18.36).

E Ele poderia ter-se agradado de aliar Sua Igreja com o Estado, como Seus amigos equivocados têm feito nestes tempos degenerados, e, em seguida, poderia ter criado leis penais contra aqueles que ousassem discordar, e poderia ter obrigado que se fizessem contribuições para o apoio de Sua Igreja, e outras coisas semelhantes. Você leu, ouso dizer, que coisas assim estão sendo feitas, mas não nos Evangelhos nem em Atos dos Apóstolos. Essas coisas são feitas por aqueles que esquecem o Cristo de Deus, pois Ele não usa nenhum instrumento, mas o amor, não a espada, mas a verdade, não o poder, mas o Espírito Eterno, e, no próprio fato de ter colocado todas as forças mundanas de lado, Ele venceu o mundo.

(Traduzido por Francisco Nunes de um trecho do sermão “Cristo, o que venceu o mundo”, proferido em 3 de dezembro de 1876. Original aqui.)

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Acidentes, não castigos (Charles Spurgeon)


No. 408

Um sermão pregado no Domingo, 8 de setembro de 1861

Por Charles Haddon Spurgeon

No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres.

 

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“E, naquele mesmo tempo, estavam presentes ali alguns que lhe falavam dos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios. E, respondendo Jesus, disse-lhes: Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas? Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis. E aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, cuidais que foram mais culpados do que todos quantos homens habitam em Jerusalém? Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.” Lucas 13:1-5

O ano de 1861 será notório entre seus companheiros por ser um ano marcado por calamidades. Justo na época quando o homem sai para receber o fruto de seus labores, quando a colheita da terra está madura e os celeiros começam a se encher, cheios de trigo novo, a Morte também, essa poderosa segadora, saiu para cortar sua própria colheita – feixes completos foram recolhidos em seu celeiro: a tumba. Terríveis foram os lamentos que formam o hino da colheita da morte.

Ao ler os jornais nessas ultimas semanas, até mesmo as pessoas mais impassíveis experimentaram sentimentos muito dolorosos. Não só ocorreram calamidades tão alarmantes que só de lembrar gelam o sangue, mas também as colunas dos periódicos foram dedicadas a certas calamidades de menor nível de horror, mas que, somadas todas, são suficientes para encher a mente de terror pela tremenda quantidade de mortes inesperadas que recentemente corresponderam aos filhos dos homens.

Não somente temos tido acidentes a cada dia da semana, mas sim até dois ou três – não fomos simplesmente aturdidos pelo alarmante ruído de um terrível estrondo, mas com outro, outro, outro e outro, que seguiram suas pisadas, como os amigos de Jó, até que tenhamos tido necessidade da paciência e da resignação de Jó para escutar a terrível narrativa dessas calamidades. Agora, homens e irmãos, coisas como essas ocorreram sempre em todas as épocas do mundo. Não pensem que isso é algo novo – não considerem, como alguns o fazem, que isso é o produto de uma civilização excessiva, ou resultado dessa descoberta moderna tão maravilhosa como é o vapor. Se jamais se tivesse conhecido a máquina a vapor, e se jamais tivesse sido construído uma ferroviária, de todas as formas teriam ocorrido mortes inesperadas e acidentes terríveis.

Ao revisar os velhos arquivos nos que nossos antepassados registraram os acidentes e as calamidades de seus dias, encontramos que a antiga diligência ofereceu à morte uma presa tão custosa como o trem que roda ferozmente o fez; existiam então tantas portas para o Hades como as que existem hoje – caminhos tão empinados e íngremes que conduziam para a morte que eram transitados por uma multidão tão vasta como em nossa época; por acaso vocês duvidam disso?

Peço a todos que nos dirijamos ao capítulo treze de Lucas. Lembrem-se desses dezoito sobre os quais a torre de Siloé caiu. E dai se nenhuma colisão os tivesse esmagado?[1] Ou que se não tivessem sido destruídos pelo ingovernável cavalo de ferro que os arrastou para água desde um aterro?[2] No entanto, alguma torre mal construída, ou alguma parede golpeada pela tempestade poderia ter caído sobre dezoito de uma vez, e eles teriam perecido igualmente.

Ou, pior que isso, um governante déspota, levando as vidas dos homens penduradas em seu cinto como se fossem as chaves de seu palácio, poderia ter caído subitamente sobre os que estavam adorando no próprio templo, e poderia ter misturado o sangue deles com o sangue dos bezerros que nesse momento estavam sendo sacrificados ao Deus do céu. Não pensem, então, que essa é uma época na que Deus está tratando mais duramente com nós do que antes. Não pensem que a providência de Deus se tem voltado mais dura do que antes: sempre ocorreram mortes inesperadas, e sempre haverá delas – sempre tem ocorrido estações onde os lobos da morte tem caçado em manadas famintas, e provavelmente, até o fim dessa dispensação, o último inimigo terá seu festival periódico e satisfará os vermes com carne humana.

Portanto, não estejam abatidos pelas mortes inesperadas, nem tampouco estejam perturbados com essas calamidades. Continuem com suas atividades normais, e se seus chamados os levam a cruzar o campo da própria morte, o façam, e façam corajosamente. Deus não soltou as rédeas do mundo, não tirou Sua mão do timão do grande barco, ainda:

“Ele em todas as partes possui império,

e todas as coisas servem a Seu propósito;

Cada ato Seu é pura benção,

Seu caminho é luz sem mancha.”

Só aprendam a confiar Nele, e vocês não terão nenhum temor à morte inesperada; “A sua alma pousará no bem, e a sua semente herdará a terra.” (Salmo 25:13)

O tema particular dessa manhã, no entanto, é esse: o uso que devemos encontrar para esses terríveis textos que Deus está escrevendo com letras maiúsculas na história do mundo. Deus falou uma vez, sim, duas vezes; que não se diga que o homem não prestou atenção. Temos visto um vislumbre do poder de Deus, contemplamos alguma coisa da rapidez com que Ele pode destruir nossos concidadãos. “Presta atenção ao castigo e a quem o estabelece;” e ao prestar atenção, façamos duas coisas.

Primeiro, não sejamos tão insensatos para tirar a conclusão a que chegam as pessoas supersticiosas e ignorantes; essa conclusão que está sugerida no texto, quer dizer, que os que são destruídos por meio de acidentes, são pecadores que estão acima de todos os pecadores que habitam o lugar. E, em segundo lugar, cheguemos à conclusão apropriada e correta; façamos um uso prático de todos esses eventos para nossa própria melhoria pessoal: escutemos a voz do Salvador que diz: “se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.”

I. Primeiro, então, TENHAMOS MUITO CUIDADO DE NÃO CONCLUIR APRESSADAMENTE E IRREFLETIDAMENTE SOBRE ESSES TERRIVEIS ACIDENTES: QUE OS QUE OS SOFREM, OS SOFREM POR CULPA DE SEUS PECADOS.

É dito de maneira mais absurda que os que viajam no primeiro Dia de Descanso, e sofrem um acidente, devem considerar esse acidente como um juízo de Deus sobre eles, devido a estarem violando o dia de adoração cristão. É dito, ainda por parte de ministros piedosos, que essa ultima colisão deplorável dos trens deve ser considerada uma notável visitação e sumariamente maravilhosa da ira de Deus contra esses infelizes que por casualidade encontravam-se no túnel Clayton.

Porem, eu apresento meu protesto mais enérgico contra uma conclusão assim, não só em meu nome, mas também em nome Daquele que é o Senhor do cristão e Mestre do cristão. Eu pergunto sobre essas pessoas que foram esmagadas nesse túnel, vocês pensam que elas era maiores pecadoras do que todos os pecadores? “Não, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.”, ou os que morreram na segunda feira passada, vocês imaginam que eles eram maiores pecadores que todos os pecadores que estavam em Londres?[3] “Se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.”

Agora, fixem bem, eu não negaria que existem ocasiões em que houve juízos de Deus sobre pessoas particulares devido a seus pecados; algumas vezes, e eu penso que muito raramente, tais coisas ocorreram. Alguns de nós ouvimos, em nossa própria experiência, que certos homens blasfemaram a Deus e o desafiaram a que os destruísse, e depois morreram repentinamente – e em tais casos, o castigo seguiu tão rapidamente à blasfêmia que era impossível não ver a mão de Deus nele. O homem havia perdido perversamente o juízo de Deus, e sua oração foi atendida, e logo veio o juízo.

E alem de toda dúvida, existe o que se pode descobrir como juízos naturais. Vocês veem a um homem vestindo farrapos, pobre, sem casa; foi um libertino, um bêbado, perdeu seu caráter, e isso não é senão o justo juízo de Deus sobre esse homem, que esteja morrendo de fome e que seja um proscrito dos homens. Vocês podem ver nos hospitais repugnantes exemplos de homens e mulheres que estão terrivelmente enfermos. Que Deus não queira que, em tais casos, nós neguemos que existe um juízo de Deus sobre essas concupiscências ímpias e licenciosas.

E o mesmo pode se disser de muitos casos onde existe um vínculo tão claro entre o pecado e o castigo que até os homens mais cegos podem discernir que Deus converteu a Miséria na filha do Pecado. Porem, em casos de acidente, tal como esses a que me refiro, e em casos de morte repentina e instantânea, repito, eu apresento meu mais sincero protesto contra essa insensata e ridícula ideia que os que perecem dessa forma são mais pecadores que todos os pecadores que sobrevivem sem sofrer dano algum.

Simplesmente permitam-me raciocinar esse assunto com o povo cristão – pois há alguns cristãos sem maior iluminação que se sentirão horrorizados pelo que eu disse. E, os que tendem a ser perversos podem sonhar inclusive que eu estou fazendo uma apologia para o quebrantamento do dia de adoração. Porem, eu não faço tal coisa. Eu não diminuo a gravidade do pecado; eu só testifico e declaro que os acidentes não devem ser vistos como castigos, pois o castigo não pertence a esse mundo, mas sim ao futuro. A todos aqueles que se apressam em considerar cada calamidade como um juízo, eu quero lhes falar na esperança sincera de corrigir-lhes.

Então, permitam-me começar perguntando, meus amados irmãos, por acaso não enxergam que o que vocês dizem não é certo? E essa é a melhor das razões do porque não devem dizê-lo. Suas próprias experiências e observações não lhes ensinam que um evento ocorre tanto ao justo como ao malvado? É certo que o homem malvado às vezes cai morto na rua – mas o ministro também não caiu morto no púlpito, por acaso? É certo que um iate de prazer, no qual os homens buscavam sua própria felicidade em um dia de domingo, afundou precipitadamente – mas não é igualmente certo que um barco que levava somente homens piedosos, cujo destino era um giro para pregar o Evangelho, não afundou também?

A providência de Deus não tem respeito para com as pessoas: e uma tormenta pode abater-se sobre o barco missionário “John Williams[4] , da mesma forma que pode abater-se sobre outro barco repleto de pecadores desenfreados. Ó, acaso não percebem que a providência de Deus foi de fato, e seus tratos externos, mais dura com os bons do que com os maus? Paulo não disse ao contemplar as misérias dos justos em seus dias: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” (1 Coríntios 15:19)

O caminho da justiça frequentemente conduziu os homens ao cavalo selvagem do tormento, da prisão, do patíbulo e para fogueira – enquanto que o caminho do pecado, muitas vezes os levou ao império, ao dominio e à alta estima de seus companheiros. Não é certo que nesse mundo Deus castigue os homens por seu pecado, e os premie por suas boas obras. Não disse Davi: “Vi o ímpio com grande poder espalhar-se como a árvore verde na terra natal? (Salmos 37:35)” E isso deixava o Salmista perplexo durante um tempo, até que foi ao santuário de Deus, e enfim entendeu o fim deles?

Ainda que sua fé lhe assegure que o resultado final da providência trabalhará unicamente para o bem do povo de Deus, no entanto, sua vida, ainda que seja somente uma breve parte do drama divino da história, deve ter-lhe ensinado que a providência não discrimina externamente entre o justo e o ímpio – que o justo perece inesperadamente igual que o ímpio – que a peste não conhece diferenças entre o pecador e o santo – e que a mesma espada da guerra é impiedosa com os filhos de Deus como é com os filhos de Belial.

Quando Deus envia o flagelo, ele mata inesperadamente o inocente da mesma forma que ao perverso e ao insolente. Agora, meus irmãos, se a ideia de vocês de uma providência que castiga e que premia não é certa, por que falam como se ela fosse? E, por que, se não é correta como regra geral, vocês supõem que seja verdadeira nessa instância particular? Demovam essa ideia de suas cabeças, pois o Evangelho de Deus jamais requer que vocês creiam em algo que não é certo.

Porem, em segundo lugar, existe outra razão. A ideia de que sempre que ocorre um acidente devemos considerá-lo como um juízo de Deus, faria que a providência fosse, em vez de um grande abismo, uma poça d’água bem rasa. Pois, qualquer criança pode entender a providência de Deus, se é certo que quando há um acidente ferroviário, é porque as pessoas viajavam em um domingo. Eu posso escolher qualquer menininho da classe mais elementar da escola dominical, e ele me dirá: “sim, eu vejo isso.” Mas então, se a providência é uma coisa assim, se é uma providência que pode ser compreendida, evidentemente não é a ideia de providência da Escritura, pois na Escritura nos é sempre ensinado que a providência de Deus é “um grande abismo”, e mesmo Ezequiel, que possuía a asa do querubim e podia voar muito alto, quando viu as rodas que eram o grande quadro da providência de Deus, só podia dizer que os aros das rodas eram tão altos, tão espantosos e cheios de olhos, de tal forma que lhes era gritado, “roda!

Repito isso para que fique muito claro: se em todos os casos uma calamidade fosse o resultado de algum pecado, então a providência seria algo tão simples como dois mais dois são quatro – seria uma das primeiras lições que uma criancinha poderia aprender. Porem, as Escrituras nos ensinam que a providência é um grande abismo no qual o intelecto humano pode nadar e mergulhar, mas não pode encontrar nem o fundo nem a orla; e se você e eu pretendemos encontrar as razões da providência, e torcer as dispensações de Deus com nossos dedos, só demonstramos nossa insensatez, e não estamos evidenciando que temos começado a entender os caminhos de Deus.

Pois, olhem senhores – suponham por um momento que está acontecendo uma grandiosa representação de uma obra teatral, e que vocês se intrometem na obra e ven a um ator no cenário por um instante, e dizem: “Sim, eu entendo a obra”, que tontos vocês seriam! Acaso não sabem que as grandes transações da providência começaram aproximadamente uns seis mil anos? E vocês vieram a esse mundo faz uns trinta, quarenta anos, e tem visto um ator em cena, e vocês dizem que já entendem a obra. Oras! Vocês não a entendem – apenas começaram a conhecer. Somente Ele conhece o fim desde o principio, somente Ele entende quais são os grandes resultados, e qual é a grandiosa razão pela que o mundo foi feito, e pela qual Ele permite que ocorra tanto o bem como o mal. Não pensem que vocês conhecem os caminhos de Deus; isso equivale a degradar a providência e baixar Deus ao nível dos homens, quando pretendem entender essas calamidades e descobrir os desígnios secretos da sabedoria.

Porem, continuando, vocês não percebem que uma ideia assim animaria o farisaísmo? Essas pessoas que morreram esmagadas, ou queimadas até as cinzas, ou destruídas debaixo das rodas dos vagões do trem, eram piores pecadoras do que nós. Muito bem, então nós devemos ser excelentes pessoas – que excelentes exemplos de virtude! Não fazemos as coisas que elas fazem, e, portanto Deus nos facilita todas as coisas. Na medida em que viajamos, alguns de nós a cada dia da semana, e jamais fomos despedaçados, sobre essa suposição, podemos nos catalogar como os favoritos da Deidade.

Então, não enxergam irmãos, que nossa própria segurança seria um argumento para nos fazer cristãos? Que ós tenhamos viajado em um trem com segurança seria um argumento de que somos regenerados, porem eu jamais li nas Escrituras, “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, por que viajamos de Londres a Brigton sem nenhum problema duas vezes ao dia.” Jamais encontrei nenhum versículo que se pareça com isso – e, no entanto, se fosse certo que os piores pecadores sofrem os acidentes, se derivaria supoer como um contraponto natural a essa proposição que os que não sofrem acidentes devem ser pessoas muito boas, e assim que noções farisaicas geramos e nutrimos dessa maneira.

Porem, eu não posso tolerar essa insensatez nem por um instante. Quando contemplo por um momento os pobres corpos mutilados dos que foram sacrificados tão inesperadamente, meus olhos se enchem de lágrimas, mas meu coração não se vangloria, nem meus lábios acusam – longe de mim tal expressão cheia de orgulho: “Deus, lhe dou graças porque não sou como os outros homens.” Não, não, não, esse não é o espírito de Cristo, nem o espírito do cristianismo. Ainda que possamos agradecer a Deus porque somos preservados, no entanto, podemos dizer: “As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos” (Lamentações 3:22), e devemos atribuir tal fato a Sua graça e unicamente a Sua graça. Porem, não podemos crer que existia algo melhor em nós porque fomos preservados vivos estando a morte tão perto. É somente porque Ele teve misericórdia, sendo muito paciente para conosco, não querendo que pereçamos, mas sim que nos arrependamos, que nos preservou dessa maneira para que não desçamos à tumba, e nos manteve a vida preservando-nos da morte.

Logo, permitam-me comentar que a suposição contra a qual estou contendendo é muito cruel e dura. Pois se esse fosse o caso, que todas as pessoas que assim se encontram com a morte de uma maneira extraordinária e terrível são maiores pecadoras que as demais, isso não seria um duro golpe para os afligidos sobreviventes? E não é pouco generoso da nossa parte consentir nessa ideia, a menos que sejamos forçados a aceitá-la como uma terrível verdade, por razões que não podem ser respondidas?

Agora, eu os desafio a sussurrar ao ouvido da viúva. Vão a sua casa e digam-lhe: “seu esposo era pior pecador que o resto dos homens, por isso morreu.” Vocês não possuem a suficiente brutalidade para isso. Um pequeno bebê inconsciente, que jamais havia pecado, ainda que, sem dúvida, um herdeiro da queda de Adão, é encontrado esmagado em meio dos escombros do acidente. Agora, pensem por um momento, qual seria a infame consequência da suposição que os que pereceram era piores que os outros. Teriam que supor que essa inconsciente criança era pior pecadora que muitos que habitam as guaritas da infâmia e cujas vidas são ainda respeitadas. Não percebem que a coisa é radicalmente falsa?

E talvez eu pudesse mostra-lhes melhor a injustiça disso, lembrando-lhes que um dia isso poderia suceder com vocês. Suponham que lhes caiba encontrarem-se com uma inesperada morte desse tipo; vocês estão anuentes a que se lhes corresponda a condenação sobre essa base? Um incidente assim pode ocorrer na casa de Deus. Permitam-me recordar o que ocorreu uma vez em que estávamos congregados – posso afirmar de coração puro que não nos reunimos com nenhum outro objetivo de não ser o de servir a Deus, e esse ministro não tinha nenhuma meta em ir a esse lugar, exceto o de congregar a muitos que de outra maneira não teriam tido a oportunidade de escutar sua voz. E, no entanto houve funerais como resultado desse esforço santo – pois ainda declaramos que foi um esforço santo, e a benção de Deus o demonstrou. Houve mortes e mortos entre o povo de Deus – quase estou a ponto de dizer que estou contente que foi entre o povo de Deus mais que em outros povos. Um tremendo terror apoderou-se da congregação, e o povo fugiu, e não enxergam que se os acidentes devem ser considerados como juízos, então é uma sã conclusão que nós estávamos pecando ao estar lá. Essa é uma insinuação que nossas consciências categoricamente repudiam.[5]

No entanto, se essa lógica fosse verdadeira, é tão certa contra nós como o é contra outros, e na medida em que vocês repeliriam com indignação a acusação que alguns foram feridos ou golpeados devido ao pecado, estando ali no Music Hall para adorar a Deus, o que rejeitam para vocês o rejeitem para outros, e não querem ser parte da acusação que é apresentada em contra os que foram destruídos durante as ultimas duas semanas, que pereceram por causa de qualquer grande pecado.

Aqui eu antecipo o clamor de pessoas prudentes e zelosas que temem pela arca de Deus, e a querem tocar com a mão e Uzá. “Bem,” dirá algum, “mas nós não devemos falar assim, pois é uma superstição muito útil, pois haveria muitas pessoas que já não viajariam nos domingos devido ao acidente, e, portanto, devemos dizer-lhes, que os que pereceram, pereceram devido que viajaram no domingo.”

Irmãos, eu não diria uma mentira para salvar uma alma, e isso seria dizer mentiras, pois não é verdade. Eu faria qualquer coisa para interromper o trabalho aos domingos e o pecado, mas não forjaria uma falsidade, ainda mesmo para conseguir isso. Essas pessoas poderiam ter falecido na segunda-feira igual como no domingo. Deus não dá uma imunidade especial a algum dia da semana, e os acidentes podem ocorrer em qualquer momento, e é somente uma fraude piedosa quando buscamos jogar assim com a superstição dos homens por causa de Cristo.

O sacerdote da Igreja Católica Romana pode consistentemente usar um argumento assim, porem, um cristão honesto que crê que a religião de Cristo pode cuidar-se a si mesma sem necessidade de falar falsidades, desdenha fazer isso. Esses homens não pereceram porque viajaram num domingo. Que sirva de testemunha o fato de que outros pereceram em uma segunda-feira quando andavam em missão de misericórdia.

Eu não sei por que razão ou por que motivo Deus enviou o acidente. Deus não queira que ofereçamos nossas próprias razões quando Ele não deu Sua razão, mas não nos é permitido converter a superstição dos homens em um instrumento para avançar a glória de Deus. Vocês sabem que entre os protestantes existem muitos fanatismos papais. Conheço pessoas que aprovam o batismo infantil argumentando: “Bem, ele não faz dano nenhum, e existem muitas boas intenções nele, e pode fazer muito bem, e ainda a confirmação pode resultar de benção para algumas pessoas, portanto não falemos contra isso.

A mim não corresponde se esse tema faz dano ou não, tudo o que me importa é se é correto, se é Escriturístico, se é verdadeiro, e se a verdade é prejudicada, que é uma suposição que não podemos aceitar de nenhuma maneira, esse prejuízo não estará em nossa porta. Não temos outro dever que dizer a verdade, ainda que os céus caiam sobre nós. Repito, qualquer avanço do Evangelho que se deva à superstição dos homens, é um avanço falso, e logo se voltará contra as pessoas que usam dessa arma não consagrada.

Nos possuímos uma religião que apela ao juízo do homem e ao sentido comum, e quando não podemos avançar com isso, eu não aceito que devamos prosseguir utilizando outros métodos – e, irmãos, se existe alguma pessoa que queira endurecer seu coração e dizer: “pois bem, eu estou tão certo em um dia como em qualquer outro dia,” o que é muito certo, eu devo responder-lhe: “o pecado de que faça tal uso como o que faz de uma verdade deve jazer a sua porta, não na minha – porem, se eu pudesse evitar que você viole o dia do descanso cristão, colocando diante de você uma supersticiosa hipótese, não o faria, pois parece-me que ainda que consiga lhe manter afastado desse pecado por um pouco de tempo, logo você se converteria demasiadamente inteligente para ser enganado por mim, e logo chegaria a considerar-me como um sacerdote que brincou com seus temores em vez de apelar a seu juízo.”

Oh, já é tempo que saibamos que nosso cristianismo não é uma coisa débil e temerosa, que apela aos pequenos temores supersticiosos de mentes ignorantes. É a algo valente, que ama a luz, e que não precisa de fraudes ‘santas’ para sua defesa. Sim, crítico! Foca sua lanterna em nós, e que brilhe em nossos próprios olhos; nós não temos medo, a verdade é poderosa e pode prevalecer, e se não pode prevalecer à luz do dia, não temos nenhum desejo de que o sol se ponha para dar a verdade uma oportunidade.

Eu creio que brotou muita infidelidade do desejo muito natural de alguns cristãos de se aproveitarem de erros comuns. “Oh”, disseram, “esse erro popular é muito bom, mantém o povo na posição correta – vamos perpetuar esse erro, pois evidentemente faz muito bem.” E logo, quando o erro foi descoberto, os infiéis disseram: “Oh, agora vejam que esses cristãos foram descobertos em seus estratagemas.” Não tenhamos nenhum truque, irmãos – não falemos aos homens como se fossem crianças que podem ser amendrotados por histórias de fantasmas e de bruxas. O fato é que esse não é o tempo de retribuição, e é pior que inútil que nós ensinemos que o é.

E agora, por último – e já irei passar a outro ponto – por acaso vocês não percebem que essa suposição, que não é cristã nem Escriturística, que quando os homens se encontram inesperadamente com a morte é resultado do pecado, rouba do cristão um de seus argumentos mais nobres para a imortalidade da alma? Irmãos, nós afirmamos diariamente, com a Escritura como nossa garantia, que Deus é justo, e na medida em que Ele é justo, deve castigar o pecado e premiar o justo. Manifestadamente Ele não o faz nesse mundo, e um mesmo evento ocorre a ambos: o homem justo é pobre igual que o mal, e morre repentinamente igual que o maior répobro. Muito bem, então, a conclusão é natural e clara, que deve existir um mundo contínuo em que essas coisas serão endireitadas.

Se há um Deus, Ele deve ser justo; e se Ele é justo, Ele deve castigar o pecado; e já que não o faz nesse mundo, deve existir outro estado em que os homens receberão a recompensa de suas obras – e os que semearem para a carne, da carne colherão corrupção, enquanto os que semearem para o Espírito, do Espírito colherão vida eterna. Se fizerem desse mundo o lugar de colheita, vocês terão tirado o aguilhão do pecado.

“Oh,” diz o pecador, “se as aflições que o homem suporta aqui é todo o castigo que terão, vamos pecar com voracidade.” Você responda-lhe: “não – esse não é o mundo do castigo, mas sim o mundo de prova – não é a corte da justiça, mas sim a terra de misericórdia; não é a prisão de terror, mas a casa de paciência;” e lhe terá aberto diante de seus olhos as portas do futuro; terá posto o trono do juízo diante de seus olhos; lhe recordou: “Vinde, benditos,” e “Apartai-vos de mim, malditos;” e assim possui um fundamento mais a razoável e consequentemente mais Bíblico para apelar às suas consciências e corações.

Falei com a intenção de sufocar, na medida do possível, a ideia que está muito propagada entre os ímpios, que nós como cristãos sustentamos que cada calamidade é um juízo divino. Não é assim; nós não pensamos que aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de Siloé eram mais culpados que todos os homens que habitavam em Jerusalém.

II. Agora passamos a nosso segundo ponto. QUE USO, ENTÃO, DEVEMOS FAZER DESSA VOZ DE DEUS QUE É OUVIDA EM MEIO DOS AGUDOS GRITOS E GEMIDOS DOS MORIBUNDOS? Dois usos; primeiro, perguntas, e segundo, uma advertência.

A primeira pergunta que devemos fazer é a seguinte: “Por que não pode acontecer comigo que muito prontamente e inesperadamente eu seja cortado? Tenho eu um contrato de aluguel da minha vida? Tenho algum amparo especial que me garanta que não atravessarei inesperadamente os portais da sepultura? Recebi um título de privilégio de longevidade? Fui coberto com uma armadura tal que sou invulnerável às flechas da morte? Por que não irei eu mesmo morrer?”

A segunda pergunta que deve sugerir é essa: “Não sou um grande pecador como esses que morreram? Não há em mim, sim, em mim mesmo, pecados contra o Senhor meu Deus? Se em pecados visíveis outros me superaram, acaso os pensamentos de meu coração não são malvados? Porventura a mesma lei que os amaldiçoa não amaldiçoa a mim também? Não perseverei em todas as coisas escritas no livro da Lei para que as cumprissem. É tão impossível que eu seja salvo por minhas obras como que eles o sejam. Não estou debaixo da lei, por natureza como eles estão, e pela mesma não estou eu também debaixo de maldição, como eles o estão? Essa pergunta deve ser feita. Em vez de pensar em seus pecados, o que me converteria um orgulhoso, devo pensar em meus próprios pecados, o que me converterá humilde. Em lugar de especular sua culpa, que é assunto que não é de minha responsabilidade, devo voltar meus olhos até meu interior, e considerar minha própria transgressãopela qual devo responder pessoalmente diante do Deus Altíssimo.”

Logo, a seguinte pergunta é: “eu me arrependi de meu pecado? Eu não preciso ficar investigando se eles se arrependeram ou não: eu me arrependi? Posto que eu esteja exposto à mesma calamidade, estou preparado para enfrentá-la? Senti, por meio do poder do convencimento do Espírito Santo, a negridão e a depravação de meu coração? Tenho sido guiado a confessar diante de Deus que eu mereço a Sua ira, e que Seu desagrado, se ele pousar sobre mim, será um justo pago? Odeio o pecado: Aprendi a aborrecê-lo? Apartei-me do pecado, por meio do Espírito Santo, como de um veneno mortal, e busco agora honrar a Cristo meu Senhor: Fui lavado em seu sangue: Reflito sua semelhança? Mostro Seu caráter? Busco viver para Seu louvor? Pois, se não é assim, estou em grave perigo como eles estavam, e posso ser cortado tão depressa e repentinamente, e logo, onde estou? Eu não irei perguntar onde eles estão? E logo, de novo, em vez de estar espiando no futuro destino desses infelizes homens e mulheres, quanto melhor seria nos perguntar sobre nosso destino e de nossa própria situação! –

O que eu sou? minha alma, desperta

E faz uma analise imparcial.”

Estou preparado para morrer? Se as portas do inferno abrem-se agora, eu entraria ali? Se debaixo de mim se abrirem as bocas da morte, estou preparado com confiança para atravessá-las, não temendo o mal, porque Deus está comigo?” Esse é o uso correto que podemos fazer desses acidentes; essa é a maneira mais sábia de aplicar os juízos de Deus a nós mesmos e a nossa própria condição.

Ó senhores, Deus tem falado a cada homem em Londres durante as últimas duas semanas; Ele falou para mim, Ele falou para vocês, homens, mulheres e crianças. A voz de Deus há soado desde o escuro túnel Clayton: falou desde o poente do sol e da deslumbrante fogueira em redor da qual jazem os cadáveres de homens e mulheres, e Ele lhes disse, “Portanto, estai vós também apercebidos; porque virá o Filho do homem à hora que não imaginais. (Lucas 12:40)” Isso está tão dirigido a vocês, que eu espero que os levem a perguntarem-se: “Estou preparado, estou pronto? Estou disposto a enfrentar a meu Juiz e escutar a sentença pronunciada sobre minha alma?”

Quando tenhamos usado a voz de Deus para nos inquirirmos dessa maneira, permitam-me lembrar-lhes que devemos usá-la também como uma advertência. “Todos de igualmente perecereis.” “Não,” dirá alguém, “não igualmente. Não todos seremos esmagados; muitos de nós morreremos em nossas camas. Não todos morreremos queimados; muito de nós fecharemos tranquilamente nossos olhos.” Ai! Porem, o texto diz “todos de igual modo perecereis.” E deixem-me lembrar-lhes que alguns de vocês podem perecer de uma maneira idêntica. Não possuem nenhuma razão para crer que vocês não podem ser cortados inesperadamente, enquanto caminhem pelas ruas. Podem cair mortos enquanto comem; quantos não têm perecido com o cajado da vida em suas mãos! Estarão em sua cama, e sua cama subitamente se converterá em sua tumba. Vocês poderão ser fortes, sãos, robustos e, quer seja por acidente, ou porque a circulação do sangue se detém, serão rapidamente levados diante de seu Deus. Ó, que a morte inesperada seja para vocês glória súbita!

Porem, pode ocorrer a algum de nós que, da mesma maneira surpreendente em que outros morrerem, morreremos assim também. Faz só um pouco de tempo, nos Estados Unidos, um irmão, enquanto pregava a Palavra, entregou seu corpo e seu cargo simultâneamente. Vocês lembram da morte do Dr. Beaumont, quem, enquanto proclamava o Evangelho de Cristo, fechou seus olhos ao mundo. E eu recordo a morte de um ministro nesse pais, que acabava de pronunciar esse verso –

“Pai, eu anelo, eu anseio ver

O lugar de Tua habitação;

Eu quero deixar teus átrios terrenos e fugir

Até Tua casa, meu Deus”

E então agradou a Deus conceder-lhe o desejo de seu coração, e apareceu diante do Rei em Sua beleza. Não poderia uma morte imprevista como essa suceder a vocês e a mim mesmo?

Porem, é muito certo que, quer venha a morte de maneira que venha, existem alguns quantos aspectos na que virá aos justos da mesma maneira como veio aos que sofreram esses acidentes. Em primeiro lugar, virá, com toda certeza. Eles não teriam tido possibilidade de escapar do perseguidor, não importa qual rápido viajassem. Eles não teriam tido a chance de escapar da seta, não importando a que lugar houvessem ido, escondendo-se de casa em casa, quando seu tempo lhes chegou. E nós pereceremos assim.

Com a mesma certeza, tão certo como a morte colocou seu selo sobre os cadáveres que agora estão cobertos de terra, com a mesma certeza porá seu selo sobre nós (a menos que o Senhor venha antes), pois “aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo (Hebreus 9:27)” Não existe exoneração nesse caminho; não existe escape por nenhum atalho para nenhum indivíduo; não existe nenhuma ponte sobre o rio; não há nenhum barco em que possamos passar esse Jordão sem molharmos nossos pés.

Para suas geladas profundidades, ó rio, cada um de nós deve descer – em sua fria corrente nosso sangue deve congelar-se – e debaixo de suas espumosas ondas nossa cabeça deve submergir! Nós também devemos morrer com certeza. “Trilhado” você diz, “e cheio de lugares comuns;” e a morte é um lugar comum, mas que só nos ocorre uma vez. Que Deus nos conceda que essa única vez que morreremos possa estar perpétuamente em nossas mentes, até que morramos diariamente, e assim não nos resulte ser um trabalho difícil morrer ao final.

Bem, então, como a morte chega a eles e a nós com certeza, assim virá tanto a eles como a nós poderosa e irresistivelmente. Quando a morte os surpreendeu, que ajuda tiveram então? Um casebre de papelão de uma criança não poderia ser tão facilmente esmagado que esses pesados vagões? O que podiam fazer para ajudarem uns aos outros? Eles iam sentados uns juntos a outros, conversando. Escutou-se um grito, e antes que houvessem gritado segunda vez, foram esmagados e destroçados. O esposo trata de resgatar dos escombros sua esposa, porem as pesadas tábuas de madeira cobriram seu corpo; ao fim só pode encontrar sua pobre cabeça, e ela está morta, e ele senta-se junto a ela embargado pela tristeza, e coloca sua mão em seu rosto, até que se torna frio como uma pedra; e ainda que tenha visto a um e outro que tenha sido resgatado com os ossos quebrados ao meio da massa de escombros, ele têm que deixar o corpo de sua esposa ali.

Ai! Seus filhos ficaram sem mãe, e ele perdeu a companheira de seu coração. Eles não puderam resistir; eles poderiam fazer o que quisessem, porem, tão logo chegou o momento, seguiram adiante, e o resultado foi a morte e ossos quebrados. O mesmo sucederá com vocês e comigo – vocês podem subornar o médico com os honorários mais altos, porem, ele não poderia colocar sangue fresco em suas veias[6] – vocês podem pagar-lhe grandes quantidades de ouro, mas ele não poderia conseguir que o pulso desse outro bramido. Oh, Morte, irresistível conquistadora dos homens, não há ninguém que possa prevalecer contra ti; sua palavra é lei, sua vontade é destino! Assim virá a nós como chegou a eles; virá com poder, e nenhum de nós poderá resistir a ela.

Quando a morte chegou-lhes, veio instantaneamente, sem aceitar demoras. Assim virá a nós. Poderíamos ter um aviso mais antecipado do que eles, porem quando chegue a hora, não haverá forma de adiá-la. Encolha seus pés na cama, ó, patriarca, pois deve morrer e não vai viver! Dá o último beijo em sua esposa, veterano soldado da cruz; coloca suas mãos sobre a cabeça de seus filhos, e dá-lhes a benção do moribundo, pois todas suas orações não podem alargar sua vida, e todas as lágrimas não podem agregar nem uma só gota ao poço seco de seu ser.

Você deve ir, o Senhor demanda por você, e Ele não suporta atrasos. Não, ainda que sua família esteja disposta a sacrificar suas vidas para lhe comprar uma hora de trégua, isso não pode ser. Ainda que uma nação seja entregue em holocausto, um sacrifício voluntário, para dar a seu soberano outra semana adicional a seu reino, não se pode conseguir tal coisa. Ainda que a congregação inteira consinta voluntariamente em recorrer as escuras abóbadas da tumba para salvar a vida de seu pastor, por mais outro ano, não se pode alcançar esse intento. A morte não aceita atraso – e o tempo chegou, e o relógio soou, a areia da ampulheta consumiu-se, e tão certamente como eles morreram quando chegou-lhes seu tempo, no campo, inesperadamente, assim certamente nós devemos morrer.

Logo, novamente, recordemos que a morte chegará a nós como chegou a eles, com terrores. Não com o estrondo de madeiras quebradas, talvez, nem com a escuridão de um túnel, não com o vapor e a fumaça, não com os gritos das mulheres e os gemidos dos moribundos, mas, no entanto, com terrores. Pois se encontrar com a morte, onde quer que seja, se não estamos em Cristo, e se a vara e o cajado do pastor não nos infundem alento, deve ser uma coisa terrível e tremenda.

Sim pecador, com suaves almofadas debaixo de sua cabeça, e o terno braço de sua esposa para o sustentar e uma doce mão para limpar seu frio suor, em seu corpo encontrará que é um terrível trabalho enfrentar o monstro e sentir seu aguilhão, e entrar em seus espantosos domínios. É um terrível trabalho em qualquer instante, mesmo sob as melhores e mais propícias circunstâncias, que um homem morra sem estar preparado.

E agora, eu desejaria enviar-lhes de volta para casa com um pensamento que fique gravado em sua memória: nós somos criaturas moribundas, não criaturas viventes, e logo teremos ido embora. Talvez, estando eu de pé aqui, e falando rudemente dessas coisas misteriosas, logo essa mão se estendera e cerrará minha boca que balbucia com tão gaguejante esforço; o poder supremo, o Rei eterno, venha quando queiras, oh! Porem, nunca venha em uma hora desperdiçada – que me encontre em elevada meditação, cantando hinos a meu grandioso Criador: fazendo obras de misericórdia aos pobres e aos necessitados, ou carregando em meus braços aos pobres e necessitados do rebanho; ou consolando o desconsolado, ou tocando o sonido da trombeta do Evangelho aos ouvidos das almas surdas que estão perecendo.

Então, vem quando Tu queiras; se Tu estás comigo em vida, não temeria encontrar a Ti na morte: mas, ó, que minha alma esteja preparada com seu vestido de bodas, com sua lâmpada preparada e sua luz acesa, pronta para ver a seu Senhor e entrar no gozo de seu Deus!

Almas, vocês conhecem o caminho de salvação; o escutaram frequentemente, porem, ouçam de novo: “O que crê no Senhor Jesus, têm a vida eterna.” “O que crer e for batizado, será salvo; mas o que não crer, será condenado.” “Crê em teu coração e confessa com sua boca.” Que o Espírito Santo lhes dê graça para fazer ambas as coisas, e tendo feito, possam dizer –

“Vêm, morte, com uma congregação celeste,

Para levar a minha alma.”

 

NOTA: Davi Livingstone, o famoso explorador e missionário, levou em seu bolso uma cópia desse sermão, em suas viagens por toda a África. Ele tinha escrito na margem superior da impressão desse sermão o comentário: “Muito bom. D.L” Quando da morte do missionário, essa mesma cópia foi entregue ao próprio Spurgeon, que a guardou durante toda sua vida como um tesouro. Hoje em dia, essa cópia pode ser vista exposta no Spurgeon’s College, em Londres.

ORE PARA QUE O ESPIRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA TRAZER UM CONHECIMENTO SALVÍFICO DE JESUS CRISTO E PARA EDIFICAÇÃO DA IGREJA

FONTE:

Traduzido de http://www.spurgeon.com.mx/sermon408.html

Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público e com autorização de Allan Roman.

Sermão nº 408—Volume 7 do Metropolitan Tabernacle Pulpit

ORIGINAL: Accidents, Not Punishments

Tradução: Armando Marcos Pinto

(Fonte)

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Espada (Charles Spurgeon)

A espada da justiça não nos ameaça mais, mas a vara de correção paternal ainda está em uso.

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Quando Será a Véspera?

Existe um tempo, não sabemos quando,
Um ponto, não sabemos onde,
Que marca o destino dos homens,
Para glória ou desgraça.

Existe uma linha a nós invisível,
Que cruza cada caminho;
O limite misterioso entre
A paciência e a ira de Deus.

Passar este limite é morrer,
Morrer como se em segredo:
Ele não apagasse o olhar que brilha,
Nem empalidecesse a saúde que incandesce.

A consciência pode estar todavia tranqüila,
O espírito leve e alegre;
Naquele que pensa estar agradando,
E nem cuida ser arremessado para longe.

Mas sobre esta testa, Deus tem colocado
Permanentemente uma marca
Invisível ao homem, porque o homem ainda
É cego e corre na escuridão.

E ainda que o caminho do homem condenado
Como o Éden possa ter florido;
Ele não sabia, nem sabe, nem saberá,
Nem sente que está condenado.

Ele pensa e sente que tudo está bem,
E cada medo é tranqüilizado;
Ele vive, morre, acorda no inferno,
Não somente condenado mas desaprovado.

Ó, onde está Tua misteriosa linha,
A qual nosso caminho cruza,
Além da qual o próprio Deus tem jurado,
Estar perdido quem dela passar?

Até onde podemos viver pecando?
Quanto Deus tolerará?
Quando a esperança termina? E onde começam
Os confins do desespero?

Uma resposta dos céus é enviada:
“Tu que te desvias de Deus
Enquanto és chamado, hoje, Arrepende-te!
E não endureças o teu coração.”

(C. H. Spurgeon)

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A igreja em Filadélfia (Watchman Nee)

Leitura Bíblica: Ap 3:7-13; Mt 23:8-11; Jo 20:27; 1 Co 12:13; Gal 3:28

Neste capítulo apresentamos um diagrama sistemático que pode ajudar-nos a entender melhor o que temos falado. A primeira parte representa a Igreja na era dos apóstolos. Embora Éfeso seja uma Igreja que tenha enfraquecido, ela ainda está na mesma linha reta, uma vez que o Senhor reconheceu a igreja de Éfeso como continuação da igreja apostólica. Então veio Esmirna, que também continuou na mesma linha. Esmirna é realmente uma igreja sofrida. Não há louvor nem censuras para ela. Depois de Esmirna, algo ocorreu quando pareceu Pérgamo. Ela não continuou a ortodoxia dos apóstolos, mas se uniu ao mundo e iniciou uma curva descendente. Ela sucedeu a igreja em Esmirna, mas não continuou na ortodoxia dos apóstolos. Uma vez que Pérgamo fez essa curva, Tiatira seguiu seus passos. Ela tomou a mesma linha de Pérgamo, mais não a mesma dos apóstolos. Sardes saiu de Tiatira, e ela também regrediu. Tiatira e Sardes continuarão até a volta do Senhor.

Filadélfia é a igreja que retorna à ortodoxia dos apóstolos. Filadélfia também fez uma curva, desta vez, de volta à posição inicial da Bíblia. A virada da restauração começou com Sardes e foi completada com Filadélfia. Agora a igreja está de novo na mesma linha reta que a era dos apóstolos. Filadélfia saiu de Sardes. Ela nem a Igreja Católica Romana nem as Igrejas Protestantes, mas continua a igreja da era dos apóstolos. Mas tarde veio Laodicéia, a qual veremos no próximo capítulo. Agora gastaremos algum tempo para ver o que Filadélfia é, a fim de termos clareza com relação ao seu significado.

Entre as sete igrejas, cinco são repreendidas e duas não. As duas não repreendidas são Esmirna e Filadélfia. O Senhor aprova só essas duas. É realmente notório que as palavras faladas pelo Senhor a Filadélfia são muito parecidas com as que foram faladas a Esmirna. O problema de Esmirna era o judaísmo, e em Filadélfia também havia judaísmo. À Igreja em Esmirna o Senhor diz: “Para serdes postos a prova”, enquanto para em Filadélfia o Senhor diz: “Eu te guardarei da hora da provação que deve vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra”. O Senhor também fala às duas igrejas com relação à coroa. Para Esmirna ele diz: “Dar-te-ei a coroa da vida”, enquanto para Filadélfia ele diz: “Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”. As duas igrejas têm estes dois pontos semelhantes para mostrar que elas estão na mesma linha, isto é, na linha da ortodoxia da igreja apostólica. A Igreja em Sardes foi uma restauração, mas não completa (foi uma restauração que não foi bem feita). Mas Filadélfia restaurou até o ponto de satisfazer o desejo do Senhor. A igreja em Filadélfia não só não é censurada como também é louvada. A linha reta que desenhamos é a linha dos escolhidos, sabemos, evidentemente, que aquela que o Senhor escolheu foi Filadélfia. Filadélfia continua a ortodoxia dos apóstolos. Ela recuperou Esmirna. Portanto, as palavras do Senhor a ela são para guardar e obedecer. A virada de Pergamo e Tiatira foi tão grande que quando Sardes apareceu, embora agisse extraordinariamente bem, não recobrou a perfeição. Embora se voltasse em direção à restauração, ela não conseguiu atingir o alvo. Filadélfia é uma restauração completa. Precisamos ver isso claramente.

Filadélfia, em grego, é composta de duas palavras: o significado de uma é amar um ao outro, e o significado da outra é irmão. Assim, Filadélfia significa amor fraternal. Amor fraternal é a profecia do Senhor. Sacrifício é a característica principal de Tiatira e é cumprida na Igreja Católica Romana. Restauração é a característica de Sardes e é cumprida nas igrejas protestantes. Agora o Senhor diz-nos que há uma igreja que está completamente restaurada e é por Ele louvada. Os que lêem a Bíblia levantarão a questão: ” quem é ela na atualidade? Onde podemos encontrá-la na historia?” Não deixemos esta questão passar facilmente.

Já falamos do comportamento dos nicolaítas e do ensinamento dos nicolaítas nas Igrejas em Éfeso e Pergamo. Além disso, já mostramos que eles representam uma casta de sacerdotes. Entre os israelitas, os levitas podem ser os sacerdotes e o restante não pode. Mas na igreja todos os filhos de Deus são sacerdotes. A primeira Epístola de Pedro 2 e Apocalipse 5 nos dizem claramente que todos os comprados com o sangue são sacerdotes (vs. 9,10). Todavia, os nicolaítas criaram o emprego de sacerdote. O Laicato (crentes comuns ou leigos) deve ir ao mundo ter uma ocupação e executar negócios seculares. Os sacerdotes estão acima do laicato e encarregam-se dos negócios espirituais. Os judeus têm o judaísmo, e os nicolaítas desenvolveram o comportamento, tornando-o ensinamento. Veja a classe dos padres. Eles podem encarregar-se dos assuntos espirituais, enquanto outros cuidam de assuntos seculares. A imposição de mãos é assunto deles; somente eles podem abençoar. Se tenho de indagar sobre certo assunto, eu mesmo não posso perguntar a Deus, antes devo pedir-lhes que perguntem a Deus por mim. Na época de Sardes a situação melhorou. O sistema de padres foi abolido, mas o sistema clerical surgiu para tomar o seu lugar. Nas Igrejas protestantes, há as rigorosíssimas igrejas estatais, e há também as igrejas privadas dispersas. Contudo, quer seja na igreja do estado ou na igreja privada, a existência da classe mediadora é sempre vista. A primeira tem o sistema clerical, enquanto a ultima tem o sistema pastoral. Em relação a esse sistema de classe sacerdotal, quer sejam chamados de padres, clérigos ou de pastores, é algo rejeitado pelo Senhor. As igrejas protestantes são uma mudança de forma na continuação do ensinamento nicolaíta de Pérgamo. Embora nas igrejas protestantes ninguém seja chamado de padre, todavia os clérigos e os pastores são exatamente iguais em princípio. Mesmo se mudarmos o nome deles e chamá-los obreiros, enquanto permanecerem na mesma posição, eles tem o mesmo sabor.

Já expusemos bastante as Escrituras como base para mostrar que todos somos sacerdotes. Mas agora há uma controvérsia entre Deus e os homens. Desde que Deus diga que cada um na igreja está qualificado para ser sacerdote, por que os homens dizem que a autoridade espiritual está unicamente nas mãos de uma classe mediadora, tal como a dos padres? Todos os redimidos com o sangue são sacerdotes. Por que o Senhor não repreendeu Filadélfia, mas antes a louvou? Lembre-se que o inicio da classe mediadora foi em Pérgamo e a prática foi em Roma. Eles têm o papa que exerce domínio sobre eles, têm os altos oficiais exercendo autoridade sobre eles, e têm altos oficiais do Vaticano (a igreja-palácio) etc. Mas o Senhor diz: “Vós todos sois irmãos.” Apeguem-se a Mateus 20:25;23:8. É verdade que na Bíblia há pastores, mas a Bíblia não tem o sistema de pastores. Além disso, a palavra pastor é uma tradução; no texto original significa guardador de gado. Você pode chamá-lo de guardador de ovelhas ou guardador de gado. O Senhor diz: “Vocês não devem ter mestres entre vocês, e não devem ter padres”. Mas vejam como a Igreja Católica Romana chama os padres de “padre”, e as igrejas protestantes chamam os pastores de “pastor”. No século dezenove realizou-se um grande reavivamento que aboliu a classe mediadora. Após Sardes, uma grande restauração aconteceu: na igreja os irmãos amavam um ao outro e a classe mediadora foi abolida. Esta é Filadélfia.

Em 1825, em Dublin, capital da Irlanda, houve muitos crentes cujo coração foi movido por Deus para amar todos os filhos do Senhor, não importando em qual denominação estivessem. Este tipo de amor não foi frustrado pelos muros da denominação. Eles começaram a ver que a Palavra de Deus diz que há apenas um corpo de Cristo, não obstante em quantas seitas os homens possam dividi-lo. Eles continuaram lendo as Escrituras e viram que o sistema de um homem administrando a igreja e de um homem pregando não é bíblico. Então eles começaram a reunir-se a cada domingo para partir o pão e orar. O ano de 1825 foi (após mais de mil anos de Igreja Católica Romana e várias centenas de anos de igrejas protestantes) a primeira vez em que houve um retorno à adoração simples, livre e espiritual conforme as Escrituras. No inicio eram duas pessoas; mais tarde, quatro ou cinco.

Esses crentes, aos olhos do mundo, eram inferiores e desconhecidos. Mas eles tinham o Senhor no meio deles e a consolação do Espírito Santo. Eles permaneceram sobre a base de duas claras verdades: primeiramente, que a igreja é o Corpo de Cristo e que este Corpo é apenas um; em segundo lugar, no Novo Testamento não havia sistema clerical. Portanto, todos os ministros da palavra estabelecidos pelos homens não são bíblicos. Eles acreditavam que todos os verdadeiros crentes são membros deste único Corpo. Recebiam calorosamente todos os que vinham para o seu meio, não importando a que denominação pertencessem. Não tinham preconceito contra qualquer seita. Eles criam que todos os verdadeiros crentes tinham a função de sacerdote; portanto todos podem entrar livremente no Santo dos Santos. Eles também acreditavam que o Senhor Ascenso concedera diversos dons à igreja para o aperfeiçoamento dos santos, para a edificação do Corpo de Cristo, Portanto, eles foram capazes de renunciar aos dois pecados do sistema clerical (oferecer sacrifício e pregar a Palavra). Estes princípios capacitaram-nos a dar boas vindas a todos os que estão em Cristo como seus irmãos e a estarem abertos a todos os ministros da Palavra ordenados pelo Espírito Santo para servir.

Durante essa época, havia um clérigo na Igreja Anglicana, chamado John Nelson Darby, que estava muito insatisfeito com sua posição na sua própria igreja, acreditando que ela não era bíblica. Ele também se reunia freqüentemente com os irmãos, embora nessa época ele ainda usasse as vestes do clero e fosse um clérigo da Igreja Anglicana. Ele era um homem de Deus, um homem de grande poder e um homem disposto a sofrer. Ele também era um homem espiritual que conhecia a Deus e a Bíblia, e julgava a carne. Em 1827 ele, oficialmente, deixou a Igreja Anglicana, tirou o uniforme de Clérigo e tornou-se um simples irmão reunindo-se com os irmãos. Originalmente o que os irmãos viram foi um tanto limitado, mas quando Darby se juntou oficialmente a eles, a luz do céu verteu como uma torrente. Em muitos aspectos a obra de Darby foi parecidas com a de Wesley, mas suas atitudes em relação à Igreja Anglicana foram totalmente diferentes. No século anterior, Wesley sentiu que não poderia ter paz deixando a igreja estatal; um século mais tarde, Darby sentiu que não poderia ter paz continuando na Igreja Anglicana. Mas quanto ao zelo, à sinceridade e à fidelidade, eles foram muito parecidos em muitos aspectos.

Foi neste mesmo ano que J.G.Bellett também compareceu às reuniões. Ele também era um homem extraordinariamente profundo e espiritual. Essas reuniões, que eram simples, contudo bíblicas, comoveram-no profundamente. A respeito da condição nessa época, ele disse:

Um irmão acabou de dizer-me que lhe ficou óbvio nas Escrituras que os crentes reunindo-se juntos como discípulos de Cristo, eram livres para partir o pão juntos, como o Seu Senhor os advertira; e que, até onde a prática dos apóstolos pode ser um guia, todo domingo deve ser separado para assim lembrar a morte do Senhor e obedecer o que Ele exigiu ao partir.

Em outra ocasião J.G. Bellett disse:

Caminhando certa ocasião com um irmão, enquanto descíamos a rua Lower Pembroke, ele me disse: Não tenho dúvidas de que este é o propósito de Deus com relação a nós – devemos estar juntos com toda simplicidade como discípulos, não servindo em qualquer púlpito ou ministério, mas confiando que o Senhor nos edificará ministrando, uma vez que Ele se agradou de nós e nos viu com bons olhos”. No momento que ele falou estas palavras, fiquei certo de que minha alma recebeu o entendimento correto, e aquele momento eu lembro como se fosse ontem, e posso descrever-lhe o lugar. Foi o dia da grande revelação da minha vida, permitam-me falar assim, como um irmão.

Foi assim que os irmãos gradativamente prosseguiam, recebiam revelação e viam a luz.

Depois de um ano, em 1828, Darby publicou um livrete chamado A natureza e a unidade da Igreja de Cristo. Este livrete foi o primeiro entre milhares de livros publicados pelos irmãos. Neste livro Darby declara claramente que os irmãos não tinham intenção de fundar uma nova denominação ou união de igrejas. Ele disse:

Em primeiro lugar, não é uma união formal de grupos publicamente conhecidos que é desejável; realmente é surpreendente que protestantes ponderados possam desejá-la: longe de estar fazendo o bem, creio que seria impossível que tal corpo fosse pelo menos reconhecido como a Igreja de Deus. Seria uma cópia da unidade da Católica Romana; perderíamos a vida da Igreja e o poder da Palavra, e a unidade da vida espiritual seria totalmente eliminada(…) A unidade verdadeira é a unidade do Espírito, e ela deve ser trabalhada pelo operar do Espírito(…) Nenhuma reunião, que não concebe incluir todos os filhos de Deus na base completa do Reino do Filho, consegue encontrar a plenitude da benção, porque ela não a contempla – porque a sua fé não a inclui(…) Onde dois ou três estão reunidos em Seu nome, Seu nome é lembrado ali para benção(…)

Além do mais, a unidade é a glória da Igreja; mas a unidade para assegurar e promover nossos próprios interesses não é a unidade da Igreja, mas uma confederação e negação da natureza e esperança da Igreja. A unidade, que é da Igreja, é a unidade do Espírito e somente pode estar nas coisas do Espírito; e, portanto, só pode ser aperfeiçoada nas pessoas espirituais.

Mas que deve fazer o povo do Senhor? Deixe-os esperar no Senhor, e esperar de acordo com o ensinamento do Seu Espírito, e em conformidade à imagem, pela vida do Espírito, do Seu Filho. Deixe-os seguir seu caminho pelas pegadas do rebanho, se quiserem saber aonde o bom pastor alimenta Seu rebanho ao meio-dia.

Em outro lugar Darby disse:

Porque a nossa mesa é a mesa do Senhor, não a nossa, recebemos todos os que Deus recebe, todos pobres pecadores fugindo para o Senhor como refúgio, não descansando em si mesmos, mas somente em Cristo.

Foi neste mesmo tempo que Deus operou simultaneamente na Guiana Inglesa e na Itália, levantando o mesmo tipo de reuniões. Em 1829 havia também reuniões na Arábia. Em 1830, em Londres, Plymouth e Bristol, na Grã-Bretanha também havia reuniões. Mais tarde, muitos lugares nos Estados Unidos tinham reuniões, e no continente da Europa havia também muitas reuniões.Não muito depois, em quase todo lugar no mundo, todos os que amavam o Senhor estavam se reunindo desta maneira. Embora não houvesse união exterior, contudo todos foram levantados pelo Senhor.

Uma característica que marcou o aparecimento desses irmãos foi que aqueles que tinham títulos e domínio abandonaram seus títulos e domínio, os com posição abandonaram a posição, aqueles que tinham diplomas rejeitaram seus diplomas, e todos abandonaram qualquer classe ou posição mundanas na igreja e tornaram-se simplesmente os discípulos de Cristo e irmãos uns dos outros. Exatamente como a palavra padre é largamente usada na Igreja Católica Romana e reverendo nas igrejas protestantes, assim a palavra irmãos é comumente usada no meio deles. Eles foram atraídos pelo Senhor e então reuniam-se; por causa do amor deles pelo Senhor, eles espontaneamente amavam uns aos outros.

Com o passar dos anos, entre estes irmãos Deus deu muitos dons para Sua Igreja. Além de J.N. Darby e J.G. Bellett, Deus também concedeu ministérios especiais para muitos irmãos para que Sua Igreja pudesse ser suprida. George Muller, que estabeleceu um orfanato, restaurou a questão de orar com fé. Durante sua vida ele recebeu 1.500.000 vezes respostas de orações. C.H. Mackintosh, que escreveu as notas sobre o Pentateuco, restaurou o conhecimento dos tipos, as prefigurações. D.L. Moody disse que se todos os livros do mundo inteiro fossem queimados, ele ficaria satisfeito em ter apenas uma cópia da Bíblia e uma coleção das notas de C.H.Mackintosh sobre o Pentateuco. James G. Deck deu-nos muitos bons hinos. George Cutting restaurou a certeza da salvação. Seu livrete “Segurança, Certeza e Desfrute” teve trinta milhões de cópias vendidas, em 1930; além da Bíblia este foi o livro mais vendido. William Kelly foi um expositor; ele foi descrito por C.H. Spurgeon como aquele que tinha a mente tão grande quanto o universo. F.W. Grant foi o mais entendido sobre a Bíblia nos séculos dezenove e vinte. Robert Anderson foi o homem que melhor conheceu o Livro de Daniel recentemente. Charles Stanley foi quem melhor levou as pessoas à salvação pregando a justiça de Deus. S.P. Tregelles foi o famoso filologista do Novo Testamento. A história da igreja por Andrew Miller foi a mais bíblica entre as muitas histórias da igreja. R.C. Chapman foi um homem grandemente usado pelo Senhor. Estes foram os irmãos daquela época. Além desses, se fôssemos contar minuciosamente outros entre os irmãos, o número de todos os que foram muito usados pelo Senhor ultrapassaria a mil.

Agora veremos o que esses irmãos nos deram: eles nos mostraram quanto o sangue do Senhor satisfaz a justiça de Deus; a certeza da salvação; como o mais fraco crente pode ser aceito em Cristo, assim como Cristo foi aceito, e como crer na Palavra de Deus, como a base da salvação. Desde que começou a história da Igreja, nunca houve um período em que o evangelho tenha sido mais claro do que naquela época. Além disso, também foram eles que nos mostraram que a Igreja não pode ganhar o mundo inteiro, que a Igreja tem um chamamento celestial e que a Igreja não tem esperança terrena. Foram eles também que abriram as profecias pela primeira vez, fazendo-nos ver que a volta do Senhor é a esperança da Igreja. Foram eles que abriram o livro de Apocalipse e o livro de Daniel e mostraram-nos o Reino, a tribulação, o arrebatamento e a noiva. Sem eles conheceríamos hoje uma pequena porcentagem das coisas futuras. Foram eles também que nos mostraram o que é a lei do pecado, o que é ser libertado, o que é ser crucificado com Cristo, o que é ser ressuscitado com Cristo, como ser identificado com o Senhor pela fé e como ser transformado diariamente por contemplar o Senhor. Eles nos mostraram o pecado das denominações, a unidade do Corpo de Cristo e a unidade do Espírito Santo. Foram eles que nos mostraram a diferença entre o judaísmo e a Igreja. Na Igreja Católica Romana e nas igrejas protestantes, esta diferença não é facilmente vista, mas eles fizeram-nos vê-la de maneira nova. Eles também nos mostraram o pecado da classe mediadora, mostraram que todos os filhos de Deus são sacerdotes e que todos podem servir a Deus. Foram eles que restauraram o princípio de reuniões de 1 Coríntios 14, expondo-nos que profetizar não está baseado em ordenação, mas no dom do Espírito Santo. Se fôssemos enumerar tudo o que eles restauraram, poderíamos muito bem dizer que nas genuínas igrejas protestantes de hoje não há sequer uma verdade que não tenha sido restaurada por eles ou que não tenha sido eles quem as restauraram ainda mais.

Não é de admirar-se que D.M. Panton tenha dito: “O movimento dos irmãos e seu significado é muito maior que o da Reforma.” Thomas Griffith disse: “Entre os filhos de Deus, eles foram os mais qualificados para corretamente dividir a palavra da verdade.” Henry Ironside disse: “Quer sejam os que conheceram os irmãos, quer sejam os que não conheceram os irmãos, todos os que conheceram a Deus têm recebido ajuda deles direta ou indiretamente.

Esse movimento foi maior do que o movimento da Reforma. Podemos também dizer que a obra de Filadélfia é maior que a obra da Reforma. Filadélfia nos dá aquilo que a Reforma não nos deu. Agradecemos ao Senhor que o problema da igreja foi solucionado pelo movimento dos irmãos. A posição dos filhos de Deus foi, por ele, praticamente restaurada. Portanto, tanto em quantidade como em qualidade ela é maior que a Reforma. Por outro lado, notamos que o movimento dos irmãos não é tão famoso quanto a Reforma. A Reforma foi realizada com espada e lança, enquanto o movimento dos irmãos foi realizado pela pregação. Por causa da Reforma muitos perderam a vida nas guerras da Europa. Outra razão pela qual a Reforma é famosa foi seu relacionamento com a política. Muitas nações, por meio da Reforma, livraram-se politicamente do poder de Roma. Qualquer coisa que não seja relacionada à política não é facilmente conhecida pelos homens. Além disso, os irmãos viram duas coisas: uma, é o que chamamos de mundo organizado, isto é, o mundo psicológico, mas também, ao mesmo tempo, o mundo do cristianismo, que é representado pelas igrejas protestantes. Essa é a razão porque eles nem mesmo eram conhecidos nas igrejas protestantes, pois eles não apenas saíram do mundo do pecado, mas também do mundo do cristianismo.

A partir da época deles os homens conheceram o que é a Igreja, que a Igreja é o Corpo de Cristo, que os filhos de Deus são uma Igreja e que não deveriam estar divididos. A ênfase deles era nos irmãos e no verdadeiro amor de uns pelos outros. O Senhor Jesus diz que uma igreja aparecerá cujo nome é Filadélfia.

Agora observemos Apocalipse: “Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve”. Filadélfia é amor fraternal. Por que o Senhor louva Filadélfia? Ele diz que ela é amor fraternal; assim, a posição mediadora foi completamente anulada.

Em Cristo não há homem nem mulher, em Cristo não há irmãs. Somos irmãos, não irmãs. Então, as irmãs perguntarão: “Quem somos nós?” Somos todos irmãos. Por que somos irmãos? Porque todos temos a vida de Cristo. Hoje há muitos homens no mundo, mas eles não são nossos irmãos. Um homem é um irmão, não porque é um homem, mas porque há nela a vida de Cristo. Desde que eu também tenha a vida de Cristo em mim, somos irmãos.Quando ressuscitou e estava para ascender aos céus, o Senhor disse:” subo para o meu Pai e vosso Pai” (Jo 20:17). Em João 1, Ele é o Filho unigênito de Deus; em João 20, Ele é o Filho primogênito de Deus. No capítulo 1 Deus o tem como o único filho; no capitulo 20 sua vida foi dada aos homens, por isso, Ele é o Filho primogênito e todos nós somos irmãos. Pela morte e ressurreição o Filho unigênito de Deus tornou-se o filho primogênito. Podemos ser irmãos porque recebemos sua vida. Porque todos temos recebido a vida de Cristo, somos todos irmãos.Um homem é um irmão porque recebeu a vida de Cristo; uma mulher é um irmão porque também ela recebeu a vida de Cristo; então, todos são irmãos. Todas as epístolas foram escritas aos irmãos, não as irmãs. Individualmente falando, há irmãs, mas em Cristo há somente irmãos. Por causa desta vida todos nos tornamos os filhos de Deus. Todos os “filhos” e “filhas” do Novo Testamento deveriam ser traduzidos como “filhos”. Além da menção em 2 Coríntios 6:18, Deus não tem filhos e filhas. Em Cristo todos estão na posição de irmãos. Em Xangai havia um irmão que era pedreiro. Certa vez, quando eu estava lá, eu lhe disse: “Vá e chame algum irmão para entrar”; Ele replicou: “Você quer que eu chame os irmãos masculinos ou femininos?” Este foi um homem ensinado por Deus. Dirigimo-nos as irmãs, quando nos dirigimos a indivíduos, mas em Cristo não há distinção entre homem e mulher.

Na Igreja também não há escravo nem livre. Não é porque alguém é um mestre, que a vida que ele recebeu é maior, ou porque eu sou um escravo, portanto a vida que recebi é menor. No passado, lembro-me que certo irmão me disse: “Os locais de reuniões tem um aspecto pobre. É melhor prepararmos um lugar especialmente aos oficiais do governo.” Repliquei: “Que você colocaria sobre a placa?” Esta não seria a Igreja de Cristo; seria a Igreja dos oficiais e da alta sociedade. Quando vimos para a Igreja, não há oficiais nem alta sociedade. Na Igreja todos somos irmãos. Quando nossos olhos forem abertos pelo Senhor, veremos que estar acima dos outros é uma gloria no mundo, mas na Igreja não há tal distinção. Paulo diz que em Cristo não há grego nem judeu, escravo ou livre, homem ou mulher. A Igreja posiciona-se não na distinção, mas no amor fraternal.

Essa passagem é igual a outras nas quais o Senhor mencionou Seu próprio nome; aqui Ele diz:”Estas coisas diz o Santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre e ninguém fechará, e que fecha e ninguém abrirá.” Santidade é sua vida; Ele próprio é santidade. Ele é a Verdade diante de Deus; Ele é a Realidade de Deus, e a realidade de Deus é Cristo. Sua mão segura a chave. Aqui, devemos destacar um fato: quando Sardes (referindo-se ao movimento da Reforma N.T.) se levantou para testemunhar pelo Senhor, havia os dominadores deste mundo que a ajudaram a travar a batalha. A luta prosseguiu no continente da Europa por muitos anos e depois na Grã-Bretanha por muitos anos. Mas, e o movimento dos irmãos? Não havia poder por trás deles para sustentá-los. Então, que poderiam eles fazer? O Senhor diz que Ele segura a chave de Davi, que significa autoridade. (A Bíblia chama Davi de rei.) Não se trata de força dos braços nem de propaganda, mas uma questão de abrir a porta. Houve certo editor jornalístico na Grã-Bretanha que disse: “Eu nunca pensei que houvesse tantos irmãos e nunca entendi como esse povo cresceu tão rápido”. Viajando por todo o mundo você descobrirá que em cada lugar há muitos irmãos. Embora entre eles alguns conheçam as doutrinas profundamente e alguns superficialmente, a posição dos irmãos ainda é a mesma. Ao vermos isso, precisamos agradecer o Senhor. O Senhor diz que ele é aquele que “abre e ninguém fechara e que fecha e ninguém abrirá.”

“Conheço as tuas obras (…) que tens pouca força”. Quando chegamos neste ponto, nossos pensamentos espontaneamente retornam ao tempo da volta de Zorobabel (do cativeiro babilônico N.T.), sobre quem certo profeta disse: “Pois quem despreza o dias dos humildes começos” (Zc 4:10). Não despreze o dia das pequenas coisas, isto é, o dia da edificação do templo. Nas Escrituras há uma grande prefiguração da Igreja _ o templo. Quando Davi reinava, o povo de Deus era unido. Mais tarde, eles se dividiram em reino de Judá e reino de Israel. Os filhos de Deus começaram a dividir-se e, ao mesmo tempo, começaram a idolatria e a prostituição. Como resultado, foram capturados e levados para a Babilônia. Todos reconhecem que o cativeiro na Babilônia tipifica Tiatira, a Igreja Católica Romana. Desde que a Bíblia faz da Babilônia um símbolo de Roma, então também a igreja tem um cativeiro babilônico. Que fez o povo de Deus quando retornou do seu cativeiro? Eles voltaram debilmente, grupo por grupo, e edificaram o templo. Parece que eles tipificaram o movimento dos irmãos. Havia muitos judeus, os mais velhos, que viram o templo antigo; agora eles viam com os próprios olhos o estabelecimento do fundamento do templo e choraram em alta voz, porque o templo era inferior em gloria se comparado com aquele do tempo de Salomão. Contudo, Deus falou por intermédio do profeta menor, dizendo: “Não despreze o dia das pequenas coisas, porque este é o dia da restauração”. Aqui , o Senhor diz as mesmas palavras: “tens pouca força”. O testemunho da igreja hoje no mundo, comparado com os dias de Pentecoste, é realmente o dia das pequenas coisas.

“Guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome”. O Senhor os reconhece por duas coisas: não negar o nome do Senhor e não negar a sua Palavra. Na historia da igreja, nunca houve uma era na qual os homens conheceram tanto a Palavra de Deus quanto os irmãos. A luz era como a chuva de uma grande enchente impetuosa. Uma noite, quando eu estava em Xangai, encontrei um irmão que me disse ser cozinheiro em uma embarcação. Falei com ele demoradamente. Receio que muito poucos missionários conhecem a Palavra de Deus tão bem quanto ele. Na verdade, esta é uma das suas características mais evidentes_ eles conhecem a Palavra de Deus. Mesmo se encontrarmos o mais simples entre eles, ele terá mais clareza que muitos missionários.

O Senhor diz: “Não negaste o meu nome”. Desde 1825, os irmãos diziam que somente seriam chamados cristãos. Se alguém lhes perguntasse quem eram eles, eles diriam: “Eu sou cristão”. Mas se alguém perguntar a um membro da igreja metodista, ele dirá: “eu sou um metodista”; se encontrar alguém da Igreja dos Amigos, ele dirá: “Eu pertenço a igreja dos amigos”; alguém da Igreja Luterana dirá: “Eu sou Luterano”; alguém da Igreja Batista vai dizer: ” Eu sou Batista”. Alem de Cristo, os homens ainda usam muitos nomes pelos quais se autodenominam. Mas os filhos de Deus tem um único nome pelo qual chamam a si mesmos. O Senhor Jesus diz: “Orai em Meu nome” e “Reunidos em Meu nome”. Temos somente o nome do Senhor. Whitefield disse: “Sejam todos os outros nomes abandonados; seja somente o nome de Cristo exaltado”. Esses irmãos foram levantados para fazer exatamente isso. A profecia do Senhor diz a mesma coisa, que eles honraram o nome do Senhor. O nome de Cristo é o centro deles. Eles ouvem muito freqüentemente entre eles esta palavra: “O nome de Cristo não é suficiente para separar-nos do mundo? Não é suficiente simplesmente termos o nome do Senhor?”

Certa vez encontrei um crente num trem, que me perguntou que tipo de cristão eu sou. Respondi-lhe que sou apenas um cristão. Ele disse: “Não há tal cristão no mundo. Dizer que você é um cristão não significa nada; você tem de dizer que tipo de cristão você é. Isso é que faz sentido.” Repliquei-lhe: “Eu sou simplesmente um homem que é cristão. Você diz que um homem ser cristão não significa nada? Que tipo de cristão você diria que faz sentido ser? Quanto a mim, só posso ser um cristão _ nada mais”. Naquele dia tivemos uma conversa muito boa.

Devemos observar uma coisa: o pensamento fundamental de muitas pessoas é que o nome do Senhor não é suficiente. Muitos pensam que precisam do nome de uma denominação; eles acham que devem ter outro nome além do nome do Senhor. Não considere que nossa atitude em relação a isto seja exagerada demais. Aqui o Senhor diz: ” Não negaste o meu nome”. Se o meu sentimento está correto, todos os outros nomes são uma vergonha para Ele. Esta palavra “negaste” é a mesma palavra usada para referir-se a negação de Pedro ao Senhor. Que tipo de cristão sou eu? Eu sou um cristão. Não quero ser chamado por outro nome. Muitos não querem honrar o nome de Cristo e não estão dispostos a serem chamados apenas de cristãos. Mas, graças a Deus, a profecia de Filadélfia foi cumprida nos irmãos. Eles mesmo não tem qualquer outro nome característico. Eles são irmãos; eles não são “A Igreja dos irmãos”.

“Eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar”. O Senhor fala à igreja em Filadélfia sobre a porta aberta. Os homens freqüentemente dizem que se você andar de acordo com as Escrituras, a porta será logo fechada. A mais difícil barreira a ultrapassar ao submeter-se ao Senhor é o fechamento da porta. Mas aqui, na verdade, a uma promessa: “Eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar”. No tocante aos irmãos, isto é um fato. No mundo todo, seja ao expor a Bíblia ou a pregar o evangelho, nenhum outro grupo de pessoas, teve as oportunidades que eles tiveram. Fosse na Europa, América ou África, era sempre a mesma coisa. Não há necessidade de sustento humano, de anuncio, propaganda ou contribuições; eles sempre têm muitas oportunidades para trabalhar, e a porta para trabalhar ainda está aberta.

“Eis farei que alguns dos que são da sinagoga de satanás, desses que a si mesmo se declaram judeus, e não são, mas mentem, eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que eu te amei”. Já vimos pelo menos quatro coisas as quais têm feito o cristianismo tornar-se judaísmo: os sacerdotes mediadores, a lei de letras, o templo material e as promessas terrenas. Que diz o Senhor? “Eis que farei vir e prostrar-se aos teus pés”. O judaísmo é destruído nas mãos dos irmãos. Em todo lugar, no mundo inteiro há tal movimento. Onde eles estão o judaísmo é derrotado. Entre os que hoje realmente conhecem a Deus, a principal força do judaísmo tornou-se algo do passado.

“Porque guardaste a palavra da minha perseverança”. Isto está relacionado com “companheiro na tribulação, no reino e na perseverança em Jesus”, em Apocalipse 1. Perseverança aqui é usada como um substantivo. Hoje é tempo da perseverança de Cristo. Hoje o Senhor encontra muitos que escarnecem dele, mas Ele é perseverante. Um dia o julgamento virá, mas ele hoje é perseverante. Sua palavra hoje é a palavra da perseverança. Aqui Ele não tem reputação, ele é uma pessoa humilde, ainda um nazareno, ainda o filho de um carpinteiro. Quando seguimos o Senhor, ele diz: “Guarda a palavra da minha perseverança”.

“Também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a Terra”. Podemos usar Tchankin (cidades da china N.T.) como ilustração: dizer que o guardarei do bombardeio significa que você estará em Tchankin, mas será guardado do bombardeio. Se digo que o guardarei da hora, isto significa que antes daquela hora você acabou de partir para Chengtu. Quando o mundo todo estiver sendo testado (se refere à grande tribulação), não enfrentaremos a tribulação. Antes que aquela hora chegue, já teremos sido arrebatados. Em toda a Bíblia há somente duas passagem que falam da promessa do arrebatamento: Lucas 21:36 e Apocalipse 3:10. Hoje devemos seguir o Senhor, não viver frouxamente, aprender a viver no caminho de Filadélfia e pedir ao Senhor para livrar-nos de todas as provações que vêm.

“Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”. O Senhor diz: “Venho sem demora”, portanto, esta igreja deve continuar até a volta do Senhor. Tiatira não passou, Sardes não passou e Filadélfia ainda não passou também. “Conserva o que tens”, ou seja “A minha Palavra” e o “Meu nome”. Não devemos esquecer a palavra do Senhor e não devemos envergonhar o nome do Senhor. “Para que ninguém tome tua coroa”: todos em Filadélfia já têm a coroa. Nas outras igrejas há o problema de ganhar-se a coroa; aqui o problema é perdê-la. O Senhor diz que já temos a coroa. Em toda a Bíblia apenas uma pessoa sabia que tinha a coroa: Paulo (2Tim 4:8). Assim também entre as igrejas, somente Filadélfia sabe que tem a coroa. Não permita, agora, que nenhum homem tome sua coroa; não saia de Filadélfia deixando sua posição. Aqui diz: “Conserva o que tens para que nenhum homem a tome”.

Isto nos diz claramente que Filadélfia corre um perigo em particular; de outra maneira, o Senhor não lhe teria dado tal advertência. Além disso, esse perigo é bastante real; essa é a razão porque o Senhor lhes deu ordens de modo tão sério. Qual é o perigo que eles correm? O perigo está em perder o que já conseguiram. Assim, o Senhor pede a eles para conservarem o que têm. O perigo não está em não progredirem; antes, está no retrocesso. Eles estão agradando o Senhor porque amam uns aos outros e são fieis à Palavra do Senhor e a seu nome. O perigo está em perder este amor e fidelidade. Que terrível! Mas de fato isto foi o que realmente aconteceu. Após 20 anos, os irmãos também dividiram-se em dois grupos: os “exclusivos” e os “abertos”, e dentro das duas divisões há muitas facções. Portanto, em Filadélfia também há o chamado aos vencedores.

Qual foi a razão desse problema? Devemos ser muitos cuidadosos e humildes; do contrario, seremos envolvidos no mesmo erro. Cremos que qualquer tipo de divisão é resultado da perda de amor de um pelos outros; quando o amor não existe ou está faltando, as pessoas dão atenção às leis, enfatizam comportamentos forçados e perdem-se em detalhes procurando falhas. Uma vez que o amor está em perigo, as pessoas ficaram orgulhosas de si mesmas e invejosas das outras, gerando, então, controvérsias e disputas. O Espírito Santo é a força da unidade, enquanto a carne é a força da divisão. A menos que a carne seja tratada, cedo ou tarde ocorrerá a divisão.

Além do mais, creio que a carência dessa época foi que os Irmãos Unidos não viram a base e o limite da igreja. Eles viram claramente, do lado negativo, os pecados da igreja, mas do lado positivo, quanto à igreja deve amar um ao outro a ser unânime quanto á base e limite da cidade, eles não viram adequadamente. A Igreja Católica Romana dá atenção á união de uma igreja nesta terra, enquanto os Irmãos Unidos deram atenção a uma união idealista de uma igreja espiritual nos céus. Eles não viram ou, pelo menos, não viram tão claramente que o amor de uns pelos outros nas epistolas é o amor de uns pelos outros na igreja em uma cidade; a unidade é a unidade da igreja em uma cidade; o ajuntamento é o ajuntamento da igreja em uma cidade a edificação é a edificação da igreja na cidade; e até mesmo a excomunhão é a excomunhão da igreja em uma cidade. De qualquer forma somente dois tipos de pessoas falam sobre a unidade da igreja: a Igreja Católica Romana fala da unidade de todas as igrejas na terra, enquanto os Irmãos Unidos falam da unidade espiritual nos céus. Como resultado, a primeira não é senão a unidade em aparência exterior, enquanto a ultima é a unidade idealista; na verdade, porem, é divisiva. Ambas não atentaram para a unidade da igreja em cada e toda cidade como registrado na Bíblia.

Desde que os Irmãos Unidos não deram tanta atenção ao fato de que a igreja tem a cidade como seu limite, os “Irmãos Exclusivos” exigiram ação unificadora por todo o lugar, resultando na quebra do limite da cidade e caindo no erro da igreja unida; enquanto os “Irmãos Abertos” exigiram a administração independente de cada reunião, cujo resultado em muitas cidades foi muitas igrejas em uma cidade, caindo assim no erro da igreja congregacional, que torna cada congregação uma unidade independente. Os “Irmãos Exclusivos” excedem o limite da cidade, enquanto os “Irmãos Abertos” são menores que os limites da cidade. Eles esquecem que na Bíblia a uma e apenas uma igreja em cada cidade. As palavras na Bíblia para a igreja são dirigidas para esse tipo de igreja. É muito estranho que a tendência de hoje seja mudar as palavras que, na Bíblia, são ditas para a igreja em uma cidade, para palavras faladas para a igreja espiritual. Além disso, alguns irmãos estabelecem uma igreja que é menor que a cidade _ a igreja “casa” é um exemplo. Mas na bíblia não há nenhuma “união de igrejas” das igrejas de todo lugar nem há igrejas de congregações e de reuniões em uma cidade como igrejas independentes. Uma igreja para varias cidades, ou várias igrejas em uma cidade _ ambas não são ordenadas por Deus. A palavra de Deus claramente revela que uma cidade pode ter uma só igreja, e somente pode haver uma igreja em cada cidade. Ter uma igreja do tamanho de muitas cidades exige uma unidade que a Bíblia não exige, e ter várias igrejas em uma cidade divide a unidade que a Bíblia exige.

A dificuldade dos Irmãos unidos naqueles dias foi que eles não tinham suficiente clareza a respeito do ensinamento da Bíblia sobre a cidade. O resultado é que desde que aqueles que tomaram o tipo de unidade “União de Igrejas” uniram-se a irmãos em outros lugares, eles não mais temeram estar divididos com os irmãos na mesma cidade. E os que tomavam a reunião como uma unidade e não tinham problema com os irmãos da mesma reunião, não temeram estar dividido com os irmãos que estivessem em outras reuniões na mesma cidade. Porque eles não perceberam a importância dos ensinamentos da Bíblia a respeito da cidade, resultaram divisões em cada caso. O Senhor não exigiu a unidade impraticável de todos os lugares. O Senhor não permitiu tomar-se uma reunião como limite da unidade _ isso é livre demais; é licencioso, sem restrição ou instrução. Apenas uma palavra de desacordo e imediatamente outra reunião é estabelecida com três ou cinco como um grupo, e isso é considerado como unidade. Pode haver somente uma unidade em cada cidade. Que restrição para aqueles com licenciosidade carnal!

O movimento dos irmãos ainda continua. E a luz sobre a “cidade” está cada vez mais clara. Até que ponto o Senhor irá trabalhar, nós não sabemos. Podemos somente aguardar pela história; então teremos clareza. Se nossa consagração ao Senhor é absoluta e nós mesmos somos humildes, receberemos misericórdia para sermos guardados do erro.

“Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais saírá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome”. Durante a Época de Filadélfia tem havido muitos casos de excomunhão de irmãos. Mas aqui eles não podem mais ser excomungado; eles serão uma coluna no templo de Deus. Se a coluna é removida, o templo não permanece em pé. Filadélfia faz com que o templo de Deus permaneça em pé. Há três nomes gravados sobre o vencedor: o nome de Deus, o nome da Nova Jerusalém e o novo nome do Senhor. O plano eterno de Deus está cumprido. As pessoas em Filadélfia retornam ao Senhor e O satisfazem.

“Quem tem ouvidos, ouça o que o espírito diz as igrejas”. Lembre-se, Deus não manteve em segredo o desejo do Seu coração; Ele tem indicado muito claramente o caminho diante de nós.

(A Ortodoxia da Igreja, Watchman Nee)

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Charles Spurgeon Vida cristã

“Venha a Mim e beba!” (Charles Spurgeon)

“No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (João 7:37).

A paciência tem o seu perfeito trabalho no Senhor Jesus, e até o último dia da festa Ele proclamou aos judeus, assim como neste último dia do ano Ele nos proclama e espera ser gracioso para conosco. É verdadeiramente admirável a longanimidade do Salvador em suportar alguns de nós ano após ano, apesar de nossas provocações, rebeliões e resistência ao Seu Espírito Sano,. Maravilha das maravilhas é estarmos na terra da misericórdia!

A piedade expressa-se mais claramente, pois Jesus exclamou, o que implica não somente a altura da sua voz, mas a ternura de seus tons. Ele suplicou para que fôssemos reconciliados. “Oramos por vocês”, disse o apóstolo, “como se o próprio Deus suplicasse a vocês por nosso intermédio”. Que termos fervorosos, emocionantes, são estes! Quão profundo deve ser o amor que faz com que o Senhor chore pelos pecadores, e como uma mãe embale seus filhos em seu regaço! Certamente a cada apelo do Senhor nosso coração desejoso atenderá.

A provisão é feita mais abundantemente; tudo é providenciado para que o homem possa mitigar a sede da sua alma. Para sua consciência, a expiação traz paz; para sua compreensão, o exemplo traz a mais rica instrução; para seu coração, a pessoa de Jesus é o mais nobre objeto de afeição; para todo homem, a verdade como é encontrada em Jesus provê a nutrição mais pura. A sede é terrível, mas Jesus pode removê-la. Embora a alma esteja totalmente faminta, Jesus pode restaurá-la.

A proclamação é feita mais livremente para que cada sedento seja bem-vindo. Nenhuma outra distinção é feita senão a da sede. Quer seja a sede da avareza, da ambição, do prazer, do conhecimento ou de descanso, aquele que sofre disso é convidado. A sede pode ser má em si mesma, e não ser um sinal de graça, mas antes um sinal de pecado imoderado ansiando para ser gratificado com goles mais profundos de lascívia; mas não é a bondade na criatura que leva ao sedento o convite; o Senhor Jesus envia-o, gratuitamente, sem acepção de pessoas.

A personalidade é declarada mais plenamente. O pecador deve vir a Jesus, não a trabalhos, ordenanças ou doutrinas, mas para um Redentor pessoal, que carrega nossos pecados em seu próprio corpo sobre a cruz. O Salvador sangrando, morrendo e ressurgindo é a única estrela da esperança para um pecador. Oh! como anelo por graça, a vir agora e beber, antes que o Sol se ponha no último dia deste ano!

Beber representa uma recepção para a qual nenhuma aptidão é requerida. Um louco, um ladrão, uma prostituta podem beber; e tal pecaminosidade de caráter não é empecilho para o convite ao crente em Jesus. Não precisamos de taça de ouro, nem de cálice adornado, no qual transportar a água para o sedento; a boca da pobreza é convidada a inclinar-se e tomar goles da corrente que flui. Lábios cheios de bolhas, leprosos, sujos podem tocar a corrente do amor divino; eles não podem poluí-la, mas eles serão purificados. Jesus é a fonte da esperança. Caro leitor, ouça a voz amorosa do amado Redentor quando proclama a cada um de nós:

“SE ALGUÉM TEM SEDE, VENHA A MIM E BEBA”.

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