Nós nunca podemos pegar Deus de surpresa. Nunca podemos nos antecipar a Ele. Ele sempre faz o primeiro movimento. Ele está sempre ali, “no princípio”. Antes que existíssimos, Deus agiu. Antes de termos decidido buscar a Deus, Deus já estava buscando por nós. A Bíblia não é um registro de pessoas tentando descobrir Deus, mas de Deus buscando-nos para nos encontrar.
Muitas pessoas imaginam Deus sentado confortavelmente em um trono distante, remoto, indiferente, desinteressado, um Deus que, na verdade, não cuida de nossas necessidades e que se aborrece em ter de fazer alguma coisa a nosso favor. Essa visão é completamente errada. A Bíblia revela um Deus que, muito antes mesmo de ocorrer a homens e mulheres se voltarem a Ele, enquanto eles ainda estão perdidos em trevas e mergulhados em pecado, toma a iniciativa, levanta-se de seu trono, deixa de lado Sua glória e não pára de procurar enquanto não os encontra.
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Conferência com Christian Chen. Tema: O relógio de sol do rei Acaz e o salmo 126
A Soberana Graça de Deus e a Responsabilidade do Homem
N0 207
Sermão pregado no Domingo, 1º de Agosto de 1858
Por Charles Haddon Spurgeon
No Music Hall, Royal Surrey Garden, Londres.
“E Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que não me buscavam, Fui manifestado aos que por mim não perguntavam. Mas para Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente.”
(Romanos 10:20-21, ACF)
Sem dúvida, estas palavras referem-se principalmente à rejeição dos judeus e à escolha dos gentios. Os gentios eram um povo que não buscava a Deus, mas vivia em idolatria. Apesar disso, naqueles últimos tempos aprouve a Jeová enviar o Evangelho da Sua Graça a eles – enquanto aos judeus, os quais por muito tempo haviam desfrutado os privilégios da Palavra de Deus, foram repudiados por causa da sua rebelião e desobediência. Creio, no entanto, que embora este seja o principal objetivo das palavras do nosso texto, ainda, como diz Calvino, a verdade ensinada aqui é um tipo de fato universal. Como Deus escolheu o povo que não O conhecia, também tem escolhido, na abundância da sua graça, manifestar a Sua salvação aos homens que estão fora do caminho, enquanto, por outro lado, os que continuam perdidos após terem ouvido a Palavra, assim continuam devido ao seu pecado deliberado. Pois Deus o dia todo “estende as suas mãos a um povo rebelde e contradizente.”
A abordagem da Verdade não é uma linha reta, mas são duas. Ninguém nunca obterá uma visão correta do Evangelho até aprender como olhar para as duas linhas de uma vez. Em um livro sou ensinado a acreditar que o que semear, colherei. Em outro sou ensinado que, “assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece.” Em um lugar vejo a Providência de Deus governando tudo. E ainda assim vejo – e não posso deixar de ver – que o homem age como lhe agrada e que Deus tem, em grande medida, deixado seus atos à mercê da própria vontade dele. Então, se eu fosse declarar que o homem é livre para agir de modo que não existe a Providência de Deus sobre suas ações, seria levado sobremodo para perto do Ateísmo. E se, por outro lado, eu fosse afirmar que Deus domina tanto todas as coisas, como se o homem não fosse livre o suficiente para ser considerado responsável, sou levado imediatamente ao Antinomianismo ou ao fatalismo! A predestinação por Deus e a responsabilidade do homem são dois fatos percebidos por poucos e considerados inconsistentes e contraditórios. Mas não o são! A culpa está na nossa própria débil capacidade de julgamento. Duas verdades de Deus não podem se contradizer. Se, então, uma parte ensina que tudo é pré-ordenado – é verdade. E se outra ensina que o homem é responsável por todas as suas ações – é verdade. E é minha insensatez que me leva a imaginar que duas verdades de Deus podem, alguma vez, se contradizer. Acredito que estas duas verdades nunca poderão ser fundidas sobre nenhuma bigorna humana, mas como uma estarão na eternidade! São duas linhas quase tão paralelas que a mente que as buscar muito longe nunca perceberá que convergem – mas de fato convergem e se encontrarão em algum lugar na eternidade, perto do trono de Deus de onde toda aVerdade emana!
Agora, esta manhã, eu estou a ponto de considerar as duas doutrinas. No versículo 20, aprendemos as Doutrinas da Graça Soberana: “E Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que não me buscavam, Fui manifestado aos que por mim não perguntavam.” No versículo seguinte, temos a Doutrina da culpa do homem por rejeitar a Deus. “Mas para Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente.”
I. Primeiro, então, a SOBERANIA DIVINA COMO EXEMPLIFICADA NA SALVAÇÃO. Se algum homem é salvo, assim o é pela Graça Divina e somente por ela. A razão da sua salvação não será encontrada nele, mas em Deus. Não somos salvos como resultado de algo que fazemos ou que desejamos – nossas ações e desejos são resultado da boa vontade de Deus e da obra da Sua graça em nossos corações! Nenhum pecador pode detê-Lo, isto é, não pode ir adiante dEle, não pode se antecipar a Ele. O Senhor vem primeiro na questão da salvação, antecede nossas convicções, desejos, medos e esperanças! Tudo o que é bom ou será bom em nós é precedido pela graça de Deus e é o resultado de uma ação divina em nós.
Agora, nesta manhã, falando de atos graciosos de salvação por Deus, noto primeiro que são totalmente imerecidos. Você constatará que as pessoas aqui mencionadas, sem dúvida, não mereceram a graça de Deus. Elas o encontraram, mas nunca O buscaram; Foi manifestado a elas, porém nunca perguntaram por Ele. Nunca houve nenhum homem salvo por merecimento! Perguntem para todos os santos de Deus e eles lhes dirão que sua vida pregressa foi desperdiçada em desejos da carne, que nos dias de sua ignorância se rebelaram contra Deus e se desviaram dos Seus caminhos; e então, quando foram convidados a voltar-se para Ele, desprezaram o convite e quando alertados, jogaram fora o alerta! Vão dizer-lhes que o fato de terem sido atraídos por Deus não foi resultado de qualquer mérito antes da conversão, porque alguns, longe de terem direito a algo, foram os mais terríveis entre os terríveis! Se jogaram no poço absoluto do pecado. Não se envergonharam de todas as coisas das quais sentiríamos vergonha se somente fossem mencionadas. Eram líderes do cartel do crime, príncipes na hierarquia do inimigo. E assim mesmo a Graça Soberana veio sobre eles e foram levados a conhecer o Senhor. Vão afirmar-lhes que não foi o resultado de algo primoroso em sua disposição, embora agora acreditem na existência de algo excelente implantado neles, ainda que nos dias da sua carne não puderam ver uma qualidade que não fosse corrompida em favor do serviço de Satanás! Perguntem-os se pensam que foram escolhidos como resultado da sua coragem e lhe dirão que não. Se alguma coragem havia neles, era deformada, pois esta se inclinava para o mal! Perguntem-os se foram escolhidos de Deus por causa das suas aptidões e lhe dirão que não; havia neles aptidões, porém as prostituíam ao serviço de Satanás! Perguntem-os se foram escolhidos devido à franqueza e à generosidade de seu temperamento e lhe revelarão que estes os levou a mergulhar tão mais profundamente no pecado do que do contrário teriam feito, pois eram “bons camaradas” de cada homem mal, prontos para beber e se juntar a todas as festanças que cruzassem seus caminhos.
Não havia neles nenhuma razão para que Deus usasse de misericórdia em seu favor. E se maravilharam porque Ele não os rejeitou no tempo de seus pecados, não excluiu seus nomes do Livro da Vida e não os arrastou para dentro do abismo onde queima o fogo que irá devorar os ímpios! Mas alguns têm afirmado que Deus escolhe o Seu povo porque prevê que após elegê-los farão isto ou aquilo, e outras tantas ações meritórias e excelentes. Recorra novamente ao povo de Deus e lhes revelarão que desde sua conversão têm tido muitas razões para chorar. Embora possam alegrar-se com a boa obra que Deus começou em suas vidas, muitas vezes tremem com medo de que a obra possa não ser de Deus. Irão dizer-lhe que se às vezes abundam na fé, ainda há tempos em que superabundam na incredulidade! Se às vezes estão cheios de obras de santidade, ainda existem momentos em que choram profusamente por considerar que estes mesmos atos de santidade foram manchados pelo pecado! O cristão irá dizer-lhe que chora profusamente. Sente que há imundície mesmo nos melhores desejos – que precisa pedir perdão a Deus por suas próprias orações – pois existe pecado no meio de suas súplicas e que precisa de aspergir mesmo suas melhores ofertas com o sangue expiatório, porque nunca é capaz de trazê-las sem mancha ou defeito. Você pode recorrer ao mais iluminado dos santos, ao homem cuja presença em meio à sociedade retrata a presença de um anjo e ele assegurará ainda sentir vergonha de si mesmo. “Ah”, ele dirá, “você pode me elogiar, mas eu não posso elogiar a mim mesmo. Pode falar bem de mim, me aplaudir, mas se conhecesse meu coração, enxergaria razões suficientes para me considerar um pobre pecador salvo pela graça, destituído de motivos para se gloriar e constrangido a inclinar sua cabeça e confessar suas iniquidades perante Deus.” A graça é, portanto, totalmente imerecida.
Mais uma vez, a graça de Deus é soberana. Isto significa que Deus tem direito absoluto de dispensá-la como Lhe agrada. Não tem a obrigação de dá-la a ninguém, e se escolher concedê-la a um e não a outro, Sua resposta é: “Porventura, não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom? Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia.” Então, quero que observe como está ilustrada no texto a Soberania da Graça Divina – “Fui achado pelos que não me buscavam, Fui manifestado aos que por mim não perguntavam.” Imagine se Deus fosse esperar que o homem o buscasse seriamente para poder concedê-la? Imagine se Ele, do mais alto dos céus, dissesse: “Tenho misericórdias, mas deixarei o homem só e quando delas necessitar e então se empenhar em me buscar com todo seu coração, dia e noite, com lágrimas, sacrifícios e súplicas, o abençoarei – mas não o farei antes disso.” Mas amados, Deus não diz tais coisas! Sim, é verdade que Ele abençoa aqueles que clamam por Ele, porém os abençoa antes de clamarem, porque Deus mesmo colocou esses clamores em seus lábios! Seus desejos não provêm deles, mas de boas sementes lançadas pelo Senhor no solo de seus corações. Deus salva homens que não O buscam! Oh, quantas maravilhas! É mesmo ato de misericórdia quando Ele salva quem o busca, mas não é esta misericórdia ainda mais gloriosa quando Deus mesmo salva os que não o buscam? Considere a parábola da ovelha perdida. Não diz assim: “Certo homem tinha cem ovelhas e uma delas se perdeu. Permaneceu em casa esperando e veja – a ovelha retornou. Ele a recebeu com alegria e disse aos seus amigos que se regozijassem pois a ovelha perdida havia retornado.” Não. Ele saiu a buscá-la porque nunca teria voltado por conta própria. Teria vagado cada vez mais distante. Ele saiu a buscá-la. Através das montanhas da dificuldade e dos vales do desalento, perseguiu seus passos errantes e a recuperou. Não a conduziu por esse caminho, não a liderou, mas a carregou ao longo dele, e quando a trouxe de volta para casa não disse: “A ovelha retornou”, mas “Encontrei a ovelha que se havia perdido.” Deus busca o homem primeiro, e não ao contrário! E se alguém o busca hoje é porque Ele o buscou primeiro! Se alguém o deseja, saiba que Ele o desejou primeiro; sua busca e desejos sinceros não provêm da sua salvação, mas dos efeitos da graça previamente concedida a você.
“Bem”, alguém argumenta, “eu poderia ter pensado que, embora o Salvador não exija uma busca sincera e constante, suspiros e gemidos por Ele, ainda assim desejaria e demandaria que todo homem deva clamar pela Graça antes de recebê-la”. Amados, de fato esta situação parece natural e Deus a concederá aos que por ela clamarem. No entanto, observem no texto que Ele foi manifestado “aos que por Ele não perguntaram.” Ou seja, o Senhor nos concede Graça antes de pedirmos por ela! A única razão pela qual qualquer homem começa a orar é porque a Graça derramada anteriormente em seu coração o levou a isto. Lembro-me que quando me converti, eu era um Arminiano completo. Pensei que eu mesmo havia começado a boa obra e costumava me sentar e pensar: “Bem, busquei o Senhor por quatro anos antes de encontrá-lo”, e acho que comecei a me elogiar porque havia clamado por Ele insistentemente em meio a muito desânimo! Mas um dia me ocorreu um pensamento: “O que me levou a buscar a Deus?”, e num instante a resposta veio de minha alma: “Por quê? Por que Ele me conduziu a isto! Primeiro deve ter me mostrado minha necessidade Dele, senão eu nunca O teria buscado! Deve ter me mostrado Sua preciosidade, ou eu nunca teria achado que vale a pena buscá-Lo.” Então de uma vez enxerguei com a maior clareza possível as Doutrinas da Graça. DEUS deve começar! A natureza nunca poderá se sobrepujar. Coloca-se água em um reservatório e ela o encherá até um dado limite, mas nunca passará disto sozinha. Então, não está na natureza humana o buscar a Deus. Esta é depravada, logo, deve haver uma pressão excepcional do Espírito Santo sobre o coração para inicialmente nos levar a pedir por misericórdia. Mas veja, não percebemos nada disto durante a operação do Espírito! Clamamos como se fossemos responsáveis por desejarmos o Senhor e O buscamos como se o Espírito Santo não existisse; e embora não saibamos, deve existir um movimento prévio do Espírito em direção ao nosso coração antes de existir um movimento em nosso coração em direção a Ele.
“Nenhum pecador pode estar com o Senhor de antemão,
Sua Graça é mais soberana, mais rica e mais livre.”
Deixe-me dar um exemplo. Vê aquele homem montado em um cavalo cercado por seus soldados? Como está orgulhoso! Com quão consciente dignidade dali exerce controle! O que tens aí contigo, senhor? O que são essas expedições que entesouras com tanto apreço? “Oh, senhor, o que tenho em minhas mãos irá afligir a Igreja de Deus em Damasco. Arrastarei os membros, homens e mulheres, para a sinagoga. Açoitá-los-ei e forçá-los-ei a blasfemarem. E tenho esta comissão do sumo sacerdote de levá-los à força à Jerusalém para matá-los.” “Saulo! Saulo! Não tem amor por Cristo?” “Amor por Ele? Não! Quando apedrejaram Estevão, me encarreguei das roupas das testemunhas e tive prazer em fazê-lo. Como gostaria de ter participado da crucificação do seu mestre, pois os odeio profundamente e contra eles expiro ameaças e massacres.” O que você afirma deste homem? Se ele for salvo, não irá admitir que alguma soberania divina o converteu? Olhe para o pobre Pilatos, quanta esperança havia nele. Queria salvar o Mestre, porém temeu e tremeu. Se tivéssemos tido a chance, teríamos dito: “Senhor, salve Pilatos porque ele não quer matar Jesus e se esforça para livrá-lo. Mas mate o sanguinário Saulo – ele é o líder absoluto dos pecadores.” “Não”, exclama Deus, “farei com os meus como me for aprazível.” ”Os céus se abrem e o brilho da glória desce mais luminosa que o sol do meio-dia! Impressionado com a luz, Saulo cai no chão e uma Voz se dirigindo a ele é ouvida: “Saulo, Saulo, por que me persegues? Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões.” Ele se levanta. Deus aparece para ele:“Veja, porque és para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios.” Não é esta Soberania – Graça Soberana – desprovida de qualquer busca prévia? Deus foi achado por aquele que não o havia buscado! Se manifestou ao que não havia perguntado por Ele. Alguns dirão que aquilo foi um milagre, mas é um que se repete todos os dias da semana!
Uma vez conheci um homem que não ia à casa de Deus por muito tempo. E num domingo de manhã, tendo ido ao mercado comprar dois patos para seu jantar, aconteceu de ver a casa de Deus aberta quando passava. “Bem”, pensou ele, “vou observar o que estes companheiros estão fazendo.” Ele entrou. O hino que cantavam prendeu sua atenção. Ouviu o sermão, esqueceu-se dos patos, descobriu seu próprio caráter – foi para casa e se pôs de joelhos perante o Senhor – e após certo tempo aprouve a Deus dar-lhe alegria e paz em crer! Para começar, aquele homem não tinha nada em si mesmo, nada que levasse alguém a imaginar que um dia ele poderia ser salvo! Mas simplesmente porque Deus quis assim, o homem foi alcançado com o sopro eficaz da Graça e levado a Jesus Cristo! No entanto, nós mesmos somos os melhores exemplos desta situação! Até hoje me assombro pois Deus nunca deveria ter me escolhido. Não consigo entender. E a minha única resposta para a pergunta é: “Sim, ó Pai, porque assim pareceu bem aos teus olhos.”
Creio que agora anunciei a Doutrina de maneira bem clara. Deixe-me apenas dizer algumas palavras sobre ela. Algumas pessoas têm bastante medo desta verdade de Deus. Dizem: “É verdade, ouso dizer, mas mesmo assim você não deveria pregá-la para uma assembleia heterogênea. É muito confortável para o povo de Deus, mas deve ser manejada com cuidado e não deve ser pregada publicamente.” Muito bem, senhor, permito que resolva este assunto com meu Mestre. Ele me deu este grande livro para pregar, e não posso fazer uso de nenhuma outra fonte! Se Ele colocou algo na Bíblia que você considera inadequado, vá e reclame com Ele e não comigo. Sou um simples servo e se o que prego é ofensivo, não posso fazer nada. Se eu envio meu servo com uma mensagem e ele a entrega fielmente, não merece ser repreendido. Coloque a culpa em mim, e não em meu servo. Então eu digo: culpe meu Mestre porque eu somente proclamo Sua mensagem. “Não”, diz alguém, “não é para ser pregada.” Sim, é para ser pregada. Toda a Palavra de Deus é inspirada e útil para algum bom propósito. A Bíblia não ensina assim? Deixe-me dizer-lhes a razão pela qual muitas das nossas igrejas estão em declínio: é simplesmente porque esta Doutrina não tem sido pregada. Onde quer que ela tenha sido defendida, sempre foi “Abaixo o Papismo.” Os primeiros reformadores sustentaram esta doutrina e a pregaram. Bem disse um doutor da Igreja da Inglaterra a alguns críticos: “Olhem para o Lutero de vocês. Não o consideram o mestre da Igreja da Inglaterra? O que Calvino e outros reformadores ensinaram pode ser encontrado em seu Livro sobre a liberdade da vontade.”[1] Além disso, podemos indicar-lhes uma série de ministros desde o início até agora. Falemos da sucessão apostólica! O homem que prega as Doutrinas da Graça é de fato um sucessor dos apóstolos! Não podemos traçar nossa genealogia através de toda uma linhagem de homens como Newton, Whitefield, Owen e Bunyan diretamente até chegarmos a Calvino, Lutero e Zwinglio? Deles então podemos voltar a Savonarola, Jerônimo de Praga, a Huss e então de volta a Agostinho, o pregador mais poderoso do cristianismo. E de Santo Agostinho até Paulo é somente um passo! Não precisamos sentir vergonha da nossa linhagem. Embora os Calvinistas agora sejam considerados heterodoxos, somos e sempre deveremos ser ortodoxos. É a antiga doutrina! Vão e comprem qualquer livro puritano e veja se conseguem encontrar nele o Arminianismo! Pesquisem todas as bancas de livros e veja se podem encontrar algum manuscrito antigo que possua algo diferente da Doutrina da Livre Graça de Deus. Permitam que esta seja trazida para nutrir a mente dos homens e desaparecerão as falsas doutrinas da penitência, confissão e do pagamento pelos seus pecados!
Se a graça é livre e soberana nas mãos de Deus, a doutrina do clericalismo não se sustenta! A compra e venda de indulgências e coisas afins também não! São levados pelos quatro ventos dos céus e a eficácia das boas obras é reduzida em pedacinhos como Dagom diante da arca do Senhor! “Bem”, alguém comenta, “Gosto da Doutrina. Todavia, existem muito poucos que pregam-na e os que o fazem são muito elevados.” É bem provável, mas me importo pouco com o que dizem de mim. Tem muito pouca importância o que os homens falam a seu respeito. Suponha que o considerem “excitado, nervoso”- isto não o torna perverso, certo? Imagine que o julguem um antinomiano – isto não o torna um deles! No entanto, devo confessar que há alguns homens que pregam esta doutrina causando dez vezes mais mal do que bem porque não pregam sobre a próxima sobre a qual vou falar, e que é igualmente verdadeira! Possuem a primeira para ser a vela, mas não esta última para ser o lastro. Podem pregar sobre um lado da moeda, mas não sobre o outro. Podem concordar com a alta Doutrina, porém não falarão sobre a Palavra em sua totalidade. Tais homens caricaturam a Bíblia! Deixem-me comentar aqui o costume de certo grupo de hiper-calvinistas de chamar de “Calvinistas Híbridos” aqueles entre nós que ensinam que é dever do homem se arrepender e crer. Se vocês escutarem alguém dentre eles falar desta maneira, deem-nos meus mais respeitosos elogios e perguntem-nos se já leram os trabalhos de Calvino em suas vidas. Não que eu me importe com o que Calvino disse ou não disse, mas perguntem-nos se algum dia leram suas publicações. E se disserem “Não”, como provavelmente o farão porque existem 48 extensos volumes, digam-nos que o homem a quem chamam um “Calvinista Híbrido”, embora não tenha lido a totalidade dos volumes, já leu uma boa parte deles e conhece sua essência. E sabe que prega substancialmente o mesmo que Calvino, que toda doutrina sobre a qual ensina pode ser encontrada nos Comentários de João Calvino a respeito de uma ou outra parte das escrituras. Somos calvinistas verdadeiros! No entanto, este reformador não é ninguém para nós. Jesus Cristo e ele crucificado e a Bíblia tradicional são nossos pilares. Amados, aceitemos a escritura em sua totalidade! Se encontrarmos alta doutrina, que assim permaneça! Se for baixa doutrina, que permaneça também![2] Lancemos mão somente de padrões proporcionados pela Bíblia!
II. Passemos agora ao segundo ponto. “Agora veja,” comenta meu hiper amigo, “ele vai se contradizer.” Não, meu Amigo, não vou! Vou contradizer você! O segundo ponto é a RESPONSABILIDADE DO HOMEM. “Mas para Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente.” Então, esse povo que Deus abandonou havia sido cortejado, buscado, suplicado que fosse salvo. Mas se recusaram e uma vez que não foram salvos, o abandono foi o resultado de sua desobediência e oposição. Este fato é claramente encontrado no texto. Quando Deus envia os profetas a Israel e estende Suas mãos, qual Seu propósito? Por que desejava que o povo se voltasse para Ele? Ora, para serem salvos! “Não”, alguém diz, ”era para que recebessem misericórdias temporárias.” Não é assim, meu Amigo! O verso anterior diz respeito às misericórdias espirituais e este também, pois se referem à mesma coisa. Então, foi Deus sincero em sua oferta? Ele perdoa o homem ousado o suficiente para dizer que não! Sem dúvida o Senhor é sincero em todas as suas ações – enviou Seus profetas e rogou ao povo de Israel que se apegassem às coisas espirituais, mas se recusaram. E embora estendesse Suas mãos durante todo o dia, ainda assim permaneceram “um povo rebelde e contradizente”, e não receberam Seu amor. E sujaram as mãos com o próprio sangue!
Deixe-me agora observar o cortejo de Deus e suas características. Em primeiro lugar, era o cortejo mais amoroso do mundo! Pecadores perdidos que se encontram ao som do evangelho não estão perdidos por falta do mais carinhoso dos convites. Deus diz que estendeu Suas mãos. Vocês sabem o que isto significa. Têm visto filhos desobedientes que não se voltam para seus pais. O pai estende suas mãos e diz: “Venham para mim, meus filhos, venhas, estou pronto a perdoar-lhes.” A lágrima está em seus olhos e seu coração se move de compaixão enquanto exclama: “Venham, venham.” Deus diz que Ele mesmo fez isto – “Ele estendeu as Suas mãos.” E assim tem agido com alguns de vocês, os quais se não são salvos hoje, são indesculpáveis, pois Deus lhes estendeu Suas mãos e disse: “Venham, venham.” Vocês têm estado ao som do evangelho por um longo tempo e têm sido fiel, eu creio, e têm chorado! Seu pastor não se esqueceu de orar por suas almas em secreto ou de chorar por vocês quando nenhum olho estava posto sobre ele, o qual tem lutado para convencê-lo como um embaixador de Deus! O Senhor é testemunha das vezes que estive neste púlpito e não poderia ter rogado com mais força por minha própria vida do que roguei pelas suas! Em nome de Jesus tenho clamado: “Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” Tenho chorado por vocês como fez o Salvador e usado Suas palavras em Seu nome: “Jerusalém, Jerusalém, quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!” E vocês sabem que suas consciências têm sido tocadas com frequência, que vocês têm sido movidos, não puderam resistir. Deus foi tão gentil com vocês, convidou-os com tanto amor através da Palavra, ajudou-os com tanta mansidão através da Sua providência e Suas mãos estavam estendidas e vocês puderam ouvir Sua voz falando em seus ouvidos: “Vinde então, e argui-me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã.”
Vocês O têm ouvido clamar: “Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas.” Vocês O têm ouvido falar com todo o amor do coração de um pai: ”Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar.” Oh, Deus implora para que o homem seja salvo e hoje Ele diz a cada um de vocês: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados. Tornai-vos para mim, diz o Senhor dos Exércitos, considerai os vossos caminhos.” E com amor Divino Ele o corteja como um pai corteja seu filho, estendendo Suas mãos e clamando: “Tornai-vos para mim, tornai-vos para mim.” “Não,” diz um doutrinário, “Deus nunca convida todos os homens a tornarem-se para Ele, mas somente alguns indivíduos.” Pare, senhor! Isto é tudo o que você sabe. Nunca leu sobre a parábola aonde é dito: “Meus bois e cevados já estão mortos, e tudo já está pronto; vinde às bodas.” E os que foram convidados não quiseram ir. E nunca leu que todos começaram a dar desculpas e foram punidos porque não aceitaram o convite? Então se os convites não são feitos para todos, mas somente para quem iria aceitá-lo, como esta parábola pode ser real? A verdade é que os bois e cevados estão mortos, o jantar preparado e o trompete ressoa: “Todos os que têm sede, vinde e comei, vinde e bebei.”Aqui está a distribuição das provisões, a total suficiência – o convite é de graça – é grande e sem limitação! “E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida.” E este convite é expresso com palavras mansas: “Vinde a mim, filho meu, vinde a mim.” “Todo o dia estendi as minhas mãos.”
E note de novo, este convite era muito frequente. As palavras “todo o dia” podem ser traduzidas por “diariamente.” “Diariamente estendi as minhas mãos.” Pecador, Deus não o chamou uma vez para ir e então deixá-lo só, mas todos os dias tem estado com você! Todos os dias a consciência fala com você. Todos os dias a providência o adverte e todo dia do Senhor a palavra de Deus o corteja! Oh, quantas contas alguns de vocês terão de prestar no tribunal de Deus! Não posso agora entender o seu caráter, mas sei que alguns julgamentos serão terríveis no final. Deus tem cortejado você durante todo o dia. Desde o seu primeiro amanhecer, ele o corteja através de sua mãe e ela costumava a juntar suas mãozinhas e ensiná-lo a dizer:
“Gentil Jesus, manso e humilde
Olhe para esta criancinha,
Compadeça-se da minha singeleza
Permita-me correr para o Senhor.”
E durante sua infância Deus ainda estava estendendo as mãos em sua direção! Como sua professora da escola dominical empenhou-se em trazê-lo ao Salvador! Quão frequentemente seu jovem coração foi influenciado. No entanto, você deixou tudo isto de lado a ainda permanece intocado! Quantas vezes sua mãe lhe falou e seu pai o advertiu? E você se esqueceu das orações em seu quarto quando estava doente, quando sua mãe beijava sua testa queimando de febre, ajoelhava-se e pedia a Deus que poupasse sua vida e então orava mais: “Senhor, salve a alma do meu menino!” Lembre-se da Bíblia que ela te deu quando você começou seu aprendizado e a oração que escreveu naquela capa amarela. Quando ela o presenteou, talvez você não o soubesse, mas deve saber agora o quanto ela desejou seu novo nascimento em Cristo Jesus! Como ela o acompanhou com suas orações e como ela suplicou ao Deus dela por você! E com certeza você ainda não se esqueceu de quantos domingos e sermões desperdiçou e quantas vezes foi avisado! Todo ano escutava pelo menos 104 sermões e alguns de vocês mais, e ainda permanecem como sempre foram!
Porém pecadores, escutar pregações é algo terrível a não ser que abençoe suas almas. Se Deus continua estendendo Sua mão todos os dias, durante todo o dia, será difícil quando você for justamente condenado não somente por suas brechas na Lei, mas por sua rejeição voluntária ao Evangelho! É provável que o Senhor continue estendendo Suas mãos até que seus cabelos fiquem grisalhos, ainda convidando-o continuamente – e talvez quando estiver beirando a morte Ele ainda dirá: “Vinde a mim, vinde a mim.” Se porém você ainda insistir em endurecer seu coração, se ainda rejeitar Jesus, eu imploro-lhe que não permita que nada o faça imaginar que continuará sem punição! Oh, eu tremo algumas vezes quando penso naquela classe de ministros os quais dizem aos pecadores que não são culpados por não buscarem o Salvador! Como serão considerados inocentes no Grande Dia do Senhor, eu não sei. Parece-me algo terrível o fato destes pastores estarem embalando pobres almas no sono enganoso por dizer-lhes que não é sua obrigação buscar a Cristo e arrepender-se – mas que podem comportar-se como desejarem a este respeito e quando perecerem não terão culpa a mais por terem ouvido a Palavra. Meu Mestre não disse isto! Lembre-se como Ele disse: “E tu, Cafarnaum, que te ergues até aos céus, serás abatida até aos infernos; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje. Eu vos digo, porém, que haverá menos rigor para os de Sodoma, no dia do juízo, do que para ti.” Jesus não falou assim quando se dirigiu à Corazim e Betsaida – Ele afirmou: “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido com pano de saco e cinza. E, contudo, vos digo: no Dia do Juízo, haverá menos rigor para Tiro e Sidom do que para vós outras.” Não era como Paulo pregava. Ele não afirmava que não havia culpa em desprezar a cruz. Escute uma vez mais as palavras do apóstolo: “Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram.”
Pecador, no Grande Dia do Senhor você deverá prestar contas por cada advertência que recebeu, por cada vez que leu a Bíblia, sim, e por cada vez que negligenciou sua leitura; por cada domingo quando a casa de Deus estava aberta e você negligenciou tirar proveito da oportunidade de ouvir a palavra de Deus e por cada vez que a ouviu e não a escutou! Vocês que são ouvintes desatentos estão jogando lenha na sua própria fogueira eterna! Vocês que ouvem e se esquecem imediatamente, ou ouvem de maneira frívola, estão cavando sua própria cova! Lembrem-se, só você será culpado por sua própria condenação no Último Grande Dia, ninguém mais. Deus não será responsável. “Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus – e este é um grande juramento – não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho e viva.” Deus tem feito muito por você! Ele enviou-lhe Seu Evangelho! Você não nasceu numa terra pagã. Ele lhe deu o Livro dos Livros e uma consciência iluminada. Se você perecer ao som do ministério, perecerá de maneira mais temerosa e terrível do que se estivesse em qualquer outro lugar!
Esta doutrina é tão bíblica quanto a outra. Você me pede para conciliar as duas. Respondo que elas não precisam de conciliação! Nunca tentei fazê-lo para mim mesmo por que nunca pude ver alguma discrepância. A discussão envolve ninharias, picuinhas, não posso responder nada. Ambas são genuínas! Não existem duas verdades inconsistentes entre si e o que podemos fazer é crer nas duas. Na primeira, o santo faz a maior parte. Deixe-o louvar a livre e soberana graça de Deus e abençoar Seu nome! Na segunda, o pecador faz a maior parte. Oh pecador, humilhe-se sob a poderosa mão do Senhor! Pense o quanto Ele tem demonstrado Seu amor por você convidando-o a voltar-se para Ele. Pense o quanto você tem desprezado Sua palavra e rejeitado Sua misericórdia! Pense como tem ignorado cada convite e seguido seu caminho de rebelião contra o Deus de amor e quantas vezes tem transgredido os mandamentos Daquele que o amou.
Como concluirei então? Minha primeira exortação será para os cristãos. Queridos amigos, rogo-lhes que não se rendam a nenhum sistema de fé à parte da Palavra de Deus. A Bíblia, e somente a Bíblia, é a religião dos protestantes. Sou o sucessor do grande e venerado Dr. Gill, cuja teologia é quase universalmente recebida entre as igrejas calvinistas mais maduras. Mas embora eu venere sua memória e creia nos seus ensinamentos, ele ainda não é meu Mestre. O que você encontra nas escrituras é para acreditar e receber! Nunca tema uma doutrina e, acima de tudo, nunca tema um nome. Alguém comentou comigo outro dia que achava que a verdade de Deus encontra-se em algum lugar entre estes dois extremos. Foi correta sua intenção, mas creio que ele estava errado. Não acredito que a verdade de Deus esteja entre dois extremos, mas nos dois! Quando se trata de pregar a salvação, creio que quanto mais profundo o homem possa ir, melhor. A razão pela qual alguém é salvo é Graça, Graça, Graça! E neste ponto, quanto mais minúcias, melhor. Mas quando a questão é porque o homem está condenado, então o Arminianismo está muito mais certo que o Antinomianismo. Não me importo com denominações ou partidos – e sou tão profundo quanto Willian Huntingdon[3] quando se trata da salvação – mas me pergunte sobre condenação e lhe darei uma resposta bem diferente. Não peço aplauso pela graça de Deus. Prego a Bíblia como ela é. Erramos quando o Calvinista começa a interferir na questão da condenação e interfere na justiça de Deus – ou quando o Arminiano nega a Doutrina da Graça.
Minha segunda exortação é: Pecadores, peço a cada pessoa não convertida e ímpia nesta manhã que repudie qualquer forma e estilo de desculpa que o diabo possa incutir em vocês a respeito de sua inconversibilidade. Lembrem-se que nenhum ensino no mundo pode desculpá-los de serem inimigos de Deus por praticarem o que é mau. Quando clamamos por sua reconciliação com o Senhor é porque sabemos que nunca estarão em seu próprio lugar até que isto aconteça. O Senhor Deus os fez. É certo que vocês o desobedeçam? Ele os alimenta todos os dias. Como pode sua insistente insubordinação estar correta? Lembrem-se: quando os céus estiverem em chamas, quando Cristo voltar para julgar o mundo com justiça e seu povo com equidade, não poderão lançar mão de nenhuma justificativa válida neste Último Grande Dia. Se você tentar argumentar: “Senhor, nunca ouvi a Palavra”, a resposta Dele seria: “Sim, a escutou claramente.” “Mas Senhor, minha vontade era má.” “Por sua boca o condenarei. Você conhecia sua vontade detestável e o condeno por ela. “O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz porque as suas obras eram más.” “Mas Senhor”, alguns dirão, “eu não era predestinado.” “O que você tinha com isto? Agiu de acordo com sua vontade quando se rebelou. Não se voltou para Mim e agora o destruirei para sempre. Descumpriu a Minha Lei – sua culpa está sobre sua cabeça.” Se um pecador pudesse dizer no Último Grande Dia; “Senhor, não poderia ter sido salvo de qualquer modo”, seu tormento no inferno seria atenuado por este pensamento. Isto se encaixaria, porém, no mais extremo limite – “Sabia do seu dever e não o cumpriu, pisou em tudo o que era santo, se descuidou do Salvador e como escapará se negligenciar tão grande salvação?”
Então, quanto a mim – alguns de vocês podem ir embora e afirmar que fui antinomiano na primeira parte do sermão e Arminiano no final. Não me importo! Imploro que pesquisem a Bíblia por si mesmos, quanto à Lei e ao Testemunho. Se não falo de acordo com Sua Palavra, é porque não há luz em mim. Prontifico-me a passar pelo teste. Não tenham nada a ver comigo onde não tenho nada a ver com Cristo! Onde me desassocio da palavra de Deus, lancem fora minhas palavras – mas se o que digo é ensinamento de Deus, incumbo-lhes, por Aquele que me enviou, de considerar estas coisas e de voltar-se para o Senhor com todo seu coração.
[1] seu Livro sobre a liberdade da vontade: provável referência ao artigo X dos 39 Artigos da Religião da Igreja da Inglaterra, sobre o livre arbítrio (Confira https://www.dropbox.com/s/nwakukcizywv6ac/artigos.pdf)
[2] Doutrina Alta, Doutrina Baixa: referência a consideração dos mistérios de Deus “altos” e daquilo que é comum “baixo” (nota do revisor)
[3] William Huntington (2 de fevereiro de 1745 – 1 de Julho de 1813) foi um pregador inglês conhecido por pregar que a ”lei moral” era desnecessária. Huntington foi um calvinista crente na dupla predestinação. (Wikipédia)
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ORE PARA QUE O ESPIRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA TRAZER UM CONHECIMENTO SALFÍVICO DE JESUS CRISTO E PARA EDIFICAÇÃO DA IGREJA
FONTE: Traduzido de http://www.spurgeongems.org/vols4-6/chs207.pdf
Todo direito de tradução protegido por lei internacional
Sermão nº 207 — Volume 2 do The New Park Street Pulpit,
Tradução: Adriana Braga Misiara Silva Rodrigues
Revisão: Armando Marcos
Capa: Victor Silva
Projeto Spurgeon – Proclamando a Cristo crucificado.
Projeto de tradução de sermões, devocionais e livros do pregador batista reformado Charles Haddon Spurgeon (1834-1892) para glória de Deus em Cristo Jesus, pelo poder do Espírito Santo, para edificação da Igreja e salvação e conversão de incrédulos de seus pecados.
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(Fonte)
Creio que a conclusão desse ensino, é que, conscientes da soberania de Deus e de que ele sabe o que deve ser feito, não devemos insistir em procurar grandes explicações para as tragédias e fatalidades. Jesus nos ensina que teremos aflições neste mundo (João 1.33) – essa é a norma de uma criação que geme na expectativa da redenção. 1 Pe 4.19 fala dos que sofrem segundo a vontade de Deus. Lemos que não devemos ousar penetrar nos propósitos insondáveis de Deus; não devemos “estranhar” até o “fogo ardente” (1 Pe 4.12).
Irmãos, aprendamos um fato: Deus é por nós. Oh, bendito pensamento! O Senhor, o Senhor da aliança, é por nós. Ele está conosco e é por nós. Freqüentemente, no entanto, não é assim que sentimos. É possível que, algumas vezes, sintamos que Deus não é por nós, mas contra nós. Somos inclinados a crer que Deus está junto de alguma outra pessoa e não está a nosso favor – pensamos às vezes que Deus não está ao nosso lado –, que Ele é muito duro conosco. No entanto, mesmo que possa parecer assim, precisamos firmar-nos no fato de que Ele ainda é por nós. Pode não parecer verdade, mas há uma explicação muito boa para isso. Você sabe qual é a razão? É porque Deus quer trazer-nos para o lado Dele a fim de que Ele possa ser por nós.
Freqüentemente nós não estamos ao lado Dele e, por isso, sentimos que Ele não está ao nosso lado – e, de fato, Ele não pode estar. Mas isso não significa que Deus não é por nós. Em todas essas dificuldades, sejam elas provocadas por nós mesmos ou não, Ele está tentando trazer-nos para Seu lado a fim de poder revelar-se como aquele que, de fato, é por nós.
O Senhor é por nós; mas isso não é tudo, pois Ele não apenas é por nós, mas está conosco e dentro de nós. Deus nos amou tanto que deu Seu Filho unigênito por nós. Por isso, não pode haver dúvida alguma nem medo algum – o Senhor é por nós. Pode acaso ser possível que Ele esteja contra nós? Ele está trabalhando para nosso bem eterno. Está sempre tentando trazer-nos para o lado Dele. Ele é por nós. Ele é por nós eternamente. Este é o nosso Deus.
(Stephen Kaung, Os cânticos dos degraus, p. 126; ALC, 1997)
Hoje em dia, exatamente como a Bíblia profetizou, o homem se torna cada vez mais atrevido em relação a Deus. Um elemento básico comum para a rejeição a Cristo neste mundo e para o desprezo pela sã doutrina na igreja é a falta de reflexão, isto é, de pensar e raciocinar cuidadosamente, de um modo especial sobre Deus, Sua Palavra e Sua vontade. Em vez disso, a preocupação maior do mundo e, infelizmente, de muitos cristãos, é o divertimento. Ficamos ocupados demais em nos entretermos para que possamos refletir sobre Deus. Do mesmo modo como o ateu rejeita o teísmo, assim o divertimento rejeita a reflexão.
Vamos nadar contra a maré e refletir juntos. Deus convocou Israel: “Vinde então, e argüi-me, diz o SENHOR: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã. Se quiserdes, e obedecerdes, comereis o bem desta terra. Mas se recusardes, e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do SENHOR o disse.” (Isaías 1:18-20).
Um grito que parte constantemente do coração de Deus é “Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, tu, ó terra; porque o SENHOR tem falado: Criei filhos, e engrandeci-os; mas eles se rebelaram contra mim. O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende” (Isaías 1:2,3).
Os constantes apelos divinos a Israel para que se arrependesse indicam claramente que Deus não era responsável pelo seu pecado. Ele não havia preordenado a sua rebelião nem o seu castigo. Israel não estava obedecendo à vontade de Deus. O Deus de Israel arrazoa em vão com o Seu povo escolhido: “E eu vos enviei todos os meus servos, os profetas, madrugando e enviando a dizer: Ora, não façais esta coisa abominável que odeio” (Jeremias 44:4). Obviamente Deus não havia predestinado o mau comportamento do seu povo nem a sua condenação, pois nesse caso não teria chamado a idolatria de “essa coisa abominável que odeio”.
Nem são também o egoísmo, o ciúme e o ódio; a fornicação, o adultério e o divórcio; o homossexualismo, o lesbianismo e a rejeição ao casamento uma ordenança divina; nem os abortos e assassinatos, as guerras étnicas e religiosas e todo tipo de violência rompante que tem grassado hoje em dia no mundo inteiro, assim como não existia, pela vontade divina, a iniqüidade do tempo de Noé. Aquele mundo foi destruído pelo dilúvio. Hoje o mundo está maduro para um derramamento mais sério da ira divina contra o pecado.
O homem foi criado à imagem de Deus (Gênesis 1:26-27), não física, mas espiritualmente. “Deus é Espírito” (João 4:24) sem forma física. O homem foi criado para refletir o caráter moral e espiritual de Deus em tudo que pensasse, falasse e fizesse. O Jardim do Éden não foi somente um paraíso de beleza física e de abundância além de toda imaginação, mas também um paraíso como um pedaço do céu na terra. Que gloriosa relação Adão e Eva gozavam! O Jardim era uma sinfonia da glória de Deus expressa na exuberante singularidade de um homem e uma mulher reunidos pelo próprio Deus no primeiro matrimônio. A felicidade extática e indescritível do amor sem egoísmo demonstrado em palavras e atos de contínua gentileza, reflexão, graça, misericórdia, bondade e compaixão, cada um buscando apenas a alegria do outro, na maravilha do íntimo companheirismo.
Quando foi completada a criação divina do universo, dos animais e do homem, Deus viu que “tudo era muito bom” (Gênesis 1:31). Então, o que aconteceu para que tudo desse errado? Como pôde o homem criado à imagem de Deus ter um ódio tão profundo contra o seu Criador e tal determinação para trilhar o seu próprio caminho, expondo sua rebelião diante de um Deus compassivo e Santo, a Quem ele devia sua própria existência?
A Bíblia chama esse enigma de “o mistério da iniqüidade” (2 Tessalonicenses 2:7) e declara que a sua fonte secreta se encontra nas profundezas do coração humano: “Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem” (Marcos 7:21-23).
O coração não é apenas o centro das emoções. Ele se assemelha a um castelo forte, do qual cada pessoa guarda a única chave: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Provérbios 4:23).
Jamais esquecerei a entrevista na TV de um canadense que havia sido preso na Arábia Saudita, falsamente acusado de terrorismo. Sob contínua tortura ele “confessou a sua culpa”, antes de ser posto em liberdade. Aquela experiência aterradora havia lhe ensinado duas coisas: 1. A tortura pode ser tão crucial que a pessoa mais forte pode ser levada a “confessar” qualquer coisa, até mesmo que assassinou a própria mãe. 2. Nenhuma tortura, sem importar quão insuportável seja, pode levar a vítima a crer no que ela é forçada a confessar.
Existe um recanto profundamente oculto, onde a pessoa real guarda os seus recônditos pensamentos e suas verdadeiras intenções. Salomão admoestou o seu filho dizendo que aquilo que o homem diz é sempre um engano para esconder o que ele realmente é no seu íntimo (Provérbios 23:6-8). A Bíblia sempre chama essa fortaleza interior de “o coração” ou “a vontade”. Sem ela é impossível ter a individualidade, amar e ser amado. Deus nos criou de tal maneira que nem mesmo Ele pode nos forçar a crer em alguma coisa. Ele arrazoa conosco no evangelho, a fim de persuadir-nos da verdade. Mas, infelizmente, a maioria das pessoas não dá ouvidos à razão e insiste em palmilhar a estrada larga da destruição, embora sabendo aonde esta o conduzirá.
O mundo está repleto de jovens obstinados e desobedientes, criados na rebelião, não apenas contra os pais, mas contra toda autoridade, especialmente a autoridade divina. A variedade de divertimentos oferecida, até mesmo na igreja, somente os tem afastado de pensar profundamente, isto é, de raciocinar. O resultado, segundo 2 Tessalonicenses 3:2, é o aumento de “…homens dissolutos e maus; porque a fé não é de todos.”
O oculto bastião interior pode ser o trono de um tirano egocêntrico governando os outros, ou o trono do desprendimento se derramando sobre os outros em forma de genuíno amor e compaixão.
“Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á (Mateus 16:25). “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto (João 12:24).
Deus não criou robôs. Ele deu ao homem a vontade de escolher livremente entre o amor e o ódio, para receber a Cristo como Salvador ou então rejeitá-Lo. Deus quer que o homem Nele confie totalmente e que O ame profundamente, a ponto de Lhe entregar a chave da fortaleza interior do seu coração, sem esconder coisa alguma: “Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus olhos observem os meus caminhos” (Provérbios 23:26). Deus não quer iludir-nos nem persuadir-nos superficialmente através de emoções. Ele deseja ganhar os nossos corações com a Sua Verdade e o Seu Amor: “Por isso hoje saberás, e refletirás no teu coração, que só o SENHOR é Deus, em cima no céu e em baixo na terra; nenhum outro há… Amarás, pois, o SENHOR teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças … Não ouvirás as palavras daquele profeta ou sonhador de sonhos; porquanto o SENHOR vosso Deus vos prova, para saber se amais o SENHOR vosso Deus com todo o vosso coração, e com toda a vossa alma. ” (Deuteronômio 4:39; 6:5 e 13:3).
Quando Deus nos comanda a amá-Lo de todo o coração, Ele prova o Seu Amor e desejo de que toda criatura humana seja salva. Seria absurdo que Ele ordenasse a todos que O amassem se Ele não os amasse o suficiente para os salvar, predestinando-os, em vez disso, para o inferno. Leiamos: “E estavam os homens de Israel já exaustos naquele dia, porquanto Saul conjurou o povo, dizendo: Maldito o homem que comer pão até à tarde, antes que me vingue de meus inimigos. Por isso todo o povo se absteve de provar pão. E todo o povo chegou a um bosque; e havia mel na superfície do campo” (1 Samuel 14:24,25). “Ainda assim, agora mesmo diz o SENHOR: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto. E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao SENHOR vosso Deus; porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal(Joel 2:12,13). “… É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus”(Atos 8:37). “… Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10:9).
O mais poderoso testemunho da criação se encontra no DNA. Instruções digitalmente organizadas para construir e operar trilhões de células, como um só corpo, estão inscritas no DNA em linguagem codificada, as quais somente certas moléculas de proteína podem decodificar. Tudo que é escrito tem um autor! E o Autor desse extraordinário conjunto de intricadas informações só poderia ser uma Inteligência Infinita, Aquela que criou e “sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hebreus 1:3).
A rebelião de Satanás e do homem trouxe destruição a toda a ordem universal. O resultado em marcha tem sido os desastres naturais e um crescente aumento de moléstias e deformações entre homens e animais: “Na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora” (Romanos 8:21.22). Até mesmo algumas células já não obedecem às instruções codificadas no DNA, resultando no câncer.
Apesar da extraordinária e indisputável evidência que tem bombardeado o homem na atualidade, ele continua recusando-se a obedecer ao Criador, transformando-se, portanto, num câncer espiritual na terra “… cada um fazendo o que parece bem aos seus olhos” (Juízes 17:6).
Deus teria razão de sobra para destruir a humanidade. Ele quase fez isso com o dilúvio. Nós não existiríamos hoje se Noé não tivesse achado “graça aos olhos de Deus” (Gênesis 6:8). E porque Deus tem sido tão gracioso e misericordioso com os rebeldes? Somente por causa do Seu Amor revelado em Jesus Cristo! O sacrifício de Cristo pelo pecado dos homens é a grande prova do Amor de Deus por toda a humanidade, pois “… Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5:8).
O indescritível horror do pecado é revelado na zombaria, nos açoites e na crucificação do Salvador na cruz. E, assim, à medida em que o homem pecador e rebelde faz o pior, o Amor de Deus brilha mais intensamente: “E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). Em resposta a esta oração o Pai castiga Cristo, totalmente, pelos pecados passados, presentes e futuros de toda a humanidade.
Em amorosa resposta ao homem rebelde, o qual deseja destroná-Lo, Deus enviou o Seu Filho ao mundo, através do nascimento virginal, a fim de pagar a penalidade devida pelo pecado à Sua própria justiça infinita. De fato, Ele não poderia ter agido de outro modo, pois Deus é Amor! (João 4:8,16).
Existe uma enorme diferença entre dizer que Deus é amoroso e que Deus é Amor. A expressão “Deus é” está acoplada às muitas gloriosas promessas e advertências: “Deus é eterno” (Dt 33:27); Ele é “A minha fortaleza e a minha força” (2 Samuel 22:33); “Misericordioso e compassivo” (2 Crônicas 30:9); “Socorro bem presente na angústia” (Salmos 46:1); “Minha defesa” (Salmos 59:17); “Verdadeiramente bom para Israel” (Salmos 73:1);”Fiel é Deus” (1 Coríntios 1:9; 10:13); “Deus é verdadeiro” (João 3:33); “Deus é um fogo consumidor” (Hebreus 12:29), etc.
Contudo, estas expressões falam de como Deus age e não de como Ele é. O Amor é a Sua exata essência. Ele simplesmente AMA! Embora o Amor totalmente livre de interesse seja raramente visto na terra, todo mundo sabe que esse tipo de Amor provém de Deus. Esse reconhecimento está guardado no mais recôndito da memória do coração do homem, como uma recordação do paraíso perdido.
Quando Adão e Eva se rebelaram contra Deus, logo descobriram que “estavam nus” (Gênesis 3:7). Não que estivessem sem roupas (Ver a TBC de fevereiro e outubro 2002), pois esse era um fato desde a criação. Feitos à imagem de Deus, eles deviam estar vestidos da verdadeira luz divina (1 João 1:5). Tem-se dito com razão que “somos como espelhos, cujo brilho depende completamente do sol (o Filho), que brilha através de nós”. O pecado desnudou o primeiro homem e a primeira mulher de tudo que Deus pretendia para eles como criaturas feitas à Sua gloriosa imagem. O reflexo de Sua glória deixou de brilhar através deles, deixando-os espiritual e moralmente despidos. Que tragédia! Hoje o homem continua nu diante do seu Criador, sem a glória da qual foram revestidos os primeiros pais, pois “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3:23). O Amor, que é a perfeita essência de Deus, nos falta porque fomos de Deus separados por causa do pecado. Existe no coração do homem um profundo anseio que somente Deus pode preencher. Ele nos convoca a uma reconciliação com Ele: “E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração”. (Jeremias 29:13). A maior parte dos membros de nossa trágica raça humana se volta para tudo, menos para Deus, na ânsia de satisfazer o vazio que somente Ele pode preencher: “Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai verdadeiramente desolados, diz o SENHOR. Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm águas” (Jeremias 2:12,13).
Assim, ninguém ficará satisfeito a não ser com o próprio Deus. Como o salmista, eles vão clamar: “Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?” (Salmos 42:1-2). Esse tipo de sede não pode ser saciado humanamente, nem com milagres que excitam a carne. É uma sede profunda de conhecer o próprio Deus, numa relação tão íntima que se transforma em tudo que Ele deseja que sejamos. Será essa a paixão do seu e do meu coração? Na oração de Cristo ao Pai, Ele expressa o desejo ardente de que o perfeito Amor de Deus habite e se manifeste através dos que O conhecem: “E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja” (João 17:26). Que oração do coração de Alguém que deseja “trazer muitos filhos à glória” (Hebreus 2:10), à Sua semelhança “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos” (1 João 3:2). Ouçamos a ansiosa expectação de Davi: “Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça; eu me satisfarei da tua semelhança quando acordar” (Salmos 17:15). Isso é mais do que uma restauração do amor que Adão e Eva experimentaram no Jardim. A relação íntima que eles tinham conhecido com o seu Criador poderia, como aconteceu, ser perdida.
Cristo falou a uma preocupada Marta: “E Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada” (Lucas 10:42). Paulo orou pelos crentes de Éfeso “Tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos” (Efésios 1:18). Maravilha das maravilhas! Deus vai restaurar eternamente os pecadores desnudos através de Sua glória em Cristo Jesus: “E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá” (1 Pedro 5:10).
O novo nascimento através da fé em Cristo dá início a uma nova vida em nós. Cristo vive em nós, mas devemos compartilhar diligentemente com Ele: “De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2:12,13). E “E para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente” (Colossenses 1:29).
Possa cada um de nós ter o mesmo firme propósito em nossos corações, enquanto aguardamos ansiosamente a Sua Vinda!
“The Berean Call Letter”, Abril 2004
Tradução de Mary Schultze