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Encorajamento Espírito Santo James Smith Vida cristã

O Espírito vivificador (James Smith)

O Espírito dá vida!

“O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita” (Jo 6.63).

Toda a verdadeira religião1 começa com a vivificação do Espírito. Quando experimentamos isso…
começamos a desejar coisas espirituais,
abrimos os olhos para um mundo novo,
nos tornamos famintos e sedentos de justiça,
e, por fim, provamos que o Senhor é bom.

Temos, então…
novos pensamentos,
novos desejos,
novas esperanças,
novos temores,
novas alegrias e
novas dores.

Os olhos estão fixos em Cristo,
o coração segue Cristo e
o principal desejo da alma é ser como Cristo.

O Espírito não nos vivifica só no início, mas por toda a vida precisamos e somos dependentes da vivificação do Espírito. Ele nos vivifica a orar, e Ele nos vivifica em oração. É Seu vivificar que coloca…
vida em nossas ações de graças,
energia em nossas orações,
confiança em nossas expectativas e
nos permite resistir a Satanás, firmes na fé.

Se Seu poder vivificador é retido, rapidamente nos tornamos maçantes, frios, sem vida e inativos! Não temos…
nenhum poder na oração,
nenhum prazer em ordenanças,
nenhuma liberdade em falar aos santos2,
nenhum proveito ao ler a Palavra de Deus.

Todo dever se torna uma tarefa,
cada privilégio torna-se um fardo e
cada cruz parece insuportável!

Enquanto estamos sob a operação vivificadora do Espírito, podemos fazer todas as coisas. Mas, sem Seu vivificar, não podemos fazer nada.

Freqüentemente, muito freqüentemente, temos de clamar por amarga experiência: “A minha alma está pegado ao pó; vivifica-me segundo a Tua palavra!” (Sl 119.25).

“Espírito vivificador, vivifica minha alma todos os dias!”

Notas

1 Smith, assim como muitos autores do passado (Andrew Murray e Tozer, por exemplo), usa a palavra religião em um sentido positivo, significando relacionamento com Deus. Pode ser entendida como vida cristã. (N. do T.)

2 Isto é, os cristãos, os irmãos com quem nos reunimos. (N. do T.)


(Traduzido por Francisco Nunes. Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria e de tradução e seja exclusivamente para uso gratuito. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)

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Citações Gotas de orvalho Vários

Gotas de orvalho (3)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

Quando nossos planos são interrompidos, os de Deus não são. Seus planos estão transcorrendo exatamente como o planejado, levando-nos sempre (incluindo aqueles minutos ou horas ou anos que parecem quase inúteis ou desperdiçados ou insuportáveis) em frente, até experimentarmos “qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).

(Elisabeth Elliot)

Se nossa vida comum não é um fluir comum de humildade, abnegação, renúncia ao mundo, pobreza de espírito e afetos celestiais, não vivemos a vida dos cristãos.

(William Law)

Não é a força de sua fé, mas o objeto de sua fé o que, de fato, salva você.

(Tim Keller)

Deus nunca usa ninguém grandemente até testá-lo profundamente.

(A. W. Tozer)

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Citações Gotas de orvalho Vários

Gotas de orvalho (2)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

Eu vindico o santo direito de desapontar os homens a fim de evitar desapontar Deus.

(A. W. Tozer)

Deus escreve com uma pena que nunca borra, fala com uma língua que nunca erra, age com uma mão que nunca falha.

(C. H. Spurgeon)

Se você fosse preso por ser cristão, haveria provas suficientes para condená-lo?

(David Otis Fuller)

As melhores ações do homem natural são apenas pecados espetaculares.

(Agostinho)

Tentar ser feliz sem uma percepção da presença de Deus é como tentar ter um dia radiante sem o Sol.

(A. W. Tozer)

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Consolo Encorajamento Irmãos Serviço cristão Sofrimento Vida cristã

Antes do inverno

Inverno na prisão

“Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade […] Procura vir antes do inverno” (2Tm 4.13,21).

Preso pela segunda vez em Roma, como um criminoso comum, na prisão Mamertina, uma prisão úmida e sombria, de acordo com a história, onde ninguém podia sequer ficar em pé, o apóstolo Paulo, que tanto havia proclamado o evangelho por todo o império, percorrendo caminhos, rios e desertos, havia chegado ao final de sua vida: “O tempo da minha partida está próximo” (v. 6).

Um após o outro, os companheiros de antes, com exceção de Lucas, haviam partido; uns, é verdade, para o serviço do evangelho; outros, como Demas, por terem amado “o presente século” (v. 10). Eu sua defesa, ninguém esteve a seu lado, todos o abandonaram. Paulo, sendo pregador, apóstolo e mestre dos gentios, havia cumprido seu serviço perfeitamente, combatendo o bom combate e guardando a fé. Paulo havia se alegrado muito vendo a assembléia em Roma, cujos irmãos, anos antes, o haviam animado (At 28.15). Agora ninguém parecia se preocupar com este pobre e velho prisioneiro, que não tinha com que se proteger do frio que estava por chegar. Precisou pedir que lhe trouxessem sua velha capa, que estava na longínqua Trôade. Na verdade, “o inverno” já havia chegado.

Apesar de o apóstolo estar consciente de sua solidão e do abandono em que se encontrava, a presença do Senhor predominava em seu coração.

E esta súplica se repete: a Timóteo, ele pede: “Procura vir ter comigo depressa […] Procura vir antes do inverno” (vs. 9,21). Em breve, os carrascos conduziriam o condenado ao suplício. Teria ele antes a ocasião e o consolo de ver seu “filho” Timóteo?

Muitos servos do Senhor que estão entre nós chegaram a uma idade avançada. Para eles, o “inverno” chegou; as forças declinaram, a resistência física falta, freqüentemente seus pensamentos se anuviam. Seguramente, eles também desejam que os mais jovens vão vê-los. Ficarão muito gratos por ter amigos que, sem esquecer as necessidades materiais, pensem principalmente naqueles que poderiam alegrar seu coração. Então, esses irmãos em Cristo serão para eles como um raio de luz em circunstâncias muitas vezes sombrias.

Mas, apesar de o apóstolo estar consciente de sua solidão e do abandono em que se encontrava, a presença do Senhor predominava em seu coração. Alexandre lhe havia causado “muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras” (v. 14). Em seu processo, todos os abandonaram; “mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me […] o Senhor me livrará” (vv. 17,18). “Acabei a carreira […] A coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia” (vv. 7,8). Do caminho para Damasco até a prisão em Roma, o Senhor havia sido para ele o Amigo fiel que tantas vezes o havia animado: em Corinto, onde chegou com temor e tremor (At 18.9,10); em Jerusalém, na noite em que foi preso (23.11); durante a tempestade em alto mar (27.23-25), quando os passageiros haviam perdido toda a esperança de salvação. Havia chegado “o inverno” com seus tantos sofrimentos. Paulo estava desprovido de tudo, mas, uma vez mais, o Senhor se manteve a seu lado.

Que mensagem deixaria para seu jovem amigo Timóteo, a quem talvez nem sequer voltaria a ver? Uma última palavra, um último desejo: “O Senhor Jesus Cristo seja com o teu espírito” (2Tm 4.22). Timóteo, por sua vez, também teria de sofrer e cumprir plenamente seu serviço, e onde acharia forças senão naquele que era o conteúdo da visão de seu pai espiritual? Por isso, Paulo disse não apenas “o Senhor seja contigo”, mas “com teu espírito”, o qual tão facilmente poderia desfalecer e abandonar a fé.

Não ocorre o mesmo conosco hoje? Se aqueles que nos guiaram durante nossa infância e juventude partirem, um após o outro, se a tarefa que está diante de nós, com as numerosas necessidades, for pesada, se dificuldades reais aparecerem por todos os lados, a mesma promessa permanece: “O Senhor Jesus Cristo seja com o teu espírito”.

(G. A.)

Toda atividade exterior que não seja o fruto da vida interior tende a fazer-nos trabalhar sem Cristo e a substituí-Lo pelo ego.

A carreira final

O amado apóstolo nos dá uma comovedora idéia das condições finais de seu combate e de sua carreira: a prisão, o frio, a nudez (1Co 4.11; 2Co 11.27; em 2Tm 4.13 pede sua capa), a maldade e a oposição dos homens (vv. 14,15), seu comparecimento diante de César Nero e a ausência de todos os amigos (v. 16). Esses haviam se dispersado, e Demas o havia abandonado. Não é possível fazer parte do grupo dos que amam “o presente século” [este mundo] (v. 10) e também ser dos que amam a vinda do Senhor (v. 8). A epístola termina mencionando o supremo recurso em um tempo de ruína: a graça. Era a saudação do apóstolo (1.2) e também sua despedida (v. 22). Que essa graça esteja com cada um de nós.

(J. K.)

O serviço

O que é o serviço? É ter parte no ministério de amor de Cristo.

Uma vida interior com Deus é o único meio para viver em público por Ele. Toda atividade exterior que não seja o fruto da vida interior tende a fazer-nos trabalhar sem Cristo e a substituí-Lo pelo ego. Tenho muito temor de que se manifeste um grande ativismo quando há pouco comunhão com o Senhor.
Todo verdadeiro serviço deve resultar do conhecimento do próprio Cristo.

(John Nelson Darby)

 

(Traduzido por Francisco Nunes de Un mensaje bíblico para todos, 10/2014, publicado por Ediciones Bíblicas Para Todos (Suíça). Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria e de tradução e seja exclusivamente para uso gratuito.)

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Charles Spurgeon Citações Encorajamento Vida cristã

Para cima! (Charles Spurgeon)

“E havia maior largura […] para cima, […] o templo tinha mais largura para cima” (Ez 41.7).

Não devemos nos contentar entre as brumas do vale, quando temos diante de nós o cimo do Tabor. O orvalho dos montes é refrescante, e é puro o ar das montanhas. Como é rica a visão dos que moram no alto, com as janelas dando para a Nova Jerusalém! Muitos santos contentam-se em viver como os mineiros nas minas de carvão, sem nunca ver o Sol. Seu rosto está manchado de lágrimas, quando poderia estar ungido com óleo celeste.
Estou convencido de que muitos crentes definham em masmorras, quando podiam andar pelos terraços do palácio e avistar a boa terra e o Líbano! Crente, levante-se da condição em que está. Lance de si a inércia, a letargia, a frieza — o que quer que esteja interferindo em seu amor por Cristo. Seja Ele a fonte, o centro e a circunferência de todo o seu prazer. Não se contente mais com suas exíguas conquistas. Aspire por uma vida mais plena, aspire por uma vida mais alta, aspire por uma vida mais nobre. Vá para cima. Vá para mais perto de Deus!

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Deus Encorajamento Sofrimento T. Austin-Sparks Vida cristã

A atitude do Senhor em relação a Seus filhos em adversidade (T. Austin-Sparks)

Publicado pela primeira vez na revista A Witness and A Testimony, mar/abr de 1948, vol. 26-2

Em toda a angústia deles ele foi angustiado, e o anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor e pela sua compaixão ele os remiu; e os tomou e os conduziu todos os dias da antiguidade” (Isaías 63.9).

A primeira cláusula deste versículo é o que vai nos ocupar por uns poucos minutos, e será na mais correta tradução encontrada como nota marginal em algumas Bíblias. Apesar de haver alguma autoridade para a tradução comum das palavras aqui, a verdadeira redação do original é: “Em toda a adversidade deles, Ele não foi adversário”1. Você pode escolher entre as traduções aquela de que mais gosta, e você não estará errado se preferir uma à outra. Mas essa tradução alternativa para o texto usual transmite uma mensagem por si mesma, a qual penso deveria ser grande ajuda, encorajamento e força para nós.

 

O fato da adversidade

Em primeiro lugar, notamos que a adversidade contra o povo de Deus é reconhecida e aceita, isto é, é dada como certa. É desnecessário dizer que, entre o povo de Deus, a adversidade é um fato. Nenhum de nós precisa dizer isso. Aqui a Palavra de Deus destaca o fato de que o povo do Senhor conhece a adversidade e a sofre, e que ela está sob os olhos de Deus. Só resta dizer que ninguém deve pensar que a adversidade significa que as coisas estão erradas. Talvez, às vezes, sintamos que, por causa da severa e contínua adversidade, deve haver alguma coisa errada. Embora possa haver uma esfera na qual a adversidade é o resultado de alguma coisa errada que foi feita, e o inimigo tem um terreno legítimo, no entanto não é a isso que se refere aqui. Em primeiro lugar, não era adversidade por causa do mal ou do erro; era a adversidade que é a experiência comum do povo de Deus que está se movendo com Ele. E, quando é assim, conforme podemos ver em um momento, não há nada errado de modo algum. É isso, a propósito, quanto ao fato da adversidade.

 

A natureza da adversidade

Então, sigamos para a natureza da adversidade referida aqui. A palavra “angústia” ou “adversidade” é a palavra “aperto” [em sentido físico ou figurado]: “Em todo o aperto deles, Ele não foi adversário”. E a idéia de aperto é apta para múltiplas aplicações. Qual é o aperto referido aqui? Bem, Israel é aqui visto como no deserto. Você nota que todas as frases que se seguem levam você de volta à vida de Israel no deserto, e é a essa vida com suas muitas formas de aperto que a palavra se refere.

Em primeiro lugar, os israelitas estavam confinados com respeito a muitas coisas que o mundo tinha e que o mundo pode fazer, as quais constituem toda a vida do mundo e dão ao mundo seu prazer e, tanto quanto ele pode, sua satisfação. Eles foram cortados de tudo aquilo, e por vezes essa forma de aperto veio para eles de forma dura e severa. Você sabe que, quando eles passaram por um tempo especialmente difícil, o coração deles quis voltar para o Egito e eles pensaram nos alhos e cebolas e em tudo o mais que havia lá e os desejaram. No Egito, nós temos isso e também as outras coisas de sentimos falta agora, e é difícil ser separado, como fomos, dessas coisas. Havia um elemento de certeza no Egito, mas fora dali você nunca sabe para onde está indo, tendo de viver um dia após o outro, ou o que vai acontecer com você – tudo o que as evidências atuais conseguem é fazer você se preocupar por não saber o que vai comer amanhã. Isso é uma vida de fé, e fé é uma vida de aperto muito freqüente, separado de muitas coisas e confinado a esse deserto em as coisas são, para a mente natural, “reduzidas” a Deus. (Sabemos que essa é a maneira errada de apresentar isso. Para a mente espiritual, as coisas são expandidas a Deus, mas quem foi plenamente levado para esse lugar, onde o aperto terreno é sempre um alargamento celestial?) Naturalmente, era assim com Israel: confinado, reduzido, enclausurado, apertado no que diz respeito às muitas coisas deste mundo. Porque eles eram o povo de Deus, não podiam fazer nem ter nada. Havia uma esfera inteira de coisas cortadas deles; naturalmente, na alma, isso era aperto.

 

A adversidade não prova que o Senhor é nosso adversário

Quando você e eu começamos a sentir isso – e há dias em que a alegria pura e sem mácula do próprio Senhor e das coisas celestiais se tornam nubladas, veladas e remotas, e percebemos estar mais sensíveis ao aperto e a como estamos confinados –, quão rapidamente o inimigo vem e diz: “O Senhor está contra você! Isso não é a bondade do Senhor, isso não é a beneficência e a graciosidade do Senhor, esse tipo de vida realmente não é a vida que o Senhor prometeu a você.” Ele tenta fazer com que, em nosso coração e em nossa mente, o Senhor seja nosso adversário por causa da consciência da presente situação de dificuldade. Ele deturpa o Senhor; ele pinta o Senhor com as cores de nossa provação, de nossa dificuldade, e diz: “O Senhor é assim; Ele é um mestre difícil de servir. Essa vida cristã não é tudo que disseram que seria. O Senhor enganou você, Ele falhou com você. E mais…”. Ele mistura tudo para maldizer o Senhor.

O que a Palavra está dizendo aqui é definitivamente isto: em todo esse aperto, essa privação, esse confinamento, o Senhor não estava contra os israelitas; por mais que pareça, o Senhor não estava mesmo contra eles. Então, temos de encontrar outra explicação. Os fatos são muito reais, aquelas condições são muito verdadeiras. Adversidade, provação, sofrimento são muito reais, e se eles não significam que o Senhor está contra nós, qual é a explicação?

 

A intenção do Senhor para o bem

A única alternativa, com certeza, é que o Senhor está pretendendo o bem, que Sua intenção não é, em última instância, nossa limitação e privação, mas nosso alargamento, nosso enriquecimento. Evidentemente, o Senhor pode dizer algo diferente do que aquilo que as circunstâncias parecem indicar que ele quer dizer. Em todos esses apertos, Ele não é contra você. “Se Deus é por nós…” (Rm 8.31). Na adversidade, no aperto, no privar de muitas coisas, no dizer “Não” muitas vezes, o Senhor não é contra você, Ele não está roubando você de qualquer coisa realmente boa, tirando de você qualquer prazer real, Ele não está trabalhando contrariamente a seus interesses, Ele não é o adversário. Mas em tudo isso, Ele é por você enquanto você estiver no caminho da vontade Dele, seguindo com Ele.

Eu disse que a palavra “aperto” tem múltiplas aplicações. Eu não vou detalhar de que modo ela pode ser aplicada. Eu conheço o aperto. Quantas vezes o inimigo chuta as portas e, então, diz que o Senhor as chutou porque Ele é contra você! Quão freqüentemente o inimigo leva você ao sofrimento, coloca sobre você alguma coisa, e, então, diz: “Isso é o Senhor!” Quantas vezes o inimigo tenta anuviar sua segurança e trazer condenação e acusação sobre você, e colocar você sob uma sensação de julgamento e, depois, dizer: “É o Senhor!” Não é nenhum pouco!

Essa não é necessariamente a explicação ou a interpretação para tudo. Você percebe que a primeira fase dessas coisas encontra o povo fora e se movendo com o Senhor, e, conforme isso acontecia, os membros do povo iam entrando nessa adversidade de várias formas. E a declaração é que isso não significa que o Senhor era contra eles. Se quisermos, podemos acrescentar muitas outras passagens para mostrar como o Senhor era, na verdade, a favor deles exatamente naqueles dias de dificuldade e de adversidade. Eu só quero dar a você algo sobre o que firmar os pés.

 

O Senhor é o adversário dos rebeldes

A passagem segue para outro e escuro estágio. “Mas eles foram rebeldes […] por isso se lhes tornou em inimigo” (Is 63.10), seu adversário. Mas mesmo quando afirmamos o aspecto negro da coisa, isso amplia o outro. Você se rebelou contra o Senhor? Pode realmente ser dito que você tomou a mesma atitude tomada por aquele povo? Você conhece algumas das perversas e terríveis coisas que eles disseram em sua rebelião, quando o coração deles se afastou do Senhor. Eles, de fato, disseram: “Não queremos mais esse Senhor. Não queremos mais ter esse Senhor.” Isso pode ser dito de você? Bem, então, nessa situação, o Senhor se torna o inimigo daqueles, e será seu inimigo enquanto você estiver naquela posição; Ele não pode estar a seu favor enquanto você estiver lá. Mas se não é assim com você, e, a despeito de todas as fraquezas, falhas, faltas, imperfeições (sim, nós nunca estaremos sem alguma coisa que possa ser condenada em nós), não obstante tudo isso, seu coração é para o Senhor, é seu desejo seguir com Ele, então, Ele não é adversário. Sim, há muitas imperfeições, mas Ele não é adversário. Ele será quando nós, como aquele povo, deliberada e positivamente nos voltarmos e nos rebelarmos contra o Senhor e dissermos: “Não obedeceremos, não seguiremos!”. Então, Ele será nosso adversário. Isso significa que Ele tem de nos levar a julgamento.

 

O amor do Senhor pelos rebeldes

Mas, mesmo assim, a terceira fase é muito abençoada: “Todavia se lembrou […]” (v. 11). Mesmo quando Ele tem de ser adversário dos israelitas por causa da atitude que eles adotaram, o fim disto é que Ele “se lembrou […] de Moisés”. Ele lembrou de Sua Palavra, e a última fase é que Ele volta em amor para restaurar. No final, o Senhor alcança até mesmo os rebeldes. “[…] e até para os rebeldes […]” (Sl 68.18), diz a Palavra. “Ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó” (103.14). Você é um daqueles que, às vezes, de fato desviou-se no coração, com dureza, amargura e ácida indisposição, contra o Senhor por causa da dificuldade do caminho e você se tornou realmente rebelde contra ele, e o inimigo disse: “A coisa toda é sem esperança. Veja que você chutou a porta, e isso é fim!” Oh, como esse inimigo irá tomar o controle de tudo para usar para sua destruição! Mas, mesmo que tenha feito isso, o fim é: Ele “se lembrou”. É uma maravilhosa abertura outra vez de Seu amor para os rebeldes.

Eles estão seguindo com o Senhor; eles sofrem adversidade, mas isso não significa que Ele esteja contra eles. Eles se rebelaram contra Ele, e Ele os tem de levar à disciplina, e naquele momento Ele poderia ser contra eles. Mas aquilo não precisa ser a situação estabelecida e permanente. “A sua misericórdia dura para sempre” (106.1). Se em nosso coração, vez por outra, temos nos tornado amargos, temos sentido que o Senhor foi muito duro e que o caminho não pode ser o caminho de Seu amor, se nós temos nos detido em pensamentos amargos e rebeldes, Satanás vem para tentar consolidá-los numa situação inalterável, que fechará para sempre a porta nos termos do pecado imperdoável. No entanto, o Senhor lembrará Sua Palavra, e Seu amor é manifestado, o qual, na verdade, nunca mudou. Eu espero que não haja muitos que tenham deserdado e se rebelado. Se você é um desses, esta é uma palavra de conforto e encorajamento para você.

O aspecto principal da palavra, no entanto, é para a maioria de nós que, enquanto o coração é para o Senhor, encontra muito aperto, muitos caminhos fechados, muita redução, muita privação, muito do que para a vida natural parece ser um caminho de trevas; porém, isso não significa que o Senhor é contra nós, mas exatamente o oposto. O Senhor está após um alargamento que é muito mais do que um alargamento da vida aqui. Pois, se tivermos tudo aqui, e ainda formos pequenos na medida de Cristo, o que teríamos ganho? Ganhamos nada. Assim, se o alargamento de Cristo parece significar a redução do ego e do mundo, isso é evidência de que o Senhor é por nós, e não contra nós. “Em toda a adversidade deles, Ele não foi seu adversário.” Em todo aperto deles, Ele não era contra eles.

___

1Antes da palavra hebraica tsâr, “adversário, problema, angústia, etc.”, בכל צרתם לא, (a terceira da direita para a esquerda) não há verbo. A Young’s Literal Translation of the Holy Bible, de 1898, e a Literal Translation of the Holy Bible, de 1976, vertem o versículo como indicado por Austin-Sparks. (N.T.)

(Traduzido por Francisco Nunes do livreto The Lord’s Attitude To His Children In Adversity, de T. Austin-Sparks, publicado pela Emmanuel Church, Tulsa, Oklahoma. A maior parte dos textos de Austin-Sparks são transcrições de suas mensagens orais. Os irmãos que as transcrevem não fazem nenhuma edição ou aprimoramento. Por isso, o texto conserva bastante de seu caráter oral, o que, em muitas circunstâncias, não permite uma tradução mais apurada. Se houver qualquer sugestão para aprimoramento desse trabalho, por favor, deixe um comentário.)

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Charles Spurgeon Deus Encorajamento Soberania Sofrimento

Acidentes, não castigos (Charles Spurgeon)


No. 408

Um sermão pregado no Domingo, 8 de setembro de 1861

Por Charles Haddon Spurgeon

No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres.

 

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“E, naquele mesmo tempo, estavam presentes ali alguns que lhe falavam dos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios. E, respondendo Jesus, disse-lhes: Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas? Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis. E aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, cuidais que foram mais culpados do que todos quantos homens habitam em Jerusalém? Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.” Lucas 13:1-5

O ano de 1861 será notório entre seus companheiros por ser um ano marcado por calamidades. Justo na época quando o homem sai para receber o fruto de seus labores, quando a colheita da terra está madura e os celeiros começam a se encher, cheios de trigo novo, a Morte também, essa poderosa segadora, saiu para cortar sua própria colheita – feixes completos foram recolhidos em seu celeiro: a tumba. Terríveis foram os lamentos que formam o hino da colheita da morte.

Ao ler os jornais nessas ultimas semanas, até mesmo as pessoas mais impassíveis experimentaram sentimentos muito dolorosos. Não só ocorreram calamidades tão alarmantes que só de lembrar gelam o sangue, mas também as colunas dos periódicos foram dedicadas a certas calamidades de menor nível de horror, mas que, somadas todas, são suficientes para encher a mente de terror pela tremenda quantidade de mortes inesperadas que recentemente corresponderam aos filhos dos homens.

Não somente temos tido acidentes a cada dia da semana, mas sim até dois ou três – não fomos simplesmente aturdidos pelo alarmante ruído de um terrível estrondo, mas com outro, outro, outro e outro, que seguiram suas pisadas, como os amigos de Jó, até que tenhamos tido necessidade da paciência e da resignação de Jó para escutar a terrível narrativa dessas calamidades. Agora, homens e irmãos, coisas como essas ocorreram sempre em todas as épocas do mundo. Não pensem que isso é algo novo – não considerem, como alguns o fazem, que isso é o produto de uma civilização excessiva, ou resultado dessa descoberta moderna tão maravilhosa como é o vapor. Se jamais se tivesse conhecido a máquina a vapor, e se jamais tivesse sido construído uma ferroviária, de todas as formas teriam ocorrido mortes inesperadas e acidentes terríveis.

Ao revisar os velhos arquivos nos que nossos antepassados registraram os acidentes e as calamidades de seus dias, encontramos que a antiga diligência ofereceu à morte uma presa tão custosa como o trem que roda ferozmente o fez; existiam então tantas portas para o Hades como as que existem hoje – caminhos tão empinados e íngremes que conduziam para a morte que eram transitados por uma multidão tão vasta como em nossa época; por acaso vocês duvidam disso?

Peço a todos que nos dirijamos ao capítulo treze de Lucas. Lembrem-se desses dezoito sobre os quais a torre de Siloé caiu. E dai se nenhuma colisão os tivesse esmagado?[1] Ou que se não tivessem sido destruídos pelo ingovernável cavalo de ferro que os arrastou para água desde um aterro?[2] No entanto, alguma torre mal construída, ou alguma parede golpeada pela tempestade poderia ter caído sobre dezoito de uma vez, e eles teriam perecido igualmente.

Ou, pior que isso, um governante déspota, levando as vidas dos homens penduradas em seu cinto como se fossem as chaves de seu palácio, poderia ter caído subitamente sobre os que estavam adorando no próprio templo, e poderia ter misturado o sangue deles com o sangue dos bezerros que nesse momento estavam sendo sacrificados ao Deus do céu. Não pensem, então, que essa é uma época na que Deus está tratando mais duramente com nós do que antes. Não pensem que a providência de Deus se tem voltado mais dura do que antes: sempre ocorreram mortes inesperadas, e sempre haverá delas – sempre tem ocorrido estações onde os lobos da morte tem caçado em manadas famintas, e provavelmente, até o fim dessa dispensação, o último inimigo terá seu festival periódico e satisfará os vermes com carne humana.

Portanto, não estejam abatidos pelas mortes inesperadas, nem tampouco estejam perturbados com essas calamidades. Continuem com suas atividades normais, e se seus chamados os levam a cruzar o campo da própria morte, o façam, e façam corajosamente. Deus não soltou as rédeas do mundo, não tirou Sua mão do timão do grande barco, ainda:

“Ele em todas as partes possui império,

e todas as coisas servem a Seu propósito;

Cada ato Seu é pura benção,

Seu caminho é luz sem mancha.”

Só aprendam a confiar Nele, e vocês não terão nenhum temor à morte inesperada; “A sua alma pousará no bem, e a sua semente herdará a terra.” (Salmo 25:13)

O tema particular dessa manhã, no entanto, é esse: o uso que devemos encontrar para esses terríveis textos que Deus está escrevendo com letras maiúsculas na história do mundo. Deus falou uma vez, sim, duas vezes; que não se diga que o homem não prestou atenção. Temos visto um vislumbre do poder de Deus, contemplamos alguma coisa da rapidez com que Ele pode destruir nossos concidadãos. “Presta atenção ao castigo e a quem o estabelece;” e ao prestar atenção, façamos duas coisas.

Primeiro, não sejamos tão insensatos para tirar a conclusão a que chegam as pessoas supersticiosas e ignorantes; essa conclusão que está sugerida no texto, quer dizer, que os que são destruídos por meio de acidentes, são pecadores que estão acima de todos os pecadores que habitam o lugar. E, em segundo lugar, cheguemos à conclusão apropriada e correta; façamos um uso prático de todos esses eventos para nossa própria melhoria pessoal: escutemos a voz do Salvador que diz: “se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.”

I. Primeiro, então, TENHAMOS MUITO CUIDADO DE NÃO CONCLUIR APRESSADAMENTE E IRREFLETIDAMENTE SOBRE ESSES TERRIVEIS ACIDENTES: QUE OS QUE OS SOFREM, OS SOFREM POR CULPA DE SEUS PECADOS.

É dito de maneira mais absurda que os que viajam no primeiro Dia de Descanso, e sofrem um acidente, devem considerar esse acidente como um juízo de Deus sobre eles, devido a estarem violando o dia de adoração cristão. É dito, ainda por parte de ministros piedosos, que essa ultima colisão deplorável dos trens deve ser considerada uma notável visitação e sumariamente maravilhosa da ira de Deus contra esses infelizes que por casualidade encontravam-se no túnel Clayton.

Porem, eu apresento meu protesto mais enérgico contra uma conclusão assim, não só em meu nome, mas também em nome Daquele que é o Senhor do cristão e Mestre do cristão. Eu pergunto sobre essas pessoas que foram esmagadas nesse túnel, vocês pensam que elas era maiores pecadoras do que todos os pecadores? “Não, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.”, ou os que morreram na segunda feira passada, vocês imaginam que eles eram maiores pecadores que todos os pecadores que estavam em Londres?[3] “Se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.”

Agora, fixem bem, eu não negaria que existem ocasiões em que houve juízos de Deus sobre pessoas particulares devido a seus pecados; algumas vezes, e eu penso que muito raramente, tais coisas ocorreram. Alguns de nós ouvimos, em nossa própria experiência, que certos homens blasfemaram a Deus e o desafiaram a que os destruísse, e depois morreram repentinamente – e em tais casos, o castigo seguiu tão rapidamente à blasfêmia que era impossível não ver a mão de Deus nele. O homem havia perdido perversamente o juízo de Deus, e sua oração foi atendida, e logo veio o juízo.

E alem de toda dúvida, existe o que se pode descobrir como juízos naturais. Vocês veem a um homem vestindo farrapos, pobre, sem casa; foi um libertino, um bêbado, perdeu seu caráter, e isso não é senão o justo juízo de Deus sobre esse homem, que esteja morrendo de fome e que seja um proscrito dos homens. Vocês podem ver nos hospitais repugnantes exemplos de homens e mulheres que estão terrivelmente enfermos. Que Deus não queira que, em tais casos, nós neguemos que existe um juízo de Deus sobre essas concupiscências ímpias e licenciosas.

E o mesmo pode se disser de muitos casos onde existe um vínculo tão claro entre o pecado e o castigo que até os homens mais cegos podem discernir que Deus converteu a Miséria na filha do Pecado. Porem, em casos de acidente, tal como esses a que me refiro, e em casos de morte repentina e instantânea, repito, eu apresento meu mais sincero protesto contra essa insensata e ridícula ideia que os que perecem dessa forma são mais pecadores que todos os pecadores que sobrevivem sem sofrer dano algum.

Simplesmente permitam-me raciocinar esse assunto com o povo cristão – pois há alguns cristãos sem maior iluminação que se sentirão horrorizados pelo que eu disse. E, os que tendem a ser perversos podem sonhar inclusive que eu estou fazendo uma apologia para o quebrantamento do dia de adoração. Porem, eu não faço tal coisa. Eu não diminuo a gravidade do pecado; eu só testifico e declaro que os acidentes não devem ser vistos como castigos, pois o castigo não pertence a esse mundo, mas sim ao futuro. A todos aqueles que se apressam em considerar cada calamidade como um juízo, eu quero lhes falar na esperança sincera de corrigir-lhes.

Então, permitam-me começar perguntando, meus amados irmãos, por acaso não enxergam que o que vocês dizem não é certo? E essa é a melhor das razões do porque não devem dizê-lo. Suas próprias experiências e observações não lhes ensinam que um evento ocorre tanto ao justo como ao malvado? É certo que o homem malvado às vezes cai morto na rua – mas o ministro também não caiu morto no púlpito, por acaso? É certo que um iate de prazer, no qual os homens buscavam sua própria felicidade em um dia de domingo, afundou precipitadamente – mas não é igualmente certo que um barco que levava somente homens piedosos, cujo destino era um giro para pregar o Evangelho, não afundou também?

A providência de Deus não tem respeito para com as pessoas: e uma tormenta pode abater-se sobre o barco missionário “John Williams[4] , da mesma forma que pode abater-se sobre outro barco repleto de pecadores desenfreados. Ó, acaso não percebem que a providência de Deus foi de fato, e seus tratos externos, mais dura com os bons do que com os maus? Paulo não disse ao contemplar as misérias dos justos em seus dias: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” (1 Coríntios 15:19)

O caminho da justiça frequentemente conduziu os homens ao cavalo selvagem do tormento, da prisão, do patíbulo e para fogueira – enquanto que o caminho do pecado, muitas vezes os levou ao império, ao dominio e à alta estima de seus companheiros. Não é certo que nesse mundo Deus castigue os homens por seu pecado, e os premie por suas boas obras. Não disse Davi: “Vi o ímpio com grande poder espalhar-se como a árvore verde na terra natal? (Salmos 37:35)” E isso deixava o Salmista perplexo durante um tempo, até que foi ao santuário de Deus, e enfim entendeu o fim deles?

Ainda que sua fé lhe assegure que o resultado final da providência trabalhará unicamente para o bem do povo de Deus, no entanto, sua vida, ainda que seja somente uma breve parte do drama divino da história, deve ter-lhe ensinado que a providência não discrimina externamente entre o justo e o ímpio – que o justo perece inesperadamente igual que o ímpio – que a peste não conhece diferenças entre o pecador e o santo – e que a mesma espada da guerra é impiedosa com os filhos de Deus como é com os filhos de Belial.

Quando Deus envia o flagelo, ele mata inesperadamente o inocente da mesma forma que ao perverso e ao insolente. Agora, meus irmãos, se a ideia de vocês de uma providência que castiga e que premia não é certa, por que falam como se ela fosse? E, por que, se não é correta como regra geral, vocês supõem que seja verdadeira nessa instância particular? Demovam essa ideia de suas cabeças, pois o Evangelho de Deus jamais requer que vocês creiam em algo que não é certo.

Porem, em segundo lugar, existe outra razão. A ideia de que sempre que ocorre um acidente devemos considerá-lo como um juízo de Deus, faria que a providência fosse, em vez de um grande abismo, uma poça d’água bem rasa. Pois, qualquer criança pode entender a providência de Deus, se é certo que quando há um acidente ferroviário, é porque as pessoas viajavam em um domingo. Eu posso escolher qualquer menininho da classe mais elementar da escola dominical, e ele me dirá: “sim, eu vejo isso.” Mas então, se a providência é uma coisa assim, se é uma providência que pode ser compreendida, evidentemente não é a ideia de providência da Escritura, pois na Escritura nos é sempre ensinado que a providência de Deus é “um grande abismo”, e mesmo Ezequiel, que possuía a asa do querubim e podia voar muito alto, quando viu as rodas que eram o grande quadro da providência de Deus, só podia dizer que os aros das rodas eram tão altos, tão espantosos e cheios de olhos, de tal forma que lhes era gritado, “roda!

Repito isso para que fique muito claro: se em todos os casos uma calamidade fosse o resultado de algum pecado, então a providência seria algo tão simples como dois mais dois são quatro – seria uma das primeiras lições que uma criancinha poderia aprender. Porem, as Escrituras nos ensinam que a providência é um grande abismo no qual o intelecto humano pode nadar e mergulhar, mas não pode encontrar nem o fundo nem a orla; e se você e eu pretendemos encontrar as razões da providência, e torcer as dispensações de Deus com nossos dedos, só demonstramos nossa insensatez, e não estamos evidenciando que temos começado a entender os caminhos de Deus.

Pois, olhem senhores – suponham por um momento que está acontecendo uma grandiosa representação de uma obra teatral, e que vocês se intrometem na obra e ven a um ator no cenário por um instante, e dizem: “Sim, eu entendo a obra”, que tontos vocês seriam! Acaso não sabem que as grandes transações da providência começaram aproximadamente uns seis mil anos? E vocês vieram a esse mundo faz uns trinta, quarenta anos, e tem visto um ator em cena, e vocês dizem que já entendem a obra. Oras! Vocês não a entendem – apenas começaram a conhecer. Somente Ele conhece o fim desde o principio, somente Ele entende quais são os grandes resultados, e qual é a grandiosa razão pela que o mundo foi feito, e pela qual Ele permite que ocorra tanto o bem como o mal. Não pensem que vocês conhecem os caminhos de Deus; isso equivale a degradar a providência e baixar Deus ao nível dos homens, quando pretendem entender essas calamidades e descobrir os desígnios secretos da sabedoria.

Porem, continuando, vocês não percebem que uma ideia assim animaria o farisaísmo? Essas pessoas que morreram esmagadas, ou queimadas até as cinzas, ou destruídas debaixo das rodas dos vagões do trem, eram piores pecadoras do que nós. Muito bem, então nós devemos ser excelentes pessoas – que excelentes exemplos de virtude! Não fazemos as coisas que elas fazem, e, portanto Deus nos facilita todas as coisas. Na medida em que viajamos, alguns de nós a cada dia da semana, e jamais fomos despedaçados, sobre essa suposição, podemos nos catalogar como os favoritos da Deidade.

Então, não enxergam irmãos, que nossa própria segurança seria um argumento para nos fazer cristãos? Que ós tenhamos viajado em um trem com segurança seria um argumento de que somos regenerados, porem eu jamais li nas Escrituras, “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, por que viajamos de Londres a Brigton sem nenhum problema duas vezes ao dia.” Jamais encontrei nenhum versículo que se pareça com isso – e, no entanto, se fosse certo que os piores pecadores sofrem os acidentes, se derivaria supoer como um contraponto natural a essa proposição que os que não sofrem acidentes devem ser pessoas muito boas, e assim que noções farisaicas geramos e nutrimos dessa maneira.

Porem, eu não posso tolerar essa insensatez nem por um instante. Quando contemplo por um momento os pobres corpos mutilados dos que foram sacrificados tão inesperadamente, meus olhos se enchem de lágrimas, mas meu coração não se vangloria, nem meus lábios acusam – longe de mim tal expressão cheia de orgulho: “Deus, lhe dou graças porque não sou como os outros homens.” Não, não, não, esse não é o espírito de Cristo, nem o espírito do cristianismo. Ainda que possamos agradecer a Deus porque somos preservados, no entanto, podemos dizer: “As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos” (Lamentações 3:22), e devemos atribuir tal fato a Sua graça e unicamente a Sua graça. Porem, não podemos crer que existia algo melhor em nós porque fomos preservados vivos estando a morte tão perto. É somente porque Ele teve misericórdia, sendo muito paciente para conosco, não querendo que pereçamos, mas sim que nos arrependamos, que nos preservou dessa maneira para que não desçamos à tumba, e nos manteve a vida preservando-nos da morte.

Logo, permitam-me comentar que a suposição contra a qual estou contendendo é muito cruel e dura. Pois se esse fosse o caso, que todas as pessoas que assim se encontram com a morte de uma maneira extraordinária e terrível são maiores pecadoras que as demais, isso não seria um duro golpe para os afligidos sobreviventes? E não é pouco generoso da nossa parte consentir nessa ideia, a menos que sejamos forçados a aceitá-la como uma terrível verdade, por razões que não podem ser respondidas?

Agora, eu os desafio a sussurrar ao ouvido da viúva. Vão a sua casa e digam-lhe: “seu esposo era pior pecador que o resto dos homens, por isso morreu.” Vocês não possuem a suficiente brutalidade para isso. Um pequeno bebê inconsciente, que jamais havia pecado, ainda que, sem dúvida, um herdeiro da queda de Adão, é encontrado esmagado em meio dos escombros do acidente. Agora, pensem por um momento, qual seria a infame consequência da suposição que os que pereceram era piores que os outros. Teriam que supor que essa inconsciente criança era pior pecadora que muitos que habitam as guaritas da infâmia e cujas vidas são ainda respeitadas. Não percebem que a coisa é radicalmente falsa?

E talvez eu pudesse mostra-lhes melhor a injustiça disso, lembrando-lhes que um dia isso poderia suceder com vocês. Suponham que lhes caiba encontrarem-se com uma inesperada morte desse tipo; vocês estão anuentes a que se lhes corresponda a condenação sobre essa base? Um incidente assim pode ocorrer na casa de Deus. Permitam-me recordar o que ocorreu uma vez em que estávamos congregados – posso afirmar de coração puro que não nos reunimos com nenhum outro objetivo de não ser o de servir a Deus, e esse ministro não tinha nenhuma meta em ir a esse lugar, exceto o de congregar a muitos que de outra maneira não teriam tido a oportunidade de escutar sua voz. E, no entanto houve funerais como resultado desse esforço santo – pois ainda declaramos que foi um esforço santo, e a benção de Deus o demonstrou. Houve mortes e mortos entre o povo de Deus – quase estou a ponto de dizer que estou contente que foi entre o povo de Deus mais que em outros povos. Um tremendo terror apoderou-se da congregação, e o povo fugiu, e não enxergam que se os acidentes devem ser considerados como juízos, então é uma sã conclusão que nós estávamos pecando ao estar lá. Essa é uma insinuação que nossas consciências categoricamente repudiam.[5]

No entanto, se essa lógica fosse verdadeira, é tão certa contra nós como o é contra outros, e na medida em que vocês repeliriam com indignação a acusação que alguns foram feridos ou golpeados devido ao pecado, estando ali no Music Hall para adorar a Deus, o que rejeitam para vocês o rejeitem para outros, e não querem ser parte da acusação que é apresentada em contra os que foram destruídos durante as ultimas duas semanas, que pereceram por causa de qualquer grande pecado.

Aqui eu antecipo o clamor de pessoas prudentes e zelosas que temem pela arca de Deus, e a querem tocar com a mão e Uzá. “Bem,” dirá algum, “mas nós não devemos falar assim, pois é uma superstição muito útil, pois haveria muitas pessoas que já não viajariam nos domingos devido ao acidente, e, portanto, devemos dizer-lhes, que os que pereceram, pereceram devido que viajaram no domingo.”

Irmãos, eu não diria uma mentira para salvar uma alma, e isso seria dizer mentiras, pois não é verdade. Eu faria qualquer coisa para interromper o trabalho aos domingos e o pecado, mas não forjaria uma falsidade, ainda mesmo para conseguir isso. Essas pessoas poderiam ter falecido na segunda-feira igual como no domingo. Deus não dá uma imunidade especial a algum dia da semana, e os acidentes podem ocorrer em qualquer momento, e é somente uma fraude piedosa quando buscamos jogar assim com a superstição dos homens por causa de Cristo.

O sacerdote da Igreja Católica Romana pode consistentemente usar um argumento assim, porem, um cristão honesto que crê que a religião de Cristo pode cuidar-se a si mesma sem necessidade de falar falsidades, desdenha fazer isso. Esses homens não pereceram porque viajaram num domingo. Que sirva de testemunha o fato de que outros pereceram em uma segunda-feira quando andavam em missão de misericórdia.

Eu não sei por que razão ou por que motivo Deus enviou o acidente. Deus não queira que ofereçamos nossas próprias razões quando Ele não deu Sua razão, mas não nos é permitido converter a superstição dos homens em um instrumento para avançar a glória de Deus. Vocês sabem que entre os protestantes existem muitos fanatismos papais. Conheço pessoas que aprovam o batismo infantil argumentando: “Bem, ele não faz dano nenhum, e existem muitas boas intenções nele, e pode fazer muito bem, e ainda a confirmação pode resultar de benção para algumas pessoas, portanto não falemos contra isso.

A mim não corresponde se esse tema faz dano ou não, tudo o que me importa é se é correto, se é Escriturístico, se é verdadeiro, e se a verdade é prejudicada, que é uma suposição que não podemos aceitar de nenhuma maneira, esse prejuízo não estará em nossa porta. Não temos outro dever que dizer a verdade, ainda que os céus caiam sobre nós. Repito, qualquer avanço do Evangelho que se deva à superstição dos homens, é um avanço falso, e logo se voltará contra as pessoas que usam dessa arma não consagrada.

Nos possuímos uma religião que apela ao juízo do homem e ao sentido comum, e quando não podemos avançar com isso, eu não aceito que devamos prosseguir utilizando outros métodos – e, irmãos, se existe alguma pessoa que queira endurecer seu coração e dizer: “pois bem, eu estou tão certo em um dia como em qualquer outro dia,” o que é muito certo, eu devo responder-lhe: “o pecado de que faça tal uso como o que faz de uma verdade deve jazer a sua porta, não na minha – porem, se eu pudesse evitar que você viole o dia do descanso cristão, colocando diante de você uma supersticiosa hipótese, não o faria, pois parece-me que ainda que consiga lhe manter afastado desse pecado por um pouco de tempo, logo você se converteria demasiadamente inteligente para ser enganado por mim, e logo chegaria a considerar-me como um sacerdote que brincou com seus temores em vez de apelar a seu juízo.”

Oh, já é tempo que saibamos que nosso cristianismo não é uma coisa débil e temerosa, que apela aos pequenos temores supersticiosos de mentes ignorantes. É a algo valente, que ama a luz, e que não precisa de fraudes ‘santas’ para sua defesa. Sim, crítico! Foca sua lanterna em nós, e que brilhe em nossos próprios olhos; nós não temos medo, a verdade é poderosa e pode prevalecer, e se não pode prevalecer à luz do dia, não temos nenhum desejo de que o sol se ponha para dar a verdade uma oportunidade.

Eu creio que brotou muita infidelidade do desejo muito natural de alguns cristãos de se aproveitarem de erros comuns. “Oh”, disseram, “esse erro popular é muito bom, mantém o povo na posição correta – vamos perpetuar esse erro, pois evidentemente faz muito bem.” E logo, quando o erro foi descoberto, os infiéis disseram: “Oh, agora vejam que esses cristãos foram descobertos em seus estratagemas.” Não tenhamos nenhum truque, irmãos – não falemos aos homens como se fossem crianças que podem ser amendrotados por histórias de fantasmas e de bruxas. O fato é que esse não é o tempo de retribuição, e é pior que inútil que nós ensinemos que o é.

E agora, por último – e já irei passar a outro ponto – por acaso vocês não percebem que essa suposição, que não é cristã nem Escriturística, que quando os homens se encontram inesperadamente com a morte é resultado do pecado, rouba do cristão um de seus argumentos mais nobres para a imortalidade da alma? Irmãos, nós afirmamos diariamente, com a Escritura como nossa garantia, que Deus é justo, e na medida em que Ele é justo, deve castigar o pecado e premiar o justo. Manifestadamente Ele não o faz nesse mundo, e um mesmo evento ocorre a ambos: o homem justo é pobre igual que o mal, e morre repentinamente igual que o maior répobro. Muito bem, então, a conclusão é natural e clara, que deve existir um mundo contínuo em que essas coisas serão endireitadas.

Se há um Deus, Ele deve ser justo; e se Ele é justo, Ele deve castigar o pecado; e já que não o faz nesse mundo, deve existir outro estado em que os homens receberão a recompensa de suas obras – e os que semearem para a carne, da carne colherão corrupção, enquanto os que semearem para o Espírito, do Espírito colherão vida eterna. Se fizerem desse mundo o lugar de colheita, vocês terão tirado o aguilhão do pecado.

“Oh,” diz o pecador, “se as aflições que o homem suporta aqui é todo o castigo que terão, vamos pecar com voracidade.” Você responda-lhe: “não – esse não é o mundo do castigo, mas sim o mundo de prova – não é a corte da justiça, mas sim a terra de misericórdia; não é a prisão de terror, mas a casa de paciência;” e lhe terá aberto diante de seus olhos as portas do futuro; terá posto o trono do juízo diante de seus olhos; lhe recordou: “Vinde, benditos,” e “Apartai-vos de mim, malditos;” e assim possui um fundamento mais a razoável e consequentemente mais Bíblico para apelar às suas consciências e corações.

Falei com a intenção de sufocar, na medida do possível, a ideia que está muito propagada entre os ímpios, que nós como cristãos sustentamos que cada calamidade é um juízo divino. Não é assim; nós não pensamos que aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de Siloé eram mais culpados que todos os homens que habitavam em Jerusalém.

II. Agora passamos a nosso segundo ponto. QUE USO, ENTÃO, DEVEMOS FAZER DESSA VOZ DE DEUS QUE É OUVIDA EM MEIO DOS AGUDOS GRITOS E GEMIDOS DOS MORIBUNDOS? Dois usos; primeiro, perguntas, e segundo, uma advertência.

A primeira pergunta que devemos fazer é a seguinte: “Por que não pode acontecer comigo que muito prontamente e inesperadamente eu seja cortado? Tenho eu um contrato de aluguel da minha vida? Tenho algum amparo especial que me garanta que não atravessarei inesperadamente os portais da sepultura? Recebi um título de privilégio de longevidade? Fui coberto com uma armadura tal que sou invulnerável às flechas da morte? Por que não irei eu mesmo morrer?”

A segunda pergunta que deve sugerir é essa: “Não sou um grande pecador como esses que morreram? Não há em mim, sim, em mim mesmo, pecados contra o Senhor meu Deus? Se em pecados visíveis outros me superaram, acaso os pensamentos de meu coração não são malvados? Porventura a mesma lei que os amaldiçoa não amaldiçoa a mim também? Não perseverei em todas as coisas escritas no livro da Lei para que as cumprissem. É tão impossível que eu seja salvo por minhas obras como que eles o sejam. Não estou debaixo da lei, por natureza como eles estão, e pela mesma não estou eu também debaixo de maldição, como eles o estão? Essa pergunta deve ser feita. Em vez de pensar em seus pecados, o que me converteria um orgulhoso, devo pensar em meus próprios pecados, o que me converterá humilde. Em lugar de especular sua culpa, que é assunto que não é de minha responsabilidade, devo voltar meus olhos até meu interior, e considerar minha própria transgressãopela qual devo responder pessoalmente diante do Deus Altíssimo.”

Logo, a seguinte pergunta é: “eu me arrependi de meu pecado? Eu não preciso ficar investigando se eles se arrependeram ou não: eu me arrependi? Posto que eu esteja exposto à mesma calamidade, estou preparado para enfrentá-la? Senti, por meio do poder do convencimento do Espírito Santo, a negridão e a depravação de meu coração? Tenho sido guiado a confessar diante de Deus que eu mereço a Sua ira, e que Seu desagrado, se ele pousar sobre mim, será um justo pago? Odeio o pecado: Aprendi a aborrecê-lo? Apartei-me do pecado, por meio do Espírito Santo, como de um veneno mortal, e busco agora honrar a Cristo meu Senhor: Fui lavado em seu sangue: Reflito sua semelhança? Mostro Seu caráter? Busco viver para Seu louvor? Pois, se não é assim, estou em grave perigo como eles estavam, e posso ser cortado tão depressa e repentinamente, e logo, onde estou? Eu não irei perguntar onde eles estão? E logo, de novo, em vez de estar espiando no futuro destino desses infelizes homens e mulheres, quanto melhor seria nos perguntar sobre nosso destino e de nossa própria situação! –

O que eu sou? minha alma, desperta

E faz uma analise imparcial.”

Estou preparado para morrer? Se as portas do inferno abrem-se agora, eu entraria ali? Se debaixo de mim se abrirem as bocas da morte, estou preparado com confiança para atravessá-las, não temendo o mal, porque Deus está comigo?” Esse é o uso correto que podemos fazer desses acidentes; essa é a maneira mais sábia de aplicar os juízos de Deus a nós mesmos e a nossa própria condição.

Ó senhores, Deus tem falado a cada homem em Londres durante as últimas duas semanas; Ele falou para mim, Ele falou para vocês, homens, mulheres e crianças. A voz de Deus há soado desde o escuro túnel Clayton: falou desde o poente do sol e da deslumbrante fogueira em redor da qual jazem os cadáveres de homens e mulheres, e Ele lhes disse, “Portanto, estai vós também apercebidos; porque virá o Filho do homem à hora que não imaginais. (Lucas 12:40)” Isso está tão dirigido a vocês, que eu espero que os levem a perguntarem-se: “Estou preparado, estou pronto? Estou disposto a enfrentar a meu Juiz e escutar a sentença pronunciada sobre minha alma?”

Quando tenhamos usado a voz de Deus para nos inquirirmos dessa maneira, permitam-me lembrar-lhes que devemos usá-la também como uma advertência. “Todos de igualmente perecereis.” “Não,” dirá alguém, “não igualmente. Não todos seremos esmagados; muitos de nós morreremos em nossas camas. Não todos morreremos queimados; muito de nós fecharemos tranquilamente nossos olhos.” Ai! Porem, o texto diz “todos de igual modo perecereis.” E deixem-me lembrar-lhes que alguns de vocês podem perecer de uma maneira idêntica. Não possuem nenhuma razão para crer que vocês não podem ser cortados inesperadamente, enquanto caminhem pelas ruas. Podem cair mortos enquanto comem; quantos não têm perecido com o cajado da vida em suas mãos! Estarão em sua cama, e sua cama subitamente se converterá em sua tumba. Vocês poderão ser fortes, sãos, robustos e, quer seja por acidente, ou porque a circulação do sangue se detém, serão rapidamente levados diante de seu Deus. Ó, que a morte inesperada seja para vocês glória súbita!

Porem, pode ocorrer a algum de nós que, da mesma maneira surpreendente em que outros morrerem, morreremos assim também. Faz só um pouco de tempo, nos Estados Unidos, um irmão, enquanto pregava a Palavra, entregou seu corpo e seu cargo simultâneamente. Vocês lembram da morte do Dr. Beaumont, quem, enquanto proclamava o Evangelho de Cristo, fechou seus olhos ao mundo. E eu recordo a morte de um ministro nesse pais, que acabava de pronunciar esse verso –

“Pai, eu anelo, eu anseio ver

O lugar de Tua habitação;

Eu quero deixar teus átrios terrenos e fugir

Até Tua casa, meu Deus”

E então agradou a Deus conceder-lhe o desejo de seu coração, e apareceu diante do Rei em Sua beleza. Não poderia uma morte imprevista como essa suceder a vocês e a mim mesmo?

Porem, é muito certo que, quer venha a morte de maneira que venha, existem alguns quantos aspectos na que virá aos justos da mesma maneira como veio aos que sofreram esses acidentes. Em primeiro lugar, virá, com toda certeza. Eles não teriam tido possibilidade de escapar do perseguidor, não importa qual rápido viajassem. Eles não teriam tido a chance de escapar da seta, não importando a que lugar houvessem ido, escondendo-se de casa em casa, quando seu tempo lhes chegou. E nós pereceremos assim.

Com a mesma certeza, tão certo como a morte colocou seu selo sobre os cadáveres que agora estão cobertos de terra, com a mesma certeza porá seu selo sobre nós (a menos que o Senhor venha antes), pois “aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo (Hebreus 9:27)” Não existe exoneração nesse caminho; não existe escape por nenhum atalho para nenhum indivíduo; não existe nenhuma ponte sobre o rio; não há nenhum barco em que possamos passar esse Jordão sem molharmos nossos pés.

Para suas geladas profundidades, ó rio, cada um de nós deve descer – em sua fria corrente nosso sangue deve congelar-se – e debaixo de suas espumosas ondas nossa cabeça deve submergir! Nós também devemos morrer com certeza. “Trilhado” você diz, “e cheio de lugares comuns;” e a morte é um lugar comum, mas que só nos ocorre uma vez. Que Deus nos conceda que essa única vez que morreremos possa estar perpétuamente em nossas mentes, até que morramos diariamente, e assim não nos resulte ser um trabalho difícil morrer ao final.

Bem, então, como a morte chega a eles e a nós com certeza, assim virá tanto a eles como a nós poderosa e irresistivelmente. Quando a morte os surpreendeu, que ajuda tiveram então? Um casebre de papelão de uma criança não poderia ser tão facilmente esmagado que esses pesados vagões? O que podiam fazer para ajudarem uns aos outros? Eles iam sentados uns juntos a outros, conversando. Escutou-se um grito, e antes que houvessem gritado segunda vez, foram esmagados e destroçados. O esposo trata de resgatar dos escombros sua esposa, porem as pesadas tábuas de madeira cobriram seu corpo; ao fim só pode encontrar sua pobre cabeça, e ela está morta, e ele senta-se junto a ela embargado pela tristeza, e coloca sua mão em seu rosto, até que se torna frio como uma pedra; e ainda que tenha visto a um e outro que tenha sido resgatado com os ossos quebrados ao meio da massa de escombros, ele têm que deixar o corpo de sua esposa ali.

Ai! Seus filhos ficaram sem mãe, e ele perdeu a companheira de seu coração. Eles não puderam resistir; eles poderiam fazer o que quisessem, porem, tão logo chegou o momento, seguiram adiante, e o resultado foi a morte e ossos quebrados. O mesmo sucederá com vocês e comigo – vocês podem subornar o médico com os honorários mais altos, porem, ele não poderia colocar sangue fresco em suas veias[6] – vocês podem pagar-lhe grandes quantidades de ouro, mas ele não poderia conseguir que o pulso desse outro bramido. Oh, Morte, irresistível conquistadora dos homens, não há ninguém que possa prevalecer contra ti; sua palavra é lei, sua vontade é destino! Assim virá a nós como chegou a eles; virá com poder, e nenhum de nós poderá resistir a ela.

Quando a morte chegou-lhes, veio instantaneamente, sem aceitar demoras. Assim virá a nós. Poderíamos ter um aviso mais antecipado do que eles, porem quando chegue a hora, não haverá forma de adiá-la. Encolha seus pés na cama, ó, patriarca, pois deve morrer e não vai viver! Dá o último beijo em sua esposa, veterano soldado da cruz; coloca suas mãos sobre a cabeça de seus filhos, e dá-lhes a benção do moribundo, pois todas suas orações não podem alargar sua vida, e todas as lágrimas não podem agregar nem uma só gota ao poço seco de seu ser.

Você deve ir, o Senhor demanda por você, e Ele não suporta atrasos. Não, ainda que sua família esteja disposta a sacrificar suas vidas para lhe comprar uma hora de trégua, isso não pode ser. Ainda que uma nação seja entregue em holocausto, um sacrifício voluntário, para dar a seu soberano outra semana adicional a seu reino, não se pode conseguir tal coisa. Ainda que a congregação inteira consinta voluntariamente em recorrer as escuras abóbadas da tumba para salvar a vida de seu pastor, por mais outro ano, não se pode alcançar esse intento. A morte não aceita atraso – e o tempo chegou, e o relógio soou, a areia da ampulheta consumiu-se, e tão certamente como eles morreram quando chegou-lhes seu tempo, no campo, inesperadamente, assim certamente nós devemos morrer.

Logo, novamente, recordemos que a morte chegará a nós como chegou a eles, com terrores. Não com o estrondo de madeiras quebradas, talvez, nem com a escuridão de um túnel, não com o vapor e a fumaça, não com os gritos das mulheres e os gemidos dos moribundos, mas, no entanto, com terrores. Pois se encontrar com a morte, onde quer que seja, se não estamos em Cristo, e se a vara e o cajado do pastor não nos infundem alento, deve ser uma coisa terrível e tremenda.

Sim pecador, com suaves almofadas debaixo de sua cabeça, e o terno braço de sua esposa para o sustentar e uma doce mão para limpar seu frio suor, em seu corpo encontrará que é um terrível trabalho enfrentar o monstro e sentir seu aguilhão, e entrar em seus espantosos domínios. É um terrível trabalho em qualquer instante, mesmo sob as melhores e mais propícias circunstâncias, que um homem morra sem estar preparado.

E agora, eu desejaria enviar-lhes de volta para casa com um pensamento que fique gravado em sua memória: nós somos criaturas moribundas, não criaturas viventes, e logo teremos ido embora. Talvez, estando eu de pé aqui, e falando rudemente dessas coisas misteriosas, logo essa mão se estendera e cerrará minha boca que balbucia com tão gaguejante esforço; o poder supremo, o Rei eterno, venha quando queiras, oh! Porem, nunca venha em uma hora desperdiçada – que me encontre em elevada meditação, cantando hinos a meu grandioso Criador: fazendo obras de misericórdia aos pobres e aos necessitados, ou carregando em meus braços aos pobres e necessitados do rebanho; ou consolando o desconsolado, ou tocando o sonido da trombeta do Evangelho aos ouvidos das almas surdas que estão perecendo.

Então, vem quando Tu queiras; se Tu estás comigo em vida, não temeria encontrar a Ti na morte: mas, ó, que minha alma esteja preparada com seu vestido de bodas, com sua lâmpada preparada e sua luz acesa, pronta para ver a seu Senhor e entrar no gozo de seu Deus!

Almas, vocês conhecem o caminho de salvação; o escutaram frequentemente, porem, ouçam de novo: “O que crê no Senhor Jesus, têm a vida eterna.” “O que crer e for batizado, será salvo; mas o que não crer, será condenado.” “Crê em teu coração e confessa com sua boca.” Que o Espírito Santo lhes dê graça para fazer ambas as coisas, e tendo feito, possam dizer –

“Vêm, morte, com uma congregação celeste,

Para levar a minha alma.”

 

NOTA: Davi Livingstone, o famoso explorador e missionário, levou em seu bolso uma cópia desse sermão, em suas viagens por toda a África. Ele tinha escrito na margem superior da impressão desse sermão o comentário: “Muito bom. D.L” Quando da morte do missionário, essa mesma cópia foi entregue ao próprio Spurgeon, que a guardou durante toda sua vida como um tesouro. Hoje em dia, essa cópia pode ser vista exposta no Spurgeon’s College, em Londres.

ORE PARA QUE O ESPIRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA TRAZER UM CONHECIMENTO SALVÍFICO DE JESUS CRISTO E PARA EDIFICAÇÃO DA IGREJA

FONTE:

Traduzido de http://www.spurgeon.com.mx/sermon408.html

Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público e com autorização de Allan Roman.

Sermão nº 408—Volume 7 do Metropolitan Tabernacle Pulpit

ORIGINAL: Accidents, Not Punishments

Tradução: Armando Marcos Pinto

(Fonte)

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A. W. Pink Encorajamento Sofrimento

Consolo nas aflições, sofrimentos compensados (A. W. Pink)

“Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada”. (Romanos 8:18)
 
 Ah, alguém diz, que essa passagem deve ter sido escrita por um homem que não conhecia o sofrimento, ou por alguém familiarizado com nada mais do que as leves irritações da vida. Não é isso. Estas palavras foram escritas sob a direção do Espírito Santo, e por alguém que bebeu profundamente do cálice do sofrimento, sim, por alguém que sofreu aflições em suas formas mais intensas. Veja o seu próprio testemunho: “Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo;  Em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos; Em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez”(2 Coríntios 11:24-27). “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada”.
Esta, então foi a firme convicção, não de alguém “favorito da sorte”, não de alguém que encontrou na jornada da vida um caminho atapetado, rodeado com rosas, mas, ao contrário, de alguém que foi odiado por seus parentes, que foi muitas vezes espancado, que sabia o que era ser privado não só do conforto, mas também das necessidades básicas da vida. Como, então explicar o seu alegre otimismo? Qual foi o segredo da sua dignidade sobre seus problemas e provações?
A primeira coisa com a qual o apóstolo penosamente provado consolou-se era que os sofrimentos do cristão são de curta duração – que estão limitados ao “tempo presente”. Isto está em nítido e em solene contraste com sofrimentos dos que rejeitam a Cristo. Seus sofrimentos serão eternos: para sempre atormentados no Lago de Fogo. Mas muito diferente é para o crente. Seus sofrimentos são restritos a esta vida na Terra, que é comparado a uma flor que sai e é cortada, a uma sombra que foge e não permanece. Uns poucos anos no máximo, e vamos passar deste vale de lágrimas para aquele país abençoado, onde lamentos e choros nunca mais serão ouvidos.
Em segundo lugar, o apóstolo olhou além, com os olhos da fé para “a glória”. Para Paulo “a glória” era algo mais do que um sonho lindo. Era uma realidade prática, exercendo uma poderosa influência sobre ele, consolando-o nas horas mais críticas e difíceis da adversidade. Este é um dos verdadeiros testes da fé. O cristão tem um sólido suporte na hora da aflição, quando o incrédulo não tem. O filho de Deus sabe que na presença do Pai “háfartura de alegrias”, e que à sua mão direita “há delícias perpetuamente”. E a fé se apodera deles, apropria-se deles, e vive na alegria reconfortante deles até agora. Assim como Israel no deserto foi encorajado por uma visão do que os esperava na terra prometida (Nm 13:23,26), assim, aquele que hoje caminha pela fé, e não por vista, contempla o que os olhos não viram, nem ouvidos ouviram, mas o que Deus pelo Seu Espírito Santo tem revelado a nós (1 Cor. 2:9,10).
Em terceiro lugar, o apóstolo se regozijou “com a glória que em nós há de ser revelada”. Tudo isso significa que ainda não somos capazes de ter uma compreensão plena dessas coisas. Mas mais do que uma dica foi concedida a nós. Haverá:
(a) A “glória” de um corpo perfeito. Naquele dia esta corrupção se revestirá da incorruptibilidade, e isto que é mortal, da imortalidade. O que foi semeado em ignomínia será ressuscitado em glória, e o que foi semeado em fraqueza será ressuscitado em vigor. Assim como trouxemos a imagem do terreno, devemos trazer também a imagem do celestial (1 Coríntios. 15:49). O conteúdo dessas expressões é resumido e amplificado em Filipenses 3:20,21: “Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas”.
(b) Haverá a glória de uma mente transformada. “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido” (1 Cor 13:12). Oh, que envolvimento de luz intelectual com que cada mente será glorificada! Que faixa de luz vai envolvê-la! Que capacidade de entendimento vai deleitá-la! Então todos os mistérios serão desvendados, todos os problemas resolvidos, todas as discrepâncias reconciliadas. Então cada verdade da revelação de Deus, cada evento de Sua providência, cada decisão de seu governo, ficará ainda mais transparentemente clara e resplandecente como o próprio sol. Você, em sua busca presente pelo conhecimento espiritual, lamenta a escuridão da sua mente, a fraqueza de sua memória, as limitações de suas faculdades intelectuais? Então nos regozijemos na esperança da glória que está para ser revelada em você – quando todos os seus poderes intelectuais serão renovados, desenvolvidos, aperfeiçoados, de modo que você conhecerá como você é conhecido.
(c) Melhor de tudo, haverá a glória da santidade perfeita. A obra da graça de Deus em nós, então, será completada. Ele prometeu que aperfeiçoará “o que me toca” (Salmo 138:8). Então será a consumação de pureza. Fomos predestinados para sermos “conformes à imagem de Seu Filho” (Rm 8:29), e quando O veremos “seremos semelhantes a ele” (1 João 3:2). Então, nossas mentes não serão mais contaminadas por imaginações do mal, nossas consciências não serão mais manchadas por um sentimento de culpa, nossas afeições não serão mais enganadas por objetos indignos. Que perspectiva maravilhosa é esta! A “glória” que será revelada em mim agora dificilmente pode refletir um raio solitário de luz! Em mim – tão desobediente, tão indigno, tão pecador, vivendo tão pouco em comunhão com Aquele que é o Pai das luzes! Pode ser que em mim esta glória seja revelada? Assim afirma a infalível Palavra de Deus. Se eu sou um filho da luz por estar “nele”, que é o resplendor da glória do Pai, mesmo que agora habite em meio a tons escuros do mundo, um dia irei ofuscar o brilho do firmamento. E quando o Senhor Jesus retornar a esta terra ele deve ser “admirável naquele dia em todos os que creem” (II Tes. 1:10).
Finalmente, o apóstolo aqui pesa o “sofrimento” do tempo presente em oposição a “glória”, que deverá ser revelada em nós, e como ele declarou que uma “não é digna de ser comparada” com a outra. Uma é transitória, outra é eterna. Como, então, não há proporção entre o finito e o infinito, não há comparação entre os sofrimentos da terra e a glória do céu. Um segundo de glória superarão uma vida de sofrimento. O que são os anos de labuta, de doença, de lutar com a pobreza, de tristeza em qualquer forma, quando comparados com a glória da terra de Emanuel! Beber do rio da vida na mão direita de Deus, uma respiração no paraíso, um instante em meio ao sangue lavado ao redor do trono, será mais do que compensador do que todas as lágrimas e gemidos da terra.  “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada”.
Que o Espírito Santo permita que tanto o escritor quanto o leitor se agarrem a isso e apropriem-se com fé e vida na posse presente e gozo disso para o louvor da glória da graça divina.
 
Da obra “Comfort for Christians” de A.W. Pink – Consolo nas Aflições, sofrimentos compensados, capítulo 3 – Traduzido por Edimilson de Deus Teixeira – Li em: Discernimento Bíblico.
(Fonte)
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Deus Encorajamento Stephen Kaung

Deus é por nós! (Stephen Kaung)

Irmãos, aprendamos um fato: Deus é por nós. Oh, bendito pensamento! O Senhor, o Senhor da aliança, é por nós. Ele está conosco e é por nós. Freqüentemente, no entanto, não é assim que sentimos. É possível que, algumas vezes, sintamos que Deus não é por nós, mas contra nós. Somos inclinados a crer que Deus está junto de alguma outra pessoa e não está a nosso favor – pensamos às vezes que Deus não está ao nosso lado –, que Ele é muito duro conosco. No entanto, mesmo que possa parecer assim, precisamos firmar-nos no fato de que Ele ainda é por nós. Pode não parecer verdade, mas há uma explicação muito boa para isso. Você sabe qual é a razão? É porque Deus quer trazer-nos para o lado Dele a fim de que Ele possa ser por nós.

Freqüentemente nós não estamos ao lado Dele e, por isso, sentimos que Ele não está ao nosso lado – e, de fato, Ele não pode estar. Mas isso não significa que Deus não é por nós. Em todas essas dificuldades, sejam elas provocadas por nós mesmos ou não, Ele está tentando trazer-nos para Seu lado a fim de poder revelar-se como aquele que, de fato, é por nós.

O Senhor é por nós; mas isso não é tudo, pois Ele não apenas é por nós, mas está conosco e dentro de nós. Deus nos amou tanto que deu Seu Filho unigênito por nós. Por isso, não pode haver dúvida alguma nem medo algum – o Senhor é por nós. Pode acaso ser possível que Ele esteja contra nós? Ele está trabalhando para nosso bem eterno. Está sempre tentando trazer-nos para o lado Dele. Ele é por nós. Ele é por nós eternamente. Este é o nosso Deus.

(Stephen Kaung, Os cânticos dos degraus, p. 126; ALC, 1997)

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A. W. Tozer Encorajamento Evangelho Heresias Igreja

O grande deus entretenimento (A. W. Tozer)

Há muitos anos um filósofo alemão disse alguma coisa no sentido de que, quanto mais um homem tem no coração, menos precisará de fora; a excessiva necessidade de apoio externo é prova de falência do homem interior.

Se isto é verdade (e eu creio que é), então o desordenado apego atual a toda forma de entretenimento é prova de que a vida interior do homem moderno está em sério declínio. O homem comum não tem nenhum núcleo central de segurança moral, nenhum manancial no seu peito, nenhuma força interior para colocá-lo acima da necessidade de repetidas injeções psicológicas para dar-lhe coragem para continuar vivendo. Tornou-se um parasita no mundo, extraindo vida do seu ambiente, incapaz de viver um só dia sem o estímulo que a sociedade lhe fornece.

Schleiermacher afirmava que o sentimento de dependência está na raiz de todo culto religioso, e que por mais alto que a vida espiritual possa subir, sempre tem que começar com um profundo senso de uma grande necessidade que somente Deus poderia satisfazer. Se esse senso de necessidade e um sentimento de dependência estão na raiz da religião natural, não é difícil ver porque o grande deus entretenimento é tão cultuado por tanta gente. Pois há milhões que não podem viver sem diversão. A vida para eles é simplesmente intolerável. Buscam ansiosos o alívio dado por entretenimentos profissionais e outras formas de narcóticos psicológicos como um viciado em drogas busca a sua injeção diária de heroína. Sem essas coisas eles não poderiam reunir coragem para encarar a existência.

Ninguém que seja dotado de sentimentos humanos normais fará objeção aos prazeres simples da vida, nem às formas inofensivas de entretenimentos que podem ajudar a relaxar os nervos e revigorar a mente exausta de fadiga. Essas coisas, se usadas com discrição, podem ser uma benção ao longo do caminho. Isso é uma coisa. A exagerada dedicação ao entretenimento como atividade da maior importância para a qual e pela qual os homens vivem, é definitivamente outra coisa, muito diferente.

O abuso numa coisa inofensiva é a essência do pecado. O incremento do aspecto das diversões da vida humana em tão fantásticas proporções é um mau presságio, uma ameaça às almas dos homens modernos. Estruturou-se, chegando a construir um empreendimento comercial multimilionário com maior poder sobre as mentes humanas e sobre o caráter humano do que qualquer outra influência educacional na terra. E o que é ominoso é que o seu poder é quase exclusivamente mau, deteriorando a vida interior, expelindo os pensamentos de alcance eterno que encheriam a alma dos homens, se tão-somente fossem dignos de abrigá-los. E a coisa toda desenvolveu-se dando numa verdadeira religião que retém os seus devotos com estranho fascínio, e, incidentalmente, uma religião contra a qual agora é perigoso falar.

Por séculos a igreja se manteve solidária contra toda forma de entretenimento mundano, reconhecendo-o pelo que era – um meio para desperdiçar o tempo, um refúgio contra a perturbadora voz da consciência, um esquema para desviar a atenção da responsabilidade moral. Por isso ela própria sofreu rotundos abusos dos filhos deste mundo. Mas ultimamente ela se cansou dos abusos e parou de lutar. Parece Ter decidido que, se ela não consegue vencer o grande deus entretenimento, pode muito bem juntar suas forças às dele e fazer o uso que puder dos poderes dele. Assim, hoje temos o espantoso espetáculo de milhões de dólares derramado sobre o trabalho profano de providenciar entretenimento terreno para os filhos do Céu, assim chamados. Em muitos lugares, o entretenimento religioso está eliminando rapidamente as coisas sérias de Deus. Muitas igrejas nestes dias têm-se transformado em pouco mais do que pobres teatros onde “produtores” de quinta classe mascateiam as suas mercadorias falsificadas com total aprovação de líderes evangélicos conservadores que podem até citar um texto sagrado em defesa de sua delinqüência. E raramente alguém ousa levantar a voz contra isso.

O grande deus entretenimento diverte os seus devotos principalmente lhes contando estórias. O gosto por estórias, característicos da meninice, depressa tomou conta das mentes dos santos retardados dos nossos dias, tanto que não poucas pessoas, pelejam para construir um confortável modo de vida contando lorotas, servido-as com vários disfarces ao povo da igreja. O que é natural e bonito numa criança pode ser chocante quando persiste no adulto, e mais chocante quando aparece no santuário e procura passar por religião verdadeira.

Não é uma coisa esquisita e um espanto que, com a sombra da destruição atômica pendendo sobre o mundo e com a vinda de Cristo estando próxima, os seguidores professos do Senhor se entreguem a divertimentos religiosos? Que numa hora em que há tão desesperada necessidade de santos amadurecidos, numerosos crentes voltem para a criancice espiritual e clamem por brinquedos religiosos?

“Lembra-te, Senhor, do que nos tem sucedido; considera, e olha para o nosso opróbrio. … Caiu a coroa da nossa cabeça; ai de nós porque pecamos! Por isso caiu doente o nosso coração; por isso se escureceram os nossos olhos.” Amém. Amém.

(O Melhor de A. W. Tozer, Editora Mundo Cristão)

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Bíblia Encorajamento

Versículos de encorajamento

Bem-aventurado o homem cuja força está em Ti, em cujo coração estão os caminhos aplanados.

(Salmos 84.5)

O Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão.

(Salmos 84.11)

Senhor dos Exércitos, bem-aventurado o homem que em Ti põe a sua confiança.

(Salmos 84.12)

Isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à Minha voz, e Eu serei o vosso Deus, e vós sereis o Meu povo; e andai em todo o caminho que Eu vos mandar, para que vos vá bem.

(Jeremias 7.23)

Assim diz o Senhor Deus: Ai dos profetas loucos, que seguem o seu próprio espírito e que nada viram.

(Ezequiel 13.3)

Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os Seus caminhos justos são; Deus é a verdade, e não há Nele injustiça; justo e reto é.

(Deuteronômio 32.4)

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a Sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos.

(1Pedro 1.3)

Assim diz o SENHOR que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque Eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és Meu.

(Isaías 43.1)

Nunca terão fome, nem sede, nem o calor nem o sol os afligirá; porque O [Senhor] que se compadece deles os guiará e os levará mansamente aos mananciais das águas.

(Isaías 49.10)

Eis que Deus é a minha salvação; Nele confiarei e não temerei, porque o Senhor Deus é a minha força e o meu cântico, e se tornou a minha salvação.

(Isaías 12.2)

Porque os montes se retirarão e os outeiros serão abalados; porém a Minha benignidade não se apartará de ti, e a aliança da Minha paz não mudará, diz o Senhor que se compadece de ti.

(Isaías 54.10)

Ele [Deus] revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas e com Ele mora a luz.

(Daniel 2.22)

Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus; quanto a eles, é Ele, sim, blasfemado, mas quanto a vós, é glorificado.

(1Pedro 4.14)

O Senhor está comigo; não temerei o que me pode fazer o homem.

(Salmos 118.6)

Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do Seu servo? Quando andar em trevas e não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor e firme-se sobre o seu Deus.

(Isaías 50.10)

Em paz também me deitarei e dormirei, porque só Tu, Senhor, me fazes habitar em segurança.

(Salmos 4.8)

Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas e nos currais não haja gado; todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação.

(Habacuque 3.17, 18)

Bem-aventurado o homem que suporta a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que O amam.

(Tiago 1.12)

Não serão envergonhados nos dias maus, e nos dias de fome se fartarão.

(Salmos 37.19)

Saberás, pois, que o Senhor, teu Deus, Ele é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que O amam e guardam os Seus mandamentos.

(Deuteronômio 7.9)

Meus irmãos, tomai por exemplo de aflição e paciência os profetas que falaram em nome do Senhor.

(Tiago 5.10)

Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento.

(Provérbios 3.5)

Reconhece-O em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas.

(Provérbios 3.6)

Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal.

(Provérbios 3.7)

[Deus] levanta o pobre do pó e desde o monturo exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do Senhor são os alicerces da terra, e assentou sobre eles o mundo.

(1Samuel 2.8)

Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor o sustém com a Sua mão.

(Salmos 37.24)

Assim como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que O temem. Pois Ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó.

(Salmos 103.13, 14)

Aniquilará a morte para sempre e, assim, enxugará o Senhor Deus as lágrimas de todos os rostos e tirará o opróbrio do Seu povo de toda a terra; porque o Senhor o disse.

(Isaías 25.8)

Ensina-me a fazer a Tua vontade, pois és o meu Deus. O Teu Espírito é bom; guie-me por terra plana.

(Salmos 143.10)

[Disse Jesus:] Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.

(Apocalipse 3.11)

É melhor confiar no Senhor do que confiar no homem.

(Salmos 118.8)

Não poderei Eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel?, diz o Senhor. Eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na Minha mão, ó casa de Israel.

(Jeremias 18.6)

Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos.

(Filipenses 4.4)

Foge também das paixões da mocidade; e segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor.

(2Timóteo 2.22)

Invoquei o Senhor na angústia; o Senhor me ouviu e me tirou para um lugar largo.

(Salmos 118.5)

Ah! nosso Deus, porventura não os julgarás? Porque em nós não há força perante esta grande multidão que vem contra nós e não sabemos o que faremos; porém os nossos olhos estão postos em Ti.

(2Crônicas 20.12)

Deus faz com que o solitário viva em família; liberta aqueles que estão presos em grilhões; mas os rebeldes habitam em terra seca.

(Salmos 68.6)

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