Embora os crentes não sejam impedidos de retroceder, eles estão protegidos da apostasia final e da ruína. A nova criatura pode estar doente, mas não pode morrer. Os santos podem cair, mas ressuscitarão (Mq 7.8).
(John Flavel)
Cada ano que passa aumenta minha convicção de que tudo o que tenho é Jesus.
(Paul Washer)
Minha segurança como cristão não reside na força de minha fé, mas na indestrutibilidade do meu Salvador.
(Sinclair Ferguson)
A humildade é a maior graça que pode adornar o caráter cristão.
(J. C. Ryle)
Se você se perguntar: ‘Quem são as pessoas que mais influenciaram minha vida?’, provavelmente se dará conta de que cada uma delas sofreu de alguma forma.
(Elizabeth Elliot)
Somente o Espírito de Deus pode tornar uma pessoa interiormente certa da verdade da revelação divina.
(Herman Bavinck)
O Senhor ensina com eficácia, embora, na maior parte do tempo, gradualmente.
(John Newton)
A soma de teus pecados não sobrepassa a magnitude das misericórdias de Deus. Tuas feridas não estão além da habilidade de curar do grande Médico.
Todo pecado é desprezo a Deus; e assim, se quebrarmos qualquer mandamento, quebramos o primeiro.
(William Gurnall)
Nada pode condenar um homem, exceto sua própria justiça; nada pode salvá-lo senão a justiça de Cristo.
(Charles Spurgeon)
Cristo não morreu simplesmente para que você pudesse ser salvo de uma má consciência, ou mesmo para remover a mancha do fracasso passado, mas com o objetivo de ‘limpar o convés’ para a ação divina.
(Ian Thomas)
Se você realmente foi levado a Cristo, nunca perecerá. Você pode ter muitos inimigos se opondo em seu caminho para a glória. Satanás deseja ter você, para que possa cirandá-lo como trigo. Seus amigos mundanos farão tudo o que puderem para impedi-lo. Ainda assim, você estará com Cristo.
(Robert M. McCheyne)
Minha utilidade foi o último ídolo do qual eu estava disposto a me desfazer, mas o Senhor me permitiu desistir até dele.
(John Newton)
Jesus Cristo, nosso Mediador, tem perfeição em cada graça.
(Thomas Watson)
Depois que os crentes tiverem o prazer de contemplar a face de Deus por milhões de anos, ela não ficará enfadonha; o prazer desta delícia será tão excelente como sempre.
(Jonathan Edwards)
Observe quão poderoso é Cristo e quão fracos, diante Dele, são os inimigos de Seu reino. Ele tem uma vara de ferro para esmagar aqueles que não se submetem ao Seu cetro de ouro.
Entendo que as palavras: “Para que todo aquele que Nele crê não pereça” (Jo 3.16) declaram que todo o que crê no Senhor Jesus Cristo não vai perecer, ainda que esteja pronto a perecer. Seus pecados o levariam à perdição, mas ele nunca se perderá. Sua fé não perecerá, pois esta promessa a cobre: “Para que todo aquele que Nele crê não pereça”.
O penitente creu em Jesus e, portanto, tornou-se um cristão e começou a viver como tal. “Oh!”, grita um inimigo, “deixe-o sozinho; ele logo estará conosco outra vez. Logo será tão descuidado como antes”. Mas ouça: “Para que todo aquele que Nele crê não pereça” – portanto, quem crê não retornará a seu estado anterior. Isso prova a salvação eterna dos santos, pois, se o crente deixasse de ser crente, ele pereceria; e, como ele não perece mais, é óbvio que continuará sendo crente.
Se você creu em Jesus, nunca deixará de crer Nele, pois isso seria perecer.
Se crê Nele, você nunca perderá sua vida espiritual, pois como pode alguém perder alguma coisa que é eterna? Se pudesse perdê-la, isso demonstraria que ela não é eterna, e você pereceria, tornando, assim, a Palavra de Deus sem efeito. Quem um dia creu em Cristo é uma pessoa salva, não só hoje, mas em todos os dias da vida e por toda a eternidade. Todo aquele que Nele crer não perecerá, mas terá uma vida que não acaba e uma aceitação da parte de Deus que nunca cessará.
Aquele fluir santo, Tua santa Palavra,
Que todo nosso medo enfurecido controla;
Doce paz que Tuas promessas concedem
E dão nova força às almas enfraquecidas.
(Isaac Watts)
Que idéia superlativamente grandiosa e consoladora é a da morte! Sem essa maravilhosa esperança da morte, a vida, a meu ver, escureceria na melancolia da meia-noite! Oh! A expectativa de viver sempre nesta terra amaldiçoada pelo pecado seria, de fato, uma perspectiva de desespero esmagador!
Mas, graças a Deus, por esse decreto fatal que nos condenou a morrer!
Graças a esse evangelho que nos abre a visão de uma vida gloriosa e interminável!
E graças, acima de tudo, àquele Salvador-Amigo que prometeu conduzir todos os piedosos através do sagrado transe da morte para o cenário do Paraíso e de deleite eterno!
(John Foster)
Não devemos apenas renunciar ao mal, mas manifestar a verdade. Dizemos a esse povo que o mundo é vaidade – deixemos, então, nossa vida manifestar isso. Dizemos a eles que nossa casa está lá no alto, que todas essas coisas são transitórias – nossa morada aqui demonstra isso? Oh! Que vivamos de modo consistente com o que dizemos!
(Hudson Taylor)
Jesus tem muitos que amam Seu reino celestial, mas poucos que carregam a cruz. Ele tem muitos desejosos de Seu consolo, mas poucos que aceitam a tribulação. Muitos amam a Jesus enquanto não há adversidades.
(Thomas à Kempis)
Ó eternidade! Uma vez, o consolo para nossa longa espera; agora, o êxtase de nossa alma deliciada! Porque nós estaremos…
para sempre com o Senhor,
contemplando Seu rosto límpido,
portando Seu divino nome,
bebendo nas correntes de Seus prazeres,
comendo de Seu maná escondido,
sentados sob a Árvore da Vida,
aquecendo-nos com os raios do Sol da Justiça,
cantando aleluias Àquele que nos amou, que nos lavou de nossos pecados em Seu sangue e nos trouxe aqui para estar com Ele para sempre!
(James Meikle)
Não há acidentes na vida do cristão.
(Rowland Bingham)
O arrependimento é, sob todos os pontos de vista, o mais desejável, mais necessário, mais adequado para honrar a Deus, e eu busco isso acima de tudo. O coração terno, o espírito quebrantado e contrito, estão, para mim, muito acima de todas as alegrias que eu possa esperar nesse vale de lágrimas. Eu anseio estar no meu devido lugar, com a mão na boca e com a boca no pó […] Eu sinto que essa é uma base segura. Nisso, eu não erro. […] Tenho certeza de que, seja o que for que Deus despreze […], Ele não desprezará o coração quebrantado e contrito.
Embora grave risco e responsabilidade sejam imputados àqueles cristãos que se tornaram iluminados quanto às coisas da era vindoura, na qual o Filho de Deus se manifestará no caráter de Rei-Sacerdote, o apóstolo não hesita em encorajar os santos a prosseguirem. Ele diz: “Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos” (Hb 6.9). Embora o autor ponha diante dos leitores clara e impetuosamente as conseqüências de se afastarem do Deus vivo, depois de se terem sido iluminados por Seu eterno propósito, ele está persuadido a esperar coisas melhores deles. Daqueles santos ele espera, não coisas que estejam associadas com o retrocesso para destruição e perda, mas coisas associadas com o prosseguir para a salvação. A recorrência da palavra “salvação” neste ponto se associa à passagem que a precede, a saber, a “tão grande salvação” do capítulo 2 e a “eterna1 salvação”, da qual Cristo se tornou Autor para todos os que Lhe obedecem (2.10; 5.9).
Com essa passagem nós podemos, proveitosamente, comparar o que é dito em 10.26-29: “Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido conhecimento da verdade [i.e., termos sido iluminados], já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários” [como os espinhos e abrolhos serão consumidos pelas chamas, cf. Hb 6.8]. Mas, embora o apóstolo assim fale, nos mais claros termos, das consequências de retroceder voluntariamente, ele diz: “Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que crêem para a conservação da alma” (10.39). A palavra “perdição” devia ser traduzida “destruição”! Não há perdição para o santo; mas pode haver “destruição” (a qual significa grande e irreparável perda), como as Escrituras já citaram abundantemente e claramente testificam.
As palavras “crêem para a conservação da alma”, em 10.39, são de significado semelhante às palavras de 6.9: “Coisas que acompanham a salvação.” Não é a fé justificadora que está sendo mencionada aqui, isto é, a de crer para a justiça, mas a que crê para a salvação da alma, que é algo muito diferente.
A razão pela qual o apóstolo tomou tão esperançosa uma visão da perspectiva daqueles santos, e foi persuadido a esperar coisas melhores deles, foi que Deus não seria injusto de esquecer a obra e o trabalho do amor que eles tinham mostrado para com Seu Nome, tendo servido aos santos, e continuando a fazê-lo. Essa passagem (vv. 9,10) mostra claramente que as advertências desse capítulo são direcionadas aos crentes [regenerados]. É simplesmente inconcebível que seria dito de pecadores não-convertidos que eles mostraram um trabalho de amor ao nome do Senhor em ministrar a Seus santos. Além disso, a passagem fala de uma justa retribuição de Deus para o trabalho deles. As obras de pecadores são obras mortas para as quais não há recompensa. O primeiro dos princípios de fundamento mencionados no início do capítulo é “arrependimento de obras mortas”. É necessário o sangue de Cristo para purificar a consciência de obras mortas para servir ao Deus vivo (9.14).
Portanto, servir aos santos é um ministério aceitável, uma vez que testifique o amor ao nome do Senhor. Mas o apóstolo deseja algo mais, a saber, que cada um deles mostrasse a mesma diligência para a completa certeza de esperança até o fim. A “mesma diligência” parece se referir à mesma que eles já tinham mostrado ao ministrar aos santos para garantir totalmente a esperança; a mesma diligência deve ser mantida até o fim.
Outro desejo do Espírito Santo, falando pelo apóstolo, é que os santos não sejam negligentes ou preguiçosos, mas sejam “imitadores” daqueles que, pela fé e paciência, herdam as promessas. A palavra traduzida como “paciência” neste versículo e no versículo 15 não é aquela que ocorre em outras partes na epístola, como em 12.1, “corramos com paciência”, e na qual essa última significa realmente “perseverança”. A palavra que ocorre nos versículos 12 e 15 de Hebreus 6 significa “longa espera por uma promessa adiada”, como Jacó esperou pela salvação de Deus e como Abraão esperou pelo herdeiro prometido. No versículo 15, a interpretação da mesma palavra é “depois de ele ter perseverado pacientemente”. Literalmente, lê-se: “E assim, tendo tido longa paciência, alcançou a promessa”.
O incidente recordado é o forte encorajamento que Deus deu a Abraão, confirmando Sua palavra de promessa dada anteriormente por meio de um juramento. Esse juramento do Senhor foi dado a Abraão depois de provar sua fé com respeito a oferecer Isaque, de quem Deus disse: “[…] porque em Isaque será chamada a tua descendência” (cf. Gn 21.12). Então, o Senhor jurou, dizendo “E disse, por Mim mesmo jurei, diz o Senhor: Porquanto fizeste esta ação e não Me negaste o teu filho, o teu único filho, que deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar; e a tua descendência possuirá a porta dos seus inimigos; e em tua descendência serão benditas todas as nações da terra; porquanto obedeceste à minha voz” (Gn 22.16-18).
Essa palavra, confirmada por um juramento, não tinha a ver com a herança da terra de Canaã, mas com a multiplicação da descendência de Abraão como as estrelas do céu, a possessão da porta de seus inimigos e a bênção de todas as nações por meio dela [sua descendência]. É afirmado em Hebreus 6.15 que Abraão, depois de ter esperado com paciência, alcançou a promessa. Abraão não viu a multiplicação da descendência de Isaque até que Isaque completasse sessenta anos. Isaque tinha quarenta anos quando casou com Rebeca (Gn 19.20), e sessenta quando Esaú e Jacó nasceram (25.26). Conseqüentemente, os netos de Abraão tinham quinze anos quando ele morreu (v. 7). Ele não viu a multiplicação de sua descendência além disso, de modo que, no fim da vida, ele exercitou a paciência de acordo com essa promessa. A promessa ainda não tinha sido cumprida em sua plenitude; mas a palavra e o juramento permanecem, e serão cumpridos na era vindoura. Pois, quando Deus pôs a Si mesmo para realizar Seu propósito eterno de conduzir muitos filhos a glória, “Ele não tomou os anjos” para aquele propósito, mas “tomou a descendência de Abraão” (Hb 2.16); quer dizer, aqueles que são “da fé”, como está escrito: “Sabeis, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão” (Gl 3.7). E novamente: “Portanto, [a promessa] é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme de toda posteridade, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós” (Rm 4.16).
Note-se, então, que a fé de Abraão, exibida no incidente registrado em Gênesis 22, foi a obediência da fé, como disse o Senhor: “Porquanto obedeceste a minha voz”! Isso é o que dá pertinência à lição aplicada em Hebreus 6. Essa palavra e o juramento do Senhor são duas coisas imutáveis nas quais Ele tem se agradado em mostrar aos herdeiros da promessa a imutabilidade de Seu desígnio, a fim de que nós, que fugimos para buscar refúgio Nele, de acordo com o que está escrito: “O Deus de Jacó é o nosso refúgio” (Sl 46.7), tenhamos uma firme consolação (encorajamento) para lançar mão da esperança que nos foi proposta.
Nós não devemos desfalecer na tribulação, mas em vez disso “nos gloriarmos” nela
Lançar mão da esperança que nos foi proposta está em contraste com o retroceder para as coisas desse século. O tempo do cumprimento de todas as promessas que têm sido feitas aos herdeiros da promessa é o século futuro. Cristo não fez nenhuma promessa incondicional a Seus discípulos para o presente século [maligno] exceto aquela sobre a tribulação: “No mundo tereis aflições” (Jo 16.33). Sem dúvida, os santos têm muitas bênçãos e promessas disponíveis no tempo presente, mas nenhuma se relaciona ao mundo ou procede dele. Desse mundo eles não podem ter certeza de nada, senão de tribulação. Nós não devemos, no entanto, desfalecer na tribulação, mas em vez disso “nos gloriarmos” nela, porque “a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança”(Rm 5.3,4). Portanto, a fim de sermos estimulados a lançar mão da esperança que nos foi proposta, temos a Palavra de Deus confirmada por um juramento.
Ao buscar uma idéia mais definida acerca da natureza dessa esperança, alguma ajuda pode ser obtida da associação em que o termo “proposto” é usado em Hebreus 12. Lemos ali sobre “Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz”. O gozo proposto a Ele, o qual Ele terá naqueles a quem não se envergonha de chamar “irmãos”, está intimamente associado com a esperança que está proposta a estes.
Essa esperança é semelhante a uma âncora, uma pedra maciça encaixada firmemente no chão, perto da beira da água de um porto, na qual a corda de uma embarcação é fixada, de modo que a embarcação seja, assim, trazida para a costa quando não puder seguir seu caminho contra o vento ou a maré. Nossa esperança penetra até o interior do véu, onde entrou Jesus como nosso precursor, feito eternamente sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque (cf. 6.20). A esperança que nós temos está, portanto, associada diretamente com o Filho de Deus no caráter de sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque. Isso nos traz mais uma lição de que o conhecimento do Filho de Deus nesse caráter é o que distingue filhos maduros de Deus dos filhos recém-nascidos, mostrando a grande importância de lançar mão deste conhecimento.
Existe um paralelo instrutivo entre a palavra e o juramento de Deus a Abraão e a palavra e o juramento de Deus ao Filho no salmo 110. A “palavra” é encontrada no versículo 1: “Disse o Senhor ao meu Senhor”; e o juramento, no versículo 4: “Jurou o Senhor, e não se arrependerá: Tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque”. Que o paralelo é intencional é evidente, a partir do fato de o juramento a Abraão ser mencionado em direta associação com aquele ao Filho (comp. Hb 6.13 e 7.21); e na mesma associação o encontro de Melquisedeque com Abraão é descrito. Certamente, aquele incidente prefigurou a próxima vinda do grande antítipo de Melquisedeque com a descendência de Abraão, que são os vencedores pela fé, ensinando que a palavra de promessa a Abraão, a qual Deus confirmou por um juramento, terá seu cumprimento Naquele a quem Deus, pela “palavra do juramento” (v. 28), fez sacerdote eternamente.
Deve ser lembrado que, enquanto Abraão não teve, em sua existência, o cumprimento da promessa registrada em Gênesis 22, a qual é a mais extensa de todas as promessas, ele obteve o filho prometido, Isaque, por meio de quem essa e todas as suas outras promessas tiveram seu cumprimento. As promessas estão todas ligadas a Isaque. Assim com a descendência espiritual de Abraão, os herdeiros de uma salvação [futura]. Eles ainda não alcançaram o cumprimento da promessa, mas Deus lhes concedeu o conhecimento Daquele em quem todos os propósitos de Deus serão cumpridos. Cada promessa está relacionada com Cristo, que agora penetra até o interior do véu como nosso precursor. Portanto, nossa esperança, a qual se atribui a Ele, penetra até o interior do véu, o que a faz “segura e firme”. Essa ligação não falhará nem se tornará instável. Por isso, nós simplesmente temos de nos apegar até o fim.
Além disso, em outro aspecto do assunto, por ser Cristo mesmo a descendência de Abraão – como está escrito: “Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo” (Gl 3.16) –, nós, que somos nascidos de novo em Cristo, somos estabelecidos Nele como a descendência espiritual de Abraão, e, portanto, somos herdeiros das promessas.
A doutrina do sacerdócio do Filho de Deus segundo Melquisedeque, a qual ocupa o sétimo capítulo de Hebreus, tem sido tão freqüentemente e tão completamente comentada que não nos deteremos muito nela aqui. O ponto principal que temos de notar é que o estabelecimento de outro sacerdote de acordo com uma ordem diferente daquela de Arão – o Sacerdote da nova ordem sendo estabelecido com um juramento, e sendo antítipo do sacerdote-rei de Salém, que foi muito maior do que Abraão – marca uma profunda mudança nas relações de Deus com Seu povo. Somos especialmente admoestados neste ponto a “considerar quão grande era este homem a quem até o patriarca Abraão deu os dízimos dos despojos”; e é também apontado que Levi, o pai dos sacerdotes arônicos, com efeito, pagou dízimos a Melquisedeque.
A excelência deste Sumo Sacerdote é tão incomparavelmente maior do que aquele da ordem levítica, que o sistema, do qual Ele é o centro, não deixa espaço para qualquer outra parte da antiga ordem.
Resulta destas considerações que todo o sistema conectado com o sacerdócio levítico – a aliança, a lei, os sacrifícios, as ordenanças e os serviços – foi, necessariamente, posto de lado e abolido quando o exaltado Filho de Deus foi saudado por Deus como Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, quando foi feito Sumo Sacerdote, não segundo a lei do mandamento carnal, mas pelo poder de uma vida eterna. A excelência deste Sumo Sacerdote é tão incomparavelmente maior do que aquele da ordem levítica, que o sistema, do qual Ele é o centro, não deixa espaço para qualquer outra parte da antiga ordem. “Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei. […] Porque o precedente mandamento é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade (pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou)” (Hb 7.12,18,19).
A aliança também foi substituída porque Jesus se tornou o Fiador de uma melhor aliança; a nova aliança é tão melhor que a antiga quanto o Sacerdote feito com juramento é melhor do que aqueles feitos sem juramento (vv. 20-22).
Os sacrifícios também cessaram, porque nos convinha tal Sumo Sacerdote, que foi feito mais sublime do que os céus, que não necessitasse, como os sumos sacerdotes da antiga ordem, de oferecer cada dia sacrifício; porque isto fez Ele de uma vez por todas quando ofereceu-se a Si mesmo (vv. 26,27).
Nossa esperança, portanto, por estar associada firmemente ao Sumo Sacerdote da nova e eterna ordem, nos habilita a todos os benefícios do novo sistema. Por outro lado, os benefícios relativamente menores do antigo sistema não mais existem, uma vez que todo o sistema foi abolido por Aquele que o estabeleceu. Sua finalidade era temporária, e foi atingida. Era composto de “sombras”, das quais a Substância, Cristo, agora se revelou. Os judeus podem continuar a observar os remanescentes da velha ordenança, e as denominações cristãs podem inventar formas de (assim chamada) “adoração” em imitação; mas o sistema em si mesmo foi, e “necessariamente”, absolutamente trazido ao fim pela morte e ressurreição de Cristo.
Agora, o grande ponto envolvido nesta parte da epístola, e o ponto que é de principal importância para nossos propósitos, é o efeito que o novo sistema tem no aperfeiçoamento ou amadurecimento dos filhos de Deus. Esse é o fim prático, tendo em vista, como é evidente do fato de toda a seção começar com a exortação, “Prossigamos até a perfeição” (6.1); e o ensinamento da seção prova que, a fim de prosseguir para a perfeição (pleno crescimento), é necessário chegar ao conhecimento do Filho de Deus como Sumo Sacerdote da nova ordem. Em vista desse ponto prático, o apóstolo diz: “De sorte que, se a perfeição fosse [alcançável] pelo sacerdócio levítico (porque sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade havia logo de que outro [lit., um diferente] sacerdote se levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque?” (7.11). Por essa pergunta parece que o aperfeiçoamento dos filhos de Deus foi o objetivo prático em vista na consagração do Filho de Deus como Sumo Sacerdote de uma nova e imutável ordem. Isso liga o assunto do sacerdócio de Cristo segundo Melquisedeque com o propósito do Pai, mencionado no capítulo 2, a saber, conduzir “muitos filhos à glória”.
Deus deve ter, para o cumprimento de Seu grande propósito, um Sacerdote capaz de salvar perfeitamente.
Mais uma vez, é distintamente declarado que “o precedente mandamento é ab-rogado”, que é um mandamento carnal, de acordo com o qual o sacerdócio levítico foi estabelecido, cuja ab-rogação foi decretada por conta da “fraqueza e inutilidade”, e a fraqueza e inutilidade daquela lei consistiam em que “nenhuma coisa [a lei] aperfeiçoou”. Por conta disso, e por nenhum outro motivo, tanto quanto foi mencionado no texto, o antigo sistema de sacerdócio levítico foi abolido. Deus deve ter, para o cumprimento de Seu grande propósito, um Sacerdote capaz de salvar perfeitamente. Portanto, o antigo sacerdócio, e tudo associado a ele, foi removido e substituído por uma diferente ordem, capaz de conduzir os filhos de Deus ao pleno crescimento.
A conclusão, então, de todo assunto é que a inauguração do novo sistema, isto é, o novo sacerdócio, a nova aliança e o novo modo de adorar no verdadeiro santuário, teve como grande objetivo o aperfeiçoamento de muitos filhos que Deus está conduzindo à glória. Certamente, o conhecimento dessa verdade nos animará com uma firme determinação a “prosseguir até a perfeição”.
Como, então, este propósito é favorecido pela grande mudança aqui descrita? Duas coisas contribuíram para o fim mencionado: primeiro, o encaminhamento para uma melhor esperança (7.19), e, segundo, a intercessão de um Sumo Sacerdote (v. 25).
Quanto à “melhor esperança”, não temos nada a acrescentar neste ponto, tendo estabelecido completamente nosso entendimento sobre o assunto. Queremos, no entanto, por um questão de clareza, dar ao leitor uma tradução literal dos versículos 18 e 19: “Porque o precedente mandamento é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade (pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou) [nenhuma coisa trouxe à maturidade]; e desta sorte é introduzida [há também] uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus.” Em outras palavras, duas coisas são ditas ter sido realizadas: primeiro, a ab-rogação do precedente mandamento, e, segundo, a introdução de uma melhor esperança.
A intercessão do grande Sumo Sacerdote, que vive para sempre, é um poderoso fator no aperfeiçoamento de muitos filhos. Ele é “capaz”. Todo poder necessário está abrigado Nele, e Ele nunca cessa de aplicá-lo para o cumprimento do propósito do Pai. Ele é “misericordioso”, Ele é “fiel”, Ele é “capaz”. O que mais precisamos para confirmar nossa confiança Nele e encorajar-nos a mantê-la “até o fim”? “Ele é capaz de salvar perfeitamente” (cf. 7.25) – ou seja, conduzir ao correto estado para participarem da salvação de que esta epístola trata – “os que por Ele se chegam a Deus”. O precedente sacerdócio nada aproveitou para esse fim. Por meio dele o propósito do Pai não poderia ser realizado. Portanto, o Filho de Deus veio ao mundo para fazer a vontade de Seu Pai. Na terra, Ele cumpriu essa vontade pelo sofrimento e morte, no corpo preparado para Ele, como um sacrifício pelo pecado; e agora Ele vive eternamente para completar o propósito do Pai intercedendo por aqueles que são chamados segundo Seu propósito. “Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus” (v. 26).
Nota
1A palavra grega aionios, traduzida como “eterna”, neste contexto deveria ser traduzida como “permanente”. (N. do E.)
Toda sexta-feira, indicação de artigos, de uma mensagem e de um hino recomendados. Nosso desejo é que lhe sejam úteis para aprofundar seu conhecimento do Senhor, para capacitar você a servi-Lo melhor e para despertar em você mais amor por Ele.
É sempre importante relembrar o que dizemos em Sobre este lugar: as indicações a um autor ou a alguma fonte não implica aprovação total ou incondicional de tudo o que é ali ensinado nem indicado em outros links ou em vídeos relacionados, etc; indica, outrossim, que naquele artigo específico há conteúdo bíblico a ser apreciado.
“Porventura estará firme o teu coração? Porventura estarão fortes as tuas mãos, nos dias em que Eu tratarei contigo? Eu, o Senhor, o disse e o farei” (Ezequiel 22.14).
Imagine-se ser lançado em uma fornalha ardente, ou em um grande forno, onde sua dor seria tão maior do que a ocasionada por acidentalmente tocar uma brasa, pois o calor é muito maior. Imagine também que seu corpo vá ficar lá por um quarto de hora, sentindo, durante todo esse tempo, a plena sensação do calor. Que horror você sentiria já na entrada desse forno!
E quanto tempo esse quarto de hora pareceria para você! E, depois de ter sofrido por um minuto, como seria para você pensar que ainda teria de suportar os outros 14 minutos? Mas qual seria o efeito sobre sua alma, se você soubesse que estaria continuamente nesse tormento por 24 horas?
E quão maior seria o efeito, se você soubesse que deveria suportá-lo por um ano inteiro!
E quão muito maior ainda, se você soubesse que teria de suportá-lo por mil anos!
Ou então, como seu coração se abateria, se você considerasse, se você soubesse que você teria de suportá-lo para todo o sempre! Que não haveria fim!
Que, depois de milhões e milhões de eras, seu tormento não estaria mais próximo de um fim, que nunca estaria, e que você nunca, nunca iria ser livre!
Se você não é um cristão verdadeiro, seu tormento no lago de fogo1 será imensamente maior do que essa ilustração representa!
Como irá o coração de uma pobre criatura submergir sob esse fato! De que maneira totalmente inexprimível e inconcebível será o naufrágio da alma nesse caso!
Seja você quem for – jovem ou velho, pequeno ou grande –, se você está sem Cristo, se não é convertido, essa é a ira à qual você está condenado. Essa é a ira que está sobre você. Esse é o lago de fogo sobre o qual você está pendurado, e em que você está pronto a cair todos os dias e todas as noites.
Você pode efetivamente escapar desses tormentos horríveis e terríveis. Você é chamado a fugir e a abraçar Aquele que veio ao mundo com o fim de salvar os pecadores desses tormentos, e que pagou toda a dívida.
[Enquanto não crer], você está exposto ao castigo eterno, mas um Salvador foi providenciado, que é capaz e que se oferece gratuitamente para salvar você da punição.
A justiça está plenamente satisfeita em Cristo. Todos os que crêem são aceitos e justificados Nele. Por isso, creia Nele, venha a Ele, confie sua alma a Ele para ser salvo por Ele. Nele você estará a salvo dos tormentos eternos do lago de fogo.
E isso não é tudo: por meio Dele você herdará inconcebíveis bem-aventurança e glória, que terão uma duração eterna assim como os tormentos do lago de fogo. Pois, assim como, no último dia, o ímpio irá para o castigo eterno2, assim aqueles que confiam em Cristo, para a vida eterna3.
“Porventura estará firme o teu coração? Porventura estarão fortes as tuas mãos, nos dias em que Eu tratarei contigo? Eu, o Senhor, o disse e o farei” (Ezequiel 22.14).
Notas
1 Inferno, no original, também nas outras menções. Apesar de ser este o termo mais comumente usado, a Bíblia afirma claramente que o lugar do castigo eterno dos perdidos é o lago de fogo, a segunda morte, no qual “a morte e o inferno” serão lançados por Deus em Seu julgamento final sobre toda a criação (Ap 20.11-15). (N. do R.)
2 O evangelho bíblico, que inclui o aviso sobre o castigo eterno dos que não crêem, que condena o pecador não-arrependido, que não contemporiza o pecado, que indica um único caminho para a salvação, foi quase totalmente substituído por um evangelho falso, água-com-açúcar, que fala apenas de um deus que quer fazer o bem para o homem, que não quer vê-lo triste, que não condena seu pecado… O “Arrependei-vos”, proclamado por Jesus e os apóstolos, foi substituído pelo inócuo “Jesus te ama e quer te fazer feliz”. A falta de amor e a desconsideração com que o evangelho bíblico foi pregado por alguns não pode servir de desculpa para abrirmos mão dele. Devemos seguir o exemplo dos fiéis servos de Deus do passado que, sem deixar de lado a mensagem acerca da condenação eterna, eram movidos por profundo amor pelos pecadores, por vezes sendo levados às lágrimas enquanto pregavam. Todo humanismo, toda complacência, todo medo de ofender as pessoas, todo receio de chamar o pecado de pecado, todo desvio da verdade bíblica no tocante à apresentação das boas-novas terá um único resultado: pessoas condenadas eternamente por não terem ouvido a verdade ou por terem crido na mentira que lhes foi mostrada. (N. do R.)
3 Cremos que antes do último dia já haverá crentes desfrutando da vida eterna, por terem participado por mil anos, como os vencedores, das bodas do Cordeiro (Ap 20.4-6). (N. do R.)
(Traduzido por M. Luca, revisado por Francisco Nunes. Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria e de tradução e seja exclusivamente para uso gratuito. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)
Onde há aparente contradição em qualquer doutrina em particular das Escrituras, é possível tomar a preponderância de passagens em favor de um ponto de vista ou de outro. Mas a contradição deve ser apenas aparente (certamente em referência às escrituras originais, que nós não temos agora1), aparente, provavelmente devido à interpretação falha ou possivelmente a erros na transcrição ou na tradução; mais provavelmente, à interpretação defeituosa. Esse é o caso da doutrina da eterna segurança do crente (a grande linha divisória e a divergência de opinião entre calvinistas e arminianos), em que a preponderância das Escrituras parece esmagadoramente a favor. O Evangelho de João, sem qualquer outra Escritura, é por si só suficiente para prová-la; e temos a repetida garantia de nosso Senhor, desprovida de qualquer declaração Sua do contrário, de que Suas ovelhas estão eternamente seguras.
Comecemos com o bem conhecido texto de João 3.16, “o evangelho em poucas palavras”, como tem sido chamado: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”, repetido por João, o Batista, no versículo 36. Se é eterna não pode, eventualmente, ter um fim.
A seguir, 5.24: “Quem […] crê […] tem” – uma posse imediata e presente, enfatizada, no verso seguinte, pelas palavras “Em verdade, em verdade” – “a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” – e certamente não passará de volta para a morte2. Não há nem mesmo uma sugestão disso!
Em João 4.14, Jesus diz à mulher samaritana: “Aquele que beber da água que Eu lhe der nunca” – nunca! – “terá sede”, mas se tornará “nele uma fonte de água que salte para a vida eterna”.
Em 6.39: “E a vontade do Pai, que Me enviou, é esta: que nenhum de todos aqueles que Me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia”. Isso é repetido nos versos 44 e 54: é uma promessa que Ele deve e seguramente vai cumprir.
Mais uma vez, em 10.28,29: “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém” – nem homem nem diabo – “as arrebatará da Minha mão […] e ninguém pode arrebatá-las da mão de Meu Pai” – a todo-poderosa mão daquele que é “maior do que tudo”: segurança absoluta!
A seguir, para Marta, Jesus disse: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em Mim […] nunca morrerá. Crês tu isto?” (11.25,26). Uma pergunta que Ele faz a todo crente que duvida de Suas garantias. E, por último, em Sua oração sacerdotal, Ele pede para que o Pai dê a vida eterna a todos quantos deu ao Filho (17.2).
Algo pode ser mais claro ou mais explícito do que essas passagens das Escrituras? Certamente podemos descansar na reiterada garantia de nosso precioso Salvador, apesar de quaisquer expressões aparentemente contrárias nas Escrituras? Isso é o que vimos apenas no Evangelho de João, mas queremos referir-nos a uma ou duas outras passagens à guisa de confirmação.
Em Efésios 1:4, aprendemos que os cristãos foram escolhidos “antes da fundação do mundo” e pré-ordenados como filhos por meio de Jesus Cristo para Ele mesmo. É possível que eles, ao final, se percam? Em 1Coríntios 3.14, vemos que, se a obra de alguém, que ele construiu sobre as bases estabelecidas por Deus em Cristo Jesus, é queimada, essa pessoa sofrerá perda, mas ela mesma será salva, todavia como pelo fogo, escapando, por assim dizer, de um edifício em chamas apenas com a vida. Mas por que multiplicar textos para provar ainda mais o que já é tão abundantemente comprovado? “Um filho de Deus é eterno como Deus, pois compartilha a vida de Deus, e quando o mundo for totalmente dissolvido em labareda de fogo, ele estará entre as estrelas da manhã ao redor do Trono” (D. M. Panton).
Podemos agora olhar para algumas Escrituras que parecem contradizer essa afirmação, reconhecidamente de difícil interpretação; mas, apesar de difíceis, podemos estar certos de que não contradizem a declaração explícita de nosso Senhor. Os dois principais obstáculos para o crente calvinista estão na Epístola dos Hebreus, 6.4-8 e 10.26-31, as quais tem levado alguns expositores a acreditar que eles se referem especialmente à economia judaica e não se referem à salvação em Cristo, mas isso não parece defensável. Outros estão certos de que – e esta é a explicação mais comum – as pessoas ali referidas nunca foram salvas, mas são apenas professantes. Outros fiam-se, em 6.6, em uma variante que indica uma ação contínua em lugar do texto que diz que aqueles homens crucificaram de novo o Filho de Deus. Outros explicam que o arrependimento nunca mais pode ser repetido, e note-se que julgamento e punição – não morte eterna – são os resultados de tais transgressões. Alguns expositores, não muitos, afirmam que ambas as passagens se referem a apóstatas3 – mais do que desertores, aqueles que esconjuraram e definitivamente rejeitaram Cristo. Se essa hipótese está correta e isso significa castigo eterno, então, o caso de um apóstata é a única exceção à regra de que todo crente está eternamente salvo; mas é uma questão de ação de graças que haja, tanto quanto se sabe, tão poucos apóstatas4. O próprio fato de haver nessas passagens tantas e diversas explicações e tantas diferenças de interpretação torna impossível que elas sejam usadas para contradizer as declarações explícitas de nosso Senhor.
Se, então, a eterna segurança dos crentes é a verdadeira interpretação da Escritura, a pergunta surge naturalmente quanto à posição dos crentes frios, mornos e infiéis, que se provaram indignos de entrar no Reino, e de todos os apóstatas – alguns dos quais têm grosseiramente apostatado – mortos em seu estado apóstata, embora Deus, em Sua infinita misericórdia, tenha tornado possível para eles confessarem e arrependerem-se. Deve haver algum tempo e lugar onde eles serão tratados, pois “nosso Deus é fogo consumidor” (12.29) e “justiça e juízo são a base do Seu trono” (Sl 97.2); e o apóstolo Pedro, pelo Espírito Santo, nos adverte de que o julgamento deve começar pela casa de Deus (1Pe 4.17). Nosso próprio senso de justiça exige nesta vida que aos que infringem a lei sejam impostas as penas da lei, e “não faria justiça o Juiz de toda a terra?” (Gn 18.25). Não pode ser que os cristãos indignos e apóstatas, morrendo sem terem se arrependido e não-perdoados, entrem imediatamente na na bem-aventurança e reinem com Cristo! O coríntio incestuoso de 1Coríntios 5 é um caso em vista.
Não! É o “pequeno rebanho”, a quem foi do agrado do Pai dar o Reino (Lc 12.32). Os vencedores são os únicos a quem é dada a promessa de partilha do trono de Cristo (Ap 3.21). “Seguramente, o Reino Milenar, esse poder sobre as nações, ser dado como um galardão àqueles que vencerem é muito claro” (Sten). “Embora os dons não sejam salário, ainda dependem de vencer uma batalha. Há algo além da mera salvação” (Dr. Horatius Bonar). Não há nenhum indício na Escritura de os crentes ressuscitados serem súditos no Reino Milenar; os súditos do Reino são as nações da terra vivendo na época do começo do Reino. Para os crentes, é uma questão de reinarem ou serem excluído do Reino. Ser um reinante é uma honra tão alta que nosso Senhor declara: “Entre os nascidos de mulheres, não há maior profeta do que João, o Batista; mas o menor no reino de Deus é maior do que ele” (Lc 7.28).
Quanto ao tempo e lugar, rejeitamos a idéia do purgatório (uma invenção puramente romanista), se não por outra razão, pelo fato de que nenhum julgamento o precede5. “Aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disso o juízo” (Hb 9.27) – não o purgatório –, e ninguém é condenado por Deus sem ser julgado. Do grande trono branco está escrito: “Foram julgados cada um segundo as suas obras” (Ap 20.13). A dispensação da graça termina com a vinda de Cristo para Seus santos e com o arrebatamento deles nos ares. Durante a presença de Cristo nos ares – a parusia –, o bema, ou trono do julgamento [ou tribunal] de Cristo (Rm 14.10; 2Co 5.10) tem lugar. Embora não seja explicitamente declarado nas Escrituras, não há outra ocasião em que ele possa ser realizado, e é ali que a posição de cada crente será determinada em relação ao reino de Deus. Se considerado indigno de entrar e reinar com Cristo, então, como estabelecido na parábola dos talentos, o servo inútil será lançado nas trevas exteriores (Mt 25.30) – um lugar não-especificado na Escritura – ou será cortado em pedaços (lit.) e terá sua parte com os hipócritas (24.51). Mas, graças a Deus, por fim, ao final da era do Reino, será admitido na bem-aventurança eterna.
Outrora parecia abominável na mente do escritor que qualquer filho de Deus deveria receber alguma punição; agora, é um pensamento reconfortante, que leva à esperança: um grande número de cristãos que vivem agora para o mundo serão, por fim, salvos, apesar de sofrerem perda e serem privados de galardão, e, em alguns casos, receberem punição, mas, graças a Deus, apenas temporária, não eterna. Para os incrédulos, nós “pregamos o inferno para fazê-los pessoas do céu”; para o crente pregamos, não só o amor de Deus, mas Sua justiça e possível punição.
Podemos concluir com esta maravilhosa explosão de louvor e de certeza do apóstolo Paulo: “Estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.38,39).
Notas
1 Ao contrário do autor do texto, este tradutor, ao lado de muitos outros cristãos, crê que, sim, temos hoje a Escritura inspirada por Deus, por meio do Texto Recebido (Textus Receptus). Não é coerente pensar que o Deus que inspirou, moveu homens para escreverem Sua Palavra – pela qual devemos pautar nossa vida, na qual o menor jota ou til é importante e imutável, da qual é proibido tirar-se qualquer coisa ou à qual é proibido adicionar qualquer coisa, a qual é capaz de discernir os propósitos do coração e tantas outras características – não tenha sido capaz de preservá-la ao longo dos séculos e por meio das cópias. Os possíveis erros de tradução ou de transcrição, se existem, não contradizem, não destroem nem enfraquecem as verdades fundamentais da Bíblia. Podemos, portanto, confiar que temos em nossas mãos a inspirada Palavra de Deus se usamos uma tradução baseada no Texto Recebido (em português, a Almeida Corrigida e Fiel, publicada pela Sociedade Bíblica Trinitariana). Esse comentário do autor, com o qual o tradutor não concorda, no entanto, não depõe contra o conteúdo de seu texto. (N. do T.)
2 Isto é, a “segunda morte”, a separação eterna de Deus no “lago de fogo” (Ap 20.15). (N. do E.)
3 Em minha mente, não há dúvida de que Hebreus 6.4-8 lida com apóstatas; e se alguém quiser saber quais ações qualificam um crente nessa categoria, deve ler Números 14. (N. do E.)
4 É um fato que existem mais apóstatas do que o autor e a maioria dos cristãos imagina: o apóstata sabe o que ele tem rejeitado e depois sai para provocar a queda de outros cristãos, usando doutrinas antimilenaristas.
5 Há um julgamento de Deus e Seu governo sobre os assuntos humanos que está em andamento em todos os momentos. Exemplos proeminentes disso são mostrados em Jó 1; 2; em Acabe (1Rs 22) e em Nabucodonosor (Dn 4). “O primeiro caso mostra os procedimentos judiciais que efetuam aperfeiçoamento; o segundo, morte; o terceiro, reforma. Jó era um homem piedoso sob disciplina para seu bem: um homem íntegro foi feito um homem santo. Ainda assim Deus castiga Seus filhos a fim de que eles se tornem participantes de sua santidade (Hb 12.10,11)” (G. H. Lang). Essa administração judicial contínua pode ter lugar antes e depois da morte. “Cristãos em pecado foram disciplinados até com morte prematura, e é explicado que isso foi feito a fim de salvá-los da responsabilidade de condenação no momento em que Deus irá lidar com o mundo em geral.” O Senhor fez muitas declarações temíveis e mui graves com respeito a Seus tratos com Seu povo redimido à época de Seu retorno. Algumas delas são as seguintes: Lc 12.22-53; 17.11-27; Mt 24.42–25.30). “Se parecia inconcebível que o Senhor pudesse descrever algum dos Seus comprados por sangue e amados como um “servo mau” (Mt 25.26), deve ser ponderado que Ele tinha aplicado o termo antes a um servo cuja dívida havia sido totalmente perdoada: “Servo malvado [ou mau; mesma palavra grega de 25.26], perdoei-te toda aquela dívida” (18.32) Assim, alguém que, como resultado de um ato de compaixão do Senhor, tenha sido totalmente perdoado de todas as suas falhas como servo, pode revelar-se um “servo mau”, cuja maldade [ou malignidade] consiste no fato de que, embora perdoado, ele não perdoa. Negar que um filho de Deus pode ser não-perdoador é cegar os olhos por negar esse fato triste e severo. O Senhor não deixou espaço para dúvida de que os membros da família divina estavam em Sua mente pela aplicação da parábola que Ele fez na ocasião: “Assim vos [Pedro, cuja pergunta sobre perdoar tinha provocado a parábola e os outros discípulos (v. 21)] fará, também, Meu Pai celestial se do coração não perdoardes, cada um (hekastos) a seu irmão” (v. 35). São o Pai e os irmãos que estão em vista, não aqueles que estão fora do círculo familiar” (G. H. Lang). O julgamento pode ocorrer na morte ou imediatamente após ela (Hb 9.27). Ele pode ter lugar antes da morte, ou Paulo não poderia ter certeza de que ganharia sua “coroa da justiça” (2Tm 4.6-8). A expressão “acabei a carreira” é tomada do mundo do atletismo, que ocupava um lugar muito grande na vida e no interesse dos gregos e é muito freqüentemente usada por Paulo como imagem de esforço espiritual Em 1Co 9.24-27, é usada como um aviso claro de que o cobiçado prêmio pode ser perdido. Em Fp 3.12-14, ela a emprega para exortar ao intenso e incessante esforço a fim de ganhar esse prêmio O Senhor é o justo Juiz, sentado para julgar cada concorrente [isto é, cada crente regenerado] na corrida ou competição. Agora, é de necessidade inevitável que o juiz dos jogos tome automaticamente sua decisão conforme cada corredor ou lutador individualmente termina o percurso ou a disputa. A entrega dos prêmios era efetivamente adiada para o final de toda a série de eventos – a coroa de Paulo seria realmente dada “naquele dia” –, mas o juiz não adiava sua decisão sobre cada item ou concorrente. Para os mais célebres dos jogos gregos, os Olímpicos, isso durava cinco dias. A figura, tomada de Paulo, e à luz do rico e de Lázaro (Lc 16), sugere uma decisão do Senhor, como a cada crente, antes ou no momento da sua morte. Essa decisão resulta na determinação do local e da experiência do homem no estado intermediário [no Hades] e pode se estender à garantia de que ele ganhou a coroa, “o prêmio da soberana vocação” (Fp 3.14). Em Ap 6.9,11 lemos sobre o quinto selo. Esses mártires “debaixo do altar” ainda não foram ressuscitados dentre os mortos, pois outros ainda têm de ser mortos por causa de Cristo, e só então estes vão ser vindicados e vingados. Mas para cada um deles separadamente uma túnica branca é dada. A túnica branca é o sinal visível, conferido pelo Senhor, da dignidade deles em serem companheiros do Senhor em Sua glória e reino. Isso, mais uma vez, torna evidente que para esses o julgamento do Senhor foi formado e anunciado. Nenhum julgamento posterior é necessário ou concebível; apenas o que dá a coroa “naquele dia”. Ao reunir esses fatos e considerações, parece bastante claro que o julgamento do Senhor sobre os mortos de Seu povo não é adiado para uma sessão, mas é atingido e declarado (a) imediatamente antes da morte (como com Paulo), quando não há mais risco de ser desclassificado na corrida, ou (b) imediatamente após a morte (como Lázaro), ou (c) pelo menos no estado intermediário da morte: “as almas [no Hades] debaixo do altar”. Portanto, Deus exerce julgamento sobre Seu próprio povo agora; este é o período adequado para isso, mas o juízo geral do mundo é protelado: “Já é tempo que comece o julgamento pela na casa de Deus” (1Pe 4.17), e outra vez: “Se nós nos julgássemos [estabelecêssemos julgamento rigoroso sobre] a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando [falhando nesse santo auto-julgamento] somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (1Co 11.31,32). E essa correção pode se estender à fraqueza física, à doença positivo ou até mesmo à morte. Foi o que ocorreu com Ananias e Safira (At 5.1-11; ver Tg 5.19,20; 1Jo 5.16,17; Mt 5.21-26; 18.28-35).” (G. H. Lang). (N. do A.)
(Traduzido por Francisco Nunes de “The Eternal Security of the Believer“, de W. P. Clarke. Você pode usar esse artigo desde que não o altere, não omita a autoria, a fonte e a tradução e o use exclusivamente de maneira gratuita. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)