“Minha vida espiritual parece fria e estagnada. Socorro! Parece que faz semanas ou meses desde que tive um novo pensamento em minhas leituras diárias ou desde que fui capaz de ficar acordado por mais de três minutos ao orar. Minha condição é grave?”
A frieza geralmente é causada pelo ambiente. Se você mora no Alasca, a menos que se agasalhe bem quando estiver desconfortável (separação adequada) e aproveite todas as oportunidades para se aquecer (comunhão com outros crentes), a frieza e a preguiça resultantes se tornarão a regra. Você pode funcionar por um tempo com as mãos e os pés frios, mas, quando seu coração cai abaixo de 35º, a hipotermia se instala e se torna fatal se não for tratada.
A melhor maneira de combater a hipotermia espiritual é como fizeram os dois discípulos na estrada de Emaús em Lucas 24. A íntima comunhão com o Senhor pelas Escrituras proporcionará uma “boa febre” que o mundo não será capaz de tirar.
A estagnação é normalmente causada por uma maré baixa ou por inatividade. Há um córrego que atravessa minha propriedade e, no final do verão, ele frequentemente deixa de fluir, resultando em água turva e fedorenta. Qualquer vida aquática logo morre. Afluentes, rios e riachos precisam de uma saída e uma entrada para serem uma bênção. Você está envolvido em atividades apropriadas para sua idade e estágio da vida? Se você é salvo, já foi batizado? Se você foi batizado, já tomou seu lugar na igreja local? Jovens irmãos, vocês estão participando na adoração e na oração? Irmãs jovens, vocês estão aproveitando a oportunidade para convidar crianças para a escolinha e visitando as viúvas de sua igreja? Você já falou alguma coisa com seus colegas de classe ou de trabalho sobre seu Salvador ou contou a eles como você foi salvo?
Alguns de nós, que são mais tímidos, podem dar para alguém um livreto ou um folheto apropriado. Atividade sem preparação espiritual não é a resposta para a estagnação. No entanto, Tiago deu o princípio: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz comete pecado” (Tg 4.17). A inércia espiritual completa somente produzirá secura de espírito e uma perspectiva moribunda.
Minha condição é grave?
Cerca de dois anos atrás, comecei a perceber que algo não estava certo em minha vida. Isso afetava meus pensamentos, meus hábitos e, especialmente, minha fala. No começo, ignorei, atribuindo-o às circunstâncias e ao estresse, mas, à medida que as coisas avançavam, comecei a perceber que era algo sério que precisava ser encarado e consertado definitivamente.
O reconhecimento de que algo está errado é um passo gigantesco em direção ao diagnóstico e à correção. Como a saúde física, o surgimento da maioria das doenças espirituais é gradual. Em questões de saúde física, não é aconselhável fazer um autodiagnóstico no Google; nas coisas espirituais, o melhor lugar para começar não é na internet, mas com uma Bíblia aberta!
Sabemos que vamos passar pelos vales da adversidade, pelo som das batidas da monotonia ou até mesmo pelo leito da exaustão, mas chega um momento em que sabemos que algo está errado. Devemos nos submeter aos holofotes da luz de Deus, ao bisturi do Cirurgião Divino e, finalmente, ao Bálsamo de Gileade.
Davi chegou a esse ponto no salmo 139. Ele sabia que era algo sério. Você nunca vai errar em ir diretamente ao Grande Médico. Davi primeiro reconheceu as qualificações do Senhor para conhecer e lidar com sua situação. Ele admitiu (v. 6) que ele mesmo não tinha o conhecimento ou as habilidades necessárias. Você não deve confiar em qualquer médico da internet ou em outras pessoas que afirmam ter as respostas. No meu caso, consultei aqueles que eu sabia que tinham em vista o melhor para mim. Você já pediu aos anciãos de sua igreja local algumas idéias ou ajuda com sua estagnação espiritual? Você pode se surpreender ao saber que eles experimentaram os mesmos sintomas… e também a cura.
No salmo 139, Davi percebe que sua condição fria e estagnada é causada por ações e pensamentos (v. 2). Ele entende que o Senhor conhece seu passado, seu futuro e está ativamente preocupado com as circunstâncias atuais (v. 5). Mais adiante, no salmo, ele reconhece que o problema principal são seus inimigos: Satanás, o mundo e a maldade da própria carne. A maior parte do restante do salmo trata de como pensar corretamente, ou seja, pensar os pensamentos de Deus.
Se você reconhecer que sua condição é grave, um bom autoexame incluirá perguntas como:
“De que eu tenho me alimentado ultimamente?”
De comida alguma? Por exemplo: sua Bíblia está empoeirada!
Comida industrializada (não saudável)? Por exemplo: certo tipo de filmes ou vídeos do YouTube, etc.
“Onde eu estive para ficar exposto a um vírus ou algum tipo de veneno?”
Más doutrinas sobre Cristo ou a igreja.
Evolução e outras influências pós-modernas.
“Com quem estou andando que está me contagiando?”
Amigos carismáticos que parecem ter milagres diários.
Amigos materialistas que têm muito mais coisas que eu.
“O que eu fiz (ou deixei de fazer) que pode ter causado letargia?”
Pecado secreto ou não confessado.
Pensamentos errados ou ressentimentos em relação a outros crentes.
Semelhante à experiência espiritual de Davi, há algum tempo submeti-me à radiação de uma ressonância magnética que revelou que um tumor estava crescendo em mim, provavelmente há anos, e precisava ser removido. Há um ano, deitei-me na mesa de cirurgia e confiei no neurocirurgião para fazer o que eu nunca poderia fazer sozinho (e dessa vez era uma cirurgia no cérebro!).
“Minha condição espiritual poderia ser ainda pior?”
Davi chega a Deus novamente no salmo 51 com um grito mais desesperado, porque ele sabe que a razão de sua frieza e estagnação é seu próprio pecado, voluntário e descoberto diante de Deus. Se você não leu esse salmo recentemente, faça isso. Veja se ele não encontra eco em sua alma e leva você a considerar a cruz onde todo pecado foi pago e, graças a Deus, seu coração pode ser purificado e a alegria de sua salvação pode ser restaurada.
A cura divina é bíblica ou anti-bíblica? O Senhor é “socorro bem presente na angústia” (Sl 46.1): isso significa apenas que o cristão deve buscar Dele graça para, pacientemente, suportar aflições? As Escrituras têm muito mais a dizer com relação ao corpo; será uma grande perda se ignorarmos isso.
1. Nossos deveres na enfermidade
É claro para nós que muitos cristãos estão vivendo abaixo de seus privilégios nessa questão. Jeová-Rafah (“o Senhor que te sara” [Êx 15.26]) é, verdadeiramente, um dos Seus títulos tanto quanto Jeová-Tsidkenu (“o Senhor justiça nossa” [Jr 23.6]).
Quais são os deveres e privilégios do cristão quando ele adoece? Primeiro, esforçar-se para determinar a ocasião e a causa de sua enfermidade. É fácil descobrir se a doença advém de ignorar as ordens da prudência comum (Pv 23.21; Gl 6.7,8). Se não conseguimos atribuir nosso atual problema de saúde à negligência física ou à insensatez, então, procuremos identificar a causa moral. “Esquadrinhemos nossos caminhos, e provemo-los” (Lm 3.40), fazendo um esforço honesto para descobrir o que tem entristecido o Espírito (Ef 4.30). É provável que haja algo contrário em mim sobre o que Ele está indicando Sua desaprovação (Mc 7.21-23), e pelo que Ele requer que eu me humilhe (Sl 139.23,24). O ponto de lepra de minha alma que precisa ser purificado pode ser um espírito de egoísmo, a permissão ao orgulho, as obras da vontade própria, as agitações da rebeldia quando a providência divina cruza meu caminho, o exercício da justiça própria.
Se nós temos estabelecido algum ídolo, ele precisa ser lançado fora (1Co 10.14; Sl 32.5);
– se nós temos cedido à lascívia, isso precisa ser mortificado (Cl 3.5);
– se nós tomamos um caminho proibido, ele precisa ser abandonado (Pv 14.12);
– se nós temos intencionalmente deixado um dever, ele precisa ser retomado.
Se temos sido descuidados, então, não devemos nos surpreender se ficarmos acamados por algum tempo. Isso é a fim de que haja tempo para relações estreitas entre a alma e Deus, para que as “coisas ocultas das trevas” sejam trazidas à luz e tratadas fielmente (1Co 4.5).
Algumas aflições são produzidas pelo diabo. Nós lemos em Jó, e de uma mulher “a qual há dezoito anos Satanás a tinha presa” (Lc 13.16). Está escrito: “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4.7) – ao que deve ser adicionado “Ao qual resisti firme na fé” (1Pd 5.9).
Algumas enfermidades físicas são enviadas sobre os santos para seu aperfeiçoamento em vez de correção, para que eles produzam algum fruto espiritual superior (Gl 5.22,23). Portanto, o crente que deseja luz sobre sua situação deve esperar no Senhor para que este lhe mostre por que contende com ele (Jó 10.2).
2. 2Crônicas 7.14
“E se o Meu povo, que se chama pelo Meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a Minha face e se converter dos seus maus caminhos, então, Eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.”
Alguns podem contestar que tal passagem não é aplicável a nós, pois Deus lidava com Israel de acordo com a Lei, ao passo que lida conosco de acordo com as riquezas da graça. Essa afirmação é completamente anti-bíblica. Manter os requisitos de santidade e exercer misericórdia com respeito ao penitente sempre caracterizou os caminhos de Deus em todas as épocas. O ensino do Novo Testamento nesse assunto é precisamente o mesmo que o do Antigo.
“Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem [que morreram]” (1Co 11.29,30).
Os coríntios eram culpados de transformar a Mesa do Senhor em um banquete carnal. Deus não toleraria tal irreverência. Ele os visitou com um julgamento temporal, punindo-os fisicamente. Portanto, esta passagem é estritamente análoga àquela em 2Crônicas 7.
Porém, tanto na primeira, quanto nesta o remédio é graciosamente revelado: “Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados.” (1Co 11.31). Se os coríntios se condenassem honestamente por sua conduta indecorosa diante de Deus, o julgamento divino seria removido e os muitos enfermos, curados. “Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (v. 32). Deus está nos castigando aqui para que escapemos da dor eterna futuramente.
Ora, em 2Crônicas 7.14 nós encontramos o povo de Deus sendo tratado por seus pecados. Como a libertação seria obtida? Primeiro, eles deveriam “se humilhar”. Isso tem o mesmo significado da expressão “julgar a nós mesmos” em 1Coríntios 11.31. Uma palavra em Levítico 26.41,42 fornecerá a ajuda necessária: “Se então o seu coração incircunciso se humilhar, e então tomarem por bem o castigo da sua iniqüidade, também Eu Me lembrarei da minha aliança”.
Humilharmos a nós mesmos sob a vara de Deus é parar de perguntar: “O que eu fiz para merecer isso?”, é parar de resistir à vara e curvar-se humildemente, reconhecendo que minha conduta vil merece isso. Davi se humilhou quando declarou: “Bem sei eu, ó Senhor, que os Teus juízos são justos, e que segundo a Tua fidelidade me afligiste” (Sl 119.75). Julgar a nós mesmos é tomar posição do lado de Deus contra nós mesmos. Enquanto não o fizermos, a vara não terá completado o efeito para o qual foi designada (Hb 12.11).
“E orar” é a próxima coisa. Nós oramos com um senso mais profundo da santidade divina e de nossa vileza, por um coração contrito e quebrantado (Sl 34.18; 51.17), por fé na misericórdia de Deus, por purificação e restauração para comunhão.
“E buscar a Minha face”. Isso é um passo adicional. Expressa termos ainda mais diligência e fervor. O Onisciente não pode ser enganado por meras palavras. Ele requer uma busca de coração, para que nós tenhamos, de fato, um encontro face a face com Aquele a quem desagradamos. Deus não encobrirá nossos pecados; nós também não deveríamos fazê-lo.
“E se converter dos seus maus caminhos”. Se eles precisam ser libertados do julgamento de Deus, eles devem necessariamente abandonar seus pecados, sem nenhuma reserva secreta, com o firme propósito no coração de não retornar para eles jamais (Sl 85.8). Arrependimento é mais do que lamentar pelo passado. Inclui a resolução de que não haverá repetição no futuro.
“Então, Eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.” Aqui está a graciosa promessa: é certo que será ouvido por Deus, o perdão é assegurado e a cura está disponível para ser reivindicada por fé. Deus concederá cura imediata e completa em toda situação? Não; 2Crônicas 7.14 não se compromete nem com a cura imediata nem completa.
Auxílio de médicos e uso de medicamentos
Os homens de Jericó buscaram a Eliseu dizendo: “As águas são más” (2Rs 2.19). E o profeta disse: “‘Trazei-me um prato novo, e ponde nele sal’. E lho trouxeram. Então, saiu ele ao manancial das águas, e deitou sal nele e disse: ‘Assim diz o Senhor: Sararei a estas águas; e não haverá mais nelas morte nem esterilidade’” (2Rs 2.20,21).
Deus podia ter curado aquelas águas sem qualquer sal, assim como Ele poderia ter tornado doce as águas amargas de Mara sem ordenar que Moisés lançasse certa árvore nelas (Êx 15.23-35). Às vezes o Senhor se agrada de usar meios (tais como médicos e medicamentos), e, em outros momentos, Ele os dispensa, pois exerce Sua soberania tanta de uma forma como de outra.
A doutrina da soberania torna o assunto mais intrigante, e Deus assim o deve ter planejado. O homem natural quer que tudo lhe seja facilitado. Mas o modo de Deus é manchar o orgulho humano, fazer-nos perceber nossa insuficiência, colocar-nos de joelhos. “Ó minha alma, espera somente em Deus, porque Dele vem a minha esperança” (Sl 62.5). Deus é soberano e não age de modo uniforme. Nós somos agentes responsáveis e dependentes Dele, e portanto não devemos agir nem irracional nem presunçosamente.
Quando sarou a terra de Israel, Deus por vezes usou certos meios; em outros momentos, foi sem o uso de qualquer meio. O mesmo se dá quando Ele cura nosso corpo. A um homem cego Cristo deu visão instantaneamente (Mc 10.46-52), mas, a outro, Ele colocou as mãos nos olhos do homem uma segunda vez antes da completa restauração (8.22-25).
Longe de nós afirmar que todos os que recorrem a médicos e a remédios estão perdendo o melhor do Senhor. Mas é Sua vontade que alguns O glorifiquem “em meio ao fogo” (Is 24.15). Deus enviou um anjo para libertar Pedro da prisão, mas permitiu que Estêvão fosse apedrejado até a morte.
Nós devemos nos apropriar da promessa de 2Crônicas 7.14, humildemente e não presunçosamente. Tendo corrigido qualquer erro diante de Deus, agora implore com Sua Palavra:
“Senhor, eu tenho buscado me humilhar diante de Ti e orar, buscar Tua face e renunciar a meus caminhos iníquos. E Tu me asseguraste que irás me perdoar e me curar. Faz como disseste. Mas, Senhor, eu não conheço Teus pensamentos. É Tua vontade pôr Tua mão restauradora sobre mim neste momento? Caso seja, habilita-me a confiar em Ti de todo o coração. Ou Tu gostarias que eu usasse alguns recursos, como médicos e medicamentos? Sendo assim, faz com que eu conte que Tu os torna eficazes para mim, para que eu confie em Ti e não neles, para que a glória seja toda Tua”.
Dois aspectos da fé
“Seja-vos feito segundo a vossa fé” (Mt 9.29). Deus promete honrar a fé onde quer que Ele a encontre. Mas qual é a fé aqui mencionada? É aquela que descansa sobre a segura Palavra de Deus e é composta por dois elementos principais: submissão e expectativa.
Alguns supõem que submissão – como expressa em: “Todavia não se faça a Minha vontade, mas a Tua” (Lc 22.42) – faz de expectativas reais coisas impossíveis. Mas isso está errado e se deriva de uma concepção equivocada do que consiste a expectativa espiritual. Comecemos por afirmar que onde não há uma genuína submissão à vontade de Deus não pode haver uma expectativa verdadeira. Submissão espiritual é apresentar uma causa diante do Senhor e pedir-Lhe que lide com ela da maneira que Ele achar melhor. Se há dependência de Sua sabedoria e de Sua bondade, isso é o exercício da fé. E se houver confiança de que Ele assim o fará, isso é a expectativa de fé, a expectativa, não de que Ele conceder o que a natureza carnal deseja, mas que Ele dará o que Lhe trará mais glória e será para o bem maior de quem pede. Qualquer coisa além disso é presunção.
3. Tiago 5.14-16
“Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (vv. 14,15).
Uma lista de dons sobrenaturais durante o período apostólico é encontrada em 1Coríntios 12.9,10, incluindo o de cura. Os reformadores consideraram [que a função desses] dons sobrenaturais era principalmente autenticar o cristianismo e confirmá-lo em países pagãos. O propósito deles foi apenas temporário; assim que as Escrituras foram escritas, eles foram revogados (1Co 13.8). Mas Tiago 5.14-16 é colocado à parte. Cremos que esse princípio e essa promessa gerais são válidos para todas as gerações, com exceção apenas dos períodos de grande declínio espiritual. Em tempos normais, é privilégio do santo, quando gravemente doente, chamar os presbíteros (pastores, ministros) da igreja local à qual pertence. Os que pregam a Palavra de Deus a ele certamente seriam os mais aptos para apresentar sua causa diante do Senhor (Jó 42.8). Eles devem orar por ele, encomendando-o à misericórdia de Deus e buscando restauração para ele, se isso estiver de acordo com a vontade divina. Se o enfermo deseja ser ungido com óleo, seu pedido deve ser atendido.
Deve-se ressaltar que essas promessas de Deus relacionadas às misericórdias temporais e terrenas são diferentes daquelas relativas às coisas eternas e espirituais. As primeiras são gerais e indefinidas, e não incondicionais e absolutas como são muitas das últimas. Portanto, nós devemos pedir em completa submissão à soberana vontade de Deus, com a qual Ele tem a liberdade para torná-las reais quando e a quem Ele quer.
Desse modo, a oração de fé aqui não é uma expectativa definida de que Deus irá curar, mas uma garantia pacífica de que Ele fará o que Lhe dá mais glória e para o bem do enfermo.
Fé é confiança e submissão, bem como expectativa. Não há fé mais forte do aquela que tem tanta confiança na sabedoria e na bondade de Deus que conduz a pessoa a dizer: “Faze-nos aquilo que te pareça bom e reto” (Js 9.25). Naqueles aspectos em algumas necessidades específicas não estão cobertas por uma promessa expressa, a fé deve contar com a misericórdia e o poder do próprio Deus (Sl 59.16).
Pegue a régua. Comece com o zero. Conte quatro tracinhos. Avance a unha só um nadinha mais. Pare. Aí está ele. Quatro vírgula três milímetros. Menos da metade do caminho tão curto, tão ínfimo entre o 0 e o 1. Menos de meio centímetro. Um tiquinho de nada. Um pedacinho de uma régua. Não, nada disso. É o filho de minha sobrinha.
E ele tem coração! Ela o ouviu. É o que mostra a imagem acima. Ela ouviu o coração de 4,3 milímetros de vida. Ela ouviu a vida pulsando naqueles 4,3 tracinhos. Há um coração batendo naquele tiquinho de existência!
Minha sobrinha tem um coração. Os 4,3 milímetros têm um coração. Portanto, são duas pessoas, dois corpos, dois seres. Não é mais o corpo dela, não é mais ela. É alguém. É outro. É um ser vivo. É um ser humano, mistura de minha sobrinha e seu marido. É uma imagem e semelhança de Deus com 4,3 milímetros. É um ser totalmente dependente de outro, e esse outro o ama, dele cuida, com ele se importa, nele pensa, vive para interceder por ele… (Sim, há um tanto de Deus nisso tudo!)
Naquela extensão tão pequenina de vida há uma alma, há uma personalidade. É um ser completo e, ao mesmo tempo, ainda em desenvolvimento. É uma gente, bem minúscula, e ainda assim gente. Ser humano. O filho de minha sobrinha. Outro, não ela. Um corpo dentro do corpo dela. E, naquele corpinho que ainda não é bem um corpinho, mas já é alguém, há uma alma, a individualidade inegociável do ser, a unicidade que o caracteriza, aquilo que o faz ser só quem é, como nenhum outro jamais foi e jamais será. Mesmo que minha sobrinha tenha outros, muitos, filhos.
Menos de cinco milímetros. Não pode ser pego no colo. Não pode ser tocado. Não pode tomar banho. Não pode ser levado ao parquinho. Não pode ficar de castigo. Não pode trocar as letras das palavras e fazer todo mundo achar tão bonitinho. Mas já é filho, plenamente filho, absolutamente filho. Um outro já tão insubstituivelmente amado, seu lugar definitivamente estabelecido na história, à mesa, na família, em nosso amor. E não tem nem cinco milímetros. E ainda não o vimos. E ainda não tem nome. E já é. Por ser.
O filho de minha sobrinha tem o “corpo ainda informe”, como disse Davi (Sl 139.16). E o rei disse que aquilo era ele. Não era parecido com gente ainda, nem visível era, mas já era alguém, um ser, uma pessoa. Enquanto ele estava no ventre da mãe, já era alguém (v. 13). Sim, aquele que está no ventre de minha sobrinha não é ela, não é o corpo dela: é outro! Feito de um modo assombroso e tão maravilhoso (v. 14)! O filho de minha sobrinha é um milagre, mais um realizado pelo Autor e Sustentador da vida!
Como dizer de outra maneira? Uma vida de 4,3 milímetros!
Que esta vida cresça para a glória Daquele que a entreteceu. E que o filho de minha sobrinha ensine muitos que, desde antes dos cinco milímetros, ele já era ele, outro, único, criado e amado por Deus. E por nós, que o esperamos com muita e babona expectativa!
(Artigo adaptado do original publicado em 2.2.16, pois é outro sobrinheto, outra sobrinha, mas a mesma alegria em Deus. Embora difira bastante do que normalmente é publicado no Campos, esse singelo texto é uma manifestação de louvor Àquele que a tudo criou, a tudo sustenta e que é merecedor de toda a glória.)
Termino aqui minhas perguntas. Eu poderia facilmente adicionar mais algumas, mas acredito que já disse o suficiente no início deste volume [Practical Religion [Religião prática] (Londres: Charles Murray, 1900)] para despertar em muitas mentes a auto-indagação e o examinar a si mesmo. Deus é minha testemunha de que não disse nada que não considerasse de suma importância para minha própria alma. Eu só quero fazer o bem aos outros. Permitam-me concluir agora com algumas palavras de aplicação prática.
Algum leitor deste artigo está dormindo e não pensa de modo algum sobre religião? Oh, acorde e não durma mais! Olhe para os cemitérios. Uma a uma, as pessoas a seu redor estão entrando neles, e você deverá repousar lá um dia. Aguarde um mundo vindouro, coloque a mão no coração e diga, se você ousar, que está apto a morrer e a encontrar Deus. Ah! Você é como quem dorme em um barco à deriva na direção das cataratas do Niágara! “Que tens, dorminhoco? Levanta-te, clama ao teu Deus” (Jn 1.6). “Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá” (Ef 5.14).
Algum leitor deste artigo está se auto-condenando e com medo de que não haja esperança para sua alma? Deixe de lado seus medos e aceite o chamado de nosso Senhor Jesus Cristo aos pecadores. Ouça-O dizendo: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei” (Mt 11.28). “Se alguém tem sede, venha a Mim, e beba (Jo 7.37). “O que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora (6.37). Não duvide que essas palavras sejam para você e para qualquer outra pessoa. Traga todos os seus pecados, descrença, sentimento de culpa, inaptidão, dúvidas e enfermidades – traga tudo a Cristo. “Este recebe pecadores” (Lc 15.2), e Ele receberá você. Não fique parado, entre duas opiniões e esperando uma ocasião conveniente. “Tem bom ânimo; levanta-te, que ele Te chama” (Mc 10.49). Venha a Cristo hoje.
Algum leitor deste artigo é um crente que professa Cristo, mas um crente sem alegria, paz e conforto suficientes? Siga esses conselhos hoje. Examine seu coração e veja se a falha não é inteiramente sua. É bastante provável que você esteja vivendo sem preocupações, satisfeito com um pouco de fé, um pouco de arrependimento, um pouco de graça, um pouco de santificação e inconscientemente se afastando dos extremos. Você nunca será um cristão muito feliz nesse ritmo, mesmo se viver até a idade de Matusalém. Se você ama a vida e deseja ver dias bons, mude seu plano sem demora. Saia ousadamente e aja decididamente. Seja minucioso, minucioso, muito minucioso em sua fé cristã e concentre-se totalmente no sol. Deixe de lado todo peso e o pecado que tão tenazmente o assalta (Hb 12.1). Esforce-se para se aproximar de Cristo, permanecer Nele, apegar-se a Ele, sentar-se a Seus pés como Maria e beber goles abundantes da fonte da vida. “Estas coisas”, diz João, “vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra” (1Jo 1.4). “Se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros” (v. 7).
Algum leitor deste artigo é um crente oprimido com dúvidas e medos, por causa de fraqueza, enfermidade e senso de pecado? Lembre-se do texto que fala de Jesus: “Não esmagará a cana quebrada, e não apagará o morrão que fumega” (Mt 12:20). Conforte-se com o pensamento de que esse texto é para você. E se sua fé é fraca? É melhor do que fé nenhuma. O grão de vida mínimo é melhor que a morte (Ec 9.4). Talvez você esteja esperando demais desse mundo. A Terra não é o céu. Você ainda está no corpo. Espere pouco de si mesmo, mas muito de Cristo. Olhe mais para Jesus e menos para si mesmo.
Finalmente, algum leitor deste artigo às vezes fica abatido com as provações que encontra no caminho para o céu – provações no corpo, provações no âmbito familiar, provações pelas circunstâncias, provações advindas dos vizinhos e provações por causa do mundo? Olhe para um Salvador compreensivo que está à mão direita de Deus e derrame seu coração diante Dele. Ele pode ser tocado com o sentimento das fraquezas que você tem, pois sofreu, sendo Ele mesmo tentado. Você está sozinho? Ele também esteve. Você é mal-compreendido e difamado? Ele também foi. Você foi abandonado pelos amigos? Ele também foi. Você é perseguido? Ele também foi. Você está cansado no corpo e entristecido no espírito? Ele também foi. Sim! Ele pode sentir por você e Ele pode ajudar tanto quanto sentir. Então, aprenda a se aproximar de Cristo. O tempo é curto. Ainda um pouco de tempo, e tudo terminará: em breve “estaremos sempre com o Senhor” (1Ts 4.17). “Porque certamente acabará bem; não será malograda a tua esperança” (Pv 23.18). “Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa. Porque ainda um pouquinho de tempo, e o que há de vir virá, e não tardará”(Hb 10.36,37).
O segredo de uma comunhão duradoura com Deus é o fato de que Cristo está em nós e nós estamos Nele (Jo 15.4).
(David de Bruyn)
Quem entregou Jesus para morrer?
Não foi Judas, por dinheiro.
Não foi Pilatos, por medo.
Não foram os judeus, por inveja.
Mas o Pai, por amor!
(Otávio Winslow)
Jesus quer que Seus ouvintes ouçam uma urgente mensagem de Deus: ‘Arrependam-se!’
(Jon Bloom)
A fé resiste aos desapontamentos, às dificuldades e às angústias da vida por reconhecer que tudo isso vem das mãos Daquele que é sábio demais para errar e amoroso demais para ser cruel.
(A. W. Pink)
Ó Deus, ouve o meu clamor; atende à minha oração.
Desde o fim da terra clamarei a Ti;
quando o meu coração estiver desmaiado, leva-me para a Rocha que é mais alta do que eu.
Pois tens sido um refúgio para mim e uma torre forte contra o inimigo.
Habitarei no Teu tabernáculo para sempre;
abrigar-me-ei no esconderijo das Tuas asas. (Selá.)
(Sl 61.1-4)
Verdadeiro cristianismo custará a um homem o favor do mundo. Ele deve estar contente em ser considerado prejudicial pelos homens se ele agrada a Deus. Ele não deve tomar por algo estranho ser escarnecido, ridicularizado, difamado, perseguido e mesmo odiado.
(J. C. Ryle)
O que há em tuas miseráveis obras e ações que tu penses agradar a Deus mais do que o sacrifício de Seu próprio Filho?
Arrependimento é o exercício de voltar do pecado para Deus. É o resultado natural de profunda humilhação e sincera confissão.
(Thomas Boston)
Se desejamos de fato que nossa fé seja fortalecida, não podemos nos esquivar de oportunidades em que ela seja provada, pois é por meio de provações que ela se robustece.
(George Müller)
A verdadeira sabedoria consiste em duas coisas: conhecimento de Deus e conhecimento de si mesmo.
(João Calvino)
Grande é o Senhor
e mui digno de louvor […]
Deus é conhecido nos Seus palácios por um alto refúgio. […]
Lembramo-nos, ó Deus,
da Tua benignidade, no meio do Teu templo. […]
Este Deus é o nosso Deus para sempre;
Ele será nosso guia até a morte.
(Sl 48.1,3,9,14)
Caros amigos, nós não podemos consertar o mundo. […] Mas podemos ver se estamos andando de ‘modo digno de Deus’ e permitindo que nossa luz brilhe de tal modo radiante que todos possam ver ainda mais claro o caminho para a cidade celestial porque nós o estamos trilhando.
(Susannah Spurgeon)
Verdadeiro discernimento significa não apenas distinguir o certo do errado. Significa distinguir o primário do secundário, o essencial do indiferente e o permanente do transitório.
(Sinclair Ferguson)
Aqueles que ensinam por meio de sua doutrina precisam ensinar por meio de sua vida, ou eles porão abaixo com uma das mãos aquilo que edificam com a outra.
“Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores” (Mc 2.17).
O Espírito glorifica a Cristo revelando, para uma alma humilde, contrita e esvaziada de si mesma, o que Ele é. E isso Ele o faz evidenciando a grande verdade bíblica: Jesus morreu por pecadores. Não pelos justos, nem pelos merecedores, mas pelos pecadores, por serem o que são. Sua morte foi pelos injustos, pelos indignos, pelos culpados, pelos perdidos. Precioso momento é quando o Espírito Eterno, o grande Glorificador de Jesus, traz ao coração essa verdade com poder!
“Nisto cri”, diz a alma, “que Jesus morreu somente por aqueles que eram dignos de tamanho sacrifício e de tão imenso amor. Pensava trazer em minhas mãos algum valor meritório, algum preparo, alguma adequação prévia, algo que tornasse meu caso digno de Sua atenção e o fizesse considerar-me com bondade. Mas, agora, vejo que Sua salvação é para o vil, para o pobre, para o miserável.”
Li que “estando nós ainda fracos”, Cristo “morreu a Seu tempo pelos ímpios”, que, “sendo nós ainda pecadores, Cristo morreu por nós”, e “sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho” (Rm 5.6,8,9). Li que “é uma palavra fiel e digna de toda a aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores” (1Tm 1.15), que é “sem dinheiro e sem preço” (Is 55.1), que “pela graça [somos] salvos” (Ef 2.5) e que “é pela fé, para que seja segundo a graça” (Rm 4.16).
Essa boa e jubilosa notícia, essa gloriosa mensagem da gratuita misericórdia para com o mais vil dos vis, quando crida, recebida e acolhida, faz todas as nuvens desaparecerem em um instante, dissipa toda a neblina, e a face de Deus resplandece em brando e suave brilho, entre luz e alegria, satisfação e louvor, conduzindo a alma ao júbilo.
Oh, que glória agora cerca o Redentor! Aquela alma ousando estar diante Dele com nada mais além da fé confiante, caminhando em Sua direção coberta das próprias fraquezas, e diante de tamanho contraste, traz mais glória a Seu nome do que todos os aleluias entoados pelos menestréis celestiais um dia já trouxeram.
A igreja em Éfeso representa as igrejas em cada época e em cada geração que compreenderam e continuam a compreender as riquezas insondáveis de Cristo, bem como aqueles que têm experimentado caminhar na luz que têm. Contudo, esta também é a igreja a quem o Senhor diz: “Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. […] Tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres” (Ap 2.4,5).
Estamos convencidos de que o aviso “Deixaste o teu primeiro amor” fala, acima de tudo, do fato de que nossos interesses pessoais têm se misturado com nosso amor, nossa devoção e nosso compromisso com o Senhor, ou estão próximos de se misturar. Em uma mensagem sobre os valentes de Davi, T. Austin-Sparks colocou o assunto desta maneira:
Nós nos ocupamos muito com a proclamação destas duas coisas: que o próprio Senhor Jesus conquistou a lealdade de nosso coração, e também que passamos a ver que Ele é Aquele a quem Deus escolheu para o lugar de autoridade suprema neste universo por todas as eras – e estamos comprometidos com o Senhor, não por razões meramente pessoais. Se estivéssemos, quando um gigante surgisse, deveríamos sair rapidamente de cena; o teste, como se pode ver, é isso.
O Senhor está realmente trabalhando bastante em nós a fim de tentar nos persuadir de nossos interesses pessoais no cristianismo e de nossos interesses pessoais em nosso relacionamento com Ele; porque, quando as coisas que nos tocam aqui na Terra e em nossa vida pessoal são ameaçadas, geralmente perdemos a fé. Afundamos, dispersamo-nos espiritualmente, na presença de uma ameaça que se levanta contra nossos interesses aqui, mesmo sendo cristãos relacionados ao Senhor. Devemos colocar de lado a consideração sobre como essas coisas nos afetam e tomar a posição dos interesses do Senhor. Isso é algo muito relevante e muito importante.
Devemos dizer: ‘Não importa como isso me afeta, mas o que isso trará de padecimento ao Senhor? O que o Senhor tem a perder se eu fugir disso ou se essa coisa ganhar preponderância? Como isso afetará meu Senhor e afetará o grande fato de Seu trono?’
Vamos nos perguntar: “Estamos envolvidos no ministério do trono, ou nosso interesse pessoal nos mantém presos à terra?” Podemos descobrir o quanto somos eficazes nessa guerra por meio de nossas orações, observando o seguinte.
Muitos anos atrás, em uma reunião realizada na Inglaterra pouco antes da Segunda Guerra Mundial varrer o mundo, Watchman Nee expressou em oração o significado de ter Cristo como nosso “primeiro amor”. O Japão invadiu a China, e a China estava no início de uma guerra devastadora, mas foi assim que ele orou ao se colocar na plataforma com um falante japonês (Nee era chinês). O caos da guerra na China estava fresco na memória de todos, e, quando chegou sua vez, ele conduziu as pessoas que estavam reunidas em intercessão pelo Extremo Oriente em termos que, para muitos de nós ali, nos anos 1930, foi uma revelação. Foi uma oração que poucos dos que tiveram o privilégio de estar presentes esqueceram.
O Senhor reina: afirmamos isso com ousadia. Nosso Senhor Jesus Cristo está reinando, e Ele é o Senhor de tudo. Nada pode tocar Sua autoridade. Há forças espirituais para destruir Seus interesses na China e no Japão. Portanto, não oramos pela China, não oramos pelo Japão, mas oramos pelos interesses de Teu Filho na China e no Japão. Não culpamos nenhum homem, pois eles são apenas ferramentas nas mãos de Teu inimigo. Nós nos levantamos por Tua vontade. Quebra, ó Senhor, o reino das trevas, pois as perseguições à Tua Igreja estão Te ferindo. Amém.
Há muitos anos um filósofo alemão disse alguma coisa no sentido de que, quanto mais um homem tem no coração, menos precisará de fora; a excessiva necessidade de apoio externo é prova de falência do homem interior.
Se isto é verdade (e eu creio que é), então, o desordenado apego atual a toda forma de entretenimento é prova de que a vida interior do homem moderno está em sério declínio. O homem comum não tem nenhum núcleo central de segurança moral, nenhum manancial no peito, nenhuma força interior para colocá-lo acima da necessidade de repetidas injeções psicológicas para dar-lhe coragem a fim de continuar vivendo. Tornou-se um parasita no mundo, extraindo vida de seu ambiente, incapaz de viver um só dia sem o estímulo que a sociedade lhe fornece.
[O filósofo alemão] Schleiermacher afirmava que o sentimento de dependência está na raiz de todo culto religioso, e que, por mais alto que a vida espiritual possa subir, sempre tem que começar com um profundo senso de uma grande necessidade que somente Deus poderia satisfazer. Se esse senso de necessidade e um sentimento de dependência estão na raiz da religião natural, não é difícil ver porque o grande deus entretenimento é tão cultuado por tanta gente. Pois há milhões que não podem viver sem diversão. A vida para eles é simplesmente intolerável. Buscam ansiosos o alívio dado por entretenimentos profissionais e outras formas de narcóticos psicológicos como um viciado em drogas busca sua injeção diária de heroína. Sem essas coisas, eles não poderiam reunir coragem para encarar a existência.
Ninguém que seja dotado de sentimentos humanos normais fará objeção aos prazeres simples da vida, nem às formas inofensivas de entretenimentos que podem ajudar a relaxar os nervos e a revigorar a mente exausta de fadiga. Essas coisas, se usadas com discrição, podem ser uma bênção ao longo do caminho. Isso é uma coisa. A exagerada dedicação ao entretenimento como atividade da maior importância, para a qual e pela qual os homens vivem, é definitivamente outra coisa, muito diferente.
O abuso numa coisa inofensiva é a essência do pecado.
O incremento do aspecto das diversões da vida humana em tão fantásticas proporções é um mau presságio, uma ameaça à alma dos homens modernos. Estruturou-se, chegando a construir um empreendimento comercial multimilionário com maior poder sobre a mente humana e sobre o caráter humano do que qualquer outra influência educacional na terra. E o que é ominoso é que o seu poder é quase exclusivamente mau, deteriorando a vida interior, expelindo os pensamentos de alcance eterno que encheriam a alma dos homens, se tão-somente fossem dignos de abrigá-los. E a coisa toda desenvolveu-se dando numa verdadeira religião que retém seus devotos com estranho fascínio, e, incidentalmente, uma religião contra a qual agora é perigoso falar.
Por séculos, a igreja se manteve solidária contra toda forma de entretenimento mundano, reconhecendo-o pelo que era: um meio de desperdiçar o tempo, um refúgio contra a perturbadora voz da consciência, um esquema para desviar a atenção da responsabilidade moral. Por isso, ela própria sofreu rotundos abusos dos filhos deste mundo. Mas ultimamente ela se cansou dos abusos e parou de lutar. Parece ter decidido que, se ela não consegue vencer o grande deus entretenimento, pode muito bem juntar suas forças às dele e fazer o uso que puder dos poderes dele. Assim, hoje temos o espantoso espetáculo de milhões de dólares derramado sobre o trabalho profano de providenciar entretenimento terreno para os filhos do Céu, assim chamados. Em muitos lugares, o entretenimento religioso está eliminando rapidamente as coisas sérias de Deus. Muitas igrejas nestes dias têm-se transformado em pouco mais do que pobres teatros onde “produtores” de quinta classe mascateiam suas mercadorias falsificadas com total aprovação de líderes evangélicos conservadores que podem até citar um texto sagrado em defesa de sua delinqüência. E raramente alguém ousa levantar a voz contra isso.
O grande deus entretenimento diverte seus devotos principalmente lhes contando histórias. O gosto por histórias, característicos da meninice, depressa tomou conta da mente dos santos retardados dos nossos dias, tanto que não poucas pessoas pelejam para construir um confortável modo de vida contando lorotas, servido-as com vários disfarces ao povo da Igreja.
O que é natural e bonito numa criança pode ser chocante quando persiste no adulto, e mais chocante quando aparece no santuário e procura passar por religião verdadeira. Não é uma coisa esquisita e um espanto que, com a sombra da destruição atômica pendendo sobre o mundo e com a vinda de Cristo estando próxima, os seguidores professos do Senhor se entreguem a divertimentos religiosos? Que, numa hora em que há tão desesperada necessidade de santos amadurecidos, numerosos crentes voltem para a criancice espiritual e clamem por brinquedos religiosos?
“Lembra-te, Senhor, do que nos tem sucedido; considera e olha para o nosso opróbrio. […] Caiu a coroa da nossa cabeça; ai de nós!, porque pecamos. Por isso desmaiou o nosso coração; por isso se escureceram os nossos olhos” (Lm 5.1,16,17). Amém. Amém.
(Publicado originalmente em 16.4.09. Atualizado em 20.4.2020)
O problema e o medo são como esporas para a oração, pois quando o homem, rodeado por veementes calamidades, e oprimido com uma solicitude contínua (não tendo nenhuma esperança de libertação pelo auxílio humano, com coração castigado e oprimido, e temendo castigos ainda maiores), pede a Deus por conforto e ajuda no profundo poço de tribulação, uma oração assim sobe até a presença de Deus e não é vã.
Os ditos difíceis de Jesus não são difíceis de entender, apenas difíceis de aceitar.
(Steven Lawson)
Deus não pode mudar para melhor, pois Ele já é perfeito, e, sendo perfeito, Ele não pode mudar para pior.
(A. W. Pink)
Quanto mais eu vivo, mais eu percebo que tenho uma única vida a viver na Terra, e que essa única vida é muito curta para semear, em comparação com a eternidade para colher.
(George Müller)
O Senhor será também um alto refúgio para o oprimido, um alto refúgio em tempos de angústia.
Em Ti confiarão os que conhecem o Teu nome;
porque Tu, Senhor, nunca desamparaste os que Te buscam.
(Sl 9.9,10)
Quando um trem entra em um túnel escuro e tudo fica em trevas, você não rasga o bilhete e pula dele. Você permanece sentado e confiando no maquinista.
(Corrie Ten Boom)
Nós temos uma mensagem. Não temos de consertá-la. Não temos de torná-la melhor. Não temos de mudá-la para que as pessoas a possam compreender. Temos de continuar pregando-a e pregando-a e pregando-a. E se nós pregarmos fielmente o evangelho, Deus vai salvar pessoas.
(Paul Washer)
Ore freqüentemente, pois a oração é um escudo para a alma, um sacrifício para Deus e um flagelo para Satanás.
Para o jovem rico, Jesus disse: “Falta-te uma coisa” (Lc 18.22). Dinheiro, posição, moralidade, idealismo: isso não era suficiente. Existe uma bondade entre os jovens modernos que é perigosa porque é enganosa. É a bondade do jovem rico. É um bom caráter moral, sincero e bem-intencionado, iluminado pelo desejo de encontrar a vida eterna. Freqüentemente o jovem desse tipo se junta à igreja, dá aulas, ora em público, é honesto e aspirante. Mas falta uma coisa, e, por causa dessa trágica falta, seu possuidor desaparece entristecido quando o custo real do discipulado é contabilizado.
Hoje, temos um problema sério em homens e mulheres esplêndidos, de excelentes qualidades, que não renunciam totalmente a tudo para seguir a Jesus em uma vida de fé. Suas próprias virtudes se tornam obstáculos porque contam com elas e perguntam: “Que bem devo fazer?”, em vez de abandonar a própria e pobre justiça, assim como Paulo, sua irrepreensibilidade legal, e contar apenas com os méritos de Cristo.
Para certificar-se da disposição daquele jovem, Jesus lhe pediu que renunciasse ao dinheiro, não à bondade; mas o pedido mostrou que tipo de bondade ele tinha. As qualidades promissoras de nada valem se não estivermos dispostos a “odiar pai e mãe”, a abandonar qualquer coisa, por mais querida que seja, que dificulte a vida de rendição e confiança.
“Mas uma coisa é necessária”, disse Jesus à preocupada Marta. Não é uma pregação de sentar e não fazer nada. Deve haver Martas práticas na cozinha. Observe as palavras: “Marta estava sobrecarregada” ― “Marta, Marta, és cuidadosa e preocupada com muitas coisas” (Lc 10.41). Ele não a estava repreendendo por trabalhar; Ele a reprovava gentilmente por se preocupar. “Mas uma coisa é necessária: uma comunhão repousante Comigo.” Podemos comungar com Ele na cozinha, mas a maioria de nós está sobrecarregada, cuidadosa e ansiosa. Mesmo em nossas atividades práticas cristãs, ficamos irritados e assediados. Nossos pobres serviços passarão, mas a comunhão contemplativa com Ele é a parte boa que não será tirada.
Nosso único negócio é viver em comunhão constante e permanente com Cristo. Se nos tornarmos mais interessados no que estamos fazendo por Cristo do que no que Ele está fazendo por nós, revertemos as coisas e terminaremos como Marta, enfurecida em vez de comungar. Mas uma coisa é necessária para o crente: permanecer espiritualmente aos pés do Senhor, ouvindo Sua palavra. Nosso coração pode sentar-se a Seus pés enquanto nossas mãos trabalham na cozinha.
“Mas uma coisa faço” (Fp 3.13), disse Paulo. Ele havia descoberto, muito antes, que faltava uma coisa e nos conta sobre isso no capítulo 3 de Filipenses. Ele enumera os pontos positivos que tinha antes de conhecer a Cristo. Isso nos lembra o jovem rico. Ele era irrepreensível de acordo com a justiça. Então, ele aprendeu que havia uma coisa necessária: “Não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé” (v. 9). Agora que ele sentiu sua deficiência e recebeu a única coisa necessária, há mais uma “coisa”, e isso é algo a ser feito. Nada que possamos fazer ajudará até que passemos pelos dois primeiros estágios; então, haverá muito o que fazer. Há algo a esquecer: “Aquelas coisas que estão para trás”. Há algo a alcançar: “E avançando para as [coisas] que estão diante de mim” (Fp 3.13). Há algo para alcançar: “o objetivo”, a meta. Há algo pelo que trabalhar: “O prêmio do alto chamado de Deus em Cristo Jesus” (v. 14).
Que estes sejam os marcos da sua experiência espiritual: uma coisa me falta; uma coisa é necessária; uma coisa faço.