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Cruz Jessie Penn-Lewis Vida cristã

O lado vida da cruz


O Dr. Mabie escreveu em um de seus livros: “Na Escritura, a morte e ressurreição reconciliadoras são sempre tomadas juntas. Elas são partes inseparáveis de uma unidade real, partes gêmeas de um fato”. Isso é a própria verdade, mas na experiência e no ensinamento, o perigo encontra-se em não dar às “partes gêmeas” equilíbrio. Isso afeta os resultados da vida, pois você não pode ter o “positivo” vida-poder sem a “negativa” morte-aplicação. Se você super-enfatiza o “positivo”, a vida da ressurreição, então você não tem “negativo” suficiente, da morte-aplicação, para tratar com a vida do velho Adão, que está no caminho da nova criação, e tem de ser tratado pela morte dando lugar ao Cristo-Vida. Por isso, os dois devem receber igual ênfase e correr juntos na vida cristã. Morte e vida, Calvário e ressurreição: “artes gêmeas de um fato”. É pela falta de ver-se isso que há tantos cristãos unilaterais. Ou eles são tão “negativos”, por habitar muito no lado “morte” que não têm atividade de vida, ou eles estão tão ansiosos por evitar o “negativo” que habitam muito sobre o lado “positivo” da vida, e na experiência estão sob o perigo de chamar o lado velho da natureza1 de vida de ressurreição. Temos a necessidade do equilíbrio para obter uma real participação da vida de Deus. Mas é tão humano ir aos extremos! É somente quando conhecemos o perigo e confiamos em Deus para nos guardar, é que podemos ser mantido espiritualmente sóbrios e equilibrados na verdade.

Agora vamos para Romanos 6 ver nos versículos 10 e 11 como eles dão, não somente o que podemos chamar de “lado-morte” da Cruz, mas a chave para o “lado-vida” de nossa união com Cristo em Sua ressurreição. “Quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor.” Nessas três palavras, em Cristo Jesus, temos a chave para a vida de união com o Senhor ressurreto. Morremos com Cristo na cruz para que possamos “viver para Deus”, completamente em outra esfera, “em Cristo Jesus”. Lemos no verso 13: “Oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça.”

Agora, o que significa estar em “Cristo Jesus” no lado de ressurreição da cruz? Vamos para Romanos 7.4: “Vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos.” Numa nota de rodapé da bíblia de Scofield, a palavra “unidos” é indicada em lugar de “por meio”. A morte é o lado “negativo” da verdade; ser unido ao Senhor ressurreto é o lado “positivo”. Partes gêmeas de um fato. Por isso, não há dispensar de Sua vida ressurreta à parte Dele mesmo. Além do mais, a “união” é uma união de espírito. “Aquele que se une ao Senhor é um espírito com Ele” (1Co 6.17), não uma alma. Por isso, o lado “negativo” da morte com Cristo significa de modo prático, uma fuga, ou rompimento ou corte, daquilo que impede a união de seu espírito ao Cristo ressurreto. O resultado experimental da cruz é realmente um liberar do espírito. Ele estava aprisionado, por assim dizer, sob o poder da alma e da carne. O espírito estava tão envolvido na vida de natureza que não poderia estar plenamente unido a Cristo, que é Espírito despertador.

Mas como é feito o “cortar fora”? Como o Espírito de Deus aplica a cruz e efetua a morte-separação por meio da qual o espírito é libertado para estar unido a Cristo? Encontramos a resposta em Hebreus 4.12: “Porque a Palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito.” Aqui temos a divisão de algo que é imaterial e intangível. A Palavra, por essa razão, é uma arma espiritual, agindo com uma espada na esfera espiritual, na verdade, “dividindo” coisas imateriais. a parte da Palavra que faz isso é a Palavra da cruz, dividindo a alma do espírito, primeiro por dar ao crente as distinções entre os dois, e segundo, separando os dois quando o crente rende-se às operações da Palavra da cruz, falando da morte com Cristo. O versículo também diz que a Palavra discerne e revela os pensamentos, pois “todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos Daquele a Quem temos de prestar contas.” note que é o próprio Senhor usando a espada para cortar fora a velha vida. Somente Ele sabe como manejar a “espada do Espírito”, que cortará como uma faca, e, assim, o espírito é separado ou desemaranhado do enlace da alma.

Isso é psicológica e experimentalmente verdadeiro. No livro do Dr. Andrew Murray, “Espírito de Cristo”, ele dá no apêndice uma explanação muito clara da divisão da alma e do espírito que precisa ser feita no crente. Ele explica como o homem caiu do domínio do espírito sobre todo o seu ser, para a alma, e depois como a alma mergulhou na carne, até que finalmente Deus disse do homem: “Ele se tornou carne” (Gn 6.3). O espírito do homem, diz o Dr. Murray, pé que, dento de nós, é capas de conhecer a Deus. a alma é o assento da auto-consciência, e o corpo o assento da consciência sensorial. Um entendimento da psicologia da Bíblia é necessária para qualquer apreensão da vida plena de vitória por meio do trabalho ungido de nosso Senhor Jesus Cristo. Há mais a ser tratado dentro de nós do que o que chamados de pecado, e é mais do que pecado o que impede nosso pleno conhecimento de Deus.

Para conhecer na experiência real o lado vida da cruz, temos de conhecer não apenas a morte para o pecado, mas a Palavra da cruz separando a alma do espírito, e, deste modo o espírito é liberado para estar unido ao Senhor ressurreto. a alma não é destruída nem o é a individualidade do crente. Não nos tornamos autômatos, mas a alma, a personalidade, deve ser avivada a partir do espírito, em vez de estar sob o domínio baixo da vida da natureza. Quando o espírito é, desse modo, um espírito com o Senhor ressurreto, é via espírito, dentro da mente, que experimentamos o guiar do Espírito e o íntimo conhecimento do Cristo pessoal. É por meio de nosso espírito unido a Ele pelo Espírito Santo que O conhecemos pessoalmente, pois o propósito toda da verdade é que O conheçamos tão bem como o poder de Sua ressurreição.

Agora, voltemos a Colossenses 2.6,7 para mais luz sobre o significado das palavras “em cristo Jesus. “Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele”. Quando nós recebemos Cristo, por um simples ato de fé, fomos colocados dentro Dele pela operação do Espírito de Deus. Cristo está em nós, e nosso espírito está unido a Ele como O Ressurreto, mas também devemos habita “Nele” como uma esfera na qual andamos dia a dia. Assim como começamos, devemos continuar simplesmente confiando Nele e contando com Ele, e habitando Nele. O lado vida da cruz significa estar vivo para Deus “em Cristo Jesus”.

Nele radicados”, continua o apóstolo. Você não pode estar enraizado em um lugar hoje, e em outro amanhã. Isso mostra claramente a necessidade de nosso entendimento da cruz como a posição básica da qual não devemos nunca sair. É na Sua morte que devemos estar enraizados. Não podemos continuar numa vida na qual tomamos no passado a cruz ou avançamos para qualquer alvo deixando a cruz para trás. Fazer isso é como uma árvore rejeitando a própria raiz na terra. Temos de nos considerar “mortos de fato para o pecado” e viver para Deus, mas isso é “em Cristo Jesus”. “Nele temos de estar enraizados, e “Nele” ter nosso fundamento, onde estamos continuamente edificados. Temos de estar continuamente firmando nossas raízes profundamente em Sua morte.

Vamos ler João 3.16 e ver como o estar “em Cristo Jesus” começou no estágio inicial de nossa nova vida. Lemos: “Deus amou ao mundo de tal maneira, para que todo aquele que Nele crer” tenha vida. Por que os tradutores da Bíblia usaram a palavra “Nele” em vez de “para dentro”, eu não sei. Não cremos meramente “em” Cristo, mas cremos “para dentro” Dele. Newsberry diz que a palavra “para dentro” no original tem em si a idéia de movimento, e isso é muito sugestivo. Quando você crê “para dentro” de Cristo, você é tomado pela co-ação do Espírito Santo, e o Calvário é o lugar onde isso é feito. Somos colocados “dentro” Dele em Sua morte, e depois “dentro” Dele em Sua vida, no lado da ressurreição da cruz, “radicados Nele”. Por isso, “persevere firmemente em sua fé”. Quando você recebeu Cristo Jesus, o Senhor, você creu para dentro Dele, agora permaneça Nele, enraíze-se Nele, tenha sua fundação Nele, tenha sua vida espiritual edificada Nele.

Agora, vamos para Colossenses 2.9-11: “Nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade”. Quando habitamos Nele, temos a “plenitude” do Espírito. Você morreu com Ele; agora, unido em espírito a Ele, habite Nele e você estará num oceano de vida. Nele habita toda a plenitude da divindade na forma humana, e Nele você tem sua plenitude, pois Ele é a Cabeça de todo principado e potestade. “Se alguém está em Cristo, é nova criação: as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co 5.17). Pois, em Cristo Jesus, “nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova criatura” (Gl 6.15). “Em Cristo Jesus” nada é feito para depender de qualquer coisa externa. “Em Cristo Jesus” nada tem proveito, nada serve para qualquer uso, nada é de valor algum, a não ser ser uma nova criação.

Agora vamos para Efésios 2.4-6: “Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nosso delitos, nos deu vida juntamente com Cristo (…) e juntamente com Ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus.” Em Cristo está nossa raiz e nosso fundamento, dos quais não devemos nos mover, e aqui vemos o resultado daquela posição de morte. Unidos a Ele em espírito, estamos assentados com Ele em espírito “nos céus”. “Crucificados com Ele”, somos chamados para partilhar de Sua vida, “porque morrestes e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo em Deus” (Cl 3.3). Poder de ressurreição é poder de exaltação. Unir-se ao Ressurreto pode exaltar seu espírito e mantê-lo “acima de tudo” em Cristo; por mais profundamente que o espírito possa ter estado sob a escravidão da carne, ou mesclado com a vida de natureza da alma; estamos “assentados com Ele nos Céus” pela união com Ele que, em Sua ascensão, “assentou”. Unidos a Ele, Ele nos sustenta quando habitamos e descansamos Nele


1 Natureza humana, caída, pecaminosa, de Adão; também no restante do texto.

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Igreja T. Austin-Sparks

A Igreja: sua natureza, seus princípios e sua vocação (com especial referência a sua expressão local) (T. Austin-Sparks)

Existem Igrejas do Novo Testamento?

Ao lado da pessoa de Jesus Cristo, a Igreja foi, e continua a ser, o grande campo de batalha da História. Tanto é verdade que um número sempre crescente de livros, jornais, periódicos, “Concílios”, “Convocações”, discursos, etc. se ocupa dessa questão como uma preocupação primária. No entanto, a maior parte de todos eles é sujeito à controvérsia, assim justificando a frase “o campo de batalha”. Tudo isso é muito significativo, indicando que é uma questão primária e algo que ocupa uma posição de destaque em termos de nossa responsabilidade. Isso é certo e, talvez, muito mais do que tudo o que se escreve e se fala a respeito encerra. Trata-se de uma preocupação primária no campo cósmico como um todo, a esfera sobremundana, se formos levar a sério tanto a evidência prática como as afirmações definidas do Novo Testamento, como, por exemplo, toda a carta escrita aos efésios e, em particular, Efésios 3.10 e 6.12.

Pode parecer arrogante e ambicioso para nós, que somos de tão pequeno valor em nós mesmos e tão insignificantes como um pequeno pedaço de papel, pensar que podemos tratar dessa imensa questão a fim de obter alguma vantagem pessoal. Tendo essa como uma preocupação primária por tantos anos e tendo visto a Igreja e as igrejas em tantos lugares, do Extremo Oriente ao Extremo Ocidente, exercitando a oração sobre a questão, talvez nos possa ser dado algo para dizer que lance um pouco de luz nas sombras ou na escuridão da imensa confusão existente com relação à Igreja. Nossa principal preocupação é a questão das expressões da assembléia local da Igreja, pois somente nela o verdadeiro significado da Igreja pode ser levado ao imediatismo.

Temos de começar fazendo a pergunta que inclui tudo o mais e realmente expressa o problema segundo a opinião de muitos:

Podemos agora aceitar a possibilidade de haver verdadeiras expressões locais da Igreja do Novo Testamento?

Essa pergunta — e não são poucos, mas muitos, os motivos pelos quais ela tem sido feita — tem recebido, em razão de sua agudez, muitas respostas ou tem sido criticada de muitas maneiras. Algumas delas são as seguintes:

1. Uma grande facção de cristãos tem respondido com um definitivo “NÃO”, e eles tomam como base o que chamam de “a posição de total ruína”. Eles dizem que a Igreja está em ruínas irremediáveis e, conseqüentemente, uma expressão corporativa não é mais possível. Sem dúvida, eles relacionam isso principalmente à Igreja em seu aspecto universal; no entanto, eles colocam o assunto da expressão local bem próximo disso, argumentando que no fim dos tempos tudo será individual. Eles baseiam sua argumentação em Apocalipse 2–3, onde o Senhor se dirige “ao vencedor”.

2. Depois, há aqueles cuja resposta é que a única possibilidade agora é uma expressão aproximada da Igreja. Ou seja, pode não existir uma expressão plena e completa, mas algo que se compare a ela, provisório e parcial. Pode haver algumas características e devemos nos basear em algumas coisas que percebemos estar no Novo Testamento. Dentre os maiores exemplos, as principais denominações representam essa posição. Os presbiterianos, por exemplo, baseiam sua posição em uma interpretação da ordem da igreja do Novo Testamento, segundo a concepção deles. O mesmo acontece com os luteranos, congregacionalistas, batistas, metodistas, irmãos unidos, etc. Para cada um deles, emprega-se o termo “igreja”. No entanto, trata-se de um conceito que é uma solução conveniente para o problema da expressão local, a saber, uma aproximação parcial do que ela é.

3. Em seguida, há a resposta expressa pelo que se pode chamar de “sublimidade”. Ou seja, a Igreja é uma concepção e idéia sublime. Ela é idealista e devemos viver no campo abstrato de uma concepção sublime e não tentar trazê-la “para a terra” nem sermos práticos e exigentes em demasia na realidade. Essa resposta e interpretação são expressas no termo “a Igreja mística”, mas não prática.

4. Existem aqueles que acabaram com toda a idéia de Igreja, dando-a tanto por impossível como por desnecessária. Elas são definitivamente instituições e organizações cristãs, mas não uma Igreja ou igrejas. A esta categoria pertencem os quacres, o Exército da Salvação e um vasto número de grupos de missões e “Missões”.

5. Finalmente, para nosso objetivo, existem aqueles cuja resposta é bastante positiva! Sim, devemos voltar ao padrão do Novo Testamento e “ter igrejas do Novo Testamento”! Eles acreditam que o Novo Testamento contém um projeto definido para igrejas locais e estão comprometidos com a “formação” dessas igrejas onde for possível. Infelizmente, eles variam muito quanto a ensinamentos, ênfases e práticas, e alguns deles são caracterizados por excessos, anormalidades e exclusivismo.

O que diremos diante de todas estas coisas? Como observamos, todos estão mais ou menos errados ou certos (destacamos o termo “mais ou menos”, mas diríamos que alguns estão completamente errados) porque a verdadeira natureza da Igreja se perdeu ou não pode mais ser vista.

A História de Israel

A história de Israel possui muitos fatos para iluminar essa questão da Igreja. O Israel histórico foi constituído sobre os mesmos princípios eternos que a Igreja cristã. Na verdade, eles eram chamados de “a igreja1 no deserto” (At 7.38) e foram denominados eleitos de Deus. Pretendia-se que eles representassem no tempo, na terra, um conceito eterno e celestial, que, em tipos e símbolos, figurativa e temporalmente, engloba princípios espirituais e pensamentos divinos. Para o objetivo de nosso estudo, temos de limitar toda a questão aos principais princípios envolvidos na história de Israel. Dividimos essa história em duas fases. A primeira se deu antes do cativeiro na Babilônia, os setenta anos, e para lá os levou. A razão desse cativeiro foi pura e definitivamente idolatria. O cativeiro tratou com a idolatria e, depois disso, não houve mais idolatria do mesmo gênero em Israel. Mas, então, veio — e ainda existe — a segunda, ainda pior e mais longa, fase de juízo. Essa é revelada no segundo aspecto do ministério dos profetas. É óbvio que os profetas profetizaram com relação ao futuro imediato do cativeiro na Babilônia e na Assíria, e também com relação ao futuro. Esse segundo aspecto é freqüentemente discutido no Novo Testamento e aplicado, ou apresentado para que seja aplicado, àqueles tempos e eventos, com uma característica adicional de que os tempos pós-Novo Testamento (até os nossos dias) foram vistos. Mas, por que essa segunda mais longa e mais terrível relegação ao juízo? Por que a confusão, fraqueza e perda da presença e poder imediatos de Deus por parte de Israel e apenas a soberania de Deus por trás de sua história? A resposta está em uma frase: cegueira espiritual. “O endurecimento veio em parte sobre Israel” (Rm 11.25). Há uma grande quantidade de referências a esse fato nos Evangelhos, e tanto os ensinamentos como os milagres de Jesus estavam voltados para essa cegueira e contra ela. A visão dada aos cegos foi um testemunho para Israel, bem como para o mundo. Essa cegueira, no entanto, estava relacionada principalmente à Pessoa, ao significado e ao propósito de Cristo. Aquela intervenção na história foi uma missão para a remissão, restauração e restabelecimento daquele conceito eterno no coração de Deus, que era como “o mistério” em Israel. Ou seja, os princípios e propósitos espirituais ocultos em sua eleição e constituição temporal, e para expressar tudo isso em uma Pessoa que devia ser reproduzida pela igreja, como o Grão de Trigo, por meio da morte, sendo reproduzido na ressurreição em um corpo de muitos membros.

Nesse ponto atingimos a essência da verdadeira natureza da Igreja. A pedra de toque da Igreja é uma percepção, por meio da revelação e iluminação divina, sobrenatural, do Espírito Santo, da verdadeira importância e significado de Jesus Cristo e Sua missão. É óbvio que o notável apóstolo do “mistério”, a Igreja, veio a conhecer e compreender a verdadeira Igreja mediante a revelação de Cristo para ele e nele (Gl 1.16).

Ter uma visão real de Cristo é ver a Igreja, e somente desse modo uma verdadeira igreja pode vir a existir. Foi somente logo após o Senhor poder dizer a respeito de Pedro que carne e sangue não revelaram a verdade de Sua Pessoa (de Cristo) que, Ele, Cristo, fez a primeira declaração pública definida sobre a Igreja: “Sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja” (Mt 16.18). Tudo isso significa que, fundamentalmente, uma verdadeira expressão da Igreja, em termos locais, não é mais, nem menos, nem outra senão a compreensão espiritual de Cristo por parte dos cristãos. A igreja, local ou universal, não é tradicional. Isso a faria perder seu caráter original e, conseqüentemente, tornar-se artificial. A Igreja não pode ser vista pelos olhos de outras pessoas2, quer seja pelos daqueles do passado (apóstolos, etc.) ou do presente (mestres).

Temos conhecimento de pessoas que vivem na presença de ensinamento por anos e se alegram nele, repetem-no e pensam que estão no melhor nível e, então, por fim, prova-se que elas não viram, na verdade, com seus próprios olhos espirituais ao contradizerem e descartarem tudo isso de modo tão fácil. Elas o viram mentalmente pela perspectiva de outra pessoa, o mestre ou o pregador. Quando Paulo viu, sua visão provocou um efeito nele que se tornou ele mesmo, e nenhuma parcela ou forma de sofrimento e frustração visível poderia fazê-lo desistir da “visão celestial” (At 26.19). Repetimos que todo o seu entendimento valioso e pleno da Igreja não veio, em primeiro lugar, de uma revelação de algo chamado “a Igreja”, mas de uma visão de Cristo no conselho eterno de Deus. Como o próprio fundamento, essa colocação responde, e de modo compreensivo, os cinco pontos que mencionamos anteriormente. É possível haver expressões locais da Igreja? A resposta é afirmativa, dadas a existência dessa visão e a compreensão de Cristo, e teremos de rejeitar o Espírito Santo e Sua obra caso digamos que essa visão não é possível agora (Ef 1.17,18).

No entanto, feita essa declaração, é necessário dizer algo mais quanto aos princípios essenciais de uma igreja local como um microcosmo da Igreja universal.

O primeiro fato (incluído no que dissemos acima) e o mais difícil de explicar, apesar de não o ser de experimentar, está naquela palavra mal-compreendida, detestada e não vista com bons olhos: espiritualidade. Não deve ser difícil entender porque qualquer cristão verdadeiramente nascido de novo sabe que há algo a seu respeito que não é apenas natural. Uma mudança na mentalidade, disposição, conceito e direção aconteceu nele. Ele apenas ficou diferente desde que aconteceu o novo nascimento. (O que estamos falando sobre a Igreja não tem sentido se não houve esta mudança fundamental.) No entanto, ainda temos de definir espiritualidade.

Como uma palavra e uma idéia, espiritualidade não é peculiar à Bíblia e aos cristãos. O mundo a utiliza. Na ida à uma galeria de arte, por exemplo, o visitante observa alguns quadros e continua andando. No entanto, outro quadro prende-lhe a atenção, pois há algo que transcende a tela, a pintura e um objeto retratado. Aquele quadro possui uma “atmosfera” que fala a seu respeito, que lhe toca as emoções, que instiga uma sensação de admiração — não se trata apenas de um quadro. Há algo mais a seu respeito do que o próprio quadro. A observação deste fator complementar é que há algo “espiritual” sobre ele. O mesmo pode ser dito de uma canção, da execução de uma peça musical, de uma construção adornada e formosa, de uma forma de culto, e assim por diante. Isso é o que o mundo chama de espiritual, mas o que eles realmente deveriam dizer é misticismo. Isso pode ser particularmente encontrado na literatura, e há uma categoria de escritores conhecida como místicos. A religião é um campo especial do misticismo.

Digamos de uma vez por todas, e com ênfase, que misticismo e verdadeira espiritualidade, de acordo com a Bíblia, são duas coisas completamente diferentes. Elas pertencem a dois campos diferentes. A primeira é temperamental ou uma questão de temperamento. Possui seus graus. A simples reação à beleza ou emoção, ou, em formas mais intensas, pode ser psíquica, fanática. Pode ser induzida por apelos patéticos e trágicos. Pode ser instigada pelo estímulo e paroxismos por meio de repetições, como as de refrões e encantamentos. Dessa forma, quer seja de modo suave ou extravagante, outro elemento pode aparecer ou dar caráter. A religião se presta particularmente para o místico nessas várias formas e graus.

No entanto, a espiritualidade da Bíblia da qual estamos falando é diferente. É o resultado de um novo nascimento por intermédio do Espírito Santo. Representa uma mudança de natureza e constituição, não a libertação e intensificação do que já existe. Na verdade, é um “totalmente outro”, assim como Cristo era, na realidade mais profunda de Sua pessoa, um totalmente outro. Nesse “outro”, Ele não era conhecido, entendido e explicável. Ele era inescrutável, não apenas misterioso, mas de outra ordem. Havia outra inteligência e consciência, outra capacidade e habilidade. Havia outra relação. Tudo isso é verdade no que se refere a cada cristão por ser “nascido do alto”3 (Jo 1.13; 3.6,7). A Igreja é o agregado desses cristãos em que o que é verdade a respeito de Cristo é verdade a seu respeito, com exceção da divindade.

Cristo e a Igreja são o significado espiritual de todos os símbolos, e Ele disse definidamente que, com Sua vinda, a antiga ordem de representações materiais e simbólicas havia cedido todo o lugar para aquilo que eles representavam. Não havia mais coisas para representar, senão aquilo que eles representavam sem essas coisas (Jo 4.20-24), e observe que o Evangelho de João e a Epístola aos Hebreus são dois notáveis documentos da principal transição do histórico, temporal e tangível para o espiritual. Os apóstolos foram movidos pelo Espírito Santo para aquela transição. Foi necessário que padecessem para que nascessem de novo4; contudo, eles venceram por meio da energia divina.

Portanto, espiritualidade, que é uma natureza e um atributo de caráter diferente e celestial, é o primeiro princípio básico da Igreja. Repetimos que a Igreja é o vaso e a incorporação “do mistério” tantas vezes mencionados no Novo Testamento, principalmente por Paulo. O mistério era e é o significado oculto das coisas e de Israel, mas agora é revelado para e na nova ordem, o novo Israel, a Igreja. O “mistério de Cristo” é o significado de Cristo, inescrutável para todos, exceto para aqueles que têm o espírito de sabedoria e de revelação no conhecimento Dele.

Local e Sobrenatural

Quando fez a notável declaração sobre Sua Igreja: “Edificarei a Minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18), nosso Senhor anunciou três coisas. Primeiro, que Ele estabeleceria uma entidade definida chamada de Sua Igreja. Segundo, que essa Igreja encontraria uma força de oposição com sua hostilidade total e final. Terceiro, que esse poder seria levado ao nível máximo e seria destruído, ou seja, se tornaria incapaz de prevalecer contra a Igreja. Nessa afirmação plena, há uma indicação muito definida da natureza fundamental de Sua verdadeira Igreja. Dissemos anteriormente que a Igreja é algo essencialmente espiritual e que a espiritualidade é seu princípio básico. Mas podemos ser ainda mais claros quanto ao que pretendemos dizer com espiritualidade? Podemos, utilizando uma palavra alternativa: sobrenatural.

A Igreja é Essencialmente Sobrenatural

A Igreja é a personificação do verdadeiro cristianismo, e o verdadeiro cristianismo é sobrenatural ou não é coisa alguma! É apenas no momento e no local em que a Igreja é completamente percebida e aceita que ela realmente existe e pode ser o poder que se pretende que ela seja.

Sobrenatural na Origem

Em primeiro lugar, o cristianismo5 e a Igreja (na verdade, termos idênticos) vieram do céu e ainda têm de ser continuamente recebidos e revelados a partir de lá. Essa é a própria verdade fundamental do próprio Cristo e da Igreja em todo indivíduo incorporado a ela. Esse é o ensinamento do Novo Testamento em todas as partes. A origem e a moradia de Cristo estavam no céu. O Evangelho de João e a carta de Paulo aos efésios constituem um argumento específico e enfático para essa afirmação e compreendem todo o Novo Testamento nessa verdade. No primeiro, a afirmação repetitiva de Cristo quanto à Sua origem celestial é a base de todas as coisas no Evangelho como um todo. São expressões do tipo “na verdade, na verdade”, “mais verdadeiramente”, e tudo o que está no Evangelho tem a finalidade de sustentar e evidenciar essa verdade.

Contudo, quando isso é reconhecido, o Evangelho e o restante do Novo Testamento voltam para afirmar do mesmo modo que a Igreja incorpora essa verdade e fato de Cristo. O capítulo 3 do Evangelho de João empregará a mesma linguagem — “na verdade, na verdade” — em conexão com qualquer indivíduo que entra na Igreja. Esse indivíduo, não importando se ele é o melhor exemplo e representante de Israel do Antigo Testamento (como Nicodemos) simplesmente não pode percorrer a linha do horizonte dessa nova criação; ele não pode atravessar a porta da natureza humana, da tradição, da “religião”; ele “deve nascer do alto”. Por meio desse nascimento, ele é constituído um ser sobrenatural na mais íntima realidade de seu ser — a isso Paulo chama de “nova criação”.

Então, de modo equivalente, a Igreja nasce do alto, no dia de Pentecostes. A diferença entre as mesmas pessoas antes e depois desse evento e a natureza corporativa da nova entidade são evidentes para todos os que têm olhos para ver. É sobrenatural.

Sobrenatural na Base

O que era, e é, verdade sobre a origem e moradia de Cristo e de Sua Igreja mostra-se ser, com fascinante evidência, a verdade sobre Sua sustentação e sobrevivência. “Pão do céu” (Jo 6.32, 51) apenas significa o poder que os recursos celestiais têm de sustentar e apoiar. Isso é visto em relação a dois fatos. Primeiro, na lei de total dependência de Deus e do céu, que é o próprio princípio da encarnação: “Aniquilou-se a Si mesmo” (Fp 2.7). Novamente, o Evangelho de João é uma constante declaração enfática disso. A repetição “na verdade, na verdade” é empregada para afirmar isso: “Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por Si mesmo não pode fazer coisa alguma” (5.19), e assim por diante. Pois em toda obra, toda palavra e todo tempo, Ele declarou que dependia de Seu Pai que está no céu. O Evangelho explica Seu humilde nascimento, Sua humilde criação, Seu último desamparo. Explica o fato de Ele ser “desprezado e rejeitado pelos homens”. No entanto, existiu uma vida e uma obra tão poderosa como a Dele?

O outro fato é em relação à Igreja. Quando consideramos o material humano do primeiro núcleo e, principalmente, seu crescimento; quando levamos em conta sua falta de bens e apoio deste mundo e quando pensamos em tudo o que estava contra ela de todo modo concebível, empenhando-se para aniquilá-la; e, em seguida, observa-se sua sobrevivência como uma entidade, há uma única palavra para descrevê-lo: sobrenatural! Reconheço que me admirei com a fé provada e triunfante de um homem como o apóstolo Paulo quando o vejo sofrendo como sofreu e quando leio seus próprios relatos de sofrimentos. A mente natural diria: “Este não é o apoio do céu”, mas temos o veredito de muitos séculos, e é a evidência e o veredito do sobrenatural.

Tudo isso inclui-se naquela repetição da expressão “na verdade” de João 6, onde, com uma alusão à vida de Israel no deserto, Jesus declara ser Ele mesmo o pão de Deus que veio do céu. Na verdade, Sua mente é tão forte, significativa e imperativa sobre essa questão que naquele capítulo Ele utiliza a repetição da expressão “na verdade” quatro vezes. O deserto sempre foi o símbolo ou imagem de um lugar fora do mundo, e o socorro e sustento em condições tão adversas à vida exigem recursos de outra esfera. A história da vida espiritual é a história do sustento sobrenatural secreto. Em silêncio e sem alarde, garantida e sem falta, suficiente e sem pobreza o maná descia, e o Senhor celestial da vida tem sustentado Sua igreja da mesma forma. Sim, embora fosse silenciosa e muitas vezes quase imperceptível aos sentidos naturais, ainda, na verdade, constitui-se uma obra de imenso poder. O Novo Testamento nos ensinará que o nascimento e sustentação da Igreja são réplicas da emancipação de Israel do Egito. Agora e naquela ocasião, o poder de Deus se estendeu e consumiu todo o poder do Egito e de seus deuses e, depois, anulou a própria morte.

A passagem do Novo Testamento que evidencia a Igreja de modo mais específico utiliza palavras como: “A suprema grandeza do Seu poder para com os que cremos” (Ef 1.19). Estamos longe de entender a terrível coisa que estava envolvida na morte e ressurreição de Cristo para guardar a Igreja em Deus!

Sem dúvida, já dissemos o suficiente para destacar a extrema importância de uma ou duas coisas: primeiro, mostrar no que a verdadeira Igreja está de acordo com a revelação do Novo Testamento. Se esse não é um equívoco dessa revelação, deve ser algo muito distinto. Ou seja, deve revelar uma diferença muito grande entre a verdadeira Igreja, por um lado, e aquela imensa coleção de coisas que leva o nome de Igreja, por outro; uma coleção sob a qual concentraram-se tantas instituições e concepções conflitantes.

A afirmação de que a verdadeira Igreja tem de estar de acordo com a revelação do Novo Testamento deve ser um corretivo para dois extremos. Um extremo é o de uma abrangência tão grande que negligencia a natureza fundamental e essencial do sobrenatural, da qual temos falado: o sobrenatural no novo nascimento de todos os indivíduos na Igreja. Também um corretivo para o extremo oposto de um exclusivismo não-bíblico que torna Cristo menor do que Ele realmente é por excluir da comunhão cristãos verdadeiramente nascidos de novo usando como base para isso alguma técnica particular de “proteção” ou alguma interpretação específica da verdade.

Além disso, se o que temos dito é uma verdadeira definição da Igreja e de sua natureza, então, sem dúvida, isso explica a perda de poder, impacto e influência sobrenatural. Isso também explica a confusão, a escassez de alimento espiritual para ovelhas famintas e a dispersão que é a estratégia especial de Satanás para roubar da Igreja sua vocação para receber o reino e reinar!

A explicação é que o grande poder da dependência total de Deus, que é a exigência categórica de Deus para a revelação de Sua própria glória, tem sido abandonado para buscar-se recursos no mundo por meios, métodos, modas, etc. a fim de fazer com que a obra de Deus tenha “sucesso”. Satanás não está nem um pouco preocupado com qualquer coisa que use seu próprio reino para a glória desses métodos! Ele até protegerá qualquer coisa que lhe dará um lugar. A maldição que está sobre ele e sobre este mundo sempre significará frustração, confusão e eventual vaidade para tudo que faz parte do seu reino; conseqüentemente, muitas destas coisas estão em uma igreja que é, com todo o respeito, deste mundo. A Igreja tem falhado grandemente em perceber o motivo pelo qual, em relação essencial com a missão e ministério de Cristo, a tentação de Jesus no deserto ocupou lugar em três dos Evangelhos; e nessa relação específica com o Evangelho de João que temos apresentado, o assunto ali revelado concentrou-se no capítulo 17, onde a ênfase de Jesus está no fato de Ele não ser deste mundo, e o mesmo com relação à Sua Igreja!

A igreja, tanto em seu aspecto universal como no local, que está constituída sobre princípios espirituais e celestiais terá alimento suficiente para suas próprias necessidades e para distribuir para o mundo todo6. Os famintos correrão em sua direção. Ela será um ímã espiritual que reunirá o povo de Deus em uma comunhão espiritual. Será, por essa razão, um objeto de atenção especial por parte de Satanás para desfazê-la. Mas, mesmo que ele tenha sucesso em destruir seus aspectos temporais, por meio do martírio, fogo, dissensões, dispersões, posições, etc., essa Igreja terá conquistado valores espirituais indestrutíveis e eternos, “porque as (coisas) que se vêem são temporais (transitórias, passageiras) e as que se não vêem são eternas” (2Co 4.18). O teste definitivo é o eterno!

Dissemos no início que, embora estejamos preocupados com a natureza da verdadeira Igreja universal, temos uma preocupação especial com a expressão local. Portanto, agora concentraremos nossa atenção nessa expressão.

Se levarmos a sério os três primeiros capítulos do livro de Apocalipse (e, sem dúvida, devemos fazer isso) ficaremos impressionados com a seriedade da preocupação do Senhor com as expressões locais. Uma incomparável apresentação do próprio Senhor é dada por meio de Ele julgar as igrejas de acordo Consigo mesmo. Cada aspecto dessa apresentação é um fator de julgamento. Então, é dado às igrejas uma definição simbólica de duas partes: a das estrelas e a dos castiçais. Deixando muitos detalhes para depois, observaremos agora que a característica comum a esses dois símbolos é a do poder do testemunho. É o elemento positivo de um desafio para as trevas do mundo. Tudo o que se segue com relação às igrejas, o aspecto e fator positivos da vida e influência espiritual é dominante e primordial. Toda controvérsia do Senhor com as igrejas, em qualquer aspecto específico, se concentra nesta última questão definitiva: o efeito positivo da igreja onde ela está. Existe um impacto no aspecto interior (candeeiro) e no exterior (estrelas)? Elas, as igrejas, estão dizendo algo explicável, eficaz e inconfundível? Elas causam um impacto que exerce influência sobre o que as cerca? Existe um poder espiritual dotado de efeitos? Enfim, a continuação de sua posição na economia divina — ser mantida ou “movida” — se encontra nessa questão. Muitas coisas são detalhadas como a causa da perda de poder, mas é essa perda que resulta no julgamento.

Tendo observado a questão inclusiva que determina todas as coisas em um testemunho local, continuamos a perguntar e a responder à questão: Quais são

As Características Essenciais de Uma Verdadeira Igreja Local?

Estamos tentando permanecer próximos e fiéis ao princípio geral de que a Igreja, tanto universal como local, é chamada para ser uma expressão de Cristo. É impossível ler o Novo Testamento sem observar que a presença de Cristo em qualquer lugar era a presença de:

Luz e Poder Celestiais

Temos mostrado que esse fato é a base do julgamento de Cristo sobre as igrejas. Em relação a Ele, não se tratava apenas da luz do ensinamento ou da doutrina: tratava-se do ensinamento personificado. Havia o ensinamento encarnado na raça humana. O ensinamento e as obras de Cristo formavam uma coisa única. Era uma luz muito prática! Era a luz de outro mundo. Se a lua governa a noite, ela o faz por meio da luz refletida do sol. Se as igrejas devem ter o poder da verdade, elas devem tê-lo porque propiciam um reflexo de Cristo nas trevas humanas. Uma expressão local de Cristo deve significar que há luz efetiva, tanto para o povo de Deus (os candelabros) como para o mundo (as estrelas)7. O povo que tem contato com essa igreja local deve sentir o poder do ensinamento, ser afetado por ele e dar frutos nele. Não se trata apenas de um teste, mas de um testemunho daquilo que o Senhor tem suprido. Por meio daquele vaso, recebe-se um povo que vive na luz celestial? O pecado é repreendido ou exposto? Os pecadores são convencidos? Os perplexos conseguem entender aquela apresentação de Cristo?

Vida Celestial

O Senhor disse que Sua vinda a este mundo era para “que eles tivessem vida” (Jo 10.10). Portanto, Sua presença em um lugar por meio da Igreja deve significar que todos os que vêm e vão registram haver ali uma existência celestial. Não apenas estímulo, barulho, atividades, etc., mas uma vida que não é deste mundo. [Onde Cristo está,] não existem formas e costumes sem vida. Não há coisa alguma monótona. A vida é mediada por tudo que tem um lugar e uma parte. Há uma elevação espiritual como a da vida de ressurreição, não depressão!

Alimento Celestial

Como vimos anteriormente, a presença de Cristo significava pão para os famintos. A compaixão de Cristo significava que Ele não suportava ver as pessoas vindo com fome e partindo na mesma situação. Uma verdadeira expressão local de Cristo significará que aquela reunião do Seu povo terá, não apenas para si mesma, mas terá superabundância para todos os espiritualmente famintos. Aquela será uma casa que oferecerá pão onde ninguém jamais deixará de ser suprido. Não apenas se encontrará alimento, mas este será ministrado para muitos que estão distantes.

Comunhão Celestial

Uma característica impressionante de Cristo, quando Ele estava presente fisicamente entre os homens, foi o modo como Ele transcendia as coisas que dividem os homens neste mundo. Ele não tentou fazer com que todas as pessoas e coisas fossem iguais por organização, instituição, denominação, classe, categoria, formas, sistemas, etc. Todo tipo e temperamento, se despojado de preconceito e hipocrisia, de coração aberto e consciente da necessidade espiritual, encontrou um terreno comum de comunhão e unidade em Cristo. Ele apenas se colocou acima do que servia de divisão e, em resposta a Ele, as pessoas perceberam que as coisas que as separavam simplesmente desapareceram. Cristo tornou-se o terreno comum a todas elas.

Assim deve acontecer em qualquer expressão local corporativa de Cristo. Questões de associação, denominação, seita, tradição, etc., não devem se levantar, mas simplesmente desaparecer na presença do ardor da comunhão e da inteira ocupação com Cristo. O único caminho efetivo para a verdadeira unidade e comunhão celestial é aquele que é mais elevado do que o campo do mundo: o amor do céu.

Ordem Celestial

Todas as quatro coisas que mencionamos como características de uma verdadeira expressão local da Igreja e de Cristo serão ajudadas pela presença ou ocultadas pela ausência de uma ordem celestial e espiritual. Todas as ordenações, posições, departamentos, devem acontecer pelo testemunho definido do Espírito Santo, não pela escolha de um homem, seja pela ambição de outros ou dele mesmo. Como resultado de muita oração por parte da igreja, isso deve ser manifesto onde a unção e os dons estão para que a função daqueles em qualquer posição de liderança definitivamente signifique que a igreja é inspirada, fortalecida e edificada. Não cumprir esta ordem celestial possibilitará a existência de um elemento de artificialidade, uma força para criar algo e fazer com que esse algo continue em andamento. O nível mais alto de genialidade sempre ficará muito longe da menor medida de inspiração divina. É essa inspiração divina que determina toda a obra e funções divinas. Não há esforço ou força onde a unção repousa, mas espontaneidade, liberdade e unção. O óleo sempre foi um símbolo do Espírito Santo, e onde Ele está as coisas devem-se mover como no óleo.

Este não é um modelo de todo impossível, mas é a expressão normal do senhorio e governo de Cristo. O que Deus requer Ele torna possível.

A Igreja: O Vaso Ungido

Nas Escrituras, há muitas maneiras pelas quais se fala da obra do Espírito Santo. Há o “recebimento”, o “enchimento”, o “batismo”, o “cumprimento” e o “dom”. Não é nosso objetivo considerar o significado dessa variedade de expressões, mas dar ênfase em uma: a unção. A unção, tanto no Antigo como Novo Testamento, é apresentada como geral e particular, compreensiva e específica.

O primeiro fato sobre o aspecto geral da unção é que, em virtude de o Espírito de Deus ser o Espírito que unge, a unção é Deus juntando e unindo e comprometendo a Si mesmo com qualquer coisa ou pessoa que seja ungida. Significa que sempre e onde quer que esteja a unção, ali Deus deve ser considerado. Tocar no que é ungido é tocar em Deus. Para obtermos um conhecimento verdadeiro dessa verdade e desse fato, temos apenas de ler aquelas passagens do livro de Números que tratam dos levitas, do tabernáculo e dos vasos nele usados. Vida e morte estavam ligadas a todos esses ungidos porque, por meio da unção, Deus estava ligado a eles. No Novo Testamento, este aspecto compreensivo relaciona-se em primeiro lugar a Cristo e, em seguida, à Igreja.

A própria palavra ou nome “Cristo” significa ungido: “Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré” (At 10.38). Deus estava comprometido com Ele. Tocar Nele era tocar em Deus, como a história tem provado. No final, todos serão julgados e seu destino determinado de acordo com sua atitude e decisão com relação a Jesus Cristo. Quantos detalhes tremendos essa verdade inclusiva compreende!

Quando passamos para a Igreja, descobrimos que, de acordo com o Novo Testamento,

A Igreja é o Vaso Ungido

No dia de Pentecostes, um grupo de mais de quinhentos homens e mulheres foi constituído como a Igreja de Deus pela unção do Espírito Santo (At 2.1-4). Aquele grupo era controlado pela liderança ungida do Senhor Jesus exaltado, pois a unção inclusiva sempre estava sobre a cabeça Dele. Daquele tempo em diante, a Igreja levou para o mundo a implicação de Deus: e soberanos, impérios e pessoas tiveram de se acertar com Deus na Igreja. Tudo o que era verdade sobre Cristo como o Ungido passou Dele, como Cabeça, para a Igreja, o Seu Corpo, não por causa do que as pessoas eram, ou são, nelas mesmas, mas pela unção, pois as pessoas ungidas são assim porque não permanecem em seu próprio terreno, mas no terreno de Cristo.

É certo no Novo Testamento que os cristãos verdadeiramente nascidos do alto e batizados têm a unção, e surpresa é manifestada se a evidência não se faz presente (At 19.2,3). Coloque ao lado dessa referência 2 Coríntios 1.21, entre outras. O lugar dos cristãos ser “em Cristo” os coloca sob Sua unção, ou Nele, como o Ungido.

No entanto, embora o Espírito Santo seja compreensivo e multi-facetado em significado, a unção é, em toda parte na Bíblia, o termo que apresenta o significado específico de posição e função, ofício e propósito. Diz-se que Satanás (Lúcifer) em sua posição caída foi o “querubim ungido para proteger” (Ez 28.14). É óbvio que se tratava de uma posição e função específicas. Assim, os profetas, sacerdotes e reis eram ungidos para sua posição e vocação. Do mesmo modo, o tabernáculo e todos os seus vasos e instrumentos eram ungidos para cumprimento de um propósito específico, e nada poderia ocupar um lugar ou cumprir um propósito divino sem a unção. Todas as coisas e pessoas tinham de ser ungidas para um uso e propósito específico e nenhum instrumento podia escolher sua função e posição ou realizar a obra de outro. Tudo isso fazia parte da lei de Deus de eficiência, eficácia, harmonia e bênção. A vida e a morte estavam ligadas a esse princípio.

A unção sempre esteve na soberania divina e nunca na escolha, poder ou nas mãos de homens. É muito sério receber ou ser colocado em uma posição que não tenha sido designada por Deus pela unção.

Quando vamos ao Novo Testamento, essa lei da unção é claramente reconhecível no que diz respeito tanto a Cristo como à Igreja. Primeiro, o ato de soberania, depois as muitas e diversas funções. O Novo Testamento é muito claro tanto nas principais ordenações, tais como apóstolos e profetas — que se relacionam principalmente à Igreja universal —, como nas funções específicas na expressão local da Igreja. O Espírito Santo é considerado aquele que retém os dons, funções, ordenações e realizações nas igrejas. É ordem de Deus; negligenciar, ignorar, violar e ultrapassar essa lei significa uma afronta ao Espírito Santo. Isso resultará em confusão, restrição e divisões. Onde os homens colocam as mãos em uma obra de Deus, a história subseqüente tem invariavelmente se dividido em duas partes: divisões e a relegação desses homens para um lugar onde impera o descrédito sobre eles e onde perderam a posição de utilidade plena. Por outro lado, não há outra verdade mais animadora e inspiradora revelada nas Escrituras do que que, por meio da unção, todos os membros de Cristo têm uma função e valor específicos. A unção é diferente da capacidade e qualificação naturais. O que tem menos dons naturais não está, por isso, desqualificado para o uso de Deus, e o que tem mais dons ou qualificações naturais não tem vantagem nesse caso. A unção é única. Vemos isso ao juntar 2 Coríntios 1.21, 1 Coríntios 1.26-30 e todo o capítulo 2 de 1 Coríntios.

No tabernáculo de Israel, houve grandes vasos sob a unção e havia instrumentos simples como os apagadores, mas até os últimos eram ungidos. Agora, tenha cuidado! Eram apagadores ungidos. Há muitas pessoas que tomam para si a função de apagadores. Elas apagarão qualquer coisa e acabarão com qualquer coisa. Os apagadores do tabernáculo não serviam para reduzir ou extinguir a luz do testemunho, mas para mantê-la viva e impedi-la de criar uma atmosfera desagradável. É necessário unção para esse ministério.

Há outra coisa de que devemos sempre nos lembrar: é que todo vaso, função e posição deriva-se do valor de sua relação com todos os outros. Na verdade, nenhum vaso, por mais que seja importante, tem significado ou valor separado dos outros. A unção é única, embora em uma diversidade de operações. As lâmpadas pedem os apagadores que, por sua vez, não têm sentido sem as lâmpadas.

Tudo o que dissemos aqui é apenas uma alusão e indicação de uma esfera muito ampla e importante da verdade divina; muitos volumes seriam necessários para esgotá-la e explicá-la. No entanto, sem dúvida, se esta é a verdade de Deus, basta – pelo menos – indicar

1. a verdadeira natureza da Igreja, das igrejas e sua função;
2. o motivo pelo qual há tanta fraqueza, confusão e perda do impacto divino;
3. o motivo pelo qual o inimigo está tão preocupado em imitar o Espírito Santo e, desse modo, acabar com a unção da qual uma vez foi privado.

Essa última questão será uma característica específica dos últimos tempos. Esse é o motivo pelo qual, nas Escrituras, a unção ocupava uma posição sempre próxima e decisiva junto com a guerra. Pense nisso!

A Expressão Local da Igreja

Antes de concluir nossa consideração sobre a Igreja, sinto fortemente que devo dizer algumas coisas de vital importância quanto à verdadeira expressão local da Igreja. Sei muito bem como é difícil encontrar uma expressão verdadeira e assegurar que ela o é, mas não há motivo para abandonarmos todo esse assunto. Antes de ser um indicador de seu valor, a história e experiência têm mostrado que essa é a única coisa de grande importância com a qual o adversário de Cristo se preocupa. Impedir ou destruir essas expressões sempre foi uma preocupação maior dos poderes do mal. A verdadeira Igreja, universal e local, é uma ameaça muito grande para o reino de Satanás. Enfatizamos isso nos primeiros capítulos. Contudo, resumamos:

1. A importância da Igreja em expressões locais

Em primeiro lugar devemos lembrar que uma seção sólida do Novo Testamento foi escrita especificamente para igrejas locais, as quais constituíram o primeiro resultado do ministério apostólico. Esse ministério, e todo o sofrimento envolvido, foi vindicado em grupos de reunião locais de cristãos. Foi por essas igrejas que os apóstolos padeceram, trabalharam, oraram e lutaram. A essência do Novo Testamento tem sua preocupação suprema com essas assembléias que conheceram grandes sofrimentos em sua origem e estavam em “uma grande batalha de aflição” por sua continuação e sobrevivência.

Por isso, devemos lembrar que a própria preocupação e avaliação pessoal do Senhor com relação às igrejas locais se fizeram muito evidentes por meio de Suas mensagens diretas para as sete igrejas na Ásia com as quais o livro do fim (Apocalipse) se inicia. Não há como interpretar mal a importância das igrejas locais para o Senhor exaltado quando lemos essas mensagens, cujo enfoque é uma oração que se encontra em uma delas: “Isto diz o Filho de Deus”. O salmista diria “Selá”, “Pense nisso”.

2. Essa importância deve ser vista nos valores específicos de uma reunião local, quando estiver em correto funcionamento

a) Aqui, o princípio de que “nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si” (Rm 14.7) é enunciado com relação à igreja local e deve ser aplicado às mensagens para as igrejas na Ásia. Diz-se da igreja em Éfeso que, por meio dela, “todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus” (At 19.10; veja 1Ts 1.8). Deve ser impossível a existência de uma assembléia local do povo de Deus sem que seja conhecida por uma região muito maior do que sua própria localidade. Um grupo vivo, mais cedo ou mais tarde, será conhecido no exterior pelo que ele tem da parte do Senhor.

b) Para ampliar a questão, uma igreja local deve ter não apenas pão espiritual suficiente para si, mas cestos cheios para distribuir, e muitos além de suas fronteiras devem estar sendo enriquecidos por sua saúde espiritual. A história não mostra quão evidente isso é? O povo de Deus não tem sido alimentado por anos até o dia de hoje com o pão ministrado para – e por meio de – aquelas igrejas do Novo Testamento? Não é verdade que multidões foram e ainda estão sendo alimentadas com o alimento ministrado em igrejas locais em muitos lugares no último século? Do mesmo modo teria feito o Senhor. A igreja que apenas ministra para si e não o faz para a Igreja como um todo está cometendo um pecado contra o direito da vida; ela se tornou uma via de mão única, não uma rodovia. Sem dúvida, é particularmente importante que o ministério em uma igreja local seja um ministério verdadeiramente ungido, não por qualquer ordenação, seleção ou decisão do homem, não pelos discursos instruídos e arranjados, mas pela iluminação e inspiração vinda de um céu aberto, não apenas fazendo com que algo continue em andamento como um dever, mas pela revelação de Jesus Cristo. Deve ser óbvio para todos que aqueles que lideram e ministram estão sob um encargo genuíno do Senhor, e a evidência disso é a vida!

c) A igreja local deve, e pode, ser um refúgio, um abrigo, uma proteção para seus próprios membros. Uma das principais táticas de Satanás é isolar os cristãos e depois derrotá-los. Isso pode ser feito por ações imprudentes e independentes e por escolhas, passos e decisões frutos da falta de conselho. A igreja por meio de suas orações, conselho e comunhão é uma provisão divina contra as tragédias que se encontram no caminho da independência e isolamento. Assim como a cooperação e a coordenação no corpo físico são uma provisão e uma lei contra muitas doenças, o mesmo acontece com os membros do corpo espiritual.

d) A igreja local deve fornecer ministérios pessoais para o povo de Deus e para os não-salvos, próximos e distantes, e oferecer uma proteção e apoio abrangente para a realização desses ministérios. Aqueles que se apresentam para o ministério da igreja devem saber que estão sendo defendidos e sustentados por aqueles com os quais andaram. Na verdade, eles devem prosseguir como enviados pela igreja!

A falta e ausência dessas características em organizações locais são a causa de tanta fraqueza na Igreja universal.

e) Por fim, uma igreja local que funciona corretamente é uma provisão maravilhosa para o treinamento de seus membros para a obra. O treinamento é principalmente uma questão de ser capaz de trabalhar corporativamente. O modo de viver e trabalhar com outras pessoas e afundar o individualismo na comunhão é uma parte verdadeira da disciplina que torna frutífero um ministério!

Há um perigo real no departamentalismo: a separação em grupos isolados de modo que esses grupos não alcancem uma vida e função corporativa da Igreja. É possível termos grupos associados à uma igreja local que realmente não possuem uma verdadeira vida da igreja. Isso significa fraqueza e perda. Além disso, a igreja local deve ser sua própria escola bíblica, para instrução sistemática na Palavra de Deus.

A leitura cuidadosa da Bíblia, principalmente do Novo Testamento, mostrará que tudo o que dissemos acima está contido nela como exortação, admoestação, advertência, instrução e exemplo.

Se eu tivesse de acrescentar outra coisa vital e todo-inclusiva, eu diria que o essencial absoluto para essas igrejas é uma verdadeira obra da cruz em todos os a ela relacionados.
_____________________

1 Em grego, a palavra usada nesse versículo é eclésia (que significa “chamados para fora”) traduzida, na maior parte dos versículos em que aparece, como igreja.
2 Ou seja, a visão, a percepção da realidade espiritual acerca da Igreja, é individual e deve ser buscada individualmente.
3 A palavra grega traduzida como “do alto” pode também ser corretamente traduzida para “de cima”. Ela é traduzida com esse sentido nos seguintes versículos: Mt 27.51; Mc 15.38; Jo 3.31; 19.11,23; Tg 1.17; 3.15,17.
4 O autor não está se referindo à regeneração; entendemos que o “nascer de novo” aqui refira-se ao processo pelo qual os apóstolos passaram na transição da velha aliança, com suas figuras e símbolos, para a nova aliança, na qual Cristo é a realidade de todas as coisas.
5 No sentido de fé cristã, não de organizações e movimentos cristãos ou da religião cristã.
6 O autor trata especificamente deste assunto no livro O Testemunho do Senhor e a Necessidade do Mundo, publicado por esta editora.
7 No sentido de que os candelabros representam a igreja em uma cidade, portanto, um testemunho coletivo do povo de Deus, enquanto as estrelas representam membros da igreja, indicando um testemunho individual diante do mundo.

(Extraído da extinta revista O Chamamento Celestial ano 2, n. 6, publicada por CCC Edições, janeiro de 2001. Traduzido por Valéria Lamim Delgado Fernandes. Os artigos que compõem esta edição foram originalmente publicados na revista A Witness and a Testimony, vol. 47, números 1-5, em 1969. Em sua forma original, o texto é uma transcrição das mensagens faladas. Por isso, quando necessário, fez-se adaptações no texto, procurando conservar, quanto possível, o estilo original. Nesses artigos, os termos “Igreja universal” e “igreja local” não são nomes próprios, ou seja, eles não identificam grupos cristãos, denominações, movimentos ou qualquer outra instituição que se utilize de algum destes termos. “Igreja universal” significa o Corpo de Cristo que inclui todos os membros, em todos os tempos e lugares, enquanto “igreja local” é a expressão desse Corpo em uma cidade.)

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A. W. Tozer Igreja

Precisamos novamente de homens de Deus (A. W. Tozer)

A igreja, neste momento, precisa de homens, o tipo certo de homens, homens ousados. Afirma-se que necessitamos de avivamento e de um novo movimento do Espírito; Deus sabe que precisamos de ambas as coisas. Entretanto, Ele não haverá de avivar ratinhos. Não encherá coelhos com seu Espírito Santo.

A igreja suspira por homens que se consideram sacrificáveis na batalha da alma, homens que não podem ser amedrontados pelas ameaças de morte, porque já morreram para as seduções deste mundo. Tais homens estarão livres das compulsões que controlam os homens mais fracos. Não serão forçados a fazer as coisas pelo constrangimento das circunstâncias; sua única compulsão virá do íntimo e do alto.

Esse tipo de liberdade é necessária, se queremos ter novamente, em nossos púlpitos, pregadores cheios de poder, ao invés de mascotes. Esses homens livres servirão a Deus e à humanidade através de motivações elevadas demais, para serem compreendidas pelo grande número de religiosos que hoje entram e saem do santuário. Esses homens jamais tomarão decisões motivados pelo medo, não seguirão nenhum caminho impulsionados pelo desejo de agradar, não ministrarão por causa de condições financeiras, jamais realizarão qualquer ato religioso por simples costume; nem permitirão a si mesmos serem influenciados pelo amor à publicidade ou pelo desejo por boa reputação.

A igreja suspira por homens que se consideram sacrificáveis na batalha da alma, homens que não podem ser amedrontados pelas ameaças de morte, porque já morreram para as seduções deste mundo.

Muito do que a igreja faz em nossos dias, ela o faz porque tem medo de não fazê-lo. Associações de pastores atiram-se em projetos motivados apenas pelo temor de não se envolverem em tais projetos.

PRECISAMOS NOVAMENTE DE HOMENS DE DEUS

Sempre que o seu reconhecimento motivado pelo medo (do tipo que observa o que os outros dizem e fazem) os conduz a crer no que o mundo espera que eles façam, eles o farão na próxima segunda-feira pela manhã, com toda a espécie de zelo ostentoso e demonstração de piedade. A influência constrangedora da opinião pública é quem chama esses profetas, não a voz de Jeová.

A verdadeira igreja jamais sondou as expectativas públicas, antes de se atirar em suas iniciativas. Seus líderes ouviram da parte de Deus e avançaram totalmente independentes do apoio popular ou da falta deste apoio. Eles sabiam que era vontade de Deus e o fizeram, e o povo os seguiu (às vezes em triunfo, porém mais freqüentemente com insultos e perseguição pública); e a recompensa de tais líderes foi a satisfação de estarem certos em um mundo errado.

Outra característica do verdadeiro homem de Deus tem sido o amor. O homem livre, que aprendeu a ouvir a voz de Deus e ousou obedecê-la, sentiu o mesmo fardo moral que partiu os corações dos profetas do Antigo Testamento, esmagou a alma de nosso Senhor Jesus Cristo e arrancou abundantes lágrimas dos apóstolos.

O homem livre jamais foi um tirano religioso, nem procurou exercer senhorio sobre a herança pertencente a Deus. O medo e a falta de segurança pessoal têm levado os homens a esmagarem os seus semelhantes debaixo de seus pés. Esse tipo de homem tinha algum interesse a proteger, alguma posição a assegurar; portanto, exigiu submissão de seus seguidores como garantia de sua própria segurança. Mas o homem livre, jamais; ele nada tem a proteger, nenhuma ambição a perseguir, nenhum inimigo a temer. Por esse motivo, ele é alguém completamente descuidado a respeito de seu prestígio entre os homens. Se o seguirem, muito bem; caso não o sigam, ele nada perde que seja querido ao seu coração; mas, quer ele seja aceito, quer seja rejeitado, continuará amando seu povo com sincera devoção. E somente a morte pode silenciar sua terna intercessão por eles.

Sim, se o cristianismo evangélico tem de permanecer vivo, precisa novamente de homens, o tipo certo de homens. Deverá repudiar os fracotes que não ousam falar o que precisa ser externado; precisa buscar, em oração e muita humildade, o surgimento de homens feitos da mesma qualidade dos profetas e dos antigos mártires. Deus ouvirá os clamores de seu povo, assim como Ele ouviu os clamores de Israel no Egito. Haverá de enviar libertação, ao enviar libertadores. É assim que Ele age entre os homens.

E, quando vierem os libertadores… Serão homens de Deus, homens de coragem. Terão Deus ao seu lado, porque serão cuidadosos em permanecer ao lado dEle; serão cooperadores com Cristo e instrumentos nas mãos do Espírito Santo…

(Revista Fé para Hoje, Número 1, Ano 1999)

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A. W. Pink

Fé (A. W. Pink)

“De fato sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11:6)


“Mas a palavra que ouviram não lhes aproveitou, visto não ter sido acompanhada pela fé, naqueles que a ouviram.” (Hb 4:2)

Estes dois versículos juntos no mostram como é vã toda a atividade religiosa onde não há fé. A atividade exterior deve ser realizada correta e diligentemente, mas a menos que a fé esteja em operação, Deus não é honrado e a alma não é edificada. A fé abre o coração de Deus, e é mediante a fé que recebemos a graça de Deus – não uma mera aceitação do que ‘é revelado em Sua Palavra, mas um princípio sobrenatural de graça que existe no Deus das Escrituras. Isso o homem natural, não importa o quanto religioso ou ortodoxo ele seja, não tem; e nenhum de seus esforços, nem atos da sua vontade, pode adquirir. É um dom soberano de Deus.

A fé deve operar em todas as atividades dos cristãos, se Deus há de ser glorificado e ele edificado.
Primeiro, na leitura da Palavra: “Estes, porém, foram registrados para que creiais” (Jo 20:31).
Segundo, no ouvir da pregação dos servos de Deus: “A pregação da fé” (Gl 3:2).
Terceiro, na oração: “Peça-a porém com fé, em nada duvidando” (Tg 1:6).
Quarto, na nossa vida diária: “Visto que andamos por fé, e não pelo que vemos” (II Co 5:7); “esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no filho de Deus” (Gl 2:20).
Quinto, em nossa partida desse mundo: “Todos estes morreram na fé” (Hb 11:13).

O que o fôlego é para o corpo, a fé é para a alma; pois alguém que sem fé busca realizar ações espirituais, é como se colocasse uma mola em um boneco de madeira, fazendo-o mover-se mecanicamente.

Um professo não-regenerado pode ler as Escrituras e ainda assim não ter qualquer fé espiritual. Assim como o hindu devoto lê atentamente o Upanishad e o muçulmano o seu alcorão, muitos países “cristãos” adotam o estudo da Bíblia, e mesmo assim não têm mais da vida de Deus em suas almas do que têm os seus irmãos pagãos. Milhares nesta terra lêem a Bíblia, crêem na sua autoria divina, e se tornam mais ou menos familiarizados com o seu contudo. Um mero professo pode ler vários capítulos diariamente, e mesmo assim nunca compreender um único versículo. Mas a fé aplica a Palavra de Deus: ela aplica Suas terríveis ameaças e estremece diante delas; ela aplica Suas solenes advertências, e procura atendê-las; ela aplica Seus preceitos, e suplica a Ele por sua graça para acompanhá-lo.

Acontece o mesmo no ouvir a pregação da Palavra. Um professo carnal se orgulhará de ter comparecido a esta ou aquela conferência, de ter ouvido aquele famoso professor e aquele renomado pregador, e ter tido tanto proveito para a sua alma quanto se nunca tivesse ouvido qualquer um deles. Ele pode ouvir dois sermões todo domingo, e depois de cinqüenta anos ser tão morto espiritualmente como é hoje. Mas o homem regenerado compreende a mensagem e avalia a si mesmo pelo que ouve. Ele é muitas vezes convencido dos seus pecados e feito lamentar deles. Ele testa a si mesmo pelo padrão de Deus, e se sente tão longe de ser aquilo que deveria que sinceramente duvida da sinceridade da sua profissão (de fé). A Palavra o corta em pedaços como uma espada de dois gumes, e o faz clamar “desventurado homem que sou!”

Na oração o mero professo muitas vezes faz o crente humilde envergonhar-se de si mesmo. O religioso carnal que tem “o dom da palavra” nunca se perde com elas: frases fluem de seus lábios tão prontamente como águas de um riacho murmurante; versículos das Escrituras parecem correr através de sua mente tão livremente como o pó passa pela peneira. Ao passo que o pobre oprimido filho de Deus é muitas vezes incapaz de fazer algo mais do que clamar “Ó Deus sê propício a mim pecador” . Ah, meus amigos, nós precisamos distinguir nitidamente entre a habilidade natural de “fazer” “boas orações” e o espírito de suplica verdadeira: um consiste meramente de palavras, o outro de “gemidos inexprimíveis”; um é adquirido por educação religiosa, o outro é implantado na alma pelo Espírito Santo.

Assim é também em assuntos sobre as coisas de Deus. O professo fútil pode conversar loquazmente, e muitas vezes, de modo ortodoxo, de “doutrinas”, sim, e de coisas terrenas também: de acordo com a sua disposição, ou dependendo da sua audiência, assim é o seu tema. Mas o filho de Deus, embora sendo pronto para ouvir o que é para edificação, é “tardio para falar”. Oh, meu leitor, cuidado com pessoas que falam muito; um tambor faz bastante barulho mas é vazio por dentro! “Muitos proclamam a sua própria benignidade, mas o homem fidedigno quem o achará?” (Pv 20:6). Quando um santo de Deus abre os seus lábios para falar de assuntos espirituais, é para dizer o que o Senhor, em Sua infinita misericórdia, tem feito por ele; mas o religioso carnal está ansioso sempre para que os outros saibam o que ele “tem feito pelo Senhor”.

A diferença é evidente da mesma forma, entre o crente genuíno e o crente nominal, com relação à vida diária: conquanto este último possa parecer exteriormente justo, ainda assim por dentro está “cheio de hipocrisia e iniqüidade” (Mt 23:28). Eles colocarão a pele de uma verdadeira ovelha, mas na realidade são “lobos em pele de ovelhas”. Mas os filhos de Deus têm a natureza da ovelha, e aprendem dAquele que é “manso e humilde de coração”, e como eleitos de Deus se revestem de “ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade” (Cl 3:12). Eles são em secreto o que são em público. Eles adoram a Deus em espírito e em verdade, e têm a sabedoria bem guardada no coração.

Também é assim no fim de suas vidas. Um professo vazio pode morrer tão fácil e tranqüilamente como viveu – abandonado pelo Espírito Santo, e não perturbado pelo diabo; como diz o salmista: “para ele não há preocupações” (Sl 73:4). Mas isso é muito diferente do fim daquele cuja consciência, profundamente sulcada e reconhecidamente corrompida, foi “aspergida” com o precioso sangue de Cristo: “Observa o homem íntegro, e atenta no que é reto; porquanto o homem de paz terá posteridade” (Sl 37:37) – sim, uma paz “que excede todo o entendimento”. Tendo vivido a vida do justo, ele morre a “morte do justo” (Nm 23:10).

E o que é que distingue um caráter do outro, onde está a diferença entre o crente genuíno e o que é apenas no nome? Nisto: uma fé dada por Deus e implantada no seu coração pelo Espírito. Não um mero concordar intelectual com a Verdade, mas um vivo, espiritual, e vital principio no coração – uma fé que “purifica o coração” (At 15:9), que “atua pelo amor” (Gl 5:6), que “vence o mundo” (I Jo 5:4). Sim, uma fé que divinamente mantida em meio a provações por dentro, e de oposições por fora; uma fé que exclama “ainda que me mate, nEle confiarei” (Jó 13:15).

É bem verdade que essa fé não está sempre em atuação, nem é igualmente forte em todo o tempo em atuação, nem é igualmente forte todo o tempo. O beneficiário dela deve ser ensinado por dolorosa experiência que da mesma forma como ele não a criou, ele também não pode comandá-la; por essa razão ele se volta para o seu Autor e diz: “Senhor eu creio, ajuda-me com a minha falta de fé”. E é assim para que quando ler a Palavra seja capaz de apossar-se das suas preciosas promessas; quando prostar-se diante do trono da graça, ele seja capaz de lançar o seu fardo sobre o Senhor; quando ele levantar-se para seus deveres temporais, seja capaz de apoiar-se nos braços eternos; e quando ele for chamado a passar pelo vale da sombra da morte, clame triunfante “não temerei mal nenhum, porque Tu estás comigo” . “Senhor aumenta-nos a fé”.

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Bíblia Encorajamento

Versículos de encorajamento

Bem-aventurado o homem cuja força está em Ti, em cujo coração estão os caminhos aplanados.

(Salmos 84.5)

O Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão.

(Salmos 84.11)

Senhor dos Exércitos, bem-aventurado o homem que em Ti põe a sua confiança.

(Salmos 84.12)

Isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à Minha voz, e Eu serei o vosso Deus, e vós sereis o Meu povo; e andai em todo o caminho que Eu vos mandar, para que vos vá bem.

(Jeremias 7.23)

Assim diz o Senhor Deus: Ai dos profetas loucos, que seguem o seu próprio espírito e que nada viram.

(Ezequiel 13.3)

Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os Seus caminhos justos são; Deus é a verdade, e não há Nele injustiça; justo e reto é.

(Deuteronômio 32.4)

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a Sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos.

(1Pedro 1.3)

Assim diz o SENHOR que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque Eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és Meu.

(Isaías 43.1)

Nunca terão fome, nem sede, nem o calor nem o sol os afligirá; porque O [Senhor] que se compadece deles os guiará e os levará mansamente aos mananciais das águas.

(Isaías 49.10)

Eis que Deus é a minha salvação; Nele confiarei e não temerei, porque o Senhor Deus é a minha força e o meu cântico, e se tornou a minha salvação.

(Isaías 12.2)

Porque os montes se retirarão e os outeiros serão abalados; porém a Minha benignidade não se apartará de ti, e a aliança da Minha paz não mudará, diz o Senhor que se compadece de ti.

(Isaías 54.10)

Ele [Deus] revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas e com Ele mora a luz.

(Daniel 2.22)

Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus; quanto a eles, é Ele, sim, blasfemado, mas quanto a vós, é glorificado.

(1Pedro 4.14)

O Senhor está comigo; não temerei o que me pode fazer o homem.

(Salmos 118.6)

Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do Seu servo? Quando andar em trevas e não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor e firme-se sobre o seu Deus.

(Isaías 50.10)

Em paz também me deitarei e dormirei, porque só Tu, Senhor, me fazes habitar em segurança.

(Salmos 4.8)

Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas e nos currais não haja gado; todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação.

(Habacuque 3.17, 18)

Bem-aventurado o homem que suporta a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que O amam.

(Tiago 1.12)

Não serão envergonhados nos dias maus, e nos dias de fome se fartarão.

(Salmos 37.19)

Saberás, pois, que o Senhor, teu Deus, Ele é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que O amam e guardam os Seus mandamentos.

(Deuteronômio 7.9)

Meus irmãos, tomai por exemplo de aflição e paciência os profetas que falaram em nome do Senhor.

(Tiago 5.10)

Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento.

(Provérbios 3.5)

Reconhece-O em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas.

(Provérbios 3.6)

Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal.

(Provérbios 3.7)

[Deus] levanta o pobre do pó e desde o monturo exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do Senhor são os alicerces da terra, e assentou sobre eles o mundo.

(1Samuel 2.8)

Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor o sustém com a Sua mão.

(Salmos 37.24)

Assim como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que O temem. Pois Ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó.

(Salmos 103.13, 14)

Aniquilará a morte para sempre e, assim, enxugará o Senhor Deus as lágrimas de todos os rostos e tirará o opróbrio do Seu povo de toda a terra; porque o Senhor o disse.

(Isaías 25.8)

Ensina-me a fazer a Tua vontade, pois és o meu Deus. O Teu Espírito é bom; guie-me por terra plana.

(Salmos 143.10)

[Disse Jesus:] Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.

(Apocalipse 3.11)

É melhor confiar no Senhor do que confiar no homem.

(Salmos 118.8)

Não poderei Eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel?, diz o Senhor. Eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na Minha mão, ó casa de Israel.

(Jeremias 18.6)

Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos.

(Filipenses 4.4)

Foge também das paixões da mocidade; e segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor.

(2Timóteo 2.22)

Invoquei o Senhor na angústia; o Senhor me ouviu e me tirou para um lugar largo.

(Salmos 118.5)

Ah! nosso Deus, porventura não os julgarás? Porque em nós não há força perante esta grande multidão que vem contra nós e não sabemos o que faremos; porém os nossos olhos estão postos em Ti.

(2Crônicas 20.12)

Deus faz com que o solitário viva em família; liberta aqueles que estão presos em grilhões; mas os rebeldes habitam em terra seca.

(Salmos 68.6)

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Vida cristã

Submissão e desobediência (Ralph Mahoney)

Introdução

É possível ser submisso e, ao mesmo tempo, desobedecer. Paulo nos diz em Romanos 13.1-2: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade, resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação.”

Poderíamos pensar que essa passagem ensina obediência incondicional a qualquer classe de autoridade. Na realidade, ela deve ser aplicada aos governadores descritos no verso 3, que diz: “Porque não são para temor quando se faz o bem, e, sim, quando se faz o mal”. Mas alguns governantes são o oposto disso. Eles aterrorizam os que fazem o bem e recompensam os que fazem o mal.

Estive em Uganda depois que Idi Amim assumiu o poder. Ele era um bom exemplo daquele tipo de governante iníquo. E eu afirmo que obedecer a pessoas como ele não é a vontade de Deus para as nossas vidas.

Realizamos um seminário em Burundi, em 1969, e havia uma atmosfera de tumulto no país. Várias centenas de irmãos africanos assistiram ao seminário. Eram homens de Deus muito amados. Logo depois do nosso seminário, aquele país teve uma mudança de governo.

Dois grupos de tribos rivais compunham a base da população de Burundi. Um dos grupos era amigável aos europeus, mas o outro lhes era hostil. Foi este grupo hostil que tomou o poder. O resultado foi uma guerra civil. Houve uma carnificina. Entre outras coisas, o novo governo ordenou que todos os pastores se apresentassem para serem presos (a tribo que mantinha amizade com os europeus era bem evangelizada). Para nossa consternação, alguns dos pastores que assistiram ao nosso seminário se apresentaram e foram mortos. Eles tinham um conceito errado acerca de submissão. Eram homens a quem eu havia ministrado. Muitos deles eu considerava como amigos.

Isso me fez revisar alguns ensinamentos sobre submissão muito em voga nos nossos dias. Não havíamos ensinado nada acerca de submissão àqueles pastores. Mas gostaria que tivéssemos prestado mais atenção ao que o Espírito dizia naquele seminário, porque ele estava nos avisando sobre o tumulto que se avizinhava. Se tivéssemos instruído bem aqueles pastores a que não obedecessem a esse governo hostil e a que, pelo contrário, resistissem a ele e fugissem, muitos talvez estivessem vivos agora.

O governo e a liderança aos quais Deus quer que obedeçamos são aqueles que se fazem terror para as más obras e que condecoram as boas. Mas quando um líder ou governo fica enlouquecido, devemos resistir-lhe.

O Que é Submissão

Submissão não tem nada a ver com a obediência em si. Submissão não é uma obediência inquestionável à autoridade; não é a resposta cega a todo tipo de ordem. Submissão é uma atitude do coração. É uma vontade firme de seguir as instruções que não violem:

(1) o que Deus nos diz (At 4.17-30); ou

(2) o que a Bíblia nos ensina (Js 1.8; Is 8.20; At 17.11); ou

(3) o que nossa consciência nos diz (At 24.16; Rm 14.23; 1 Pe 2.19; 2 Co 4.2; 2 Co 1.12; 1 Co 8.7-12;10.29).

Dentro desses limites, é bom que nos submetamos àqueles que nos dirigem no Senhor, no governo, na sociedade e no lar. Fora desses limites, devemos aprender a desobedecer, mantendo sempre no coração uma atitude de submissão.

Três Jovens Hebreus

O rei Nabucodonosor fez um grande ídolo de ouro (Dn 3) e o erigiu na planície de Dura. Para a dedicação do ídolo, ele estabeleceu as regras pelas quais todo o povo se prostraria e adoraria a imagem. Qualquer um que deixasse de cumprir esta ordem seria lançado na fornalha ardente.

Isso se transformou numa situação difícil para os três jovens hebreus, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Eles eram submissos e queriam servir ao rei, mas disseram-lhe: “Ó Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste” (Dn 3.16-18).

Esses homens tinham coragem. Eles eram submissos. Mas o que o rei pedia contrariava as Escrituras. Por isso foram lançados na fornalha ardente, mas Deus estava com eles e os manteve vivos e salvos.

Os Apóstolos

No Novo Testamento, os apóstolos foram presos por pregar o evangelho (At 4). No dia seguinte, os membros do Sinédrio chamaram a sua atenção para que não pregassem mais sobre Jesus. Mas Pedro insistiu em afirmar que para eles era mais importante obedecer a Deus que aos homens. Completamente frustradas, as autoridades deixaram-nos ir embora. Mais tarde, porém, as autoridades ficaram ainda mais alarmadas pelas atividades dos apóstolos.

“Levantando-se, porém, o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, isto é, a seita dos saduceus, tomaram-se de inveja, prenderam os apóstolos e os recolheram à prisão pública. Mas, de noite, um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, lhes disse: Ide e, apresentando-vos no templo, dizei ao povo todas as palavras desta vida” (At 5.17-20).

Onde houver líderes hostis ao evangelho ou aos mandamentos de Deus, devemos resistir-lhes. Deus é a mais alta autoridade e devemos ser submissos a ele em todo o tempo. Esses homens não eram rebeldes. Eles queriam apenas seguir ordens razoáveis. Mas quando as autoridades se tornam um terror para as boas obras, ou quando suas ordens violam os mandamentos de Deus, então devemos obedecer a Deus antes que aos homens. E da mesma forma como o Senhor ficou ao lado dos três na fornalha ardente, ele enviou o seu anjo à prisão para libertar os apóstolos.

Jônatas, um Filho de Rei

Jônatas era filho de Saul e este lhe disse que matasse Davi (1 Sm 19.1). Eu creio que os filhos devem obedecer a seus pais. A Bíblia ensina assim. Mas quando Jônatas recebeu ordem de matar, qual era sua obrigação diante da Palavra, diante de Deus e dos propósitos divinos? Era obedecer a Deus e desobedecer a seu pai. Nem sempre submissão significa obediência.

Jônatas não era um rebelde; era submisso. Mas foi desobediente neste caso. Desobedeceu a Saul porque Saul era um líder a quem Deus já havia rejeitado.

Há muitos líderes no mundo de hoje os quais o Senhor rejeitou. Deus requer de nós que nos alinhemos com sua Palavra e seus propósitos e não obedeçamos a tais líderes. Submissos, sim; obedientes, não.

Talvez haja no seu emprego pessoas que querem que você minta e defraude em favor da empresa, ou que acompanhe líderes sindicais trapaceiros. Você não deve violar as Escrituras à guisa de estar em submissão. A sua responsabilidade é tomar uma posição aberta em favor daquilo que é certo.

As Parteiras Hebréias

As parteiras hebréias de Êxodo 1 também nos instruem neste assunto. “O rei do Egito ordenou às parteiras hebréias, das quais uma se chamava Sifrá, e a outra Puá, dizendo: Quando servirdes de parteira às hebréias, examinai: se for filho, matai-o, mas se for filha, que viva. As parteiras, porém, temeram a Deus, e não fizeram como lhes ordenara o rei do Egito, antes deixaram viver os meninos” (vv. 15-17). Viva! para mulheres como estas que se levantam contra o mandado do rei, porque temem mais a Deus do que ao rei. “E porque as parteiras temeram a Deus, ele lhes constituiu família” (v. 21). Elas foram premiadas por sua fiel desobediência.

Não estou aqui encorajando a rebelião contra o que é certo, justo e bom.

Necessitamos de autoridade se queremos ordem. Todos nós devemos aprender a submissão. Mas uma obediência inquestionável ou cega a uma liderança errada não é a vontade de Deus para nossas vidas.

A Esposa Que Morreu

“Entretanto, certo homem, chamado Ananias, com sua mulher Safira, vendeu uma propriedade, mas de acordo com sua mulher, reteve parte do preço, e, levando o restante, depositou-o aos pés dos apóstolos” (At 5.1). Estavam fazendo aquilo para demonstração exterior, tentando fazer o povo crer que eram espirituais quando, na verdade, em seus corações, estavam agarrados ao dinheiro.

Deus julgou-os por hipocrisia. Primeiro, Ananias entrou e contou sua história enganosa e, logo em seguida, morreu. Depois, sua esposa Safira entrou e ratificou a mesma versão. Ela morreu porque estava em cumplicidade com o erro. Mesmo sendo uma esposa submissa, ela deveria ter desobedecido. Safira teria permanecido viva se tivesse deixado de cooperar com o plano do seu marido. Necessita-se de muito mais coragem para desobedecer do que para seguir a multidão.

Quem sabe você é uma mulher cristã, casada com um marido descrente; não é fácil quando ele lhe pede para fazer algo errado. Talvez ele queira que você o acompanhe em filmes censurados ou que faça outra coisa que você sabe ser errada. Não viole sua consciência nem as Escrituras quando aplicadas à sua vida, pois você dará contas a Deus pela maneira como recebeu essas autoridades superiores.

Isso nos coloca numa posição bem apertada no lar, no emprego, no governo ou onde quer que sejamos chamados a estar comprometidos com aquilo que é reto. Temos que desobedecer às ordens pecaminosas, senão sofreremos as conseqüências. Eu mesmo tive que abandonar certas organizações quando descobri desonestidade, infidelidade e manipulação do povo de Deus por trás de tudo! Deus deixa de contar conosco quando fazemos parte de algo errado.

Conclusão

“Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade: porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor” (Gl 5.13). Se é verdade que em algumas ocasiões devemos desobedecer, isso não deve servir para facilitar a manifestação de nossos desejos oportunistas ou fortalecer nossa obstinação natural e desejo de conseguir nossa própria vontade. Também não é uma forma de fugir de nossa responsabilidade quanto ao bom relacionamento com o cônjuge, o patrão ou o governo. Tendo dito isso, nunca comprometamos nossa integridade quando estivermos em situações que requeiram uma posição inequívoca de submissão às mais altas autoridades que são Deus, sua Palavra e as exigências de nossa consciência.

Devemos estar prontos a sermos impopulares, mal-entendidos, a passarmos por tolos, se necessário, pela causa de Cristo, a fim de manter sempre nossa integridade e comunhão com o Senhor. Porque quando estivermos na presença do Senhor no dia do juízo, seremos galardoados por nossa fiel obediência a ele somente. Se temos sido fiéis, mesmo que isso nos custe amizades cortadas e relacionamentos desfeitos nesta vida, Deus nos honrará naquele dia.

Não devemos endossar passivamente a maldade. Devemos usar nossa influência para combater o mal. Isto vai requerer de nós que estejamos sempre submissos e que desobedeçamos quando necessário.

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Estudo bíblico J. I. Packer Vida cristã

Os Pecados Não São Todos Iguais

Essa pergunta nos conduz para dentro do que tem sido, para muitos evangélicos, um território inexplorado. Pensamos na conversão como o momento em que a culpa de todos os nossos pecados – do passado, do presente e do futuro, são lavados pelo  sangue remidor de Cristo. Como pecadores justificados pela fé e herdeiros de sua glória prometida, nos regozijamos na salvação e não atinamos mais para as subsistentes deficiências e como Deus pode ainda “pesá-las”.

Se questionados, explicamos nossa posição é a da verdadeira segurança evangélica. Mas o que é isso?

Os puritanos históricos também eram evangélicos, mas divergiam de nós nesse ponto  consideravelmente. Lembravam que Cristo nos havia ensinado a orar diariamente por perdão. Um dos exercícios de disciplina espiritual deles (que ainda não é nosso, geralmente) era o auto-exame toda a noite a fim de discernir quais atos em particular, praticados ou omitidos, pelos quais eram passiveis de pedido de perdão.

Em primeiro plano em suas mente estava a santidade de Deus, o temor diante de sua ira, e da sua maravilhosa longanimidade em educar e corrigir seus irresponsáveis e recalcitrantes filhos. Nessa realidade se contextualizava a certeza que tinham de que o  sangue precioso de Cristo de fato limpava os arrependidos de todos os pecados. A maioria dos evangélicos posteriores não chega ao pé deles. Estamos quase todos fora do passo marcado por eles.

A Escritura ensina que na avaliação de Deus alguns pecados são piores e implicam em maior culpa do que outros. Alguns pecados nos causam maior dano. Moisés classifica a derrocada do bezerro de ouro como um grande pecado (Ex. 32:30). Ezequiel em sua terrível alegoria disse que depois de que Aolá (Samaria) arruinou-se pela sua infidelidade a Deus, Aolibá (Jerusalém) “tornou-se mais corrupta … e sua luxúria e lascívia eram piores do que as de sua irmã” (Ez 23:11). João distingue pecados que não são dos que são irremediavelmente para a morte (1Jo 5:16). Isso tudo sem contar a advertência de Jesus acerca do pecado imperdoável (Mc 3:28-30).

As perguntas nºs 151 e 152 do Catecismo Maior de Westminster, de produção puritana, trazem clareza à matéria quando analisa os agravantes dos pecados, assim provendo meios de discernir a gravidade e a culpa deles. Sobre um prisma, todos os pecados são iguais por mais triviais que nos pareçam. Eles são dignos da “ira e maldição de Deus, tanto nessa vida como na vindoura e não podem ser expiados senão pelo sangue de Cristo.” Nenhum pecado é pequeno quando é cometido contra o grande e benevolente Deus. Por outro lado, porém, a gravidade de cada transgressão depende uma série de fatores.

Primeiro na medida em que os transgressores são mais conhecidos, aos olhos do público e são considerados dignos de fé pública, “guia para os outros, e que serves de modelo para serem seguidos por outros.” Por exemplo, Salomão em 1 Reis 11:9-10 e o servo negligente em Lucas 12:48-49- pessoas reconhecidamente confiáveis flagradas em pecado; Natã descrevendo o pecado de Davi com Bete-Seba em 2 Samuel 12:7-10; e os judeus apresentados como guias portadores da luz do céu em Romanos 2:17-23.

Segundo, as transgressões são categorizadas em função das pessoas ofendidas, ou seja, numa graduação que vai do Pai, Filho e Espírito Santo para “qualquer dos santos, particularmente o irmão mais fraco”. Por exemplo, ha os que publicamente desonram a Cristo, em Hebreus 10:28-29; e os que levam as pessoas a tropeçarem em Mateus 18:6, Romanos 14:13-15, e 1 Coríntios 8:9-12.

Terceiro, na medida em que se desfia a consciência e a censura impostas pelos outros, os transgressores agem “deliberadamente, intencionalmente, presunçosamente, impudentemente, orgulhosamente, maliciosamente, freqüentemente, obstinadamente, com gáudio, contumácia, ou reincidência após o arrependimento”. Assim temos um desafio cumulativo a Deus em Jeremias 5:8 e Amos 4:8-11; indiferença à consciência e correção em Romanos 1:32 e Mateus 18:15-17; e recaída da graça em 2 Pedro 2:20-22.

Quarto, as “circunstâncias dos tempos e lugares,” fazem o mal ser pior – por exemplo, a junção de pecado com a religiosidade hipócrita em Ezequiel 23:37-39, e envolvimento de outros no pecado de alguém em 1 Samuel 2:22-24.

Finalmente, há o pecado imperdoável, a resistência obstinada à luz do Espírito acerca da divindade e graça de Jesus Cristo, que leva a retirada de qualquer possibilidade de fé e arrependimento, e sua conseqüência letal. Sua natureza está evidente em Mateus 12:31-32 e Marcos 3:28-30.

Precisamos aprender a ver o pecado de forma translúcida, tratar a nós mesmos de forma realista e repudiá-lo e odiá-lo de todo o coração.

J. I. Packer is Board é da Junta de Dirigentes e Professor de Teologia do Regent College e Editor Executivo de Christianity Today.

Tradução de Anamim Lopes Silva

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Jejum Oração

João Crisóstomo sobre jejum

Você jejua? Dê-me prova disto por suas obras.
Se você vê um homem pobre, tenha piedade dele.
Se você vê um amigo sendo honrado, não o inveje.
Não deixe que somente a sua boca jejue, mas também o olho e o ouvido e o pé e as mãos e todos os membros de nossos corpos.
Que as mãos jejuem, sendo livres de avareza.
Que os pés jejuem, cessando de correr atrás do pecado.
Que os olhos jejuem, disciplinando-os a não fitarem o que é pecaminoso.
Que os ouvidos jejuem, não ouvindo conversas más e fofocas.
Que a boca jejue de palavras vis e de criticismo injusto.
Porque, qual é o proveito se nos abstemos de aves e peixes, mas mordemos e devoramos os nossos irmãos?
Possa Aquele que veio ao mundo para salvar pecadores nos fortalecer para completarmos o jejum com humildade, tendo misericórdia de nós e nos salvando.

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Cristo Vida cristã Watchman Nee

A Autoridade da Vida (Watchman Nee)

De acordo com Romanos 12.4, no Corpo de Cristo há muitos membros – cada um com seu lugar e função particulares, pois Deus fez todos os membros diferentes um do outro. A pergunta que precisamos analisar é: como podem todos esses membros, com suas funções variadas, serem ajustados e ligados como um só Corpo.

A Autoridade da Cabeça

O primeiro princípio do viver no Corpo de Cristo é estar em sujeição à autoridade da Cabeça, visto que a própria existência do Corpo, com suas funções e atividades variadas, depende da autoridade.

Sempre que a autoridade perde seu terreno em nós, o corpo é imediatamente paralisado. Aquela parte do corpo que é desobediente é a parte que experimenta a paralisia. O corpo que não se sujeita ao comando da cabeça é apenas um corpo paralisado. Onde existe a vida, existe autoridade. É inconcebível rejeitar a autoridade e ainda receber vida.

Todos os que estão cheios de vida são obedientes à autoridade. Como, por exemplo, minha mão física pode ter vida e ao mesmo tempo resistir ao controle da cabeça?

Minha mão está viva porque pode ser comandada pela cabeça. O próprio viver da mão significa que minha cabeça é capaz de dirigi-la e utilizá-la. O mesmo é verdadeiro com respeito ao relacionamento entre qualquer membro do Corpo de Cristo e a Cabeça. O primeiro princípio para cada membro que vive no Corpo de Cristo, portanto, é obedecer ao Senhor, que é a Cabeça.

Se você e eu não formos tratados até chegar ao ponto de nos tornarmos obedientes, então o que sabemos sobre o Corpo é meramente doutrinário por natureza, e não um assunto de vida. Que bênção é ter Deus tratando nossa vida natural, fazendo com que estejamos em sujeição a Cristo, a Cabeça!

Devemos buscar a obediência diariamente. Não só precisamos buscar oportunidades que nos façam avançar espiritualmente a fim de que nos tornemos santos e justos, mas também precisamos buscar diante de Deus cada oportunidade de obedecer, para que também aprendamos a obediência.

A Autoridade dos Membros

O segundo princípio do viver no Corpo é que nenhum membro tem qualquer autoridade, pois a autoridade está somente na Cabeça. Seria um sério erro se um membro alegasse possuir autoridade em si mesmo. Um membro não possui autoridade direta; ele tem apenas a autoridade que lhe foi delegada pela Cabeça. E essa autoridade não é apenas posicional, mas é totalmente decorrente da vida. Essa autoridade não vem por meio da nomeação, mas pelo ser.

Se um membro não é um olho, o Corpo não pode estabelecê-lo como olho. Se não é mão, o Corpo não pode fazer dele mão pelo simples fato de nomeá-lo como tal. Um membro tem a autoridade de segurar ou de ver somente porque ele pode segurar ou ver. E visto que ele atua de acordo com essa norma, as pessoas recebem ajuda.

É um erro muito estúpido se, em uma igreja, a autoridade está relacionada à posição e não à vida, se uma pessoa é nomeada por causa de sua posição social e não por sua espiritualidade. A Palavra de Deus claramente nos mostra que a autoridade está na vida, não na posição ou no histórico de alguém. A autoridade é estabelecida em uma pessoa em decorrência de seu viver, não por meio da nomeação. Essa pessoa, em sua vida pessoal e corporativa, experimentou tratamentos em questões práticas e aprendeu o que outras pessoas ainda estão por aprender. No Corpo de Cristo, toda autoridade procede da vida.

Ainda que, em uma assembléia local, haja nomeações pela direção de Deus, ainda assim não devem ser feitas de acordo com a posição, mas de acordo com a vida. Quando a vida e a nomeação concordam, você deve se submeter; de outro modo, a vida cessará em você e você será deslocado do Corpo – significando com isso que você não se mantém ligado firmemente à Cabeça. Se existe algo errado entre você e outro irmão, você não pode dizer que tem um relacionamento normal com a Cabeça. Se fez mal a outro membro do Corpo, pode ser que você não esqueça de nenhum ensinamento e pode até continuar em sua obra de ministério como antes, porém você perdeu a Palavra da vida.

Portanto, na Igreja, precisamos aprender a submetermo-nos uns aos outros. Se os membros não se submetem mutuamente, a vida mencionada em Romanos 8 não poderá se manifestar. Pelo contrário, os irmãos sentirão como se o ar lhes faltasse – dificilmente eles conseguirão prosseguir. Porém, aqueles que discernem o Corpo de Cristo consideram a submissão a mais jubilosa prática.

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A. W. Tozer Cristo Evangelho

Aceitar a Jesus? (A. W.Tozer)

Nosso relacionamento com Cristo é uma questão de vida ou morte. O homem que conhece a Bíblia sabe que Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores e que os homens são salvos apenas por Ele, sem qualquer influência por parte de quaisquer obras praticadas.

“O que devo fazer para ser salvo?”, devemos aprender a resposta correta. Falhar neste ponto não envolve apenas arriscar nossas almas, mas garantir a saída eterna da face de Deus.

Os cristãos “evangelicais” fornecem três respostas a esta pergunta ansiosa: “Creia no Senhor Jesus Cristo”, “Receba Cristo como seu Salvador pessoal” e “Aceite Cristo”. Duas delas são extraídas quase literalmente das Escrituras (At 16:31; João 1:12), enquanto a terceira é uma espécie de paráfrase, resumindo as outras duas. Não se trata então de três, mas de uma só.

Por sermos espiritualmente preguiçosos, tendemos a gravitar na direção mais fácil a fim de esclarecer nossas questões religiosas, tanto para nós mesmos como para outros; assim sendo, a fórmula “Aceite Cristo” tornou-se uma panacéia de aplicação universal, e acredito que tem sido fatal para muitos. Embora um penitente ocasional responsável possa encontrar nela toda a instrução que precisa para ter um contato vivo com Cristo, temo que muitos façam uso dela como um atalho para a Terra Prometida, apenas para descobrir que ela os levou em vez disso a “uma terra de escuridão, tão negra quanto as próprias trevas; e da sombra da morte, sem qualquer ordem, e onde a luz é como a treva”.

A dificuldade está em que a atitude “Aceite Cristo” está provavelmente errada. Ela mostra Cristo suplicando a nós, em lugar de nós a Ele. Ela faz com que Ele fique de pé, com o chapéu na mão, aguardando o nosso veredicto a respeito dEle, em vez de nos ajoelharmos com os corações contritos esperando que Ele nos julgue. Ela pode até permitir que aceitemos Cristo mediante um impulso mental ou emocional, sem qualquer dor, sem prejuízo de nosso ego e nenhuma inconveniência ao nosso estilo de vida normal.

Para esta maneira ineficaz de tratar de um assunto vital, podemos imaginar alguns paralelos; como se, por exemplo, Israel tivesse “aceito” no Egito o sangue da Páscoa, mas continuasse vivendo em cativeiro, ou o filho pródigo “aceitasse” o perdão do pai e continuasse entre os porcos no país distante. Não fica claro que se aceitar Cristo deve significar algo? É preciso que haja uma ação moral em harmonia com essa atitude!

Ao permitir que a expressão “Aceite Cristo” represente um esforço sincero para dizer em poucas palavras o que não poderia ser dito tão bem de outra forma, vejamos então o que queremos ou devemos indicar ao fazer uso dessa frase.

“Aceitar Cristo” é dar ensejo a uma ligeira ligação com a Pessoa de nosso Senhor Jesus, absolutamente única na experiência humana. Essa ligação é intelectual, volitiva e emocional. O crente acha-se intelectualmente convencido de que Jesus é tanto Senhor como Cristo; ele decidiu segui-lo a qualquer custo e seu coração logo está gozando da singular doçura de Sua companhia.

Esta ligação é total, no sentido de que aceita alegremente Cristo por tudo que Ele é.

Não existe qualquer divisão covarde de posições, reconhecendo-o como Salvador hoje, e aguardando até amanhã para decidir quanto à Sua soberania.

O verdadeiro crente confessa Cristo como o seu Tudo em todos sem reservas. Ele inclui tudo de si mesmo, sem que qualquer parte de seu ser fique insensível diante da transação revolucionária.

Além disso, sua ligação com Cristo é toda-exclusiva. O Senhor torna-se para ele a atração única e exclusiva para sempre, e não apenas um entre vários interesses rivais. Ele segue a órbita de Cristo como a Terra a do Sol, mantido em servidão pelo magnetismo do Seu afeto, extraindo dEle toda a sua vida, luz e calor. Nesta feliz condição são-lhe concedidos novos interesses, mas todos eles determinados pela sua relação com o Senhor.

O fato de aceitarmos Cristo desta maneira todo-inclusiva e todo-exclusiva é um imperativo divino. A fé salta para Deus neste ponto mediante a Pessoa e a obra de Cristo, mas jamais separa a obra da Pessoa. Ele crê no Senhor Jesus Cristo, o Cristo abrangente, sem modificação ou reserva, e recebe e goza assim tudo o que Ele fez na Sua obra de redenção, tudo o que está fazendo agora no céu a favor dos seus, e tudo o que opera neles e através deles.

Aceitar Cristo é conhecer o significado das palavras: “pois, segundo ele é, nós somos neste mundo” (1 João 4:17). Nós aceitamos os amigos dEle como nossos, Seus inimigos como inimigos nossos, Sua cruz como a nossa cruz, Sua vida como a nossa vida e Seu futuro como o nosso.

Se é isto que queremos dizer quando aconselhamos alguém a aceitar a Cristo, será melhor explicar isso a ele, pois é possível que se envolva em profundas dificuldades espirituais caso não explanarmos o assunto.

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Encorajamento Vida cristã

Sofrimento e coroa

“Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e (…) mesmo em face da morte, não amaram a própria vida.”
(Ap 12.11)

Quando Tiago e João vieram a Cristo com sua mãe, pedindo-Lhe para lhes dar o melhor lugar do reino, Ele não lhes recusou o pedido, mas disse que seriam atendidos se pudessem fazer Sua obra, beber Seu cálice e ser batizados com Seu batismo.

Queremos nós a competição? As coisas melhores estão sempre cercadas pelas mais difíceis, e nós também encontraremos pela frente montanhas, florestas e carros de ferro. O sofrimento é o preço da coroação. Arcos de triunfo não são entretecidos com rosas e cordões de seda, mas com golpes rijos e cicatrizes sangrentas. As próprias dificuldades que você está enfrentando na vida hoje lhe são dadas pelo Mestre com o propósito explícito de capacitá-lo a ganhar sua coroa.

Não fique esperando uma situação ideal, por alguma dificuldade romântica, por alguma emergência distante. Levante-se para enfrentar as condições que a providência de Deus colocou à sua volta hoje. Sua coroa de glória está engastada no centro dessas coisas, dessas dificuldades e provas que o estão apertando neste momento, nesta semana, neste mês de sua vida. As coisas mais difíceis não são as que o mundo vê. Lá no fundo de sua alma, invisível a todos, menos a Jesus, há certa provação que você não se atreveria a mencionar, e que para você é mais difícil de suportar do que o martírio.

Ali, amado, está sua coroa. Deus o ajude a vencer e a usá-la um dia.

(Mananciais no Deserto, Lettie Cowman, meditação do dia 16 de novembro)

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Martin Lloyd-Jones Vida cristã

A parábola do filho pródigo

Dr. David Martin Lloyd-Jones

”E disse: Um certo homem tinha dois filhos. E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte da fazenda que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda. E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua e ali desperdiçou a sua fazenda, vivendo dissolutamente. E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades. E foi e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos. E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada. E, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus trabalhadores. E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço, e o beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti e já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão e sandálias nos pés, e trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos e alegremo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado. E começaram a alegrar-se. E o seu filho mais velho estava no campo; e, quando veio e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças. E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou e não queria entrar. E, saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos. Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou a tua fazenda com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado. E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas. Mas era justo alegrarmo-nos e regozijarmo-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado” (Lucas 15:11-32)

Não há parábola ou discurso de nosso Senhor que seja tão conhecido e tão popular como a parábola do filho pródigo. Nenhuma outra parábola é citada com mais freqüência em discussões religiosas, ou mais usada para apoiar várias teorias ou controvérsias em relação a este assunto. E é verdadeiramente espantoso e admirável quando observamos as inumeráveis formas em que ela é usada, e a infinita variedade de conclusões a que afirmam que ela leva. Todas as escolas de pensamentos parecem ter uma reivindicação sobre a mesma: ela é usada para provar toda espécie de teorias e idéias opostas, que combatem umas às outras e que se excluem mutuamente. É bastante claro, portanto, que a parábola pode facilmente ser manipulada ou mal interpretada. Como podemos evitar esse perigo? Quais os princípios que devem nos orientar quando a interpretamos? Pessoalmente creio que há dois principais fundamentais que devem ser observados, e que se observados, garantirão uma interpretação correta.

O primeiro principio é que sempre devemos nos precaver do perigo de interpretar qualquer passagem das Escrituras de uma forma que entre em conflito com o ensino geral da Bíblia. O Novo Testamento deve ser examinado como um todo. É uma revelação completa e integral, dada por Deus através dos Seus servos – uma revelação que foi dada em partes que, unidas, formam uma unidade completa. Portanto, não há contradições entre essas várias partes, não há conflito nem passagens ou declarações irreconciliáveis. Isso não significa que podemos entender cada uma de suas declarações. O que estou dizendo é que não há contradição nas Escrituras e sugerir que os ensinos de Jesus Cristo e de Paulo, ou os ensinos de Paulo e dos demais apóstolos não concordam entre si é contrário a todas as reivindicações do Novo testamento em si, e as reivindicações da Igreja através dos séculos, até o levantamento da chamada escola da alta crítica, há cerca de cem anos atrás. Não preciso abordar a questão aqui. Basta dizer que são apenas os críticos mais superficiais, os que agora estão ultrapassando em muitos anos, que ainda tentam defender uma antítese entre o que chamam de “a religião de Jesus” e a “fé do apóstolo Paulo”. Escrituras devem ser comparadas com Escrituras. Cada teoria que desenvolvemos deve ser testada pelo conjunto geral de doutrinas e dogmas da Bíblia toda, e que foi definido pela Igreja. Se esta regra fosse lembrada e observada, a maioria das heresias jamais teria surgido.

O segundo principio é um pouco mais específico: sempre devemos evitar o perigo de chegar a conclusão negativas a respeito dos ensinos de uma parábola. Isso não se aplica somente a esta parábola em particular, mas a toda as parábolas. Uma parábola nunca tem o propósito de ser um esboço completo da verdade. Seu objetivo é comunicar uma grande lição, ou apresentar um grande aspecto de uma verdade positiva. Sendo esse o seu objetivo e propósito, nada é mais tolo do que chegar a conclusões negativas a respeito de uma parábola. A omissão de certas coisas numa parábola não tem qualquer significado particular. Uma parábola é importante e significativa por causa daquilo que ela diz, e não devido às coisas que não diz. O seu valor é exclusivamente positivo, e de forma alguma negativo. Ora, digo a vocês que a desconsideração desta simples regra tem sido responsável pela maioria das estranhas e fantásticas teorias e idéias supostamente desenvolvidas a partir desta parábola do filho pródigo. É impressionante que tal coisa tenha sido possível, pois se aquele que fizeram isso tão-somente tivessem examinado as outras duas parábolas que encontramos neste mesmo capítulo, teriam compreendido imediatamente até que ponto seus métodos foram injustificáveis. Porque então, não tiraram delas também conclusões negativas? E igualmente com todas as outras parábolas?

Mas, à parte disso, como é ridículo e ilógico, basear e estabelecer nosso sistema de doutrina sobre algo que não é dito! É por demais desonesto! Desonesto, porque ignora toda a autoridade, deixando-nos sem quaisquer padrões exceto nossos próprios preconceitos, desejos e imaginações. E isso, repito, é o que tem sido feito com esta parábola com tanta freqüência. Quero ilustrar isso, lembrando-lhes de algumas das falsas conclusões tiradas desta parábola. Não seria esta parábola a qual se referem constantemente quando tentam provar que idéias de justiça, juízo e ira são completamente estranhas à natureza de Deus e aos ensinos de Jesus a respeito dEle? “Não vemos nada aqui”, dizem, “acerca da ira do pai, nem qualquer exigência de certos atos por parte do filho – somente amor, puro amor, nada senão amor”. Este é um exemplo típico de uma conclusão negativa tirada desta parábola. Só porque ela não apresenta um ensino declarado sobre a justiça e ira de Deus, presumem que tais características não fazem parte da natureza de Deus. O fato de Jesus Cristo enfatizar essas características em outros textos é completamente ignorado. Outro exemplo é o ensino de que esta parábola elimina a absoluta necessidade de arrependimento. Ouvi falar de um pregador que tentou provar que o pródigo era um farsante, mesmo quando voltou para casa, que ele decidiu dizer algo que soasse bem, ainda que realmente não viesse do seu coração, apenas para impressionar o pai, e que a repetição exata de suas palavras provava isso. O ponto crucial era que, apesar de tudo isso, apesar da repetição hipócrita das palavras, ainda assim o pai o perdoou. O argumento final desse pregador era que o pai não disse uma palavra concernente ao arrependimento. Portanto, uma vez que ele nada disse a respeito, não é importante; uma vez que o arrependimento não é ensinado nem enfatizado pelo pai, isso significa que arrependimento diante de Deus não importa!

Mas talvez a mais séria de todas as conclusões falsas é aquela que declara que não há necessidade de um mediador entre Deus e o homem e que a idéia de expiação é estranha ao evangelho – a qual deve ser atribuída à mente legalista de Paulo. “A parábola não faz qualquer menção”, dizem, “de alguém entre o pai e o filho. Nenhuma referência é feita sobre outra pessoa pagando um resgate, ou fazendo uma expiação; vemos apenas uma interação direta entre o pai e o filho, resultante apenas da volta do filho daquela terra distante”. Desde que tais coisas não são mencionadas ou enfatizadas de forma específica na parábola, essas pessoas concordam que elas não são realmente importantes ou imprescindíveis. Como se o objetivo de nosso Senhor nesta parábola fosse apresentar um esboço completo de toda a verdade cristã, e não apenas ensinar um aspecto dessa verdade. Certamente deve ser óbvio para você que, se um processo semelhante fosse aplicado a todas as parábolas, teríamos um completo caos, e enfrentaríamos uma multidão de contradição!

O propósito de uma parábola, então, é nos apresentar e ensinar uma grande verdade positiva. E se há um caso em que isso deve ser claro e evidente, é no caso desta parábola. Não é por acaso que ela é parte de uma série de três parábolas. Nosso Senhor parece ter feito um esforço especial para nos proteger do perigo ao qual estou referindo. Contudo, mesmo à parte disso, a chave de tudo nos é oferecida nos dois primeiros versículos do capítulo, que nos fornecem o contexto essencial. “E chegavam-se a ele os publicamos para o ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: este recebe pecadores, e come com eles”.. Então se seguem estas três parábolas, obviamente com o objetivo de tratar dessa situação específica, e responder às objeções dos escribas e fariseus. E, como se desejasse acrescentar uma ênfase especial, nosso Senhor apresenta uma certa moral ou conclusão ao término de cada parábola. O elemento principal, certamente, é que há esperança para todos que o amor de Deus alcança, até mesmo publicanos e pecadores. A gloriosa verdade que brilha nesta parábola, e que o Senhor quer gravar em nós, é o maravilhoso amor de Deus, seu escopo e sua extensão; e isso é feito especialmente em contraste com as idéias dos fariseus e dos escribas sobre o assunto.

As primeiras duas parábolas têm o propósito de nos mostrar o amor de Deus expresso numa busca ativa do pecador, esforçando-se por encontrá-lo resgatá-lo; e elas nos mostram a alegria de Deus e de todas as hostes celestiais quando uma única alma é salva. E então chegamos a esta parábola do filho pródigo. Por que ela foi acrescentada? Por que essa elaboração suplementar? Por que um homem, em vez de uma ovelha ou moeda perdida? Certamente pode haver uma resposta. As primeiras duas parábolas enfatizam unicamente a atividade de Deus sem nos dizer coisa alguma a respeito das ações, reações ou condições do pecador; porém esta parábola é apresentada para realçar esse aspecto e esse lado da questão, para que ninguém seja tolo ao ponto de pensar que todos seremos salvos automaticamente pelo amor de Deus, assim como a ovelha e a moeda foram encontradas. O ponto fundamental ainda é o mesmo, mas sua aplicação aqui se torna mais direta e mais pessoal. Qual, então é o ensino desta parábola, qual é a sua mensagem para nós hoje? Vamos examiná-la à luz dos seguintes parâmetros.

A primeira verdade que ela proclama é a possibilidade de um novo começo, a possibilidade de um novo início, uma nova oportunidade, uma nova chance. O próprio contexto e cenário da parábola, como já mencionei, demonstra isso com perfeição. Foi porque eles sentiram e viram isso em Seus ensinos que os publicanos e pecadores “chegavam-se a ele para ouvir” – pois sentiam que havia uma oportunidade até mesmo para eles e que nos ensinos desse homem havia uma nova e viva esperança. E até mesmo os fariseus e os escribas viram exatamente a mesma coisa. O que irritava era que o Senhor tivesse qualquer tipo de associação com os publicanos e pecadores. Eles sempre tinham considerado tais pessoas como irrecuperáveis, sem qualquer esperança de redenção. Essa era a opinião ortodoxa de tais pessoas. Eram consideradas tão irremediáveis que eram totalmente ignoradas. A religião era para pessoas boas e nada tinha a ver com os que eram maus, e certamente nada tinha a lhes dar, nem aconselhava que boas pessoas se misturassem com os maus, tratando-os com bondade e oferecendo-lhes novas possibilidades. Então os ensinos de Senhor irritavam os fariseus e os escribas. Para eles qualquer um que visse possibilidade ou esperanças para um publicano ou pecador devia ser um blasfemo, e estava totalmente errado. Exatamente o mesmo ponto surge na parábola, nas diferentes atitudes do pai e do irmão mais velho para com o pródigo – não como ele devia ser recebido de volta, mas se ele devia ser recebido de volta, ou se merecia alguma coisa.

Isso, então é o que se salienta imediatamente. Existe a possibilidade de um novo começo, e isso para todos, mesmo para aqueles que parecem estar além de toda esperança. Não podia haver caso pior do que o do filho pródigo. Todavia até mesmo ele pode começar de novo. Ele chegara ao fim de si mesmo, tinha tocado os limites máximos da degradação, caindo tanto que não podia descer mais! Não há quadro mais desesperador do que o desse jovem, num país distante, em meio aos porcos, sem dinheiro e sem amigos, desesperançado e miserável, abandonado e desalentado. Mas até mesmo ele tem a oportunidade de um novo início; até mesmo ele pode começar outra vez. Há um ponto decisivo que pode resultar em êxito e felicidade, até mesmo para ele. Que evangelho abençoado, especialmente num mundo como o nosso! Que diferença a vida de Jesus Cristo operou! Ele trouxe nova esperança para a humanidade. Nada demonstra e prova mais o fato de que o evangelho de Jesus Cristo realmente é a única filosofia de vida otimista oferecida ao homem, do que publicanos e pecadores se chegarem a Ele para ouvi-lO. E a mensagem que ouviram, como nesta parábola do filho pródigo, era algo inteiramente novo.

Mas quero que observem que isso não só era novo para os judeus e os seus líderes, mas também para o mundo todo. A esperança estendida pelo evangelho aos mais vis e desesperados não só contrariava o miserável sistema dos judeus, mas também a filosofia dos gregos. Aqueles grandes homens tinham desenvolvido suas teorias e filosofias; todavia nenhum deles tinha algo a oferecer aos derrotados e liquidados. Todos exigiam um certo nível de inteligência, integridade moral e pureza. Todos requeriam muito da natureza humana à qual se dirigiam. Também não eram realistas. Escreviam e falavam de forma altamente intelectual e fascinante a respeito de suas utopias e suas sociedades ideais, mas deixavam a humanidade exatamente na mesma situação. Eram totalmente alienados à vida diária do homem comum. As únicas pessoas que podiam tentar colocar em prática seus métodos idealistas e humanísticos para resolver os problemas da vida eram os ricos e os desocupados, e mesmo estes invariavelmente descobriam que esses métodos não funcionavam. Não havia, como nunca houvera antes, qualquer esperança para os desesperados do mundo antes da vinda de Jesus Cristo. Ele foi o único que proclamou a possibilidade de um novo começo.

Ora, esse ensino não era novo apenas naquela época, durante os Seus dias aqui na terra; ainda é novo hoje em dia. Ainda é surpreendente e assombroso, e ainda espanta o mundo moderno tanto quanto espantou o mundo antigo há quase dois mil anos atrás. O mundo continua sem esperança e a filosofia que o controla ainda é profundamente pessimista. E isso talvez possa ser percebido com maior clareza quando ele tenta ser otimista, pois vemos que quando tenta nos confortar, ele sempre aponta para o futuro com suas possibilidades desconhecidas, e nos diz que no novo ano as coisas certamente serão melhores ou que de qualquer forma não podem piorar! E argumenta que a depressão já durou tanto que certamente uma mudança da maré deve ser iminente! Alegra-se que um ano terminou e outro vai começar. Qual é o segredo de um novo ano? Seu grande segredo está no fato de que nada sabemos a seu respeito! Tudo que sabemos é ruim; daí tentarmos nos consolar contemplando o que nos é desconhecido, imaginando que vai ser muito melhor. Ouçam também as suas idéias e seus planos para melhorar a humanidade. Tudo o que pode dizer é que está tentando tornar o mundo melhor para seus filhos, tentando edificar algo para o futuro e para a posteridade. Sempre no futuro! Nada tem a oferecer no presente; sua única esperança é tornar as coisas melhores para aqueles que ainda não nasceram. E quanto mais proclama isso e tenta colocá-lo em prática, mais hesitante se torna. Como prova, basta compararmos a linguagem de 1875 com a de 1935 ou mesmo a de 1905 com a de 1935.

Pois bem, se essa é a situação em relação à sociedade em geral, quanto mais desesperada e irremediável ela é quando considerada num sentido mais individual e pessoal! Que solução o mundo tem a oferecer para os problemas que nos afligem? A resposta a essa pergunta pode ser vista nos esforços frenéticos de homens e mulheres para tentarem resolver seus problemas. E, no entanto, nada é mais evidente do que o fato que seus esforços são inúteis e sempre fracassam. Ano após ano homens e mulheres fazem novas revoluções. Compreendem que, acima de tudo, o que precisam é de um novo começo. Decidem voltar as costas ao passado e virar uma nova página – ou, às vezes, começam um novo livro! Esse é o seu desejo, essa é sua firme decisão e intenção. Querem desvincular-se do passado, e por algum tempo fazem o possível para isso, mas nunca permanecem no intento. Ao poucos, inevitavelmente, voltam à sua velha posição e sua antiga situação. E depois de algumas experiências assim, acabam desistindo de tentar outra vez, e concluem que é tudo inútil. Lutam e se esforçam por algum tempo, mas finalmente a fadiga e o cansaço os vencem, a pressão e a força do mundo e suas filosofias parecem estar totalmente do outro lado, e eles entregam os pontos. A posição parece ser inteiramente sem esperança. Eu me pergunto: quantos, até mesmo aqui neste culto hoje, sentem que estão nessa situação, de uma forma ou outra? Meu amigo, você sente que perdeu o mundo, que se desviou? Sente-se constantemente assediado pelo que “podia ter sido”? Sente que está em tal situação, ou em tal posição, que não tem nenhuma esperança de sair dela e endireitar-se novamente? Sente que esta tão longe daquilo que devia ser e do que gostaria de ser, que não pode mais alcançá-lo? Você sente que não tem mais esperança por causa de alguma situação que está enfrentando, ou devido alguma complicação em que se envolveu, um pecado que o domina, o qual não consegue vencer? Você já disse a si mesmo: “Que adianta tentar outra vez? Já tentei tantas vezes antes, e sempre fracassei; tentar outra vez só pode produzir o mesmo resultado. Minha vida é uma confusão; perdi minha oportunidade e daí para frente devo me contentar em fazer o melhor que posso na situação em que estou”. São estes os seus sentimentos e pensamentos? Já está convencido que perdeu sua oportunidade na vida, que o que passou passou, e que se você tivesse outra oportunidade tudo seria diferente, todavia isso é impossível? É essa a sua posição? Coitado! Quantos estão em tal situação? Como é infeliz e sem esperança a vida da maioria dos homens e das mulheres! Como é triste! Ora, a primeira palavra do evangelho para os que estão nessa situação é que eles devem erguer suas cabeças, que nem tudo está perdido, que ainda há esperança, ainda há esperança de um novo começo, aqui e agora, neste momento, sem qualquer relação com algo imaginário e pertencente a um futuro desconhecido; mas algo que se baseia num fato que se passou há quase dois mil anos atrás, o qual ainda é tão poderoso hoje como era então. Até mesmo o pródigo tem esperança. Há um ponto de retorno no caminho mais tenebroso e irremediável. Há um novo começo oferecido até mesmo aos publicanos e pecadores.

Contudo, quero enfatizar em detalhes o que já mencionei de passagem: esta mensagem do evangelho não é algo geral e vago como a mensagem do mundo, mas é algo que contém condições muito definidas. E é aqui que vemos com maior clareza porque nosso Senhor proferiu essa parábola em acréscimo às outras duas. Para que possamos tirar proveito desse novo começo oferecido pelo evangelho, precisamos observar os seguintes pontos. Ouçam amigos, permitam que eu enfatize a importância de fazermos isso! Se vocês simplesmente ficarem sentados, ouvindo e permitindo que o quadro brilhante do evangelho os emocione, voltarão para casa exatamente como chegaram aqui. Todavia, se observarem cada ponto com cuidado, e o colocarem em prática, voltarão para casa como pessoas totalmente diferentes. Se estão ansiosos por tirarem proveito da nova esperança e do novo começo oferecido pelo evangelho, então devem seguir suas instruções e seus métodos. Pois bem, quais são eles?

O primeiro é que devemos enfrentar nossa situação com franqueza e honestidade. É uma coisa estar numa posição má e difícil, outra coisa completamente diferente é enfrentá-la com sinceridade. Este filho pródigo estava numa situação péssima por muito tempo antes de chegar ao ponto de realmente compreender isso. Uma pessoa não cai subitamente na situação descrita aqui. Aquilo aconteceu aos poucos, quase sem que ele percebesse. E mesmo depois que aconteceu, ele levou algum tempo para percebê-lo. O processo é tão sutil e tão insidioso que a pessoa mal percebe. Ela contempla seu rosto no espelho todas as manhãs e não nota as mudanças que estão acontecendo. Somente alguém que não a vê com freqüência pode notar os efeitos com mais clareza. E muitas vezes, quando começamos a sentir terrível realidade da nossa situação, deliberadamente evitamos pensar a respeito. Colocamos tais pensamentos de lado e nos ocupamos com outras coisas comentando: “Que adianta pensar a respeito disso? Essa é a situação, acabou!” Ora, o primeiro passo no caminho da volta, é enfrentar a situação com honestidade e franqueza. Lemos que esse jovem “caiu em si”. Foi exatamente o que ele fez! Ele enfrentou a situação, e o fez com sinceridade. Compreendeu que seus problemas eram resultado exclusivo de sua próprias ações, que ele fora um tolo, que não devia ter abandonado a casa de seu pai, e certamente não devia tê-lo tratado da maneira que fizera. Ele olhou para si mesmo e mal conseguiu acreditar no que viu! Olhou para os porcos e as bolotas à sua volta. Encarou a situação de frente!

Meu amigo, você já fez isso? Já olhou para si mesmo? Já pensou se todas as suas ações durante o ano que passou fossem colocadas no papel? E se tivesse mantido um registro de todos os seus pensamentos e desejos, suas ambições e imaginações? Você permitiria que isso fosse publicado sob seu nome? O que você é hoje em comparação com o que foi no passado? Olhe para suas mãos – estão limpas? E os seus lábios – são puros? Olhe para seus pés – onde eles pisaram, que caminho percorreram? Olhe para si mesmo! É realmente você? E então olhe à sua volta, para a sua posição e os seu ambiente. Não fuja! Seja honesto! Do que você está se alimentando? Comida ou bolotas lançadas aos porcos? Em que você tem gastado seu dinheiro? Para que fins você usou dinheiro que talvez devesse ser usado para alimentar sua esposa e filhos, ou vesti-los? Do que você tem se alimentado? Olhe! É alimento próprio para ser humano? Avalie o que você gosta. Enfrente-o com calma. É algo digno de uma criatura criada por Deus, com inteligência e sabedoria? É coisa que pelo menos honra o ser humano – quanto mais a Deus? É alimento de porcos, ou é próprio para ser consumido por um seu humano? Não basta que você apenas lamente a sua sorte ou se sinta miserável. Como acabou em tal estado ou situação? Olhe para os porcos e as bolotas, e compreenda que é tudo devido você ter abandonado a casa do seu pai, agindo deliberadamente contra os ditames da sua própria consciência, deliberadamente zombando da religião e de todos os seus mandamentos e princípios; tudo é resultado exclusivo de suas próprias decisões. A situação em que se encontra hoje é conseqüência de suas próprias escolhas, e de sua próprias ações. Enfrente isso e admita-o. Esse é o primeiro passo essencial no caminho da volta.

O passo seguinte é compreender que há somente Um a que você pode recorrer, e somente uma coisa a fazer. Não preciso elaborar esse ponto em detalhes, no que se refere ao filho pródigo, pois é bastante claro. “Ninguém lhe dava nada”. Tentara de tudo, esgotara todos os seus recursos e seus esforços, bem como os esforços de outras pessoas. Tudo acabara para ele e ninguém podia ajudá-lo – exceto um. O pai! A última, a única esperança. O evangelho sempre insiste que cheguemos a esse ponto. Enquanto lhe resta um centavo que seja, o evangelho não o ajudara. Enquanto tiver amigos, ou entidades às quais pode recorrer em busca de ajuda, crendo que lhe darão assistência, o evangelho nada tem a lhe dar. Naturalmente, enquanto o homem achar que pode se manter recorrendo a qualquer um desses outros métodos, ele continuará tentando fazer isso. E em nossa estimativa, o mundo ainda está longe da falência. Ele ainda crê em seus métodos e em suas próprias idéias. E de que forma patética nos agarramos a ele! Confiamos em nossa força de vontade e em nosso próprio esforço. Recorremos aos “anos novos” do nosso calendário com se ele pudessem fazer qualquer diferença em nossa situação! Buscamos a ajuda de amigos e companheiros, de parentes e queridos. Ah, vocês estão familiarizados com o processo, não só em seus esforços de acertar a sua própria vida, mas também nos esforços de endireitar a vida de outros a respeito de quem estão preocupados ou ansiosos. E assim continuamos até termos esgotados os recursos. Como o pródigo, continuamos até nos tornarmos frenéticos, e até ao ponto em que “ninguém nos dá nada” Somente então é que nos voltamos para Deus. Oh que insensatez! Permitam que eu estoure essa falácia aqui, e agora. Enfrentem-na com franqueza. Compreendam que todos os seus reforços vão falhar, como sempre falharam até aqui. Entendam que a melhora será meramente transitória e temporária.. Parem de se enganar a si mesmos. Compreendam como é desesperada a sua situação. E compreendam que existe somente um poder que pode colocar suas vidas no caminho certo – o Poder do Deus Todo-poderoso. Você podem continuar confiando em si mesmos e nos outros, e se esforçando ao máximo. Mas daqui a um ano a sua situação não só será a mesma, e sim muito pior. Somente Deus pode salvá-los.

No entanto, ao se voltarem para Deus, vocês precisam compreender também que nada podem pleitear diante dEle, exceto a Sua misericórdia e compaixão. Quando o pródigo abandonou o lar, sua exigência foi: “Dá-me!” “Ele exigiu seus direitos. Estava cheio de auto-confiança e até mesmo presunção, sentindo que não estava recebendo tudo a que tinha direito. “Dá-me”! Mas quando voltou para casa, o seu vocabulário mudou e o que ele diz agora é : “Faz-me”. Anteriormente ele sentira que era “alguém” e que estava na posição de exigir direitos inerentes e dignos de uma pessoa como ele. Agora ele sente-se reduzido a nada e ninguém, e compreende que sua maior necessidade é que algo seja feito de sua vida. “Faz-me!”. Amigo, se você acha que tem qualquer direito de exigir perdão de Deus, posso lhe assegurar que está perdido e condenado. Se sente que Deus tem o dever e a obrigação de perdoá-lo, você certamente não será perdoado. Se sente que Deus é severo e que está contra você, então é culpado do maior de todos os pecados. Se ainda sente que é “alguém” e que tem direito de dizer “dá-me”, você nada receberá além de miséria e contónua desolação. Todavia, se compreender que pecou contra Deus e O indignou, se sente que não passa de um verme, ou menos que isso, indigno até de ser considerado um ser homem – quanto mais indigno de Deus! – se sente que nada é, em vista da forma como se afastou dEle e Lhe voltou as costas, ingnorando-O e zombando dEle, se se lançar diante dEle e da sua misericórdia implorando-Lhe que na sua infinita bondade e amor, Ele faça algo da sua vida, então tudo será diferente. Nunca foi a vontade de Deus que você acabasse na situação em que esta. Foi contra a vontade dEle que você se afastou. A decisão foi toda sua. Diga-lhe isso, e confesse também que o que mais o preocupa e aflige não é apenas a miséria que trouxe à sua própria vida, porém o fato de ter desobedecido a Ele, insultando-O e ofendendo-O.

Então, tendo compreendido tudo isso, ponha-o em prática! Abandone a terra distante. Sua presença neste culto significa que você se levantou dentre os porcos e as bolotas. Mas afasta-te dessa terra longínqua. Faça-o! Volte-se para Deus, busque a reconciliação com Ele! Tome uma decisão. Entregue-se a Ele! Ouse confiar nEle! Como teria sido ridículo se o filho pródigo tivesse limitado a pensar aquilo tudo, sem colocá-lo em prática! Teria continuado na terra longínqua. Mas ele agiu. Pôs em pratica a sua decisão. Cumpriu sua resolução. Voltou para o pai e entregou-se à sua misericórdia e compaixão, e você precisa fazer o mesmo, da forma como já indiquei.

E se fizer isso, descobrirá que no seu caso, como no caso do filho pródigo, haverá um novo começo para a sua vida, um novo princípio firme e sólido. O impossível acontecerá, e você ficará assombrado e maravilhado com o que descobrirá. Não vou me deter na alegria e no gozo e na emoção disso tudo hoje, para que possa enfatizar a realidade desse novo começo que o evangelho nos dá. Não é algo etéreo ou trivial. Não é uma simples questão de sentimentos ou emoções. Não é uma anestesia ou um sedativo que amortece nossos sentidos, levando-nos a sonhar com um mundo brilhante e feliz. É real, é verdadeiro. Em Jesus Cristo, um novo começo, real e genuíno, é possível. E é possível somente através dele! A grandeza do amor do pai nesta parábola não é expressada tanto em sua atitude como no que ele fez. Amor não é um mero sentimento vago, ou uma disposição geral. O amor é algo ativo! É a atividade mais dinâmica do mundo, e transforma tudo. É por isso que também aqui somente o amor de Deus pode realmente nos dar um novo começo, uma nova oportunidade. O amor de Deus não se limita a falar sobre um novo começo: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu…”. O pai fez certas coisas pelo seu filho pródigo; e somente Deus pode fazer por nós e para nós aquilo que nos levantará outra vez. Observemos como Ele o faz. Oh, a maravilha do amor de Deus, que realmente faz novas todas as coisas, o único que realmente pode fazer isso!

Observem como o pai oblitera o passado. Ele vai ao encontro do filho como se nada tivesse acontecido, ele o abraça e beija como se sempre tivesse sido zeloso e exemplar em toda sua conduta! E com que rapidez ordena aos servos que removam os farrapos e andrajos da terra longínqua, e com eles todos os traços e vestígios do seu passado pecaminoso. Com todas essas ações ele apaga o passado de uma forma que mais ninguém poderia fazer. Somente ele podia perdoar de fato, somente ele podia apagar o que o filho fizera contra ele e contra a família; e ele o fez. Removeu todos os traços do passado. E essa sempre é a primeira coisa que acontece quando um pecador se volta para Deus da forma como estamos descrevendo. Voltamo-nos para Ele esperando tão pouco quanto o pródigo, cuja expectativa era que fosse feito um servo. Quão infinitamente Deus transcende todas as nossas maiores expectativas quando Ele começa a tratar conosco! Tudo que pedimos é alguma forma de começara outra vez. Deus nos maravilha e surpreende com Sua primeira ação – obliterando todo o nosso passado! E isso, enfim, é o que almejamos acima de tudo. Como podemos ser felizes e livres em vista do nosso passado? Mesmo que não cometamos mais certas ações ou um certo pecado, o passado está presente e sempre temos diante de nós o que fizemos. Esse é o problema. Quem pode nos libertar do nosso passado? Quem pode apagar do livro da nossa vida aquilo que já fizemos? Há somente Um! E Ele pode fazê-lo! O mundo tenta me persuadir que não importa, que posso voltar as costas ao passado e esquecê-lo. Mas eu não posso esquecer – ele sempre me volta à lembrança. E me lança em miséria e desespero. Posso tentar de tudo, porém meu passado permanece um fato sólido, terrível, medonho. Há alguma forma de me livrar dele? Algum modo de apagá-lo? Há somente um que pode removê-lo dos meus ombros. Eu só posso ter certeza que meus farrapos e andrajos se foram quando os vejo na Pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus, que os tomou sobre Si e Se fez maldição em meu lugar. O Pai mandou que Ele tirasse de sobre mim os meus farrapos, e Ele o fez. Ele levou minha iniqüidade, e Se vestiu e cobriu com meu pecado. Ele o tirou, lançando-o no mar do esquecimento de Deus. E quando eu compreendo e creio que Deus em Cristo não só perdoou meu passado, mas também o esqueceu, quem sou eu para procurar por ele e tentar encontrá-lo? Minha única consolação, quando considero o passado, é lembrar que Deus o apagou. Ninguém mais podia fazer isso. Mas Ele o fez. E este é o primeiro passo essencial para um novo começo. O passado precisa ser apagado; e ele é apagado em Cristo e em Sua morte expiatória.

Todavia, para ter um começo realmente novo, mais uma coisa é necessária. Não basta que todos os traços do meu passado sejam removidos. Preciso de algo no presente. Preciso ser vestido, necessito de algo que me cubra. Preciso de confiança para começar outra vez e para enfrentar a vida, as pessoas e os problemas que fazem parte dela. Embora o pai tenha corrido ao encontro do filho e o beijado, isso por si só não lhe teria dado segurança. Ele saberia que todos veriam os andrajos e a lama. Por essa razão, o pai não se limitou a isso. Ele vestiu o rapaz com roupas dignas de um filho, com todas as provas externas dessa posição. Anunciou a todos que seu filho retornou, e o vestiu de forma que o rapaz não se sentisse envergonhado diante dos outros. Ninguém mais além do pai podia fazer isso.. Outros podiam ter ajudado o rapaz, mas somente o pai podia restaurá-lo à sua posição de filho e prover tudo o que estava associado a ela.

Exatamente o mesmo acontece quando nos voltamos para Deus. Ele não só nos perdoa e apaga nosso passado, mas também nos torna filhos. Ele nos dá uma nova vida e novo poder. E Ele lhe dará tal certeza do Seu amor, meu amigo, que você poderá olhar para os outros sem qualquer sentimento de vergonha. Ele o vestirá com o manto da justiça de Cristo, e não só lhe dirá que o vê como filho, mas na verdade fará com que sinta que realmente o é. Quando olhar para si mesmo, você nem sequer se reconhecerá! Olhará para o seu corpo e verá esse manto de valor inestimável, olhará para os seus pés e os verá calçados de sandálias novas, olhará para sua mão e verá o anel, o selo do amor de Deus. E quando fizer isso, sentirá que pode enfrentar o mundo todo de cabeça erguida, sim, e poderá enfrentar o diabo e todos os poderes que o enganaram no passado e que arruinaram a sua vida. Sem essa posição e confiança, um novo começo não passa de um produto da imaginação. P mundo tenta limpar suas velhas vestes, buscando dar-lhes uma aparência respeitável. Somente Deus, em Cristo pode nos vestir com um manto novo, e realmente nos tornar fortes. Que o mundo tente apontar o dedo para nós, querendo trazer à tona o nosso passado! Que tente lançar seus piores estratagemas contra nós! Basta que olhemos para o manto, as sandálias e o anel, e saberemos que tudo está bem.

E se você ainda requer uma prova clara da realidade de tudo isso, ela pode ser encontrada no fato que até mesmo o mundo tem de reconhecer que é verdade. Ouça as palavras do servo, falando com o irmão mais velho. O que ele diz? “Um homem de aparência estranha, em andrajos, apareceu aqui hoje?” Não! “Veio o teu irmão”. Como ele soube que era o irmão? Ah, ele vira as ações do pai e ouvira suas palavras! Ele jamais teria reconhecido o filho, porém o pai o reconheceu, mesmo à distancia. O pai o reconheceu! E Deus reconhece você, e quando você se volta para Ele e permite que Ele o vista, todos ficarão sabendo. Até mesmo o irmão mais velho ficou sabendo. Era a última coisa que ele queria saber, mas os cânticos e os sons de júbilo e alegria não deixavam dúvidas quanto à conclusão inevitável. Ele estava por demais aviltado para dizer “meu irmão”, no entanto, até mesmo ele teve que dizer: “Este teu filho”. Não passou prometer que todos o amarão que falarão bem a seu respeito se entregar sua vida a Deus em Cristo.. Muitos certamente o odiarão, e o perseguirão zombando de você e fazer muitas outras coisas contra você, mas, ao fazerem isso, estarão na verdade testemunhando que eles também perceberam que você é uma nova pessoa, que sua vida foi renovada e recebeu a oportunidade de um novo começo.

O que mais você requer?

Aqui está a oportunidade para um começo realmente novo. É o único meio. O próprio Deus o tornou possível, enviando Seu Filho unigênito a este mundo, para viver, morrer, e ressuscitar. Não importa o que você tenha sido no passado, nem o que é no momento. Basta que se volte para Seus, confessando seu pecado contra Ele, lançando-se sobre Sua misericórdia em Cristo Jesus, reconhecendo que somente Ele pode salvar e guardar você, e descobrirá que

O passado será esquecido
Gozo dado no presente,
Graça futura prometida –
E uma coroa de glória no céu.

Venha! Amém.

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