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Hinos & Poesia

Um hino

Relembro diante do Senhor
Os tempo provados pelo amor;
Alegrias e preocupações
Mostrando quão fiel é o nosso Deus
Ás vezes ando em meio à paz
Ou de espinhos que edificam.
Talvez há vias sinuosas
Porém, por fim levam à seara.

Só por um inverno rigoroso
É que experimentamos o calor da primavera;
Só o silêncio da floresta
Leva o corvo a cantar bem alto.
Na mais escura noite é que
A mais brilhante estrela vem.
Senhor, a Tua lapidação
No fim, é o conhecer mais de Ti.

A pura e abundante alegria
É fruto do coração provado;
O hino doce e belo é
Ouvido dos lábios que provaram o fel;
Tristeza produz alegria e
Sofrimento leva ao cantar.
Tu és a mi’a alegria e hino
Da perda o ganho, da terra o céu.

(tradução adaptada do chinês – autor desconhecido)

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Bíblia Evangelho

O poder do evangelho, por Phillip Melanchthon (1497-1560)

Há pessoas as quais a consciência tem terrificado através do convencimento do pecado, que seriam seguramente dirigidas ao desespero, a condição habitual dos condenados, se elas não fossem sustentadas e encorajadas pela promessa da graça e misericórdia de Deus, comumente chamado de evangelho. Se a consciência afligida acredita na promessa da graça em Cristo, ela é ressuscitada e estimulada pela fé, como os exemplos seguintes revelarão maravilhosamente.

Em Gênesis, capítulo 3, o pecado, arrependimento e justificação de Adão são descritos. Depois de Adão e Eva haverem pecado, e estando procurando cobertas para a nudez deles – pois nós, os hipócritas, temos o hábito de aliviar nossas consciências fazendo compensações – eles foram chamados para prestarem contas ao Senhor; mas a Sua voz era insuportável.

Debaixo destas condições, nem cobertas nem pretextos desculparam o pecado deles. Condenados e culpados, a consciência cai prostrada quando é confrontada diretamente com o pecado pela voz de Deus. Eles fogem, e Adão explica a causa da fuga deles quando ele diz: ” Eu ouvi a Tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo e me escondi.” (Gn. 3:10). Note a confissão e o reconhecimento pela consciência. Enquanto isso, Adão cai em profundo pesar até que ele ouve a promessa de misericórdia, de que, através do descendente de sua mulher, a cabeça da serpente seria esmagada (Gn. 3:15). Até mesmo o fato de que o Senhor os vestiu, fortaleceu suas consciências, e é inegavelmente um sinal da encarnação de Cristo, porque a Sua carne, em última análise ,é que cobre nossa nudez e destrói a confusão de consciências trêmulas sobre as quais os insultos dos acusadores tem caído (Sl.69).

Nós recordamos como Davi foi quebrantado pela voz do profeta Natã. E ele certamente teria perecido se não tivesse ouvido o evangelho imediatamente: “Também o Senhor te perdoou o pecado; não morrerás” (II Sm. 12:13). O Espírito de Deus tem nos mostrado ricamente o modo como opera através da Sua ira e da Sua misericórdia. Que expressão mais evangélica pode ser concebida do que esta: ” O Senhor te perdoou o pecado “? Não é este a suma do evangelho ou da pregação no Novo Testamento: o pecado foi perdoado? Você pode acrescentar a estes exemplos muitas histórias dos evangelhos. Lucas 7:37-50 conta sobre a mulher pecadora que lava os pés do Senhor; Ele a consola com estas palavras: ” Teus pecados estão perdoados ” (v. 48). E o que é mais conhecido do que a história narrada em Lucas, capítulo 15, do filho pródigo que confessa o seu pecado? Como amorosamente seu pai o recebe, abraça, e o beija! Em Lucas 5:8 Pedro, admirado pelo milagre e, o que é mais importante, tocado em seu coração, exclama: “Aparta-Te de mim, porque sou um homem pecador, ó Senhor”. Cristo o consola e o restaura dizendo: “Não tenhas medo, … ” (v. 10). Destes exemplos acredito que possa ser entendido a diferença existente entre a lei e o evangelho, e entre o poder do evangelho e o da lei. A lei terrifica; o evangelho consola. A lei é a voz de ira e morte; o evangelho é a voz de paz e vida, e para resumir, “a voz do noivo e a voz da noiva,” como o profeta diz (Jr. 7:34). E aquele que é encorajado pela voz do evangelho e confia em Deus já está justificado. Cristãos sabem bem quanta alegria e satisfação a consolação traz. E aqui situam-se, apropriadamente, aquelas palavras de alegria que os profetas usam para descrever Cristo e a Igreja. Is. 32:18: “O meu povo habitará em moradas de paz, em moradas bem seguras, e em lugares quietos e tranqüilos”. Is. 51:3: “regozijo e alegria se acharão nela, ações de graça e sons de música”. Jr. 33:6: “e lhes revelarei abundância de paz e segurança. Sl. 21:6: ” Pois o puseste por bênção para sempre, e o encheste de gozo com a tua presença”. Sl. 97:11: Ä luz difunde-se para o justo, e a alegria para os retos de coração”.

Mas por que amontoar argumentos quando é óbvio, através da promulgação da lei e do advento de Cristo, o que significa o poder da lei e o do evangelho? Assim Êxodo, capítulo 19, descreve com que horrível espetáculo a lei foi dada. Assim, da mesma maneira que o Senhor terrificou a Israel naquele momento, as consciências individuais são atormentadas pela voz da lei, e eles exclamam junto com o Israel: “Não fale Deus conosco, para que não morramos” (Ex. 20:19). A lei exige o impossível, e a consciência, condenada pelo pecado, é assaltada em todas as direções. Nesta condição, medo e confusão perturbam a consciência de tal forma, que nada, nem ninguém pode trazer-lhe alívio, a não ser que Aquele que a acusou, retire a acusação. Alguns buscam consolação através de seus esforços, trabalhos, e atos de apaziguamento.

Mas estes não realizam mais do que Adão realizou com suas folhas de figo. Assim são aqueles que se ornam contra o pecado confiados no poder do seu próprio querer (arbítrio). Os fatos atuais ensinam que eles logo caem ainda mais miseravelmente. “O cavalo não garante a vitória; a despeito de sua grande força, a ninguém pode livrar ” (Sl. 33:17).

“Presta-nos auxílio na angústia, pois vão é o socorro homem” (Sl. 108:12)!

Por outro lado, o advento de Cristo é descrito pelo profeta Zacarias como lemos em 9:9: “Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, … “. Primeiro, quando o profeta dá a ordem para regozijar, ele ensina que a palavra deste Rei é diferente da lei; além disso, ele expressa a alegria na consciência de um jubiloso a ouvir a palavra de graça. Em seguida, não há tumulto, mas tudo está tranqüilo, que o leva a entender que Ele é o autor da paz, não da ira. Esta é aquela característica que extraímos do termo “humilde”, que o Evangelista usa, para explicar Sua mansidão. Isaías tem a mesma idéia em 42:3: “não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega”.

De modo similar, o apóstolo contrasta a face de Moisés com a de Cristo em II Co. 3:13. Moisés amedrontou as pessoas ao olharem para o seu semblante. Pois quem poderia agüentar a majestade do julgamento divino quando até mesmo o profeta implora isto: “Não entres em juízo com o teu servo” (Sl. 143:2)? Quando os discípulos vêem a glória de Cristo no Monte da Transfiguração, uma alegria nova e maravilhosa inunda seus corações a tal ponto, que Pedro, esquecendo-se de si mesmo, exclama: “Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, farei aqui três tendas” (Mt. 17:4). Aqui está uma visão da graça e misericórdia de Deus. Da mesma maneira que um olhar à serpente de bronze salvou os homens no deserto, assim também, eles são salvos se fixarem os olhos da fé na cruz de Cristo (Jo. 3:14.). Aí está o porque de os apóstolos, de modo adequado, chamarem sua mensagem, cheia de alegria, de evangelho ou boas novas. Os gregos também comumente designavam de evangelho, seus anúncios e elogios públicos de atos valorosos.

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Nota sobre o Autor:

Philip Melanchthon foi um dos mais importantes nomes entre a primeira geração de reformadores alemães. Este artigo, ” O Poder do Evangelho, ” é uma seção do “Loci Communes Theologici”, um dos primeiros exemplos da dogmática protestante (sistematização do pensamento da Reforma).

Melanchthon representou um papel importante durante a Reforma, não só como amigo e confidente de Martinho Lutero, mas também como o representante do lado protestante durante Congressos e Conversas Religiosas. Além disso, proveu o impulso decisivo para Lutero traduzir a Bíblia.

(SEMINÁRIO ON-LINE – DOCUMENTOS HISTÓRICOS – Teologia: O Poder do Evangelho, por PHILLIP MELANCHTON – Rio de Janeiro – 2004 – Para informações sobre o texto, mande um e-mail para: bglk@stprj.br – Todos os Direitos Reservados para www.stprj.br)

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Citações Vida cristã

O deus entretenimento (A. W. Tozer)


Durante séculos a igreja manteve-se firme contra toda forma de entretenimento mundano, reconhecendo-o como um dispositivo para se perder tempo, um refúgio contra a perturbadora voz da consciência, um plano para desviar a atenção de contas quanto à moral. Por manter sua posição, ela sofre abusos por parte dos filhos deste mundo. Ultimamente, entretanto, ela se cansou de ser abusada e simplesmente desistiu da luta. Parece ter firmado a posição de que, se não pode vencer o deus do entretenimento, o melhor que pode fazer é unir as suas forças às dele e aproveitar o máximo de seus poderes.

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Vida cristã

Alimentando nossa fé em Deus (G. D. Watson)

“Pois a vossa fé cresce sobremaneira” (2 Ts 1.3)

A fé é a condição de toda a vida espiritual, tanto para entrarmos como para dar os passos necessários para avançar nela. Convém-nos, portanto, fazer tudo para dar-lhe toda nutrição e cuidado possíveis. A fé, quando fortalecida e alimentada, certamente crescerá. Contudo, a forma como cresce e as condições para isso podem ser exatamente opostas ao nosso modo de pensar.

Normalmente, supomos que a fé é fortalecida por receber grande encorajamento, como quando obtemos respostas rápidas e abundantes às orações, experimentamos elevados graus de alegria ou recebemos profundas visões das coisas celestiais. Na realidade, essas coisas não fortalecem nossa fé tanto quanto imaginamos. Nossa fé deve ser alimentada pelas promessas de Deus, contidas na sua Palavra escrita.

Quando Deus primeiro chamou Abraão, ele inundou sua alma com uma porção de promessas. Falou com ele dos céus estrelados, do solo de Canaã por onde andava, pelas visitas de anjos e pelo Espírito Santo nas profundezas do seu ser. Abraão viu grandes coisas, possibilidades tremendas para si mesmo e para sua posteridade. Sua alma bebeu essas promessas até que sua fé se tornou ampla e poderosa, e isso antes que uma sequer delas se cumprisse.

Deus trata com as pessoas hoje de forma semelhante. Quando chama alguém para um nível mais alto de perfeição ou serviço, ele começa abrindo as promessas da sua Palavra e as possibilidades que podem ser alcançadas, antes mesmo que haja qualquer sinal exterior do seu cumprimento. O coração que se firma nas promessas de Deus até que elas se tornem tão reais quanto o próprio Deus – esse terá, de fato, uma grande fé.

Uma outra fonte de nutrição para a fé é a remoção de apoios naturais e humanos. Naturalmente, apoiamo-nos em muitas coisas na natureza, na sociedade, na igreja e nos amigos, muito mais do que temos consciência. Achamos que nos apoiamos somente em Deus e nem imaginamos o quanto dependemos de outras coisas – até que as perdemos. Se não fossem removidas, continuaríamos enganando a nós mesmos, pensando que dependemos de Deus em tudo. Mas Deus pretende concentrar nossa fé somente nele, através de remover todas as outras bases, desligando-nos dos nossos outros suportes, um após o outro.

Muitas pessoas não conseguem suportar essa total demolição de apoios secundários. É mais do seriam capazes de agüentar. Reagiriam com rebelião ou amargura e, por isso, Deus permite que tenham uma fé imatura e que ainda dependam, em alguma medida, de outras coisas.

Porém, para aqueles que têm capacidade de suportar o desgaste e a tensão da fé, ele permite toda sorte de desapontamentos: a morte de grandes esperanças, a perda de amizades terrenas ou a destruição de propriedades e bens, enfermidades e fraquezas diversas no corpo ou na mente, desentendimentos com familiares e amigos. Isso acontece ao ponto da paisagem espiritual se assemelhar a um deserto ou a uma região varrida por furacões, compelindo a pessoa a se refugiar somente em Deus.

Enquanto esses apoios secundários estão sendo removidos, a pessoa não percebe o que está acontecendo no seu interior. Só depois é que descobrirá que a fé cresceu e se expandiu com cada onda que se lançou contra ela. A fé cresce quando menos esperamos. Tempestades e dificuldades, tentações e conflitos, são seu campo de operação. Como o petrel (ave oceânica semelhante ao albatroz), a fé possui um gozo sobrenatural no furor da tempestade e no estrondo das ondas.

A fé não só é alimentada pela remoção dos apoios terrenos, mas também pela retirada aparente da consolação divina. A resposta à nossa oração parece demorar demais e a fé é testada até o último ponto. Parece que o Senhor se virou contra nós e tudo que podemos fazer é continuar nos agarrando com o grito envergonhado de “Senhor, ajuda-me!”

Mesmo aí a fé está se expandindo e crescendo além do que podemos imaginar, pela própria extensão da demora em chegar a resposta. Quanto mais o Senhor demorava em atender à oração da mulher siro-fenícia, mais a sua fé foi purificada, mais se intensificou. Grandes demoras servem para purificar nossa fé até que tudo que é inconstante, efêmero e impulsivo seja expurgado, nada deixando além da própria fé.

Fé Acende Fé

Outra forma de alimentar a fé é aprender sobre a fé de outras pessoas e meditar sobre isso. Leia as biografias daqueles que foram severamente provados e que creram em Deus apesar de todas as circunstâncias contrárias. Fé acende fé. Compreender como Deus lidou com outras pessoas capacita-nos a interpretar os tratamentos dele em nossa vida. Nossa fé é inspirada mais ao sabermos das provações dos santos na Bíblia do que por ouvir sobre acontecimentos mais fácies e agradáveis.

Ainda outro meio de fortalecer a fé é a estratégia de Deus na qual ele constantemente troca os canais que trazem sua bênção providencial para nós. Quando a provisão de Deus vem da mesma maneira durante um certo período de tempo, inconscientemente fixamos nossa confiança no canal mais do que na fonte invisível.

Quando Deus dava água para o povo de Israel no deserto, às vezes vinha da rocha, outras vezes de um poço cavado na areia seca (ver Nm 21.16-18). Quando Deus nos envia refrigério espiritual, ele geralmente muda as circunstâncias ou canais de tempos em tempos. O mesmo ocorre com sua provisão material. Ele não quer que nos prendamos a qualquer meio ou fenômeno em particular. Nossa fé precisa ser ligada a ele mesmo e não ao seu modo de fazer as coisas. Por essa razão, ele muitas vezes desapontará as nossas expectativas baseadas em provisões anteriores e revelará seu favor de maneiras novas, usando canais diferentes e surpreendendo-nos com sua grande e criativa sabedoria.

Dessa forma, nossa fé vai se fortalecendo com os desapontamentos visando chegar a tal nível de união com Deus que não olhará mais para pessoas ou coisas ou meios ou canais anteriores ou circunstâncias ou determinadas atitudes mentais ou reuniões ou conjuntos de sentimentos ou momentos ou épocas especiais. Uma fé fortalecida se mantém desprendida de tudo isso e depende somente de Deus. Este nível de fé jamais poderá ser desapontado ou abalado, pois não espera nada a não ser aquilo que Deus deseja, e não procura nenhum meio especial a não ser a infinita sabedoria divina. Sua expectativa está somente em Deus.

Empecilhos à Fé

A incredulidade do coração humano surpreendia e chocava Jesus a todo momento. Feria sua natureza sensível constantemente.

Um empecilho à fé é olhar para as circunstâncias e não para as promessas imutáveis de Jesus. Quando Pedro andou sobre a água e, de repente, começou a afundar-se, Jesus disse: “Homem de pequena fé, por que duvidaste?” (Mt 14.31). Pedro podia fixar sua atenção em uma de duas alternativas. Uma era a ordem “Vem”, dita pelo Salvador. A outra era as ondas do mar.

Pedro não era uma pessoa sem fé, pois foi ele mesmo que pediu ao Senhor para chamá-lo a andar na água. Ele tinha uma inclinação interior para sair e andar em direção a Jesus, mas desejava a autoridade da palavra do Mestre como uma tábua sob seus pés, autorizando-o a fazê-lo. Aquele sublime toque interior, que fora gerado por Deus, não perdeu sua força até que seus olhos foram desviados para se impressionarem com o perigo das ondas.

Aqui está o conflito que ocorre em cada vida: escolher entre o toque do Espírito no interior para confiar em Deus sem reservas e a influência dos sentidos que contemplam a instabilidade das coisas exteriores. É uma batalha entre a verdade invisível e a sombra visível, a estabilidade da rocha e o movimento do mar. A aparência das ondas e o significado da palavra “vem” estavam diretamente em contradição um ao outro, na percepção da razão humana.

Durante todos os séculos, as ondas nunca deixaram de afogar, porém, por outro lado, a palavra de Deus nunca deixou ninguém na mão. Aqui estavam duas forças invariáveis que se opunham uma à outra. A única pergunta era: qual das duas era mais forte? Qual lei teria a preeminência – a da gravidade natural ou a da palavra de Deus? A palavra “vem” nos lábios de Jesus tinha mais autoridade do que toda a imensidão das ondas e do mar, pois foi o poder da simples palavra em sua boca que colocou todos os oceanos em movimento. A água tinha a aparência de poder, mas na palavra de Jesus estava o verdadeiro poder.

Grande parte da nossa vida é ilustrada por esse incidente. Vivemos num mar em movimento. Vez após vez, enfrentamos a alternativa de confiar na aparência das coisas ou na verdade invisível de Deus. Se ouvirmos o assobio dos fortes ventos, a voz onipotente de Jesus ensurdecerá. Se olharmos às cristas embranquecidas das ondas gigantes, não conseguiremos ver as mãos estendidas de Jesus. Cada um precisa chegar individualmente a uma decisão firme e irreversível sobre o que é realidade, a onda ou a palavra, e se ligar à verdade imutável.

Outro empecilho à fé é receber honra dos homens. Jesus pergunta a cada um de nós: “Como podeis crer, vós os que aceitais glória uns dos outros, e contudo não procurais a glória que vem do Deus único?” (Jo 5.44). Não é uma questão de buscar honra, mas de recebê-la, isto é, abrindo o coração para receber elogios, lisonjas ou fama humanos. Isso se opõe totalmente ao repouso da alma em Deus.

Receber honra dos homens é uma grande virtude aos olhos do mundo, mas esse é um exemplo em que aquilo que é altamente valorizado pelos homens é uma abominação ao Senhor (Lc 16.15). Pode não ser muito evidente, à primeira vista, que receber honra do mundo impede verdadeira fé em Deus. Um pouco de reflexão, porém, nos mostrará que receber honra dos homens é uma forma insidiosa, sutil e maligna de idolatria. Contém um elemento de temor ao homem e, também, de culto ao homem. É uma forma traiçoeira de colocar o “eu” no lugar de Deus. Implica que nossa principal felicidade vem do homem. Isto é ignorar a verdadeira fonte da alegria e tentar cavar cisternas rotas (Jr 2.13).

Essa consideração do homem, esse temor ou bajulação do homem, esse apego à posição e à preeminência, cortam nossa dependência de Cristo, desviam nossa confiança para outro objeto e destroem a verdadeira fé.

Outro empecilho à fé é o baixo nível de fé daqueles que estão ao nosso redor, especialmente daqueles que ocupam posições de grande destaque na igreja visível. Nos dias de Jesus, perguntaram: “Porventura creu nele algum dentre as autoridades, ou algum dos fariseus?” (Jo 7.48).

A grande massa de cristãos nominais hoje se encontra num estado tão imaturo de graça que jamais teria a coragem ou a independência de se arriscar sozinha e confiar ousadamente em Deus a despeito da frieza e indiferença daqueles que estão em posição de autoridade espiritual. Como é comum, em todas as épocas, as pessoas encarregadas de dirigir os assuntos da igreja, a sua instrução e economia, carecerem de fé viva e ativa em Deus!

Fé acende fé. Santidade fervorosa inspira outros a buscarem a mesma coisa. Santos se multiplicam em grandes avivamentos. No mundo, grandes autores surgem em bandos. O mesmo ocorre com inventores. Na história da igreja, houve épocas quando santos apareciam em constelações. Precisamos ser despertados por grandes pessoas de fé, mas tomemos cuidado para não nivelar nossa confiança ao grau inferior da multidão de crentes vacilantes e cépticos ao nosso redor.

Talvez o maior impedimento à fé seja a falta de consagração pessoal a Deus. Aprendemos no capítulo 12 de Hebreus que, para olhar firmemente para Jesus, o “Autor e Consumador da fé”, devemos desembaraçar-nos de “todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia”. Enquanto houver falhas na nossa consagração, haverá falhas correspondentes na nossa fé.

Podemos confiar em Deus somente na proporção em que somos entregues a ele. Seu risco no banco é limitado ao valor do seu depósito. Consagração nos posiciona numa base de confiança. Consagração é cortar as cordas que nos prendem à terra, enquanto fé é nos lançar no mar. A verdadeira pergunta não é por que confiar tudo a Deus, mas por que duvidar dele em qualquer coisa que seja.

Suas promessas já foram quebradas? Ele já nos desapontou ou nos enganou? É verdade, ele muitas vezes prova nossa fé, mas no último momento, na pior extremidade, sua infinita misericórdia e provisão sempre chegaram. O final de muitos salmos na vida tem sido: “Bem-aventurados são todos os que colocam sua confiança nele!”

Extraído do jornal Arauto da Sua Vinda – Ano 22 nº 06 (Nov/Dez 2004)

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Vida cristã

Sete testes da autenticidade cristã (Délcio Meireles)

O Evangelho Segundo João foi escrito “ para que creiais que Jesus Cristo é o Filho de Deus e para que crendo tenhais vida em Seu Nome ” (Jo 20:31). A primeira carta entretanto trata de comunhão: “Sim, o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos para que vós também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com o Seu Filho Jesus Cristo” (I Jo 1:3). Se lermos esta carta com atenção veremos que João mencionou uma serie de “setes” muito importantes: sete razoes porque a epistola foi escrita, sete evidências dos que nasceram de novo e sete testes da realidade da vida cristã. Dessa vez vamos nos concentrar nos sete testes da realidade cristã. Os sete versículos que iremos estudas nos permitirão fazer um teste da realidade da nossa vida espiritual. João é muito direto ao tratar com as questões da vida cristã. Apesar de ser o apóstolo do amor, ou, o discípulo a quem Jesus amava, ele não trata o nosso testemunho de vida de forma leviana. Portanto, leiamos os sete testes por ele apresentados com oração e submissão ao Espírito Santo de Deus.

1) Falsa Comunhão
“Se dissermos que mantemos comunhão com Ele e andarmos nas trevas, mentimos” (I Jo 1:6). O cristão que mantém comunhão com Deus não pode andar nas trevas, porque Deus é Luz e nEle não há trevas nenhuma (1:5). Se temos comunhão com Deus vivemos uma vida de céu aberto. Comunhão com Deus inclui uma vida de oração, leitura e estudo da Palavra, leitura de bons livros, confissão de pecados, consagração, vigilância diária, etc. Quantos cristãos chamam a Jesus de Senhor mas seus corações estão longe dEle. João diz que aquele que vive assim é mentiroso. Nesse primeiro teste o crente manifesta uma Falsa Comunhão com Deus.

2) Falsa Santidade
“Se dissermos que não temos pecado, a nós mesmos nos enganamos e a verdade não está em nós” (I Jo 1:8). João está dizendo que o cristão que afirma não haver nele uma natureza caída (pecado) engana a si mesmo e nele não está a verdade. É verdade que nascemos de novo e somos novas criaturas, mas a “carne” continua dentro de nós: “a carne luta contra o Espírito” (Gl 5:17). Nosso “velho homem” foi crucificado, mas isso não significa que ele não possa mais se manifestar na vida do salvo. Devemos nos lembrar que o potencial para cometermos qualquer tipo de pecado permanece conosco. Se deixarmos de vigiar e de depender do Espírito Santo, a velha natureza se manifestará. Nesse segundo teste o crente manifesta uma Falsa Santidade.

3) Falsa Justiça
“Se dissermos que não temos cometido pecado nenhum, fazêmo-Lo mentiroso e Sua Palavra não está em nós” (I Jo 1:10). Essa declaração é diferente da anterior, pois nos fala do fruto e não da árvore. No versículo 8 é a natureza caída e no versículo 10 são os seus frutos (ver o estudo pecado e pecados). Aqui se trata de negar a realidade dos atos pecaminosos em nossa vida. Ninguém pode dizer que não comete nenhum ato pecaminoso. Isso todavia, não significa que devemos aceitar essa situação passivamente, pois João logo vai dizer que ele escreveu estas coisas “para que não pequeis” (2:1). Este deve ser o nosso desejo e o nosso alvo, mas quanto mais nos conhecemos mais somos convencidos das nossas fraquezas. Neste teste o crente manifesta uma Falsa Justiça.

4) Falsa Lealdade
“Aquele que diz que O conhece e não guarda os Seus mandamentos é mentiroso” (I Jo 2:4). Podemos conhecer a Deus de ouvir e também de ver. Jó confessou que conhecia o Senhor de ouvir (Jó 42:5) e depois chegou a vê-Lo. Muitos crentes professam conhecer ao Senhor, mas não guardam os Seus mandamentos. Quantas coisas fazemos que desagradam ao Senhor e mesmo assim continuamos praticando-as. John Hyde, o homem que orava, acordava de madrugada para ler a Bíblia e procurar mandamentos do Senhor com o fim de obedecer-lhos. Nosso coração é assim para com Ele? Aquele que guarda a Palavra o amor de Deus está nele aperfeiçoado (2:5). Nesse teste o crente manifesta uma falsa Lealdade ao Senhor.

5) Falso Comportamento
“Aquele que diz que permanece nEle, esse deve também andar como Ele andou” (I Jo 2:6). A palavra “andar” no Novo Testamento geralmente traz a idéia de “conduta, comportamento.” João está ensinando que o crente deve “permanecer” em Cristo, isto é, habitar, fazer morada nEle. Cristo é o nosso Lar. Todo aquele que declara estar “habitando” em Cristo, deve andar como Ele andou. Lucas registrou em Atos que “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e poder; o qual andou por toda a parte fazendo o bem e curando todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele” (10:38). Se o cristão não anda como Jesus andou, isso significa que ele não está fazendo sua morada nEle. Nesse teste o crente manifesta um Falso Comportamento.

6) Falsa Espiritualidade
“Aquele que diz estar na luz e odeia a seu irmão, até agora está nas trevas” (I Jo 2:9). Estar na luz aqui significa viver uma vida de comunhão com o Senhor. Viver uma vida de comunhão significa ser uma pessoa espiritual. Todavia, o cristão que declara estar na luz e mesmo assim odeia a seu irmão, até agora está nas trevas. É deveras impressionante como certos crentes têm coragem de testemunhar que estão na luz e ainda demonstrar sentimentos e atitudes erradas com outros irmãos. Quantos filhos de Deus desprezam outros irmãos e ainda têm coragem de participar da Mesa do Senhor e do serviço cristão. Se nosso coração está errado, devemos deixar tudo de lado e procurar acertar com o nosso irmão. Caso contrário, estaremos edificando, sim, edificando, mas com madeira, feno e palha. Tudo será consumido pelo fogo do Tribunal de Cristo. Nesse teste o crente manifesta uma Falsa Espiritualidade.

7) Falso Amor de Deus
“Se alguém disser: Amo a Deus e odiar a seu irmão, é mentiroso” (I Jo 4:20). João continua lembrando a questão de odiar a um irmão. O ponto em questão se relaciona com o nosso amor a Deus. Como posso declarar que amo a Deus se odeio a meu irmão? João continua dizendo: “Pois quem não ama a seu irmão ao qual viu, não pode amar a Deus a Quem não viu” (4:20). Portanto, amado irmão, cuidado quando você declara em alta voz nas reuniões da igreja, o seu grande amor pelo Senhor. Se você não ama a seu irmão que está do seu lado, como será possível amar a Deus a Quem você não vê? João repetidas vezes mencionou a palavra mentiroso, e aqui ele a usa mais uma vez. Podemos dizer mentiras com os lábios, mas quão freqüentemente mentimos com nossas ações no tocante a amar nossos irmãos. Nesse teste o cristão manifesta um Falso Amor.

“Sonda-me, ó Deus” (Sl 139:23)
O salmista Davi fez esta oração: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me, e conhece os meus pensamentos.” Não tente examinar a você mesmo, pois seu coração é enganoso e corrupto. Peça ao Senhor para sondar a sua vida e revelar como Ele mesmo te vê. Só assim seremos livrados da falsa comunhão, da falsa santidade, da falsa justiça, da falsa lealdade, do falso comportamento, da falsa espiritualidade e do falso amor a Deus, Quantos filhos de Deus podem estar vivendo como a igreja em Laodicéia, que pensava ser rica, abastada e sem falta de coisa alguma. Mas o Senhor trouxe a sua luz e declarou que ela era miserável, pobre, cega e nua. Que o Senhor possa nos livrar do perigo de passarmos a acreditar nos tipos de falsidade que vimos neste estudo. Que Ele tenha misericórdia de nós!

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Escatologia Igreja Jessie Penn-Lewis

A Igreja no tempo do fim

Esta é uma hora de grandes movimentos. O mundo todo está num estado de revolta, e “visões mundiais” de todos os tipos estão prendendo a muitos. A grande questão é: estão essas “visões mundiais” em harmonia com a Palavra de Deus? O diabo pode dar “visão mundial” (Mt 4.8), e por essa razão é necessário que tenhamos nossa visão ajustada às condições que a Bíblia revela como as que caracterizariam os últimos dias.

Vamos primeiramente olhar, de maneira breve, a mensagem do Senhor glorificado para Filadélfia, conforme registrado em Apocalipse 3.7-13, pois esta é a primeira referência à Sua “vinda breve” que encontramos nestas cartas às Igrejas.

1. A verdadeira Igreja no tempo do fim

Note que (1) será um tempo em que tudo ao redor dos cristãos será tão antagônico para todo serviço do evangelho que somente o próprio Senhor estará apto a abrir portas para Sua mensagem e Seus mensageiros e mantê-las abertas (vv. 7,8); (2) um tempo em que Seu povo terá apenas “pouca força” comparado às forças contra ele; (3) um tempo em que o máximo que é possível será vitória negativa, isto é, a vitória do que eles não farão, e não do que eles são capazes de cumprir — “não negaste o Meu nome” (v. 8).

No mundo religioso (4) será um tempo de confissão (v. 9) sem verdadeira comunhão com Deus, e (5) um tempo em que a única palavra que o Senhor falará ao Seu povo será “paciência”: “guardar a palavra da Minha paciência” (v. 10). Nada mais será possível. Nada de “progresso” ou “faça grandes coisas”, mas paciência. Nessa condição, da paciência de Deus trabalhada em Seus santos, Ele será capaz de mantê-los no “recôndito do Seu tabernáculo” durante as trevas que precedem a hora terrível que está por vir sobre a terra habitada (v. 10). Se o Seu povo é impaciente, eles não podem ser guardados de ser envolvidos nas tribulações e sofrimentos, pois a impaciência leva o crente para fora do cuidado poderoso de Deus, provavelmente mais do que qualquer coisa.

O Senhor, portanto, fala: “como guardaste a palavra da Minha paciência, também Eu te guardarei”. Para os santos será também (6) um tempo de conflito, no qual o preço da coroa está em risco. “Guarda o que tens para que ninguém tome a tua coroa” (v. 11).

2. A condição do mundo no tempo do anticristo

Agora vamos passar a ver as condições do mundo nos últimos dias, quando o anticristo tiver sido revelado, conforme registrado em Apocalipse 13.1-18. Aqui temos uma figura completa do reino do anticristo em dois aspectos: civil e religioso.

Quando a “besta”, o anticristo, obtém o trono do mundo, e “grande autoridade”, a condição das coisas, como descrita em Apocalipse 13, não terá chegado àquele ponto repentinamente, mas será o resultado climático de trabalhos forjados previamente por espíritos do anticristo (ver 1Jo 2.18). Conseqüentemente, quanto mais perto chegamos da volta do Senhor, mais os crentes descritos na mensagem à Filadélfia se encontrarão à negra sombra do reinado vindouro da besta e serão capazes, à luz da Palavra de Deus, de ver progressivamente as evidentes características marcantes do terror por vir.

Vamos ver brevemente algumas das linhas centrais do que é descrito em Apocalipse 13 e nos perguntar se já não vimos alguns dos sinais daquilo que está à frente. Note primeiramente que toda situação será resultado direto dos planos e do poder do dragão. “O dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono e grande autoridade” (v. 2). Diz claramente que o dragão governará o mundo através de dois instrumentos: a besta — o anticristo —, como cabeça de toda autoridade civil, e o falso profeta, como cabeça de todos os movimentos religiosos da época (vv. 11,12).

Observe algumas das características fundamentais da besta: (1) ela recebe adoração, reverência de todo o mundo, e, através desta reverência à besta, o dragão obtém adoração mundial, pela qual havia anelado desde o momento em que disse, em eras remotas: “serei como Deus” (Is 14.14). Sua grande ambição é obter a adoração devida apenas ao Mais Elevado, e ele obtém isso por um breve período antes do Senhor retornar em glória. (2) Observe as descrições impressionantes dadas das características principais da besta, pelas quais “toda a terra se maravilhou” dela e rendeu-lhe adoração. Ela teve uma “chaga mortal” que foi curada.

A besta foi1 alguém miraculosamente curado. E curado tão assombrosamente que “toda a terra se maravilhou” e se curvou diante de tal evidência de poder sobrenatural. Isso mostra claramente que o dragão é capaz de “curar” e falsificar a ressurreição do Senhor, e que o anticristo e o falso profeta obterão seu poder sobre “todos os que habitam sobre a terra” inteiramente pelo poder satânico. (3) A influência da besta foi exercida principalmente através do discurso; “falando grandes coisas e blasfêmias”; ela blasfemou contra Deus, contra Seu nome, contra Seu tabernáculo, contra os céus e os redimidos que habitam no céu. Que terrível descrição do estado do mundo sob o governo do arcanjo caído, Satanás! Blasfêmias abertas contra Deus e contra todos os que Lhe pertencem, penetrando através de “toda a tribo, e língua, e nação”. (4) À besta foi permitido fazer guerra aos santos, para vencê-los e matá-los e, ao fazê-lo, ele aparentemente se torna o mestre de toda terra habitada (v. 7).

3. O cordeiro falsificado e seus milagres

Na segunda besta, vemos uma descrição extraordinária de uma imitação sobrenatural da verdadeira obra do Espírito Santo de Deus. Parece que o anticristo pode apenas obter e manter seu poder sobre toda a terra por meio de uma falsa religião, com sinais dos céus para provar que ela veio de Deus. A figura toda (vv. 11-18) é de uma imitação sobrenatural de realidades divinas — não de apostasia intelectual — e de uma forma de divindade sem o poder.

A segunda besta ressuscita na forma de um cordeiro, imitando Cristo, o verdadeiro Cordeiro de Deus, apenas distinguível do verdadeiro por seu discurso, por seus ensinamentos e doutrinas. Ele se parecia com um cordeiro, mas falava como um dragão (v. 11). Ele tinha poder equivalente ao da primeira besta, com semelhante influência (v. 12), e foi totalmente devotado a induzir todos os habitantes da terra a adorar o anticristo e, não vamos nos esquecer, tudo isto por trás do anticristo, o dragão (v. 4).

Como o falso cordeiro obtém a “adoração”? (1) Ele fez “grandes sinais” (v. 13). (2) Ele fez descer fogo do céu, não de baixo, mas do céu, no qual o príncipe do poder do ar vagueia à vontade (v. 13). (3) Ele engana os habitantes da terra por meio de milagres (v. 14). (4) Ele estava apto a dar vida a uma imagem da besta e induzi-la a falar (v. 15), mas tudo será forjado pelo “poder” suprido pelo dragão.

4. Os santos vencedores no tempo do anticristo

E os cristãos verdadeiros? Não há exceções para esta reverência mundial à besta e para o dragão por trás dela? Sim! Os santos do Calvário viram o poder por trás dos fatos, e recusaram-se a adorar (v. 8). E qual foi o resultado? A besta tinha “poder para fazer com que todos os que não adorassem (…) fossem mortos” (v. 15).

Aqui há um vislumbre do poder do dragão para matar os santos que se recusam a reverenciá-lo. E posteriormente, “faz que a todos (…) lhes seja posto um sinal (…) para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal” (vv. 16, 17). Isso foi para subjugar pela fome aqueles que não adorassem. No mundo ímpio, podemos ver o crescente trabalho de espíritos anticristãos blasfemando contra Deus, e no mundo religioso, espíritos anticristãos imitando Cristo e fazendo grandes maravilhas.
Diante deste quadro panorâmico dos dias vindouros, e do inegável fato de que já estamos na preparação mundial para sua plena manifestação, a grande questão para a Igreja agora é: “O que esperamos de Deus em tal tempo?” As Escrituras nos mostram Deus fazendo “sinais e prodígios” em competição com as “imitações” que o espírito do anticristo e do falso profeta já está fazendo na terra? Ou a figura enfatiza que o único poder que capacitará os santos a permanecer nos dias maus é o conhecimento da cruz, e que o único caminho para eles é o caminho da cruz?

5. Os santos do Calvário antes e durante o reinado da besta

“Todos (…) adoraram-na, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida, do Cordeiro morto desde a fundação do mundo” (v. 8). O quadro é de todos os habitantes da terra dando ao dragão adoração, exceto, em toda a terra, dos santos do Calvário, aqueles que sustiveram a única verdade do Cordeiro morto, e aqueles que preferem morrer por Ele a render um ato sequer de adoração ao dragão (Ap 12.11). Isso não se parece com Deus vindo com sinais e prodígios para combater os imitações de Satanás. Antes, isto está na linha dos princípios da obra de Deus descritos pelo Senhor. “E nenhum sinal lhes será dado, senão o sinal do profeta Jonas” (Mt 16.1-4). “Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e noites no seio da terra” (12.38-40). O único sinal que Deus deu aos judeus que pediram a Cristo um “sinal do céu” foi sua morte no Calvário, e o grande sinal que haverá Dele nos dias do anticristo será Seu testemunho da morte resgatadora de Seu Filho por meio daqueles que partilham do Espírito de Cristo, sacrificando a própria vida por Ele.

Isso parece confirmado também em Apocalipse 20.4-6. Aqueles que “viveram e reinaram com Cristo durante mil anos” eram aqueles que tinham sido mortos por seu testemunho do Cordeiro morto e por manter a Palavra de Deus, e eram estes os que não adoraram a besta nem receberam sua marca para poder comprar e vender e, então, viver. Pelo fato de todas essas condições estarem presentes na terra, parece claro que não há promessa para os últimos dias de movimentos de “sinais e prodígios” dados por Deus, nem mesmo de um ajuntamento rápido de multidões de almas para Cristo. Mas haverá movimentos mundiais permitidos pelo príncipe do poder do ar quando o evangelho da cruz será omitido ou obras fraudulentas de espíritos do anticristo visando a encobrir a mensagem da cruz em seu pleno poder. Tampouco há base alguma para esperar por um triunfo visível dos santos vencedores, pois “foi-lhe [à besta] permitido fazer guerra contra os santos e vencê-los” (Ap 13.7).

6. O conhecimento da cruz é necessário nos últimos dias

“O Cordeiro morto desde a fundação do mundo” (Ap 13.8). É surpreendente encontrar essa declaração no meio do manifestado reinado do anticristo sobre o mundo. A expressão engloba toda a obra de Cristo no Calvário, como o Cordeiro que morreu por aqueles cujo nome está no Seu livro da vida. A única necessidade para os filhos de Deus no tempo do fim é conhecer, em toda a sua plenitude, o significado da cruz, para usar isso como uma arma de vitória sobre o dragão em todos os seus vários ataques contra o povo de Deus.

7. Como distinguir o verdadeiro poder do falso

Não há também “obras elevadas”, “curas” de Deus e “milagres” feitos por Ele? Seguramente há, mas a diferença entre as obras forjadas do anticristo e a obra do Espírito Santo é que o verdadeiro poder de Deus invariavelmente alcança a alma via Calvário, não por meio de espetacular “competição” com os prodígios prenunciados dos espíritos de Satanás, de modo que o mundo espectador dos homens não pode distinguir o falso do verdadeiro, mas numa profunda aplicação trabalhada interiormente, pela palavra da cruz como o poder de Deus, pelo Espírito de Deus, por meio do qual o crente é liberto, não apenas do poder do pecado, mas também é-lhe dado conhecer, em sua carne mortal, a vida pela qual Jesus venceu a morte em toda a força do seu poder.

Os “milagres” de Deus não são sempre externamente cumpridos, mas trabalhados no íntimo do espírito do homem via Calvário. Mais profundo e mais pleno do que qualquer cura do corpo é a maravilhosa obra de Deus, pela qual “aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos” vivifica o corpo mortal (Rm 8.11) do crente, tanto que ele é “entregue à morte diariamente por causa de Jesus” (2Co 4.10-12).

“Por seus frutos o conhecereis”, disse o Senhor a seus discípulos, pois o fruto, como resultado da vida interior, revela a origem oculta de ação. “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus (…) muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas?” (Mt 7.15-23). Os feiticeiros no Egito, trabalhando pelo poder de Satanás, puderam produzir “sangue” falso (Êx 7.22) e o inimigo sutil é capaz de introduzir seus “prodígios” sob uma imitação do “sangue do Cordeiro”, como visões do “sangue” cobrindo a alma, e “rios de sangue” enchendo uma sala. Mas o sangue do Senhor Jesus Cristo fala nos céus no trono de misericórdia, e não tem forma material em sua aplicação para o crente.

“Os discípulos chegaram-se a Ele, em particular, e lhe pediram: Dize-nos (…) que sinal haverá (…) da consumação do século. E ele lhes respondeu, dizendo: porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mt 24.3,24). Ele não diz que enganar os eleitos não é possível, mas, sim, que o propósito do impostor é alcançá-los.

“Vede que vo-lo tenho predito”, disse o Mestre, mostrando claramente que é através de “sinais e prodígios” que o perigo virá aos sinceros filhos de Deus, num tempo em que anormalidades serão abundantes, e em que o amor esfriará de muitos. Nestes dias perigosos vamos vigiar e ser sóbrios (1Ts 5.6; 1Pe 4.7).

1No original, o verbo está no passado, provavelmente para concordar com os verbos em Apocalipse, todos sempre no passado. (N.E.)

(Extraído da extinta revista O Chamamento Celestial 4, publicada por CCC Edições, abril de 2002)

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Evangelho Horatius Bonar

Como irei a Deus?

É com nossos pecados que nos achegamos a Deus, pois não podemos nos apresentar a Ele com qualquer outra coisa que seja realmente nossa. Essa é uma das lições que aprendemos com lentidão. Mas, sem termos aprendido a mesma, não poderemos dar um só passo correto naquilo que chamamos de vida religiosa.

Rebuscar coisa boa em nossa vida passada, ou apelar para algo de bom no presente, se descobrirmos que o nosso passado nada contém de positivo, é nosso primeiro pensamento quando começamos a procurar resolver a grande questão pendente entre Deus e nós – o perdão de nossos pecados. No favor de Deus há vida (Sl 30.5), e estar sem o favor divino é sentir-se infeliz neste mundo, é não desfrutar de alegria no mundo por vir. Não há vida digna de ser chamada de vida, exceto aquela que flui de Sua amizade infalível. Sem essa amizade, nossa vida aqui é um fardo e uma canseira. Nessa amizade, porém, não há qualquer mal, e toda a tristeza torna-se uma alegria.

“Como poderei ser feliz?” foi a pergunta de uma alma cansada que já experimentara cem maneiras diversas de obter a felicidade, mas sempre falhara.

“Obtenha o favor de Deus”, foi a resposta imediata de alguém que já havia provado pessoalmente que “o Senhor é bondoso” (1Pe 2.3).

“Não haverá outra maneira de alguém ser feliz?”

“Nenhuma!” foi a pronta e decidida resposta- ” O homem vem buscando algum outro caminho para a felicidade por seis mil anos, e tem fracassado totalmente. E você obteria sucesso?”

“Não, não teria possibilidade alguma; e não quero continuar tentando indefinidamente, Mas, esse favor de Deus me parece algo muito duvidoso; e o próprio Deus parece estar tão distante que não sei para onde voltar-me.”

“O favor de Deus não está cercado de dúvidas. Ele e real acima de todas as demais realidades; e Deus é o mais próximo de todos os seres, sendo tão acessível quanto é gracioso e bom.”

“Esse favor divino, do qual você fala, para mim sempre pareceu misterioso, e não posso entendê-lo.”

“Diga antes que é como a luz do sol que está sendo ocultada de você pelas suas dúvidas.”

“Sim, sim, acredito em você. Mas, como poderei deixar para trás as dúvidas e chegar à luz da certeza? Parece ser algo tão difícil, exigindo muito tempo para chegar a concretizar-se.

“Você é quem torna distante e difícil aquilo que Deus fez simples, próximo e fácil.”

“Você está querendo dizer-me que não há quaisquer dificuldades?”

“Em certo sentido, há mil dificuldades; mas, em um outro sentido, não há nenhuma.”

“Como pode ser isso?”

“O Filho de Deus porventura dificultou o caminho do pecador quando disse à multidão: ‘Vinde a mim, e eu vos aliviarei’?”

“Certamente que não. Ele queria que todos fossem imediatamente a Ele, e naquele momento em que estavam juntos Ele lhes daria descanso.”

“Portanto, se você estivesse pessoalmente naquele lugar, quais dificuldades teria encontrado?”

“Nenhuma, por certo. Falar em dificuldades, quando eu estivesse ao lado do próprio Filho de Deus, seria uma insensatez, ou pior ainda.”

“O Filho de Deus sugeriu alguma dificuldade para o pecador, ao conversar com a mulher samaritana, sentado à beira do poço de Jacó? Todas as dificuldades não foram antecipadas ou eliminadas por estas admiráveis palavras de Cristo: “…tu lhe pedirias, e ele te daria água viva?”

“Sim, sem dúvida. Tudo se resumia em pedir e receber. A transação inteira terminou ali mesmo. O tempo e o espaço, a distância e as dificuldades nada têm a ver com essa questão; a dádiva seguiu-se à petição, corno se fossem causa e efeito. Até esta altura, tudo é muito claro. Porém, desejo indagar: Não existe alguma barreira?”

“Nenhuma, se é que o Filho de Deus realmente veio salvar os perdidos. Mas, se Ele veio para aqueles que estavam apenas parcialmente perdidos, ou que pudessem salvar-se em parte, então a barreira seria infinita. Isso eu admito; de fato, insisto sobre esse ponto.

“Portanto, estar perdido não serve de barreira para quem quer ser salvo?”

“Eis uma pergunta tola que merece uma resposta tola. Quando sentimos sede, isso porventura serve de empecilho para obtermos água? ou o fato de que alguém é pobre serve de empecilho para receber riquezas dadas por algum amigo?”

“Não. A verdade é que a sede me prepara para a água, e a minha pobreza me prepara para as riquezas.”

“Ah, sim, o Filho do homem veio não para chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento. Se você não é um pecador completo, então há uma barreira. Mas, caso você seja um pecador completo, então não há nenhuma barreira.

“Um pecador na íntegra! Será que esse é o meu verdadeiro caráter?”

“Não há dúvida quanto a isso. Se você ainda duvida, examine a sua Bíblia. O testemunho de Deus é que você é um pecador completo, e que terá de tratar com Ele como tal, pois os sãos não precisam de médico. e, sim, os doentes.”

“Um pecador na íntegra! Bem, mas não deveria eu livrar-me de alguns dos meus pecados, para poder receber alguma bênção da parte de Deus?”

“Não, realmente. Pois somente Ele pode livrar alguém até mesmo de um pecado. Assim sendo, você terá de ir a Ele com toda a sua ruindade, sem importar quão grande ela seja. Se você não é um pecador na íntegra, então, na verdade você nem precisa de Cristo, pois Ele é o Salvador no mais total sentido da palavra. Ele não ajuda você a salvar-se; e nem você pode ajudá-lo a salvar a você mesmo. Ou Ele faz tudo, ou nada faz. Uma meia salvação só serve para aqueles que não estão totalmente perdidos. Ele mesmo carregou ‘em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados’ (1Pe 2.24).

O que acabamos de descrever foi a maneira como Lutero encontrou a paz e a liberdade de Cristo. A história de seu livramento é muito instrutiva, porque mostra como as pedras de tropeço da justiça-própria devem ser removidas, mediante a plena exibição do evangelho gratuitamente oferecido, e faia das boas-novas do amor de Deus para com aqueles que não são amados e nem São amoráveis; das boas-novas de perdão para o pecador, sem o concurso de dinheiro ou dos méritos humanos – as boas-novas da PAZ COM DEUS, oferecidas é exclusivamente através da propiciação daquele que estabeleceu a paz por meio do sangue de Sua cruz.

Uma das primeiras dificuldades encontradas por Lutero foi que ele pensava que teria de despertar o arrependimento dentro de si mesmo; e então que, tendo conseguido isso, teria de apresentar esse arrependimento como uma oferta pacífica ou como uma recomendação a Deus. E se esse arrependimento não pudesse ser apresentado como uma recomendação positiva, pelo menos poderia servir de apelo para que o seu castigo fosse mitigado.

Perguntava Lutero: “Como poderei ousar crer no favor de Deus, enquanto não houver em mim uma real conversão? Preciso mudar, antes que Ele possa receber-me.”

Foi esclarecido a Lutero que a “conversão” ou o “arrependimento” que ele tanto desejava jamais poderia ocorrer enquanto considerasse Deus um severo Juiz, destituído de amor. O que nos conduz ao arrependimento é a “bondade de Deus” (Rm 2.4). Se o pecador não reconhecer essa bondade, seu coração não poderá ser quebrantado. Um pecador impenitente despreza as riquezas da bondade, da longanimidade e da tolerância de Deus.

O idoso conselheiro de Lutero disse-lhe claramente que ele deveria descontinuar as penitencias e as mortificações, bem como todas as preparações da justiça-própria para tentar obter ou adquirir o favor divino

Conforme Lutero nos revela de forma tocante, essa voz pareceu descer do próprio céu: “Todo autêntico arrependimento começa com o conhecimento do amor perdoador de Deus”.

Enquanto Lutero ouvia, raiou-lhe a luz do entendimento, e uma alegria até então desconhecida tomou conta dele. Nada havia entre ele e Deus! Nada havia entre ele e o perdão! Nada de bondade preliminar ou de sentimentos preparatórios! Lutero aprendeu a lição dada pelo apóstolo. “Cristo… morreu a seu tempo pelos ímpios” (Rm 5.6). Deus “justifica ao ímpio” (Rm 4.5). Todo e qualquer mal existente no ímpio é incapaz de impedir essa justificação; e toda a bondade do pecador (se nele houver tal coisa) não pode ajudá-lo a obtê-la. Ele terá de ser recebido como um pecador, ou nem poderá ser recebido. O perdão oferecido reconhece somente a sua culpa; e a salvação provida na cruz de Cristo considera-o apenas um perdido.

Entretanto, o senso de culpa é por demais profundo para ser facilmente abafado. O temor voltou ao coração de Lutero, e ele foi aconselhar-se uma vez mais, exclamando: “Oh, o meu pecado, o meu pecado!” como se a mensagem de perdão, que ele recebera ainda tão recentemente, fosse boa demais para ser veraz, e como se pecados como os seus não pudessem ser fácil e simplesmente perdoados.

“você quer ser apenas um pecador aparente, e, portanto, necessitado apenas de um Salvador aparente?”

Assim indagou o venerável amigo de Lutero, adicionando então solenemente: “Reconheça que Jesus Cristo é o Salvador de grandes e autênticos pecadores, os quais nada merecem senão a mais total condenação?’

“Mas Deus não é soberano em Seu amor selecionador?” indagou Lutero. E completou: “Talvez eu não seja um dos escolhidos de Deus?’

“Olhe para as cicatrizes de Cristo”, foi a resposta, “e contemple ali a mente bondosa de Deus para com os filhos dos homens. Em Cristo enxergamos Deus, ficamos sabendo Quem Ele é, e como Ele nos ama. Pois o Filho é quem revela o Pai; e o Pai enviou o Filho para que fosse o Salvador do mundo”.

Certo dia, quando estava doente e acamado, disse Lutero a um amigo: “Creio no perdão dos pecados”. E ajuntou: “Porém, o que isso tem a ver comigo?”

“Ah, e isso não inclui os seus próprios pecados?” indagou aquele amigo, acrescentando: “Você crê que os pecados de Davi foram perdoados? e que os pecados de Pedro foram perdoados? Por que você não pode crer que os seus próprios pecados podem ser perdoados? O perdão tanto é para você como foi para Davi ou Pedro”

Foi dessa maneira que Lutero encontrou tranqüilidade. O Evangelho, uma vez crido dessa forma, trouxe a Lutero liberdade e paz. Ele compreendeu que havia sido perdoado, porque Deus dissera que o perdão seria a possessão imediata e garantida de todos quantos dessem credito ás boas-novas da salvação.

No solucionamento da grande questão entre Deus e o pecador, não poderia haver nem barganha e nem preço de qualquer espécie. A base do acordo foi lançada faz quase vinte séculos; e a poderosa transação realizada na cruz do Calvário foi tudo quanto se fez necessário para que o preço fosse pago. “Está consumado” é a mensagem de Deus aos filhos dos homens que perguntam: “Que devo fazer para ser salvo?” Essa transação concluída sobrepuja todos os esforços dos homens para se justificarem, ou para ajudarem a Deus a justificá-los. Vemos Cristo crucificado, bem como vemos Deus em Cristo reconciliando o mundo conSigo mesmo, não imputando aos homens as suas transgressões; e esse fato resulta daquilo que foi realizado na cruz, onde a transferência da culpa do pecador para o divino Filho de Deus foi efetuada de uma vez por todas. Ora, o Evangelho é justamente o anúncio das “boas-novas” dessa grande transação. Quem quer que dê crédito a esse anúncio, toma-se participante de todos os benefícios garantidos por essa transação.

“Mas, não deveria eu sentir-me endividado diante da realização do Espírito Santo em minha alma?”

“Sem dúvida; pois qual esperança poderia haver para você sem a operação do todo-poderoso Espírito, que vivifica os mortos?”

“Nesse caso, não deveria eu esperar pelos impulsos do Espírito? E uma vez recebidos esses impulsos, não deveria eu apresentar os sentimentos despertados por Ele como razões de minha justificação?”

“Não de modo nenhum. Ninguém é justificado pelas realizações do Espírito, mas somente pela realização de Cristo. E as operações do Espírito também não servem de base para a fé, e nem de motivos para alguém esperar o perdão da parte do Juiz de todos. O Espírito Santo opera em nós, não a fim de preparar-nos para sermos justificados, e nem para tomar-nos aptos para recebermos o favor divino, e, sim, para conduzir à cruz, tal e qual nós somos. Pois a cruz é o único lugar onde Deus trata misericordiosamente com os transgressores.”

É na cruz que encontramos paz com Deus e recebemos o Seu favor. Ali achamos não somente o sangue que nos lava, mas também a retidão que nos reveste e embeleza, de tal maneira que dali por diante somos tratados por Deus como se nunca tivesse havido a nossa injustiça, e como se a retidão de Seu Filho fosse nossa.

A isso Paulo chama de retidão “imputada” (ver Rm 4.6,8,11,22,24), a saber, Deus lança a retidão de Cristo em nossa conta, como se tivéssemos direito às bênçãos que tal retidão pudesse obter para nós. Retidão obtida por nós mesmos ou lançada em nossa conta por outro ser humano chamamos retidão infundida, concedida ou inerente, mas retidão alheia, a nós creditada por Deus, como se nossa, chamamos retidão imputada. Paulo alude a isso, quando diz: “…revesti-vos do Senhor Jesus Cristo…” (Rm 13.14 e Gl 3.27). Assim, Cristo nos representa; e Deus trata conosco como quem é representado por Cristo. E então, necessariamente haverá a retidão interna como conseqüência natural. Mas, não devemos esperar obtê-la, antes de irmos a Deus buscar a retidão de Seu Filho.

A retidão imputada deve vir primeiro. Ninguém tem a retidão no íntimo, enquanto não tiver recebido a retidão que vem de fora. Assim, fazer alguém de sua própria retidão o preço oferecido a Deus em troca da retidão que há em Cristo, é desonrar a Deus e negar o valor de Sua cruz. A obra do Espírito não consiste em tomar-nos santos, a fim de podermos ser perdoados, mas em mostrar-nos a cruz, onde os transgressores acham perdão. Tendo achado o perdão ao pé da cruz, iniciamos aquela nova vida de santidade à qual fomos chamados.

O que Deus oferece ao pecador é o perdão imediato: “…não por obras de justiça praticadas por nós..!’ (Tt 3.5), e, sim, pela grande obra de retidão realizada em nosso lugar por nosso Substituto. Nossa qualificação para a obtenção dessa retidão é o fato que somos injustos, tal como a qualificação para que um enfermo receba cuidados médicos é que ele esteja doente.

Sobre alguma bondade anterior, como base para o recebimento do perdão, o Evangelho faz total silêncio. Os apóstolos jamais aludiram a sentimentos religiosos preliminares, como algo necessário para que recebamos a graça de Deus. Temores, perturbações, auto-indagações, amargos clamores implorando misericórdia, pressentimentos de juízo e resoluções de mudança de vida, dentro da seqüência do tempo, podem anteceder o recebimento das boas-novas de salvação por parte do pecador, mas nenhuma dessas coisas constitui a sua preparação, e nem o qualifica. Ele é bem recebido, mesmo sem qualquer dessas coisas. Elas não lhe garantem o perdão, tornando este mais gracioso ou mais gratuito. As necessidades do pecador arrependido foram os seus argumentos: “Deus, sé propício para comigo, um pecador!” Sim, ele precisava de salvação, e dirigiu-se a Deus a fim de recebê-la, e também porque Deus deleita-se em socorrer aos pobres e necessitados. Ele precisava de perdão, foi a Deus e obteve o perdão sem qualquer mérito pessoal e sem ter de pagar coisa alguma. Quando ele NADA TINHA PARA PAGAR sua dívida, Deus o perdoou gratuitamente. Foi o fato que ele nada tinha para pagar que provocou o mais franco perdão.

Ah! Isso é graça. “Nisto consiste o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou” (1Jo 4.10)! Ele nos amou, mesmo quando estávamos mortos em nossos delitos. Ele nos amou, não porque fôssemos bondosos, mas por ser Ele “rico em misericórdia”; não porque fôssemos dignos de Seu favor, mas porque Ele se deleita em mostrar-se longânimo para conosco. Ele nos acolheu movido pela Sua própria graça, e não porque fôssemos dignos de ser amados. “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Sim, Cristo convida os cansados! Esse cansaço espiritual é que capacita o pecador a vir a Cristo, o que também permite que Cristo socorra o pecador. Onde houver esse cansaço, haverá também o descanso! Esses dois aspectos são encontrados lado a lado. Talvez você diga: “Este lugar de descanso não é para mim”. O quê? você quer dizer que esse descanso não se destina a você?” Ora, esse descanso não se destina aos cansados? Talvez você insista: “Mas, eu não posso fazer uso dele”. O quê? Você não pode fazer uso do descanso? Você quer dizer algo como: “Estou tão cansado que nem posso sentar-me?” Se você tivesse dito: Estou tão cansado que nem posso ficar de pé, nem andar e nem subir em lugares elevados, todos lhe entenderiam. Mas, dizer alguém: “Estou tão cansado que nem posso sentar-me” exprime uma grande tolice, ou algo pior, pois estaria fazendo do ato de sentar-se uma ação meritória, dando a entender que sentar-se é fazer algo importante, que requer um longo e prodigioso esforço.

Ouçamos, pois, as graciosas palavras do Senhor: “Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede. Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva” (João 4.10). “Tu lhe pedirias, e ele te daria água viva!” Isso é tudo. Quão real, quão verdadeiro, quão gratuito; e ainda, quão simples! Ou então, escutemos a voz do servo, na pessoa de Lutero: “Oh, meu querido irmão, aprenda a conhecer a Cristo crucificado. Aprenda a entoar um novo cântico; a desistir de obras anteriores, e a clamar a Ele: Senhor Jesus, Tu és a minha retidão, e eu sou o Teu pecado. Tomaste sobre Ti o que é meu, e me deste o que é Teu. O que eu era, nisso Te tornaste, a fim de que eu me tornasse naquilo que eu não era. Cristo habita somente com os pecadores confessos. Medita com freqüência no amor de Cristo e provarás quão doce Ele é”. Sim, perdão, paz, vida – todas essas coisas são dádivas. Os dons divinos, trazidos do céu pelo Filho de Deus são oferecidos pessoalmente a cada pecador necessitado pelo Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Esses dons não se destinam a ser comprados, mas recebidos; da mesma forma que os homens recebem a luz do sol, completa, garantida e gratuitamente. Esses dons não se destinam a ser merecidos por meio de esforços ou sofrimentos pessoais, por meio de orações ou lágrimas; antes, devem ser aceitos imediatamente, como aquilo que foi adquirido pelos labores e pelos sofrimentos do nosso grande Substituto. Não devemos ficar esperando por esses dons, mas eles devem ser aceitos prontamente, sem qualquer hesitação ou falta de confiança, da mesma forma que os homens aceitam os presentes de amor de algum amigo generoso. E também não devem ser reivindicados com base na aptidão ou na bondade, mas antes, por causa da necessidade e indignidade da pobreza e do vazio espirituais.


Obs: O autor prossegue o livro desenvolvendo os seguintes temas: “Qual é Minha Esperança?”, “Em Meu Lugar”, “Muito Tempo”, “Não posso Largar!”, “Para Onde? Para Onde?”, “A Aparência deste Mundo Passa”, “E se Isso for Verdade?” e “A Era Vindoura”.


Horatius Bonar (1808-1889), pastor reformado e escritor de vários hinos. Foi um pastor escocês que se destacou como um perito pregador do Evangelho de Cristo, e também como autor de diversos poemas e hinos, como “Honra, Poder, Majestade”, “Cantai! Exultai!”, “Rio da Vida”, “A Voz de Jesus”, dentre tantos outros que enfileiram-se com os de Isaac Watts e Newton, além de escritor de livros como “Como Irei a Deus?” Editora Fiel.

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Igreja Thomas Neatby

Reunidos no nome do Senhor Jesus

Há mais de cinqüenta anos, quando eu era ainda um jovem servo de Cristo, fiquei muito preocupado com a condição da Igreja naquela ocasião. O slogan de Keswick1, “Todos um em Cristo”, era quase desconhecido tanto em princípio como na prática. A pretensão clerical não tinha recebido o duro choque que sofreu alguns anos mais tarde, por ocasião do avivamento irlandês. O mundanismo, essa armadilha constante para os filhos de Deus, dominava. O sectarismo, o clericalismo e o mundanismo na Igreja eram uma carga real para mim.

Nessa ocasião fiquei conhecendo alguns cristãos devotos2, que se reuniam de modo bem simples, e, segundo meu parecer, conforme o padrão bíblico de adoração e comunhão. Eles partiam o pão no “primeiro dia da semana” e recebiam todos os que lhes davam motivos de crer que eram realmente filhos de Deus, sãos na fé e piedosos na conduta. Não tinham uma classe distinta de ministros, embora fossem gratos por todos aqueles que o Senhor qualificava para tal e usava na “obra do ministérios para edificação do Corpo de Cristo”. Eu havia encontrado o que procurava. Fui reconhecido como discípulo, pregador do Evangelho, segundo minha medida, e logo recebido como irmão em Cristo.

Descobri que havia muito o que aprender. Essas pessoas felizes, com pouca pretensão, estavam vivendo verdades das quais eu conhecia pouco ou nada. A salvação plena no Cristo ressurreto, com Quem eles eram um pelo Espírito Santo que neles habitava, a chamada distinta e especial da Igreja como Corpo e Noiva de Cristo, a esperança real e diária da Sua volta, o lugar importante e soberano de Israel na Palavra e caminhos de Deus e outras verdades semelhantes eram seu alimento e gozo diários. Tive o prazer de participar com eles dessas alegrias e de ver meu coração ligado mais intimamente a Cristo Jesus, meu Senhor. O que aprendi de Deus naquela ocasião eu guardo ainda mais firmemente. Seria um dia nublado e negro encontrar-me sem uma das verdades que então alegraram meu coração.

Os anos passaram e, em meio a muitas fraquezas e falhas, minhas convicções com respeito a essas verdades foram fortalecidas e meu prazer nelas aumentou. Mas, pouco a pouco, descubro que o sectarismo havia me seguido onde eu pensava estar protegido dele, e que, em certa medida, ele havia tomado posse de mim. O diabo é sutil, e nós, ai! somos propensos à carnalidade e a andar “como homens” (1Co 3.4, grego), nos tornando assim presa fácil para o inimigo de Cristo que nos leva a pensar que estamos servindo a Ele ou, então, a rejeitar e criticar aqueles que “não nos seguem” (Lc 9.49). João, sem dúvida, julgava-se zeloso por seu Senhor, enquanto seu zelo carnal tinha o “nós” como alvo.

Mesmo depois de toda a verdade de “Cristo e a Igreja” ter sido revelada, havia aqueles que fizeram de Cristo a cabeça de um partido rival aos de Pedro, de Paulo e de Apolo. Ambos os casos, eram, na verdade, muito sutis. João poderia ter dito corretamente: “Ele deve seguir a Cristo juntamente conosco, que somos Seus apóstolos escolhidos.” E o partido em Corinto poderia ter respondido: “Certamente é correto sermos de Cristo”. Mas a resposta do Senhor a João e a pergunta do Espírito Santo foi: “Está Cristo dividido?” Isso mostra que a carne (e portanto Satanás; veja Mt 16.23) estava operando em ambos os casos. Foi em 1884 que escrevi um folheto no qual eu reclamava para aqueles com quem eu me reunia para adoração a exclusividade de estarem reunidos para o nome do Senhor Jesus. Que carnalidade coríntia! Dois anos mais tarde, confessei publicamente meu grave erro. Mas agora que o tumor se espalhou e os termos que o encerram receberam de alguns distritos a aprovação para uso habitual, sinto que uma retratação mais categórica se faz necessária, juntamente com um sério protesto contra a apropriação por parte de apenas uns poucos daquilo que é privilégio de todos os filhos de Deus.

Permitam-me apresentar dois exemplos desse título denominacional: (1) Tenho visto repetidamente nos últimos anos cópias impressas de uma “carta de recomendação” a ser preenchida quando necessário. Seu conteúdo é mais ou menos assim: “Os santos reunidos para o Nome do Senhor Jesus em… recomendam etc.”. A carta é endereçada aos “santos reunidos para o Nome do Senhor Jesus em…”; (2) Um periódico, dando relatórios da evangelização dos distritos do sudoeste, menciona que ele é feito “em nome das assembléias de cristãos reunidos no Nome do Senhor Jesus”.

Existem, então, “cristãos reunidos no Nome do Senhor Jesus” distintos dos cristãos que não se reúnem assim. Esse é o título denominacional deles. São formados em assembléias que levam essa denominação distinta. Não são mais “reuniões” de cristãos que rejeitam todos os nomes ou títulos que os distinguem dos outros santos. (Essa foi nossa glória em outros tempos.) Eles encontraram um nome para competir com todos os outros nomes, tais como os de Paulo, Apolo e Cefas: são cristãos reunidos no nome do Senhor Jesus, a escola (ou classe) coríntia de Cristo. Meus irmãos, isso é carnalidade!

Para mim, “o antigo é melhor”. A “escola (ou grupo) de Cristo”, as “assembléias reunidas no nome do Senhor Jesus” eu não posso suportar. Mais precisamente, deixem que eu seja um com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor, Jesus Cristo, Senhor deles e nosso (1Co 1.2).

Poderei ser interrogado: “Você não está reunido para o Nome de Cristo?” Minha resposta: “Nem sempre, nem distintivamente.” Eu não estou “reunido” enquanto escrevo estas linhas. Sou sempre uma ovelha do único rebanho de Cristo; algumas vezes reunido com outros para adoração e comunhão, e por isso sempre, graças a Deus, no nome de Cristo! Permita-me rogar ao leitor que considere bem Mateus 18.20, dentro do seu contexto, sem atribuir qualquer significado que não esteja nele. Imaginemos um grupo de cristãos zelosos (presbiterianos, episcopais, batistas, metodistas, “amigos” e aqueles que rejeitam todos os títulos que dividem) que consideram que um diploma tende a roubar deles a liberdade que desejam há tanto tempo, e que ele é a cunha fina que abre a passagem para a mulher montada na besta escarlate. Esses homens, podemos supor, não têm liberdade para se unir em resistência passiva ou para interferir no governo do mundo, mas sentem que, se suas orações “por todos os homens” são necessárias, agora é o tempo. Eles estão “reunidos” e “concordam” nas súplicas ao trono da graça celestial. Em nome de quem eles estão reunidos? Só existe uma resposta, pois só existe um nome acessível diante daquele trono. Foi esse nome que Elias invocou no monte Carmelo por um Israel não-dividido; foi o nome Dele, que agora conhecemos como nosso Senhor, Jesus Cristo, o único nome que assegura toda bênção pedida para toda a Igreja de Deus. Oh, que eu esteja sempre reunido, quando reunido, naquele nome! E aquilo que valorizo tanto para mim não seja recusado por mim a qualquer santo de Deus.

O uso atual desse título discriminativo por uma parte da Igreja é comparativamente recente. E o “reunidos” também é recente? Nos tempos modernos os cristãos não foram acostumados a se reunir do modo referido, antes da segunda quarta parte do século passado. Não havia então reunião no nome de Cristo entre os primeiros séculos de nossa era, e, digamos, 1826 [quando os irmãos de Plymouth começaram a se reunir – NT]? Certamente que não se poderia encontrar nenhum cristão que afirme isso. A Igreja perdeu logo no início sua esperança: a volta do Noivo Celestial, e, com ela, a separação do mundo. Em pouco tempo provou sua infidelidade ao seu Senhor crucificado e foi arruinada quanto ao seu testemunho e responsabilidade. O Senhor deixou-se ficar sem “dois ou três” reunidos em Seu nome durante todos esses séculos? Os santos se reuniam na época da Era das Trevas, mas no nome de quem? Alguns deles “andaram vestidos de peles de ovelhas e cabras, necessitados, aflitos e maltratados” (Hb 11.37). Estes, quando levados às covas e cavernas, oraram juntos? E no nome de quem? Se fosse no nome de Júpiter, Astarote ou Maria, eles teriam sido libertados. Mas os que confessavam o Nome e deram a vida por Ele como mártires, deles era a comunhão dos Seus sofrimentos (Fp 3.10).

Regozijando-se por participar da Sua rejeição, suas orações oferecidas em culto e freqüentemente interrompidas pelo fogo e pela espada subiram como incenso suave em o Nome e oferecidas pela mão sacerdotal Daquele que morreu, mas está vivo de novo!

Reunir-se em Seu nome é um privilégio sem preço! É precioso demais para ser outorgado exclusivamente a qualquer dos fragmentos resultantes da quebra do testemunho, que foi verdadeiramente a obra Daquele que é “maravilhoso conselheiro e excelente na obra”. A nós pertence a vergonha e a confusão de rosto, pelo modo como temos cuidado da Sua obra.

Diga-me: o reunir-se no nome de Cristo pertence àqueles assim chamados de comunhão aberta ou aos de comunhão fechada? Os líderes de cada grupo não reclamam esta prerrogativa para si e a negam aos outros? Ela deve ser entregue a qualquer um dos inúmeros corpos nos quais (ai!) o lindo testemunho uma vez levantado por Deus para a glória de Cristo e os privilégios da Igreja que é Seu Corpo foi dividido? Se a teoria que serve de base para esse título denominacional for verdadeira, apenas um desses corpos pode ter o direito de adotá-la. E qual é ele?

Meus irmãos, e qualquer entre vocês que temem a Deus, busquemos a graça para lançar fora, aos pés da cruz, nossas vãs pretensões e assumir nosso lugar em humilde confissão diante de Deus. Nosso orgulho tem entristecido e feito tropeçar muitos que são caros a Deus. Muitos deles se desviaram e seus filhos também, quando poderiam estar andando agora entre nós no conforto do Espírito Santo. Está escrito em verdade eterna: “DEUS RESISTE AO SOBERBO!” Ai do homem ou do grupo a quem Deus resiste!

Se a metade da energia que tem sido gasta para produzir e manter altas reivindicações eclesiásticas tivesse sido dedicada ao Senhor para fazer veredas direitas para nossos pés (Hb 12.13), para andarmos em humildade e fidelidade, dando frutos para Deus, buscando zelosamente a bênção para toda a família da fé e ganhando almas para Cristo, que colheita de bênçãos teria sido ceifada hoje!

É de se temer que muitos entraram num caminho realmente de fé, sem o quebrantamento de espírito tão essencial para trilhar tal caminho. O que diríamos de um bêbado ou de um homem desonesto que dissesse que estava convencido da sua tolice e que se dispunha a virar uma nova página, isto é, a viver uma nova vida? Não ficaríamos tristes com sua justiça própria? Sem arrependimento para com Deus? Sem necessidade do sangue expiador ou do Espírito vivificante! O que diremos então de um cristão que está convencido de que seu caminho não tem sido de acordo com a Palavra de Deus, e, portanto, não agradável a Ele, o qual, de igual modo, virou uma nova página e está determinado a andar segundo o que se encontra na Escritura? Sem ervas amargas? Sem confissão? Não é isso a própria essência da justiça própria? O primeiro passo é o do orgulho. E o curso subseqüente? Não temos aqui a explicação para o orgulho e auto-satisfação encontrados em nosso meio?

“ELE PODE HUMILHAR OS QUE ANDAM NA SOBERBA” (Dn 4.37)

1 Referência à Conferência de Keswick, movimento que reuniu os mais sérios e profundos pregadores da sua época.
2 Trata-se dos “brethren” (irmãos), grupo de cristãos que não tomava sobre si nenhum outro nome que não o do Senhor. Sua importância e herança para a história da Igreja ainda não são totalmente conhecidas! Um pouco sobre eles pode ser encontrado a partir da pequena biografia de John Nelson Darby.

 

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Encorajamento Vida cristã

Chamado do alto

Se Deus tem chamado você para que seja verdadeiramente como Jesus com todas as forças de seu espírito, Ele estimulará você para que leve uma vida de crucificação e humildade, e exigirá tal obediência que você não poderá imitar aos demais cristãos, pois Ele não permitirá que você faça o mesmo que fazem os outros, em muitos aspectos.

Outros, que aparentemente são muito religiosos e fervorosos, podem ter a si mesmos em alta estima, podem buscar influência e ressaltar a realização de seus planos; você, porém, não deve fazer nada disso, pois se tentar fazê-lo, fracassará de tal modo e merecerá tal reprovação por parte do Senhor, que você se converterá em um penitente lastimável.

Outros poderão fazer alarde do seu trabalho, de seus êxitos, de seus escritos, mas o Espírito Santo não permitirá a você nenhuma dessas coisas. Se você começar a proceder dessa forma, Ele o consumirá em uma mortificação tão profunda que você depreciará a si mesmo tanto quanto a todas as suas obras.

A outros será permitido conseguir grandes somas de dinheiro e dar-se a luxos supérfluos, porém Deus só proporcionará a você o sustento diário, poque quer que você tenha algo muito mais valioso que o outro: uma absoluta dependência dEle e de Seu invisível tesouro.

O Senhor perimitirá que os demais recebam honras e se destaquem, enquanto mantém você oculto na sombra, porque Ele quer produzir um fruto seleto e fragrante para Sua glória vindoura, e isso só pode ser produzindo na sombra.

Deus pode permitir que os demais sejam grandes, mas você deve continuar sendo pequeno; Deus permitirá que os outros trabalhem para Ele e ganhem fama, porém fará com que você trabalhe e se desgaste sem que saiba sequer quanto está fazendo. Depois, para que seu trabalho seja ainda mais valioso, permitirá que outros recebam o crédito pelo que você faz, com o fim de lhe ensinar a mensagem da cruz: a humildade e algo do que significa participar da Sua natureza. O Espírito Santo manterá sobre você uma estrita vigilância e, com zeloso amor, lhe reprovará por suas palavras, ou por seus sentimentos indiferentes, ou por malgastar seu tempo, coisas estas que parecem não preocupar aos demais cristãos.

Por isso, habitue-se à idéia de que Deus é um soberano absoluto que tem o direito de fazer o que Lhe apraz com os que Lhe pertencem, e que não pode explicar-lhe a infinidade de coisas que poderiam confundir sua mente pelo modo como Ele procede com você. Deus lhe tornará a palavra; e se você se vende para ser Seu escravo sem reservas, Ele o envolverá em um amor zeloso que permitirá que outros façam muitas coisas que a você não são permitidas. Saiba-o de uma vez por todas: você tem de se entender diretamente com o Espírito Santo acerca dessas coisas, e Ele terá o privilégio de atar sua língua, ou de colocar algemas em suas mãos ou de fechar seus olhos para aquilo que é permitido aos demais. Entretanto, você conhecerá o segredo do reino. Quando estiver possuído pelo Deus vivo de tal maneira que se sinta feliz e contente no íntimo de seu coração com essa peculiar, pessoal, privada e zelosa tutoria e com esse governo do Espírito Santo sobre sua vida, então, haverá encontrado a entrada dos céus, o chamado do alto, de Deus.

(Traduzido do espanhol de um folheto encontrado na Colômbia, sem qualquer outra informação a não ser esta: Autor Conhecido Somente por Deus. Extraído do livro O Homem que Deus Usa, Editora dos Clássicos)

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Vida cristã

A velha e a nova cruz (A. W. Tozer)

Sem fazer-se anunciar e quase despercebida uma nova cruz introduziu-se nos círculos evangélicos dos tempos modernos. Ela se parece com a velha cruz, mas é diferente; as semelhanças são superficiais; as diferenças, fundamentais.

Uma nova filosofia brotou desta nova cruz com respeito à vida cristã, e desta nova filosofia surgiu uma nova técnica evangélica – um novo tipo de reunião e uma nova espécie de pregação. Este novo evangelismo emprega a mesma linguagem que o velho, mas o seu conteúdo não é o mesmo e sua ênfase difere da anterior.

A velha cruz não fazia aliança com o mundo. Para a carne orgulhosa de Adão ela significava o fim da jornada, executando a sentença imposta pela lei do Sinai. A nova cruz não se opõe à raça humana; pelo contrário, é sua amiga íntima e, se compreendermos bem, considera-a uma fonte de divertimento e gozo inocente. Ela deixa Adão viver sem qualquer interferência. Sua motivação na vida não se modifica; ela continua vivendo para seu próprio prazer, só que agora se deleita em entoar coros e a assistir filmes religiosos em lugar de cantar canções obcenas e tomar bebidas fortes. A ênfase continua sendo o prazer, embora a diversão se situe agora num plano moral mais elevado, caso não o seja intelectualmente.

A nova cruz encoraja uma abordagem evangelística nova e por completo diferente. O evangelista não exige a renúncia da velha vida antes que a nova possa ser recebida. Ele não prega contrastes mas semelhanças. Busca a chave para o interesse do público, mostranto que o cristianismo não faz exigências desagradáveis; mas, pelo contário, oferece a mesma coisa que o mundo, somente num plano superior. O que quer que o mundo pecador esteja idolizando no momento é mostrado como sendo exatamente aquilo que o evangelho oferece, sendo que o produto religioso é melhor.

A nova cruz não mata o pecador, mas dá-lhe nova direção. Ela o faz engrenar em um modo de vida mais limpo e agradável, resguardando o seu respeito próprio. Para o arrogante ela diz: “Venha e mostre-se arrogante a favor de Cristo”; e declara ao egoísta: “Venha e vanglorie-se no Senhor”. Para o que busca emoções, chama: “Venha e goze da emoção da fraternidade cristã”. A mensagem de Cristo é manipulada na direção da moda corrente a fim de torná-la aceitável ao público.

A filosofia por trás disso pode ser sincera, mas na sua sinceridade não impede qe seja falsa. É falsa por ser cega, interpretando erradamente todo o significado da cruz.

A velha cruz é um símbolo da morte. Ela representa o fim repentino e violento de um ser humano. O homem, na época romana, que tomou a sua cruz e seguiu pela estrada já se despedira de seus amigos. Ele não mais voltaria. estava indo para seu fim. A cruz não fazia acordos, não modificava nem poupava nada; ela acabava completamente com o homem, de uma vez por todas. Não tentava manter bons termos com sua vítima. Golpeava-a cruel e duramente e quando terminava seu trabalho o homem já não existia.

A raça de Adão está sob sentença de morte. Não existe comutação de pena nem fuga. Deus não pode aprovar qualquer dos frutos do pecado, por mais inocentes ou belos que pareçam aos olhos humanos. Deus resgata o indivíduo, liquidando-o e depois ressucitando-o em novidade de vida.

O evangelismo que traça paralelos amigáveis entre os caminhos de Deus e os do homem é falso em relação à bíblia e cruel para a alma de seus ouvintes. A fé manifestada por Cristo não tem paralelo humano, ela divide o mundo. Ao nos aproximarmos de Cristo não elevamos nossa vida a um plano mais alto; mas a deixamos na cruz. A semente de trigo deve cair no solo e morrer.

Nós, os que pregamos o evangelho, não devemos julgar-nos agentes ou relações públicas enviados para estabelecer boa vontade entre Cristo e o mundo. Não devemos imaginar que fomos comissionados para tornar Cristo aceitável aos homens de negócio, à imprensa, ao mundo dos esportes ou à educação moderna. Não somos diplomatas mas profetas, e nossa mensagem não é um acordo mas um ultimato.

Deus oferece vida, embora não se trate de um aperfeiçoamento da velha vida. A vida por Ele oferecida é um resultado da morte. Ela permanece sempre do outro lado da cruz. Quem quiser possuí-la deve passar pelo castigo. É preciso que repudie a si mesmo e concorde com a justa sentença de Deus contra ele.

O que isto significa para o indivíduo, o homem condenado quer encontrar vida em Cristo Jesus? Como esta teologia pode ser traduzida em termos de vida? É muito simples, ele deve arrepender-se e crer. Deve esquecer-se de seus pecados e depois esquecer-se de si mesmo. Ele não deve encobrir nada, defender nada, nem perdoar nada. Não deve procurar fazer acordos com Deus, mas inclinar a cabeça diante do golpe do desagrado severo de Deus e reconhecer que merece a morte.

Feito isto, ele deve contemplar com sincera confiança o salvador ressurreto e receber dEle vida, novo nascimento, purificação e poder. A cruz que terminou a vida terrena de Jesus põe agora um fim no pecador; e o poder que levantou Cristo dentre os mortos agora o levanta para uma nova vida com Cristo.

Para quem quer que deseje fazer objeções a este conceito ou considerá-lo apenas como um aspecto estreito e particular da verdade, quero afirmar que Deus colocou o seu selo de aprovação sobre esta mensagem desde os dias de Paulo até hoje. Quer declarado ou não nessas exatas palavras, este foi o conteúdo de toda pregação que trouxe vida e poder ao mundo através dos séculos. Os místicos, os reformadores, os revivalistas, colocaram aí a sua ênfase, e sinais, prodígios e poderosas operações do Espírito Santo deram testemunho da operação divina.

Ousaremos nós, os herdeiros de tal legado de poder, manipular a verdade? Ousaremos nós com nossos lápis grossos apagar as linhas do desenho ou alterar o padrão que nos foi mostrado no Monte? Que Deus não permita! Vamos pregar a velha cruz e conhecermos o velho poder.

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Fonte: O Melhor de A. W. Tozer, Editora Mundo Cristão, pp. 151-3.

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O que sai da boca (Watchman Nee)


“O que guarda a sua boca preserva a sua vida” (Pv 13:3); “Um a língua suave é arvore de vida; mas a língua perversa quebranta o espírito” (Pv 15:4)
“Do que há em abundancia no coração, disso fala a boca”; “Digo-vos, pois, que de toda palavra fútil que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo. Porque pelas tuas palavras serás justificado, e por suas palavras serás condenado”. (Mt 12:34, 36 e 37)

Se um balde contendo água tiver um buraco, toda a água escapará. Não se trata de haver água ou não, mas sim se existe vazamento. Alguns irmãos e irmãs mostram que buscam realmente ao Senhor no conhecimento da Cruz. Às vezes eles desejam carregar a Cruz com sinceridade. Tudo indica que eles deveriam estar cheios de vida (espiritual). O estranho é que nessas pessoas que buscam, admiram e até mesmo tomam a Cruz, não podemos tocar na vida. Pelo contrário, a gente toca na morte. Qual é a razão para tal situação? A resposta é uma só: a vida que receberam, vazou toda.

Palavras Vãs Vazam a Vida
O que guarda a sua boca preserva a sua vida; mas o que muito abre os lábios traz sobre si a ruína.” (Pv 13:3). Não temos a ousadia de afirmar dogmaticamente que quando Salomão escreveu esse provérbio, ele se referia à vida física ou espiritual. Todavia, podemos tomar principio dele e aplicá-lo à esfera espiritual, Essa palavra nos mostra uma coisa: aquele que busca ao Senhor e deseja suprir a igreja com a vida que recebe, deve ser cuidadoso com suas palavras. Se não for cuidadoso sua vida vazará. Porque alguns não são de utilidade nas mãos de Deus? É porque tem havido um vazamento da vida. Nessas pessoas só podemos tocar na morte e não na vida. Por essa razão, precisamos guardar nossa boca diligentemente diante do Senhor. Muitas historias podem ser contatadas com respeito a essa verdade, de que como as palavras vãs vazam a vida, mais do que de qualquer outra coisa. Isso não significa que o pecado seja melhor do que as palavras vãs, mas podemos dizer que à parte do pecado, o que mais dissipa a vida são as nossas palavras inúteis.

Palavras Sujas ou Palavras Vãs
“Digo-vos, pois, que de toda palavra fútil (vazia) que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo” (Mt 12:36). O Senhor Jesus está Se referindo a palavras sujas? Não! Palavras difamadoras? Não! Palavras más? Não! Aqui se trata de palavras vãs: palavras fúteis, vazias, inúteis! Palavras vãs são palavras supérfluas, irrelevantes e desnecessárias, ou boatos que provocam disputas. “Hão de dar conta delas no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado e pelas tuas palavras seras condenado”. Foi isso que o Senhor Jesus disse. Podemos ver a seriedade das palavras vãs e também as palavras de boatos? Não é só a palavra impura que é grave; a palavra fútil é de solene significação. Em certas coisas e certos tipos de pecados particulares nós podemos fazer coisas e outros pecados que não podem ser compensados de modo algum. Como você pode compensar as palavras vãs faladas contra os outros? Você pode ir até à pessoa e confessar o pecado e retirar suas palavras; mas o som delas já entrou nos ouvidos dela e não há como eliminá-las. Você pode reembolsar alguém por coisas roubadas, mas por que meios se poderá reparar o prejuízo causado por meio das palavras? Tal pecado será apresentado diante de Deus. Por isso o Senhor diz: “Toda palavra vã que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado”.

Língua Suave: Árvore de Vida
“Uma língua suave é arvore de vida; mas a língua perversa quebranta o espírito”. (Pv 15:4). Suave ou gentil significa não ser superaquecida. É ser moderado e correto no tom. O muito falar aquece a língua e quando isso acontece não existe mais arvore de vida. Somente uma língua suave é que e árvore de vida. Uma língua suave é aquela que não é nem apressada, nem tola, nem tagarela. Tal língua é árvore de vida. Não podemos sentir o perfume de Cristo num cristão que gosta de tagarelar com palavras inúteis. Aquele que tem prazer em conversar futilidade, não tem condições de suprir os outros com vida, pois uma palavra fútil produz uma grande abertura através da qual a vida (espiritual) é vazada.

Trate com Seu Coração
Sabendo que a palavra vã desperdiça a vida, o que devemos fazer a esse respeito? A fim de guardar nossa boca, precisamos primeiro tratar com o coração: “Pois da abundancia do coração fala a boca”, diz o Senhor. Aboca fala aquilo que esta no coração. Se você tem algo em seu coração, mais cedo ou mais tarde isso será manifesto por sua boca. Se você não disser aqui, vai dizer lá; se não for nessa casa será naquela outra. A boca há de falar aquilo que enche o coração. Por isso, para se aprender a não dizer palavras vãs e fúteis diante de Deus, o coração deve ser tratado. Se ele não for tratado, sua boca também não o será. Porque todas as demais coisas que enchem o coração, disso fala a boca. Nunca se desculpe dizendo que você é alguém que fala sem colocar o coração nas palavras. Segundo as palavras do Senhor Jesus, não existe tal possibilidade. O coração vem junto com a boca (isto é, com as palavras). Ela apenas expressa o que está no coração. Por isso o coração deve ser tratado antes da boca.

Concordância no Falar
Por causa dos problemas existentes entre os irmãos em Corinto, Paulo os exortou dizendo: “Sejais concordes no falar”. (I co 1:10). Como podiam falar a mesma coisa? “Sendo unidos no mesmo pensamento e no mesmo parecer”. A vida da igreja é semelhante à vida de um individuo: assim como ela pode vazar através das palavras vãs, do mesmo modo acontece com a vida da igreja. Visto termos a mesma vida, sejamos de uma mente e de um parecer. Se for assim, poderemos falar a mesma coisa e seremos guardados de pronunciar palavras vãs. Tratemos, portanto, com nosso coração, a fim de que a boca também seja tratada.

Uma Boca: Duas Linguagens?
“Porventura a fonte deita da mesma abertura água doce e água amargosa?” (Tg 3:11). Se uma fonte não pode deitar dois tipos diferentes de água, como pode uma mesma boca ter dois diferentes tipos de linguagem? Assim como uma fonte só produz um tipo de água, assim também a boca só pode falar um tipo de linguagem. Precisamos tratar especificamente com as palavras vãs, porque tal vazamento não for detido, qualquer coisa que não deveria entrar acabará entrando por um lado, e o que não deveria sair acabará saindo pelo outro lado. Tal perda será incalculável! Por isso, tal vazamento precisa ser detido! Peçamos ao Senhor: “Senhor, trate com meu coração, a fim de que minha boca seja guardada por tua graça”.

Feche a Boca dos Outros
Você precisa tratar também com a boca dos outros, ajudando aqueles que gostam de dizer palavras vãs e se deleitam em tagarelar e espalhar boatos. Quando tais pessoas vierem a você com a intenção de dizer palavras vãs, não deixe que elas comecem. Diga-lhes: “Irmão, irmã, vamos orar”. Assim você as conduzirá ao caminho certo, não permitindo que pronunciem palavras inúteis, mas falando versículos da Bíblia ou se dedicando à oração. Você pode até mesmo ser bem rude e dizer: “Irmão, vamos aprender a dizer palavras que edificam. É melhor do que falar palavras vãs”.
Se desejarmos deter completamente o vazamento, devemos pedir também a Deus que nos livre da nossa própria curiosidade, para que possamos aprender a temê-Lo. Muitos cristãos são tão cheios de curiosidade que anseiam ouvir estórias estranhas e impuras. Seus ouvidos são como latas de lixo, nas quais todo tipo de coisas é jogado. Se formos livrados dessa curiosidade, pecaremos menos e do mesmo modo ajudaremos nossos irmãos a não cometerem tanto pecados. Se nossos ouvidos não estiverem cocando e se não dermos oportunidade diante de Deus, a fim de que a vida não seja dissipada em nós e o vazamento nos outros seja detido também.

Extraído do livro Practical Issues of This Life, de Watchman Nee, publicado por Christian Fellowship Publishers

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O chamado divino (R. K. Campbell)

O chamado para o ministério do Evangelho, ou para cuidar das ovelhas de Deus, vem do próprio Senhor, coisa tão certa hoje como quando Ele chamou os apóstolos ou levantou outros para ministrar Sua Palavra na Igreja primitiva (Ef 4:11, Rm 12:6-8 e 1 Pd 4:10). Mesmo os verdadeiros profetas do Senhor no Antigo Testamento foram chamados por Ele mesmo para a realização de suas tarefas. De outros profetas, aqueles que profetizaram mentiras em Seu nome, disse Ele: “nunca os enviei, nem lhes dei ordem” (Jr 14:14). Essas palavras são certamente aplicáveis a muitos falsos mestres e pregadores hoje em dia.
Porém todo verdadeiro servo de Cristo terá plena consciência em sua própria alma do chamado divino para o serviço. O Espírito Santo opera nos corações daqueles que o Senhor quer usar como Seus ministros. O seu chamado se realiza na alma de Seus ministros e o coração é exercitado e levado a desejar responder à chamada celestial. Muitos exemplos deste chamado divino se encontram no Antigo Testamento, os quais o leitor interessado poderá considerar proveitosamente (vide Is 6, Jr 1, Mc 1:16-20, 3:13-14, Atos 9 e 22 como alguns exemplos).

Sem tal exercício de coração, produzido pelo Espírito Santo, e sem ter consciência do chamado divino e alguma medida de dom para isto, nenhum cristão deveria aventurar-se no ministério público de Cristo. Porque não nos é dado o direito de escolher o nosso lugar e o tipo de serviço no Corpo de Cristo. Essa prerrogativa pertence ao Senhor somente. Nosso lugar é o de aprender a Sua vontade para cada um individualmente e ocupar o lugar a nós designado. Se alguém sai a pregar ou a ensinar sem ser chamado por Deus para realizar esta obra santa, não será sustentado por Deus e sucumbirá cedo ou tarde, ou falhará ao executar a obra do Senhor. Aqueles que o Senhor chama, Ele mesmo os capacita e qualifica para o serviço, e sem esta capacitação o ministério não pode ser realizado corretamente.

A natureza e o alcance do chamado para o ministério público varia muito. O Senhor da seara o fará claro a cada servo exercitado que tem sido chamado, exatamente onde, como e até que ponto deve servir. Um pode ser chamado para trabalhar localmente, outro para viajar através de sua terra natal e outro para ir a um distante país pagão. Um pode ser chamado, depois de devida preparação e treinamento na escola de Deus, a dar todo o seu tempo à obra do Senhor, enquanto outro pode ser chamado para continuar em sua profissão diária e, por sua vez, pregar e ensinar em suas horas livres.

É uma idéia equivocada de que alguém não pode levar avante sua profissão terrena para sua subsistência e ainda ser um ministro, ou que somente aqueles que dedicam todo seu tempo para o serviço do Senhor é que são seus ministros. Nas Escrituras não há tal coisa como divisão de cristãos em duas classes: “o clero oficial” e “os laicos”, como comumente é conhecido hoje em dia ou o pensamento de que o ministério é uma profissão honrada a ser tomada para subsistência, como é o caso das outras profissões. Antes, o ministério é um santo chamado e um serviço celestial a ser exercitado como um trabalho de amor a Cristo, em dependência d’Ele para seu sustento nesse lugar. Embora seja verdade que o “trabalhador é digno do seu salário” (1 Tm 5:18), e que “aos que pregam o evangelho, que vivam do evangelho” (1 Co 9:18), ainda temos também o exemplo de Paulo, o grande apóstolo, que trabalhou dia e noite fazendo tendas e pregando o Evangelho sem remuneração (Atos 18:3-4, 1 Ts 2:9).

Nesta associação devemos citar as pesadas palavras de C.H.Mackintosh: “Estamos convencidos de que, por regra geral, é melhor que todo homem trabalhe com as mãos ou com seu cérebro em alguma atividade como profissão, e que pregue e ensine também, se dotado para fazer isso. Há exceções, sem dúvidas, à regra. Existem alguns que são tão manifestamente chamados, capacitados, usados e sustentados por Deus, que não pode haver possível engano quanto a sua linha de conduta. Suas mãos estão tão cheias de trabalho, o tempo deles tão absorvido com o ministério de falar, escrever, ensinar publicamente e visitar de casa em casa, o que lhes seria impossível para aceitarem o que é denominado trabalho secular – embora não gostemos da frase. Todos quantos têm que seguir adiante com Deus, dependendo d’Ele, Ele os manterá sem falta até o fim.

Extraído do livro A Igreja do Deus Vivo, do irmão R. K. Campbell, do Depósito de Literatura Cristã
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