Prezado leitor, esse é o último artigo Gotas de orvalho de 2019. Agradecemos ao Senhor por ter-nos capacitado a, durante esse ano, apesar de nossas muitas limitações e fraquezas, manter-nos firmes no propósito de oferecer a Seu povo um pouco de Suas insondáveis riquezas, espalhadas em Seus ricos campos ao longo das eras. Enquanto o Senhor nos der Sua graça, queremos perseverar em fielmente recolher algumas dessas respigas que Seus servos fiéis têm deixado cair para alimentar pobres, necessitados, estrangeiros, viúvas, amargurados, desamparados…
Em nome de toda a equipe do blogue Campos de Boaz, agradeço aos leitores, aos que nos acompanham por meio das redes sociais, aos que conversaram conosco por meio de perguntas e comentários. Que o Senhor abençoe a cada um em sua busca por conhecê-Lo mais e amá-Lo mais!
O testemunho de uma das colaboradoras do blogue sintetiza bem a experiência de outros leitores:
“Conhecer o singelo trabalho do Campos foi de muita edificação para minha vida; porém, quando fui convidada a colaborar, esse trabalho se tornou instrumento para um constante falar de Deus comigo. Por diversas vezes, minhas dúvidas e inquietações, que mal chegavam a ser orações, foram respondidas. Algumas palavras eram como alento a minha alma; outras vezes eu nem queria ouvi-Lo por meio dos artigos, mas, pelo compromisso assumido, fazia as leituras e era cortada por essa Palavra de dois gumes. Sou grata ao Senhor por cooperar com Seu trabalho de oleiro, a Ele que, mediante Sua Palavra, tem moldado a mim e a muitos outros irmãos. Que Ele nos encha de Sua graça para continuarmos.”
(Sileisa)
Outro colaborador fala aos leitores em nome de toda a equipe:
“‘E chamou-lhe Ebenézer; e disse: Até aqui nos ajudou o Senhor’ (1Sm 7.12). Sem o Senhor, nada podemos fazer. Por mais um ano, por meio de Sua imensa graça, seguida de Sua paciência com nossas imensas limitações, o Senhor nos sustentou. Esperamos que os artigos publicados tenham sido de proveito para nossos queridos irmãos, de todos os que formam Seu tão amado Corpo. Agradecemos pelas orações, que são muito necessárias. Que a graça e a paz do Senhor seja com todos.”
(Rafael)
E até o próximo ano (caso nosso amado Senhor não volte antes)!
Deus nos ama quando não há nada em nós que mereça Seu amor ou para fazer com que Ele nos ame.
(John Owen)
Há um tremendo alívio em saber que o amor de Deus por mim é estabelecido, em cada ponto, sobre um conhecimento prévio do pior sobre mim.
(J. I. Packer)
Por meio da luz da natureza, nós vemos Deus como um Deus acima de nós. Por meio da luz da lei, nós O vemos como um Deus contra nós. Mas, por meio da luz do evangelho, nós O vemos como Emanuel, Deus com nós.
(Matthew Henry [o erro de português da tradução é proposital, com o objetivo de conservar a ênfase do original])
O grande paradoxo ou a suprema ironia da fé cristã é que somos salvospor Deus e para Deus.
(R. C. Sproul)
Para que você pudesse ser salvo, Alguém teve de receber a ira divina em seu lugar, e foi o próprio Deus quem o fez.
(Paul Washer)
A lei descobre a doença; o evangelho dá o remédio.
(Martinho Lutero)
Jesus lhes disse: “Eu sou o pão da vida; aquele que vem a Mim não terá fome, e quem crê em Mim nunca terá sede. […] Todo o que o Pai Me dá virá a Mim; e o que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora. […] Ninguém pode vir a Mim se o Pai que Me enviou o não trouxer; e Eu o ressuscitarei no último dia.”
Este era o pensamento que consolava meu coração aflito. A sujeira e a escuridão eram angustiantes.
“Senhor, cuida do meu filho!”
Alguns meses antes, eu e minha esposa havíamos visitado o lugar. Instalações novas e modernas, recém-inauguradas, equipamento novo, completo, profissionais jovens e simpáticos, bem dispostos e de cara amiga. Excelente! “Já sabemos onde nosso filho irá nascer!” A maternidade pública próxima de nossa casa era resposta às orações. Sem convênio médico, numa cidade grande e nova, longe de minha irmã médica, era a segurança de que precisávamos. “Graças a Deus!”
– Liga pro Carlos!
Eram 3h da madrugada de 26 de agosto de 1991. As contrações se tornavam cada vez mais próximas uma da outra, a bolsa se rompera. Chegara a hora: Calebe queria nascer!
Carlos, um querido e tranqüilo irmão, morava relativamente perto de nós. Gentilmente havia se prontificado a nos levar para a maternidade. Ele nos acompanhara naquela visita que fizemos ao local.
– Carlos? Desculpe ligar a essa hora… É, o Calebe tá chegando!
Todo o período da gravidez havia sido cercado dos cuidados de Deus por meio de Seus filhos. Eu, minha esposa e dois filhotes viéramos de Porto Alegre para São Paulo há quatro meses. Terceira gravidez, cidade grande, muitas promessas e promessas quebradas (“Não foi isso que tinham nos falado!”), moradia num local de reuniões, sem plano de saúde, distância de tudo e de quase todos: tempo de provação em que a alma lutava para descansar e confiar em Deus.
Mas Ele, em Sua sempre infinita e imerecida bondade, nos cobriu de mimos. Entre os irmãos com quem nos reuníamos havia uma pediatra, uma médica, um dono de farmácia (o Carlos!), um casal sem filhos e dois dentistas, além de muitos outros amados santos. Resultado: compramos apenas uma chupeta para o Calebe.
E, para coroar todo aquele cuidado tão minucioso, a maternidade vizinha e reluzente. A única dor que havia eram as contrações. O coração estava tranqüilo, ansioso apenas para ver o guri que estava chegando.
Carlos chegou.
– Mas como?!
– Senhor, não podemos fazer nada. Todos os leitos estão ocupados e há quatro pacientes esperando vaga antes de sua esposa.
“Mas como? Por quê? Senhor, tava tudo tão certinho?! E meu filho?”
O ambiente era um caos. Pessoas correndo, mulheres e maridos preocupados de um lado para o outro, funcionários dando explicações, pacientes em macas no corredor, unhas sendo roídas, angústia palpável no ar, telefonemas sendo dados para todas as maternidades públicas da cidade, olhares pedindo socorro, os olhos do coração procurando Deus.
– Não tem vaga? Tá ok. Obrigado.
– Sem vagas? Todo mundo resolveu nascer hoje, né?! Então, tá.
– Uma vaga? Segura pra mim. Tô mandando uma paciente.
Carlos foi embora. Precisava trabalhar. Assegurou-nos de que tudo ia ficar bem, ia dar certo, pois Deus estava no controle. Confiei nele meio desconfiando de Deus. Custava ter deixado um leito para minha esposa?
Mais demora, mais hospitais sem vagas, menos tempo entre uma contração e outra. Não havia muito o que dizer! Quão rapidamente o tempo demora a passar em tempos de aflição.
– Duas vagas? Ótimo. Vão duas pacientes: Janisse e Celuta.
Aleluia! Nossa vez. Fim do sofrimento. Olhei aliviado para ela e sua barriga. Lindas.
– Calma, senhor, a ambulância está chegando.
Como um cretino desses ousa me pedir calma? Já faziam quase quatro horas que a bolsa de líquido de minha esposa tinha-se rompido, as contrações aumentando, ela sentada há horas numa recepção de maternidade, essa droga de ambulância não chega, e esse… me pede calma?! É fácil porque não é a esposa ou o filho dele.
O coração me jogava de um lado para o outro. “Tenho de dar um bom testemunho! Meu filho vai morrer. Senhor Jesus, socorro! Que droga de atendimento. Preciso encorajar minha amada…”.
A ambulância. Finalmente! De novo, um pouco de tranqüilidade.
Minha esposa e a outra grávida entraram com uma enfermeira. Prevendo o que poderia acontecer, a enfermeira pediu material para fazer o parto enquanto estivéssemos a caminho. Mas o quê ela faria se as duas crianças resolvessem nascer ao mesmo tempo?
– Maternidade do Brás? Não, não sei onde fica. Mas a gente descobre. Sobe aí, pai.
“Para que serve um motorista destes? Não me faltava mais nada?! Do Butantã para o Brás, e o cara não sabe o caminho?! Senhor!?”
– Acho que é por aqui.
E lá ia ele, como quem saiu para um piquenique com um cumpadre e duas cumadres barrigudas. Feliz, descansado, olhando o Tietê, sem pressa, sem sirene e filosofando.
– Correr? Não, não precisa. O que tem de ser será. Tudo tem seu tempo e só vai acontecer quando chegar a hora.
Seria pecado ou crime jogá-lo para fora e seqüestrar a ambulância com duas grávidas e uma enfermeira?
– Pronto. Chegamos. Não falei?
Bem seguro, ele entrou na rua estreitinha. Não seguiu muito adiante. Deu ré e retomou a viagem. Até hoje os funcionários daquela fábrica se perguntam o que fazia uma ambulância no meio do pátio onde tomavam café da manhã.
– Agora, sim! Taí! Pronto, pai. Chegamos.
Antes que eu fechasse a boca dele com um murro, desci e fui ajudar minha esposa. Levei-a até a recepção. Então, eu vi. “Meu Deus! Meu Deus!”
– Eu não disse? Tudo tem seu tempo. Chegamos na hora que Deus quis.
O hospital lembrava uma casa mal-assombrada. Abandonado, sujo, luzes apagadas. Não havia cadeiras de rodas para as grávidas, não havia papel higiênico nos banheiros cheios de teia de aranha, as macas frias, sem lençol, tinham pêlos e sangue de outras mulheres. Com a mesma lâmina usada sabe-se lá em quem, depilaram as duas novas vítimas que chegaram.
O único pensamento que me vinha ao coração e me trazia algum consolo e esperança era: “O Senhor Jesus nasceu numa manjedoura. E sobreviveu. Não teve infecção. Senhor, guarda meu filho! Por favor!”
Corri para o telefone, liguei para um irmão com quem eu trabalhava, pedi orações, socorro, esperança. Ele convocaria outros para orar. Ao desligar, senti-me sozinho, abandonado, num imenso e horrível açougue. E minha esposa e meu filho…
Lá dentro, a luta prosseguia. Não havia médico, apenas enfermeiras. Parteira. Os funcionários estavam em greve há três meses. O estado não fornecia praticamente nenhum material. As poucas pessoas disponíveis faziam seu melhor em meio à sujeira e falta do essencial.
Sem receber cuidados higiênicos, com o vestido com que viera da rua, minha esposa entrou em trablaho de parto. Sem perguntar-lhe nada, tentaram furar-lhe a bolsa com um objeto pontiagudo qualquer. Foi só o tempo de ela gritar que não precisava – um pouquinho mais e o Calebe terminaria ali. Então, para ajudá-la, fizeram a episiotomia… sem anestesia. A dor do parto impediu-a de sentir mais dor.
“… numa manjedoura. Senhor…”.
“Força!” Dor. Exaustão. Uma vez mais. Quase. Agora… Nasceu! Calebe. Lindo. Com arranhões na cabeça. Forte. Chorando. Vivo. Lágrimas. Carinho. Abraço. Graças a Deus!
– Parabéns, pai. Seu filho nasceu.
O aviso sem emoção me encheu de alegria, risos, lágrimas, gratidão. De joelhos no meu coração, agradeci porque o milagre de sobrevivência à manjedoura havia se repetido.
O Calebe nasceu a primeira vez.
Outra madrugada. Pesadelo. Medo. A pequenez diante das coisas inexplicáveis.
– MÃÃÃÃÃEE!
O mesmo bebê que lhe roubara aquela distante noite de sono precisava de ajuda novamente. A mãe atendeu-lhe o chamado. Ao lado dele, ouve o que o assustara. Abraça-o. Chora com ele. Afaga-o. Protege com seus invencíveis braços de carne frágil. É mãe.
– Mãe, eu quero entregar a minha vida pro Senhor Jesus. Ora comigo?
A luz brilhou nas trevas daquela madrugada. Repetia-se o milagre.
O Calebe nasceu a segunda vez.
Sábado, 26 de novembro de 2005. Ao completar 14 anos, como um presente para si mesmo e para Deus, Calebe foi batizado na piscina da casa de seus melhores amigos. Quanta alegria! Quanto louvor Àquele que tão bem cuidou dele ao longo desse tempo. A grande cicatriz no braço é mais um testemunho do mesmo amor de Deus por ele, cicatriz que não se compara àquelas que seu Senhor carrega por tê-lo salvo.
O frio, o vento que parou no momento adequado, a singeleza da cena, a emoção de quem estava presente – tudo e todos proclamavam a fidelidade Daquele que preserva a vida, da manjedoura à piscina.
(Mogi das Cruzes, 29.11.05. Publicado originalmente em 19.10.07. Revisado e republicado em 24.12.19)
Responderam Sadraque, Mesaque e Abednego, e disseram ao rei Nabucodonosor: “Não necessitamos de te responder sobre este negócio. Eis que o nosso Deus, a quem nós servimos, é que nos pode livrar; Ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e da tua mão, ó rei. E, se não, fica sabendo ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste.”
Então Nabucodonosor se encheu de furor, e mudou-se o aspecto do seu semblante contra Sadraque, Mesaque e Abednego; falou, e ordenou que a fornalha se aquecesse sete vezes mais do que se costumava aquecer. E ordenou aos homens mais poderosos, que estavam no seu exército, que atassem a Sadraque, Mesaque e Abednego, para lançá-los na fornalha de fogo ardente. Então estes homens foram atados, vestidos com as suas capas, suas túnicas, e seus chapéus, e demais roupas, e foram lançados dentro da fornalha de fogo ardente. E, porque a palavra do rei era urgente, e a fornalha estava sobremaneira quente, a chama do fogo matou aqueles homens que carregaram a Sadraque, Mesaque, e Abednego. E estes três homens, Sadraque, Mesaque e Abednego, caíram atados dentro da fornalha de fogo ardente.
Então o rei Nabucodonosor se espantou, e se levantou depressa; falou, dizendo aos seus conselheiros: “Não lançamos nós, dentro do fogo, três homens atados?” Responderam e disseram ao rei: “É verdade, ó rei.” Respondeu, dizendo: “Eu, porém, vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem sofrer nenhum dano; e o aspecto do quarto é semelhante ao Filho de Deus.”
Então chegando-se Nabucodonosor à porta da fornalha de fogo ardente, falou, dizendo: “Sadraque, Mesaque e Abednego, servos do Deus Altíssimo, saí e vinde!” Então Sadraque, Mesaque e Abednego saíram do meio do fogo.
E reuniram-se os príncipes, os capitães, os governadores e os conselheiros do rei e, contemplando estes homens, viram que o fogo não tinha tido poder algum sobre os seus corpos; nem um só cabelo da sua cabeça se tinha queimado, nem as suas capas se mudaram, nem cheiro de fogo tinha passado sobre eles.
(Dn 3.16-27)
Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo; ao qual, não O havendo visto, amais; no qual, não O vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso.
(1Pd 1.6-8)
“A prova da vossa fé”. Vamos considerar quatro coisas que são o resultado da prova.
O resultado da prova
1. A autodestruição do inimigo
Quão maravilhosamente superior foi a situação daqueles três homens! Com a proximidade da provação, com a ameaça sobre a cabeça, quão sumamente despreocupada foi sua resposta ao rei! “Não necessitamos de te responder sobre este negócio.” Isso era uma bem estabelecida confiança de coração, o resultado de integridade de vida e de caminhar diante de Deus. A preocupação deles é que, de modo algum, poderiam comprometer seu relacionamento com o Deus Altíssimo. Ameaçaram-nos com a fornalha ardente – eles estavam muito acima disso. E o primeiro efeito de lançarem aqueles três homens na provação justificou a confiança deles, porque os que foram usados pelo inimigo para lançá-los no fogo foram consumidos pelo fogo.
Se nossa vida está corretamente posicionada em relação ao Senhor a quem confessamos e servimos, não precisamos temer o fogo.
Certamente, devemos ser sábios para não convidar o fogo, mas, se no curso de nossa vida e de nosso testemunho, se e quando o fogo vier, não precisamos temê-lo. Os próprios instrumentos que o inimigo usa para levar-nos à situação ardente serão consumidos. Isso é uma palavra muito solene para qualquer um que seja achado criando condições ardentes para os santos. A preocupação dos santos deve ser apenas seu relacionamento com o Senhor.
2. O desatamento das amarras
Outro resultado do fogo é o desatamento das amarras. Você está no fogo? Quer uma boa razão para estar ali? Aqui está uma, que pode se aplicar a você: o fogo é ordenado por Deus com o propósito de desprender você de amarras. Sim, as limitações que as circunstâncias e as condições fora de nós impõem a nós, as frustrações das quais estamos tão conscientes – elas são tratadas com o fogo.
Mas o que dizer das limitações, as amarras, que são particularmente nossas, dentro de nós – as amarras de nossa constituição, as características de nosso temperamento? O mesmo é verdade. Aqui está um Deus amoroso ordenando o fogo e permitindo que o inimigo esquente a fornalha sete vezes mais, com o propósito, no coração de Deus, de desprender-nos das amarras. Oh, isso está acontecendo conosco? Os fogos estão sendo atiçados a uma intensidade tal que nunca pensamos ser possível suportar, e estamos sendo libertados por meio deles? Estamos sendo levados à gloriosa liberdade dos filhos de Deus? Estamos sendo livrados daquelas coisas que tanto arruinaram nossa vida, nosso testemunho, nosso ministério?
Talvez você sinta que não tenha muitas amarras. Bem, alguns de nós têm, e alguns de nós estão satisfeitos que seja isso o que Deus está fazendo no fogo. Há uma libertação no fogo.
3. Comunhão próxima com o Senhor
Outra coisa que aconteceu no fogo é que aqueles três homens se encontraram com Alguém numa comunhão e companhia mais próximas do que eles já houvessem experimentado. Nós conhecemos um pouco sobre isto, não é? No fogo, virmos a um conhecimento [especial] de nosso Senhor. Passamos pela fase do fogo e dizemos:
“Eu nunca teria conhecido o Senhor desta maneira se não fosse pelo fogo. Foi no fogo que eu O encontrei dessa forma. Antes, eu sabia toda a teoria sobre isso, mas eu alcancei a realidade aqui.”
Algumas versões registram que Nabucodonosor disse, em sua ignorância: “O aspecto do quarto é semelhante a um filho dos deuses”, mas, no que diz respeito a nós, era o Filho de Deus. Passamos pelo fogo em comunhão com nosso amado Senhor. Bem, o fogo é justificado.
4. A suprema glória: nenhum cheiro de fogo, mas alegria inefável
Mas, para mim, a coroa de tudo isso foi o que se seguiu, e este é o real encargo de meu coração. Eles saíram do fogo, e não havia nem mesmo cheiro de fogo sobre eles. Eu penso que isso é maravilhoso. Sim, maior conhecimento do Senhor; sim, libertação e emancipação; sim, mas nem mesmo o cheiro de queimado! Qual é a interpretação disso? Bem, eu penso que não há dúvida de que um esforço muito grande do adversário na fornalha ardente – se ele não puder nos impedir de sair e não puder consumir-nos no fogo – é, então, deixar as marcas e o cheiro sobre nós para que, nos dias subseqüentes, as pessoas irão associar conosco o tema do sofrimento e da provação. Você vê o que isso faz: atrai atenção para nós, e o diabo não se importa que, por ser a atenção desviada para nós, o Senhor seja ocultado.
Ter cheiro de queimado sobre nós significa que o sofrimento e a provação pelos quais passamos eclipsaram a glória. Sair da provação de fogo de nossa fé sem o cheiro de queimado significa, eu penso, o cumprimento da palavra de Pedro: “Jesus Cristo; ao qual, não O havendo visto, amais; no qual, não O vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso [cheio de glória]” (1Pd 1.8). Isto é o que se segue à palavra concernente à provação em fogo de nossa fé: “gozo inefável e glorioso”.
Aqui está a coroa de um tempo desesperadamente negro, de, talvez, anos de sofrimento, de teste de nossa fé: alegria além do que é possível falar, cheia de glória. O inimigo sempre busca roubar nossa alegria e frustrar o desejo do Senhor de que sejamos irradiadores de Sua glória – e por meio da provação de fogo ele freqüentemente consegue.
Recentemente tive ocasião de ver um irmão que antes da última guerra [a Segunda Guerra Mundial] estava no Continente [na Europa]. Ele havia sido aprisionado por anos em um dos maiores campos de concentração. Sem tentar descrever suas lancinantes experiências em detalhes, é suficiente dizer que, em razão da posição que tomou, por, pelo menos, três vezes ele foi amarrado de cabeça para baixo no galho de uma árvore e espancado até ficar inconsciente. Eu estava interessado em vê-lo e notar quais foram os efeitos do sofrimento sobre ele. A fé daquele homem estava intacta; sua força foi aumentada e a marca proeminente não era o sofrimento, mas a glória. Ele é cheio de alegria. Sim, eu penso que ele conhece alguma coisa sobre a alegria inefável.
A necessidade de vigilância
O inimigo está, agora, fazendo um esforço muito grande para roubar nossa alegria. Se ele não puder nos manter na fornalha, jogará sobre nós algum cheiro de fogo para que, por onde quer que formos, as pessoas digam: “Tadinho! Ele está passando por uma situação terrível. Eu não sei como ele agüenta! Eu não sei o que ele vai fazer!” Você vê o que o cheiro de fogo está fazendo: está atraindo a atenção para nós mesmos.
Eu tenho sido bastante impressionado com quanto júbilo e alegria estão relacionados com a unção. Estamos familiarizados com o pensamento de que a unção traz poder e o exercício da autoridade do Trono, mas lembremos a palavra em Salmos 45.7 citada em Hebreus 1.9: “Tu amas a justiça e odeias a impiedade; por isso Deus, o Teu Deus, Te ungiu com óleo de alegria mais do que a Teus companheiros”. Aqui está Aquele que se posiciona por Deus supremamente, entregue por um caminho de provação, de sofrimento, à fornalha ardente; sim, mas Esse é proeminente em júbilo e alegria.
Outra vez, o Senhor Jesus toma a profecia concernente a Si mesmo em Isaías 61 e diz: “O Espírito do Senhor Deus está sobre Mim; porque o Senhor Me ungiu” (v. 1). Olhe para essa profecia e veja quanto júbilo e quanta alegria se seguem à unção: “Glória em vez de cinza, óleo de gozo em vez de tristeza, vestes de louvor em vez de espírito angustiado” (v. 3). Por causa da grandeza da pressão e da adversidade em que se encontra, você está em perigo de perder a alegria? Você está tão feliz no Senhor agora que está caminhando há algum tempo na estrada como estava quando começou? Sem dúvida, podemos desdenhosamente atribuir a alegria inicial à superficialidade das coisas no começo. “Esses jovens crentes”, nós dizemos, “não sabem o que sofrimento, provação e teste significam. Se eles soubessem, não estariam tão radiantes!” Ah, sim, mas será que não perdemos alguma coisa? Teremos seguido com o Senhor e perdido a alegria do Senhor? Se estamos conscientes de termos perdido alguma coisa dela, devemos adotar atitudes para recuperá-la.
Eu li uma propaganda que foi colocada no jornal: “Procuram-se cristãos – alegres, se possível”. Sim, nós rimos disso, mas evidentemente quem fez o anúncio não pensa que haja muita chance de encontrar alguém assim! Piedade verdadeira e mau humor não andam juntos. Temos de vigiar, pois o inimigo está pronto para roubar-nos e manter o cheiro de fogo sobre nós. Oh, que passemos pelas mais negras experiências e sejamos aqueles que são tão cheios do que ganhamos no fogo que o fogo fica em lugar secundário e que todos que se encontrarem conosco após a provação encontrem-nos “com gozo inefável e glorioso”!
Pode ser que alguns que lêem essas palavras não saibam do que estamos falando, desta “prova de nossa fé”. Tudo o que eu posso dizer a eles é:
“Não se preocupe com isso. Apenas entesoure a Palavra, pois, se você está andando com o Senhor, se você tem alguma fé para ser purificada, Deus irá purificá-la e, de algum modo, em algum dia, de alguma forma, você vai se encontrar no fogo e não terá como escapar. Esta não é a experiência de alguns santos especiais somente. O Senhor está por trás da purificação da fé de todo Seu povo, e você chegará ao dia do fogo. Quando isso acontecer, lembre-se que o Senhor quer que estas coisas [alegria inefável e cheia de glória e fé purificada] resultem disso. Não fique tão preocupado com o inimigo; ele não está no comando de nada. Em sua fúria e malícia, em seu ódio ele está fazendo certas coisas, mas Deus as está tornando em algo importante e as usando para aperfeiçoar aquilo que diz respeito a Ele e a nós, a fim de levar-nos ao fim que Ele deseja, que é Sua glória em nós.”
Quando eu entendo que tudo o que acontece comigo é para me fazer mais como Cristo, isso resolve muito da ansiedade.
(A. W. Tozer)
Quanto menos lemos a Palavra de Deus, menos desejamos lê-la, e, quanto menos oramos, menos desejamos orar.
(George Müller)
No momento em que você começa a questionar a autoridade do Antigo Testamento, você está, necessariamente, questionando a autoridade do próprio Filho de Deus, e estará se metendo em problemas e dificuldades sem fim. […] Você precisa ser muito cuidadoso, portanto, com o que diz a respeito das Escrituras.
(Martyn Lloyd-Jones)
O pecado faz você estúpido. Você fará as coisas mais irracionais e ilógicas quando o pecado capturar sua mente.
(Steven Lawson)
Nós privamos os homens de uma visão mais grandiosa de Deus porque não lhes damos uma visão mais baixa de si mesmos.
(Paul Washer)
Não, eu não encontrei Cristo. Eu estava cego. Foi Cristo quem me encontrou e abriu meus olhos. Quem estava perdido era eu, não Ele.
(Ashbel Green Simonton)
Cristo padeceu por nós,
deixando-nos o exemplo, para que sigais as Suas pisadas.
O qual não cometeu pecado, nem na Sua boca se achou engano.
O qual, quando O injuriavam, não injuriava,
e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se Àquele que julga justamente;
levando Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro,
para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça;
e pelas Suas feridas fostes sarados.
Porque éreis como ovelhas desgarradas;
mas agora tendes voltado ao Pastor e Bispo da vossa alma.
Você pode confiar em um Deus soberano que sangra por você.
(D. A. Carson)
Em nenhum momento Deus mostrou mais claramente o inviolável e absoluto caráter de Sua santa lei além daquele em que colocou Seu próprio Filho sob ela.
(Martin Lloyd-Jones)
Se o Senhor está conosco, não temos o que temer. Seus olhos estão sobre nós, Seus braços estão ao redor de nós, Seus ouvidos estão abertos para nossa oração ― Sua graça é suficiente, Sua promessa é imutável.
(John Newton)
Assim está escrito e assim convinha
que o Cristo padecesse e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos e em Seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados.
(Lc 24.46,47)
Se revelações particulares concordam com a Escritura, elas são inúteis; e se elas discordam, são falsas.
(John Owen)
Se você se vê como um pequeno pecador, você irá, inevitavelmente, ver a Jesus como um pequeno Salvador.
(Martinho Lutero)
Nenhuma doutrina é mais excelente ou necessária de ser pregada e estudada do que Jesus Cristo, e este crucificado.
Não há situação tão desesperadora que impossibilite a invasão da glória de Deus; não há situação que possa excluir Deus e ser impossível demais para uma nova manifestação de Sua glória.
(T. Austin-Sparks)
Nosso Salvador ascendido tem o cetro do império universal em Sua mão imperial! Ele está em Seu trono glorioso, controlando todos os assuntos deste mundo, dirigindo todos os eventos da vida do crente e não permitindo que nenhuma provação venha a Seu povo comprado pelo sangue, exceto quando ela executa o Seu próprio projeto amoroso. A sabedoria infinita dirige cada passo do cristão que sofre, e o amor imutável está presente em toda tristeza! O amor de Jesus é tão profundo e terno que assegura Sua presença constante a cada passo de nossa jornada por este mundo hostil. “Eis que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém” (Mt 28.20).
(J. H. Brookes)
O Senhor é Deus zeloso e vingador;
o Senhor é vingador e cheio de furor;
o Senhor toma vingança contra os Seus adversários e guarda a ira contra os Seus inimigos.
O Senhor é tardio em irar-se, mas grande em poder e ao culpado não tem por inocente […]
O Senhor é bom;
Ele serve de fortaleza no dia da angústia e conhece os que confiam Nele.
(Na 1.2,3,7)
A fé é para a alma o que a vida é para o corpo. Oração é para a fé o que a respiração é para o corpo. Como uma pessoa pode viver e não respirar está além da minha compreensão, e como uma pessoa pode crer e não orar também está além da minha compreensão.
(J. C. Ryle)
O objetivo da vida cristã não é evitar problemas, decepções, tristezas e ferimentos, mas, em todas essas experiências, manter-se livre de pecados e de manchas.
(J. R. Miller)
Oh, agradeça ao Senhor, cristão, porque Ele não tratou com você segundo seus pecados, nem recompensou você de acordo com suas iniqüidades! Ele perdoou seus pecados, justificou sua alma, renovou sua natureza e lhe deu a posse da vida eterna! Ele, assim, impediu sua ruína eterna, suportou suas falhas e loucuras, supriu todas as suas necessidades, guiou seus passos e prometeu conduzi-lo à glória! A misericórdia do Senhor sempre foi grande em relação a você!
“Louvai ao Senhor, porque Ele é bom, porque a Sua benignidade dura para sempre” (Sl 107.1).
(James Smith)
A graça de Deus exaltará uma pessoa sem inflá-la e humilhará uma pessoa sem degradá-la.
Um novo ano é sempre um bom momento para (re)começarmos a leitura da Bíblia. Sabemos dos imensos desafios que a vida moderna nos impõe até mesmo (ou principalmente) com respeito às disciplinas espirituais: comunhão com o Senhor, oração, leitura devocional e estudo das Escrituras, meditação, etc. Todas essas práticas vitais demandam tremendo esforço, organização e sacrifício para que as pratiquemos com regularidade, com profundidade, com paz, com realidade. Mas devemos insistir, pedindo a graça e o poder do Senhor. Não há outro meio de sermos cristãos maduros e bem firmados na verdade sem um contato constante, sério, profundo e intencional com o Livro Antigo. Como disse A. W. Tozer:
Nunca vi um cristão útil que não seja estudante da Bíblia. Não existem atalhos para a santidade.
Visando ajudar os leitores nessa tarefa tão vital, apresentamos – com antecedência, para que seja possível escolher – algumas sugestões de planos de leitura da Bíblia. Escolha o que for mais adequado a você e use-o com dedicação, diariamente.
Planos de leitura da Bíblia
Abaixo, apresentamos de modo sucinto cada um dos planos sugeridos. Para baixá-lo, basta clicar no nome.
O plano cronológico sugere a leitura dos livros da Bíblia, não na ordem em que se encontram, mas aproximadamente pela sequência dos fatos registrados. Bom para ter-se uma idéia mais histórica do relato bíblico.
O calendário McCheyne apresenta o plano de leitura idealizado por Robert McCheyne, no qual há uma leitura individual e uma leitura em família. (É a principal indicação de nosso editor que, há alguns anos, desenvolveu uma Bíblia que traz essas leituras para cada dia do ano. Chama-se Bíblia Devocional Robert McCheyne. Infelizmente, parece que ela não é mais publicada.) Nesse plano, o Antigo Testamento será lido uma vez e o Novo Testamento e Salmos serão lidos duas vezes.
Há o plano McCheyne adaptado, que exclui uma das leituras diárias do plano anterior, e uma versão dele feita para ser impressa em frente e verso e ser colocada dentro da Bíblia.
Há dois planos em formato de planilha (Plano 1 e Plano 2), para uso no computador, que permitem acompanhar o progresso (é preciso habilitar as macros).
Há duas versões (elas só têm diferenças na apresentação visual) para a leitura capa a capa, de Gênesis 1 a Apocalipse 22: Capa 1 e Capa 2.
Por fim, há um quadro com todos os livros da Bíblia, com seu número de capítulos, para que você marque seu progresso na leitura, seguindo o método que preferir. No início do arquivo, há algumas orientações sobre como ter mais proveito da leitura do Livro Antigo.
Independentemente do método escolhido, o fundamental é o contato diário com a Palavra de Deus. Para isso, com certeza será preciso (re)organizar a vida, estabelecer horários a fim de ser possível separar um tempo a cada dia para estar a sós com Deus e com Seu Livro.
Não há vida cristã sem a Palavra de Deus. Não há maturidade cristã sem contato constante e sério com a Sagrada Escritura. Não é possível conhecer de fato a Deus à parte da Santa Palavra. Não é possível conhecer a vontade de Deus sem buscá-la no Livro Antigo. Não é possível viver de modo agradável a Deus sem submeter-se ao Sagrado Livro. Não é possível ter uma fé robusta sem alimentá-la com o Santo Texto. Ninguém se volta para Deus sem voltar-se para Sua Palavra. Ninguém ama a Deus sem amar Seu Livro.
Leia a Bíblia na presença do Senhor, na dependência de Seu Espírito, sob a operação da cruz, com santo temor, com coração humilde, com santa expectativa, com alegria, com amor, com desejo de que Deus fale por meio dela. Já disse alguém: “Você quer ouvir Deus falar? Leia a Bíblia. Quer ouvir Deus falar com voz audível? Leia a Bíblia em voz alta!”
A equipe do Campos de Boaz deseja que o Senhor abençoe você a cada dia do novo ano por meio de Sua Palavra.
Um dos grandes erros que muitos cristãos e jovens cristãos cometem é tentar fazer com que o mundo os entenda. Isso não pode ser feito! Se você baixa seu padrão para que eles o compreendam e o aceitem como um deles, você está jogando fora a própria verdade e realidade de sua vida cristã.
(T. Austin-Sparks)
“Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios” (Rm 5.6).
Cristo não morreu para fazer Deus nos amar, mas porque Ele amava Seu povo. A cruz cruel é a suprema demonstração do amor divino. Leitor cristão, sempre que você estiver tentado a duvidar do amor de Deus por você, volte ao Calvário!
“Deus prova Seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (v. 8).
(Arthur Pink)
Justiça é Deus nos dando o que merecemos. Misericórdia é Deus não nos dando o que merecemos. Graça é Deus nos dando o que não merecemos.
(Adrian Rogers)
Com Davi, aprenda a agradecer por tudo. Cada sulco no Livro dos Salmos é semeado com as sementes de ações de graças.
(Jeremy Taylor)
Nada do que fazemos na vida cristã é mais difícil que a oração.
(Martin Lloyd-Jones)
Nada distingue o filho de Deus de forma tão clara e incisiva quanto a oração.
(E.M. Bounds)
Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as Suas pisadas.
O qual não cometeu pecado, nem na Sua boca se achou engano.
O qual, quando O injuriavam, não injuriava,
e quando padecia não ameaçava,
mas entregava-se Àquele que julga justamente;
levando Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro,
para que, mortos para os pecados,
pudéssemos viver para a justiça;
e pelas Suas feridas fostes sarados.
Porque éreis como ovelhas desgarradas;
mas agora tendes voltado ao Pastor e Bispo da vossa Alma.
Se um homem não pode ser cristão onde está, ele não pode ser cristão em lugar nenhum.
(Henry Ward Beecher)
Uma árvore sempre pode ser conhecida por seus frutos. Assim, um verdadeiro cristão sempre pode ser identificado por seus hábitos, gostos e afeições.
(J. C. Ryle)
“Bem-aventurado é aquele que em Mim se não escandalizar” (Lc 7.23). Às vezes, é muito difícil não se escandalizar em Jesus Cristo. Os escândalos podem ser circunstanciais. Encontro-me em uma prisão ― uma esfera de ação estreita, um quarto de doente, uma posição impopular ― quando esperava grandes oportunidades. Sim, mas Ele sabe o que é melhor para mim. Meu ambiente é determinado por Ele. Ele pretende intensificar minha fé, atrair-me a uma comunhão mais próxima Consigo mesmo, amadurecer meu poder. Na masmorra, minha alma poderá prosperar.
O escândalo pode ser mental. Sou assombrado por perplexidades e perguntas que não consigo resolver. Eu esperava que, quando me desse a Ele, meu céu estaria sempre limpo; mas muitas vezes ele é encoberto por névoa e nuvens. No entanto, permita-me crer que, se as dificuldades persistirem, é para que eu aprenda a confiar Nele de maneira ainda mais interior ― a confiar e não ter medo. Sim, e, por meio de meus conflitos intelectuais, sou treinado para ser tutor de outros homens que estejam atravessando tempestades.
O escândalo pode ser espiritual. Eu imaginei que, em Seu rebanho, nunca sentiria os ventos cortantes da tentação; mas é melhor como é. Sua graça é ampliada. Meu próprio caráter é amadurecido. Seu céu é mais doce no final do dia. Lá, examinarei as mudanças e as provações do caminho e cantarei os louvores de meu Guia. Então, venha o que vier, Sua vontade é bem-vinda, e eu me recusarei a ficar escandalizado em meu amoroso Senhor.
(Alexander Smellie)
O teste final de nossa espiritualidade é a medida de nossa admiração pela graça de Deus.
(Martin Lloyd-Jones)
“Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” (Êx 20.7).
Qualquer coisa relacionada ao Deus verdadeiro ― Seu ser, Sua natureza, Sua vontade, Suas obras, Sua adoração, Seu serviço ou Sua doutrina ― pertence ao nome de Deus. Esse mandamento se estende ao estado dos pensamentos e do coração dos homens, bem como a suas palavras. Tomar o nome de Deus em vão é usá-lo de qualquer maneira frívola, falsa, imprudente, irreverente ou perversa. O escopo desse mandamento é garantir o uso santo e reverente de tudo aquilo pelo que Deus se faz conhecido a Seu povo e, assim, guardar Seu nome sagrado contra tudo o que é calculado para torná-lo desprezível. A maneira correta de tomar Seu nome é ser grave, solene, inteligente, zeloso, sincero e com piedoso temor.
“Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o Teu nome” (Mt 6.9).
(William S. Plumer)
Deus, dá-me uma profunda humildade, um zelo bem orientado, um amor ardente e um olhar singelo!
(George Whitefield)
Ora, o Deus da paz, que,
pelo sangue da aliança eterna,
tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor, Jesus Cristo, grande pastor das ovelhas,
vos aperfeiçoe em toda a boa obra,
para fazerdes a Sua vontade,
operando em vós o que perante Ele é agradável por Cristo Jesus, ao qual seja glória para todo o sempre. Amém!
“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho” (Hb 1.1).
A Epístola aos Hebreus tem um valor especial para os dias de hoje porque existe uma difundida concepção de Cristo que é mais baixa do que aquela do Novo Testamento. Ao nos voltarmos para a carta aos hebreus, vemos quão separado Cristo está de todas as outras coisas, e a razão disso é Seu ser e Sua obra. Duas vezes na carta, o escritor chama seus leitores para “considerá-Lo” [a Cristo]. Na primeira ocasião, ele diz: “Considerem o apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão” (3.1), e, mais tarde, acrescenta: “Considerai, pois, Aquele que suportou tais contradições dos pecadores” (12.3). É evidente que essa carta foi escrita para os hebreus, porém seus ensinamentos são para todos os cristãos. O escritor estava supremamente consciente do fato de que o povo hebreu foi criado e escolhido por Deus a fim de ser Seu instrumento para alcançar todas as nações; e, quando trata dessa grande verdade do ponto de vista dos hebreus, assim o fazia no interesse de todos aqueles que estavam no propósito de Deus. Portanto, embora a carta seja um documento hebreu, ela também é preeminentemente um documento humano; e, embora Cristo seja apresentado a nós tendo como pano de fundo o que aconteceu com os hebreus, Ele permanece em primeiro plano claramente revelado como relacionado ao propósito de Deus para a humanidade. Nas sentenças de abertura do livro somos conduzidos a estar frente a frente com uma declaração decisiva. Ali há dois fatos definidos: o primeiro: Deus; o segundo: Deus fala.
O primeiro indica a realidade de que Deus é a verdade de toda a literatura bíblica. Não podemos ler a primeira sentença em Hebreus sem sermos lembrados da primeira frase em Gênesis: “No princípio, Deus”. Aqui, e na verdade em qualquer outro lugar da Bíblia, a realidade de Deus é reconhecida e referida sem nenhum argumento. O segundo fato definido é que Deus se faz conhecido a nós, que Ele fala. Isso imediatamente apresenta Deus como mais do que uma energia ou uma idéia, antes como tendo inteligência e fazendo-nos conhecido Seu pensamento.
Posteriormente na carta, o escritor diz: “É necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que é galardoador dos que O buscam” (11.6). Essa declaração acompanha as declarações a que nos referimos, isto é, a existência de Deus e o fato de que Ele se aproxima da humanidade para se fazer conhecido. As declarações são de que Deus falou na história de duas maneiras.
Lembremo-nos novamente que a carta foi dirigida aos cristãos hebreus. Necessariamente sua perspectiva é limitada por esse fato. Podemos parar por um momento e ter um panorama mais amplo. Não há dúvida que Deus falou a outras pessoas, e de outras formas, as quais prestarão contas por certos elementos da verdade a serem descobertos em cada forma de pensamento religioso. Todavia, cremos que Seu discurso supremo e central a todas as pessoas veio por meio do povo hebreu. Desse ponto de vista, o escritor, olhando a história humana, diz: “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneira, aos pais, pelos profetas”, referindo-se a toda a economia passada, e continua: “A nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho” (1.1).
Se pesquisarmos a literatura do Antigo Testamento, que nos dá uma ideia daquilo a que o escritor se refere pela frase “no passado”, descobriremos que, em Seu tratamento com a humanidade, está registrado que Deus falou primeiro por intermédio de anjos ― nenhum profeta ou sacerdote é encontrado em Gênesis. Depois, Ele falou pelos líderes Moisés e Josué. Ele nunca falou aos homens diretamente, com respeito a Seu governo, por meio de reis. Então, vieram os profetas, e devemos encontrar todas essas referências ao longo da carta. Devemos pesquisar a carta imaginando ser um hebreu cristão lendo-a e encontrando uma resposta às coisas que ele pode estar inclinado a dizer, se fosse tentado a pensar que, na passagem do esplendoroso ritual da economia mosaica para a simplicidade encontrada em Cristo, algo vital fosse perdido.
“As coisas de nossa religião foram ministradas por anjos”, ao que o escritor responde: “Isso é verdade, mas o Filho é superior aos anjos”. “Mas”, diz o hebreu cristão, “tivemos um grande líder dado por Deus, Moisés”. “Isso”, diz o escritor, “é igualmente verdadeiro, mas ele foi um servo na casa, e o Filho é maior que o servo, e, além disso, ao guiar o povo para sair, Moisés foi incapaz de guiá-los para a possessão”. “Que sendo confirmada”, diz o hebreu, “Josué nos guiou para a terra”. “Ele o fez”, diz o escritor, “mas não pôde dar descanso. O Filho não somente guia para sair, mas guia para entrar, e dá descanso.”
Continuando, o hebreu poderá se referir ao sacerdócio e ao sistema ritualístico do passado. “Isso”, responde o escritor, “é verdade, e foi divinamente arranjado, mas não tornou nada perfeito, e a vinda do Filho foi a vinda do Sacerdote com a melhor aliança e a melhor adoração.” “E ainda”, o hebreu pode dizer, “tivemos profetas que nos falaram a palavra de Deus”. “Isso é verdade”, é o argumento do escritor da carta, “mas tudo o que eles falaram foi parcial. A Palavra de Deus por meio do Filho é completa e final”. Por isso, vemos que a declaração de que Deus falou em tempos passados, de várias formas, é reconhecida por toda parte como sendo verdadeira. Deus certamente estava fazendo a Si mesmo e a Seu caminho conhecidos ao longo de todo esse período, mas finalmente falou em Seu Filho.
A questão que se levanta é: por qual razão Deus adotou esse método de tratar com o povo? Podemos encontrar ajuda nas palavras que nosso Senhor ofereceu aos discípulos no final de Seu ministério: “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora” (Jo 16.12). Dessas palavras vemos que o método divino caracteriza-se sempre por um processo e uma progressão. Deus tinha coisas para dizer no passado, porém somente as falou quando o povo foi capaz de suportá-las. Isso continuou até o tempo em que Deus falou em Seu Filho, e a diferença entre o passado e este é a diferença entre o processo e o final. A finalidade da fala de Deus por meio de Seu Filho é assim sugerida nas sentenças inicias e arguidas ao longo de toda a escrita. Aqui deveria ser dito que, embora a fala do Filho fosse final, o povo não compreendeu completamente aquela fala. Apesar de ainda sê-lo conforme estamos capacitados a suportar, agora, sob a liderança do Espírito da verdade, é o da interpretação da fala final de Deus.
Agora voltemos a considerar Aquele referido como “o Filho”. No parágrafo de abertura (Hb 1.2,3) temos uma sétupla descrição. Primeiro Ele é declarado ter sido apontado por Deus “herdeiro de todas as coisas”, e, em conexão a isso, é feita uma declaração de que, por meio Dele, o universo foi moldado (“por quem fez também o mundo”), uma declaração revelando-O como o que rege todos os movimentos na história humana.
Passando dessa declaração concernente à posição de Cristo, o escritor fala do fato essencial de Seu ser, e declara que Ele é “o resplendor da glória de Deus”, ou seja, Aquele mediante o qual houve a manifestação daquela glória. Assim sendo, Ele é descrito como “a expressa imagem do Seu ser”. A idéia é que o mistério fundamental da divindade, que não pode ser compreendido ou completamente interpretado pelo intelecto humano, foi visto no Filho.
Voltando dessa sublime referência, o autor então diz do Filho: “Sustentando todas as coisas pela palavra do Seu poder” (v. 3). Isso pode se referir à ordem material do universo, como na referência de Paulo de que todas as coisas se fundamentam ou convergem Nele, mas eu tendo a crer que a referência é antes ao mundo da autoridade moral. Uma vez mais, naquilo que é apenas uma referência passageira, o mistério redentor da cruz é reconhecido nas palavras: “Havendo feito por Si mesmo a purificação dos nossos pecados” (v. 3), até que por fim é declarado que, tendo Ele feito isso, “assentou-se à destra da Majestade nas alturas”.
Este é o Cristo; este é o Filho; este é Aquele por quem Deus agora falou.
Tendo assim descrito o Filho, o escritor diz: “Quando introduz no mundo o Primogênito” (v. 6). Aqui, os tradutores verteram uma palavra grega como “mundo”, mas há quem sugira que, em vez de “mundo”, deveria ser “a terra inabitada”. Sugiro que seria muito melhor transliterar a palavra grega: “Quando introduz na economia o Primogênito”. Esta palavra, “economia”, era de uso comum nos tempos de nosso Senhor e dos escritores do Novo Testamento, e referia-se ao Império Romano. Agora, diz o escritor, o Filho é vindo à economia que Ele estabeleceu, e, quando Ele vem, todos os anjos O adoram. Este é o Filho por quem Deus falou, e ainda está falando. Quando Deus falou ao povo em Cristo, Ele disse tudo o que tinha a dizer, o que significa que Ele disse tudo o que precisamos ouvir para nossa vida terrena. Sou cuidadoso em colocar isso dessa forma porque existem coisas não ditas em Cristo durante a vida presente. Paulo, escrevendo aos coríntios, disse: “Agora conhecemos em parte”, e o que é certo é que em Cristo podemos saber tudo o que precisamos para os dias de hoje.
Para retornar àquela idéia limitada, pergunto: “Quais são as coisas que precisamos saber? Quais coisas são essenciais para o bem-estar da natureza humana?” A primeira é a autoridade. Não há nada de que o mundo mais precise hoje do que autoridade, porém deve ser uma autoridade que traga o consentimento do governado. Os métodos humanos constantemente têm sido de coação às pessoas para fazerem coisas sem seu consentimento. No final, isso sempre falha. Quando Deus falou no Filho, Ele nos deu um Rei, no qual, sendo conhecido em Si mesmo e cujas palavras sendo corretamente compreendidas, encontraremos a autoridade à qual podemos nos render em perfeito acordo. Esse mesmo caráter final da autoridade traz consigo um senso de deficiência, e, além disso, suscita o próximo elemento da necessidade humana. É a de um mediador ou árbitro, que deve estar entre Deus e a humanidade e agir de forma a provocar uma reconciliação. Isso é perfeitamente provido no Filho.
A suma de todo progresso na vida espiritual é mais de Cristo na mente, para conhecê-Lo melhor; mais de Cristo no coração, para amá-lo melhor e ser mais influenciado por Ele; mais de Cristo na vida, para melhor servi-Lo.
(Thomas Moor)
Você acha que merece o perdão de Deus? Se o faz, então, você não é cristão.
(Martin Lloyd-Jones)
No amor conjugal, há um doar-se mútuo. Assim é neste santo amor espiritual entre Cristo e a alma redimida. Cristo se entrega à alma e diz: “Tudo o que sou e tudo o que tenho são teus: Minha justiça é tua, Meus méritos são teus e todos os Meus benefícios serão teus!” Então, a alma apaixonada por Cristo diz: “Senhor, eu me entrego a Ti! Minha mente será Tua, minha vontade, meu coração, minhas propriedades, meu tudo serão Teus ― às Tuas ordens, à Tua disposição!”
“Meu amado é meu e eu sou Dele!” (Ct 2.16).
(Thomas Doolittle)
O bebê de Belém, o homem que já foi morto e abandonado na cruz, agora é o Senhor da glória!
(John Newton)
A eleição eterna de Deus é o primeiro elo da corrente da salvação de um pecador, da qual a glória celestial é o fim!
(J. C. Ryle)
[Cristo] pode também salvar perfeitamente
os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.
Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e feito mais sublime do que os céus […] Senhor, que é o homem, para que o conheças,
e o filho do homem, para que o estimes?
(Hb 7.25,26; Sl 144.3)
A Bíblia foi escrita não para satisfazer sua curiosidade, mas para conformar você à imagem de Cristo. Não para torná-lo um pecador mais inteligente, mas para torná-lo como o Salvador. Não para encher sua cabeça com uma coleção de fatos bíblicos, mas para transformar sua vida.
A primeira e a pior causa de erro que prevalece nos nossos dias é o orgulho espiritual. Essa é a principal porta que o diabo usa para entrar no coração daqueles que têm zelo pelo avanço da causa de Cristo. É a principal via de entrada de fumaça venenosa que vem do abismo para escurecer a mente e a desviar o juízo. É o meio que Satanás usa para controlar cristãos e obstruir uma obra de Deus. Enquanto essa doença não for curada, em vão se aplicarão remédios para resolver quaisquer outras enfermidades.
O orgulho é muito mais difícil de ser discernido do que qualquer outra fonte de corrupção porque, por sua própria natureza, leva a pessoa a ter um conceito alto demais de si própria. É alguma surpresa, então, verificar que a pessoa que pensa de si mais do que deve está totalmente inconsciente desse fato? Ela pensa, pelo contrário, que a opinião que tem de si mesma está bem fundamentada e que, portanto, não é um conceito elevado demais. Como resultado, não existe outro assunto no qual o coração esteja mais enganado e que seja mais difícil de ser sondado. A própria natureza do orgulho é criar autoconfiança e expulsar qualquer suspeita de mal em relação a si próprio.
O orgulho toma muitas formas e manifestações e envolve o coração como as camadas de uma cebola – ao se arrancar uma camada, existe outra por baixo dela. Por isto, precisamos ter a maior vigilância imaginável sobre o coração com respeito a essa questão e clamar Àquele que sonda as profundezas do coração para que nos auxilie. Quem confia no próprio coração é insensato.
Como o orgulho espiritual é mascarado por natureza, geralmente não pode ser detectado por intuição imediata como aquilo que de fato é. É mais fácil ser identificado por seus frutos e efeitos, alguns dos quais quero mencionar junto com os frutos opostos da humildade cristã.
A pessoa espiritualmente orgulhosa sente que já está cheia de luz, não necessitando assim de instrução. Assim, terá a tendência de prontamente rejeitar a oferta de ajuda nesse sentido. Por outro lado, a pessoa humilde é como uma pequena criança que facilmente recebe instrução. É cautelosa no seu conceito de si mesma, sensível à sua grande facilidade em se desviar. Se alguém lhe sugere que está, de fato, saindo do caminho reto, mostra pronta disposição em examinar a questão e ouvir as advertências.
As pessoas orgulhosas tendem a falar dos pecados dos outros: o terrível engano dos hipócritas, a falta de vida daqueles irmãos que têm amargura, a resistência de alguns crentes à santidade. A pura humildade cristã, porém, se cala sobre os pecados dos outros ou, no máximo, fala a respeito deles com tristeza e compaixão.
A pessoa espiritualmente orgulhosa critica os outros cristãos por sua falta de crescimento na graça, enquanto o crente humilde vê tanta maldade no próprio coração, e se preocupa tanto com isso, que não tem muita atenção para dar ao coração dos outros. Queixa-se mais de si próprio e da sua própria frieza espiritual; sua esperança genuína é que todos os outros tenham mais amor e gratidão a Deus do que ele.
As pessoas espiritualmente orgulhosas falam frequentemente de quase tudo que percebem nos outros em termos extremamente severos e ásperos. É comum dizerem que a opinião, conduta ou atitude de outra pessoa é do diabo ou do inferno. Muitas vezes, sua crítica é direcionada não só a pessoas ímpias, mas a verdadeiros filhos de Deus e a pessoas que são seus superiores. Os humildes, entretanto, mesmo quando recebem extraordinárias descobertas da glória de Deus, sentem-se esmagados pelas próprias indignidade e impureza. Suas exortações a outros cristãos são transmitidas de forma amorosa e humilde e, ao lidar com seus irmãos e companheiros, procuram tratá-los com a mesma humildade e mansidão com que Cristo, que é infinitamente superior a eles, os trata.
A humildade cristã, sentindo o peso da miséria dos outros, suplica e implora; o orgulho espiritual, em contraste, ordena e adverte com autoridade.
O orgulho espiritual comumente leva as pessoas a se comportarem de modo diferente na sua aparência exterior, a assumirem um jeito diferente de falar, de se expressar ou de agir. Por outro lado, o cristão humilde – mesmo sendo firme em seu dever, permanecendo sozinho no caminho do céu ainda que o mundo inteiro o abandone – não sente prazer em ser diferente só para ser diferente. Não procura se colocar numa posição onde possa ser visto e observado como uma pessoa distinta ou especial; muito pelo contrário, dispõe-se a ser todas as coisas a todas as pessoas, a ceder aos outros, a se adaptar aos outros e a agradá-los em tudo menos no pecado.
Pessoas orgulhosas dão muita atenção a oposição e a injúrias; tendem a falar dessas coisas freqüentemente com um ar de amargura ou desprezo. A humildade cristã, em contraste, leva a pessoa a ser mais semelhante a seu bendito Senhor, o qual, quando foi maltratado, não abriu a boca, mas se entregou em silêncio Àquele que julga retamente (1Pd 2.21-23). Para o cristão humilde, quanto mais clamoroso e furioso o mundo se manifestar contra ele, mais silencioso e quieto ficará, com exceção de quando estiver em seu quarto de oração: lá ele não ficará calado.
Outro padrão de pessoas espiritualmente orgulhosas é comportar-se de forma a torná-las o foco de atenção. É natural que a pessoa sob a influência do orgulho tome todo o respeito que lhe é oferecido. Se outros demonstram disposição de se submeterem a ela e a cederem em deferência a ela, essa pessoa receberá tais atitudes sem constrangimento. Na verdade, ela se habituou a esperar um tratamento assim e a formar uma má opinião de quem não lhe oferece aquilo que pensa merecer.
Uma pessoa sob a influência de orgulho espiritual tende mais a instruir aos outros do que a fazer perguntas. Tal pessoa naturalmente assume ar de mestre. O cristão eminentemente humilde pensa que precisa de ajuda de todo o mundo, enquanto a pessoa espiritualmente orgulhosa acha que todos precisam do que ela tem para oferecer. A humildade cristã, sentindo o peso da miséria dos outros, suplica e implora; o orgulho espiritual, em contraste, ordena e adverte com autoridade.
Assim como o orgulho espiritual leva as pessoas a assumirem muita coisa para si mesmas, de forma semelhante as induz a tratar os outros com negligência. Por outro lado, a pura humildade cristã traz a disposição de honrar a todas as pessoas. Entrar em contendas a respeito do cristianismo por vezes é desaconselhável; no entanto, devemos tomar muito cuidado para não nos recusarmos a discutir com pessoas carnais por as acharmos indignas de nossa consideração. Pelo contrário, devemos condescender a pessoas carnais da mesma forma como Cristo condescendeu a nós – a fim de estar presente conosco na nossa indocilidade e estupidez.