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Encorajamento Vida cristã

Chamado do alto

Se Deus tem chamado você para que seja verdadeiramente como Jesus com todas as forças de seu espírito, Ele estimulará você para que leve uma vida de crucificação e humildade, e exigirá tal obediência que você não poderá imitar aos demais cristãos, pois Ele não permitirá que você faça o mesmo que fazem os outros, em muitos aspectos.

Outros, que aparentemente são muito religiosos e fervorosos, podem ter a si mesmos em alta estima, podem buscar influência e ressaltar a realização de seus planos; você, porém, não deve fazer nada disso, pois se tentar fazê-lo, fracassará de tal modo e merecerá tal reprovação por parte do Senhor, que você se converterá em um penitente lastimável.

Outros poderão fazer alarde do seu trabalho, de seus êxitos, de seus escritos, mas o Espírito Santo não permitirá a você nenhuma dessas coisas. Se você começar a proceder dessa forma, Ele o consumirá em uma mortificação tão profunda que você depreciará a si mesmo tanto quanto a todas as suas obras.

A outros será permitido conseguir grandes somas de dinheiro e dar-se a luxos supérfluos, porém Deus só proporcionará a você o sustento diário, poque quer que você tenha algo muito mais valioso que o outro: uma absoluta dependência dEle e de Seu invisível tesouro.

O Senhor perimitirá que os demais recebam honras e se destaquem, enquanto mantém você oculto na sombra, porque Ele quer produzir um fruto seleto e fragrante para Sua glória vindoura, e isso só pode ser produzindo na sombra.

Deus pode permitir que os demais sejam grandes, mas você deve continuar sendo pequeno; Deus permitirá que os outros trabalhem para Ele e ganhem fama, porém fará com que você trabalhe e se desgaste sem que saiba sequer quanto está fazendo. Depois, para que seu trabalho seja ainda mais valioso, permitirá que outros recebam o crédito pelo que você faz, com o fim de lhe ensinar a mensagem da cruz: a humildade e algo do que significa participar da Sua natureza. O Espírito Santo manterá sobre você uma estrita vigilância e, com zeloso amor, lhe reprovará por suas palavras, ou por seus sentimentos indiferentes, ou por malgastar seu tempo, coisas estas que parecem não preocupar aos demais cristãos.

Por isso, habitue-se à idéia de que Deus é um soberano absoluto que tem o direito de fazer o que Lhe apraz com os que Lhe pertencem, e que não pode explicar-lhe a infinidade de coisas que poderiam confundir sua mente pelo modo como Ele procede com você. Deus lhe tornará a palavra; e se você se vende para ser Seu escravo sem reservas, Ele o envolverá em um amor zeloso que permitirá que outros façam muitas coisas que a você não são permitidas. Saiba-o de uma vez por todas: você tem de se entender diretamente com o Espírito Santo acerca dessas coisas, e Ele terá o privilégio de atar sua língua, ou de colocar algemas em suas mãos ou de fechar seus olhos para aquilo que é permitido aos demais. Entretanto, você conhecerá o segredo do reino. Quando estiver possuído pelo Deus vivo de tal maneira que se sinta feliz e contente no íntimo de seu coração com essa peculiar, pessoal, privada e zelosa tutoria e com esse governo do Espírito Santo sobre sua vida, então, haverá encontrado a entrada dos céus, o chamado do alto, de Deus.

(Traduzido do espanhol de um folheto encontrado na Colômbia, sem qualquer outra informação a não ser esta: Autor Conhecido Somente por Deus. Extraído do livro O Homem que Deus Usa, Editora dos Clássicos)

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Vida cristã

A velha e a nova cruz (A. W. Tozer)

Sem fazer-se anunciar e quase despercebida uma nova cruz introduziu-se nos círculos evangélicos dos tempos modernos. Ela se parece com a velha cruz, mas é diferente; as semelhanças são superficiais; as diferenças, fundamentais.

Uma nova filosofia brotou desta nova cruz com respeito à vida cristã, e desta nova filosofia surgiu uma nova técnica evangélica – um novo tipo de reunião e uma nova espécie de pregação. Este novo evangelismo emprega a mesma linguagem que o velho, mas o seu conteúdo não é o mesmo e sua ênfase difere da anterior.

A velha cruz não fazia aliança com o mundo. Para a carne orgulhosa de Adão ela significava o fim da jornada, executando a sentença imposta pela lei do Sinai. A nova cruz não se opõe à raça humana; pelo contrário, é sua amiga íntima e, se compreendermos bem, considera-a uma fonte de divertimento e gozo inocente. Ela deixa Adão viver sem qualquer interferência. Sua motivação na vida não se modifica; ela continua vivendo para seu próprio prazer, só que agora se deleita em entoar coros e a assistir filmes religiosos em lugar de cantar canções obcenas e tomar bebidas fortes. A ênfase continua sendo o prazer, embora a diversão se situe agora num plano moral mais elevado, caso não o seja intelectualmente.

A nova cruz encoraja uma abordagem evangelística nova e por completo diferente. O evangelista não exige a renúncia da velha vida antes que a nova possa ser recebida. Ele não prega contrastes mas semelhanças. Busca a chave para o interesse do público, mostranto que o cristianismo não faz exigências desagradáveis; mas, pelo contário, oferece a mesma coisa que o mundo, somente num plano superior. O que quer que o mundo pecador esteja idolizando no momento é mostrado como sendo exatamente aquilo que o evangelho oferece, sendo que o produto religioso é melhor.

A nova cruz não mata o pecador, mas dá-lhe nova direção. Ela o faz engrenar em um modo de vida mais limpo e agradável, resguardando o seu respeito próprio. Para o arrogante ela diz: “Venha e mostre-se arrogante a favor de Cristo”; e declara ao egoísta: “Venha e vanglorie-se no Senhor”. Para o que busca emoções, chama: “Venha e goze da emoção da fraternidade cristã”. A mensagem de Cristo é manipulada na direção da moda corrente a fim de torná-la aceitável ao público.

A filosofia por trás disso pode ser sincera, mas na sua sinceridade não impede qe seja falsa. É falsa por ser cega, interpretando erradamente todo o significado da cruz.

A velha cruz é um símbolo da morte. Ela representa o fim repentino e violento de um ser humano. O homem, na época romana, que tomou a sua cruz e seguiu pela estrada já se despedira de seus amigos. Ele não mais voltaria. estava indo para seu fim. A cruz não fazia acordos, não modificava nem poupava nada; ela acabava completamente com o homem, de uma vez por todas. Não tentava manter bons termos com sua vítima. Golpeava-a cruel e duramente e quando terminava seu trabalho o homem já não existia.

A raça de Adão está sob sentença de morte. Não existe comutação de pena nem fuga. Deus não pode aprovar qualquer dos frutos do pecado, por mais inocentes ou belos que pareçam aos olhos humanos. Deus resgata o indivíduo, liquidando-o e depois ressucitando-o em novidade de vida.

O evangelismo que traça paralelos amigáveis entre os caminhos de Deus e os do homem é falso em relação à bíblia e cruel para a alma de seus ouvintes. A fé manifestada por Cristo não tem paralelo humano, ela divide o mundo. Ao nos aproximarmos de Cristo não elevamos nossa vida a um plano mais alto; mas a deixamos na cruz. A semente de trigo deve cair no solo e morrer.

Nós, os que pregamos o evangelho, não devemos julgar-nos agentes ou relações públicas enviados para estabelecer boa vontade entre Cristo e o mundo. Não devemos imaginar que fomos comissionados para tornar Cristo aceitável aos homens de negócio, à imprensa, ao mundo dos esportes ou à educação moderna. Não somos diplomatas mas profetas, e nossa mensagem não é um acordo mas um ultimato.

Deus oferece vida, embora não se trate de um aperfeiçoamento da velha vida. A vida por Ele oferecida é um resultado da morte. Ela permanece sempre do outro lado da cruz. Quem quiser possuí-la deve passar pelo castigo. É preciso que repudie a si mesmo e concorde com a justa sentença de Deus contra ele.

O que isto significa para o indivíduo, o homem condenado quer encontrar vida em Cristo Jesus? Como esta teologia pode ser traduzida em termos de vida? É muito simples, ele deve arrepender-se e crer. Deve esquecer-se de seus pecados e depois esquecer-se de si mesmo. Ele não deve encobrir nada, defender nada, nem perdoar nada. Não deve procurar fazer acordos com Deus, mas inclinar a cabeça diante do golpe do desagrado severo de Deus e reconhecer que merece a morte.

Feito isto, ele deve contemplar com sincera confiança o salvador ressurreto e receber dEle vida, novo nascimento, purificação e poder. A cruz que terminou a vida terrena de Jesus põe agora um fim no pecador; e o poder que levantou Cristo dentre os mortos agora o levanta para uma nova vida com Cristo.

Para quem quer que deseje fazer objeções a este conceito ou considerá-lo apenas como um aspecto estreito e particular da verdade, quero afirmar que Deus colocou o seu selo de aprovação sobre esta mensagem desde os dias de Paulo até hoje. Quer declarado ou não nessas exatas palavras, este foi o conteúdo de toda pregação que trouxe vida e poder ao mundo através dos séculos. Os místicos, os reformadores, os revivalistas, colocaram aí a sua ênfase, e sinais, prodígios e poderosas operações do Espírito Santo deram testemunho da operação divina.

Ousaremos nós, os herdeiros de tal legado de poder, manipular a verdade? Ousaremos nós com nossos lápis grossos apagar as linhas do desenho ou alterar o padrão que nos foi mostrado no Monte? Que Deus não permita! Vamos pregar a velha cruz e conhecermos o velho poder.

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Fonte: O Melhor de A. W. Tozer, Editora Mundo Cristão, pp. 151-3.

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Vida cristã

O que sai da boca (Watchman Nee)


“O que guarda a sua boca preserva a sua vida” (Pv 13:3); “Um a língua suave é arvore de vida; mas a língua perversa quebranta o espírito” (Pv 15:4)
“Do que há em abundancia no coração, disso fala a boca”; “Digo-vos, pois, que de toda palavra fútil que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo. Porque pelas tuas palavras serás justificado, e por suas palavras serás condenado”. (Mt 12:34, 36 e 37)

Se um balde contendo água tiver um buraco, toda a água escapará. Não se trata de haver água ou não, mas sim se existe vazamento. Alguns irmãos e irmãs mostram que buscam realmente ao Senhor no conhecimento da Cruz. Às vezes eles desejam carregar a Cruz com sinceridade. Tudo indica que eles deveriam estar cheios de vida (espiritual). O estranho é que nessas pessoas que buscam, admiram e até mesmo tomam a Cruz, não podemos tocar na vida. Pelo contrário, a gente toca na morte. Qual é a razão para tal situação? A resposta é uma só: a vida que receberam, vazou toda.

Palavras Vãs Vazam a Vida
O que guarda a sua boca preserva a sua vida; mas o que muito abre os lábios traz sobre si a ruína.” (Pv 13:3). Não temos a ousadia de afirmar dogmaticamente que quando Salomão escreveu esse provérbio, ele se referia à vida física ou espiritual. Todavia, podemos tomar principio dele e aplicá-lo à esfera espiritual, Essa palavra nos mostra uma coisa: aquele que busca ao Senhor e deseja suprir a igreja com a vida que recebe, deve ser cuidadoso com suas palavras. Se não for cuidadoso sua vida vazará. Porque alguns não são de utilidade nas mãos de Deus? É porque tem havido um vazamento da vida. Nessas pessoas só podemos tocar na morte e não na vida. Por essa razão, precisamos guardar nossa boca diligentemente diante do Senhor. Muitas historias podem ser contatadas com respeito a essa verdade, de que como as palavras vãs vazam a vida, mais do que de qualquer outra coisa. Isso não significa que o pecado seja melhor do que as palavras vãs, mas podemos dizer que à parte do pecado, o que mais dissipa a vida são as nossas palavras inúteis.

Palavras Sujas ou Palavras Vãs
“Digo-vos, pois, que de toda palavra fútil (vazia) que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo” (Mt 12:36). O Senhor Jesus está Se referindo a palavras sujas? Não! Palavras difamadoras? Não! Palavras más? Não! Aqui se trata de palavras vãs: palavras fúteis, vazias, inúteis! Palavras vãs são palavras supérfluas, irrelevantes e desnecessárias, ou boatos que provocam disputas. “Hão de dar conta delas no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado e pelas tuas palavras seras condenado”. Foi isso que o Senhor Jesus disse. Podemos ver a seriedade das palavras vãs e também as palavras de boatos? Não é só a palavra impura que é grave; a palavra fútil é de solene significação. Em certas coisas e certos tipos de pecados particulares nós podemos fazer coisas e outros pecados que não podem ser compensados de modo algum. Como você pode compensar as palavras vãs faladas contra os outros? Você pode ir até à pessoa e confessar o pecado e retirar suas palavras; mas o som delas já entrou nos ouvidos dela e não há como eliminá-las. Você pode reembolsar alguém por coisas roubadas, mas por que meios se poderá reparar o prejuízo causado por meio das palavras? Tal pecado será apresentado diante de Deus. Por isso o Senhor diz: “Toda palavra vã que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado”.

Língua Suave: Árvore de Vida
“Uma língua suave é arvore de vida; mas a língua perversa quebranta o espírito”. (Pv 15:4). Suave ou gentil significa não ser superaquecida. É ser moderado e correto no tom. O muito falar aquece a língua e quando isso acontece não existe mais arvore de vida. Somente uma língua suave é que e árvore de vida. Uma língua suave é aquela que não é nem apressada, nem tola, nem tagarela. Tal língua é árvore de vida. Não podemos sentir o perfume de Cristo num cristão que gosta de tagarelar com palavras inúteis. Aquele que tem prazer em conversar futilidade, não tem condições de suprir os outros com vida, pois uma palavra fútil produz uma grande abertura através da qual a vida (espiritual) é vazada.

Trate com Seu Coração
Sabendo que a palavra vã desperdiça a vida, o que devemos fazer a esse respeito? A fim de guardar nossa boca, precisamos primeiro tratar com o coração: “Pois da abundancia do coração fala a boca”, diz o Senhor. Aboca fala aquilo que esta no coração. Se você tem algo em seu coração, mais cedo ou mais tarde isso será manifesto por sua boca. Se você não disser aqui, vai dizer lá; se não for nessa casa será naquela outra. A boca há de falar aquilo que enche o coração. Por isso, para se aprender a não dizer palavras vãs e fúteis diante de Deus, o coração deve ser tratado. Se ele não for tratado, sua boca também não o será. Porque todas as demais coisas que enchem o coração, disso fala a boca. Nunca se desculpe dizendo que você é alguém que fala sem colocar o coração nas palavras. Segundo as palavras do Senhor Jesus, não existe tal possibilidade. O coração vem junto com a boca (isto é, com as palavras). Ela apenas expressa o que está no coração. Por isso o coração deve ser tratado antes da boca.

Concordância no Falar
Por causa dos problemas existentes entre os irmãos em Corinto, Paulo os exortou dizendo: “Sejais concordes no falar”. (I co 1:10). Como podiam falar a mesma coisa? “Sendo unidos no mesmo pensamento e no mesmo parecer”. A vida da igreja é semelhante à vida de um individuo: assim como ela pode vazar através das palavras vãs, do mesmo modo acontece com a vida da igreja. Visto termos a mesma vida, sejamos de uma mente e de um parecer. Se for assim, poderemos falar a mesma coisa e seremos guardados de pronunciar palavras vãs. Tratemos, portanto, com nosso coração, a fim de que a boca também seja tratada.

Uma Boca: Duas Linguagens?
“Porventura a fonte deita da mesma abertura água doce e água amargosa?” (Tg 3:11). Se uma fonte não pode deitar dois tipos diferentes de água, como pode uma mesma boca ter dois diferentes tipos de linguagem? Assim como uma fonte só produz um tipo de água, assim também a boca só pode falar um tipo de linguagem. Precisamos tratar especificamente com as palavras vãs, porque tal vazamento não for detido, qualquer coisa que não deveria entrar acabará entrando por um lado, e o que não deveria sair acabará saindo pelo outro lado. Tal perda será incalculável! Por isso, tal vazamento precisa ser detido! Peçamos ao Senhor: “Senhor, trate com meu coração, a fim de que minha boca seja guardada por tua graça”.

Feche a Boca dos Outros
Você precisa tratar também com a boca dos outros, ajudando aqueles que gostam de dizer palavras vãs e se deleitam em tagarelar e espalhar boatos. Quando tais pessoas vierem a você com a intenção de dizer palavras vãs, não deixe que elas comecem. Diga-lhes: “Irmão, irmã, vamos orar”. Assim você as conduzirá ao caminho certo, não permitindo que pronunciem palavras inúteis, mas falando versículos da Bíblia ou se dedicando à oração. Você pode até mesmo ser bem rude e dizer: “Irmão, vamos aprender a dizer palavras que edificam. É melhor do que falar palavras vãs”.
Se desejarmos deter completamente o vazamento, devemos pedir também a Deus que nos livre da nossa própria curiosidade, para que possamos aprender a temê-Lo. Muitos cristãos são tão cheios de curiosidade que anseiam ouvir estórias estranhas e impuras. Seus ouvidos são como latas de lixo, nas quais todo tipo de coisas é jogado. Se formos livrados dessa curiosidade, pecaremos menos e do mesmo modo ajudaremos nossos irmãos a não cometerem tanto pecados. Se nossos ouvidos não estiverem cocando e se não dermos oportunidade diante de Deus, a fim de que a vida não seja dissipada em nós e o vazamento nos outros seja detido também.

Extraído do livro Practical Issues of This Life, de Watchman Nee, publicado por Christian Fellowship Publishers

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Vida cristã

O chamado divino (R. K. Campbell)

O chamado para o ministério do Evangelho, ou para cuidar das ovelhas de Deus, vem do próprio Senhor, coisa tão certa hoje como quando Ele chamou os apóstolos ou levantou outros para ministrar Sua Palavra na Igreja primitiva (Ef 4:11, Rm 12:6-8 e 1 Pd 4:10). Mesmo os verdadeiros profetas do Senhor no Antigo Testamento foram chamados por Ele mesmo para a realização de suas tarefas. De outros profetas, aqueles que profetizaram mentiras em Seu nome, disse Ele: “nunca os enviei, nem lhes dei ordem” (Jr 14:14). Essas palavras são certamente aplicáveis a muitos falsos mestres e pregadores hoje em dia.
Porém todo verdadeiro servo de Cristo terá plena consciência em sua própria alma do chamado divino para o serviço. O Espírito Santo opera nos corações daqueles que o Senhor quer usar como Seus ministros. O seu chamado se realiza na alma de Seus ministros e o coração é exercitado e levado a desejar responder à chamada celestial. Muitos exemplos deste chamado divino se encontram no Antigo Testamento, os quais o leitor interessado poderá considerar proveitosamente (vide Is 6, Jr 1, Mc 1:16-20, 3:13-14, Atos 9 e 22 como alguns exemplos).

Sem tal exercício de coração, produzido pelo Espírito Santo, e sem ter consciência do chamado divino e alguma medida de dom para isto, nenhum cristão deveria aventurar-se no ministério público de Cristo. Porque não nos é dado o direito de escolher o nosso lugar e o tipo de serviço no Corpo de Cristo. Essa prerrogativa pertence ao Senhor somente. Nosso lugar é o de aprender a Sua vontade para cada um individualmente e ocupar o lugar a nós designado. Se alguém sai a pregar ou a ensinar sem ser chamado por Deus para realizar esta obra santa, não será sustentado por Deus e sucumbirá cedo ou tarde, ou falhará ao executar a obra do Senhor. Aqueles que o Senhor chama, Ele mesmo os capacita e qualifica para o serviço, e sem esta capacitação o ministério não pode ser realizado corretamente.

A natureza e o alcance do chamado para o ministério público varia muito. O Senhor da seara o fará claro a cada servo exercitado que tem sido chamado, exatamente onde, como e até que ponto deve servir. Um pode ser chamado para trabalhar localmente, outro para viajar através de sua terra natal e outro para ir a um distante país pagão. Um pode ser chamado, depois de devida preparação e treinamento na escola de Deus, a dar todo o seu tempo à obra do Senhor, enquanto outro pode ser chamado para continuar em sua profissão diária e, por sua vez, pregar e ensinar em suas horas livres.

É uma idéia equivocada de que alguém não pode levar avante sua profissão terrena para sua subsistência e ainda ser um ministro, ou que somente aqueles que dedicam todo seu tempo para o serviço do Senhor é que são seus ministros. Nas Escrituras não há tal coisa como divisão de cristãos em duas classes: “o clero oficial” e “os laicos”, como comumente é conhecido hoje em dia ou o pensamento de que o ministério é uma profissão honrada a ser tomada para subsistência, como é o caso das outras profissões. Antes, o ministério é um santo chamado e um serviço celestial a ser exercitado como um trabalho de amor a Cristo, em dependência d’Ele para seu sustento nesse lugar. Embora seja verdade que o “trabalhador é digno do seu salário” (1 Tm 5:18), e que “aos que pregam o evangelho, que vivam do evangelho” (1 Co 9:18), ainda temos também o exemplo de Paulo, o grande apóstolo, que trabalhou dia e noite fazendo tendas e pregando o Evangelho sem remuneração (Atos 18:3-4, 1 Ts 2:9).

Nesta associação devemos citar as pesadas palavras de C.H.Mackintosh: “Estamos convencidos de que, por regra geral, é melhor que todo homem trabalhe com as mãos ou com seu cérebro em alguma atividade como profissão, e que pregue e ensine também, se dotado para fazer isso. Há exceções, sem dúvidas, à regra. Existem alguns que são tão manifestamente chamados, capacitados, usados e sustentados por Deus, que não pode haver possível engano quanto a sua linha de conduta. Suas mãos estão tão cheias de trabalho, o tempo deles tão absorvido com o ministério de falar, escrever, ensinar publicamente e visitar de casa em casa, o que lhes seria impossível para aceitarem o que é denominado trabalho secular – embora não gostemos da frase. Todos quantos têm que seguir adiante com Deus, dependendo d’Ele, Ele os manterá sem falta até o fim.

Extraído do livro A Igreja do Deus Vivo, do irmão R. K. Campbell, do Depósito de Literatura Cristã
www.literaturacrista.com.br

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Espírito Santo

O Espírito Santo em relação ao nosso ministério (C. H. Spurgeon)

Preleção dada aos seus alunos, em sua Escola Bíblica para Pastores
(The Pastor’s College)

Escolhi um tópico sobre o qual seria difícil dizer algo que já não tenha sido dito antes muitas vezes. Mas, como o tema é da mais alta importância, é bom deter-nos nele com freqüência, e ainda que só
exponhamos velhas coisas e nada mais, talvez seja sábio fazer-vos lembrar-se delas. Nosso tema é: O Espírito Santo em Relação com o Nosso Ministério, ou – a obra do Espírito Santo concernente a nós
como ministros do evangelho de Jesus Cristo.

“CREIO NO ESPIRITO SANTO”. Tendo pronunciado esta frase como conteúdo do credo, espero que possamos repeti-la também como um solilóquio devoto impulsionado por nossa experiência pessoal aos nossos lábios. Para nós, a presença e a obra do Espírito Santo constituem a base da nossa confiança quanto à sabedoria e ao elemento de esperança da obra da nossa vida. Se não crêssemos no Espírito Santo, teríamos renunciado ao nosso ministério muito antes, pois, “quem é suficiente para estas coisas?” Nossa esperança de sucesso e nossa força para a continuidade do serviço jazem em nossa crença em que o Espírito do Senhor repousa sobre nós.

Por ora dou por certo que todos nós estamos cônscios da existência do Espírito Santo. Dissemos que cremos nEle. Na verdade avançamos além da fé, nesta questão, e penetramos na região da consciência. Houve tempo em que a maioria de nós cria na existência dos nossos amigos presentes, pois tínhamos ouvido falar deles com os nossos ouvidos, mas agora nos vemos uns aos outros, trocamos apertos de mão fraternais e experimentamos a influência do companheirismo agradável, e portanto agora não é tanto que cremos, como conhecemos. Igualmente experimentamos o Espírito de Deus operando em nossos corações, temos conhecido e percebido o poder que Ele exerce sobre os espíritos humanos, e O conhecemos por contato pessoal, freqüente e consciente.

Pela sensibilidade do nosso espírito tomamos consciência da presença do Espírito de Deus, do mesmo modo como tomamos consciência da existência da alma dos nossos semelhantes por sua ação sobre nossa alma, assim como estamos certos da existência da matéria pela sua ação sobre os nossos sentidos. Fomos elevados da obscura esfera daquilo que é apenas mente e matéria às fulgurâncias celestiais do mundo espiritual. Agora, como homens espirituais, discernimos as coisas espirituais, sentimos as forças superiores dos domínios do espírito, e sabemos que há um Espírito Santo, pois O sentimos operar em nosso espírito. Não fosse assim, certamente não teríamos direito de estar no ministério da igreja de Cristo. Deveríamos permanecer até como membros da igreja? Mas, irmãos, fomos vivificados espiritualmente.Temos definida consciência de uma vida nova, com tudo o que dela resulta; somos novas criaturas em Cristo Jesus e vivemos num mundo novo. Fomos iluminados e capacitados a contemplar coisas que os olhos não vêem. Fomos guiados para a verdade de tal natureza que a carne e o sangue jamais poderiam ter revelado. Temos sido consolados pelo Espírito. Muitíssimas vezes o santo Paráclito nos tem levantado dos abismos da tristeza às alturas da alegria. Em certa medida, também fomos santificados por Ele; e estamos cônscios de que a santificação vai sendo operada em nós por diferentes formas e meios. Portanto, dadas estas experiências pessoais todas, sabemos que o Espírito Santo existe, com a mesma certeza de que nós mesmos existimos.

Sinto-me tentado a demorar-me aqui, pois este ponto merece maior consideração. Os descrentes pedem fatos. A velha doutrina comercial de Gradgrind entrou na religião, e o cético brada: “O que quero são fatos!” Estes são os nossos fatos: não nos esqueçamos de usá-los. Um cético me desafia com esta observação: “Não posso fixar minha fé num livro ou numa história. Quero ver fatos reais.” Minha resposta é: “Você não os pode ver porque os seus olhos estão vendados. Mas os fatos estão aí, nem mais nem menos. Aqueles dentre nós que têm olhos vêem coisas maravilhosas, embora você não as veja”. Se ele ridiculariza a minha afirmação, não fico espantado nem um pouco. Já o esperava. Ficaria espantado, e muito, se não o fizesse. Mas exijo respeito por minha posição como testemunha de fatos, e dirijo ao meu oponente a pergunta: “Que direito tem você de recusar a minha prova? Se eu fosse cego, e você me dissesse que possui uma faculdade chamada visão, eu seria irracional se o ofendesse chamando-lhe otimista convencido. Tudo que você tem direito de dizer é que nada sabe sobre isto – mas não está autorizado a chamar-nos de mentirosos ou bobos. Você pode juntar-se aos ofensores do passado e declarar que o homem espiritual é louco, mas isso não desfaz as afirmações deste.” Irmãos, para mim, os fatos produzidos pelo Espírito de Deus demonstram a veracidade da religião cristã com a mesma clareza com que a destruição de Faraó no Mar Vermelho, ou o maná caído no deserto, ou a água saltando da rocha ferida, podiam provar a Israel a presença de Deus no meio das suas tribos.

Chegamos agora ao cerne do nosso assunto. Para nós, ministros, o Espírito Santo é absolutamente essencial. Sem Ele o nosso ofício não passa de um nome. Não nos arrogamos sacerdócio além e acima daquele que pertence a todos os filhos de Deus. Mas somos sucessores daqueles que, nos velhos tempos, foram movidos por Deus a proclamar a Sua Palavra, a dar testemunho contra as transgressões e a dirigir a Sua causa. A menos que o espírito dos profetas esteja repousando sobre nós, o manto que usamos não passa de um traje tosco e enganoso. Como objetos dignos de aversão, devíamos ser expulsos da sociedade dos sinceros por ousarmos falar em nome do Senhor – se é que o Espírito de Deus não repousa sobre nós. Cremos que somos arautos de Jesus Cristo, designados para continuar o Seu testemunho na terra. Mas, sobre Ele e sobre o Seu testemunho sempre repousou o Espírito de Deus, e se Este não repousa sobre nós, é evidente que não somos enviados ao mundo como Cristo foi. No dia de Pentecoste, o início da grande obra de converter o mundo foi com línguas flamejantes e com um forte e impetuoso vento, símbolos da presença do Espírito. Portanto, se pretendemos ter bom êxito sem o Espírito, não estamos seguindo a norma pentecostal. Se não temos o Espírito que Jesus prometeu, não podemos cumprir a comissão que Jesus deu.

Não seria preciso advertir algum irmão aqui sobre a ilusão de que podemos ter o Espírito de Deus no sentido de sermos inspirados. Contudo, os membros de certa seita litigiosa moderna precisam ser
advertidos sobre essa loucura. Defendem a idéia de que as suas reuniões são realizadas sob “a presidência do Espírito Santo” – noção sobre a qual só posso dizer que fui incapaz de descobrir na Escritura Sagrada tanto a expressão como a idéia. Encontro, sim, no Novo Testamento, um grupo de coríntios notavelmente dotados, que gostavam de falar e dados a lutas partidárias – verdadeiros representantes daqueles a quem me referi. Mas, como Paulo disse deles, “dou graças porque a nenhum de vós batizei”, também dou graças ao Senhor que poucos daquela escola alguma vez se acharam em nosso maio. Poderia parecer que as suas assembléias possuem um dom peculiar de inspiração, não chegando inteiramente à infalibilidade, mas aproximando-se bem dela. Se vocês se meteram nessas reuniões, pergunto enfaticamente se foram mais edificados pelas preleções produzidas sob a presidência celestial, do que pelas preleções de comuns pregadores da Palavra. Estes se consideram sob a influência do Espírito Santo somente como um espírito está sob a influência de outro espírito, ou como uma mente sob a influência de outra. Não somos passivos transmissores de infalibilidade. Somos sinceros instruidores de coisas que aprendemos, na medida em que as pudemos captar. Como as nossas mentes são ativas e têm existência pessoal enquanto o Espírito age sobre elas, transparecem as nossas fraquezas bem como a Sua sabedoria. E enquanto revelamos aquilo que Ele nos fez saber, somos grandemente humilhados pelo temor de que a nossa ignorância e os nossos erros se manifestem em certo grau ao mesmo tempo, porque não nos sujeitamos mais perfeitamente ao poder divino. Não desconfio que vocês se extraviem na direção a que aludi. Certamente não é provável que os resultados de experiências anteriores induzam sábios a essa loucura.

Eis nossa primeira pergunta: Onde havemos de buscar o auxílio do Espírito Santo? Quando tivermos falado sobre este ponto, consideraremos mui solenemente um segundo: Como podemos perder essa
assistência? Oremos no sentido de que, pela bênção de Deus, a consideração deste ponto nos ajude a retê-la. Onde havemos de buscar o auxílio do Espírito Santo? Devo responder:
por sete ou oito meios.

1. Primeiro, Ele é o Espírito de conhecimento

“Ele vos guiará a toda a verdade”. Nisto, precisamos do Seu ensino. Temos urgente necessidade de estudar, pois o mestre de outros precisa instruir-se. Subir ao púlpito normalmente despreparado é presunção imperdoável. Nada poderá rebaixar-nos mais efetivamente, e ao nosso ofício. Depois de um discurso que o bispo de Lichfield fez em visita oficial, discurso sobre a necessidade de zeloso estudo da Palavra, certo clérigo disse à sua reverendíssima que não podia crer em sua doutrina, “pois”, disse ele, “muitas vezes, quando estou no gabinete pastoral, pronto para pregar, não sei sobre o que vou falar, mas vou para o púlpito, prego, e não penso em nada disso.” O bispo respondeu: “E você está certo em não pensar nada disso, pois os oficiais da igreja me disseram que partilham da sua opinião.”

Se não somos instruídos, como podemos instruir outros? Se não nos dedicamos a pensar, como podemos levar outros a pensar? É em nosso labor de estudar, nesse bendito trabalho em que estamos a sós com o Livro diante de nós, que precisamos da ajuda do Espírito Santo. Com Ele está a chave do tesouro celeste, e pode enriquecer-nos além da nossa imaginação. Com Ele está o guia da doutrina mais labiríntica, e pode conduzir-nos no caminho da verdade. Pode romper os portais de bronze e picar em pedaços as barras de ferro, e dar-nos os tesouros das trevas e as riquezas ocultas dos lugares secretos. Se vocês estudarem os originais, consultarem comentários e meditarem profundamente, mas deixarem de clamar vigorosamente ao Espírito de Deus, o seu estudo não lhes trará proveito. Entretanto, ainda que lhes seja vedado o emprego daqueles recursos (o que confio não lhes
suceda), se esperarem do Espírito Santo em simples dependência do Seu ensino, aprenderão muito da intenção divina.

O Espírito de Deus nos é peculiarmente precioso, porque de modo muito especial Ele nos instrui sobre a pessoa e a obra de nosso Senhor Jesus Cristo; e este é o ponto principal da nossa pregação. Ele toma coisas de Cristo e no-las mostra. Se tomasse coisas de doutrina ou preceito, ficaríamos contentes por essa bondosa assistência. Mas, visto que se deleita especialmente nas coisas de Cristo, e focaliza a Sua sagrada luz na cruz, regozijamo-nos ao ver o centro do nosso testemunho iluminado tão divinamente, e nos asseguramos de que a luz se difundirá sobre todo o restante do nosso ministério. Busquemos ao Espírito de Deus com este brado: “Ó Espírito Santo, revela-nos o Filho de Deus, e assim mostra-nos o Pai.”

Como Espírito de conhecimento, não só nos instrui quanto ao evangelho, mas também nos leva a ver o Senhor em todas as outras coisas. Não devemos fechar os nossos olhos para Deus na natureza, ou na história geral, ou nas ocorrências providenciais diárias, ou em nossa experiência pessoal. E em todas estas coisas, o nosso Intérprete da mente de Deus é o bendito Espírito. Se clamamos: “Ensina-me o que queres que eu faça”; ou, “mostra-me o motivo pelo qual contendes comigo”; ou, “dite-me qual é a Tua intenção nesta rica providência de misericórdia”; ou, “revela-me o Teu propósito naquela outra dispensação mista de juízo e graça” – seremos bem instruídos em cada caso. Pois o Espírito é o candeeiro de sete braços do santuário, e pela Sua luz todas as coisas podem ser vistas corretamente. Como Goodwin observa bem: “É preciso haver luz acompanhando a verdade, se temos de conhecê-la. Prova-nos isto a experiência de todos os homens envoltos na graça de Deus. Qual a razão por que vocês vêem algumas coisas num capítulo numa ocasião, e não em outra; alguma porção cia graça em seus corações numa ocasião, e não em outra; têm um vislumbre das realidades espirituais numa ocasião, e não em outra? Os olhos são os mesmos, mas é o Espírito Santo que abre e fecha esta lanterna de furta-fogo, como eu poderia chamar-lhe. Conforme Ele a abre mais, ou a aperta, ou a fecha, estreitando-a, temos maior ou menor visão. E às vezes Ele a fecha totalmente, e então a alma fica na escuridão, embora seus olhos nunca tenham estado tão bons.”
Amados irmãos, não deixem de ir a Ele em busca desta luz, ou ficarão nas trevas e serão guias cegos de cegos.

2. Em segundo lugar, o Espírito é chamado Espírito de sabedoria, e
precisamos enormemente dEle nesta capacidade

Sim, pois o conhecimento pode ser perigoso, se não for acompanhado pela sabedoria, que é a arte de usar acertadamente o que conhecemos. Manejar bem a Palavra de Deus é tão importante como compreendê-la plenamente. Alguns que evidentemente compreenderam uma parte do evangelho, deram indevida proeminência a essa porção isolada e, portanto, exibiram um cristianismo deformado, para prejuízo daqueles que o receberam, visto que, em conseqüência disso, exibiram por sua vez um caráter deformado. O nariz é um traço proeminente do rosto do homem. É possível, porém, fazê-lo tão grande que os olhos, a boca e tudo mais sejam lançados à insignificância. Um desenho assim é caricatura, não retrato. Do mesmo modo, certas doutrinas importantes do evangelho podem ser proclamadas com tal excesso que se lança o restante da verdade à sombra, e a pregação já não é o evangelho em sua beleza natural, mas uma caricatura do evangelho. Contudo, deixem-me dizê-lo, algumas pessoas parecem fortemente apegadas a essa caricatura. O Espírito de Deus lhes ensinará o emprego da faca sacrificial para dividir as ofertas. E lhes mostrará como usar as balanças do santuário, para pesarem e misturarem as preciosas especiarias em quantidades certas. Todo pregador experimentado sente que esse é o momento supremo, e bom será que seja capaz de resistir à tentação de negligenciá-lo. Que lástima, alguns dos nossos ouvintes não desejam ouvir todo o conselho de Deus! Têm as suas doutrinas favoritas e gostariam de fazer-nos calar em tudo mais. Muitos são como a escocesa que, depois de ouvir um sermão, disse: “Estaria muito bem, se não fosse aquela droga de deveres no fim.” Há irmãos dessa espécie. Desfrutam da parte consoladora – as promessas e as doutrinas – mas só de leve se deve tocar na santidade prática. A fidelidade requer que entreguemos o evangelho sob todos os ângulos, sem omitir nada e sem exagerar em nada. Para isto requer-se muita sabedoria. Com seriedade indago se algum de nós tem o tanto desta sabedoria que necessitarmos. Provavelmente somos afligidos por algumas parcialidades inescusáveis e inclinações injustificáveis. Ponhamo-las para fora e acabemos com elas. Talvez tenhamos consciência de que passamos por alto certos textos, não porque não o compreendemos (o que poderia justificar-se), mas porque os compreendemos e raramente gostamos de dizer o que eles rios ensinaram, ou porque talvez haja alguma imperfeição em nós, ou algum preconceito entre os nossos ouvintes que aqueles textos revelariam de modo demasiado claro para que nos sentíssemos bem. Esse silêncio pecaminoso tem que ser eliminado imediatamente. Para sermos sábios mordomos e repartirmos as porções certas de alimento para os membros da casa do divino Senhor, precisamos do Teu ensino, ó Espírito de Deus!

Tampouco isso é tudo, pois mesmo que saibamos manejar bem a Palavra de Deus, carecemos de sabedoria para a seleção da porção particular da verdade que é mais aplicável à ocasião e às pessoas reunidas. Como também de igual discrição no tom e na maneira de apresentar a doutrina. Creio de muitos irmãos que pregam sobre a responsabilidade humana, lançam-se de modo tão legalista que causam desgosto a todos os que amam as doutrinas da graça. Por outro lado, receio que muitos pregam a soberania de Deus de modo tal que afastam inteiramente da ala calvinista todas as pessoas que crêem na livre ação do homem. Não devemos ocultar a verdade por um momento sequer, mas devemos ter sabedoria para pregá-la sem que haja choque ou ofensa, e, sim, um esclarecimento gradativo daqueles que não conseguem vê-ia de todo, e um processo pelo qual se conduzam os irmãos mais fracos ao pleno círculo da doutrina do evangelho.

Irmãos, precisamos de sabedoria também no modo de colocar as coisas para diferentes pessoas. Pode-se demolir um ser humano com a mesma verdade destinada a edificá-lo. Pode-se causar enjôo a alguém com o mel com que se pretendia adoçar-lhe a boca. Tem-se pregado a grande misericórdia de Deus sem cuidado, o que tem levado centenas à licenciosidade. Por outro lado, tem-se ocasionalmente apregoado a terribilidade do Senhor com violência tão fulminante que tem levado muitos ao desespero, e daí a um decidido desafio ao Altíssimo. A sabedoria é proveitosa para dirigir, e aquele que a tem expõe a verdade na ocasião certa e trajada com as suas vestes mais apropriadas. Quem pode dar-nos esta sabedoria, senão o bendito Espírito de Deus? Irmãos, vejam que, com a mais humilde reverência,
esperem a Sua direção.

3. Terceiro, precisamos do Espírito doutra maneira, a saber, como a
brasa viva tirada do altar, tocando os nossos lábios

Assim, quando temos conhecimento e sabedoria para escolher a porção certa da verdade, podemos desfrutar liberdade de expressão quando vamos entregá-la. “Eis que ela tocou os teus lábios.” Quão gloriosamente fala o homem quando os seus lábios estão empolados pela brasa viva do altar – sentindo o poder de fogo da verdade, não apenas no recôndito da alma, mas nos próprios lábios com os quais está falando! Reparem nessas ocasiões como estremece a sua fala. Não notaram agora mesmo, na reunião de oração, em dois dos irmãos que elevaram súplicas, como era trêmulo o tom da sua voz, e como tremiam as estruturas dos seus corpos? Porque não somente os seus corações foram tocados, como espero tenham sido todos os outros corações, mas os seus lábios foram tocados, e esse tocar fluiu em seu falar. Irmãos, precisamos do Espírito de Deus para abrir as nossas bocas, para podermos proclamar os louvores do Senhor, ou então não falaremos com poder.

Necessitamos da influência divina para impedir que digamos muitas coisas que, caso saíssem de fato das nossas línguas, estragariam a nossa mensagem. Aqueles dentre nós que têm o perigoso talento para o humorismo, às vezes precisam parar, pegar a palavra ao sair da boca, olhar bem para ela, e ver se presta bem para a edificação. E aqueles cujo viver anterior os conduziu entre os grosseiros e rudes, precisam vigiar com olhos de lince a falta de delicadeza. Longe de nós, irmãos, dizer uma sílaba que sugira um pensamento impuro ou que desperte uma lembrança duvidosa. Precisamos do Espírito de Deus para pôr freio e cabresto em nós para impedir que falemos coisas que levem a mente dos ouvintes para longe de Cristo e das realidades eternas, fazendo-os pensar em coisas vis da terra.

Irmãos, também precisamos do Espírito Santo para nos impulsionar, em nossa tarefa de comunicar a Palavra. Não duvido que vocês estejam todos conscientes dos diferentes estados mentais que ocorrem na pregação. Alguns desses estados decorrem das diferentes condições físicas. Um resfriado não só tira a clareza da voz, mas também congela o fluxo dos pensamentos. Da minha parte, se eu não posso falar com clareza, também fico incapaz de pensar com clareza, e o conteúdo a transmitir fica rouco também, como a voz. Igualmente o estômago e todos os órgãos do corpo afetara a mente. Mas não me refiro a essas coisas. Terão vocês consciência das alterações completamente independentes do corpo? Quando estão robustos, não se sentem um dia pesados como os carros de Faraó cora as rodas retiradas, e noutra ocasião com tanta liberdade como “uma corça deixada solta”? Hoje o ramo brilha com o orvalho, ontem foi crestado pela seca. Quem não sabe que o Espírito de Deus está nisso tudo? Às vezes o Espírito divino age em nós de molde a livrar-nos completamente de nós mesmos. Em tais ocasiões, do começo ao fim do sermão podíamos dizer: “Se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe”. Tudo foi esquecido, menos certo absorvente assunto em mãos. Se me fosse proibido entrar no Céu, mas me fosse dado escolher a condição em que passarei a eternidade, escolheria aquela em que às vezes me sinto quando prego o evangelho. Nesse estado presencio o Céu: a mente cerrada para todas as influências perturbadoras, adorando o majestoso Deus, com plena consciência de Sua presença, todas as faculdades elevadas e jubilosamente cheias de vigor no máximo de sua capacidade, todos os pensamentos e poderes da alma alegremente ocupados em contemplar a glória do Senhor e exaltando com as multidões atentas o Bem-amado da nossa alma; e durante todo esse intervalo, a mais pura benevolência concebível para com as demais criaturas a incentivar o coração a pleitear com elas em prol do nome de Deus – que estado mental pode rivalizar-se com este? Pena é que alcançamos este ideal, porém, sem o podermos manter sempre, pois também sabemos o que é pregar em cadeias ou dar murros no ar.

Não podemos atribuir santas e felizes mudanças ocorridas em nosso ministério a nada menos que a ação do Espírito Santo em nossa alma. Estou certo de que o Espírito Santo realiza esta obra. Vezes sem conta, quando me assaltam dúvidas sugeridas pelo infiel, posso arremessá-las aos ares com total desdém, porque tenho definida consciência de um poder que opera em mim quando fato em nome do Senhor, poder que transcende infinitamente a qualquer capacidade ou eloqüência pessoal, e que sobrepuja em muito qualquer energia derivada do entusiasmo que sinto quando faço uma preleção secular ou um discurso. Aquele poder é tão diferente deste, que tenho toda a certeza de que não é da mesma ordem ou classe do entusiasmo dos políticos ou do ardor da oratória pura e simples. Oxalá experimentemos com muita freqüência a energia divina, e falemos com poder.

4. Mas então, em quarto lugar, o Espírito de Deus age também como
óleo que unge, e isto se relaciona com todo o trabalho da pregação – não simplesmente com a alocução oral, mas com toda a transmissão do discurso

Ele pode fazê-los sensíveis ao assunto, até ao ponto de ficarem dominados por ele, quer achatados na terra, quer elevados às alturas como em asas de águias. Acresce que, além do assunto, Ele os faz sensíveis ao seu objeto, até anelarem pela conversão dos homens e pelo despertamento dos cristãos, para que se elevem a algo mais nobre do que tudo que já conhecem. Ao mesmo tempo, outro sentimento estará com vocês, a saber, um intenso desejo de que Deus seja glorificado mediante a verdade que estão proclamando. Vocês ficam conscientes de um profundo e compassivo interesse pelas pessoas a que estão falando, lamentando que alguns saibam pouco, e que outros saibam muito e, contudo, o recusam. Vocês fitam alguns semblantes e, em silêncio, o seu coração lhes diz: “Ali cai orvalho”, e, voltando-se para outros, com tristeza percebem que são como as partes áridas da montanha de Gilboa.

Tudo isto se dá durante o sermão. Não podemos contar quantos pensamentos passam pela mente de uma vez. Uma vez contei oito grupos de pensamentos que ocupavam o meu cerébro simultaneamente, ou ao menos dentro do espaço do mesmo segundo. Estava pregando o evangelho com todas as minhas forças, mas não pude deixar de sensibilizar-me por uma senhora que estava evidentemente prestes a desmaiar, e também fiquei procurando o irmão encarregado das janelas, para que nos desse mais ar. Estava pensando na ilustração que omitira na primeira divisão, procurando dar forma à segunda divisão, perguntando-me se este sentira o peso da minha reputação, se aquele se fortalecera com a observação consoladora, e ao mesmo tempo estava louvando a Deus por desfrutar eu pessoalmente da verdade que estava proclamando. Alguns intérpretes consideram os querubins de quatro rostos como emblemas dos ministros. Eu certamente não vejo dificuldade na forma quádrupla, pois o Espírito Santo pode multiplicar os nossos estados mentais, e fazer de nós homens muito superiores além do que somos por natureza. O quanto pode Ele fazer de nós, e quão grandiosamente pode elevar-nos, não ouso conjeturar. Certamente Ele pode fazer muitíssimo acima do que pedimos ou pensamos.

Especialmente faz parte da obra do Espírito Santo manter em nós uma disposição devocional enquanto estamos entregando a mensagem. Esta é uma condição que se deve ambicionar grandemente – continuar a orar enquanto estamos ocupados com a prédica; cumprir os mandamentos do Senhor, dando ouvidos à voz da Sua Palavra; manter os olhos postos no trono, e as asas em constante movimento. Espero que saibamos o que isto significa. Estou certo de que sabemos o seu oposto, ou de que logo o experimentaremos, isto é, o mal de pregar sem espírito de devoção. Que pode ser pior do que falar sob a influência de um espírito arrogante ou irritado? Que é mais debilitante do que pregar num espírito incrédulo? Por outro lado, que bênção arder fervorosamente enquanto brilhamos diante dos olhos de outros! Esta é a obra do Espírito de Deus. Adorável Consolador, opera em nós!

Em nossos púlpitos precisamos unir o espírito de dependência com o de devoção, de modo que, durante a pregação toda, desde a primeira palavra até a última sílaba, olhemos ao alto para o Forte em busca de força. E bom lembrar que, embora tivessem chegado até o presente ponto, se o Espírito Santo os deixasse, fariam papel de tolos antes de acabar o sermão. Elevando os olhos para os montes de onde vem o socorro durante o sermão inteiro, com absoluta dependência de Deus, vocês pregarão com espírito de bravia confiança o tempo todo. Talvez eu esteja errado ao dizer “bravia”, pois não é coisa bravia confiar em Deus; para os verdadeiros crentes é simples questão de doce necessidade – como podem deixar de confiar nEle? Por que haveriam de duvidar do seu Amigo sempre fiel?

Outro dia de manhã, pregando à minha igreja sobre o texto “A minha graça te basta”, disse aos irmãos que pela primeira vez em minha vida tinha experimentado o que Abraão sentiu quando se inclinou sobre o seu rosto e riu. Voltava para casa depois de uma semana de trabalho intenso, quando veio à minha mente o texto: “A minha graça te basta.”

Veio, porém, com a ênfase posta em duas palavras: “A Minha graça te basta.” Minha alma disse: “Sem dúvida é assim. Seguramente, a graça do Deus infinito é mais que suficiente para um simples inseto como eu.” E ri, e tornei a rir, ao pensar em quanto o suprimento excedia a todas as minhas necessidades. Parecia que eu era um pequeno peixe no mar, e na minha sede dizia: “Viva, vou beber o oceano inteiro.” Então o Pai das águas ergueu sublime a cabeça e disse a sorrir: “Pequenino peixe, a ilimitada vastidão marina te basta.” Este pensamento fez com que a descrença parecesse supinamente ridícula, como de fato é.

Irmãos, devemos pregar cientes de que Deus pretende abençoar a Palavra proclamada, pois temos Sua promessa neste sentido. E ao termos pregado, devemos procurar as pessoas atingidas pela bênção.
Dirão vocês: “Fico dominado pelo espanto ao ver que Deus converte almas por meio do meu pobre ministério”? Falsa humildade! O seu ministério é pobre de verdade. Toda gente sabe disso, e vocês devem sabê-lo mais que ninguém. Mas, ao mesmo tempo, é coisa para espantar que, o Deus que disse: “A minha palavra não voltará para mim vazia”, cumpra o que prometeu? A refeição irá perder o seu valor nutritivo porque o prato é barato? A graça divina haverá de ser sobrepujada por nossa fraqueza? Não. Mas temos este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não nossa.

Precisamos ainda do Espírito Santo durante o sermão todo para manter nosso coração e mente em condição apropriada. Sim, porque, se não tivermos o espírito certo perderemos a entonação que persuade e prevalece, e o povo descobrirá que a força de Sansão o deixou. Uns pregam como quem está ralhando, e assim põem à mostra o seu mau gênio. Outros se pregam a si próprios, e assim revelam o seu orgulho.

Alguns discursam como se estivessem condescendendo em ocupar o púlpito, enquanto outros pregam como se estivessem pedindo desculpa por existirem. Para evitar erros nas maneiras e no tom da prédica, precisamos ser guiados pelo Espírito Santo, posto que só Ele nos ensina com proveito.

5. Em quinto lugar, dependemos inteiramente do Espírito de Deus para produzir efeito concreto decorrente do evangelho, o que deve sempre constituir o nosso objetivo

Não nos levantamos em nossos púlpitos a fim de desfraldar a nossa habilidade na esgrima esportiva da espada espiritual, mas, sim, para empreender luta de verdade. O objeto que temos em mira é fazer a espada do Espírito traspassar o coração dos homens. Se em algum sentido se pode pensar na pregação como uma exibição pública, há de ser como a exibição do jogo do cultivo, que consiste em cultivar realmente a terra. A competição não está na aparência dos arados, mas no trabalho feito. Dessa forma sejam julgados os ministros pelo modo como manejam o arado do evangelho, e como sulcam o solo da lavoura, de ponta a ponta.

Sempre visem ao efeito. “Ora”, dirá alguém, “entendi que você teria dito: “Nunca faça isso.” Digo também que nunca visem ao efeito, no sentido infeliz dessa expressão. Nunca visem ao efeito segundo o modo dos artífices de clímax, dos declamadores de poesia, dos manipuladores de lenços, e dos sopradores de palavrório bombástico. Para o homem que degrada o púlpito reduzindo-o a um palco de teatro para exibir-se, muito melhor que não tivesse nascido. Visem à correta espécie de efeito: inspirar os crentes para coisas mais nobres; levá-los para mais perto do seu Senhor; fortalecer os que vacilam até que se livrem dos seus temores; levar os pecadores ao arrependimento e ao exercício da fé incondicional em Cristo. Sem que se sigam estes sinais, para que servem os nossos sermões? Seria uma lástima dizer com certo arcebispo: “Passei por muitas posições de honra e de confiança, tanto na igreja como no estado, mais do que qualquer colega da minha ordem na Inglaterra, durante os últimos setenta anos. Mas se tivesse a certeza de que, por minha pregação, ao menos uma alma tivesse sido convertida a Deus, teria nisso maior consolo do que em todos os honrosos ofícios que me deram.” Milagres da graça devem constituir os selos do nosso ministério. Quem pode dá-los, senão o Espírito de Deus? Converter uma alma sem, o Espírito de Deus! Ora, vocês não podem nem fazer um inseto. Muito menos criar um novo coração e um espírito reto. Tentem conduzir os filhos de Deus a uma vida mais elevada, sem o Espírito Santo. É indizivelmente mais provável que os levem à segurança carnal, se procurarem elevá-los por seus próprios métodos, sejam estes quais forem. Não poderemos alcançar os nossos fins se omitirmos a cooperação do Espírito do Senhor. Portanto, com forte clamor e lágrimas, ponham nEle a sua esperança, dia a dia.

A falta de reconhecimento definido do poder do Espírito Santo jaz na raiz de muitos ministérios vãos. As violentas palavras de Robert Hall são tão verdadeiras agora como quando as esparramou como lava
derretida sobre uma geração semi-sociniana. “Por um lado, merece atenção o fato de que os mais eminentes e bem sucedidos pregadores do evangelho – um Brainerd, um Baxter, um Schwartz – foram os mais notáveis pela simples dependência em que se colocavam do auxílio espiritual. Por outro lado, nenhum sucesso acompanhou as ministrações daqueles que têm negligenciado ou negado esta doutrina. Estes encontraram a maior censura à sua presunção no total fracasso dos seus esforços, em que ninguém lutara pela realidade da interferência divina, no que a eles se refere; pois, quando o braço do Senhor se revela àqueles pretensos mestres do cristianismo, quem acreditará que não haja tal braço? Foi preciso deixá-los trabalhar num campo a respeito do qual Deus ordenou que não caísse chuva nele. Como se conscientes disso, por último voltaram os seus esforços para um novo canal e, sem esperança de conversão de pecadores, limitaram-se à sedução dos fiéis. Nisto, é preciso confessar, eles têm agido de modo perfeitamente coerente com os seus princípios. Pois que, ao menos, a propagação da heresia não requer a assistência divina.”

6. Em seguida, necessitamos do Espírito de Deus como o Espírito de
súplicas, que faz intercessão pelos santos de acordo com a vontade de Deus

Uma parte muito importante da nossa vida consiste em orar no Espírito Santo, e o ministro que não pensa assim, melhor seria que abandonasse o ministério. É preciso que abundante oração acompanhe a pregação zelosa. Não podemos estar sempre de joelhos fisicamente, mas a alma jamais deve abandonar a postura da devoção. O hábito de orar é bom, mas o espírito de oração é melhor. Deve-se manter o retiro periódico, mas a contínua comunhão com Deus deve ser o nosso objetivo. Em regra, nós ministros, nunca devemos ficar muitos minutos sem erguer de fato os nossos corações em oração. Alguns de nós poderíamos dizer com sinceridade que raramente passamos um quarto de hora sem falar com Deus, e isto não como dever, mas como instinto, como um hábito da nova natureza pelo qual não reclamamos maior crédito do que o bebê por chorar em busca da mãe. Como poderíamos agir doutro modo? Agora, se devemos estar intensamente no espírito de oração, temos necessidade de que o óleo secreto seja derramado no fogo sagrado da devoção dos nossos corações. Oxalá queiramos ser mais e mais visitados pelo Espírito de graça e de súplicas.

Quanto às nossas orações em público, queira Deus que nunca digam com verdade que elas são oficiais, formais e frias. Contudo, é o que serão se o suprimento do Espírito for deficiente. Não julgo os que usam liturgia. Mas aos que estão acostumados a fazer oração espontânea, digo – vocês não podem orar em público de modo aceitável, ano após ano, sem o Espírito de Deus. As orações mortas serão ofensivas ao povo muito antes de correr um ano. Como há de ser, então? De onde virá o nosso socorro? Certos fracotes dizem: “Tenhamos liturgia!” Em vez de procurar o auxílio divino, descem ao Egito, em busca de socorro. Em vez de colocar-se na dependência do Espírito de Deus, vão orar seguindo um livro! De minha parte, quando não consigo orar, prefiro estar ciente disso e ficar gemendo por causa da aridez da minha alma, até que o Senhor me visite com a bênção de uma devoção frutífera.

Se vocês estiverem cheios do Espírito Santo, lançarão fora com alegria todos os grilhões formais para se entregarem à corrente sagrada e serem levados até encontrarem águas profundas. Às vezes
gozarão mais íntima comunhão com Deus pela oração no púlpito do que em qualquer outro lugar. Quanto a mim, a minha mais grandiosa hora secreta de oração muitas vezes dá-se em público. A minha mais genuína experiência de estar a sós com Deus tem-me ocorrido enquanto elevo súplicas em meio a milhares de pessoas. Abro os olhos no fim de uma oração e volto ao povo reunido com uma espécie de choque ao ver que me acho na terra, entre os homens. Essas ocasiões não estão sob o nosso comando. Tampouco podemos elevar-nos a essas condições mediante quaisquer adestramentos ou esforços. Nenhuma língua pode descrever quão benditas são para o ministro e para os demais irmãos essas condições! Quão repleta de poder e de bênçãos há de ser também a prática habitual da oração não posso deter-me aqui para proclamar.

Mas para isso tudo temos que elevar os olhos para o Espírito Santo. E, louvado seja Deus, não olharemos em vão, pois dEle se diz especificamente que Ele ajuda as nossas fraquezas na oração.

7. Além do mais, é importante estar sob a influência do Espírito
Santo, uma vez que Ele é o Espírito de Santidade. Sim, porquanto uma parte muito considerável e essencial do ministério cristão consiste em servir de exemplo

Nossa gente observa com muita atenção o que dizemos do púlpito e o que fazemos na esfera social e em tudo mais. Meus irmãos, acham fácil ser santos? – santos que outros possam considerar como exemplos? Devemos ser maridos tais, que todos os maridos da igreja possam ser como somos, sem risco. É assim conosco? Devemos ser os melhores pais. Lástima! Alguns ministros que conheço estão longe disto pois, com referência às suas famílias, guardam bem as vinhas alheias, porém não guardam bem as suas. Seus filhos são negligenciados e não crescem como semente santa. É assim com os seus? Nas conversas com nossos semelhantes, somos inculpáveis e inofensivos, como filhos de Deus irrepreensíveis? É o que nos cabe ser. Respeito as razões pelas quais o sr. Whitefield mantinha sempre o terno de linho escrupulosamente limpo. “Não, não”, costumava dizer, “isto não é ninharia. O ministro não deve ter mancha, nem mesmo em sua roupa, se possível.”

Não há como exagerar a pureza num ministro. Vocês conhecem algum colega infeliz que apareceu salpicado, e afetuosamente o ajudaram a remover as manchas, mas perceberam que teria sido melhor se as roupas estivessem alvas sempre. Oh, mantenham-se imaculados do mundo! Como pode ser assim estando nós num cenário de tentação e vivendo cercados de pecados? Somente se formos preservados por um poder superior. Se vocês hão de andar em toda a santidade e pureza, como convém aos ministros do evangelho, devem ser diariamente enchidos do Espírito Santo.

8. Uma vez mais, precisamos do Espírito Santo em Sua qualidade de
Espírito de discernimento, pois Ele conhece a mente dos homens como conhece a de Deus, e necessitamos muito disto quando lidamos com personalidades difíceis

Há neste mundo alguns indivíduos que talvez pudessem receber permissão para pregar, mas que nunca deveríamos tolerar que se tornassem pastores. São desqualificados mental ou espiritualmente. Na igreja de São Zeno, em Verona, vi uma estátua daquele santo, representando-o sentado. O artista lhe deu pernas acima dos joelhos tão curtas que ficou sem colo para abrigar crianças, de modo que ele não poderia ser um pai bom para aconchegar os filhos. Receio que haja muitos outros que trabalham com semelhante falta de habilitação. Não podem levar a sua mente a entrar de coração nos cuidados pastorais. São capazes de dogmatizar sobre uma doutrina e de polemizar sobre uma ordenança, mas, entrar em compassiva empatia com uma experiência alheia está longe deles. Uma pessoa assim só pode prestar frio consolo às consciências aflitas. Seu conselho terá o mesmo valor do conselho dado pelo montanhês escocês que, segundo contam, viu um inglês afundando num pântano em Ben Nevis. “Estou afundando!”, gritou o viajor. “Você pode dizer-me como sair daqui?” O montanhês calmamente replicou: “Acho que é provável que você não vá conseguir sair daí nunca”, e seguiu seu caminho. Conhecemos ministros dessa laia. Ficam confusos e quase perdem a paciência com os pecadores, lutando à beira do desânimo. Se eu e você, despreparados para a arte do pastoreio, fôssemos colocados entre ovelhas e cordeiros no início da primavera, que haveríamos de fazer com eles? Na mesma perplexidade se acham os que nunca foram ensinados pelo Espírito Santo sobre a maneira de cuidar das almas. Oxalá as Suas instruções nos livrem de tão desditosa incompetência!

Sobretudo, irmãos, por mais ternura de coração ou amorosa preocupação que tenhamos, não saberemos tratar da imensa variedade de casos, a não ser que o Espírito de Deus nos dirija, pois não existem dois indivíduos iguais. E mesmo um caso idêntico a outro requererá tratamento diferente em diferentes ocasiões. Num período poderá ser melhor consolar, noutro repreender. E a pessoa de quem você se compadeceu empaticamente até às lágrimas hoje, talvez necessite que a enfrente com olhar carrancudo amanhã, por dizer tolices da consolação que você lhe deu. Os que curam os quebrantados de coração e proclamam libertação aos cativos precisam ter sobre si o Espírito do Senhor.

Na supervisão e direção de uma igreja é necessário o auxílio do Espírito. No fundo, o principal motivo da divisão de nossa denominação está na dificuldade proveniente do nosso governo eclesiástico. Tem-se dito que “tende à intranqüilidade do ministério.” Sem dúvida, é muito penoso para quem suspira pelas
dignidades oficiais e sente necessidade de ser o Excelentíssimo Senhor Oráculo, diante de quem até um cachorro fica proibido de latir. Os incapazes de dirigir algo além de bebês são justamente as pessoas que têm maior sede de autoridade e, vendo-se mal aquinhoados dela nestas partes, procuram outras regiões. Se você não pode governar-se a si próprio, se não é varonil e independente, se não é superior quanto ao peso moral, se não tem maior dom e graça do que os seus ouvintes comuns, poderá vestir uma toga e ter a pretensão de ser o líder da igreja – mas, não numa igreja de governo batista ou neotestamentário. De minha parte, detestaria ser pastor de pessoas que nada têm que dizer, ou que, se chegam a dizer algo, bem podiam ter ficado caladas, pois o pastor é Sua Excelência, o Soberano, e os demais são leigos – cada qual um joão-ninguém. Preferiria antes ser líder de seis homens livres, cujo entusiástico amor fosse o meu único poder sobre eles, do que bancar ditador de uma vintena de nações escravizadas.

Que posição é mais nobre do que a do pai espiritual que não se arroga autoridade e, todavia, é estimado por todos, e cuja palavra é dita apenas como terno conselho mas é recebida como tendo força de lei? Ao consultar os desejos de outros, vê que o primeiro desejo deles é saber o que ele recomenda e, cedendo sempre aos desejos de outros, vê que se alegram em ceder aos seus. Amorosamente firme e generosamente gentil, é o chefe de todos porque é servo de todos. Isto não requer sabedoria do Alto? Que poderia ter maior necessidade dela? Quando Davi se estabeleceu no trono, disse: “E Ele que submete a mim o meu povo.” E assim pode falar todo feliz pastor quando vê tantos irmãos de temperamentos diversos querendo alegremente estar sob disciplina e aceitar a sua liderança na obra do Senhor. Se o Senhor não estivesse entre nós, logo haveria confusão. Ministros, diáconos e presbíteros, todos precisam ser sábios, mas se o pombo sagrado parte, e o espírito de contenda entra, é o fim para nós. Irmãos, o nosso sistema não funcionará sem o Espírito de Deus, e me alegra que não funcione, pois as suas paralisações e suas roturas chamam a nossa atenção para o fato da Sua ausência. Nunca se teve a intenção de que o nosso sistema promovesse a glória de sacerdotes e pastores, mas é planejado para educar cristãos varonis, que não releguem a sua fé à segundo plano. Que sou eu, e que são vocês, para que devamos ser senhores dominando a herança de Deus? Algum de nós se atreverá a dizer com o rei francês, “L état, c’est moi” – o estado sou eu” – eu sou a pessoa mais importante da minha igreja? Se for assim, não é provável que o Espírito Santo faça uso desses instrumentos inadequados. Mas se conhecemos nosso lugar e desejamos conservá-los com toda a humildade, Ele nos ajudará, e as igrejas florescerão sob os nossos cuidados.

Dei-lhes um alongado catálogo de pontos nos quais o Espírito Santo nos é absolutamente necessário. Contudo, a lista está muito longe de ser completa. Deixei-a intencionalmente imperfeita porque, se eu
tentasse completá-la, todo o nosso tempo expiraria antes de podermos responder à pergunta: Como podemos perder esta assistência necessária?

Que nenhum de nós jamais faça esta experiência, mas é certo que os ministros podem perder o auxílio do Espírito Santo. Cada pessoa aqui presente pode perdê-lo. Vocês não perecerão, uma vez que são crentes, porque a vida eterna está em vocês. Podem, porém, perecer como ministros, de quem não se ouça mais falar que são testemunhas em prol do Senhor. Se suceder isso, não será sem motivo. O Espírito reclama soberania semelhante à do vento que sopra onde quer. Entretanto, jamais sonhemos que soberania e capricho são a mesma coisa. O bendito Espírito age como quer, mas sempre de modo justo, sábio, e com motivo e razão. Às vezes Ele dá ou retira a Sua bênção, por razões relativas a nós mesmos. Notem o curso de um rio como o Tâmisa – como torce e retorce a seu bel prazer. Contudo, há razão para cada volta ou curva. O geólogo, estudando o solo e observando a forma da rocha, vê a razão pela qual o leito do rio se desvia para a direita ou para a esquerda. Assim, apesar de que o Espírito de Deus abençoa um pregador mais que outro, e a razão não pode ser tal que algum homem possa congratular-se consigo por sua própria bondade, todavia há certas coisas concernentes aos ministros cristãos que Deus abençoa, e certas outras coisas que impedem o bom êxito. O Espírito de Deus cai como o orvalho, com mistério e poder. Mas, no mundo espiritual é como no mundo natural: certas substâncias se molham com a umidade celestial, ao passo que outras estão sempre secas.

Porventura não existe uma causa? O vento sopra onde quer, mas se desejamos sentir uma forte viração, temos que ir ao mar ou subir as colinas. O Espírito de Deus tem lugares favoritos para a demonstração do Seu poder. Ele é simbolizado por uma pomba, e a pomba tem os seus retiros preferidos. Freqüenta as correntes de águas, os lugares pacíficos e calmos. Não a encontramos no campo de batalha, nem a vemos pousar na carniça. Há coisas congruentes com o Espírito e coisas contrárias à Sua mente. O Espírito de Deus compara-se com a luz. A luz pode brilhar onde quiser, mas uns corpos são opacos, enquanto que outros são transparentes. Assim, há homens através dos quais nunca aparece o Seu brilho. Portanto, deste modo se pode demonstrar que, embora o Espírito Santo seja o “livre Espírito” de Deus, de modo nenhum age por capricho.

Entretanto, diletos irmãos, o Espírito de Deus pode ser entristecido, contrariado, e pode mesmo sofrer resistência. Negar isto é opor-se ao testemunho freqüente da Escritura. Pior de tudo, podemos menosprezá-lo e insultá-lo a tal ponto que Ele não fale mais por nosso intermédio, mas nos deixe como deixou o rei Saul antigamente. Seria lamentável se existissem homens no ministério cristão aos quais sucedesse isto; temo, porém, que existam.

Irmãos, quais serão os males que entristecem o Espírito? Respondo: tudo que vos desqualifique como cristãos comuns para a comunhão com Deus também vos desqualifica para experimentarem o poder
extraordinário do Espírito Santo como ministros. A parte disso, porém, há obstáculos especiais.

Dentre os primeiros, devemos mencionar a falta de sensibilidade, ou seja, aquele estado de frieza emocional que nasce da desobediência às ternas influências do Espírito. Devemos ser delicadamente sensíveis ao Seu mais leve movimento, e então poderemos esperar a Sua presença em nós. Mas, se somos como o cavalo e a mula que não têm entendimento, segundo a expressão bíblica, sentiremos o chicote, mas não desfrutaremos das ternas influências do Consolador.

Outro defeito entristecedor é a falta de veracidade. Quando um grande músico pega um violão ou toca harpa e vê que as notas falseiam, detém a mão. As almas de alguns homens não são sinceras. Eles são sofisticados e hipócritas. O Espírito de Cristo não será cúmplice de homens aplicados à desprezível ocupação de iludir e enganar. Será este o caso aqui – que vocês preguem certas doutrinas, não porque crêem nelas, mas porque a sua igreja espera que as preguem? Estarão vocês dando tempo ao tempo até poderem, sem risco, renunciar ao seu credo atual e apregoar o que a sua mente covarde realmente sustenta ser verdadeiro? Neste caso vocês são decaídos de fato, e estão abaixo dos escravos mais indignos. Deus nos livre dos homens traiçoeiros, e se estes chegam a formar em nossas fileiras, oxalá sejam rapidamente expulsos ao som da Marcha do Velhaco (Rogue’s March). Se nós sentimos aversão por eles, quanto mais os detestará o Espírito da verdade

Vocês poderão contristar grandemente o Espírito Santo com uma geral escassez de graça. A frase é temível, mas descreve certas pessoas melhor do que todas as outras que me ocorrem. A família Graça-Escassa geralmente tem um dos seus membros no ministério. Conheço o tipo. Não é insincero nem imoral, não tem mau gênio nem é auto-indulgente, mas algo lhes falta. Não seria fácil provar essa ausência por meio de alguma ofensa ostensiva de sua parte. O que lhe falta, porém, falta à sua personalidade toda, e essa carência arruína tudo. Falta-lhe aquilo que por excelência é necessário. Ele não é espiritual. Não há nele o aroma de Cristo. O seu coração nunca se inflama no seu interior. Sua alma não vive. Falta-lhe a graça. Não podemos esperar que o Espírito de Deus abençoe um ministério que jamais devia ter sido exercido, e certamente um ministério não revestido da graça é dessa natureza.

Outro mal que expulsa o Espírito divino é o orgulho. O modo de ser bem grande consiste em ser bem pequeno. Ser muito notável em sua própria estima é não ser notado por Deus. Se você tem profunda
necessidade de viver nos lugares elevados da Terra, achará frios e áridos os pontos culminantes das montanhas. O Senhor habita com os humildes, mas de longe conhece o soberbo.

A preguiça também contraria o Espírito Santo. Não posso imaginar o Espírito esperando à porta do mandrião, e suprindo às deficiências criadas pela indolência. A ociosidade na causa do Redentor é um mal para o qual não se pode inventar desculpa. Nós mesmos sentimos arrepios ao vermos os movimentos vagarosos dos preguiçosos, e estejamos certos de que o Espírito Santo, ativo como é, fica igualmente contrariado com os que agem levianamente na obra do Senhor.

A negligência na oração particular, como muitos outros males, produzirá o mesmo resultado infeliz. Todavia, não é preciso alongar o assunto, pois as suas próprias consciências, irmãos, lhes dirão o que entristece o Santo de Israel.

Agora lhes rogo que atentem para esta palavra: Vocês sabem o que poderá acontecer se o Espírito de Deus for grandemente contristado e retirar-se de nós? Há duas suposições.

A primeira é que nunca fomos verdadeiros servos de Deus, mas apenas usados temporariamente por Ele, como Balaão, e até a jumenta cavalgada por ele. Suponhamos, irmãos, que eu e vocês continuemos pregando por um tempo sem que nem nós nem outros suspeitemos que fomos destituídos do Espírito de Deus. Todo o nosso ministério pode acabar-se de um golpe, e nós com ele. Talvez sejamos derribados na primavera, como aconteceu com Nadabe e Abiú, para não mais ministrarmos perante o Senhor, ou talvez sejamos removidos nos anos do amadurecimento, como Hofni e Finéias, não podendo continuar servindo no tabernáculo da congregação. Não temos nenhum analista inspirado que nos registre a súbita eliminação de homens que prometem muito. Se o tivéssemos, porém, talvez lêssemos aterrorizados – sobre zelo sustentado por bebidas fortes, sobre farisaísmo associado a corrupção secreta, sobre ortodoxia declarada ocultando infidelidade absoluta, ou sobre alguma outra forma de fogo estranho apresentado no altar, até que o Senhor não o suporte mais e elimine os ofensores com repentino golpe. Caberá a algum de nós essa terrível condenação?

É uma pena, mas vi alguns que, como Saul, foram abandonados pelo Espírito Santo. Está escrito que o Espírito de Deus veio sobre Saul. Entretanto, ele não foi fiel à influência divina, esta o deixou, e um espírito mau lhe tomou o lugar. Notem como o pregador de quem o Espírito se retirou banca jeitosamente o cínico, critica todos os demais, arremessa o dardo da calúnia a alguém melhor do que ele. Saul esteve uma vez entre os profetas, mas se sentia mais à vontade entre os perseguidores. O pregador frustrado procura destruir o verdadeiro evangelista, recorre aos encantos da filosofia, e busca o auxílio de heresias mortas, mas o seu poder se foi e logo os filisteus o encontrarão entre os mortos. “Não o noticieis em Gate, nem o publiqueis nas ruas de Ascalom… Vós, filhas de Israel, chorai por Saul… Como caíram os valentes no meio da peleja!”

Também alguns que foram abandonados pelo Espírito de Deus se tornaram semelhantes aos filhos de Ceva, um judeu. Estes presunçosos tentaram expulsar demônios em nome de Jesus, a quem Paulo pregava, mas os demônios saltaram sobre eles e o subjugaram. Assim, enquanto certos pregadores pregavam contra o pecado, os próprios vícios que denunciavam os derrotaram. Os filhos de Ceva têm estado entre nós. Os demônios da bebedice prevaleceram sobre o próprio indivíduo que denunciava o cálice fascinante, e o demônio da impureza saltou sobre o pregador que aplaudia a castidade. Se o Espírito Santo estiver ausente, de todas as posições a nossa é a mais perigosa. Cautela, pois!

É lamentável, mas alguns ministros ficaram como Balaão. Era um profeta, não era? Não falava em nome do Senhor? Não se lhe chamou “homem de olhos abertos… que tem a visão do Todo-poderoso”? Apesar disso, Balaão lutou contra Israel e com astúcia arquitetou um plano pelo qual o povo escolhido poderia ser vencido. Ministros do evangelho há que se tornaram súditos do papa, infiéis, livre-pensadores, e conspiraram para a destruição daquilo que antes professavam pregar. Podemos ser apóstolos, mas como Judas, terminar sendo filhos da perdição. Ai de nós, se for este o caso!

Irmãos, presumirei que somos realmente filhos de Deus. E então? Ora, mesmo neste caso, se o Espírito de Deus nos deixar, poderemos ser eliminados de um golpe, como se deu com o iludido profeta que deixou de obedecer à ordem do Senhor nos dias de Jeroboão. Era sem dúvida um homem de Deus, e sua morte física de modo algum prova que tenha perdido a alma, mas rompeu aquilo que sabia ser uma ordem de Deus dada especialmente para ele. Seu ministério terminou ali e naquela exata ocasião, pois um leão o encontrou no caminho e o matou. Queira o Espírito Santo proteger-nos dos enganadores e manter-nos fiéis à voz de Deus.

Pior ainda, podemos reproduzir a vida de Sansão, sobre quem veio o Espírito de Deus nos campos de Dá. Mas, no regaço de Dalila perdeu a força, e na masmorra perdeu os olhos. Concluiu com bravura a
carreira, cego como estava, mas quem de nós deseja tentar destino tal?

Ou – e este último me estristece além de toda a expressão, porque tem maior probabilidade de acontecer do que qualquer de todos os restantes – o Espírito de Deus pode retirar-se de nós, em penoso grau, para estrago do encerramento da nossa carreira, como foi no caso de Moisés. Não perderemos as nossas almas, não, nem mesmo as nossas coroas no Céu ou ainda a nossa reputação na terra, porém ficaremos sob uma nuvem em nossos últimos dias por termos falado uma vez imprudentemente com os nossos lábios.

Recentemente estudei os últimos dias do grande profeta do Horebe, e ainda não me recuperei da profunda tristeza de espírito que me sobreveio. Qual foi o pecado de Moisés? Não há por que inquirir. Não foi grosseiro como a transgressão de Davi, nem chocante como o fracasso de Pedro, nem fraco e tolo como a grave falta do seu irmão Arão. Na verdade, parece uma ofensa infinitesimal quando pesada na balança do julgamento usual. Mas então, vocês vêem, foi o pecado de Moisés, homem favorecido por Deus mais que todos os outros, o pecado de um líder do povo, de um representante do Rei divino. O Senhor o podia ter passado por alto em qualquer outro, não porém em Moisés. Moisés teve que ser punido com a proibição de introduzir o povo na terra prometida. E certo que teve gloriosa visão do alto de Pisga, e tudo mais que podia mitigar o rigor da sentença, mas foi grande desapontamento nunca entrar na terra da herança de Israel, e isso por ter falado uma vez impensadamente.

Eu não poderia fugir ao serviço do Mestre, mas tremo em Sua presença. Quem pode estar sem culpa, quando até Moisés errou? E coisa terrível ser amado de Deus. “Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor? Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas? O que anda em justiça, e o que fala com retidão.” – Somente este pode enfrentar as devoradoras chamas do amor.

Rogo-lhes, irmãos que procurem ocupar o lugar de Moisés, mas tremam ao fazê-lo. Temam e tremam por todo o bem que Deus faça passar diante de vocês. Quando estiverem transbordando de frutos do Espírito, inclinem-se até o pó perante o trono, e sirvam ao Senhor com temor. “O Senhor nosso Deus é Deus zeloso.” Lembrem-se de que Deus veio a nós, não para exaltar-nos, mas para exaltar-Se, e temos que atentar para o fato de que a glória de Deus é o único objetivo de tudo que fazemos. “Importa que Ele cresça, e eu diminua.” Oxalá Deus nos induza a isto e nos faça andar muito cuidadosa e humildemente diante dEle. Deus nos sondará e nos provará, pois o juízo começa em Sua casa, e nessa casa começa com os Seus ministros. Quererá algum de nós ser achado em falta? Retirará o abismo do inferno uma parte dos seus infelizes habitantes do meio do nosso grupo de pastores? Será terrível a sentença de um pastor decaído. A sua condenação causará espanto aos transgressores comuns. “Das profundezas o inferno se move por ti para encontrar-te em tua vinda.” Todos eles te dirão: “Também tu te tornaste fraco, igual a nós? Ficaste parecido conosco?”.

Clamemos ao Espírito de Deus, que nos faça e nos mantenha vivos para Deus, fiéis ao nosso ofício e úteis à nossa geração – e limpos do sangue das almas.

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Extraído de Lições aos Meus Alunos, volume 1, Editora PES.
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Encorajamento Vida cristã

Você está disposto a desistir dos seus direitos?

“Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16:24); “(Jesus)… como um cordeiro que é levado ao matadouro… não abriu a sua boca” (Is 53:7); “Estes são os que seguem o Cordeiro por onde quer que Ele vá” (Ap 14:4); “(Eu) fui crucificado com Cristo, e vivo, não mais eu mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20)

Em Lucas 14 o Senhor Jesus mencionou três vezes a frase: “não pode ser meu discípulo” (vs. 26, 27 e 33) A primeira condição é aborrecer pai, mãe, mulher, filhos, irmãos e irmãs e a própria vida (alma); a segunda é levar a própria cruz e seguir o Senhor; e a terceira é renunciar a tudo quanto possui. Diante disso, quantos crentes em Cristo são Seus discípulos? Precisamos negar o nosso Eu, carregar nossa Cruz, seguir o Senhor, ir para o matadouro sem abrir a boca, seguir o Cordeiro onde quer que Ele vá, mesmo para o matadouro: Isso é crucificação do Eu!

No nosso viver diário o Senhor prepara situações especiais para negarmos a nós mesmo, renunciarmos nosso direitos aborrecermos nossa alma (Eu), tomar nossa Cruz e segui-Lo. Vamos ver alguns exemplos de como isso acontece na prática:

1) Quando suportamos com amor e paciência qualquer confusão ou aborrecimento; quando enfrentamos o desperdício, a extravagância, a intolerância espiritual e reagimos como Jesus reagiu: Isso é morte do Eu!

Enquanto os outros parecem poder exaltar os seus feitos, sucessos e promover a si mesmos, o Espírito Santo não dará essa permissão a você. Eles podem falar sobre seus planos, mas se você tentar falar das boas obras que realizou, o Espírito Santo irá ferir sua consciência, convencendo você da loucura dos esforços humanos e fazendo com que você despreze a si mesmo e as boas obras que deseja exaltar.

2) Quando você nunca se preocupar em falar de si próprio numa conversa, ou de suas boas ações, ou provocar elogios; quando você puder amar verdadeiramente e ainda se manter desconhecido : Isso é morte do Eu!

Outros podem evidenciar-se ganhando enormes somas de dinheiro, tirando beneficio de casos incríveis, ou fazer investimentos no tempo certo; todavia o Senhor pode manter você na pobreza, a fim de que você se aproxime da imagem do Seu Filho. O seu negocio ou profissão pode não prosperar, problemas de saúde na família podem obrigá-lo a gastar muito dinheiro, podem minar seus recursos, ou os seus investimentos podem ficar em uma cotação tão baixa repentinamente. Deus pode levá-lo a uma dependência dEle total e absoluta, para que você possa experimentar a alegria de ver que o Senhor satisfaz as suas necessidades, dia a dia, a partir de um tesouro que não é visível mas que é ilimitado.

3) Quando você puder ver seu irmão prosperar, com todas as necessidades dele satisfeitas, e, honestamente, regozijar-se com ele sem sentir inveja ou questionar a Deus, enquanto suas próprias necessidades são muito maiores e sua situação é desesperadora : Isso é morte do Eu!

A outros podem ser concedidas honras; eles podem brilhar enquanto você trabalha para Deus na obscuridade. Você nunca é mencionado, mas eles recebem incentivos, elogios e abraços daqueles que os rodeiam. Por quê? Porque alguns dos frutos de qualidade mais excelentes para o Reino do Senhor só podem ser produzidos na obscuridade. Outros podem tornar-se importantes, enquanto você continua sendo insignificante. Ele pode permitir que outros realizem um trabalho para a eternidade, que recebam amplo crédito por isso, enquanto você trabalha horas sem fim, sem saber o que está a realizar. Então Ele fará com que o seu trabalho seja ainda mais precioso, permitindo que os outros recebam o credito pelos esforços que você fez. Você receberá a sua recompensa multiplicada, mas só quando o Senhor Jesus voltar!

4) Quando você for esquecido e negligenciado, desprezado ou evitado propositalmente e não ficar ferido ou magoado com os insultos e enganos, mas se sentir feliz em seu coração achando que vale a pena sofrer por amor a Cristo: Isso é morte do Eu!

Você que deseja ser como Cristo, pode notar o Espírito Santo mantendo-o sob vigilância, demonstrando assim o amor zeloso que Deus tem por você. Ele vai repreendê-lo pelas palavras vazias, sentimentos impróprios e tempo desperdiçado; entretanto os outros cristãos nunca parecem sofrer punições. Outros poderão aproveitar-se de você, abusando de sua boa vontade e quando você pedir recompensa poderão tratar você mal. Não compete a você perguntar porquê ou exigir uma resposta. Deus apenas procura que aceitemos a Sua soberania em nossas vidas, tendo Ele o direito de fazer o que Lhe agrada com Seus filhos.

5) Quando você puder receber correções e censuras de alguém que seja menos importante do que você e manter-se em humildade interior e exterior, sem que surja no seu coração qualquer sinal de revolta ou ressentimento: Isso é morte do Eu!

Se você estiver disposto a desistir dos seus direitos, a não ser compreendido por aqueles a quem você respeita e ser punido sem ter culpa nenhuma, pelo contrário, tornando-se escravo do Deus eterno, você verá bênçãos de Deus derramadas sobre a sua vida, o que acontece apenas com aqueles que têm honra de serem incluídos no grupo “íntimos” do Senhor, aos quais é revelado o “segredo” do Senhor.

6) Quando suas obras forem caluniadas e seus desejos contrariados, seus conselhos postos de lado, suas opiniões ridicularizadas e você não deixar que a ira se apodere do seu coração, ou mesmo quando você se recusar a defender, suportando tudo com paciência e silêncio amoroso: Isso é morte do Eu!

Se você deseja realmente ser como Cristo, precisa colocar um fim nessa questão de uma vez para sempre. Deus através do Seu Espírito possui o privilégio divino de prender sua língua, de amarrar suas mãos e de fechar os seus olhos. Ele pode conduzir o seu negócio, a sua posição social, sua família ou reputação, de uma maneira que Ele não faz com outros. Mas no fundo do seu coração, será que você vai reagir com humildade e prazer? Você vai permitir que Deus seja o Deus que Ele quer ser em você, fazendo com obediência aquilo que o seu Pai celestial quer que você faça? Você vai deixar de esperar que Deus trate você como Ele trata os outros cristãos, e agradecerá por estar proibido de fazer aquilo que ele permite aos outros?

7) Quando você estiver satisfeito com qualquer comida, oferta ou vestuário, qualquer clima, sociedade ou solidão e qualquer interrupção provocada pela vontade de Deus : Isso é a morte do Eu!

Quando o Deus vivo absorver você de tal forma que você venha a se regozijar com este tratamento fora do comum e sentir Sua presença, satisfação e prazer, descobrindo que você está feliz com o envolvimento único, pessoal e especial do Espírito Santo em sua vida, então você irá compreender que está vivendo no Espírito uma vida de qualidade que desafia qualquer explicação. Aí você saberá realmente, o que significa: A Morte do Eu!

Texto selecionado por Delcio Meireles

(Extraído de http://www.preciosasemente.com.br/vidacrista/mortedoeu.htm)

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Encorajamento

Uma palavra de encorajamento para este começo de semana

É maravilhoso lermos na Bíblia que Deus se identifica como o Deus de Abraão, Deus de Isaque e Deus de Jacó. Se Deus é Deus de Jacó, então, eu creio, todos nós temos esperança! Se Deus pôde trabalhar em Jacó, certamente Deus pode trabalhar em cada um de nós. Pessoas como Jacó podem ser colunas? Nele se podia ver a natureza de Cristo? Deus usou Jacó no processo de edificação de Jerusalém? Então, o mesmo pode ocorrer conosco. Aleluia!

(Christian Chen, em O Duplo Chamamento)

Deus começou a trabalhar em Jacó quando este tinha mais de 70 anos. E concluiu Sua obra. Ele deseja e pode fazer o mesmo em mim e em você. Permita!

Tenha um bom dia sob as amorosas e feridas mãos de nosso Senhor!

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Bíblia

Muitos comentários bíblicos reunidos

Aqui você encontra 14 comentários bíblicos, incluindo Spurgeon, Wesley, Gill, Henry, entre outros. Os comentários estão separados por livros e capítulos da Bíblia. Assim, se você quiser entender o que esses homens falavam sobre João 2, por exemplo, é só procurar por John, depois 2, e pronto! Simples e completo!

Dica de meu amigo Magno Braga.

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Citações

Salvação

Oh, o claro, fácil e simples caminho da salvação, que não almeja resquícios de arte ou ciência, nenhum aprendizado emprestado, nenhum refinamento de razão, mas tudo feito pelo simples e natural mover de todo coração, que verdadeiramente deseje a Deus. Pois não mais é o desejo finito da criatura movendo-se em direção a Deus, mas o infinito desejo de Deus unido a este, e cooperando com ele. E é da união desses desejos, o de Deus e o da criatura, que emergem a salvação e a vida da alma.

William Law (1986 – 1761), O Espírito da Oração (1749)

(Tradução de Duda Ruiz)

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Igreja Modernismos

Eu tenho de gostar da Lagoinha?

Há alguns anos, a chamada música louvor-e-adoração tem sido presença marcante nos grupos…

(abramos um longo parêntese para tentar responder à pergunta: Como chamar os filhos de Deus? A Bíblia os chama de irmãos, santos, discí­pulos e, bem poucas vezes, cristãos. Depois, vieram os termos “crentes” e “evangélicos”; mais recentemente “gospel” e, absurdo dos absurdos!, “fãs de Jesus”. Este último, evidentemente, é repugnante. Fãs de Jesus foram aqueles que O receberam à entrada de Jerusalém e, poucos dias depois, pediram que fosse crucificado. Fã o é hoje, e amanhã deixa de ser. Portanto, não serve para descrever um relacionamento sério com o Senhor. Gospel? De um tipo de música americana a carimbo sobre tudo o que é feito em nome de Deus ou é — mais ou menos — relacionado com Ele. Assim, temos música, revistas, bandas, axé, camisetas, canetas, canecas, cartão de crédito, baladas, fã-clubes, heavy metal, piercing, pulseiras… tudo gospel. O que isso significa? Para mim, apenas que Deus se tornou um bom produto. De um modo ou de outro. A Superinteressante, por exemplo, todo final de ano tem de fazer uma matéria de capa achincalhando a fé cristã. Vende, e isso é o que importa.Infelizmente, os filhos de Deus (e muitos que não o são) descobriram também este filão — basta colocar o nome gospel em alguma coisa (qualquer coisa) que o povo compra, usa, ouve e toma como inspirado pelos céus.Portanto, repudio também o adjetivo gospel. Para mim, ele nada significa, a não ser comércio.
Entre os termos bí­blicos, fico com cristão. Indica seguidor de Cristo. Sei que os católicos e espíritas também usam esse termo para si, mas são usurpadores apenas, não renascidos. Sim, há salvos entre os católicos, mas, no que diz respeito à instituição, o termo cristão não lhe cabe.)

Parêntese fechado, voltemos ao tema proposto. Como eu dizia, os rincões cristãos foram invadidos por esse tal de louvor-e-adoração. E dentro os expoentes desse tipo de música está o chamado Ministério Diante do Trono.
Não quero me alongar em considerações sobre o tal ministério (uma pergunta: você encontra ministérios com nomes no Novo Testamento? Nome de pessoas, de pastores, nomes “bíblicos”, nome engraçadinho — você encontra alguma coisa assim naquela que é [deveria ser] nossa regra de fé e prática?). Apenas assusto-me com a imposição de seu estilo sobre os cristãos, quase colocando-se como a versão oficial dos louvores do céu. Todos querem gravar CDs e DVDs como o DT e cantar como ele e aparecer como ele. É o comércio, novamente.

Encontrei a lí­der do DT numa “feira evangélica” em São Paulo. Havia uma fila enorme de pessoas esperando por um autógrafo dela e para serem fotografadas ao seu lado. Que é isso? Idolatria? E é tudo para a glória de Deus, como se justificam as estrelas gospel? Comércio. E os produtos são muitos: livros, cds, dvds, cds para crianças, revistinhas, até ringtones e papéis de parede para celular. É assim que tem de ser? Essa é a maneira bí­blica de pregar o evangelho? de denunciar os pecados? de conduzir pessoas à luz? Isso funciona?

Aparentemente, não. Um xou desse grupo reúne, segundo seus organizadores, dois milhões de pessoas. Para quê? Qual foi o impacto real na cidade de dois milhões de cristãos (se é que o eram todos) reunidos? Nenhum. Corrupção, violência, prostituição, drogas, mentira, tudo continua exatamente como antes. Ah, que saudades de Jonathan Edwards que, sozinho, sem orquestra, banda, coral, dança, pintura profética (que será isso?), pirotecnia, propaganda e tv, em tom monocórdico, pregou “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado” e, pela convicção de pecados, acabaram os prostíbulos daquela cidade naquela noite!

Outros grupos, à semelhança do DT, reúnem milhares, fazem um espetáculo roliudiano, mas sem impacto espiritual real e duradouro sobre a sociedade. Há algo, com certeza, profundamente errado em tudo isso.

Não gosto do DT por razões teológicas, em primeiro lugar, e, depois, musicais. Mas, pelo que vejo entre muitos cristãos, por comentários e devoção ao DT, eu deveria. Ouvi um locutor de rádio dizer sobre a lí­der do DT: “Se isso não é unção, o que é? Se essa moça não é usada por Deus, quem é?”

Pois é. Agora, ele/ela é também sinônimo de unção e de ser usado por Deus.

Onde irá parar tudo isso?

___________________

Obs.: Escrevi este curtíssimo artigo em 10 de dezembro de 2005. De lá para cá, muita coisa mudou. Menos no DT, que continua tão ruim, teológica e musicalmente, quanto à época em que escrevi. Minha opinião continua a mesma, agravada pelos muitos filhos que o DT gerou.

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Vida cristã

A vida e a vida abundante

A. J. Gordon (1836-1895)

Com certeza, não nos esquecemos que a Escritura usa a expressão “obtendo o fim de vossa fé, a salvação de vossa alma”. Mas o contexto mostra claramente que isso se refere ao fim último, ao aperfeiçoamento e a glorificação da alma na revelação de Jesus Cristo, e não a sua justificação quando creu em Cristo. “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna”, tem sua semente e princípio. Mas Cristo disse: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10:10). Cristo para nós, recebido pela fé, é a origem da vida; Cristo em nós, por meio da morada em nós do Espírito Santo, é a origem da vida mais abundante. O primeiro fato assegura nossa salvação; o outro nos faz aptos para glorificar a Deus pela salvação de outros.

De que formas tão distintas são manifestados esses dois graus da vida espiritual no discurso de nosso Senhor acerca da água da vida! O primeiro efeito sobre o crente ao beber essa água é: “Jamais terá sede; mas a água que Eu lhe der será nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna” (Jo 4:14). Ou seja, a alma recebe a salvação e a alegria e a paz perenes que acompanham a salvação. Mas o segundo grau é esse: “O que crê em Mim, como diz a Escritura, de seu interior fluirão rios de água viva. Isso disse do Espírito que haviam de receber os que cressem Nele” (Jo 7:38-39). Aqui vemos a vida divina derramando-se en serviço, testemunho e bênção, pelo Espírito Santo.

É esse último grau, a plenitude e o conseqüente derramamento das influências do Espírito Santo, o que necessita ser especialmente procurado nesses dias, por parte dos cristãos. Há tantos exemplos da falta de desenvolvimento na igreja; crentes que se têm contentado com o estado de infantilidade permanente e cujo testemunho sempre começa com sua conversão e gira em redor desse acontecimento, como a cantiga das crianças que continuamente estão dizendo sua idade.

Pois, mesmo nossa conversão, não obstante ter sido um acontecimento bendito, pode ser uma daquelas coisas que ficam para trás; que temos de esquecer para avançar para coisas mais sublimes. Não há um significado profundo naquela expressão de união dupla que nosso Senhor usa com tanta freqüência: “Vós em Mim e Eu em vós”? O ramo que está na videira tem seu lugar; mas, só por estar a videira nele, penetrando-o de contínuo com sua seiva e substância, é que tem poder para ser frutífero.

“Se alguém está em Cristo, nova criatura é”, é regenerado, é justificado. Mas permita-nos perguntar: Que podem significar as palavras do apóstolo quando, referindo-se a semelhantes pessoas regeneradas, disse: “Filhinhos, por quem de novo sofro dores de parto, até ser Cristo formado em vós” (Gl 4:19)? Esse último trabalho – essas segundas dores de parto pelos que já nasceram do Espírito – o que significa? Será uma metáfora ou será uma indicação de alguma obra mais profunda de renovação divina, por aqueles que, tendo começado no Espírito, estão em perigo de procurar tornar-se perfeitos pela carne?

***
Traduzido por Francisco Nunes; revisado por Rafael Araújo

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Citações Vida cristã

Um poema de A. B. Simpson

 

Antes era a bênção; agora é o Senhor.
Antes era o que eu sentia; agora é a Palavra.
Antes eu queria os dons; agora, o Doador.
Antes eu queria a cura; agora basta-me o próprio Jesus.

Antes era o esforço penoso; agora, a confiança perfeita.
Antes era uma salvação incompleta; agora é a perfeição.
Antes me segurava Nele; agora Ele me segura firmemente.
Antes estava sempre à deriva; agora minha âncora está firme.

Antes era um planejamento incessante; agora a oração da fé.
Antes era uma preocupação constante; agora Ele cuida de tudo.
Antes era o que eu queria; agora é o que Jesus disser.
Antes era uma petição constante; agora, adoração incessante.

Antes era eu que trabalhava; agora Ele age por mim.
Antes eu tentava usá-Lo; agora é Ele que me usa.
Antes queria o poder; agora tenho o Todo-Poderoso.
Antes trabalhava por vaidade; agora, tão somente para Ele.

Antes tinha esperança de conhecer Jesus; agora sei que Ele é meu.
Antes minha luz era intermitente; agora brilha intensamente.
Antes esperava a morte; agora anseio por Sua volta.
E minhas esperanças estão firmadas no céu.

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