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Jejum Oração

João Crisóstomo sobre jejum

Você jejua? Dê-me prova disto por suas obras.
Se você vê um homem pobre, tenha piedade dele.
Se você vê um amigo sendo honrado, não o inveje.
Não deixe que somente a sua boca jejue, mas também o olho e o ouvido e o pé e as mãos e todos os membros de nossos corpos.
Que as mãos jejuem, sendo livres de avareza.
Que os pés jejuem, cessando de correr atrás do pecado.
Que os olhos jejuem, disciplinando-os a não fitarem o que é pecaminoso.
Que os ouvidos jejuem, não ouvindo conversas más e fofocas.
Que a boca jejue de palavras vis e de criticismo injusto.
Porque, qual é o proveito se nos abstemos de aves e peixes, mas mordemos e devoramos os nossos irmãos?
Possa Aquele que veio ao mundo para salvar pecadores nos fortalecer para completarmos o jejum com humildade, tendo misericórdia de nós e nos salvando.

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Cristo Vida cristã Watchman Nee

A Autoridade da Vida (Watchman Nee)

De acordo com Romanos 12.4, no Corpo de Cristo há muitos membros – cada um com seu lugar e função particulares, pois Deus fez todos os membros diferentes um do outro. A pergunta que precisamos analisar é: como podem todos esses membros, com suas funções variadas, serem ajustados e ligados como um só Corpo.

A Autoridade da Cabeça

O primeiro princípio do viver no Corpo de Cristo é estar em sujeição à autoridade da Cabeça, visto que a própria existência do Corpo, com suas funções e atividades variadas, depende da autoridade.

Sempre que a autoridade perde seu terreno em nós, o corpo é imediatamente paralisado. Aquela parte do corpo que é desobediente é a parte que experimenta a paralisia. O corpo que não se sujeita ao comando da cabeça é apenas um corpo paralisado. Onde existe a vida, existe autoridade. É inconcebível rejeitar a autoridade e ainda receber vida.

Todos os que estão cheios de vida são obedientes à autoridade. Como, por exemplo, minha mão física pode ter vida e ao mesmo tempo resistir ao controle da cabeça?

Minha mão está viva porque pode ser comandada pela cabeça. O próprio viver da mão significa que minha cabeça é capaz de dirigi-la e utilizá-la. O mesmo é verdadeiro com respeito ao relacionamento entre qualquer membro do Corpo de Cristo e a Cabeça. O primeiro princípio para cada membro que vive no Corpo de Cristo, portanto, é obedecer ao Senhor, que é a Cabeça.

Se você e eu não formos tratados até chegar ao ponto de nos tornarmos obedientes, então o que sabemos sobre o Corpo é meramente doutrinário por natureza, e não um assunto de vida. Que bênção é ter Deus tratando nossa vida natural, fazendo com que estejamos em sujeição a Cristo, a Cabeça!

Devemos buscar a obediência diariamente. Não só precisamos buscar oportunidades que nos façam avançar espiritualmente a fim de que nos tornemos santos e justos, mas também precisamos buscar diante de Deus cada oportunidade de obedecer, para que também aprendamos a obediência.

A Autoridade dos Membros

O segundo princípio do viver no Corpo é que nenhum membro tem qualquer autoridade, pois a autoridade está somente na Cabeça. Seria um sério erro se um membro alegasse possuir autoridade em si mesmo. Um membro não possui autoridade direta; ele tem apenas a autoridade que lhe foi delegada pela Cabeça. E essa autoridade não é apenas posicional, mas é totalmente decorrente da vida. Essa autoridade não vem por meio da nomeação, mas pelo ser.

Se um membro não é um olho, o Corpo não pode estabelecê-lo como olho. Se não é mão, o Corpo não pode fazer dele mão pelo simples fato de nomeá-lo como tal. Um membro tem a autoridade de segurar ou de ver somente porque ele pode segurar ou ver. E visto que ele atua de acordo com essa norma, as pessoas recebem ajuda.

É um erro muito estúpido se, em uma igreja, a autoridade está relacionada à posição e não à vida, se uma pessoa é nomeada por causa de sua posição social e não por sua espiritualidade. A Palavra de Deus claramente nos mostra que a autoridade está na vida, não na posição ou no histórico de alguém. A autoridade é estabelecida em uma pessoa em decorrência de seu viver, não por meio da nomeação. Essa pessoa, em sua vida pessoal e corporativa, experimentou tratamentos em questões práticas e aprendeu o que outras pessoas ainda estão por aprender. No Corpo de Cristo, toda autoridade procede da vida.

Ainda que, em uma assembléia local, haja nomeações pela direção de Deus, ainda assim não devem ser feitas de acordo com a posição, mas de acordo com a vida. Quando a vida e a nomeação concordam, você deve se submeter; de outro modo, a vida cessará em você e você será deslocado do Corpo – significando com isso que você não se mantém ligado firmemente à Cabeça. Se existe algo errado entre você e outro irmão, você não pode dizer que tem um relacionamento normal com a Cabeça. Se fez mal a outro membro do Corpo, pode ser que você não esqueça de nenhum ensinamento e pode até continuar em sua obra de ministério como antes, porém você perdeu a Palavra da vida.

Portanto, na Igreja, precisamos aprender a submetermo-nos uns aos outros. Se os membros não se submetem mutuamente, a vida mencionada em Romanos 8 não poderá se manifestar. Pelo contrário, os irmãos sentirão como se o ar lhes faltasse – dificilmente eles conseguirão prosseguir. Porém, aqueles que discernem o Corpo de Cristo consideram a submissão a mais jubilosa prática.

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A. W. Tozer Cristo Evangelho

Aceitar a Jesus? (A. W.Tozer)

Nosso relacionamento com Cristo é uma questão de vida ou morte. O homem que conhece a Bíblia sabe que Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores e que os homens são salvos apenas por Ele, sem qualquer influência por parte de quaisquer obras praticadas.

“O que devo fazer para ser salvo?”, devemos aprender a resposta correta. Falhar neste ponto não envolve apenas arriscar nossas almas, mas garantir a saída eterna da face de Deus.

Os cristãos “evangelicais” fornecem três respostas a esta pergunta ansiosa: “Creia no Senhor Jesus Cristo”, “Receba Cristo como seu Salvador pessoal” e “Aceite Cristo”. Duas delas são extraídas quase literalmente das Escrituras (At 16:31; João 1:12), enquanto a terceira é uma espécie de paráfrase, resumindo as outras duas. Não se trata então de três, mas de uma só.

Por sermos espiritualmente preguiçosos, tendemos a gravitar na direção mais fácil a fim de esclarecer nossas questões religiosas, tanto para nós mesmos como para outros; assim sendo, a fórmula “Aceite Cristo” tornou-se uma panacéia de aplicação universal, e acredito que tem sido fatal para muitos. Embora um penitente ocasional responsável possa encontrar nela toda a instrução que precisa para ter um contato vivo com Cristo, temo que muitos façam uso dela como um atalho para a Terra Prometida, apenas para descobrir que ela os levou em vez disso a “uma terra de escuridão, tão negra quanto as próprias trevas; e da sombra da morte, sem qualquer ordem, e onde a luz é como a treva”.

A dificuldade está em que a atitude “Aceite Cristo” está provavelmente errada. Ela mostra Cristo suplicando a nós, em lugar de nós a Ele. Ela faz com que Ele fique de pé, com o chapéu na mão, aguardando o nosso veredicto a respeito dEle, em vez de nos ajoelharmos com os corações contritos esperando que Ele nos julgue. Ela pode até permitir que aceitemos Cristo mediante um impulso mental ou emocional, sem qualquer dor, sem prejuízo de nosso ego e nenhuma inconveniência ao nosso estilo de vida normal.

Para esta maneira ineficaz de tratar de um assunto vital, podemos imaginar alguns paralelos; como se, por exemplo, Israel tivesse “aceito” no Egito o sangue da Páscoa, mas continuasse vivendo em cativeiro, ou o filho pródigo “aceitasse” o perdão do pai e continuasse entre os porcos no país distante. Não fica claro que se aceitar Cristo deve significar algo? É preciso que haja uma ação moral em harmonia com essa atitude!

Ao permitir que a expressão “Aceite Cristo” represente um esforço sincero para dizer em poucas palavras o que não poderia ser dito tão bem de outra forma, vejamos então o que queremos ou devemos indicar ao fazer uso dessa frase.

“Aceitar Cristo” é dar ensejo a uma ligeira ligação com a Pessoa de nosso Senhor Jesus, absolutamente única na experiência humana. Essa ligação é intelectual, volitiva e emocional. O crente acha-se intelectualmente convencido de que Jesus é tanto Senhor como Cristo; ele decidiu segui-lo a qualquer custo e seu coração logo está gozando da singular doçura de Sua companhia.

Esta ligação é total, no sentido de que aceita alegremente Cristo por tudo que Ele é.

Não existe qualquer divisão covarde de posições, reconhecendo-o como Salvador hoje, e aguardando até amanhã para decidir quanto à Sua soberania.

O verdadeiro crente confessa Cristo como o seu Tudo em todos sem reservas. Ele inclui tudo de si mesmo, sem que qualquer parte de seu ser fique insensível diante da transação revolucionária.

Além disso, sua ligação com Cristo é toda-exclusiva. O Senhor torna-se para ele a atração única e exclusiva para sempre, e não apenas um entre vários interesses rivais. Ele segue a órbita de Cristo como a Terra a do Sol, mantido em servidão pelo magnetismo do Seu afeto, extraindo dEle toda a sua vida, luz e calor. Nesta feliz condição são-lhe concedidos novos interesses, mas todos eles determinados pela sua relação com o Senhor.

O fato de aceitarmos Cristo desta maneira todo-inclusiva e todo-exclusiva é um imperativo divino. A fé salta para Deus neste ponto mediante a Pessoa e a obra de Cristo, mas jamais separa a obra da Pessoa. Ele crê no Senhor Jesus Cristo, o Cristo abrangente, sem modificação ou reserva, e recebe e goza assim tudo o que Ele fez na Sua obra de redenção, tudo o que está fazendo agora no céu a favor dos seus, e tudo o que opera neles e através deles.

Aceitar Cristo é conhecer o significado das palavras: “pois, segundo ele é, nós somos neste mundo” (1 João 4:17). Nós aceitamos os amigos dEle como nossos, Seus inimigos como inimigos nossos, Sua cruz como a nossa cruz, Sua vida como a nossa vida e Seu futuro como o nosso.

Se é isto que queremos dizer quando aconselhamos alguém a aceitar a Cristo, será melhor explicar isso a ele, pois é possível que se envolva em profundas dificuldades espirituais caso não explanarmos o assunto.

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Encorajamento Vida cristã

Sofrimento e coroa

“Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e (…) mesmo em face da morte, não amaram a própria vida.”
(Ap 12.11)

Quando Tiago e João vieram a Cristo com sua mãe, pedindo-Lhe para lhes dar o melhor lugar do reino, Ele não lhes recusou o pedido, mas disse que seriam atendidos se pudessem fazer Sua obra, beber Seu cálice e ser batizados com Seu batismo.

Queremos nós a competição? As coisas melhores estão sempre cercadas pelas mais difíceis, e nós também encontraremos pela frente montanhas, florestas e carros de ferro. O sofrimento é o preço da coroação. Arcos de triunfo não são entretecidos com rosas e cordões de seda, mas com golpes rijos e cicatrizes sangrentas. As próprias dificuldades que você está enfrentando na vida hoje lhe são dadas pelo Mestre com o propósito explícito de capacitá-lo a ganhar sua coroa.

Não fique esperando uma situação ideal, por alguma dificuldade romântica, por alguma emergência distante. Levante-se para enfrentar as condições que a providência de Deus colocou à sua volta hoje. Sua coroa de glória está engastada no centro dessas coisas, dessas dificuldades e provas que o estão apertando neste momento, nesta semana, neste mês de sua vida. As coisas mais difíceis não são as que o mundo vê. Lá no fundo de sua alma, invisível a todos, menos a Jesus, há certa provação que você não se atreveria a mencionar, e que para você é mais difícil de suportar do que o martírio.

Ali, amado, está sua coroa. Deus o ajude a vencer e a usá-la um dia.

(Mananciais no Deserto, Lettie Cowman, meditação do dia 16 de novembro)

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Martin Lloyd-Jones Vida cristã

A parábola do filho pródigo

Dr. David Martin Lloyd-Jones

”E disse: Um certo homem tinha dois filhos. E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte da fazenda que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda. E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua e ali desperdiçou a sua fazenda, vivendo dissolutamente. E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades. E foi e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos. E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada. E, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus trabalhadores. E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço, e o beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti e já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão e sandálias nos pés, e trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos e alegremo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado. E começaram a alegrar-se. E o seu filho mais velho estava no campo; e, quando veio e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças. E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou e não queria entrar. E, saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos. Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou a tua fazenda com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado. E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas. Mas era justo alegrarmo-nos e regozijarmo-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado” (Lucas 15:11-32)

Não há parábola ou discurso de nosso Senhor que seja tão conhecido e tão popular como a parábola do filho pródigo. Nenhuma outra parábola é citada com mais freqüência em discussões religiosas, ou mais usada para apoiar várias teorias ou controvérsias em relação a este assunto. E é verdadeiramente espantoso e admirável quando observamos as inumeráveis formas em que ela é usada, e a infinita variedade de conclusões a que afirmam que ela leva. Todas as escolas de pensamentos parecem ter uma reivindicação sobre a mesma: ela é usada para provar toda espécie de teorias e idéias opostas, que combatem umas às outras e que se excluem mutuamente. É bastante claro, portanto, que a parábola pode facilmente ser manipulada ou mal interpretada. Como podemos evitar esse perigo? Quais os princípios que devem nos orientar quando a interpretamos? Pessoalmente creio que há dois principais fundamentais que devem ser observados, e que se observados, garantirão uma interpretação correta.

O primeiro principio é que sempre devemos nos precaver do perigo de interpretar qualquer passagem das Escrituras de uma forma que entre em conflito com o ensino geral da Bíblia. O Novo Testamento deve ser examinado como um todo. É uma revelação completa e integral, dada por Deus através dos Seus servos – uma revelação que foi dada em partes que, unidas, formam uma unidade completa. Portanto, não há contradições entre essas várias partes, não há conflito nem passagens ou declarações irreconciliáveis. Isso não significa que podemos entender cada uma de suas declarações. O que estou dizendo é que não há contradição nas Escrituras e sugerir que os ensinos de Jesus Cristo e de Paulo, ou os ensinos de Paulo e dos demais apóstolos não concordam entre si é contrário a todas as reivindicações do Novo testamento em si, e as reivindicações da Igreja através dos séculos, até o levantamento da chamada escola da alta crítica, há cerca de cem anos atrás. Não preciso abordar a questão aqui. Basta dizer que são apenas os críticos mais superficiais, os que agora estão ultrapassando em muitos anos, que ainda tentam defender uma antítese entre o que chamam de “a religião de Jesus” e a “fé do apóstolo Paulo”. Escrituras devem ser comparadas com Escrituras. Cada teoria que desenvolvemos deve ser testada pelo conjunto geral de doutrinas e dogmas da Bíblia toda, e que foi definido pela Igreja. Se esta regra fosse lembrada e observada, a maioria das heresias jamais teria surgido.

O segundo principio é um pouco mais específico: sempre devemos evitar o perigo de chegar a conclusão negativas a respeito dos ensinos de uma parábola. Isso não se aplica somente a esta parábola em particular, mas a toda as parábolas. Uma parábola nunca tem o propósito de ser um esboço completo da verdade. Seu objetivo é comunicar uma grande lição, ou apresentar um grande aspecto de uma verdade positiva. Sendo esse o seu objetivo e propósito, nada é mais tolo do que chegar a conclusões negativas a respeito de uma parábola. A omissão de certas coisas numa parábola não tem qualquer significado particular. Uma parábola é importante e significativa por causa daquilo que ela diz, e não devido às coisas que não diz. O seu valor é exclusivamente positivo, e de forma alguma negativo. Ora, digo a vocês que a desconsideração desta simples regra tem sido responsável pela maioria das estranhas e fantásticas teorias e idéias supostamente desenvolvidas a partir desta parábola do filho pródigo. É impressionante que tal coisa tenha sido possível, pois se aquele que fizeram isso tão-somente tivessem examinado as outras duas parábolas que encontramos neste mesmo capítulo, teriam compreendido imediatamente até que ponto seus métodos foram injustificáveis. Porque então, não tiraram delas também conclusões negativas? E igualmente com todas as outras parábolas?

Mas, à parte disso, como é ridículo e ilógico, basear e estabelecer nosso sistema de doutrina sobre algo que não é dito! É por demais desonesto! Desonesto, porque ignora toda a autoridade, deixando-nos sem quaisquer padrões exceto nossos próprios preconceitos, desejos e imaginações. E isso, repito, é o que tem sido feito com esta parábola com tanta freqüência. Quero ilustrar isso, lembrando-lhes de algumas das falsas conclusões tiradas desta parábola. Não seria esta parábola a qual se referem constantemente quando tentam provar que idéias de justiça, juízo e ira são completamente estranhas à natureza de Deus e aos ensinos de Jesus a respeito dEle? “Não vemos nada aqui”, dizem, “acerca da ira do pai, nem qualquer exigência de certos atos por parte do filho – somente amor, puro amor, nada senão amor”. Este é um exemplo típico de uma conclusão negativa tirada desta parábola. Só porque ela não apresenta um ensino declarado sobre a justiça e ira de Deus, presumem que tais características não fazem parte da natureza de Deus. O fato de Jesus Cristo enfatizar essas características em outros textos é completamente ignorado. Outro exemplo é o ensino de que esta parábola elimina a absoluta necessidade de arrependimento. Ouvi falar de um pregador que tentou provar que o pródigo era um farsante, mesmo quando voltou para casa, que ele decidiu dizer algo que soasse bem, ainda que realmente não viesse do seu coração, apenas para impressionar o pai, e que a repetição exata de suas palavras provava isso. O ponto crucial era que, apesar de tudo isso, apesar da repetição hipócrita das palavras, ainda assim o pai o perdoou. O argumento final desse pregador era que o pai não disse uma palavra concernente ao arrependimento. Portanto, uma vez que ele nada disse a respeito, não é importante; uma vez que o arrependimento não é ensinado nem enfatizado pelo pai, isso significa que arrependimento diante de Deus não importa!

Mas talvez a mais séria de todas as conclusões falsas é aquela que declara que não há necessidade de um mediador entre Deus e o homem e que a idéia de expiação é estranha ao evangelho – a qual deve ser atribuída à mente legalista de Paulo. “A parábola não faz qualquer menção”, dizem, “de alguém entre o pai e o filho. Nenhuma referência é feita sobre outra pessoa pagando um resgate, ou fazendo uma expiação; vemos apenas uma interação direta entre o pai e o filho, resultante apenas da volta do filho daquela terra distante”. Desde que tais coisas não são mencionadas ou enfatizadas de forma específica na parábola, essas pessoas concordam que elas não são realmente importantes ou imprescindíveis. Como se o objetivo de nosso Senhor nesta parábola fosse apresentar um esboço completo de toda a verdade cristã, e não apenas ensinar um aspecto dessa verdade. Certamente deve ser óbvio para você que, se um processo semelhante fosse aplicado a todas as parábolas, teríamos um completo caos, e enfrentaríamos uma multidão de contradição!

O propósito de uma parábola, então, é nos apresentar e ensinar uma grande verdade positiva. E se há um caso em que isso deve ser claro e evidente, é no caso desta parábola. Não é por acaso que ela é parte de uma série de três parábolas. Nosso Senhor parece ter feito um esforço especial para nos proteger do perigo ao qual estou referindo. Contudo, mesmo à parte disso, a chave de tudo nos é oferecida nos dois primeiros versículos do capítulo, que nos fornecem o contexto essencial. “E chegavam-se a ele os publicamos para o ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: este recebe pecadores, e come com eles”.. Então se seguem estas três parábolas, obviamente com o objetivo de tratar dessa situação específica, e responder às objeções dos escribas e fariseus. E, como se desejasse acrescentar uma ênfase especial, nosso Senhor apresenta uma certa moral ou conclusão ao término de cada parábola. O elemento principal, certamente, é que há esperança para todos que o amor de Deus alcança, até mesmo publicanos e pecadores. A gloriosa verdade que brilha nesta parábola, e que o Senhor quer gravar em nós, é o maravilhoso amor de Deus, seu escopo e sua extensão; e isso é feito especialmente em contraste com as idéias dos fariseus e dos escribas sobre o assunto.

As primeiras duas parábolas têm o propósito de nos mostrar o amor de Deus expresso numa busca ativa do pecador, esforçando-se por encontrá-lo resgatá-lo; e elas nos mostram a alegria de Deus e de todas as hostes celestiais quando uma única alma é salva. E então chegamos a esta parábola do filho pródigo. Por que ela foi acrescentada? Por que essa elaboração suplementar? Por que um homem, em vez de uma ovelha ou moeda perdida? Certamente pode haver uma resposta. As primeiras duas parábolas enfatizam unicamente a atividade de Deus sem nos dizer coisa alguma a respeito das ações, reações ou condições do pecador; porém esta parábola é apresentada para realçar esse aspecto e esse lado da questão, para que ninguém seja tolo ao ponto de pensar que todos seremos salvos automaticamente pelo amor de Deus, assim como a ovelha e a moeda foram encontradas. O ponto fundamental ainda é o mesmo, mas sua aplicação aqui se torna mais direta e mais pessoal. Qual, então é o ensino desta parábola, qual é a sua mensagem para nós hoje? Vamos examiná-la à luz dos seguintes parâmetros.

A primeira verdade que ela proclama é a possibilidade de um novo começo, a possibilidade de um novo início, uma nova oportunidade, uma nova chance. O próprio contexto e cenário da parábola, como já mencionei, demonstra isso com perfeição. Foi porque eles sentiram e viram isso em Seus ensinos que os publicanos e pecadores “chegavam-se a ele para ouvir” – pois sentiam que havia uma oportunidade até mesmo para eles e que nos ensinos desse homem havia uma nova e viva esperança. E até mesmo os fariseus e os escribas viram exatamente a mesma coisa. O que irritava era que o Senhor tivesse qualquer tipo de associação com os publicanos e pecadores. Eles sempre tinham considerado tais pessoas como irrecuperáveis, sem qualquer esperança de redenção. Essa era a opinião ortodoxa de tais pessoas. Eram consideradas tão irremediáveis que eram totalmente ignoradas. A religião era para pessoas boas e nada tinha a ver com os que eram maus, e certamente nada tinha a lhes dar, nem aconselhava que boas pessoas se misturassem com os maus, tratando-os com bondade e oferecendo-lhes novas possibilidades. Então os ensinos de Senhor irritavam os fariseus e os escribas. Para eles qualquer um que visse possibilidade ou esperanças para um publicano ou pecador devia ser um blasfemo, e estava totalmente errado. Exatamente o mesmo ponto surge na parábola, nas diferentes atitudes do pai e do irmão mais velho para com o pródigo – não como ele devia ser recebido de volta, mas se ele devia ser recebido de volta, ou se merecia alguma coisa.

Isso, então é o que se salienta imediatamente. Existe a possibilidade de um novo começo, e isso para todos, mesmo para aqueles que parecem estar além de toda esperança. Não podia haver caso pior do que o do filho pródigo. Todavia até mesmo ele pode começar de novo. Ele chegara ao fim de si mesmo, tinha tocado os limites máximos da degradação, caindo tanto que não podia descer mais! Não há quadro mais desesperador do que o desse jovem, num país distante, em meio aos porcos, sem dinheiro e sem amigos, desesperançado e miserável, abandonado e desalentado. Mas até mesmo ele tem a oportunidade de um novo início; até mesmo ele pode começar outra vez. Há um ponto decisivo que pode resultar em êxito e felicidade, até mesmo para ele. Que evangelho abençoado, especialmente num mundo como o nosso! Que diferença a vida de Jesus Cristo operou! Ele trouxe nova esperança para a humanidade. Nada demonstra e prova mais o fato de que o evangelho de Jesus Cristo realmente é a única filosofia de vida otimista oferecida ao homem, do que publicanos e pecadores se chegarem a Ele para ouvi-lO. E a mensagem que ouviram, como nesta parábola do filho pródigo, era algo inteiramente novo.

Mas quero que observem que isso não só era novo para os judeus e os seus líderes, mas também para o mundo todo. A esperança estendida pelo evangelho aos mais vis e desesperados não só contrariava o miserável sistema dos judeus, mas também a filosofia dos gregos. Aqueles grandes homens tinham desenvolvido suas teorias e filosofias; todavia nenhum deles tinha algo a oferecer aos derrotados e liquidados. Todos exigiam um certo nível de inteligência, integridade moral e pureza. Todos requeriam muito da natureza humana à qual se dirigiam. Também não eram realistas. Escreviam e falavam de forma altamente intelectual e fascinante a respeito de suas utopias e suas sociedades ideais, mas deixavam a humanidade exatamente na mesma situação. Eram totalmente alienados à vida diária do homem comum. As únicas pessoas que podiam tentar colocar em prática seus métodos idealistas e humanísticos para resolver os problemas da vida eram os ricos e os desocupados, e mesmo estes invariavelmente descobriam que esses métodos não funcionavam. Não havia, como nunca houvera antes, qualquer esperança para os desesperados do mundo antes da vinda de Jesus Cristo. Ele foi o único que proclamou a possibilidade de um novo começo.

Ora, esse ensino não era novo apenas naquela época, durante os Seus dias aqui na terra; ainda é novo hoje em dia. Ainda é surpreendente e assombroso, e ainda espanta o mundo moderno tanto quanto espantou o mundo antigo há quase dois mil anos atrás. O mundo continua sem esperança e a filosofia que o controla ainda é profundamente pessimista. E isso talvez possa ser percebido com maior clareza quando ele tenta ser otimista, pois vemos que quando tenta nos confortar, ele sempre aponta para o futuro com suas possibilidades desconhecidas, e nos diz que no novo ano as coisas certamente serão melhores ou que de qualquer forma não podem piorar! E argumenta que a depressão já durou tanto que certamente uma mudança da maré deve ser iminente! Alegra-se que um ano terminou e outro vai começar. Qual é o segredo de um novo ano? Seu grande segredo está no fato de que nada sabemos a seu respeito! Tudo que sabemos é ruim; daí tentarmos nos consolar contemplando o que nos é desconhecido, imaginando que vai ser muito melhor. Ouçam também as suas idéias e seus planos para melhorar a humanidade. Tudo o que pode dizer é que está tentando tornar o mundo melhor para seus filhos, tentando edificar algo para o futuro e para a posteridade. Sempre no futuro! Nada tem a oferecer no presente; sua única esperança é tornar as coisas melhores para aqueles que ainda não nasceram. E quanto mais proclama isso e tenta colocá-lo em prática, mais hesitante se torna. Como prova, basta compararmos a linguagem de 1875 com a de 1935 ou mesmo a de 1905 com a de 1935.

Pois bem, se essa é a situação em relação à sociedade em geral, quanto mais desesperada e irremediável ela é quando considerada num sentido mais individual e pessoal! Que solução o mundo tem a oferecer para os problemas que nos afligem? A resposta a essa pergunta pode ser vista nos esforços frenéticos de homens e mulheres para tentarem resolver seus problemas. E, no entanto, nada é mais evidente do que o fato que seus esforços são inúteis e sempre fracassam. Ano após ano homens e mulheres fazem novas revoluções. Compreendem que, acima de tudo, o que precisam é de um novo começo. Decidem voltar as costas ao passado e virar uma nova página – ou, às vezes, começam um novo livro! Esse é o seu desejo, essa é sua firme decisão e intenção. Querem desvincular-se do passado, e por algum tempo fazem o possível para isso, mas nunca permanecem no intento. Ao poucos, inevitavelmente, voltam à sua velha posição e sua antiga situação. E depois de algumas experiências assim, acabam desistindo de tentar outra vez, e concluem que é tudo inútil. Lutam e se esforçam por algum tempo, mas finalmente a fadiga e o cansaço os vencem, a pressão e a força do mundo e suas filosofias parecem estar totalmente do outro lado, e eles entregam os pontos. A posição parece ser inteiramente sem esperança. Eu me pergunto: quantos, até mesmo aqui neste culto hoje, sentem que estão nessa situação, de uma forma ou outra? Meu amigo, você sente que perdeu o mundo, que se desviou? Sente-se constantemente assediado pelo que “podia ter sido”? Sente que está em tal situação, ou em tal posição, que não tem nenhuma esperança de sair dela e endireitar-se novamente? Sente que esta tão longe daquilo que devia ser e do que gostaria de ser, que não pode mais alcançá-lo? Você sente que não tem mais esperança por causa de alguma situação que está enfrentando, ou devido alguma complicação em que se envolveu, um pecado que o domina, o qual não consegue vencer? Você já disse a si mesmo: “Que adianta tentar outra vez? Já tentei tantas vezes antes, e sempre fracassei; tentar outra vez só pode produzir o mesmo resultado. Minha vida é uma confusão; perdi minha oportunidade e daí para frente devo me contentar em fazer o melhor que posso na situação em que estou”. São estes os seus sentimentos e pensamentos? Já está convencido que perdeu sua oportunidade na vida, que o que passou passou, e que se você tivesse outra oportunidade tudo seria diferente, todavia isso é impossível? É essa a sua posição? Coitado! Quantos estão em tal situação? Como é infeliz e sem esperança a vida da maioria dos homens e das mulheres! Como é triste! Ora, a primeira palavra do evangelho para os que estão nessa situação é que eles devem erguer suas cabeças, que nem tudo está perdido, que ainda há esperança, ainda há esperança de um novo começo, aqui e agora, neste momento, sem qualquer relação com algo imaginário e pertencente a um futuro desconhecido; mas algo que se baseia num fato que se passou há quase dois mil anos atrás, o qual ainda é tão poderoso hoje como era então. Até mesmo o pródigo tem esperança. Há um ponto de retorno no caminho mais tenebroso e irremediável. Há um novo começo oferecido até mesmo aos publicanos e pecadores.

Contudo, quero enfatizar em detalhes o que já mencionei de passagem: esta mensagem do evangelho não é algo geral e vago como a mensagem do mundo, mas é algo que contém condições muito definidas. E é aqui que vemos com maior clareza porque nosso Senhor proferiu essa parábola em acréscimo às outras duas. Para que possamos tirar proveito desse novo começo oferecido pelo evangelho, precisamos observar os seguintes pontos. Ouçam amigos, permitam que eu enfatize a importância de fazermos isso! Se vocês simplesmente ficarem sentados, ouvindo e permitindo que o quadro brilhante do evangelho os emocione, voltarão para casa exatamente como chegaram aqui. Todavia, se observarem cada ponto com cuidado, e o colocarem em prática, voltarão para casa como pessoas totalmente diferentes. Se estão ansiosos por tirarem proveito da nova esperança e do novo começo oferecido pelo evangelho, então devem seguir suas instruções e seus métodos. Pois bem, quais são eles?

O primeiro é que devemos enfrentar nossa situação com franqueza e honestidade. É uma coisa estar numa posição má e difícil, outra coisa completamente diferente é enfrentá-la com sinceridade. Este filho pródigo estava numa situação péssima por muito tempo antes de chegar ao ponto de realmente compreender isso. Uma pessoa não cai subitamente na situação descrita aqui. Aquilo aconteceu aos poucos, quase sem que ele percebesse. E mesmo depois que aconteceu, ele levou algum tempo para percebê-lo. O processo é tão sutil e tão insidioso que a pessoa mal percebe. Ela contempla seu rosto no espelho todas as manhãs e não nota as mudanças que estão acontecendo. Somente alguém que não a vê com freqüência pode notar os efeitos com mais clareza. E muitas vezes, quando começamos a sentir terrível realidade da nossa situação, deliberadamente evitamos pensar a respeito. Colocamos tais pensamentos de lado e nos ocupamos com outras coisas comentando: “Que adianta pensar a respeito disso? Essa é a situação, acabou!” Ora, o primeiro passo no caminho da volta, é enfrentar a situação com honestidade e franqueza. Lemos que esse jovem “caiu em si”. Foi exatamente o que ele fez! Ele enfrentou a situação, e o fez com sinceridade. Compreendeu que seus problemas eram resultado exclusivo de sua próprias ações, que ele fora um tolo, que não devia ter abandonado a casa de seu pai, e certamente não devia tê-lo tratado da maneira que fizera. Ele olhou para si mesmo e mal conseguiu acreditar no que viu! Olhou para os porcos e as bolotas à sua volta. Encarou a situação de frente!

Meu amigo, você já fez isso? Já olhou para si mesmo? Já pensou se todas as suas ações durante o ano que passou fossem colocadas no papel? E se tivesse mantido um registro de todos os seus pensamentos e desejos, suas ambições e imaginações? Você permitiria que isso fosse publicado sob seu nome? O que você é hoje em comparação com o que foi no passado? Olhe para suas mãos – estão limpas? E os seus lábios – são puros? Olhe para seus pés – onde eles pisaram, que caminho percorreram? Olhe para si mesmo! É realmente você? E então olhe à sua volta, para a sua posição e os seu ambiente. Não fuja! Seja honesto! Do que você está se alimentando? Comida ou bolotas lançadas aos porcos? Em que você tem gastado seu dinheiro? Para que fins você usou dinheiro que talvez devesse ser usado para alimentar sua esposa e filhos, ou vesti-los? Do que você tem se alimentado? Olhe! É alimento próprio para ser humano? Avalie o que você gosta. Enfrente-o com calma. É algo digno de uma criatura criada por Deus, com inteligência e sabedoria? É coisa que pelo menos honra o ser humano – quanto mais a Deus? É alimento de porcos, ou é próprio para ser consumido por um seu humano? Não basta que você apenas lamente a sua sorte ou se sinta miserável. Como acabou em tal estado ou situação? Olhe para os porcos e as bolotas, e compreenda que é tudo devido você ter abandonado a casa do seu pai, agindo deliberadamente contra os ditames da sua própria consciência, deliberadamente zombando da religião e de todos os seus mandamentos e princípios; tudo é resultado exclusivo de suas próprias decisões. A situação em que se encontra hoje é conseqüência de suas próprias escolhas, e de sua próprias ações. Enfrente isso e admita-o. Esse é o primeiro passo essencial no caminho da volta.

O passo seguinte é compreender que há somente Um a que você pode recorrer, e somente uma coisa a fazer. Não preciso elaborar esse ponto em detalhes, no que se refere ao filho pródigo, pois é bastante claro. “Ninguém lhe dava nada”. Tentara de tudo, esgotara todos os seus recursos e seus esforços, bem como os esforços de outras pessoas. Tudo acabara para ele e ninguém podia ajudá-lo – exceto um. O pai! A última, a única esperança. O evangelho sempre insiste que cheguemos a esse ponto. Enquanto lhe resta um centavo que seja, o evangelho não o ajudara. Enquanto tiver amigos, ou entidades às quais pode recorrer em busca de ajuda, crendo que lhe darão assistência, o evangelho nada tem a lhe dar. Naturalmente, enquanto o homem achar que pode se manter recorrendo a qualquer um desses outros métodos, ele continuará tentando fazer isso. E em nossa estimativa, o mundo ainda está longe da falência. Ele ainda crê em seus métodos e em suas próprias idéias. E de que forma patética nos agarramos a ele! Confiamos em nossa força de vontade e em nosso próprio esforço. Recorremos aos “anos novos” do nosso calendário com se ele pudessem fazer qualquer diferença em nossa situação! Buscamos a ajuda de amigos e companheiros, de parentes e queridos. Ah, vocês estão familiarizados com o processo, não só em seus esforços de acertar a sua própria vida, mas também nos esforços de endireitar a vida de outros a respeito de quem estão preocupados ou ansiosos. E assim continuamos até termos esgotados os recursos. Como o pródigo, continuamos até nos tornarmos frenéticos, e até ao ponto em que “ninguém nos dá nada” Somente então é que nos voltamos para Deus. Oh que insensatez! Permitam que eu estoure essa falácia aqui, e agora. Enfrentem-na com franqueza. Compreendam que todos os seus reforços vão falhar, como sempre falharam até aqui. Entendam que a melhora será meramente transitória e temporária.. Parem de se enganar a si mesmos. Compreendam como é desesperada a sua situação. E compreendam que existe somente um poder que pode colocar suas vidas no caminho certo – o Poder do Deus Todo-poderoso. Você podem continuar confiando em si mesmos e nos outros, e se esforçando ao máximo. Mas daqui a um ano a sua situação não só será a mesma, e sim muito pior. Somente Deus pode salvá-los.

No entanto, ao se voltarem para Deus, vocês precisam compreender também que nada podem pleitear diante dEle, exceto a Sua misericórdia e compaixão. Quando o pródigo abandonou o lar, sua exigência foi: “Dá-me!” “Ele exigiu seus direitos. Estava cheio de auto-confiança e até mesmo presunção, sentindo que não estava recebendo tudo a que tinha direito. “Dá-me”! Mas quando voltou para casa, o seu vocabulário mudou e o que ele diz agora é : “Faz-me”. Anteriormente ele sentira que era “alguém” e que estava na posição de exigir direitos inerentes e dignos de uma pessoa como ele. Agora ele sente-se reduzido a nada e ninguém, e compreende que sua maior necessidade é que algo seja feito de sua vida. “Faz-me!”. Amigo, se você acha que tem qualquer direito de exigir perdão de Deus, posso lhe assegurar que está perdido e condenado. Se sente que Deus tem o dever e a obrigação de perdoá-lo, você certamente não será perdoado. Se sente que Deus é severo e que está contra você, então é culpado do maior de todos os pecados. Se ainda sente que é “alguém” e que tem direito de dizer “dá-me”, você nada receberá além de miséria e contónua desolação. Todavia, se compreender que pecou contra Deus e O indignou, se sente que não passa de um verme, ou menos que isso, indigno até de ser considerado um ser homem – quanto mais indigno de Deus! – se sente que nada é, em vista da forma como se afastou dEle e Lhe voltou as costas, ingnorando-O e zombando dEle, se se lançar diante dEle e da sua misericórdia implorando-Lhe que na sua infinita bondade e amor, Ele faça algo da sua vida, então tudo será diferente. Nunca foi a vontade de Deus que você acabasse na situação em que esta. Foi contra a vontade dEle que você se afastou. A decisão foi toda sua. Diga-lhe isso, e confesse também que o que mais o preocupa e aflige não é apenas a miséria que trouxe à sua própria vida, porém o fato de ter desobedecido a Ele, insultando-O e ofendendo-O.

Então, tendo compreendido tudo isso, ponha-o em prática! Abandone a terra distante. Sua presença neste culto significa que você se levantou dentre os porcos e as bolotas. Mas afasta-te dessa terra longínqua. Faça-o! Volte-se para Deus, busque a reconciliação com Ele! Tome uma decisão. Entregue-se a Ele! Ouse confiar nEle! Como teria sido ridículo se o filho pródigo tivesse limitado a pensar aquilo tudo, sem colocá-lo em prática! Teria continuado na terra longínqua. Mas ele agiu. Pôs em pratica a sua decisão. Cumpriu sua resolução. Voltou para o pai e entregou-se à sua misericórdia e compaixão, e você precisa fazer o mesmo, da forma como já indiquei.

E se fizer isso, descobrirá que no seu caso, como no caso do filho pródigo, haverá um novo começo para a sua vida, um novo princípio firme e sólido. O impossível acontecerá, e você ficará assombrado e maravilhado com o que descobrirá. Não vou me deter na alegria e no gozo e na emoção disso tudo hoje, para que possa enfatizar a realidade desse novo começo que o evangelho nos dá. Não é algo etéreo ou trivial. Não é uma simples questão de sentimentos ou emoções. Não é uma anestesia ou um sedativo que amortece nossos sentidos, levando-nos a sonhar com um mundo brilhante e feliz. É real, é verdadeiro. Em Jesus Cristo, um novo começo, real e genuíno, é possível. E é possível somente através dele! A grandeza do amor do pai nesta parábola não é expressada tanto em sua atitude como no que ele fez. Amor não é um mero sentimento vago, ou uma disposição geral. O amor é algo ativo! É a atividade mais dinâmica do mundo, e transforma tudo. É por isso que também aqui somente o amor de Deus pode realmente nos dar um novo começo, uma nova oportunidade. O amor de Deus não se limita a falar sobre um novo começo: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu…”. O pai fez certas coisas pelo seu filho pródigo; e somente Deus pode fazer por nós e para nós aquilo que nos levantará outra vez. Observemos como Ele o faz. Oh, a maravilha do amor de Deus, que realmente faz novas todas as coisas, o único que realmente pode fazer isso!

Observem como o pai oblitera o passado. Ele vai ao encontro do filho como se nada tivesse acontecido, ele o abraça e beija como se sempre tivesse sido zeloso e exemplar em toda sua conduta! E com que rapidez ordena aos servos que removam os farrapos e andrajos da terra longínqua, e com eles todos os traços e vestígios do seu passado pecaminoso. Com todas essas ações ele apaga o passado de uma forma que mais ninguém poderia fazer. Somente ele podia perdoar de fato, somente ele podia apagar o que o filho fizera contra ele e contra a família; e ele o fez. Removeu todos os traços do passado. E essa sempre é a primeira coisa que acontece quando um pecador se volta para Deus da forma como estamos descrevendo. Voltamo-nos para Ele esperando tão pouco quanto o pródigo, cuja expectativa era que fosse feito um servo. Quão infinitamente Deus transcende todas as nossas maiores expectativas quando Ele começa a tratar conosco! Tudo que pedimos é alguma forma de começara outra vez. Deus nos maravilha e surpreende com Sua primeira ação – obliterando todo o nosso passado! E isso, enfim, é o que almejamos acima de tudo. Como podemos ser felizes e livres em vista do nosso passado? Mesmo que não cometamos mais certas ações ou um certo pecado, o passado está presente e sempre temos diante de nós o que fizemos. Esse é o problema. Quem pode nos libertar do nosso passado? Quem pode apagar do livro da nossa vida aquilo que já fizemos? Há somente Um! E Ele pode fazê-lo! O mundo tenta me persuadir que não importa, que posso voltar as costas ao passado e esquecê-lo. Mas eu não posso esquecer – ele sempre me volta à lembrança. E me lança em miséria e desespero. Posso tentar de tudo, porém meu passado permanece um fato sólido, terrível, medonho. Há alguma forma de me livrar dele? Algum modo de apagá-lo? Há somente um que pode removê-lo dos meus ombros. Eu só posso ter certeza que meus farrapos e andrajos se foram quando os vejo na Pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus, que os tomou sobre Si e Se fez maldição em meu lugar. O Pai mandou que Ele tirasse de sobre mim os meus farrapos, e Ele o fez. Ele levou minha iniqüidade, e Se vestiu e cobriu com meu pecado. Ele o tirou, lançando-o no mar do esquecimento de Deus. E quando eu compreendo e creio que Deus em Cristo não só perdoou meu passado, mas também o esqueceu, quem sou eu para procurar por ele e tentar encontrá-lo? Minha única consolação, quando considero o passado, é lembrar que Deus o apagou. Ninguém mais podia fazer isso. Mas Ele o fez. E este é o primeiro passo essencial para um novo começo. O passado precisa ser apagado; e ele é apagado em Cristo e em Sua morte expiatória.

Todavia, para ter um começo realmente novo, mais uma coisa é necessária. Não basta que todos os traços do meu passado sejam removidos. Preciso de algo no presente. Preciso ser vestido, necessito de algo que me cubra. Preciso de confiança para começar outra vez e para enfrentar a vida, as pessoas e os problemas que fazem parte dela. Embora o pai tenha corrido ao encontro do filho e o beijado, isso por si só não lhe teria dado segurança. Ele saberia que todos veriam os andrajos e a lama. Por essa razão, o pai não se limitou a isso. Ele vestiu o rapaz com roupas dignas de um filho, com todas as provas externas dessa posição. Anunciou a todos que seu filho retornou, e o vestiu de forma que o rapaz não se sentisse envergonhado diante dos outros. Ninguém mais além do pai podia fazer isso.. Outros podiam ter ajudado o rapaz, mas somente o pai podia restaurá-lo à sua posição de filho e prover tudo o que estava associado a ela.

Exatamente o mesmo acontece quando nos voltamos para Deus. Ele não só nos perdoa e apaga nosso passado, mas também nos torna filhos. Ele nos dá uma nova vida e novo poder. E Ele lhe dará tal certeza do Seu amor, meu amigo, que você poderá olhar para os outros sem qualquer sentimento de vergonha. Ele o vestirá com o manto da justiça de Cristo, e não só lhe dirá que o vê como filho, mas na verdade fará com que sinta que realmente o é. Quando olhar para si mesmo, você nem sequer se reconhecerá! Olhará para o seu corpo e verá esse manto de valor inestimável, olhará para os seus pés e os verá calçados de sandálias novas, olhará para sua mão e verá o anel, o selo do amor de Deus. E quando fizer isso, sentirá que pode enfrentar o mundo todo de cabeça erguida, sim, e poderá enfrentar o diabo e todos os poderes que o enganaram no passado e que arruinaram a sua vida. Sem essa posição e confiança, um novo começo não passa de um produto da imaginação. P mundo tenta limpar suas velhas vestes, buscando dar-lhes uma aparência respeitável. Somente Deus, em Cristo pode nos vestir com um manto novo, e realmente nos tornar fortes. Que o mundo tente apontar o dedo para nós, querendo trazer à tona o nosso passado! Que tente lançar seus piores estratagemas contra nós! Basta que olhemos para o manto, as sandálias e o anel, e saberemos que tudo está bem.

E se você ainda requer uma prova clara da realidade de tudo isso, ela pode ser encontrada no fato que até mesmo o mundo tem de reconhecer que é verdade. Ouça as palavras do servo, falando com o irmão mais velho. O que ele diz? “Um homem de aparência estranha, em andrajos, apareceu aqui hoje?” Não! “Veio o teu irmão”. Como ele soube que era o irmão? Ah, ele vira as ações do pai e ouvira suas palavras! Ele jamais teria reconhecido o filho, porém o pai o reconheceu, mesmo à distancia. O pai o reconheceu! E Deus reconhece você, e quando você se volta para Ele e permite que Ele o vista, todos ficarão sabendo. Até mesmo o irmão mais velho ficou sabendo. Era a última coisa que ele queria saber, mas os cânticos e os sons de júbilo e alegria não deixavam dúvidas quanto à conclusão inevitável. Ele estava por demais aviltado para dizer “meu irmão”, no entanto, até mesmo ele teve que dizer: “Este teu filho”. Não passou prometer que todos o amarão que falarão bem a seu respeito se entregar sua vida a Deus em Cristo.. Muitos certamente o odiarão, e o perseguirão zombando de você e fazer muitas outras coisas contra você, mas, ao fazerem isso, estarão na verdade testemunhando que eles também perceberam que você é uma nova pessoa, que sua vida foi renovada e recebeu a oportunidade de um novo começo.

O que mais você requer?

Aqui está a oportunidade para um começo realmente novo. É o único meio. O próprio Deus o tornou possível, enviando Seu Filho unigênito a este mundo, para viver, morrer, e ressuscitar. Não importa o que você tenha sido no passado, nem o que é no momento. Basta que se volte para Seus, confessando seu pecado contra Ele, lançando-se sobre Sua misericórdia em Cristo Jesus, reconhecendo que somente Ele pode salvar e guardar você, e descobrirá que

O passado será esquecido
Gozo dado no presente,
Graça futura prometida –
E uma coroa de glória no céu.

Venha! Amém.

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A. W. Pink Bíblia Estudo bíblico Vida cristã

O método de estudo bíblico de A. W. Pink

“Nos meus primeiros anos eu assiduamente segui este triplo caminho:

  • Em primeiro lugar, eu lia toda a Bíblia três vezes por ano (oito capítulos do Antigo Testamento, e dois do Novo Testamento diariamente). Eu constantemente perseverei nisso durante dez anos, a fim de me familiarizar com o conteúdo, que só pode ser alcançado por meio de consecutivas leituras.
  • Em segundo lugar, eu estudei uma porção da Bíblia a cada semana, concentrando-me por dez minutos (ou mais) todo dia na mesma passagem, pensando na ordem dela, na ligação entre cada afirmação, buscando uma definição dos termos importantes, olhando todas as referências marginais, procurando seu significado típico.
  • Terceiro, eu meditei sobre um versículo a cada dia, escrevendo-o sobre um pedaço de papel na parte da manhã, memorizando-o, consultando-o em alguns momentos ao longo do dia; pensando separadamente em cada palavra, pedindo a Deus para revelar para mim o seu significado espiritual e para escrevê-la no meu coração. O versículo era o meu alimento para aquele dia. Meditação é para a leitura como a mastigação é para o comer.

Quanto mais alguém seguir o método acima mais deve ser capaz de dizer:

‘A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho’ Sl 119: 105’”

Fonte

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Evangelho Jonathan Edwards Vida cristã

Pecadores nas mãos de um Deus irado

Enfield, Connecticut July 8, 1741
Jonathan Edwards (1703-1758)

“Minha é a vingança, a seu tempo quando resvalar o seu pé; porque o dia da sua ruína está próximo, e as coisas que lhes hão de suceder se apressam a chegar” (Dt 32.35)

Neste versículo lemos sobre a eminência da suprema vingança de Deus sobre os Israelitas, que na altura seriam o verdadeiro povo de Deus e que viviam sob uma graça desmesurada, mas que mesmo assim Deus deles afirmava “Porque são gente falta de conselhos, e neles não há entendimento”. Deut. 32:28. De toda aquela criação de Deus, eles brotavam sarças e espinhos como fruto, amargura e ira a Quem os criara. O texto que escolhi para hoje, será “A seu tempo há-de resvalar o seu pé” e procede daquilo que me transparece relacionado com a suprema devastação eterna que esperava os Israelitas com quem Deus estava irado por causa dos seus muitos pecados. A ideia que prevalece será que eles estariam expostos àquela ira inesperada sem o saberem.

1. Eles estavam sob ameaça duma destruição inesperada, estando expostos a ela continuamente sem o saberem. Eles estariam a escorregar naqueles lugares tenebrosos da sua consciência. Isto descreve com fidelidade como estariam na eminência de serem destruídos a qualquer momento. Será isso que lemos em “Certamente tu os pões em lugares escorregadios, tu os lanças para a ruína. Como caem na desolação num momento! Ficam totalmente consumidos de terrores”.

2. Isto implica que estariam permanentemente sob a possibilidade de serem exterminados e fulminados a qualquer momento sem aviso, mas também sem maneira e sem qualquer possibilidade remota de escaparem de tal coisa. Estes lugares escorregadios apenas mostram que a qualquer momento qualquer pecador pode cair, que ninguém tem como prever quando nem como e também que ninguém tem como impedir que tal coisa se dê e assim seja. É isto que transparece das palavras “Tu os lanças para a ruína. Caem na desolação num momento!” Sal. 73:19.

3. Outra coisa que se esconde nestas palavras, é que eles cairão por eles mesmos, sem que seja necessário que alguém ajude ou contribua para que tal coisa suceda. Como caminha em lugares escorregadios, o pecador não necessita de nada para se estatelar no inferno por si mesmo e isto para sempre.

4. A única razão porque o pecador não caiu ainda, será tão só porque Deus assim ainda não quis, pois o seu tempo já está determinado que chegue. Tudo agora depende da soberana vontade de Deus apenas &endash; nada depende daquilo que o pecador possa vir a fazer. Está escrito que “a seu tempo cairão, a seu tempo resvalará seu pé”. Eles serão deixados para caírem mesmo, ninguém tem como impedir que tal coisa aconteça. Eles apenas necessitam do seu próprio peso para tombarem nestes lugares escorregadios nos quais Deus os colocou por haverem entregue seus corações a seus próprios pecados. Deus não mais impedirá que tal aconteça, não existindo mais razão para o continuar a fazer. A sua destruição está eminente e nada o poderá impedir. Estão na berma do abismo de fogo sem saber, sem quererem saber. Como o pecador está num terreno inclinado e escorregadio, que haverá que o possa impedir de escorregar definitivamente? Basta tão só chegar o seu dia, aquele que nenhum pecador tem como saber quando será, pois viram a sua cara para não encararem as suas realidades sempre eminentes.

Pode-se fazer a observação a partir das palavras nas quais vou insistir. “Nada impede que Deus, pela Sua soberana vontade os deixe cair para sempre, com excepção do Seu bel-prazer e Sua própria determinação soberana”. Quem poderá impedir Deus de o fazer? Quero que fique claro que toda a destruição depende tão só de quando Deus assim quiser, pois nada mais existe que tenha como determinar o preciso destino de qualquer pecador. Esta verdade transparece das seguintes elações que podemos retirar do texto.

1. Não existe qualquer falta de poder em Deus para lançar qualquer ímpio no lago do inferno a qualquer momento. Nenhuma mão humana tem como se elevar para impedir Deus de o fazer. Não existe homem que O tenha como impedir. O mais poderoso de todos eles não tem com que resistir se Deus se levantar em ira &endash; ninguém poderá livrar da Sua poderosa Mão. Não só é capaz de lançar os pecadores no inferno a qualquer momento, pois Ele também o pode fazer com muita facilidade. Muitas vezes um príncipe na terra depara-se com grandes dificuldades para vencer um oponente seu, algum rebelde do seu reino o qual se tenha fortificado com armas e homens para a este se opor. Mas não será assim com Deus. Não existe fortaleza que resista ou que tenha defesa contra o poder de Deus. Mesmo de mãos dadas, mesmo que um grande mar de gente se una em cordão contra Deus, facilmente serão despedaçados em pequenos pedaços. Serão como palha, montes e pilhas de palha diante duma forte tempestade, dum furacão. Ou como estrume muito seco perante as chamas ferozes dum grande fogo que não se apaga. É muito fácil a qualquer um de nós pisar uma minhoca no chão e esmagá-la sem que esta tenha como se proteger; é muito fácil para qualquer um de nós cortar uma linha onde algo esteja pendurado; assim ou mais fácil ainda, será para Deus desprender a vida, de alguém que Ele entenda e, quando assim entender, lançar qualquer inimigo seu, ou multidões deles ao mesmo tempo, no fogo do inferno. Quem somos nós para que pensemos que podemos resistir contra Deus, Aquele que faz estremecer toda a terra com uma leve repreensão, que provoca uma avalanche de pedra em todo o tamanho dela com um pequeno sopro?

2. Qualquer pecador merece tudo isto, merece sempre ser lançado no inferno. Assim é para que a justiça divina triunfe. A justiça divina não tem como impedir a ira de Deus, não tem objecção sequer contra esse poder que Deus tem para triunfar na sua destruição momentânea &endash; a qualquer momento Ele pode fazer tal coisa. Pelo contrário, é essa mesma justiça que clama aos Céus para que tal coisa venha a dar-se, suceda repentinamente, a qual clama alto pelo supremo castigo do todo pecado. A justiça divina que conhecemos clama e pede incessantemente que, quando uma videira brote fruto como o de Sodoma, que se corte a árvore. Lemos que “Disse então ao viticultor: corta-a; para que ocupa ela ainda a terra inutilmente?” Lucas 13:7

3. Todos os pecadores estão já condenados à partida, estão sob a sentença dum inferno justo. Eles não apenas o merecem em forma de justiça, mas a própria sentença de Deus já saiu, aquela sentença eterna e irreversível, a qual ninguém tem como reverter, para que se estabeleça a justa vingança de Deus Altíssimo. Esta sentença saiu e nada a detém. Todos estão perante a certeza irreversível do inferno. João 3:18 ” quem não crê, já está julgado”. Todo o homem por se converter pertence ao inferno. Ali é seu lugar, porque lemos (João 8:23) “Disse-lhes Ele: Vós sois de baixo”. O pecador está sob pena do inferno do eterno de Deus. Esse é o lugar que tanto a palavra de Deus que não muda, como a justiça divina e a sentença da Sua lei imutável para o pecador reservam desde sempre. Esse lugar está assegurado desde já para ele.

4. Os pecadores são o objecto da ira portentosa de Deus. Essa mesma ira expressa-se em inferno de tormentos infinitos, assim se manifesta. A única razão porque um pecador que ainda vive não caiu lá dentro ainda, não será porque Deus, sob a ira de Quem estão continuamente, não esteja muito zangado com eles ainda como está com aquelas muitas criaturas que já lá se encontram há milhares de anos a sentir na pele os grandes açoites da Sua ira sem fim. Por acaso Deus está mais irado com muitos dos que se encontram cá na Terra ainda: sem dúvida que sim, com muitos que agora aqui se encontram a ouvir-me nesta congregação, com pessoas que estão aqui sentindo-se bem à-vontade, mais daqueles que há muito lá estão nas chamas do inferno. Não será porque Deus se esqueceu deles por cá, que não esteja atento às suas perversidades, que não se sinta mal pelos seus pecados que não corta a corda que os prende, para ainda não houvessem sido sugados para as chamas. Deus não é, como eles pecadores, são, mesmo que todos eles O imaginem assim tal qual eles. A ira de Deus arde para se concretizar, a sua eterna e justa condenação não dormita como pensam muitos. O lago de fogo e enxofre está aceso e preparado para os receber a todos, o forno sobreaquecido para os engolir logo. As suas chamas já chamam e já queimam de raiva e fúria. A espada flamejante já se contorce de ira e a sua terra debaixo dos seus pés estará cedendo a qualquer momento. A boca do lago de fogo e enxofre está pronta e prestes a engoli-los sem mais atrasos.

5. O diabo está pronto também para cair em cima deles, reclamando-os como sua única propriedade exclusiva. Quando ele os quiser Deus assim permite que se faça como ele bem entender. Eles, os pecadores, pertencem-lhe, ele mesmo possui as suas almas desde já, estão sob o seu querer incondicionalmente. As Escrituras falam deles como sua mercadoria exclusiva. Todos os demónios os apascentam à espera do grande dia de os verem serem lançados nas chamas devoradoras. São como leões esfomeados à espera da carne deles; eles querem-se atirar à presa já, mas estão apenas impedidos de o fazer. Caso Deus retire a Sua mão, caso cesse de impedi-los, eles caem-lhes em cima como se fossem caça. É essa Mão que ainda os impede de se arremessarem. Se essa Mão se retirar, cairão sobre as suas almas, reclamando-as desde logo! Aquela velha serpente está a um pequeno passo de os tragar; a morte e o inferno esperam impacientemente e caso Deus permitisse, retirando a Mão que impede do seu posto, eles rapidamente seriam levados e nunca mais seriam vistos.

6. Existe dentro das próprias almas dos ímpios esses mesmos princípios infernais reinando, que logo explodiriam em chamas de grande maldade, não fosse Deus ainda impedir que tal coisa suceda. Existe na própria natureza carnal de qualquer homem mundano, um fundamento igual aos dos alicerces do próprio inferno. Estão lá ardendo todos esse princípios de pecado desde sempre, reinando pelo seu próprio poder, possuindo-os por completo e isso é a semente do inferno factualmente. Estes princípios pecaminosos reinam por si, vivem por si e serão violentos por natureza. Não fosse pela Mão que os restringe agora, logo pegariam fogo e queimariam as suas teimosias, corrupções e violências com aquela mesma inimizade com que os demónios se lançam a eles. Aquilo que os tormentos podem trazer de dentro do coração perverso de almas condenadas, a mesma inimizade está apenas impedida de se manifestar pela poderosa mão de Deus. As almas dos pecadores ainda vivos são descritas pelas Escrituras como um mar que não se aquieta (Is.57:20). De momento, Deus os retém pelo poder do Seu braço poderosíssimo. Essas ondas estão contidas ainda dentro do aceitável, pois ouvimos-Lhe dizer “Até aqui virás, porém não mais adiante; e aqui se quebrarão as tuas ondas orgulhosas”, Job 38:11. Mas caso Deus os deixasse à solta, logo se corromperiam e nada impediria a sua água negra e lamacenta de inundar tudo à sua volta. O pecado é a ruína e a semente da miséria na própria alma de quem dele se farta. Corrompe e é sempre destrutivo e caso Deus não lhe impusesse limites de fartura, nada mais seria necessário para levar qualquer alma ao extremo da sua maior miséria. A sua corrupção, a essência de todo o coração de homem, não se modera a não ser por uma poderosa mão, porque a sua fúria pecaminosa não tem limites nem fim de imaginação. Enquanto o homem ímpio aqui estiver vivo, é sempre e eternamente como fogo controlado que se fosse deixado à solta logo tudo consumiria à sua volta, mudando até o curso da natureza. Como o coração é uma fonte de pecado, caso não fosse restringido, tornaria a própria alma de quem o possui um forno aceso, um vulcão em erupção maligna e contínua.

7. Que não sirva de símbolo de segurança para qualquer pecador, nem por um momento, o facto de ainda não verem a sua morte dando sinais de ir aparecer. Não serve de segurança a saúde de ninguém, pois pode-se acidentar a qualquer momento, mesmo mostrando ser o homem mais saudável do mundo inteiro. A múltipla e corrente experiência de todos é que hoje estando vivo, logo de seguida pode estar em eminência a hora da sua morte. Sempre foi assim, os homens a pensar que nunca morrem e o inferno a tragá-los um a um. Aquilo em que o homem não pensa, aquilo de que não quer ter consciência, isso passa por ele como se nada disso existisse. Muita gente morre sem se dar conta senão apenas no último dos minutos. Os homens têm múltiplas formas de escaparem da realidade das coisas e quanto mais reais e imutáveis forem essas coisas, tanto mais facilmente e tanto mais profundamente se “esquecem” dessas realidades, tanto mais voluntariosamente deixam de pensar nelas. Os homens não-convertidos navegam num mar de chamas do qual negam sentir o calor sobre a casca de palha. Apenas evita que tombe aqui e acolá pensando que dessa forma se tem como se livrar da queda eminente e da perda inevitável. Essa casca de palha é tão frágil para aquilo que é usada que apenas a extrema misericórdia de Deus tem como evitar que essa casca seja tragada de imediato por chamas que nunca se apagam. Nem o peso do homem a tal obra em casca e palha tem como segurar a menos que seja porque Deus intervém. Qualquer seta de morte rasga os céus em plena luz do dia. Que impede o homem mortal de ser atingido por uma delas? Elas são setas invisíveis, que não se deslumbram quando são atiradas contra o homem mortal. Deus tem tantos meios de retirar dos mortais a sua vida, para que sigam o seu caminho para o inferno, para o seu lugar de eleição, que nem se pense que algo miraculoso tem de se passar primeiro para que seja tido que foi Deus a fazê-lo, pois há muitas maneiras de se morrer naturalmente. Basta tão só a Providencia divina para estatelar alguém numa morte irreversível. Todos os meios e mecanismos através dos quais os homens mortais abandonam este mundo, estão tão dependentes das mãos providenciadoras de Deus, tão universalmente e absolutamente sujeitos ao poder da Sua determinação, que de nada mais tem como depender o momento da morte de cada um. Apenas depende de que Deus assim queira que se faça, nada mais impede um pecador de cair para sempre num inferno infinito.

8. O homem natural e a sua incoerente prudência em preservar-se a si mesmo, ou o cuidado dos outros em preservá-los, nada lhes garante de facto, nem por um pequeníssimo momento. Disto testemunha a cautelar providencia infinita de Que já criou o mundo. Existe este facto já de si comprovado que nenhuma sabedoria humana pode livrar o homem da sua perdição. Se tal coisa fosse verdade, veríamos desde já alguma diferenciação entre os políticos e sábios de hoje e outras pessoa menos inteligentes, no que toca à sua morte. Mas de facto, aquilo que dizem as Escrituras transparece sempre repleto de verdade infinita, nomeadamente: “Pois do sábio, bem como do estulto, a memória não durará para sempre; porquanto de tudo, nos dias futuros, total esquecimento haverá. E como morre o sábio, assim morre o estulto!” Ecles.2:16.

9. Todo e qualquer esquema dos ímpios, todas as suas agonias em escapar do inferno, enquanto rejeitam Cristo na sua vida pratica, mantendo a sua impiedade porque sem Cristo não terão como se verem livres dela, não lhes assegura uma livrança do inferno, nem por um momento. Qualquer homem natural que tente escapar do inferno, bajula seu ego sempre para não ter que pensar que não tem como escapar dele. O pecador depende dele próprio para escapar, vitoria-se e vangloria-se em si mesmo, depende das suas próprias forças para escapar à sua maneira. Bajula-se, entretém-se, gasta mal seu tempo sempre e mostra aquilo que consegue fazer apenas para acreditar que vai escapar. Todo e qualquer um tem sempre uma ideia bem delineada de como há-de escapar do inferno. Luta com suas crença e credos, tentando sempre convencer a ele mesmo por todos meios de que há-de escapar, pensando-se o mais sábio de todos os homens. Ouvem sempre que muito poucos se salvarão, que muitos estão já no inferno, mas mesmo assim cada um deles imagina sempre que há-de escapar ileso. Acha sempre que será sempre melhor sucedido que todos os outros que já estão a queimar e que com ele tal coisa nunca ocorrerá. Ele não quer ir para aquele lugar de tormento, tentando enganar-se a si mesmo continuamente que nunca se enganará a esse respeito. Mas os miseráveis filhos dos homens iludem-se sem cessar, isto através de esquemas e ocupações próprias, tal é a confiança cega que depositam neles mesmos continuadamente. Confiam numa nuvem sombria. A grande maioria que conseguiu viver sob a era da graça e agora morreram, também pensavam assim e nem por isso deixaram de ir para no inferno. Eles não seriam menos inteligentes que todos aqueles que aqui se encontram; também não foi porque cometeram um qualquer erro de calculo nos seus muitos esquemas; se algum de nós pudesse ter como vir a falar com um qualquer desses homens ou mulheres que já lá estão perecendo, de certeza que quando se lhes perguntássemos se pensavam em vida que iam para o inferno, todos sem excepção acharam que nunca iriam parar num local de tantos horrores assim. Pensaram sempre o melhor deles próprios enquanto em vida e nenhum deles diria que tinha a intenção de ir parar ali. Todos diriam “Não sabia que vinha parar aqui, nunca concebi que isto viesse a suceder-me, pensava que dum jeito ou de outro sempre escaparia do juízo de Deus. Eu tinha a certeza que seria impossível eu ir parar no inferno! Mas apanhou-me desprevenido, não esperava tal coisa naquele momento, tão rápido assim. Eu bem queria preparar-me, mas pensava que ainda havia tempo suficiente para fazê-lo. Fui surpreendido pela morte como se é com um ladrão de noite. A ira de Deus foi rápida demais para mim. Ó, que maldita agonia, que maldita tolice a minha! Sempre me bajulei pensando que eu era especial! E quando eu menos esperava morri. Sempre me convenci que tinha paz com Deus e enganei-me profundamente, irremediavelmente!

10. Deus nunca se comprometeu a salvaguardar um único homem carnal do inferno. Nem uma só vez Deus se comprometeria com tal coisa absurda. Ele com toda a certeza nunca prometeu vida eterna a quem permanecesse no seu pecado, nem nenhuma espécie de protecção especial duma morte eterna. Só prometeu a quem guardasse os estatutos do Seu Testamento através do Senhor Jesus Cristo, em quem essas promessas serão sempre sim e amem! Qualquer um que não haja crido nessas promessas de os livrar de pecar sob graça, nunca tiveram interesse no Mediador desse Testamento. Assim, todos aqueles que estão indo para o inferno por muito que se esgotem na oração, por muito religiosos que sejam, por muita seriedade que tenham no bater da porta que para eles não se abre, peça o que pedir, enquanto Cristo não for verdadeiro em si mesmo como Mediador real, Deus nunca estará comprometido a livrar tal homem da sua sentença final. Deus terá sempre a ultima palavra.

Assim é então, que Deus segura o homem de cair no inferno, está sempre pendente sobre o lago de fogo. Eles mesmo o merecem por si mesmos, estando sempre sentenciados sob essa mesma pena. Deus está provocado ao extremo da sua ira contra eles, tanto quando estará com aqueles que já estão a sentir a Sua fúria sem volta lá no inferno. Nada fizeram par se livrarem daquele abismo sem volta, sem saída possível, nada fizeram para apaziguar a sua ira. Deus nunca se comprometeu a livrá-los de qualquer tormento, o diabo espera a oportunidade de os vir a sugar. O inferno está de boca aberta esperando tragá-los a qualquer momento da sua vida, as chamas engolem já muitos sem que pensassem ir lá parar. O seu pecado está sempre em chama de pecado e não pretendem conhecer Quem os pode livrar dessas chamas do pecado, dessa semente do inferno. Não pretendem estar seguros, apenas desejam a mentira desde que seja sua própria e enquanto tentam salvar-se a si mesmos com muitos esquemas vagabundos, mostra como nunca pretendem o único Mediador como tal, apenas em si mesmos confiam para se livrarem. Resumindo, eles não estão seguros, não têm qualquer refugio em qualquer recanto de todo o universo e a única coisa que os previne de caírem de vez naquele poço de chamas será apenas uma vontade arbitrária de Deus. Também a tolerância voluntária, não comprometida dum Deus muito irado.

Aplicação prática

O uso deste assunto deve servir para aquele despertar de pessoas nesta congregação. Isso é para todos vós que não estão em Cristo, vivendo do vosso pecado ainda. O outro mundo cheio de miséria esperava-vos amenos que se convertam hoje, aquele lago de fogo eterno já existe e estará preparado há séculos. Existe de facto esse lugar horrível onde todas as chamas da ira justa de Deus exultam e queimam há muito. Existe um inferno com a sua boca escancarada ao máximo para engolir quem nega o seu Criador da sua vida. Lá não tem chão onde firmar seus pés e aqui não tem nada que o separe do inferno senão ar e tempo &endash; é tudo uma questão de tempo. Apenas pela misericórdia de Deus está aqui a ouvir este sério aviso.

Provavelmente não estará o meu ouvinte com sua sensibilidade aguçada em relação a este assunto. Sabe que está longe do inferno ainda, mas só não sabe que é apenas Deus quem ainda impede que caia lá para sempre. Você passa todo o seu tempo com outros assuntos, com outros afazeres, dando tudo aquilo que toda a constituição do seu pecado lhe pede, tal como todos os meios que ainda poderiam salvar a sua vida da fogosa ira de Deus, em vez de temer e se converter. Mas de facto, os meus argumentos são pequenos ainda comparando com os que podia elaborar. As suas coisas, os seus afazeres de nada valem à luz da verdade de todas estas coisas eternas. Se por acaso Deus retirar a Sua grande mão de impedir de travar a sua eminente queda, nada mais neste universo que criou à sua volta tem como impedir um pecador de estatelar-se para sempre no infinito do fogo.

Todos os seus pecados tornam-no tão pesado como chumbo em leve ar. Vai cair para sempre sem volta possível. Todo os pesos que carrega em sua consciência empurram directamente pela força do seu peso &endash; o destino de quem não está em Cristo é um poço sem fundo que deita chamas e enxofre. Se Deus o deixar ir afora, logo desaparece sem nunca mais poder voltar. Toda a sua corpulência, todos os seus cuidados e artimanhas em escapar, toda a sua prudência, toda a sua saúde de nada valerá &endash; nada tem como impedir o pecador de prestar todas as contas da sua vida a Deus. A sua auto-estima, o seu arrependimento e remorso por perder a sua vida assim tolamente, nada mais resolverão, para nada mais servirão senão como servirá uma teia de aranha perante um incêndio muito quente, ou para essa mesma teia segurar um pedregulho em queda desde as alturas. Não fosse a soberania de Deus sobre todas as coisas, por certo que já estaria a experimentar este enorme sofrimento da ira de Deus. Não fosse essa soberania, nenhum local de toda a terra o suportariam nem por um momento mais, pois você faz a terra grunhir de desespero pelo seu pecado, pois sujeita a criação de Deus a enormes pesadelos. A sua corrupção é uma ameaça à servidão ao pecado de todas as outras criaturas de Deus. Essas criaturas não querem estar sujeitas àquela perdição, mas todo o seu pecado as sujeita a isso mesmo contra a sua vontade. Até o sol não brilha com alegria para suportar a sua iniquidade sob sua luz para ter como servir Satanás e seus anjos; nem a terra produz para que possa gastar em suas banalidades perversas; até o ar que você respira se opõe a ser respirado por si para poder manter a vida vital que você usa mal em seus deleites pecaminosos, para que você use suas forças a favor dos inimigos eternos do Deus vivo. Toda a criatura de Deus, toda a sua criação é perfeita e foram criados para dar sempre glória ao Deus altíssimo. Nenhuma destas coisas criadas por Ele, sustêm de leve ânimo quem desonra a sua própria criação para malefício de todos os outros à sua volta. Todo o universo escarraria um verme pecador do seu meio ambiente não fosse pela vontade e paciência de Deus fornecer mais algum tempo ainda para se converterem! Toda a criação suspira na esperança de um dia obter uma libertação do domínio total do pecado. Nada impede senão Deus. Temos toda a ira de Deus pairando sobre nossas cabeças, como uma nuvem negra prestes a rebentar todo o seu conteúdo de fogo e enxofre não fosse a mão de Deus que restringe os elementos de cooperarem nessa esperança de ver um pecador que seja a ser santo e a glorificar Deus para sempre. O soberano desejo de Deus impõe aos elementos que O glorificam sempre, de cuspirem toda a imundícia para bem longe de si. De momento apenas ouvimos falar uma coisa muito vaga da suposta ira de Deus, pois pelas tempestades e calamidades Deus dá a entender um pouco de tudo aquilo que ainda se vai passar e que ninguém terá como impedir.

A ira de Deus é como grandes águas represadas que crescem mais e mais, aumentam de volume, até que encontram uma saída. Quanto mais tempo a força das águas for reprimida, mais rápido e forte será o seu fluxo em sua libertação. É verdade que até agora ainda não houve um julgamento por obras más. A enchente da vingança de Deus encontra-se presa. Mas, por outro lado, sua culpa cresce cada vez mais, e dia a dia vocês acumulam mais e mais ira contra vós mesmos. As águas estão subindo e se acumulando gigantescamente, fazendo sua força aumentar cada vez mais. Nada, a não ser a misericórdia de Deus, detêm essas águas, as quais não querem continuar enjauladas e forçam sua saída. Se Deus retirasse Sua mão das comportas, elas se abririam imediatamente e o mar impetuoso de sua fúria e da ira de Deus precipitar-se-iam com furor inconcebível, e cairiam sobre vocês com poder omnipotente. E mesmo que vossas forças fossem dez mil vezes mais do que é, sim, dez mil vezes maior do que a força do mais forte e vigoroso demónio no inferno, de nada serviria para que pudesse deter essa fúria divina.

O arco da ira de Deus já está preparado, e a flecha ajustada ao seu cordel. A justiça aponta a flecha para seu coração esticando o arco. E nada, senão a misericórdia de Deus &endash; dum Deus irado &endash; que com nada se compromete e a nada Se obriga, impede que a flecha se embeba já com o sangue de qualquer um de vós.

Assim estão todos vós compartilhando esse perigo, todos aqueles que nunca experimentaram uma transformação real em seus corações pela acção poderosa do Espírito do Senhor em suas almas &endash; todos vocês que não nasceram de novo, nem foram feitos novas criaturas, ressurgindo da morte do pecado para um estado de luz e para uma vida nova nunca experimentada até aqui. Por mais que vocês tenham modificado vossa conduta em muitas coisas e tenham abusado simpatias religiosas, e até mantido uma forma pessoal de religião com suas famílias e em particular indo à casa do Senhor, sendo até severos quanto a isso, mesmo assim vocês estão nas mãos de um Deus irado. Somente Sua misericórdia vos livra de ser, tragados pela destruição eterna agora, neste preciso momento.

Por menos convencidos que vocês estejam agora quanto às verdades ouvidas, no porvir serão plenamente convencidos. Aqueles que já se foram e que estavam na mesma situação que a vossa, percebem que foi exactamente isso que lhes aconteceu, pois a destruição caiu de repente sobre muitos deles, quando menos esperavam, e quando mais afirmavam estarem a viver em paz e plena segurança. Agora eles vêem que aquelas coisas nas quais puseram as suas confianças tendo a paz e segurança como objectivo, eram nada mais que uma brisa ligeira e sombras sem verdade.

O Deus que vos mantêm fora do abismo do inferno abomina-vos; Ele está terrivelmente irritado e Seu furor, queima como fogo contra vós. Ele vê em vós uma dignidade imensa apenas para virem a ser lançados no fogo do inferno. E Seus olhos são tão puros que não podem tolerar tal visão. Vocês são dez mil vezes mais abomináveis a Seus olhos do que a mais odiosa das serpentes venenosas serão para todos os humanos. Têm-No ofendido infinitamente mais do que qualquer rebelde obstinado ofenderia um governante. No entanto, nada, a não ser a Sua mão, pode-vos impedir de cair no fogo a qualquer momento. O fato de nenhum de vós ainda não ter ido para o inferno a noite passada e vos haver sido concedida a graça de acordar ainda neste mundo, depois de terem fechado os olhos para dormir ontem, atribui-se a essa mesma graça e favor. Não existe outra razão para que todos vós não hajam sido lançados no inferno antes de se haverem levantado pela manhã, a não ser o fato da mão de Deus tê-los sustentado. E não existe outra razão para que vocês não caiam no inferno, já, neste exacto momento.

Ó pecador, pense no perigo terrível que corre! É sobre essa grande fornalha de furor, você está pendurado sobre um abismo imenso e sem fim, cheio do fogo da Sua ira, seguro pela mão de Deus, cujo furor acha-se tão inflamado contra si, como contra muitas pessoas já condenadas as quais já estão no inferno. Você está suspenso por uma linha quebradiça, com as chamas divinas a toda a sua volta prestes a queimá-la, prontas a atearem fogo e queimá-la por inteiro. E você continua sem interesse nesse Mediador, sem ter onde se agarrar para se poder salvar de tal ira certa, nada que possa afastar as chamas da cólera divina, nada em si próprio, nada que tenha feito ou possa vir a fazer, para poder persuadir o Senhor a poupar sua vida por mais um minuto que seja. Considere, então, mais uns aspectos dessa cólera que ameaça chegar com tão grande empenho:

l. A quem pertence essa ira? É a ira do Deus infinito Se fosse somente a ira humana, mesmo a do governante mais poderoso sobre a terra comparativamente, seria considerada como coisa pequena. A ira dos reis é bastante temida, principalmente a dos monarcas absolutos, que possuem os bens e as vidas de seus súbitos em suas mãos, para serem usados a seu bel-prazer.

“Como o bramido do leão é o terror do rei, o que lhe provoca a ira peca contra a sua própria vida.” (Prov.20:2) O súbito que enfurece esse tipo de governante totalitário, sofre os maiores tormentos que se possa conceber, o qual o poder humano possa aplicar pela sua fúria.

Por essa razão, os maiores príncipes desta terra, em toda a sua grandeza, majestade e poder, mesmo revestidos de seus grandes terrores e ameaças, não são mais do que vermes debilitados e desprezíveis que rastejam no pó que Deus criou, quando comparados com o grande e Todo-Poderoso Criador e Rei dos céus e de toda a terra. Mesmo quando estão irados e essa sua ira chega ao máximo do seu rubro, é muito pouco o que podem fazer se compararmos com a ira de Deus. Os reis da terra são como gafanhotos perante Deus &endash; tão pequenos. Valem menos que nada. Tanto o seu amor quanto o seu ódio são desprezíveis. A ira do grande Rei dos reis é muito acima, mais terrível do que a deles, tal como é maior a Sua majestade maior e de maior dimensão que a deles. “Digo-vos, pois, amigos meus não temais os que matam o corpo e, depois disso, nada mais podem fazer. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: Temei aquele que depois de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a esse deveis temer.” (Lucas 12:4-5).

2.É essa ferocidade da Sua ira a que vocês estão todos expostos Lemos muito sobre a ira de Deus, como por exemplo em Is.59:18 “Segundo as obras deles, assim retribuirá furor aos seus adversários”. E também em Is. 66:15: “Porque, eis que o Senhor voará em fogo e os seus carros como um torvelinho, para tornar toda a sua ira em furor e a sua repreensão em chamas de fogo”. E assim lemos também em muitos outros lugares Bíblia. Lemos também em Apoc. 19:15, “o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso”. Essas palavras são incrivelmente aterradoras. Se estivesse escrito “a ira de Deus” apenas, isso já nos faria supor algo bastante mias terrível e aterrador. Mas está escrito “o furor da ira de Deus”, ou seja, a fúria de Deus, o furor do Senhor! Oh, quão terrível deve ser essa fúria! Quem pode exprimir ou mesmo conceber o que essas palavras carregam de peso nelas mesmas? Contudo não é apenas isso que está escrito: é “o furor da ira do Deus TODO-PODEROSO”. Essas palavras dão a entender uma grande manifestação de Seu grande poder omnipotente quando for julgar. Através dela Ele infligirá aos homens TODO o furor de Sua ira contida durante milhares de anos. Assim como os homens costumam manifestar sua própria força através de seu furor, a omnipotência de Deus irá, da mesma forma, se enfurecer e manifestar. E qual será a consequência de tudo isso? O que será dos pobres verme fortes, e quem e com que coração se conseguirá suportar tanto furor duma só vez para sempre quem vier a sofrer todo esse mal? Que mãos se manterão? Que terrível, quão inexprimível, inconcebível abismo de miséria irá chegar toda a pobre criatura humana que seja vítima dum duro juízo como este!

Pensem bem, vós todos aqueles que estão aqui agora e que permanecem em vosso estado pecaminoso. O fato de Deus vir a efectivar o furor de Sua ira, torna implícito que Ele infligirá esse castigo sem compaixão. Quando Deus olhar a indescritível aflição do seu estado e vir como seus tormentos são absolutamente desproporcionais à sua força, como vossas almas estão esmagadas, imersas em trevas eternas, não terá compaixão de nenhum de vós, não irá deter a execução de Sua ira, ou, de forma alguma, tornar mais leve Sua mão Nessa hora. Deus não usará de nenhuma misericórdia para convosco, nem conterá mais Seu vento impetuoso. Ele nunca mais considerará seu bem estar e nem irá evitar que sofram de ali em diante! Na verdade, fará com que sofram na justa medida exacta que toda a Sua rigorosa justiça vier a requerer. Nada será moldado só pelo fato de ser difícil de suportar por nenhum de vós. “Pelo que também Eu os tratarei com furor; os meus olhos não pouparão, nem terei piedade. Ainda que Me gritem aos ouvidos em alta voz, nem assim os ouvirei.” (Ezequiel 8:18). Deus está pronto; agora , usa de compaixão para convosco. Hoje é o dia da misericórdia para convosco. Vocês podem clamar neste instante e ainda ter esperanças de alcançar graça e misericórdia. Mas quando o dia de toda misericórdia passar, vosso lamento, o mais doloroso pranto, os gritos, serão completamente ignorados perdidos no ar e alienados dos ouvidos sensíveis Deus. O Senhor não terá mais uso para si a não ser sofrer suas misérias continuamente para servir de exemplo para quem estiver anda no céu. No que toca todo o seu bem estar, verá que Deus nunca terá outra opção senão a de entregá-lo ao sofrimento e à sua miséria e admitirá até que é justo nisso mesmo. E persistirá não tendo outra perspectiva de salvação, pois será um vaso de ira, preparado para a destruição. Não existe outro uso para tais vasos, senão o de enchê-los da ira de Deus. Quando clamarem ao Senhor, Ele estará tão longe de si como o sol está agora! Leia, inclusive, o que está escrito a esse respeito, que Deus irá, simplesmente, “rir e zombar” de vós (Provérbios 1:25-26, etc.).

Vejam quão terríveis são essas palavras do grande Senhor: “O lagar Eu o pisei sozinho e dos povos nenhum homem se achava comigo; pisei as uvas na minha ira; no meu furor as esmaguei, e o seu sangue me salpicou as vestes e me manchou o traje todo” (Is. 63: 3). É quase impossível de se conceber palavras que tragam em si uma manifestação maior destas três coisas: desprezo, ódio e fúria de indignação dum Deus Omnipotente. Se chamarem a Deus por consolo, Ele estará longe de vos querer consolar, ou de vos querer demonstrar qualquer interesse a favor. Ao contrário, o Senhor simplesmente irá esmagá-los sob Seus pés. E apesar de saber que, ao pisá-los, nunca poderão suportar o peso de Sua omnipotência, ainda assim Ele não se importará com isso e irá esmagá-los debaixo de Seus pés, sem piedade, espremendo o vosso sangue e fazendo com que o mesmo espirre, manchando Suas vestes, maculando Seus trajes resplandecentes. Ele não só irá odiá-los, como dedicará a todos vós aqui, o maior desprezo. Lugar algum será considerado próprio para si, a não ser debaixo de Seus pés, para serem pisados como se pisa a lama das ruas.

3. A miséria a que estarão dotados é aquela que Deus mesmo infligirá, a fim de demonstrar a força da Sua ira duma só forma. Deus tem em Seu coração a intenção de mostrar aos anjos e aos homens, não só a excelência do Seu amor, como a severidade de Seu furor. Às vezes os governantes da terra resolvem mostrar a força da sua ira através de castigos extremos que aplicam sobre aqueles que os enfurecem. Nabucodonosor, o poderoso e arrogante rei do império dos caldeus, demonstrou seu furor quando, ao se irritar com Sádraque que, Mesadaque e Abednego, ordenou que se acendesse a fornalha de fogo ardente sete vezes mais do que costumava fazer. Como era de se esperar, a fornalha foi aquecida intensamente, até atingir o mais alto grau poss´vel de temperatura. O grande Deus também quer revelar a Sua ira e exaltar Sua tremenda majestade (em tudo mais excelente que a deste rei) e grandioso poder através dos sofrimentos desmedidos de Seus inimigos. “Que diremos, pois, se Deus querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos da ira, preparados para a perdição.” (Romanos 9: 22).

E visto que esse é o Seu desígnio e o que Ele determinou, ou seja, mostrar como é terrível e ilimitada a Sua ira, fúria e indignação, Ele o mostrará realmente. E espero que não seja a si ainda. Será realizado algo horrendo, muito terrível.

Quando o grande e furioso Deus se houver levantado e haver executado Sua terrível vingança sobre o mísero pecador e desgraçado que estiver sofrendo o peso e o poder infinito de Sua indignação, então Deus chamará o universo inteiro para contemplar a imensa majestade e o tremendo poder que n’Ele existe. “Os povos serão queimados como se queima a cal, como espinhos cortados arderão no fogo. Ouvi vós, os que estais longe, o que tenho feito; e vós, que estais perto, reconhecei o meu poder. Os pecadores em Sião se assombram, o tremor se apodera dos ímpios; e eles perguntam: Quem dentre nós habitará com o fogo devorador? Quem dentre nós habitará com chamas eternas?” (Is. 33 :12-14).

Assim será com vós todos os que não se converterem a tempo, se permanecerem nesse vosso estado de insensatez. O poder infinito, a majestade e a grandiosidade do Deus omnipotente serão exaltados em vós através da inexprimível força dos tormentos que vos sobrevirão, por certo. Vocês serão atormentados na presença dos santos anjos e na presença do Cordeiro.

E quando estiverem nesse estado de sofrimento, os gloriosos habitantes do céu sairão para contemplar esse espectáculo horrendo vendo como é a ira e a fúria do Todo-Poderoso para nunca mais esquecerem. E quando virem todas essas coisas, prostrar-se-ão e adorarão Seu grande poder e majestade. “E será que de uma lutava à outra, e de um sábado a outro, virá toda a carne a adorar perante mim, diz o Senhor. Eles sairão e verão os cadáveres dos homens que prevaricaram contra mim; porque o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e eles serão um horror para toda a carne.”(Is.66:23-24).

É uma ira eterna. Já seria algo terrível sofrer o furor e a cólera do Deus todo-poderoso por um momento. Mas vocês terão de sofrê-la por toda uma eternidade. Essa intensa e horrenda miséria nunca mais terá fim. Ao olhar para o futuro, vocês verão à frente uma interminável eternidade, de duração infinita, que irá devorar vossos pensamentos e assombrar vossas almas. E irão entrar em desesperar mas em vão, com certeza, por não conseguirem nenhum livramento, termo, alívio ou descanso para tanta dor ao mesmo tempo. Saberão também, que terão de a sofrer até à última gota por longos séculos, por milhões e milhões de anos, lutando e pelejando contra essa vingança que nunca mais aceita qualquer clemência, todo-poderosa que ela possa ser agora para si. Então, depois de passar por tudo isso, quando tanto os séculos vos tiverem consumido, saberão que tudo não passa apenas de uma gota de água quando comparado com o que ainda resta. Portanto, seu castigo será, com toda segurança e certeza, infinito. Oh, quem poderia exprimir o estado de uma alma em tais circunstâncias? Tudo o que pudermos dizer sobre o assunto, vai nos dar, apenas, uma débil e frágil visão daquela realidade. Ela é inexprimível, inconcebível, pois “Quem conhece o poder da ira de Deus?”

Quão horrendo é o estado daqueles que diariamente, continuamente a cada hora, os que se encontram em perigo de sofrer tamanha ira de infinita miséria! Mas esse é o caso sinistro de toda alma que ainda não nasceu de novo, por mais moral, austera, sóbria e religiosa que possa ser. Oxalá pensassem em todas essas coisas, jovens ou velhos. Há razões de sobra para acreditar que muitos daqueles que ouviram o evangelho certamente estarão expostos a esse tormento por toda a eternidade também. Não sabemos quem são eles, nem o que pensam. Pode ser que estejam tranquilos agora, escutando esta mensagem sem se perturbarem muito e que estejam até enroscando na esperança de conseguirem escapar. Se soubéssemos que de entre os nossos conhecidos existisse uma pessoa, uma só, sujeita a sofrer tal tormento como seria doloroso para nós encararmos essa realidade. Se conhecêssemos essa pessoa, sempre que a víssemos uma tal visão seria terrível para nós. Iríamos todos levantar grande choro e prantear por causa dela. Mas, infelizmente, longe de ser uma pessoa só, é provável que muitos se lembrem destas exortações no inferno apenas! E inúmeras dessas pessoas podem estar no inferno em breve, antes mesmo do ano terminar. E aqueles que estão agora com saúde, tranquilos e seguros, podem chegar lá antes do amanhecer. Todos os que entre todos vós continuarem persistam nesse vosso estado natural pecaminoso e que consigam ficar fora do inferno por mais algum tempo, estarão lá também em breve. Sua condenação não tardará; virá de súbito, e provavelmente para muitos de vós, de maneira repentina. Têm toda razão ao se admirarem de não estar ainda a fazer número já dentro do inferno. É o caso, por exemplo, de alguns conhecidos seus, meus, que pareciam nunca merecer o inferno mais do que qualquer um de vós e que antes aparentavam ter possibilidade de estarem vivos tanto quanto vós estais hoje. Para o caso deles já não há esperança. Estão clamando lá em extrema penúria e perfeito desespero. Mas aqui estão vocês, na terra dos vivos carnais, cercados por todos os meios da graça, tendo a grande oportunidade de obter a salvação. O que não dariam aquelas pobres almas condenadas, desesperadas, lá no inferno por uma simples oportunidade de viver mais um só dia, como a que desfrutam vocês neste momento!

E agora vocês são os que têm uma excelente oportunidade de se salvarem. Hoje é o dia em que Cristo abre as portas da misericórdia de par em par colocando-se em pé clamando e chamando em alta voz aos pobres de espírito. Este é o dia em que muitos se estarão reunindo a Ele, apressando tudo para chegar ao reino de Deus. Inúmeras almas estão indo diariamente do norte, do sul, do leste e oeste. Muitos dos que estavam até bem pouco tempo nas mesmas condições miseráveis que vocês estão felizes agora, com os corações cheios de amor por Aquele que os amou primeiro e os pôde lavar de seus pecados com Seu próprio sangue, regozijando-se na e banqueteando-se por estarem a ver a glória de Deus para sempre. Como é terrível ser deixado para trás num dia destes! Ver os outros a banquetearem-se, enquanto vocês estão penando e definhando sem qualquer esperança de lá poderem sair! Ver os outros em perfeito regozijo e alegria, cantando com todo coração coração, enquanto vocês só terão motivos para prantear pelo sofrimento em vossas almas e corações, de se lamentarem por causa das aflições de vossas almas! Como podem vocês descansar por um momento sequer em tal estado? Será que vossas almas não são tão preciosas assim, como as almas daqueles que, dia a dia, se estarão ajuntando ao rebanho de Cristo?

Não existem, porventura, muitos que, apesar de haverem estado já longo tempo neste mundo, mesmo assim ainda não nasceram de novo e por essa razão sejam estranhos à comunidade de Israel e nada tenham feito durante toda a sua vida, a não ser acumular ira sobre ira para o dia do castigo? Oh senhores, o vosso caso, é sem dúvida, extremamente pernicioso. Toda a dureza de vossos corações e vossa culpa são imensuráveis. Acaso não vêem como as pessoas de vossa idade são deixadas para trás na dispensação da misericórdia de Deus? Necessitam reflectir e despertar de vosso sono, pois jamais poderão suportar a fúria e a ira dum Deus infinito.

E todos vós que ainda são rapazes e moças, irão negligenciar este tempo precioso que ainda desfrutam, quando tantos outros jovens da vossa idade já estão renunciando às futilidades da sua juventude acorrendo céleres até Cristo? Vocês têm neste momento uma oportunidade única, mas se a desprezarem, sucederá o mesmo que agora está acontecendo com todos aqueles que gastaram os dias preciosos de sua mocidade em pecado, chegando a uma terrível situação de cegueira e insensibilidade natural.

E vós crianças, que não foram convertidas ainda, não sabem que estão perto do inferno onde sofrerão a horrenda ira daquele Deus que está encolerizado contra vós também noite e dia? Será que ficarão felizes por serem ser filhos do diabo apenas, quando tantas outras já foram convertidas e se tornaram filhos santos e alegres do Rei dos reis?

Oxalá todos aqueles que ainda estão fora de Cristo, pendendo sobre o abismo do inferno, quer sejam senhoras e senhores idosos, pessoas de meia idade, jovens ou crianças, possam dar-me ouvidos, também ao clamor dos chamamentos da Palavra e da providência de Deus. Este é o ano aceitável do Senhor, um dia de grandes misericórdias para alguns, sem dúvida será um dia de extremo castigo para outros também. Quando negligenciam vossas almas a esse ponto, os corações dos vós homens se endurecem e vossa culpa aumenta vertiginosamente. Podem estar certos, porém, que agora será como foi nos dias de João Batista. O machado está posto à raiz das árvores; e toda árvore que não produzir fruto, será cortada e lançada no fogo eterno.

Portanto, todo aquele que está fora de Cristo, desperte e fuja da ira vindoura. A ira do Deus Todo-Poderoso paira agora sobre todos os pecadores. Que cada um fuja de sua Sodoma: “Livra-te, salva a tua vida; não olhes para trás, nem pares em toda a campina; foge para o monte, para que não pereças.”

“E assim, conhecendo o temor do Senhor, persuadimos aos homens.” “De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus;” (2 Cor 5.11-20; 6.2). “Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo os seus pensamentos; converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar” (Is 55:6,7). Amém.

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Escatologia

Será assim?

Talvez, sim. Talvez, não. Mas acontecerá. E parece-me que será em breve.

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Vida cristã

Que é um evangélico?

Michael Horton
Extraído do Jornal “Os Puritanos” Ano V – No.3

Os rótulos geralmente são confusos, especialmente quando o conteúdo da embalagem muda. Suco de uva pode virar vinagre com o passar dos anos na adega, porém o rótulo não muda junto com as mudanças na substância. O mesmo vale para o termo “evangélico”.

Desde o “Ano do Evangélico”, correspondente ao bicentenário de nossa nação (no caso os EUA) em 1976, o termo – pelo menos na América do Norte – veio a identificar aqueles que salientam um determinada marca da política, uma abordagem moralista e freqüentemente legalista da vida, e certo tipo de imitação, “cafona” de estilo de evangelismo. Para alguns o termo compreende o emocionalismo que eles vêem na televisão religiosa. Para outros, hipocrisia e justiça própria. E aí há as memórias que muitos de nós, que fomos criados como evangélicos, temos: ambientes familiares fortes e cuidadosos; um senso de pertencer a um mesmo lugar, com os amigos que gostam de conversar das “coisas do Senhor”.

Independente do seu passado, é importante entender o significado do termo “evangélico”.

As pessoas só começaram a usar o rótulo no século XVI, designando aqueles que abraçaram o Evangelho que havia – num sentido bem real – sido recuperado pela Reforma Protestante naquele século. “Evangélico” vem de “evangel”, que é o termo grego para “evangelho”. Deste modo, os “evangélicos” eram luteranos e calvinistas que queriam recuperar o evangel e proclamá-lo dos altos dos telhados. Era uma designação empregada para colocar os Protestantes num agudo contraste com os Católicos Romanos e “seitas”. Mas para entender por que estes Protestantes pensavam que eram realmente aqueles que recuperaram o verdadeiro e bíblico Evangelho, temos que entender o que era aquele evangelho.

O “Evangel”

A Reforma era uma coleção de “solas” – esta é a palavra latina para “somente”. Eles vibravam ao dizer “Sola Scriptura!“, significando, “Somente as Escrituras”. A Bíblia era a “única regra para fé e prática” (Westminster) para os reformadores. Você vê que a igreja acreditava que a Bíblia era totalmente inspirada e infalível, mas a igreja era o único intérprete infalível da Bíblia. Os Reformadores acreditavam que a Tradição era importante e que os Cristãos não a deveriam interpretar por eles mesmos, mas que todos os cristãos sejam clérigos ou leigos, deveriam chegar a um comum entendimento e interpretação das Escrituras juntos. A Bíblia não deveria ser exclusivamente deixada aos “espertos”, mas isso nunca significou para os Reformadores que cada cristão deveria presumir que ele ou ela pudessem chegar a interpretações da Bíblia sem a orientação e assistência da Igreja.

0 principal ponto de “Sola Scriptura” então, era este: Não deveria ser permitido à Igreja fazer regras ou doutrinas fora das Escrituras. Não existem novas revelações, nem papas que ouvem diretamente a voz de Deus, e nada que a Bíblia não apresente deveria ser ordenado aos cristãos.

0 segundo “sola” era “solo Christus“, “Somente Cristo”. Isto não queria dizer que os Reformadores não criam na Trindade – pois o Pai e o Espírito Santo eram igualmente divinos, mas que Cristo, sendo o “Deus-Homem” e nosso único Mediador, é o “Homem de frente” para a Trindade. “Aquele que me vê a Mim, vê ao Pai que me enviou”, disse Jesus. Num tempo em que meros seres humanos estão tomando o lugar de Cristo como Mediador entre Deus e cristãos, os reformadores proclamaram juntamente com Paulo: “Há somente um Deus e um Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem” (1 Tim. 2: 5). Eu cresci em igrejas onde tínhamos “apelos ao altar” e esta pode ser a coisa mais próxima que nós cristãos modernos temos do “chamado ao altar” medieval, a missa. Em nossas igrejas, o pastor atuaria como mediador, vendo nossa mão levantada “enquanto cada cabeça está baixa e cada olho fechado”, e nós iríamos para a frente onde ele estava, o chamado “altar” e repetiríamos uma oração após ele. Então ele afirmaria que, tendo “feito a oração”, nós agora estaríamos salvos. Eu me lembro de ter sido “salvo” novamente, e novamente. Quando me senti culpado após uma particular e desagradável noite de sábado, lá ia eu novamente ao altar. Cristãos medievais estavam sempre apavorados até a morte, por ver que poderiam morrer com pecados não confessados e assim iriam para o inferno. Assim, a missa era uma oportunidade de “estar em dia com Deus” e de “encher a banheira” que tinha tido um vazamento por causa do pecado.

Os reformadores, porém, diriam àqueles dentre nós que vivem ansiosos quanto ao fato de estar ou não dentro do favor de Deus, ou se estamos cedendo demais ou obtendo vitória: “Somente Cristo!” É a Sua vida e não a nossa, que conta para a nossa salvação; foi a Sua morte sacrificial e ressurreição vitoriosa que nos assegurou vida eterna. Porque Ele “entregou tudo”; o Seu mérito cobre totalmente o nosso demérito.

E isso nos traz ao próximo “sola” – “sola gratia” (Somente a Graça!) Roma acreditava na graça; de fato, a Igreja insistia que, sem a graça, ninguém poderia ser salvo. Só que a graça era o tipo de “um pó mágico” que ajudava a pessoa a viver uma vida melhor – com a ajuda de Deus. Os reformadores, em contrapartida, diziam que a graça não é uma substância que Deus nos dá para vivermos uma vida melhor, mas sim uma atitude em relação a nós, aceitando-nos como justos por causa da santidade de Cristo, e não nossa.

Por isso eles lançaram o quarto “somente” (sola), que sabemos ser “sola fide” (somente a fé). Considerando que somos salvos somente pela graça, como obtemos essa graça? Roma argumentava que essa graça era distribuída pela igreja através dos vários métodos que os “altos escalões” haviam inventado. Fé mais amor, ou fé mais boas obras, ou alguma coisa assim, tornou-se a fórmula para a salvação. Os reformadores ao contrário, insistiam que do início ao fim, “salvação é obra do Senhor” (João 2: 9). “0 Espírito dá vida; o homem em nada colabora” (João 6: 55). “Não depende da decisão, nem do esforço do homem, mas da misericórdia de Deus” (Rom 9: 16). Assim a fé em si mesma é um dom da graça de Deus e não se pode dizer dela que seja “a coisa” que nós fazemos na salvação: Pois nós não somos nascidos da vontade da carne ou da vontade do homem, mas de Deus” (João 1:13).

No minuto em que uma pessoa olha para “Cristo somente” para sua salvação, dependendo da Sua vida santa e sacrifício substitutivo na cruz, naquele exato momento ela ou ele é justificado (posto em posição de justiça, declarado justo, santo, perfeito). A própria santidade de Cristo é imputada (creditada) na conta do crente, como se ele ou ela tivessem vivido uma vida perfeita de obediência – mesmo enquanto aquela pessoa continua a cair repetidamente no pecado durante sua vida. 0 Cristão não é alguém que está olhando no espelho espiritual, medindo a proximidade de Deus pela experiência e progresso na santidade, mas é antes alguém que está “olhando para Cristo, o Autor e Consumador da nossa fé”( Heb. 12: 2). Resumindo, é o estilo de vida de Cristo, não o nosso, que atinge os requisitos de Deus, e é por Ele que a justiça pode ser transferida para nossa conta, pela fé (olhando somente para Cristo).

Finalmente, os reformadores disseram que tudo isso significa que Deus é quem tem todo o crédito. “Soli Deo Gloria” (Somente a Deus seja a Glória) era a forma que eles colocavam – nosso último “sola”, que quer dizer, “A Deus somente seja a Glória” Um evangélico, portanto, era centrado em Deus; alguém que estava convencido de que Deus havia feito tudo e que não restava nada que o homem considerasse seu a não ser seu próprio pecado. Isto não apenas transformou radicalmente a vida devocional dos crentes que o abraçaram, mas toda a estrutura social também.

Numa velha taverna do século XVII em Heidelberg, na Alemanha, lê-se no alto “Soli Deo Gloria!” Johann Sebastian Bach, o famoso compositor, assinou todas as suas composições com aquele slogan da Reforma. Do mesmo modo, um outro compositor, Handel, declarou, “Que privilégio é ser membro da igreja evangélica, saber que meus pecados estão perdoados. Se nós fossemos deixados à mercê de nós mesmos, meu Deus, o que seria de nós?” Grandes e nobres vidas requerem grandes e nobres pensamentos, e a soberania e a graça de Deus são, para o crente, grandes e nobres pensamentos. Os reformadores disseram a Roma o que J.B.Philipps, o tradutor inglês da Bíblia, disse à igreja contemporânea: “O Deus de vocês é muito pequeno”.

A Reforma, a qual produziu o termo “evangélico”, também recuperou a doutrina bíblica do “sacerdócio universal de todos os santos” e a noção bíblica do chamado e vocação. A igreja tinha dividido os cristãos em primeira classe (aqueles que serviriam no “ministério cristão em tempo integral”) e segunda classe (aqueles que estavam empregados em serviços “seculares”). Os reformadores concediam, por direito, que todos os cristãos são sacerdotes e são, por isso, ministros de Deus, independente de estarem varrendo uma sala para a glória de Deus, moldando uma peça de cerâmica, defendendo um cliente na corte, curando um paciente, ordenhando uma vaca, ou conduzindo uma congregação no louvor. Não há o “secular” e o “sagrado” – Deus criou o mundo inteiro e fez a vida neste mundo como algo inseparável de nossa própria humanidade.

Como nós ajustamos as coisas hoje?

A questão, é claro, é se “evangélico” hoje significa o que significou há quinhentos anos.

Em primeiro lugar, muitos dos evangélicos de hoje têm uma visão das Escrituras inferior à que a igreja de Roma tinha no século XVI. Instituições evangélicas de peso duvidam da confiabilidade da Bíblia e de sua infalibilidade – a menos, claro, que se trate daquilo que eles já decidiram que é verdade. Outros acreditam que a Bíblia é inerrante, porém acrescentam novas regras e revelações ao cânon. “A Bíblia é suficiente”, nos aconselhariam os reformadores. Os sermões, com muita freqüência, são “pop-inspiracionalistas” discursos superficiais de “Como criar filhos positivos” ou “Como ter uma auto-estima” em detrimento de sérias exposições das Escrituras. De acordo com o Gallup, “Os EUA são um país de iletrados bíblicos”, ainda que 60 milhões deles se consideram “evangélicos”.

Em segundo lugar, muitos evangélicos modernos também não acreditam que Cristo é suficiente. Às vezes pessoas muito boas e nobres substituem Cristo como nosso único Mediador, assim como o Espírito Santo. Enquanto louvamos o Espírito juntamente com o Pai e o Filho, o Filho tem este papel único de nosso único advogado e Mediador. Não devemos olhar para a obra do Espírito nos nossos corações, mas para a obra de cristo na cruz. Às vezes, nós temos mediadores humanos que não são o Deus-Homem Jesus Cristo. Precisamos de outras coisas pelo meio, como a figura do pastor no “apelo” do altar ao qual me referi anteriormente. Não muito tempo atrás eu vi um tele-evangelista de sucesso tirando o fone do gancho e informando seus telespectadores que “esta é sua conexão com Deus”. Uma banda secular, “Depeche Mode”, canta sobre “Seu próprio Jesus Pessoal” que pode ser contactado ao se pegar no fone e fazendo sua confissão. Enquanto estivermos neste assunto, também deveríamos mencionar que foi a venda de indulgências de John Tetzel (redução do período no purgatório em troca de valores em dinheiro) que inspirou as “Noventa e Cinco Teses “de Lutero, desencadeando a Reforma. “Quando a moeda bate no cofre”, o coro cantava, “uma alma do purgatório é vivificada”. Será que isso realmente é diferente da venda da salvação que temos visto na televisão cristã, rádio, e mesmo em muitas igrejas? Dinheiro e salvação têm sido distorcidos para serem uma coisa só no meio de muitos de nós. “Eles vendem salvação a você”, canta Ray Stevens, “enquanto eles cantam ‘Amazing Grace’ (‘Graça Maravilhosa’)”.

Muitos evangélicos hoje crêem que “Somente a Graça” (sola gratia) é algo como livre-arbítrio, uma decisão, uma oração, uma ida até a frente, uma segunda bênção, algo que nós façamos por Deus que nos dará confiança de sermos alvo do Seu favor. Doutrinas como eleição, justificação e regeneração são discutidas quase que nunca, porque elas mostram o quadro de uma humanidade que é incapaz e nem ao menos pode cooperar com Deus em matéria de salvação. Se nós formos salvos é Deus e Deus somente que deverá faze-lo.

E sobre “Somente a Fé” (sola fide)? Muitos evangélicos acham que a fé não é suficiente. Se um indivíduo crê em Cristo e daí sai e o anuncia, será que a fé é suficiente? Alguns insistem que a fé mais a entrega, ou a fé mais a obediência, ou fé mais um sincero desejo de servir ao Senhor servirão como uma fórmula. 0 fato de que os evangélicos hoje lutam com estas questões indica que nós não ouvimos o “som seguro” de “Somente a Fé” em nossas igrejas. Fé é suficiente porque Cristo é suficiente.

Como se comparariam os evangélicos de hoje com os seus predecessores em matéria de “Somente a Deus seja a Glória”? Auto-estima, glória-própria, centralidade do “eu” parecem dominar a pregação, ensino e a literatura popular do mundo evangélico. Os evangélicos de hoje sabem muito pouco do grande Deus dos reformadores – um Deus que faz tudo conforme o Seu agrado, em relação aos céus e às pessoas sobre a terra e “que faz tudo conforme o conselho da Sua vontade” (Dn. 4; Ef. 1: 11). Os evangélicos hoje, refletindo sua cultura e sociedade mais ampla, estão intimidados por um Deus que é Deus. Porém que outro Deus é digno de confiança? Em poucas palavras, que outro Deus existe? Louvar ao Deus de uma experiência pessoal ou o Deus de preferência pessoal é louvar um ídolo. Os reformadores levaram isso a sério, e aqueles que quiserem ser evangélicos genuínos também devem faze-lo.

Conclusão

Muitas pessoas se perguntam por que o povo da “Reforma” parece bravo. Ninguém quer estar ao redor de pessoas bravas – e eu não gostaria de ser conhecido como uma pessoa “brava”. Mas precisamos encarar o fato de que estes são tempos de grande infidelidade para o povo de Deus. A nós foi dada uma fé rica, com Cristo no centro. Porém trocamos nossa rica dieta por um saco de pipocas e estamos mal nutridos. Se os evangélicos terão a mesma saúde espiritual que tiveram em épocas passadas, eles terão que voltar para as verdades que fazem de “evangélicos” “evangélicos”. A Bíblia – nosso único fundamento; Cristo – nossa única esperança; Graça – nosso único evangelho; Fé – nosso único instrumento; a Glória de Deus – nosso único alvo; o Sacerdócio de todos os santos – nosso único ministério. Este evangelicalismo original ainda é suficiente para fazer, mesmo de nossas menores vitórias, algo muito grande.

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Nota Sobre o Autor: Dr.michael Horton é professor no Seminário Teológico Reformado, Orlando-Flórida e editor da revista Modern Reformation.

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Vida cristã Watchman Nee

Cristão ou membro do Corpo (Watchman Nee)

Ser cristão é individual, ao passo que ser membro é coletivo. Ser cristão se faz por si mesmo, ao passo que ser membro é para o Corpo. Uma vez que a pessoa vê o Corpo de Cristo, ela está livre do individualismo, e já não viverá para si mesma, mas para o Corpo. O Corpo de Cristo não é uma doutrina: não é um ensinamento, mas uma vida. Se percebermos que um cristão nada mais é que um membro, não nos orgulharemos mais. Tudo depende do que vemos. Os que vêem que são membros certamente valorizam o Corpo. e honram os outros membros. Eles não vêem apenas as próprias virtudes, mas prontamente reconhecem que os demais são melhores do que eles.

Cada membro tem sua função, e todas as funções são para o Corpo. A função de um membro é de todo o Corpo. Quando um membro faz algo, todo o Corpo o faz. Não podemos separar os membros do corpo. Portanto, o movimento dos membros do Corpo deve ter em vista o Corpo. Tudo que os membros fazem deve ser para o Corpo. Efésios 4 fala que o Corpo cresce até ser varão perfeito (VRC). Não diz que os indivíduos crescem até ser varões perfeitos. No capítulo três, a capacidade de conhecer o amor de Cristo e compreender qual é a largura, o cumprimento, a altura e a profundidade do Senhor é com todos os santos. Ninguém pode conhecer ou compreender sozinho. Uma pessoa individualmente não tem tempo nem capacidade para experimentar o amor de Cristo de tal maneira.

(Extraído do livro O Mistério de Cristo)

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Cristo Dave Hunt

A Palavra Viva de Deus (Dave Hunt)

The Berean Call Newsletter – Janeiro de 2001
Tradução de Mario Sergio de Almeida – Abril de 2004

Inspirado pelo Espírito Santo, Paulo declarou: “Porque as suas [de Deus] coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;” (Rom. 1:20). Deus providenciou para observadores humildes do universo ampla evidência de sua existência disponível em todas as culturas na história. Portanto, não há desculpa para rejeitar o testemunho da criação. Tanto é que os Salmos declaram duas vezes, bruscamente: “Disse o néscio no seu coração: Não há Deus.” (Sal. 14:1; 53:1).

Os cristãos há muito tempo têm apontado para a criação como prova de um projeto e, portanto, de um projetista, ou seja, um Criador. Ateus têm insistido que a ciência resolveria todas as questões sobre o cosmos e, desse modo, querem acabar com a necessidade de um Deus para explicar qualquer coisa. Eles persistem nesta ilusão, a despeito de que, para cada descoberta que a ciência faz, as evidências da existência de Deus se tornam mais irresistíveis.

Para cada porta que a ciência abre, são reveladas outras dez portas fechadas. Enquanto o conhecimento do universo está se expandindo exponencialmente, o desconhecido se expande ainda mais, como imagens refletidas numa sala de espelhos. Descobertas científicas, forçosamente, apontam para uma sabedoria e poder, sem começo ou fim e infinitamente além da compreensão humana, de um Ser que, sozinho, poderia ter trazido todas as coisas à existência.

Em parte alguma a evidência de Deus é mais forte do que nas formas de vida, especialmente desde a descoberta do microscópio eletrônico e da invenção dos computadores. Investigando a vida em nível molecular, descobrimos que o seu intrincado e engenhoso projeto funcionam além da imaginação. Refletindo sobre este fato 3.000 anos adiantado, Davi disse: “Eu te louvarei, porque de um modo assombroso, e tão maravilhoso fui feito; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem.” (Sl. 139:14). Observando o espantoso projeto e funcionamento, mesmo dos micróbios ou insetos, sem falar do corpo humano, somos forçados a admitir que Davi estava correto: Não poderíamos ter evoluído, mas sim, criados.

Até mesmo o determinado proponente da evolução, Richard Dawkins, confessa que as coisas vivas “dão a impressão de terem sido criadas com um propósito” (The Blind Watchmaker [Longman, England, 1986], 20). Ele admite, inclusive, que o núcleo de toda célula (a menor unidade viva; existem de células trilhões no corpo humano) contém “uma base digital de dados codificada maior, em informação e conteúdo, do que todos os 30 volumes da Enciclopédia Britânica juntos” (ibid 29). Apenas a probabilidade matemática de se colocar milhões de letras alinhadas na ordem correta por acaso está fora de questão. Para existir vida, alguma coisa mais impressionante está envolvida do que o acaso organizando bilhões de moléculas químicas na ordem certa. Dawkins faz referência a uma base digital de dados codificada! Esta é uma terminologia recente, nunca imaginada por Darwin. As moléculas de DNA não devem apenas ser colocadas na ordem correta, mas elas têm que, como letras, expressar informação numa linguagem, que provê instruções para serem seguidas.

Cada pessoa, no momento da concepção, começa como uma única célula. Como esta célula sabe o que fazer, para construir um corpo formado por trilhões de células individuais, de espécies e funções diferentes? A maior parte das crianças em idade escolar sabe a resposta: Impressa naquela célula original estão instruções para a construção e operação do corpo humano, que serão executadas sem erro. O DNA replica esta heliografia dentro de cada célula produzida. Estas, por sua vez, espantosamente, saberão qual parte das instruções deverão seguir.

As crianças hoje sabem que o DNA tem uma incrível capacidade de armazenar informação. Se na cabeça de um alfinete fossem colocadas informações contidas no DNA, seria o mesmo que empilhar livros a uma altura 500 vezes maior do que a distância entre a terra e a lua! Isto requer milhares de computadores pessoais para armazenar e processar tamanha quantidade de dados.

A construção do computador mais rápido do mundo está sendo terminada [em 2001]. Ele é chamado “Gene Azul” e fará um quatrilhão (1 com 15 zeros depois) de cálculos por segundo! Ele está sendo produzido para mapear os três bilhões de letras químicas impressas no genoma humano, iguais a 100.000 páginas de sentenças, com instruções operacionais de um ser humano. Tudo organizado por acaso?

A primeira tarefa do Gene Azul será entender como o corpo faz apenas uma molécula de proteína. Para resolver este problema, o computador funcionará 24 horas por dia, 7 dias por semana, durante 1 ano! Enquanto o corpo, seguindo as instruções impressas no DNA, cria uma molécula de proteína numa fração de segundo. Tais instruções, que este computador levará 1 ano para entender, foram geradas aleatoriamente? E tudo isto por causa de apenas uma molécula de proteína! “A probabilidade de se alcançar a ordem requerida, numa única e básica molécula de proteína, meramente por acaso, é estimada em uma chance em 1 seguido de 43 zeros. Considerando que milhares de moléculas de proteína são necessárias para construir uma única célula, a probabilidade se torna impossível.” ( Jerry R. Bergman, in In Six Days, John F. Ashton, ed. [New Holland Publishers, 1999], 29).

São necessárias várias espécies diferentes de enzimas (feitas de proteínas) para decodificar/traduzir a informação genética codificada no DNA, e as enzimas são independentemente codificadas para fazer o trabalho. Então, não seria vantagem para a evolução (mesmo se ela pudesse) imprimir informação genética no DNA; ao mesmo tempo, ela teria que codificar as enzimas para traduzí-las. Assim, o DNA e as enzimas para decodificá-las não poderiam ter “evoluído” por um período de tempo, ficando estagnadas no processo. Tudo deve estar funcionando perfeitamente em ordem desde o início. Em nível molecular, a evolução é uma piada de mal gosto!

Anos atrás, o dilema era: “O que veio primeiro, o ovo ou a galinha?” Hoje, o dilema é: “O que veio primeiro, a proteína ou o DNA?” É necessário proteína para construir o DNA, porém, é necessário DNA para fazer a proteína. Obviamente, ambos foram criados ao mesmo tempo; nenhum deles poderia ter evoluído.

Todavia, a lição do DNA aponta além da impossibilidade estatística, de algum modo colocando abaixo o processo aleatório, por um longo tempo. As três bilhões de letras químicas expressam informação numa linguagem, que deve ser lida para ser usada! A linguagem, necessariamente, envolve idéias compostas a partir de regras gramaticais, que podem ser criadas e expressadas apenas por uma inteligência. Isto nos leva além das estatísticas e matéria, colocando-nos noutra realidade, envolvendo questões que não podem ser compreendidas por tecidos feitos de células.

Linguagem expressa pensamentos, e pensamentos não são físicos! Eles podem ser articulados em formas físicas, tais como sons ou palavras e sentenças numa página, ou ainda em letras químicas codificadas no DNA. Obviamente, de qualquer forma, os pensamentos sendo comunicados pela linguagem são independentes do material através do qual são expressos. Necessariamente, tem que haver uma inteligência, uma fonte não física, independente dos meios físicos de armazenamento ou comunicação. A Bíblia, é claro, diz que Deus, que codificou o DNA, é Espírito (Jo. 4:24).

O fato de que a vida é criada e funciona por linguagem, originada por uma inteligência, proveniente de uma fonte não física, acaba de uma vez por todas com a evolução. A química não poderia colocar pensamentos inteligentes numa linguagem que contém as instruções para construir e operar uma única célula, muito menos as trilhões de células do corpo humano! O fato de que o DNA é construído para replicar a si mesmo precisamente, e falha apenas por causa de erros destrutivos, elimina até mesmo a evolução teísta.

Somos levados pela ciência e lógica a admitir que a vida, em qualquer forma, tem a sua fonte somente num Deus que é independente do universo material. Que não pode haver mais de uma fonte, isso é provado pela uniformidade e universalidade da linguagem. Estes fatos inevitáveis refutam não apenas o ateísmo, mas também o panteísmo e o politeísmo, as maiores ilusões do paganismo.

O DNA, é claro, não entende a informação codificada nele próprio. Ele é um mecanismo construído e programado pelo Originador da linguagem, para seguir Suas instruções automaticamente. E o mais complexo mecanismo construído pelo DNA é o cérebro humano. Mais avançado do que qualquer computador já produzido pelo homem, ele contém mais de 100 bilhões de células nervosas conectadas por 444 quilômetros de fibras nervosas, inter-relacionadas por 100 trilhões de conexões.

Com toda esta complexidade, o cérebro não origina ou entende o que está fazendo, tal como o próprio DNA. O cérebro não origina os pensamentos. Se o fizesse, teríamos que fazer qualquer coisa que ele decidisse. Ao contrário, nós (a pessoa real por dentro) produzimos as idéias, tomamos decisões, e nossos cérebros recebem estes pensamentos não físicos, traduzindo-os em ações físicas, através de uma conexão entre o espírito e o corpo, que a ciência não pode sondar.

Wilder Penfield, um dos mais renomados neurocirurgiões do mundo, descreve o cérebro como um computador programado por algo independente de si mesmo, a mente. A ciência não pode escapar ao fato de que o homem, como seu Criador, tem que ser não material para originar os pensamentos, a serem processados pelo cérebro. Mas o homem não origina o pensamento por si mesmo. Ele próprio não cria ou tem a capacidade de pensar. A Bíblia diz que Deus, o qual é Espírito, criou o homem “à sua imagem” (Gen. 1:27), que é uma “alma vivente” (2:7), sou seja, um ser não físico tal como seu Criador, capaz de pensar e tomar decisões. Esta habilidade faz dele moralmente responsável diante de Deus. Escapar desta responsabilidade é única razão do ateísmo.

Não apenas a ciência tem falhado em se esconder de Deus, mas os últimos dados de computadores e exames da vida em nível molecular também confirmam o que a Bíblia sempre disse. Cristãos se perguntaram por séculos o que significava dividir, pela Palavra de Deus, até mesmo “juntas e medulas” (Heb. 4 12). Agora sabemos que a linguagem codificada por Deus no DNA, no ato da criação, faz exatamente isto. Porém, Deus se comunica com o homem em seu espírito numa linguagem elevada, que “é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Heb. 4:12). Esta verdade é imutável porque “Para sempre, ó SENHOR, a tua palavra permanece no céu” (Sal. 119:89).

Muito antes da ciência moderna, Davi escreveu: “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Não há linguagem nem fala onde não se ouça a sua voz. A sua linha se estende por toda a terra, e as suas palavras até ao fim do mundo.” (Sal. 19:1-4).

Tudo fica ainda mais emocionante, e aumenta a glorificação a Deus, quando permitimos as Escrituras exporem a respeito do papel essencial que a linguagem exerce em toda criação. Gênesis 1 nos mostra que Deus disse: “Haja luz”, etc. O Novo Testamento nos mostra que “a Palavra era Deus. Todas as coisas foram feitas por ele…” (Jo. 1:1-2). A diante, lemos: “os mundos pela palavra de Deus foram criados” (Heb. 11:3). E os céus, “pela mesma palavra… se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios.” (2 Ped. 3:7). Jesus disse: “Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia.” (Jo. 12:38).

A capacidade humana de estudar e entender a linguagem do DNA é prova de que ele é um ser não físico, como o Originador do DNA e, portanto, capaz de um relacionamento espiritual com o Criador, que é muito diferente de qualquer parte do corpo humano. Sua habilidade de formar idéias conceituais e expressá-las num discurso, o capacita a receber comunicação do seu Criador numa linguagem que o homem (não animais) pode entender e obedecer. A consciência nos mostra quando desobedecemos. A Bíblia diz que acreditar e obedecer esta comunicação de Deus é absolutamente essencial para a vida espiritual. Moisés declarou, há 3.500 anos: “o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem.” (Deut. 8:3).

Desde a rebelião de Adão, seus descendentes estão, por natureza, todos “mortos em ofensas e pecados” (Ef. 2:1) e devem nascer de novo para a vida espiritual pela Palavra de Deus, através do Espírito de Deus, na Sua família: “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.” (Jo. 3:6); “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre. Porque Toda a carne é como a erva, E toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor; Mas a palavra do Senhor permanece para sempre.” (1 Ped. 1:23-25); “a palavra da fé, que pregamos” (Rom. 10:8). O salmista disse: “engrandeceste a tua palavra acima de todo o teu nome.” (Sal. 138:2).

Milagrosamente, os filhos do seu “pai, o diabo” (Jo. 8:44) podem se tornar os “filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus” (Gal. 3: 26). Sim, “agora somos filhos de Deus…” (1 Jo. 3:2). Depois de recebermos vida espiritual dEle, pela fé na Sua Palavra, somos capazes de manter um relacionamento de adoração com o Pai, porque “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” (Jo. 4:24).

Qualquer um pode ver o sério erro de procurar por coisas físicas, como o batismo e a hóstia, para se obter vida espiritual. Sim, Jesus disse: “Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.” (Jo. 6:53). Claramente, por “comer” e “beber”, Ele quis dizer “acreditar”: “quem crê em mim nunca terá sede…Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna;” (vv. 35-40). Como Ele explicou para aqueles que não puderam entender: “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida.” (v. 63)

A existência do homem como um ser não físico não põe fim à morte do seu corpo material. Para o cristão, a morte significa a separação temporária de ambos, da alma e espírito, do corpo material: “Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor.” (2 Cor. 5:8). Tal separação acaba quando o “Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro… Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.” (1 Tess. 4:13-18) e “carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção … todos seremos transformados; Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade.” (1 Cor. 15:50-53). Ou seja, as almas e espíritos dos salvos, daqueles que estiveram em Sua presença enquanto seus corpos estavam dormindo no túmulo, serão reunidos novamente ao seu novo corpo glorificado, igual ao de Jesus Cristo (Filip. 3:21). Isto é fantástico? Não mais do que a criação!

Sua esposa, retirada da terra e levada à casa de Seu Pai, como Ele prometeu (Jo. 14:1-3), depois do “tribunal de Cristo” (2 Cor. 5:10), será “vestida de linho fino, limpo e branco” e casar-se-á com seu Senhor (Ap. 19:7-8). Aquele que retorna triunfantemente ao Monte das Oliveiras (de onde Ele ascendeu – Atos 1:9-12) liderando seus exércitos celestiais como “Rei dos reis, e Senhor dos senhores,” … vestido “de uma veste salpicada de sangue; e o nome pelo qual se chama é a Palavra de Deus .” (Ap. 19:11-16)

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A. W. Tozer Vida cristã

Para que e do que fomos salvos (Aiden Wilson Tozer)

A Igreja Evangélica de hoje se encontra na delicada situação de estar errada ao mesmo tempo em que está certa; uma simples preposição nesse caso faz a diferença.

Penso que não há dúvida, mas se deixarmos a Bíblia decidir o que está certo e o que está errado, os evangélicos estão certos em sua posição doutrinária. Até o céptico H. L. Mencken disse: “Se a Bíblia é verdadeira, os fundamentalistas estão certos.” Ele não confirmou a fidelidade bíblica, mas foi inteligente o suficiente para ver que as doutrinas básicas ensinadas pelos fundamentalistas eram idênticas aquelas ensinadas pela Bíblia.

Um ponto em que estamos errados e, ao mesmo tempo certos, está na ênfase relativa que damos às preposições para e de quando estas acompanham a palavra salvos. Por uma longa geração, defendemos a palavra da verdade ao mesmo tempo em que nos afastávamos dela em espírito porque estávamos preocupados com a questão do que fomos salvos em vez da questão para que fomos salvos.

A importância correta referente a estes dois conceitos é apresentada por Paulo em sua primeira epístola aos Tessalonicences: “(…) e como, deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro e para aguardardes dos céus o Seu Filho” (1:10).

O cristão é salvo dos seus pecados do passado. Ele não tem mais nada a ver com eles; esses pecados estão entre as coisas que devem ser esquecidas assim como o é a noite ao romper do dia. Ele também é salvo da ira vindoura. Também nada tem a ver com isso. Ela existe, mas não para ele. O pecado e a ira tem uma relação de causa e efeito, e uma vez que o pecado do cristão é anulado, a ira também é revogada. As preposições de da vida cristã dizem respeito a preposições negativas, e interessar-se profundamente por elas é viver em um estado de negação. Contudo, esta é a situação vivida por muitos cristãos sérios na maior parte do tempo.

Não fomos chamados para ter comunhão com a inexistência. Fomos chamados às coisas que existem na verdade, às coisas positivas, e é quando nos ocupamos com essas coisas que nossa alma é curada. A vida espiritual não pode se satisfazer com situações negativas. O homem que constantemente relembra as maldades dos dias em que não era convertido está olhando para a direção errada. É como um homem que tenta vencer uma corrida olhando pra trás por sobre os ombros.
O que o cristão costuma ser é a questão menos importante a seu respeito. O que deveria ser é tudo o que deveria lhe importar. Ele pode, de vez em quando, como fez Paulo, lembrar-se da vida que outrora levava para sua própria vergonha; mas isto não deve passar de um rápido retrospecto; nunca deve ser um olhar fixo. Nosso olhar permanente e prolongado está em Deus e na glória que será revelada.

De que fomos salvos e para que fomos salvos têm a mesma relação entre si como uma doença grave e a saúde recuperada. O médico deve se colocar entre esses dois elementos antagônicos para salvar alguém de uma condição e restaurá-lo à outra. Curada a terrível doença, sua lembrança deve ser banida da mente a fim de que fique mais vaga e mais fraca uma vez que se trata de um fato muito distante; e o ditoso homem, cuja saúde foi restabelecida, deve continuar a usar sua nova força para realizar algo útil para a humanidade.

Contudo, muitas pessoas permitem que o estado debilitado de seu corpo limite sua capacidade mental de modo que, após o restabelecimento do corpo, elas ainda guardam o velho sentimento de invalidez crônica que sentiam antes. Estão restabelecidas, é verdade, mas não para alguma coisa. Basta imaginarmos um grupo de pessoas testemunhando todos os domingos sobre suas últimas enfermidades e entoando cânticos tristes sobre elas e teremos um quadro perfeito de muitas reuniões cristãs de hoje.

Há uma arte por trás do esquecer, e todo cristão deve tornar-se um mestre nela. Esquecer as coisas que ficaram para traás é uma necessidade positiva para que nos tornemos simples crianças em Cristo. Se não podemos confiar em Deus para lidar com eficiência com nosso passado, podemos pegar uma esponja e começar a apagá-lo. Cinquenta anos sofrendo por nossos pecados não podem apagar a nossa culpa. No entanto, se Deus, de fato, nos perdoou e nos purificou, então, devemos dar a questão por encerrada e não perder mais tempo com lamentações que para nada mais servem.

E, graças a Deus, o esquecimento súbito de nosso conhecido passado não nos deixa com um vazio. Longe disso. O bendito Espírito Santo de Deus corre para ocupar o lugar vazio deixado por nossos pecados e falhas, trazendo consigo toda novidade de vida. Uma nova vida, uma nova esperança, novas alegrias, novos interesses, uma nova obra significativa e, o melhor de todas as coisas, um novo e suficiente objeto para o qual voltar o olhar arrebatador de nossa alma. Deus agora enche o jardim restaurado, e não há razão para termos medo de caminhar e comungar com Ele no frescor do dia.

Bem aqui está o ponto de fraqueza de muitos cristãos atualmente. Não aprendemos o que devemos enfatizar. Em particular, não entendemos que fomos salvos para conhecer Deus, entrar em Sua presença repleta de milagres pelo novo e vivo caminho e permanecer nela eternamente. Fomos chamados para uma eterna preocupação em relação a Deus. O Deus Trino, com todo o Seu mistério e majestade, é nosso e somos dEle,e a eternidade não será longa o suficiente para experimentarmos tudo o que Ele é em termos de bondade, santidade e verdade.

Nos céus, a adoração extasiada da Divindade não cessa nem de dia nem de noite. Professamos estar a caminho deste lugar; não devemos começar agora a adorar na terra como adoraremos no céu?

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