Material de pesquisa para quem é questionado sobre a Bíblia
A Bíblia é um livro impressionante: ao mesmo tempo em que responde às perguntas de muitos, gera perguntas em outros. Qual cristão já não se deparou com pessoas questionando o Livro dos livros. “E aquele versículo? Não está em contradição com aquele outro?” E quando apelam para as descobertas científicas, o oráculo do homem moderno, as perguntas ficam ainda mais difíceis. Para ajudar aqueles que se vêem premidos por situações assim, é que o ministério Christian Debater preparou o Bible Query. Aqui, o cristão premido por inquiridores irá encontrar respostas – divididas nos seguintes assuntos, cada qual identificado por uma cor: arqueologia/história, línguas originais, prática, doutrina, lógica, manuscritos, traduções, experiência, profecia, ciência, falsas religiões e não-classificados – para dúvidas em todos os livros da Bíblia. Excelente ferramenta para se dar a razão da fé.
O Dr. Moody Stuart, um homem de oração, certa vez estabeleceu regras que o guiassem em suas orações. Entre essas regras, havia a seguinte: `Ore até orar de verdade´. A diferença entre orar até o momento em que você pára de orar, e orar até você realmente orar é ilustrada pelo evangelista americano John Wesley Lee. Ele sempre comparava um período de oração com um culto na igreja, e insistia que muitos de nós terminamos a reunião antes do culto ter terminado. Ele confessou que certa vez saiu cedo demais de uma reunião de oração e foi indo por uma rua para cuidar de alguns negócios urgentes. Ele não tinha caminhado muito quando uma voz em seu interior o repreendeu. `Filho,´ – a voz parecia perguntar – `você pronunciou a bênção quando a reunião não havia ainda terminado?´ Ele caiu em si e imediatamente voltou correndo ao lugar da reunião de oração, onde permaneceu até que toda a carga que sentia saiu e a bênção sobre si desceu.
O hábito de interromper nossas orações antes de termos realmente orado é algo tão comum quanto infeliz. Com freqüência os últimos dez minutos podem significar mais para nós do que a primeira meia hora, porque temos que gastar um bom tempo até atingirmos a verdadeira condição para uma oração efetiva. Pode ser que tenhamos que lutar com os nossos pensamentos de forma a retirá-los das muitas distrações que resultam do fato de habitarmos num mundo todo em desordem.
Aqui, assim como em todas as demais questões espirituais, temos que ter certeza de que estamos distinguindo o ideal do real. O ideal seria vivermos a cada momento num estado de perfeita união com Deus de forma que nenhum preparo fosse necessário. Mas na verdade são poucos os que honestamente podem dizer que é isso o que acontece em sua vida. Para sermos francos, a maioria de nós tem de admitir que com freqüência enfrentamos uma luta antes de ter condições de escapar de uma alienação emocional e de um senso de irrealidade que às vezes prevalecem em nós.
Não importando o que um idealismo sonhador possa dizer, somos forçados a encarar as coisas no nível da realidade prática. Se quando vamos orar o nosso coração sente-se endurecido e não espiritual, não deveríamos convencer-nos do contrário. Antes, devemos admitir a situação com franqueza, e então orar até o fim. Alguns cristãos chegam a sorrir diante da expressão `orar até o fim´, mas isso ou algo parecido com isso, é encontrado nos escritos de quase todos os grandes santos de oração, dos dias de Daniel até hoje.´
Não podemos parar de orar antes de termos orado de verdade.
(Extraído do livro Este mundo: lugar de lazer ou campo de batalha, Danprewan Editora)
(Umas palavras para os que trabalham na obra do Senhor)
“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persiste nela, pois fazendo isto, te salvarás a ti mesmo e aos que te ouvem” (1 Timóteo 4:16).
As palavras do texto citado são muito solenes e devem ser examinadas por todos aqueles que tem que apresentar ás almas a Palavra de Deus e a doutrina. O inspirado apóstolo dirige estas palavras á seu amado filho Timóteo, as quais contém a mais preciosa instrução para cada um dos que são chamados por Deus para ministrar na assembléia ou para pregar o Evangelho. Com toda segurança, tomar parte de tal ministério é um santo e elevado privilégio; mas ao mesmo tempo, o que o exerce tem uma enorme responsabilidade. A passagem citada na epígrafe expõe ante o obreiro do Senhor dois deveres sumamente importantes; deveres absolutamente essenciais aos quais deve prestar atenção com diligente oração e vigilância, se quer ser um obreiro útil na igreja de Deus, um “bom ministro de Jesus Cristo” (1ª Timóteo 4:6).
Primeiramente, deve cuidar de si mesmo, e logo cuidar do ensinamento ou doutrina.
1 – “Tem cuidado de ti mesmo” Consideremos em primeiro lugar este solene mandamento: “Tem cuidado de ti mesmo”. Seria difícil expressar todo o alcance moral destas palavras. É importante que todo crente as observe, mas principalmente um obreiro do Senhor, pois a este se dirigem em particular. Este, mais do que nada, necessita cuidar de si mesmo. Deve cuidar do estado de seu coração, de sua consciência, de seus afetos, seu espírito, seu caráter, sua linguagem, tudo deve manter-se embaixo do santo controle do Espírito e da Palavra de Deus. É necessário que esteja instruído com a verdade e vestido com a couraça da justiça. Sua condição moral e sua marcha prática devem concordar com a verdade que ministra; do contrário, o inimigo, com segurança, ganhará vantajem sobre ele. O mestre deveria ser a expressão vivente do que ensina; ao menos, tal deveria ser o objeto perseguido por ele com sinceridade, com veemência e com perseverança. É de desejar que esta santa medida esteja constantemente ante “os olhos de seu entendimento” (lit. coração) (Efésios 1:18).
Desgraçadamente, o melhor comete faltas e permanece sempre por debaixo dessa medida; mas se seu coração é sincero, se sua consciência é delicada, se o temor de Deus e o amor de Cristo ocupam nele seu devido lugar, o obreiro do Senhor não se sentirá satisfeito com nada que esteja abaixo da medida divina, seja em seu estado interior ou em seu andar exterior. Em todo tempo e em todo lugar, seu ardente desejo será manifestar em sua conduta o efeito prático de seu ensinamento, e ser “exemplo dos crentes em palavra, conduta, amor, espírito, fé e pureza” (1ª Timóteo 4:12). E quanto á seu ministério, todo obreiro do Senhor deveria poder dizer:
“Não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor; e a nós mesmos como vossos servos por amor de Jesus” (2 Coríntios 4:5). Todavia, jamais devemos perder de vista o tão importante fato moral de que o mestre deve viver a verdade que ensina. Moralmente, é extremamente perigoso que um homem ensine em público o que sua vida prática desmente – perigoso para si mesmo, desonroso para o testemunho e prejudicial para aqueles a quem ensina. Que deplorável e humilhante é para um homem, quando contradiz com sua conduta pessoal e sua vida doméstica a verdade que apresenta publicamente na Assembléia. Isto é algo que há de se temer sobremaneira e que terminará indefectivelmente nos resultados mais trágicos. Que o firme propósito e o vigoroso desejo de todos os que ministram a Palavra e apresentam a doutrina seja pois a de alimentar-se com a preciosa verdade de Deus, de apropriar-se dela, e de viver e mover-se em sua atmosfera, de modo que seu homem interior seja fortalecido e formado por ela; que ela habite ricamente neles, e que desse modo possa correr em direção aos demais com seu vivo poder, sabor, unção e plenitude. É algo muito pobre, e inclusive perigoso, sentar-se ante a Palavra de Deus como um mero estudante, com o objetivo de preparar conferencias ou sermões para pregar aos demais. Nada poderia ser mais cansativo e seco para a alma. O uso meramente intelectual da verdade de Deus, acumular na memória certas doutrinas, pontos de vista e princípios, e logo expo-los com alguma facilidade de palavras, é por sua vez desmoralizador e enganoso. Poderíamos estar extraindo água para os demais e ao mesmo tempo ser, nós mesmos, como encanamento enferrujado. Não há nada mais triste que isso. O Senhor disse “Se alguém tem sede, venha a mím e beba”. Não disse extrai-a. A verdadeira fonte e o poder de todo ministério da Igreja se achará sempre ao beber nós mesmos da água vivificante e não extraí-la para os demais. O Senhor segue dizendo: “Quem crê em mím, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva” (João 7: 37-38). É necessário que permaneçamos muito perto da fonte eterna, o coração de Cristo, e beber dela longos goles e continuamente. Desse modo nossas próprias almas se refrescarão e serão enriquecidas; rios de benção correrão delas para refrigério dos demais, e torrentes de louvor subirão ao trono e ao coração de Deus por Jesus Cristo. Este é o ministério cristão, o cristão mesmo; e toda outra coisa carece absolutamente de valor.
“Pela fé, Abel… Pela fé, Noé… Pela fé, Abraão…” Assim é que o Espírito Santo conta as incríveis proezas que Deus fez por intermédio dos homens que ousavam confiar unicamente nEle. Foi no século XIX que Deus acrescentou o seguinte a essa lista: “Pela fé, George Müller levantou orfanatos, alimentou milhares de órfãos, pregou a milhões de ouvintes ao redor do globo e ganhou multidões de almas para Cristo”.
George Müller nasceu em 1805, de pais que não conheciam a Deus. Com a idade de dez anos, foi enviado a uma universidade, a fim de preparar-se para pregar o evangelho, não, porém, com o alvo de servir a Deus, mas para ter uma vida cômoda.
Aos vinte anos de idade, contudo, houve uma completa transformação na vida desse moço. Assistiu a um culto onde os cristãos, de joelhos, pediam que Deus fizesse cair a Sua bênção sobre a reunião. Ficou profundamente comovido com o ambiente espiritual a ponto de buscar também a presença de Deus.
Foi nesses dias, depois de sentir-se chamado para ser missionário, que passou dois meses hospedado no orfanato do famoso A. H. Frank. Mais ou menos no mesmo tempo em que George Müller hospedou-se no orfanato, um certo dentista, o senhor Graves, abandonou as suas atividades que davam um salário de 7.500 dólares por ano, a fim de ser missionário na Pérsia, confiando só nas promessas de Deus para suprir todo o seu sustento.
Logo depois chegou a reconhecer o erro, mais ou menos universal, de ler muito acerca da Bíblia e quase nada da Bíblia. Esse livro tornou-se a fonte de toda a sua inspiração e o segredo do seu maravilhoso crescimento espiritual. “O Senhor me ajudou a abandonar os comentários e a usar a simples leitura da Palavra de Deus como meditação. O resultado foi que, quando, a primeira noite, fechei a porta do meu quarto para orar e meditar sobre as Escrituras, aprendi mais em poucas horas do que antes durante alguns meses”. E acrescentou: “A maior diferença, porém, foi que recebi, assim, força verdadeira para a minha alma”.
George Müller achava quase impossível ajuntar e guardar dinheiro para qualquer imprevisto, e não ir direto a Deus. “Sem me aperceber, tenho sido levado a confiar no braço da carne, mas o melhor é ir diretamente ao Senhor”.
Certo dia, quando só restavam oito xelins, Müller pediu ao Senhor que lhe desse dinheiro. Esperou muitas horas sem qualquer resposta. Então chegou uma senhora e perguntou: – “O irmão precisa de dinheiro?” Foi uma grande prova de sua fé, porém, o pastor respondeu: – “Minha irmã, eu disse aos irmãos, quando abandonei meu salário, que só informaria o Senhor a respeito de minhas necessidades”. – “Mas”, respondeu a senhora, “Ele me disse que lhe desse isto”, e colocou 42 xelins na mão do pregador.
Nessa ocasião, George Müller fez para si a seguinte regra, da qual nunca mais se desviou: “Não nos endividaremos, porque achamos que tal coisa não é bíblica (Rm. 13:8). Assim sempre saberemos quanto realmente possuímos e quanto temos o direito de gastar”.
Um outro segredo que o levou a alcançar tão grande bênção de confiar em Deus, foi a sua resolução de usar o dinheiro que recebia somente para o fim a que era destinado.
“Sentindo grande necessidade ontem de manhã, fui dirigido a pedir com insistência a Deus e, em resposta, à tarde, um irmão me deu dez libras”. Muitos anos antes de sua morte, afirmou que, até aquela data, tinha recebido da mesma forma 5.000 vezes a resposta, sempre no mesmo dia em que fazia o pedido.
Era seu costume, e recomendava também aos fiéis, guardar um livro. Numa página assentava seu pedido com a data e no lado oposto a data em que recebera a resposta. Desse modo, foi levado a desejar respostas concretas aos seus pedidos e não havia dúvida acerca dessas respostas.
“Ao orar, estava lembrado de que pedia a Deus o que parecia impossível receber dos fiéis, mas que não era demasiado para o Senhor conceder”. Ele orava com noventa pessoas sentadas às mesas: “Senhor, olha para as necessidades de teu servo”. Essa foi uma oração que Deus abundantemente respondeu. Antes de morrer, testificou que, pela fé, alimentava 2.000 órfãos, e nenhuma refeição se fez com atraso de mais de 30 minutos.
Muitas pessoas perguntavam a George Müller como conseguia ele saber a vontade de Deus, pois nada fazia sem antes ter a certeza da vontade do Senhor. Ele respondia:
1) “Procuro manter o coração em tal estado que ele não tenha qualquer vontade própria no caso. De dez problemas, já temos a solução de nove, quando conseguimos ter um coração entregue para fazer a vontade do Senhor, seja essa qual for. Qaundo chegamos verdadeiramente a tal ponto, estamos, quase sempre, perto de saber qual é a Sua vontade.
2) “Tenho o coração entregue para fazer a vontade do Senhor, não deixo o resultado ao mero sentimento ou a uma simples impressão. Se o faço, fico sujeito a grandes enganos”.
3) “Procuro a vontade do Espírito de Deus por meio de Sua Palavra. É essencial que o Espírito e a Palavra acompanhem um ao outro. Se eu olhar para o Espírito, sem a Palavra, fico sujeito, também, a grandes ilusões”.
4) “Depois considero as circunstâncias providenciais. Essas, ao lado da Palavra de Deus e do Seu Espírito, indicam claramente a Sua vontade”.
5) “Peço a Deus em oração para que me revele a Sua própria vontade”.
6) “Assim, depois de orar a Deus, estudar a Palavra e refletir, chego à melhor resolução deliberada que posso com a minha capacidade e conhecimento; se eu continuar a sentir paz, no caso, depois de duas ou três petições mais, sigo conforme essa direção. Nos casos mínimos e nas transações de maior responsabilidade, sempre acho esse método eficiente”.
George Müller, três anos antes de sua morte, escreveu: “Não me lembro, em toda a minha vida de cristão, num período de 69 anos, de que eu jamais buscasse, SINCERAMENTE E COM PACIÊNCIA, saber a vontade de Deus pelo ENSINAMENTO DO ESPÍRITO SANTO POR INTERMÉDIO DA PALAVRA DE DEUS, e que não fosse guiado certo. Se me faltava, porém, SINCERIDADE DE CORAÇÃO E PUREZA PERANTE DEUS, ou se eu não olhava para Deus, com PACIÊNCIA, ou se eu preferia o CONSELHO DO PRÓXIMO AO DA PALAVRA DO DEUS VIVO, então errava gravemente”.
Em resposta a muitos que queriam saber como o cristão pode adquirir tão grande fé, deu as seguintes regras:
1) “Lendo a Bíblia e meditando sobre o texto lido, chega-se a conhecer a Deus, por meio da oração”.
2) “Procurar manter um coração íntegro e uma boa consciência”.
3) Se desejamos que nossa fé cresça, não devemos evitar aquilo que a prove e por meio do que ela seja fortalecida”.
“Ainda mais um ponto: para que a nossa fé se fortaleça, é necessário que deixemos Deus agir por nós ao chegar a hora da provação, e não procurar a nossa própria libertação”.
(Extraído da Revista Plenitude, Ano 5, nº 31, de agosto de 1986).
“Creio… na ressurreição do corpo” — assim afirma o credo dos apóstolos e assim cristãos de tradições tão diversas, como católicos, ortodoxos e protestantes, têm unanimemente confessado sua fé através dos séculos. [1] A ressurreição é o alicerce da esperança do crente diante da morte.
A reencarnação
Dentre todas as idéias que se opõem à doutrina cristã da ressurreição, talvez a reencarnação seja a alternativa mais conhecida. Existem variações sobre a noção de reencarnação, mas a idéia básica é que a nossa vida atual neste mundo é uma repetição de outras existências vividas em outros corpos — a alma da mesma pessoa continua reencarnando, esquecendo as vidas passadas. As vidas futuras das pessoas são determinadas pela lei do carma, que afirma que os maus atos passados estão relacionados com a vida presente, e que as ações atuais da pessoa têm implicações para as vidas futuras. O estado (social e físico) no qual a pessoa nascerá no futuro é assim determinado. Alguns hindus e budistas acreditam que a essência que é reencarnada é uma essência impessoal, o que significa dizer que a pessoa em si realmente não existe mais. Diferente do ensino oriental, a idéia ocidental ressalta um conceito mais otimista da vida, sendo que o objetivo de múltiplas reencarnações é finalmente unir-se à divindade, tornando-se divino. Em síntese, “todos os ensinos reencarnacionistas baseiam-se numa cosmovisão monista, mística e ocultista, que promove a divindade essencial da humanidade, nega a noção de um Deus pessoal soberano e oferece a promessa de sabedoria esotérica” (R. M. Enroth).
Cristo ressuscitou
Segundo C. S. Lewis (1898-1963), “Jesus abriu à força a porta que estava fechada desde a morte do primeiro homem. Ele encontrou, enfrentou e derrotou o Rei da Morte. Tudo é diferente porque Ele fez isso”. Por isso, a ressurreição de Cristo faz parte essencial da pregação da Igreja em todos os tempos. A esperança da futura ressurreição dos crentes depende da ressurreição de nosso Senhor (1 Co 15.1-19). Em sua ressurreição, Cristo venceu a morte para podermos participar da justiça que em sua morte adquiriu para todos nós (1 Co 15.17, 54-55; Rm 4.25; 1 Pe 1.3, 21). À luz dos métodos historiográficos, a ressurreição de Jesus é o fato melhor atestado em toda a história. Algumas evidências históricas da ressurreição podem ser resumidas assim:
1. O medo do poder de Roma foi totalmente ignorado quando o selo romano posto sobre o túmulo foi quebrado;
2. Tanto judeus quanto romanos admitiram que o túmulo estava vazio. Ninguém podia encontrar ou mostrar o corpo. Por isso, o silêncio dos judeus é tão significativo quanto o falar dos cristãos;
3. De alguma maneira, diante da guarda romana, a pedra de quase duas toneladas foi removida da entrada do túmulo;
4. Uma guarda militar romana, altamente disciplinada, deixou seu posto e precisou ser subornada pelas autoridades para mentir sobre o que realmente aconteceu. Foi justamente para evitar o roubo do corpo que a guarda foi exigida (Mt 27.64s);
5. A mortalha, intacta, não continha o corpo. João Crisóstomo (344-407), bispo de Constantinopla, observou que ladrões não poderiam roubar o corpo nu, porque demora-se muito para tirar o linho: “ele [o corpo] foi enterrado com muita mirra, que cola o linho ao corpo assim como o chumbo” (Hom. 54, sobre João 4);
6. Mais tarde, Cristo apareceu a mais de 500 testemunhas em diferentes situações e a maioria ainda estava viva quando Paulo escreveu 1 Coríntios, entre 55 e 56 d.C. — cerca de 25 anos após a ressurreição;
7. Flavio Josefo, historiador judeu do final do primeiro século, disse: “Das mulheres, nenhuma evidência será aceita, por causa da frivolidade e temeridade do seu sexo” (Antigüidades iv.8.15). Por causa da desconsideração do judaísmo antigo em relação à confiabilidade das mulheres, se a história da ressurreição fosse realmente uma manipulação, elas nunca teriam sido escolhidas para ser as primeiras testemunhas do fato;
8. A evidência conclusiva contra a possibilidade de que os discípulos roubaram o corpo é a disponibilidade dos discípulos de sofrer e até morrer por sua fé, crendo que realmente houve a ressurreição do Senhor. E isto depois de terem fugido e se escondido durante a crucificação;
9. É importante perceber que não existe evidência para qualquer tentativa de refutação da ressurreição de Cristo por parte de seus adversários, nos primeiros séculos do cristianismo. A igreja foi construída sobre este fato: que Jesus Cristo, uma vez crucificado, ressuscitou dentre os mortos;
10. No fim, há uma ausência total de outras explicações satisfatórias para o fenômeno da ressurreição de Cristo; qualquer outra teoria não responde a toda a evidência.
Nossa ressurreição
As Escrituras são claras em prometer ressurreição aos que crêem. Ela é ensinada no Antigo Testamento explicitamente no Salmo 16.10, em Oséias 6.2, Ezequiel 37.1-14, Isaías 26.13-19, Daniel 12.2 e implicitamente no Salmo 49.14, 15, além de outros textos. É significativo que Jesus e os autores do Novo Testamento sustentaram que o Antigo Testamento ensina a ressurreição (Mc 12.24-27; At 2.24-32; 13.32-37; Hb 11.9). No Novo Testamento, esta foi uma das doutrinas mais elaboradas, principalmente nos escritos de Paulo (1 Co 15.1-58; 2 Co 5.15-17; 1 Ts 4.16s), sendo mencionada em quase todos os escritos (At 1.22; 2.24, 32; 3.15; 13.29s; Hb 6.1s; 11.19, 35; 1 Pe 1.3, 4; 3.19s; Ap 1.5; 5.9, 10; 20.5-15). O Novo Testamento afirma unanimemente que Deus vai ressuscitar os mortos e que isso não é considerado algo difícil demais para Ele fazer (At 26.8).
A realidade de nossa ressurreição é ensinada por dois fatos. O primeiro é que Jesus foi ressuscitado no mesmo corpo no qual Ele morreu. Em Lucas 23.39, vemos que Jesus não ressuscitou apenas na forma do espírito, mas fisicamente. O segundo é que nós teremos corpos iguais ao corpo de Cristo. Ele é “as primícias dos que dormem” (1 Co 15.21). A ressurreição implica uma continuidade entre o corpo físico que temos agora e o corpo que teremos no futuro. Os próprios santos martirizados serão incluídos na ressurreição (Ap 20.5) e haverá mútuo reconhecimento (Mt 8.11; Lc 13.28). Quanto a outros benefícios que os crentes recebem de Cristo na ressurreição, o Breve Catecismo de Westminster (1647) afirma: “Na ressurreição, os crentes, sendo ressuscitados em glória, serão publicamente reconhecidos e absolvidos no dia do juízo, e tornados perfeitamente felizes no pleno deleite de Deus, por toda a eternidade”.
A continuidade entre o corpo presente e o futuro é também marcada por algumas mudanças. Mateus 22.30 diz que no céu seremos como os anjos, não casados. É discutível se isso quer dizer que não existirá macho e fêmea no céu, mas as relações sexuais não continuarão. O corpo ressuscitado de Cristo tinha o poder de aparecer de repente entre os discípulos (Lc 24.36), mas era ainda um corpo físico (Jo 20.24-28). O corpo no estado futuro terá capacidades além daquelas que tem agora. O corpo será próprio para a existência celestial que teremos. Serão corpos perfeitos, sem corrupção, poderosos e gloriosos (1 Co 15.35-58). Estaremos livres das imperfeições e das necessidades que temos na terra. Em 1 Coríntios 15.50, Paulo diz que carne e sangue não podem herdar o reino de Deus, mas isso não elimina a possibilidade de uma ressurreição física. O corpo pode ser diferente do que é agora e ainda ser composto de matéria física. Como o erudito puritano Richard Sibbes (1577-1635) disse, “Deus prepara nossa alma aqui para possuir um corpo glorioso no porvir; e preparará o corpo para receber uma alma gloriosa”.
Ressurreição: obra do Deus triúno
Todos os membros da Trindade estão envolvidos na ressurreição dos crentes. Em alguns casos, se diz simplesmente que Deus ressuscita os mortos, sem especificar nenhuma pessoa (Mt 22.29; 2 Co 1.9). Mas a ressurreição é também mencionada como obra do Pai por meio do Espírito Santo (Rm 8.11). Mais particularmente, porém, a obra da ressurreição é atribuída ao Filho (Jo 5.21, 25, 28, 29; 6.38-40, 44, 54; 1 Ts 4.16), sendo destacado que há uma ligação especial entre a ressurreição de Cristo e a nossa ressurreição (1 Co 15.12-14).
Em conclusão, os cristãos crêem com convicção que “aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo” (Hb 9.27). Por isso, têm repudiado o ensino da reencarnação como uma séria e mortífera distorção da fé evangélica.
NOTAS:
1 – Este ponto precisa ser bem enfatizado, pois em anos recentes alguns têm suposto erroneamente que a Igreja cria na reencarnação, em seu início. A Igreja cristã nunca ensinou ou creu na reencarnação. Isso pode ser facilmente refutado com uma consulta ao Didaquê 16.6 e às obras de Inácio de Antioquia (Trall. 9.2), Clemente de Roma (1 Clem. 24-26), Justino (1 apol. 18s.), Irineu de Lião (Adv. haer. 1.6.2; 1.27.3; 5.1.2) e Tertuliano (De ressurr. carn.). A reencarnação foi ainda repetidamente rejeitada pelos Concílios de Lião (1274) e Florença (1439), bem como pelo do Vaticano II (1965, Lumen Gentium, 48). Em anos mais recentes, Rudolf Bultmann pretendeu negar a historicidade da ressurreição, tentando reinterpretá-la em termos de linguagem mitológica, sendo refutado pelos trabalhos de Oscar Culmann (Christ and time; Immortality of the soul or resurrection of the body?) e Herman Ridderbos (Bultmann, a ser lançado pela Editora Cultura Cristã), entre outros. A importância da doutrina da ressurreição na pregação e ensino cristãos pode ser facilmente comprovada a partir do estudo das obras de cristãos com métodos teológicos tão diferentes como Agostinho de Hipona (Enchir. 84-87; De civ. dei 22.20.1; 22.19), Tomás de Aquino (Expositio super Symbolo Apostolorum), João Calvino (Inst. 3.25) e Karl Barth (Church Dogmatics 3.2.47; 4.1.59), ou com uma consulta aos principais catecismos e confissões de fé da Igreja cristã.
Sobre o autor: Franklin Ferreira (Bacharel em Teologia, Mestre em Teologia, Bacharelando em Educação e Doutorando em Teologia) é professor de teologia sistemática no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, no Rio de Janeiro, e na Escola de Pastores, em Niterói.
Fonte: Revista Ultimato.
O Dr. Mabie escreveu em um de seus livros: “Na Escritura, a morte e ressurreição reconciliadoras são sempre tomadas juntas. Elas são partes inseparáveis de uma unidade real, partes gêmeas de um fato”. Isso é a própria verdade, mas na experiência e no ensinamento, o perigo encontra-se em não dar às “partes gêmeas” equilíbrio. Isso afeta os resultados da vida, pois você não pode ter o “positivo”vida-poder sem a “negativa” morte-aplicação. Se você super-enfatiza o “positivo”, a vida da ressurreição, então você não tem “negativo” suficiente, da morte-aplicação, para tratar com a vida do velho Adão, que está no caminho da nova criação, e tem de ser tratado pela morte dando lugar ao Cristo-Vida. Por isso, os dois devem receber igual ênfase e correr juntos na vida cristã. Morte e vida, Calvário e ressurreição: “artes gêmeas de um fato”. É pela falta de ver-se isso que há tantos cristãos unilaterais. Ou eles são tão “negativos”, por habitar muito no lado “morte” que não têm atividade de vida, ou eles estão tão ansiosos por evitar o “negativo” que habitam muito sobre o lado “positivo” da vida, e na experiência estão sob o perigo de chamar o lado velho da natureza1 de vida de ressurreição. Temos a necessidade do equilíbrio para obter uma real participação da vida de Deus. Mas é tão humano ir aos extremos! É somente quando conhecemos o perigo e confiamos em Deus para nos guardar, é que podemos ser mantido espiritualmente sóbrios e equilibrados na verdade.
Agora vamos para Romanos 6 ver nos versículos 10 e 11 como eles dão, não somente o que podemos chamar de “lado-morte” da Cruz, mas a chave para o “lado-vida” de nossa união com Cristo em Sua ressurreição. “Quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor.” Nessas três palavras, em Cristo Jesus, temos a chave para a vida de união com o Senhor ressurreto. Morremos com Cristo na cruz para que possamos “viver para Deus”, completamente em outra esfera, “em Cristo Jesus”. Lemos no verso 13: “Oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça.”
Agora, o que significa estar em “Cristo Jesus” no lado de ressurreição da cruz? Vamos para Romanos 7.4: “Vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos.” Numa nota de rodapé da bíblia de Scofield, a palavra “unidos” é indicada em lugar de “por meio”. A morte é o lado “negativo” da verdade; ser unido ao Senhor ressurreto é o lado “positivo”. Partes gêmeas de um fato. Por isso, não há dispensar de Sua vida ressurreta à parte Dele mesmo. Além do mais, a “união” é uma união de espírito. “Aquele que se une ao Senhor é um espírito com Ele” (1Co 6.17), não uma alma. Por isso, o lado “negativo” da morte com Cristo significa de modo prático, uma fuga, ou rompimento ou corte, daquilo que impede a união de seu espírito ao Cristo ressurreto. O resultado experimental da cruz é realmente um liberar do espírito. Ele estava aprisionado, por assim dizer, sob o poder da alma e da carne. O espírito estava tão envolvido na vida de natureza que não poderia estar plenamente unido a Cristo, que é Espírito despertador.
Mas como é feito o “cortar fora”? Como o Espírito de Deus aplica a cruz e efetua a morte-separação por meio da qual o espírito é libertado para estar unido a Cristo? Encontramos a resposta em Hebreus 4.12: “Porque a Palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito.” Aqui temos a divisão de algo que é imaterial e intangível. A Palavra, por essa razão, é uma arma espiritual, agindo com uma espada na esfera espiritual, na verdade, “dividindo” coisas imateriais. a parte da Palavra que faz isso é a Palavra da cruz, dividindo a alma do espírito, primeiro por dar ao crente as distinções entre os dois, e segundo, separando os dois quando o crente rende-se às operações da Palavra da cruz, falando da morte com Cristo. O versículo também diz que a Palavra discerne e revela os pensamentos, pois “todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos Daquele a Quem temos de prestar contas.” note que é o próprio Senhor usando a espada para cortar fora a velha vida. Somente Ele sabe como manejar a “espada do Espírito”, que cortará como uma faca, e, assim, o espírito é separado ou desemaranhado do enlace da alma.
Isso é psicológica e experimentalmente verdadeiro. No livro do Dr. Andrew Murray, “Espírito de Cristo”, ele dá no apêndice uma explanação muito clara da divisão da alma e do espírito que precisa ser feita no crente. Ele explica como o homem caiu do domínio do espíritosobre todo o seu ser, para a alma, e depois como a alma mergulhou na carne, até que finalmente Deus disse do homem: “Ele se tornou carne” (Gn 6.3). O espírito do homem, diz o Dr. Murray, pé que, dento de nós, é capas de conhecer a Deus. a alma é o assento da auto-consciência, e o corpo o assento da consciência sensorial. Um entendimento da psicologia da Bíblia é necessária para qualquer apreensão da vida plena de vitória por meio do trabalho ungido de nosso Senhor Jesus Cristo. Há mais a ser tratado dentro de nós do que o que chamados de pecado, e é mais do que pecado o que impede nosso pleno conhecimento de Deus.
Para conhecer na experiência real o lado vida da cruz, temos de conhecer não apenas a morte para o pecado, masa Palavra da cruz separando a alma do espírito, e, deste modo o espírito é liberado para estar unido ao Senhor ressurreto. a alma não é destruída nem o é a individualidade do crente. Não nos tornamos autômatos, mas a alma, a personalidade, deve ser avivada a partir do espírito, em vez de estar sob o domínio baixo da vida da natureza. Quando o espírito é, desse modo, um espírito com o Senhor ressurreto, é via espírito, dentro da mente, que experimentamos o guiar do Espírito e o íntimo conhecimento do Cristo pessoal. É por meio de nosso espírito unido a Ele pelo Espírito Santo que O conhecemos pessoalmente, pois o propósito toda da verdade é queO conheçamos tão bem como o poder de Sua ressurreição.
Agora, voltemos a Colossenses 2.6,7 para mais luz sobre o significado das palavras “em cristo Jesus. “Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele”. Quando nós recebemos Cristo, por um simples ato de fé, fomos colocados dentro Dele pela operação do Espírito de Deus. Cristo está em nós, e nosso espírito está unido a Ele como O Ressurreto, mas também devemos habita “Nele” como uma esfera na qual andamos dia a dia. Assim como começamos, devemos continuar simplesmente confiando Nele e contando com Ele, e habitando Nele. O lado vida da cruz significa estar vivo para Deus “em Cristo Jesus”.
“Nele radicados”, continua o apóstolo. Você não pode estar enraizado em um lugar hoje, e em outro amanhã. Isso mostra claramente a necessidade de nosso entendimento da cruz como a posição básica da qual não devemos nunca sair. É na Sua morte que devemos estar enraizados. Não podemos continuar numa vida na qual tomamos no passado a cruz ou avançamos para qualquer alvo deixando a cruz para trás. Fazer isso é como uma árvore rejeitando a própria raiz na terra. Temos de nos considerar “mortos de fato para o pecado” e viver para Deus, mas isso é “em Cristo Jesus”. “Nele temos de estar enraizados, e “Nele” ter nosso fundamento, onde estamos continuamente edificados. Temos de estar continuamente firmando nossas raízes profundamente em Sua morte.
Vamos ler João 3.16 e ver como o estar “em Cristo Jesus” começou no estágio inicial de nossa nova vida. Lemos: “Deus amou ao mundo de tal maneira, para que todo aquele que Nele crer” tenha vida. Por que os tradutores da Bíblia usaram a palavra “Nele” em vez de “para dentro”, eu não sei. Não cremos meramente “em” Cristo, mas cremos “para dentro” Dele. Newsberry diz que a palavra “para dentro” no original tem em si a idéia de movimento, e isso é muito sugestivo. Quando você crê “para dentro” de Cristo, você é tomado pela co-ação do Espírito Santo, e o Calvário é o lugar onde isso é feito. Somos colocados “dentro” Dele em Sua morte, e depois “dentro” Dele em Sua vida, no lado da ressurreição da cruz, “radicados Nele”. Por isso, “persevere firmemente em sua fé”. Quando você recebeu Cristo Jesus, o Senhor, você creu para dentro Dele, agora permaneça Nele, enraíze-se Nele, tenha sua fundação Nele, tenha sua vida espiritual edificada Nele.
Agora, vamos para Colossenses 2.9-11: “Nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade”. Quando habitamos Nele, temos a “plenitude” do Espírito. Você morreu com Ele; agora, unido em espírito a Ele, habite Nele e você estará num oceano de vida. Nele habita toda a plenitude da divindade na forma humana, e Nele você tem sua plenitude, pois Ele é a Cabeça de todo principado e potestade. “Se alguém está em Cristo, é nova criação: as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co 5.17). Pois, em Cristo Jesus, “nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova criatura” (Gl 6.15). “Em Cristo Jesus” nada é feito para depender de qualquer coisa externa. “Em Cristo Jesus” nada tem proveito, nada serve para qualquer uso, nada é de valor algum, a não ser ser uma nova criação.
Agora vamos para Efésios 2.4-6: “Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nosso delitos, nos deu vida juntamente com Cristo (…) e juntamente com Ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus.” Em Cristo está nossa raiz e nosso fundamento, dos quais não devemos nos mover, e aqui vemos o resultado daquela posição de morte. Unidos a Ele em espírito, estamos assentados com Ele em espírito “nos céus”. “Crucificados com Ele”, somos chamados para partilhar de Sua vida, “porque morrestes e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo em Deus” (Cl 3.3). Poder de ressurreição é poder de exaltação. Unir-se ao Ressurreto pode exaltar seu espírito e mantê-lo “acima de tudo” em Cristo; por mais profundamente que o espírito possa ter estado sob a escravidão da carne, ou mesclado com a vida de natureza da alma; estamos “assentados com Elenos Céus” pela união com Ele que, em Sua ascensão, “assentou”.Unidos a Ele, Ele nos sustenta quando habitamos e descansamos Nele
1 Natureza humana, caída, pecaminosa, de Adão; também no restante do texto.
Ao lado da pessoa de Jesus Cristo, a Igreja foi, e continua a ser, o grande campo de batalha da História. Tanto é verdade que um número sempre crescente de livros, jornais, periódicos, “Concílios”, “Convocações”, discursos, etc. se ocupa dessa questão como uma preocupação primária. No entanto, a maior parte de todos eles é sujeito à controvérsia, assim justificando a frase “o campo de batalha”. Tudo isso é muito significativo, indicando que é uma questão primária e algo que ocupa uma posição de destaque em termos de nossa responsabilidade. Isso é certo e, talvez, muito mais do que tudo o que se escreve e se fala a respeito encerra. Trata-se de uma preocupação primária no campo cósmico como um todo, a esfera sobremundana, se formos levar a sério tanto a evidência prática como as afirmações definidas do Novo Testamento, como, por exemplo, toda a carta escrita aos efésios e, em particular, Efésios 3.10 e 6.12.
Pode parecer arrogante e ambicioso para nós, que somos de tão pequeno valor em nós mesmos e tão insignificantes como um pequeno pedaço de papel, pensar que podemos tratar dessa imensa questão a fim de obter alguma vantagem pessoal. Tendo essa como uma preocupação primária por tantos anos e tendo visto a Igreja e as igrejas em tantos lugares, do Extremo Oriente ao Extremo Ocidente, exercitando a oração sobre a questão, talvez nos possa ser dado algo para dizer que lance um pouco de luz nas sombras ou na escuridão da imensa confusão existente com relação à Igreja. Nossa principal preocupação é a questão das expressões da assembléia local da Igreja, pois somente nela o verdadeiro significado da Igreja pode ser levado ao imediatismo.
Temos de começar fazendo a pergunta que inclui tudo o mais e realmente expressa o problema segundo a opinião de muitos:
Podemos agora aceitar a possibilidade de haver verdadeiras expressões locais da Igreja do Novo Testamento?
Essa pergunta — e não são poucos, mas muitos, os motivos pelos quais ela tem sido feita — tem recebido, em razão de sua agudez, muitas respostas ou tem sido criticada de muitas maneiras. Algumas delas são as seguintes:
1. Uma grande facção de cristãos tem respondido com um definitivo “NÃO”, e eles tomam como base o que chamam de “a posição de total ruína”. Eles dizem que a Igreja está em ruínas irremediáveis e, conseqüentemente, uma expressão corporativa não é mais possível. Sem dúvida, eles relacionam isso principalmente à Igreja em seu aspecto universal; no entanto, eles colocam o assunto da expressão local bem próximo disso, argumentando que no fim dos tempos tudo será individual. Eles baseiam sua argumentação em Apocalipse 2–3, onde o Senhor se dirige “ao vencedor”.
2. Depois, há aqueles cuja resposta é que a única possibilidade agora é uma expressão aproximada da Igreja. Ou seja, pode não existir uma expressão plena e completa, mas algo que se compare a ela, provisório e parcial. Pode haver algumas características e devemos nos basear em algumas coisas que percebemos estar no Novo Testamento. Dentre os maiores exemplos, as principais denominações representam essa posição. Os presbiterianos, por exemplo, baseiam sua posição em uma interpretação da ordem da igreja do Novo Testamento, segundo a concepção deles. O mesmo acontece com os luteranos, congregacionalistas, batistas, metodistas, irmãos unidos, etc. Para cada um deles, emprega-se o termo “igreja”. No entanto, trata-se de um conceito que é uma solução conveniente para o problema da expressão local, a saber, uma aproximação parcial do que ela é.
3. Em seguida, há a resposta expressa pelo que se pode chamar de “sublimidade”. Ou seja, a Igreja é uma concepção e idéia sublime. Ela é idealista e devemos viver no campo abstrato de uma concepção sublime e não tentar trazê-la “para a terra” nem sermos práticos e exigentes em demasia na realidade. Essa resposta e interpretação são expressas no termo “a Igreja mística”, mas não prática.
4. Existem aqueles que acabaram com toda a idéia de Igreja, dando-a tanto por impossível como por desnecessária. Elas são definitivamente instituições e organizações cristãs, mas não uma Igreja ou igrejas. A esta categoria pertencem os quacres, o Exército da Salvação e um vasto número de grupos de missões e “Missões”.
5. Finalmente, para nosso objetivo, existem aqueles cuja resposta é bastante positiva! Sim, devemos voltar ao padrão do Novo Testamento e “ter igrejas do Novo Testamento”! Eles acreditam que o Novo Testamento contém um projeto definido para igrejas locais e estão comprometidos com a “formação” dessas igrejas onde for possível. Infelizmente, eles variam muito quanto a ensinamentos, ênfases e práticas, e alguns deles são caracterizados por excessos, anormalidades e exclusivismo.
O que diremos diante de todas estas coisas? Como observamos, todos estão mais ou menos errados ou certos (destacamos o termo “mais ou menos”, mas diríamos que alguns estão completamente errados) porque a verdadeira natureza da Igreja se perdeu ou não pode mais ser vista.
A História de Israel
A história de Israel possui muitos fatos para iluminar essa questão da Igreja. O Israel histórico foi constituído sobre os mesmos princípios eternos que a Igreja cristã. Na verdade, eles eram chamados de “a igreja1 no deserto” (At 7.38) e foram denominados eleitos de Deus. Pretendia-se que eles representassem no tempo, na terra, um conceito eterno e celestial, que, em tipos e símbolos, figurativa e temporalmente, engloba princípios espirituais e pensamentos divinos. Para o objetivo de nosso estudo, temos de limitar toda a questão aos principais princípios envolvidos na história de Israel. Dividimos essa história em duas fases. A primeira se deu antes do cativeiro na Babilônia, os setenta anos, e para lá os levou. A razão desse cativeiro foi pura e definitivamente idolatria. O cativeiro tratou com a idolatria e, depois disso, não houve mais idolatria do mesmo gênero em Israel. Mas, então, veio — e ainda existe — a segunda, ainda pior e mais longa, fase de juízo. Essa é revelada no segundo aspecto do ministério dos profetas. É óbvio que os profetas profetizaram com relação ao futuro imediato do cativeiro na Babilônia e na Assíria, e também com relação ao futuro. Esse segundo aspecto é freqüentemente discutido no Novo Testamento e aplicado, ou apresentado para que seja aplicado, àqueles tempos e eventos, com uma característica adicional de que os tempos pós-Novo Testamento (até os nossos dias) foram vistos. Mas, por que essa segunda mais longa e mais terrível relegação ao juízo? Por que a confusão, fraqueza e perda da presença e poder imediatos de Deus por parte de Israel e apenas a soberania de Deus por trás de sua história? A resposta está em uma frase: cegueira espiritual. “O endurecimento veio em parte sobre Israel” (Rm 11.25). Há uma grande quantidade de referências a esse fato nos Evangelhos, e tanto os ensinamentos como os milagres de Jesus estavam voltados para essa cegueira e contra ela. A visão dada aos cegos foi um testemunho para Israel, bem como para o mundo. Essa cegueira, no entanto, estava relacionada principalmente à Pessoa, ao significado e ao propósito de Cristo. Aquela intervenção na história foi uma missão para a remissão, restauração e restabelecimento daquele conceito eterno no coração de Deus, que era como “o mistério” em Israel. Ou seja, os princípios e propósitos espirituais ocultos em sua eleição e constituição temporal, e para expressar tudo isso em uma Pessoa que devia ser reproduzida pela igreja, como o Grão de Trigo, por meio da morte, sendo reproduzido na ressurreição em um corpo de muitos membros.
Nesse ponto atingimos a essência da verdadeira natureza da Igreja. A pedra de toque da Igreja é uma percepção, por meio da revelação e iluminação divina, sobrenatural, do Espírito Santo, da verdadeira importância e significado de Jesus Cristo e Sua missão. É óbvio que o notável apóstolo do “mistério”, a Igreja, veio a conhecer e compreender a verdadeira Igreja mediante a revelação de Cristo para ele e nele (Gl 1.16).
Ter uma visão real de Cristo é ver a Igreja, e somente desse modo uma verdadeira igreja pode vir a existir. Foi somente logo após o Senhor poder dizer a respeito de Pedro que carne e sangue não revelaram a verdade de Sua Pessoa (de Cristo) que, Ele, Cristo, fez a primeira declaração pública definida sobre a Igreja: “Sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja” (Mt 16.18). Tudo isso significa que, fundamentalmente, uma verdadeira expressão da Igreja, em termos locais, não é mais, nem menos, nem outra senão a compreensão espiritual de Cristo por parte dos cristãos. A igreja, local ou universal, não é tradicional. Isso a faria perder seu caráter original e, conseqüentemente, tornar-se artificial. A Igreja não pode ser vista pelos olhos de outras pessoas2, quer seja pelos daqueles do passado (apóstolos, etc.) ou do presente (mestres).
Temos conhecimento de pessoas que vivem na presença de ensinamento por anos e se alegram nele, repetem-no e pensam que estão no melhor nível e, então, por fim, prova-se que elas não viram, na verdade, com seus próprios olhos espirituais ao contradizerem e descartarem tudo isso de modo tão fácil. Elas o viram mentalmente pela perspectiva de outra pessoa, o mestre ou o pregador. Quando Paulo viu, sua visão provocou um efeito nele que se tornou ele mesmo, e nenhuma parcela ou forma de sofrimento e frustração visível poderia fazê-lo desistir da “visão celestial” (At 26.19). Repetimos que todo o seu entendimento valioso e pleno da Igreja não veio, em primeiro lugar, de uma revelação de algo chamado “a Igreja”, mas de uma visão de Cristo no conselho eterno de Deus. Como o próprio fundamento, essa colocação responde, e de modo compreensivo, os cinco pontos que mencionamos anteriormente. É possível haver expressões locais da Igreja? A resposta é afirmativa, dadas a existência dessa visão e a compreensão de Cristo, e teremos de rejeitar o Espírito Santo e Sua obra caso digamos que essa visão não é possível agora (Ef 1.17,18).
No entanto, feita essa declaração, é necessário dizer algo mais quanto aos princípios essenciais de uma igreja local como um microcosmo da Igreja universal.
O primeiro fato (incluído no que dissemos acima) e o mais difícil de explicar, apesar de não o ser de experimentar, está naquela palavra mal-compreendida, detestada e não vista com bons olhos: espiritualidade. Não deve ser difícil entender porque qualquer cristão verdadeiramente nascido de novo sabe que há algo a seu respeito que não é apenas natural. Uma mudança na mentalidade, disposição, conceito e direção aconteceu nele. Ele apenas ficou diferente desde que aconteceu o novo nascimento. (O que estamos falando sobre a Igreja não tem sentido se não houve esta mudança fundamental.) No entanto, ainda temos de definir espiritualidade.
Como uma palavra e uma idéia, espiritualidade não é peculiar à Bíblia e aos cristãos. O mundo a utiliza. Na ida à uma galeria de arte, por exemplo, o visitante observa alguns quadros e continua andando. No entanto, outro quadro prende-lhe a atenção, pois há algo que transcende a tela, a pintura e um objeto retratado. Aquele quadro possui uma “atmosfera” que fala a seu respeito, que lhe toca as emoções, que instiga uma sensação de admiração — não se trata apenas de um quadro. Há algo mais a seu respeito do que o próprio quadro. A observação deste fator complementar é que há algo “espiritual” sobre ele. O mesmo pode ser dito de uma canção, da execução de uma peça musical, de uma construção adornada e formosa, de uma forma de culto, e assim por diante. Isso é o que o mundo chama de espiritual, mas o que eles realmente deveriam dizer é misticismo. Isso pode ser particularmente encontrado na literatura, e há uma categoria de escritores conhecida como místicos. A religião é um campo especial do misticismo.
Digamos de uma vez por todas, e com ênfase, que misticismo e verdadeira espiritualidade, de acordo com a Bíblia, são duas coisas completamente diferentes. Elas pertencem a dois campos diferentes. A primeira é temperamental ou uma questão de temperamento. Possui seus graus. A simples reação à beleza ou emoção, ou, em formas mais intensas, pode ser psíquica, fanática. Pode ser induzida por apelos patéticos e trágicos. Pode ser instigada pelo estímulo e paroxismos por meio de repetições, como as de refrões e encantamentos. Dessa forma, quer seja de modo suave ou extravagante, outro elemento pode aparecer ou dar caráter. A religião se presta particularmente para o místico nessas várias formas e graus.
No entanto, a espiritualidade da Bíblia da qual estamos falando é diferente. É o resultado de um novo nascimento por intermédio do Espírito Santo. Representa uma mudança de natureza e constituição, não a libertação e intensificação do que já existe. Na verdade, é um “totalmente outro”, assim como Cristo era, na realidade mais profunda de Sua pessoa, um totalmente outro. Nesse “outro”, Ele não era conhecido, entendido e explicável. Ele era inescrutável, não apenas misterioso, mas de outra ordem. Havia outra inteligência e consciência, outra capacidade e habilidade. Havia outra relação. Tudo isso é verdade no que se refere a cada cristão por ser “nascido do alto”3 (Jo 1.13; 3.6,7). A Igreja é o agregado desses cristãos em que o que é verdade a respeito de Cristo é verdade a seu respeito, com exceção da divindade.
Cristo e a Igreja são o significado espiritual de todos os símbolos, e Ele disse definidamente que, com Sua vinda, a antiga ordem de representações materiais e simbólicas havia cedido todo o lugar para aquilo que eles representavam. Não havia mais coisas para representar, senão aquilo que eles representavam sem essas coisas (Jo 4.20-24), e observe que o Evangelho de João e a Epístola aos Hebreus são dois notáveis documentos da principal transição do histórico, temporal e tangível para o espiritual. Os apóstolos foram movidos pelo Espírito Santo para aquela transição. Foi necessário que padecessem para que nascessem de novo4; contudo, eles venceram por meio da energia divina.
Portanto, espiritualidade, que é uma natureza e um atributo de caráter diferente e celestial, é o primeiro princípio básico da Igreja. Repetimos que a Igreja é o vaso e a incorporação “do mistério” tantas vezes mencionados no Novo Testamento, principalmente por Paulo. O mistério era e é o significado oculto das coisas e de Israel, mas agora é revelado para e na nova ordem, o novo Israel, a Igreja. O “mistério de Cristo” é o significado de Cristo, inescrutável para todos, exceto para aqueles que têm o espírito de sabedoria e de revelação no conhecimento Dele.
Local e Sobrenatural
Quando fez a notável declaração sobre Sua Igreja: “Edificarei a Minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18), nosso Senhor anunciou três coisas. Primeiro, que Ele estabeleceria uma entidade definida chamada de Sua Igreja. Segundo, que essa Igreja encontraria uma força de oposição com sua hostilidade total e final. Terceiro, que esse poder seria levado ao nível máximo e seria destruído, ou seja, se tornaria incapaz de prevalecer contra a Igreja. Nessa afirmação plena, há uma indicação muito definida da natureza fundamental de Sua verdadeira Igreja. Dissemos anteriormente que a Igreja é algo essencialmente espiritual e que a espiritualidade é seu princípio básico. Mas podemos ser ainda mais claros quanto ao que pretendemos dizer com espiritualidade? Podemos, utilizando uma palavra alternativa: sobrenatural.
A Igreja é Essencialmente Sobrenatural
A Igreja é a personificação do verdadeiro cristianismo, e o verdadeiro cristianismo é sobrenatural ou não é coisa alguma! É apenas no momento e no local em que a Igreja é completamente percebida e aceita que ela realmente existe e pode ser o poder que se pretende que ela seja.
Sobrenatural na Origem
Em primeiro lugar, o cristianismo5 e a Igreja (na verdade, termos idênticos) vieram do céu e ainda têm de ser continuamente recebidos e revelados a partir de lá. Essa é a própria verdade fundamental do próprio Cristo e da Igreja em todo indivíduo incorporado a ela. Esse é o ensinamento do Novo Testamento em todas as partes. A origem e a moradia de Cristo estavam no céu. O Evangelho de João e a carta de Paulo aos efésios constituem um argumento específico e enfático para essa afirmação e compreendem todo o Novo Testamento nessa verdade. No primeiro, a afirmação repetitiva de Cristo quanto à Sua origem celestial é a base de todas as coisas no Evangelho como um todo. São expressões do tipo “na verdade, na verdade”, “mais verdadeiramente”, e tudo o que está no Evangelho tem a finalidade de sustentar e evidenciar essa verdade.
Contudo, quando isso é reconhecido, o Evangelho e o restante do Novo Testamento voltam para afirmar do mesmo modo que a Igreja incorpora essa verdade e fato de Cristo. O capítulo 3 do Evangelho de João empregará a mesma linguagem — “na verdade, na verdade” — em conexão com qualquer indivíduo que entra na Igreja. Esse indivíduo, não importando se ele é o melhor exemplo e representante de Israel do Antigo Testamento (como Nicodemos) simplesmente não pode percorrer a linha do horizonte dessa nova criação; ele não pode atravessar a porta da natureza humana, da tradição, da “religião”; ele “deve nascer do alto”. Por meio desse nascimento, ele é constituído um ser sobrenatural na mais íntima realidade de seu ser — a isso Paulo chama de “nova criação”.
Então, de modo equivalente, a Igreja nasce do alto, no dia de Pentecostes. A diferença entre as mesmas pessoas antes e depois desse evento e a natureza corporativa da nova entidade são evidentes para todos os que têm olhos para ver. É sobrenatural.
Sobrenatural na Base
O que era, e é, verdade sobre a origem e moradia de Cristo e de Sua Igreja mostra-se ser, com fascinante evidência, a verdade sobre Sua sustentação e sobrevivência. “Pão do céu” (Jo 6.32, 51) apenas significa o poder que os recursos celestiais têm de sustentar e apoiar. Isso é visto em relação a dois fatos. Primeiro, na lei de total dependência de Deus e do céu, que é o próprio princípio da encarnação: “Aniquilou-se a Si mesmo” (Fp 2.7). Novamente, o Evangelho de João é uma constante declaração enfática disso. A repetição “na verdade, na verdade” é empregada para afirmar isso: “Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por Si mesmo não pode fazer coisa alguma” (5.19), e assim por diante. Pois em toda obra, toda palavra e todo tempo, Ele declarou que dependia de Seu Pai que está no céu. O Evangelho explica Seu humilde nascimento, Sua humilde criação, Seu último desamparo. Explica o fato de Ele ser “desprezado e rejeitado pelos homens”. No entanto, existiu uma vida e uma obra tão poderosa como a Dele?
O outro fato é em relação à Igreja. Quando consideramos o material humano do primeiro núcleo e, principalmente, seu crescimento; quando levamos em conta sua falta de bens e apoio deste mundo e quando pensamos em tudo o que estava contra ela de todo modo concebível, empenhando-se para aniquilá-la; e, em seguida, observa-se sua sobrevivência como uma entidade, há uma única palavra para descrevê-lo: sobrenatural! Reconheço que me admirei com a fé provada e triunfante de um homem como o apóstolo Paulo quando o vejo sofrendo como sofreu e quando leio seus próprios relatos de sofrimentos. A mente natural diria: “Este não é o apoio do céu”, mas temos o veredito de muitos séculos, e é a evidência e o veredito do sobrenatural.
Tudo isso inclui-se naquela repetição da expressão “na verdade” de João 6, onde, com uma alusão à vida de Israel no deserto, Jesus declara ser Ele mesmo o pão de Deus que veio do céu. Na verdade, Sua mente é tão forte, significativa e imperativa sobre essa questão que naquele capítulo Ele utiliza a repetição da expressão “na verdade” quatro vezes. O deserto sempre foi o símbolo ou imagem de um lugar fora do mundo, e o socorro e sustento em condições tão adversas à vida exigem recursos de outra esfera. A história da vida espiritual é a história do sustento sobrenatural secreto. Em silêncio e sem alarde, garantida e sem falta, suficiente e sem pobreza o maná descia, e o Senhor celestial da vida tem sustentado Sua igreja da mesma forma. Sim, embora fosse silenciosa e muitas vezes quase imperceptível aos sentidos naturais, ainda, na verdade, constitui-se uma obra de imenso poder. O Novo Testamento nos ensinará que o nascimento e sustentação da Igreja são réplicas da emancipação de Israel do Egito. Agora e naquela ocasião, o poder de Deus se estendeu e consumiu todo o poder do Egito e de seus deuses e, depois, anulou a própria morte.
A passagem do Novo Testamento que evidencia a Igreja de modo mais específico utiliza palavras como: “A suprema grandeza do Seu poder para com os que cremos” (Ef 1.19). Estamos longe de entender a terrível coisa que estava envolvida na morte e ressurreição de Cristo para guardar a Igreja em Deus!
Sem dúvida, já dissemos o suficiente para destacar a extrema importância de uma ou duas coisas: primeiro, mostrar no que a verdadeira Igreja está de acordo com a revelação do Novo Testamento. Se esse não é um equívoco dessa revelação, deve ser algo muito distinto. Ou seja, deve revelar uma diferença muito grande entre a verdadeira Igreja, por um lado, e aquela imensa coleção de coisas que leva o nome de Igreja, por outro; uma coleção sob a qual concentraram-se tantas instituições e concepções conflitantes.
A afirmação de que a verdadeira Igreja tem de estar de acordo com a revelação do Novo Testamento deve ser um corretivo para dois extremos. Um extremo é o de uma abrangência tão grande que negligencia a natureza fundamental e essencial do sobrenatural, da qual temos falado: o sobrenatural no novo nascimento de todos os indivíduos na Igreja. Também um corretivo para o extremo oposto de um exclusivismo não-bíblico que torna Cristo menor do que Ele realmente é por excluir da comunhão cristãos verdadeiramente nascidos de novo usando como base para isso alguma técnica particular de “proteção” ou alguma interpretação específica da verdade.
Além disso, se o que temos dito é uma verdadeira definição da Igreja e de sua natureza, então, sem dúvida, isso explica a perda de poder, impacto e influência sobrenatural. Isso também explica a confusão, a escassez de alimento espiritual para ovelhas famintas e a dispersão que é a estratégia especial de Satanás para roubar da Igreja sua vocação para receber o reino e reinar!
A explicação é que o grande poder da dependência total de Deus, que é a exigência categórica de Deus para a revelação de Sua própria glória, tem sido abandonado para buscar-se recursos no mundo por meios, métodos, modas, etc. a fim de fazer com que a obra de Deus tenha “sucesso”. Satanás não está nem um pouco preocupado com qualquer coisa que use seu próprio reino para a glória desses métodos! Ele até protegerá qualquer coisa que lhe dará um lugar. A maldição que está sobre ele e sobre este mundo sempre significará frustração, confusão e eventual vaidade para tudo que faz parte do seu reino; conseqüentemente, muitas destas coisas estão em uma igreja que é, com todo o respeito, deste mundo. A Igreja tem falhado grandemente em perceber o motivo pelo qual, em relação essencial com a missão e ministério de Cristo, a tentação de Jesus no deserto ocupou lugar em três dos Evangelhos; e nessa relação específica com o Evangelho de João que temos apresentado, o assunto ali revelado concentrou-se no capítulo 17, onde a ênfase de Jesus está no fato de Ele não ser deste mundo, e o mesmo com relação à Sua Igreja!
A igreja, tanto em seu aspecto universal como no local, que está constituída sobre princípios espirituais e celestiais terá alimento suficiente para suas próprias necessidades e para distribuir para o mundo todo6. Os famintos correrão em sua direção. Ela será um ímã espiritual que reunirá o povo de Deus em uma comunhão espiritual. Será, por essa razão, um objeto de atenção especial por parte de Satanás para desfazê-la. Mas, mesmo que ele tenha sucesso em destruir seus aspectos temporais, por meio do martírio, fogo, dissensões, dispersões, posições, etc., essa Igreja terá conquistado valores espirituais indestrutíveis e eternos, “porque as (coisas) que se vêem são temporais (transitórias, passageiras) e as que se não vêem são eternas” (2Co 4.18). O teste definitivo é o eterno!
Dissemos no início que, embora estejamos preocupados com a natureza da verdadeira Igreja universal, temos uma preocupação especial com a expressão local. Portanto, agora concentraremos nossa atenção nessa expressão.
Se levarmos a sério os três primeiros capítulos do livro de Apocalipse (e, sem dúvida, devemos fazer isso) ficaremos impressionados com a seriedade da preocupação do Senhor com as expressões locais. Uma incomparável apresentação do próprio Senhor é dada por meio de Ele julgar as igrejas de acordo Consigo mesmo. Cada aspecto dessa apresentação é um fator de julgamento. Então, é dado às igrejas uma definição simbólica de duas partes: a das estrelas e a dos castiçais. Deixando muitos detalhes para depois, observaremos agora que a característica comum a esses dois símbolos é a do poder do testemunho. É o elemento positivo de um desafio para as trevas do mundo. Tudo o que se segue com relação às igrejas, o aspecto e fator positivos da vida e influência espiritual é dominante e primordial. Toda controvérsia do Senhor com as igrejas, em qualquer aspecto específico, se concentra nesta última questão definitiva: o efeito positivo da igreja onde ela está. Existe um impacto no aspecto interior (candeeiro) e no exterior (estrelas)? Elas, as igrejas, estão dizendo algo explicável, eficaz e inconfundível? Elas causam um impacto que exerce influência sobre o que as cerca? Existe um poder espiritual dotado de efeitos? Enfim, a continuação de sua posição na economia divina — ser mantida ou “movida” — se encontra nessa questão. Muitas coisas são detalhadas como a causa da perda de poder, mas é essa perda que resulta no julgamento.
Tendo observado a questão inclusiva que determina todas as coisas em um testemunho local, continuamos a perguntar e a responder à questão: Quais são
As Características Essenciais de Uma Verdadeira Igreja Local?
Estamos tentando permanecer próximos e fiéis ao princípio geral de que a Igreja, tanto universal como local, é chamada para ser uma expressão de Cristo. É impossível ler o Novo Testamento sem observar que a presença de Cristo em qualquer lugar era a presença de:
Luz e Poder Celestiais
Temos mostrado que esse fato é a base do julgamento de Cristo sobre as igrejas. Em relação a Ele, não se tratava apenas da luz do ensinamento ou da doutrina: tratava-se do ensinamento personificado. Havia o ensinamento encarnado na raça humana. O ensinamento e as obras de Cristo formavam uma coisa única. Era uma luz muito prática! Era a luz de outro mundo. Se a lua governa a noite, ela o faz por meio da luz refletida do sol. Se as igrejas devem ter o poder da verdade, elas devem tê-lo porque propiciam um reflexo de Cristo nas trevas humanas. Uma expressão local de Cristo deve significar que há luz efetiva, tanto para o povo de Deus (os candelabros) como para o mundo (as estrelas)7. O povo que tem contato com essa igreja local deve sentir o poder do ensinamento, ser afetado por ele e dar frutos nele. Não se trata apenas de um teste, mas de um testemunho daquilo que o Senhor tem suprido. Por meio daquele vaso, recebe-se um povo que vive na luz celestial? O pecado é repreendido ou exposto? Os pecadores são convencidos? Os perplexos conseguem entender aquela apresentação de Cristo?
Vida Celestial
O Senhor disse que Sua vinda a este mundo era para “que eles tivessem vida” (Jo 10.10). Portanto, Sua presença em um lugar por meio da Igreja deve significar que todos os que vêm e vão registram haver ali uma existência celestial. Não apenas estímulo, barulho, atividades, etc., mas uma vida que não é deste mundo. [Onde Cristo está,] não existem formas e costumes sem vida. Não há coisa alguma monótona. A vida é mediada por tudo que tem um lugar e uma parte. Há uma elevação espiritual como a da vida de ressurreição, não depressão!
Alimento Celestial
Como vimos anteriormente, a presença de Cristo significava pão para os famintos. A compaixão de Cristo significava que Ele não suportava ver as pessoas vindo com fome e partindo na mesma situação. Uma verdadeira expressão local de Cristo significará que aquela reunião do Seu povo terá, não apenas para si mesma, mas terá superabundância para todos os espiritualmente famintos. Aquela será uma casa que oferecerá pão onde ninguém jamais deixará de ser suprido. Não apenas se encontrará alimento, mas este será ministrado para muitos que estão distantes.
Comunhão Celestial
Uma característica impressionante de Cristo, quando Ele estava presente fisicamente entre os homens, foi o modo como Ele transcendia as coisas que dividem os homens neste mundo. Ele não tentou fazer com que todas as pessoas e coisas fossem iguais por organização, instituição, denominação, classe, categoria, formas, sistemas, etc. Todo tipo e temperamento, se despojado de preconceito e hipocrisia, de coração aberto e consciente da necessidade espiritual, encontrou um terreno comum de comunhão e unidade em Cristo. Ele apenas se colocou acima do que servia de divisão e, em resposta a Ele, as pessoas perceberam que as coisas que as separavam simplesmente desapareceram. Cristo tornou-se o terreno comum a todas elas.
Assim deve acontecer em qualquer expressão local corporativa de Cristo. Questões de associação, denominação, seita, tradição, etc., não devem se levantar, mas simplesmente desaparecer na presença do ardor da comunhão e da inteira ocupação com Cristo. O único caminho efetivo para a verdadeira unidade e comunhão celestial é aquele que é mais elevado do que o campo do mundo: o amor do céu.
Ordem Celestial
Todas as quatro coisas que mencionamos como características de uma verdadeira expressão local da Igreja e de Cristo serão ajudadas pela presença ou ocultadas pela ausência de uma ordem celestial e espiritual. Todas as ordenações, posições, departamentos, devem acontecer pelo testemunho definido do Espírito Santo, não pela escolha de um homem, seja pela ambição de outros ou dele mesmo. Como resultado de muita oração por parte da igreja, isso deve ser manifesto onde a unção e os dons estão para que a função daqueles em qualquer posição de liderança definitivamente signifique que a igreja é inspirada, fortalecida e edificada. Não cumprir esta ordem celestial possibilitará a existência de um elemento de artificialidade, uma força para criar algo e fazer com que esse algo continue em andamento. O nível mais alto de genialidade sempre ficará muito longe da menor medida de inspiração divina. É essa inspiração divina que determina toda a obra e funções divinas. Não há esforço ou força onde a unção repousa, mas espontaneidade, liberdade e unção. O óleo sempre foi um símbolo do Espírito Santo, e onde Ele está as coisas devem-se mover como no óleo.
Este não é um modelo de todo impossível, mas é a expressão normal do senhorio e governo de Cristo. O que Deus requer Ele torna possível.
A Igreja: O Vaso Ungido
Nas Escrituras, há muitas maneiras pelas quais se fala da obra do Espírito Santo. Há o “recebimento”, o “enchimento”, o “batismo”, o “cumprimento” e o “dom”. Não é nosso objetivo considerar o significado dessa variedade de expressões, mas dar ênfase em uma: a unção. A unção, tanto no Antigo como Novo Testamento, é apresentada como geral e particular, compreensiva e específica.
O primeiro fato sobre o aspecto geral da unção é que, em virtude de o Espírito de Deus ser o Espírito que unge, a unção é Deus juntando e unindo e comprometendo a Si mesmo com qualquer coisa ou pessoa que seja ungida. Significa que sempre e onde quer que esteja a unção, ali Deus deve ser considerado. Tocar no que é ungido é tocar em Deus. Para obtermos um conhecimento verdadeiro dessa verdade e desse fato, temos apenas de ler aquelas passagens do livro de Números que tratam dos levitas, do tabernáculo e dos vasos nele usados. Vida e morte estavam ligadas a todos esses ungidos porque, por meio da unção, Deus estava ligado a eles. No Novo Testamento, este aspecto compreensivo relaciona-se em primeiro lugar a Cristo e, em seguida, à Igreja.
A própria palavra ou nome “Cristo” significa ungido: “Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré” (At 10.38). Deus estava comprometido com Ele. Tocar Nele era tocar em Deus, como a história tem provado. No final, todos serão julgados e seu destino determinado de acordo com sua atitude e decisão com relação a Jesus Cristo. Quantos detalhes tremendos essa verdade inclusiva compreende!
Quando passamos para a Igreja, descobrimos que, de acordo com o Novo Testamento,
A Igreja é o Vaso Ungido
No dia de Pentecostes, um grupo de mais de quinhentos homens e mulheres foi constituído como a Igreja de Deus pela unção do Espírito Santo (At 2.1-4). Aquele grupo era controlado pela liderança ungida do Senhor Jesus exaltado, pois a unção inclusiva sempre estava sobre a cabeça Dele. Daquele tempo em diante, a Igreja levou para o mundo a implicação de Deus: e soberanos, impérios e pessoas tiveram de se acertar com Deus na Igreja. Tudo o que era verdade sobre Cristo como o Ungido passou Dele, como Cabeça, para a Igreja, o Seu Corpo, não por causa do que as pessoas eram, ou são, nelas mesmas, mas pela unção, pois as pessoas ungidas são assim porque não permanecem em seu próprio terreno, mas no terreno de Cristo.
É certo no Novo Testamento que os cristãos verdadeiramente nascidos do alto e batizados têm a unção, e surpresa é manifestada se a evidência não se faz presente (At 19.2,3). Coloque ao lado dessa referência 2 Coríntios 1.21, entre outras. O lugar dos cristãos ser “em Cristo” os coloca sob Sua unção, ou Nele, como o Ungido.
No entanto, embora o Espírito Santo seja compreensivo e multi-facetado em significado, a unção é, em toda parte na Bíblia, o termo que apresenta o significado específico de posição e função, ofício e propósito. Diz-se que Satanás (Lúcifer) em sua posição caída foi o “querubim ungido para proteger” (Ez 28.14). É óbvio que se tratava de uma posição e função específicas. Assim, os profetas, sacerdotes e reis eram ungidos para sua posição e vocação. Do mesmo modo, o tabernáculo e todos os seus vasos e instrumentos eram ungidos para cumprimento de um propósito específico, e nada poderia ocupar um lugar ou cumprir um propósito divino sem a unção. Todas as coisas e pessoas tinham de ser ungidas para um uso e propósito específico e nenhum instrumento podia escolher sua função e posição ou realizar a obra de outro. Tudo isso fazia parte da lei de Deus de eficiência, eficácia, harmonia e bênção. A vida e a morte estavam ligadas a esse princípio.
A unção sempre esteve na soberania divina e nunca na escolha, poder ou nas mãos de homens. É muito sério receber ou ser colocado em uma posição que não tenha sido designada por Deus pela unção.
Quando vamos ao Novo Testamento, essa lei da unção é claramente reconhecível no que diz respeito tanto a Cristo como à Igreja. Primeiro, o ato de soberania, depois as muitas e diversas funções. O Novo Testamento é muito claro tanto nas principais ordenações, tais como apóstolos e profetas — que se relacionam principalmente à Igreja universal —, como nas funções específicas na expressão local da Igreja. O Espírito Santo é considerado aquele que retém os dons, funções, ordenações e realizações nas igrejas. É ordem de Deus; negligenciar, ignorar, violar e ultrapassar essa lei significa uma afronta ao Espírito Santo. Isso resultará em confusão, restrição e divisões. Onde os homens colocam as mãos em uma obra de Deus, a história subseqüente tem invariavelmente se dividido em duas partes: divisões e a relegação desses homens para um lugar onde impera o descrédito sobre eles e onde perderam a posição de utilidade plena. Por outro lado, não há outra verdade mais animadora e inspiradora revelada nas Escrituras do que que, por meio da unção, todos os membros de Cristo têm uma função e valor específicos. A unção é diferente da capacidade e qualificação naturais. O que tem menos dons naturais não está, por isso, desqualificado para o uso de Deus, e o que tem mais dons ou qualificações naturais não tem vantagem nesse caso. A unção é única. Vemos isso ao juntar 2 Coríntios 1.21, 1 Coríntios 1.26-30 e todo o capítulo 2 de 1 Coríntios.
No tabernáculo de Israel, houve grandes vasos sob a unção e havia instrumentos simples como os apagadores, mas até os últimos eram ungidos. Agora, tenha cuidado! Eram apagadores ungidos. Há muitas pessoas que tomam para si a função de apagadores. Elas apagarão qualquer coisa e acabarão com qualquer coisa. Os apagadores do tabernáculo não serviam para reduzir ou extinguir a luz do testemunho, mas para mantê-la viva e impedi-la de criar uma atmosfera desagradável. É necessário unção para esse ministério.
Há outra coisa de que devemos sempre nos lembrar: é que todo vaso, função e posição deriva-se do valor de sua relação com todos os outros. Na verdade, nenhum vaso, por mais que seja importante, tem significado ou valor separado dos outros. A unção é única, embora em uma diversidade de operações. As lâmpadas pedem os apagadores que, por sua vez, não têm sentido sem as lâmpadas.
Tudo o que dissemos aqui é apenas uma alusão e indicação de uma esfera muito ampla e importante da verdade divina; muitos volumes seriam necessários para esgotá-la e explicá-la. No entanto, sem dúvida, se esta é a verdade de Deus, basta – pelo menos – indicar
1. a verdadeira natureza da Igreja, das igrejas e sua função;
2. o motivo pelo qual há tanta fraqueza, confusão e perda do impacto divino;
3. o motivo pelo qual o inimigo está tão preocupado em imitar o Espírito Santo e, desse modo, acabar com a unção da qual uma vez foi privado.
Essa última questão será uma característica específica dos últimos tempos. Esse é o motivo pelo qual, nas Escrituras, a unção ocupava uma posição sempre próxima e decisiva junto com a guerra. Pense nisso!
A Expressão Local da Igreja
Antes de concluir nossa consideração sobre a Igreja, sinto fortemente que devo dizer algumas coisas de vital importância quanto à verdadeira expressão local da Igreja. Sei muito bem como é difícil encontrar uma expressão verdadeira e assegurar que ela o é, mas não há motivo para abandonarmos todo esse assunto. Antes de ser um indicador de seu valor, a história e experiência têm mostrado que essa é a única coisa de grande importância com a qual o adversário de Cristo se preocupa. Impedir ou destruir essas expressões sempre foi uma preocupação maior dos poderes do mal. A verdadeira Igreja, universal e local, é uma ameaça muito grande para o reino de Satanás. Enfatizamos isso nos primeiros capítulos. Contudo, resumamos:
1. A importância da Igreja em expressões locais
Em primeiro lugar devemos lembrar que uma seção sólida do Novo Testamento foi escrita especificamente para igrejas locais, as quais constituíram o primeiro resultado do ministério apostólico. Esse ministério, e todo o sofrimento envolvido, foi vindicado em grupos de reunião locais de cristãos. Foi por essas igrejas que os apóstolos padeceram, trabalharam, oraram e lutaram. A essência do Novo Testamento tem sua preocupação suprema com essas assembléias que conheceram grandes sofrimentos em sua origem e estavam em “uma grande batalha de aflição” por sua continuação e sobrevivência.
Por isso, devemos lembrar que a própria preocupação e avaliação pessoal do Senhor com relação às igrejas locais se fizeram muito evidentes por meio de Suas mensagens diretas para as sete igrejas na Ásia com as quais o livro do fim (Apocalipse) se inicia. Não há como interpretar mal a importância das igrejas locais para o Senhor exaltado quando lemos essas mensagens, cujo enfoque é uma oração que se encontra em uma delas: “Isto diz o Filho de Deus”. O salmista diria “Selá”, “Pense nisso”.
2. Essa importância deve ser vista nos valores específicos de uma reunião local, quando estiver em correto funcionamento
a) Aqui, o princípio de que “nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si” (Rm 14.7) é enunciado com relação à igreja local e deve ser aplicado às mensagens para as igrejas na Ásia. Diz-se da igreja em Éfeso que, por meio dela, “todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus” (At 19.10; veja 1Ts 1.8). Deve ser impossível a existência de uma assembléia local do povo de Deus sem que seja conhecida por uma região muito maior do que sua própria localidade. Um grupo vivo, mais cedo ou mais tarde, será conhecido no exterior pelo que ele tem da parte do Senhor.
b) Para ampliar a questão, uma igreja local deve ter não apenas pão espiritual suficiente para si, mas cestos cheios para distribuir, e muitos além de suas fronteiras devem estar sendo enriquecidos por sua saúde espiritual. A história não mostra quão evidente isso é? O povo de Deus não tem sido alimentado por anos até o dia de hoje com o pão ministrado para – e por meio de – aquelas igrejas do Novo Testamento? Não é verdade que multidões foram e ainda estão sendo alimentadas com o alimento ministrado em igrejas locais em muitos lugares no último século? Do mesmo modo teria feito o Senhor. A igreja que apenas ministra para si e não o faz para a Igreja como um todo está cometendo um pecado contra o direito da vida; ela se tornou uma via de mão única, não uma rodovia. Sem dúvida, é particularmente importante que o ministério em uma igreja local seja um ministério verdadeiramente ungido, não por qualquer ordenação, seleção ou decisão do homem, não pelos discursos instruídos e arranjados, mas pela iluminação e inspiração vinda de um céu aberto, não apenas fazendo com que algo continue em andamento como um dever, mas pela revelação de Jesus Cristo. Deve ser óbvio para todos que aqueles que lideram e ministram estão sob um encargo genuíno do Senhor, e a evidência disso é a vida!
c) A igreja local deve, e pode, ser um refúgio, um abrigo, uma proteção para seus próprios membros. Uma das principais táticas de Satanás é isolar os cristãos e depois derrotá-los. Isso pode ser feito por ações imprudentes e independentes e por escolhas, passos e decisões frutos da falta de conselho. A igreja por meio de suas orações, conselho e comunhão é uma provisão divina contra as tragédias que se encontram no caminho da independência e isolamento. Assim como a cooperação e a coordenação no corpo físico são uma provisão e uma lei contra muitas doenças, o mesmo acontece com os membros do corpo espiritual.
d) A igreja local deve fornecer ministérios pessoais para o povo de Deus e para os não-salvos, próximos e distantes, e oferecer uma proteção e apoio abrangente para a realização desses ministérios. Aqueles que se apresentam para o ministério da igreja devem saber que estão sendo defendidos e sustentados por aqueles com os quais andaram. Na verdade, eles devem prosseguir como enviados pela igreja!
A falta e ausência dessas características em organizações locais são a causa de tanta fraqueza na Igreja universal.
e) Por fim, uma igreja local que funciona corretamente é uma provisão maravilhosa para o treinamento de seus membros para a obra. O treinamento é principalmente uma questão de ser capaz de trabalhar corporativamente. O modo de viver e trabalhar com outras pessoas e afundar o individualismo na comunhão é uma parte verdadeira da disciplina que torna frutífero um ministério!
Há um perigo real no departamentalismo: a separação em grupos isolados de modo que esses grupos não alcancem uma vida e função corporativa da Igreja. É possível termos grupos associados à uma igreja local que realmente não possuem uma verdadeira vida da igreja. Isso significa fraqueza e perda. Além disso, a igreja local deve ser sua própria escola bíblica, para instrução sistemática na Palavra de Deus.
A leitura cuidadosa da Bíblia, principalmente do Novo Testamento, mostrará que tudo o que dissemos acima está contido nela como exortação, admoestação, advertência, instrução e exemplo.
Se eu tivesse de acrescentar outra coisa vital e todo-inclusiva, eu diria que o essencial absoluto para essas igrejas é uma verdadeira obra da cruz em todos os a ela relacionados.
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1 Em grego, a palavra usada nesse versículo é eclésia (que significa “chamados para fora”) traduzida, na maior parte dos versículos em que aparece, como igreja. 2 Ou seja, a visão, a percepção da realidade espiritual acerca da Igreja, é individual e deve ser buscada individualmente. 3 A palavra grega traduzida como “do alto” pode também ser corretamente traduzida para “de cima”. Ela é traduzida com esse sentido nos seguintes versículos: Mt 27.51; Mc 15.38; Jo 3.31; 19.11,23; Tg 1.17; 3.15,17. 4 O autor não está se referindo à regeneração; entendemos que o “nascer de novo” aqui refira-se ao processo pelo qual os apóstolos passaram na transição da velha aliança, com suas figuras e símbolos, para a nova aliança, na qual Cristo é a realidade de todas as coisas. 5 No sentido de fé cristã, não de organizações e movimentos cristãos ou da religião cristã. 6 O autor trata especificamente deste assunto no livro O Testemunho do Senhor e a Necessidade do Mundo, publicado por esta editora. 7 No sentido de que os candelabros representam a igreja em uma cidade, portanto, um testemunho coletivo do povo de Deus, enquanto as estrelas representam membros da igreja, indicando um testemunho individual diante do mundo.
(Extraído da extinta revista O Chamamento Celestial ano 2, n. 6, publicada por CCC Edições, janeiro de 2001. Traduzido por Valéria Lamim Delgado Fernandes. Os artigos que compõem esta edição foram originalmente publicados na revista A Witness and a Testimony, vol. 47, números 1-5, em 1969. Em sua forma original, o texto é uma transcrição das mensagens faladas. Por isso, quando necessário, fez-se adaptações no texto, procurando conservar, quanto possível, o estilo original. Nesses artigos, os termos “Igreja universal” e “igreja local” não são nomes próprios, ou seja, eles não identificam grupos cristãos, denominações, movimentos ou qualquer outra instituição que se utilize de algum destes termos. “Igreja universal” significa o Corpo de Cristo que inclui todos os membros, em todos os tempos e lugares, enquanto “igreja local” é a expressão desse Corpo em uma cidade.)
A igreja, neste momento, precisa de homens, o tipo certo de homens, homens ousados. Afirma-se que necessitamos de avivamento e de um novo movimento do Espírito; Deus sabe que precisamos de ambas as coisas. Entretanto, Ele não haverá de avivar ratinhos. Não encherá coelhos com seu Espírito Santo.
A igreja suspira por homens que se consideram sacrificáveis na batalha da alma, homens que não podem ser amedrontados pelas ameaças de morte, porque já morreram para as seduções deste mundo. Tais homens estarão livres das compulsões que controlam os homens mais fracos. Não serão forçados a fazer as coisas pelo constrangimento das circunstâncias; sua única compulsão virá do íntimo e do alto.
Esse tipo de liberdade é necessária, se queremos ter novamente, em nossos púlpitos, pregadores cheios de poder, ao invés de mascotes. Esses homens livres servirão a Deus e à humanidade através de motivações elevadas demais, para serem compreendidas pelo grande número de religiosos que hoje entram e saem do santuário. Esses homens jamais tomarão decisões motivados pelo medo, não seguirão nenhum caminho impulsionados pelo desejo de agradar, não ministrarão por causa de condições financeiras, jamais realizarão qualquer ato religioso por simples costume; nem permitirão a si mesmos serem influenciados pelo amor à publicidade ou pelo desejo por boa reputação.
A igreja suspira por homens que se consideram sacrificáveis na batalha da alma, homens que não podem ser amedrontados pelas ameaças de morte, porque já morreram para as seduções deste mundo.
Muito do que a igreja faz em nossos dias, ela o faz porque tem medo de não fazê-lo. Associações de pastores atiram-se em projetos motivados apenas pelo temor de não se envolverem em tais projetos.
PRECISAMOS NOVAMENTE DE HOMENS DE DEUS
Sempre que o seu reconhecimento motivado pelo medo (do tipo que observa o que os outros dizem e fazem) os conduz a crer no que o mundo espera que eles façam, eles o farão na próxima segunda-feira pela manhã, com toda a espécie de zelo ostentoso e demonstração de piedade. A influência constrangedora da opinião pública é quem chama esses profetas, não a voz de Jeová.
A verdadeira igreja jamais sondou as expectativas públicas, antes de se atirar em suas iniciativas. Seus líderes ouviram da parte de Deus e avançaram totalmente independentes do apoio popular ou da falta deste apoio. Eles sabiam que era vontade de Deus e o fizeram, e o povo os seguiu (às vezes em triunfo, porém mais freqüentemente com insultos e perseguição pública); e a recompensa de tais líderes foi a satisfação de estarem certos em um mundo errado.
Outra característica do verdadeiro homem de Deus tem sido o amor. O homem livre, que aprendeu a ouvir a voz de Deus e ousou obedecê-la, sentiu o mesmo fardo moral que partiu os corações dos profetas do Antigo Testamento, esmagou a alma de nosso Senhor Jesus Cristo e arrancou abundantes lágrimas dos apóstolos.
O homem livre jamais foi um tirano religioso, nem procurou exercer senhorio sobre a herança pertencente a Deus. O medo e a falta de segurança pessoal têm levado os homens a esmagarem os seus semelhantes debaixo de seus pés. Esse tipo de homem tinha algum interesse a proteger, alguma posição a assegurar; portanto, exigiu submissão de seus seguidores como garantia de sua própria segurança. Mas o homem livre, jamais; ele nada tem a proteger, nenhuma ambição a perseguir, nenhum inimigo a temer. Por esse motivo, ele é alguém completamente descuidado a respeito de seu prestígio entre os homens. Se o seguirem, muito bem; caso não o sigam, ele nada perde que seja querido ao seu coração; mas, quer ele seja aceito, quer seja rejeitado, continuará amando seu povo com sincera devoção. E somente a morte pode silenciar sua terna intercessão por eles.
Sim, se o cristianismo evangélico tem de permanecer vivo, precisa novamente de homens, o tipo certo de homens. Deverá repudiar os fracotes que não ousam falar o que precisa ser externado; precisa buscar, em oração e muita humildade, o surgimento de homens feitos da mesma qualidade dos profetas e dos antigos mártires. Deus ouvirá os clamores de seu povo, assim como Ele ouviu os clamores de Israel no Egito. Haverá de enviar libertação, ao enviar libertadores. É assim que Ele age entre os homens.
E, quando vierem os libertadores… Serão homens de Deus, homens de coragem. Terão Deus ao seu lado, porque serão cuidadosos em permanecer ao lado dEle; serão cooperadores com Cristo e instrumentos nas mãos do Espírito Santo…
“De fato sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11:6)
“Mas a palavra que ouviram não lhes aproveitou, visto não ter sido acompanhada pela fé, naqueles que a ouviram.” (Hb 4:2)
Estes dois versículos juntos no mostram como é vã toda a atividade religiosa onde não há fé. A atividade exterior deve ser realizada correta e diligentemente, mas a menos que a fé esteja em operação, Deus não é honrado e a alma não é edificada. A fé abre o coração de Deus, e é mediante a fé que recebemos a graça de Deus – não uma mera aceitação do que ‘é revelado em Sua Palavra, mas um princípio sobrenatural de graça que existe no Deus das Escrituras. Isso o homem natural, não importa o quanto religioso ou ortodoxo ele seja, não tem; e nenhum de seus esforços, nem atos da sua vontade, pode adquirir. É um dom soberano de Deus.
A fé deve operar em todas as atividades dos cristãos, se Deus há de ser glorificado e ele edificado.
Primeiro, na leitura da Palavra: “Estes, porém, foram registrados para que creiais” (Jo 20:31).
Segundo, no ouvir da pregação dos servos de Deus: “A pregação da fé” (Gl 3:2).
Terceiro, na oração: “Peça-a porém com fé, em nada duvidando” (Tg 1:6).
Quarto, na nossa vida diária: “Visto que andamos por fé, e não pelo que vemos” (II Co 5:7); “esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no filho de Deus” (Gl 2:20).
Quinto, em nossa partida desse mundo: “Todos estes morreram na fé” (Hb 11:13).
O que o fôlego é para o corpo, a fé é para a alma; pois alguém que sem fé busca realizar ações espirituais, é como se colocasse uma mola em um boneco de madeira, fazendo-o mover-se mecanicamente.
Um professo não-regenerado pode ler as Escrituras e ainda assim não ter qualquer fé espiritual. Assim como o hindu devoto lê atentamente o Upanishad e o muçulmano o seu alcorão, muitos países “cristãos” adotam o estudo da Bíblia, e mesmo assim não têm mais da vida de Deus em suas almas do que têm os seus irmãos pagãos. Milhares nesta terra lêem a Bíblia, crêem na sua autoria divina, e se tornam mais ou menos familiarizados com o seu contudo. Um mero professo pode ler vários capítulos diariamente, e mesmo assim nunca compreender um único versículo. Mas a fé aplica a Palavra de Deus: ela aplica Suas terríveis ameaças e estremece diante delas; ela aplica Suas solenes advertências, e procura atendê-las; ela aplica Seus preceitos, e suplica a Ele por sua graça para acompanhá-lo.
Acontece o mesmo no ouvir a pregação da Palavra. Um professo carnal se orgulhará de ter comparecido a esta ou aquela conferência, de ter ouvido aquele famoso professor e aquele renomado pregador, e ter tido tanto proveito para a sua alma quanto se nunca tivesse ouvido qualquer um deles. Ele pode ouvir dois sermões todo domingo, e depois de cinqüenta anos ser tão morto espiritualmente como é hoje. Mas o homem regenerado compreende a mensagem e avalia a si mesmo pelo que ouve. Ele é muitas vezes convencido dos seus pecados e feito lamentar deles. Ele testa a si mesmo pelo padrão de Deus, e se sente tão longe de ser aquilo que deveria que sinceramente duvida da sinceridade da sua profissão (de fé). A Palavra o corta em pedaços como uma espada de dois gumes, e o faz clamar “desventurado homem que sou!”
Na oração o mero professo muitas vezes faz o crente humilde envergonhar-se de si mesmo. O religioso carnal que tem “o dom da palavra” nunca se perde com elas: frases fluem de seus lábios tão prontamente como águas de um riacho murmurante; versículos das Escrituras parecem correr através de sua mente tão livremente como o pó passa pela peneira. Ao passo que o pobre oprimido filho de Deus é muitas vezes incapaz de fazer algo mais do que clamar “Ó Deus sê propício a mim pecador” . Ah, meus amigos, nós precisamos distinguir nitidamente entre a habilidade natural de “fazer” “boas orações” e o espírito de suplica verdadeira: um consiste meramente de palavras, o outro de “gemidos inexprimíveis”; um é adquirido por educação religiosa, o outro é implantado na alma pelo Espírito Santo.
Assim é também em assuntos sobre as coisas de Deus. O professo fútil pode conversar loquazmente, e muitas vezes, de modo ortodoxo, de “doutrinas”, sim, e de coisas terrenas também: de acordo com a sua disposição, ou dependendo da sua audiência, assim é o seu tema. Mas o filho de Deus, embora sendo pronto para ouvir o que é para edificação, é “tardio para falar”. Oh, meu leitor, cuidado com pessoas que falam muito; um tambor faz bastante barulho mas é vazio por dentro! “Muitos proclamam a sua própria benignidade, mas o homem fidedigno quem o achará?” (Pv 20:6). Quando um santo de Deus abre os seus lábios para falar de assuntos espirituais, é para dizer o que o Senhor, em Sua infinita misericórdia, tem feito por ele; mas o religioso carnal está ansioso sempre para que os outros saibam o que ele “tem feito pelo Senhor”.
A diferença é evidente da mesma forma, entre o crente genuíno e o crente nominal, com relação à vida diária: conquanto este último possa parecer exteriormente justo, ainda assim por dentro está “cheio de hipocrisia e iniqüidade” (Mt 23:28). Eles colocarão a pele de uma verdadeira ovelha, mas na realidade são “lobos em pele de ovelhas”. Mas os filhos de Deus têm a natureza da ovelha, e aprendem dAquele que é “manso e humilde de coração”, e como eleitos de Deus se revestem de “ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade” (Cl 3:12). Eles são em secreto o que são em público. Eles adoram a Deus em espírito e em verdade, e têm a sabedoria bem guardada no coração.
Também é assim no fim de suas vidas. Um professo vazio pode morrer tão fácil e tranqüilamente como viveu – abandonado pelo Espírito Santo, e não perturbado pelo diabo; como diz o salmista: “para ele não há preocupações” (Sl 73:4). Mas isso é muito diferente do fim daquele cuja consciência, profundamente sulcada e reconhecidamente corrompida, foi “aspergida” com o precioso sangue de Cristo: “Observa o homem íntegro, e atenta no que é reto; porquanto o homem de paz terá posteridade” (Sl 37:37) – sim, uma paz “que excede todo o entendimento”. Tendo vivido a vida do justo, ele morre a “morte do justo” (Nm 23:10).
E o que é que distingue um caráter do outro, onde está a diferença entre o crente genuíno e o que é apenas no nome? Nisto: uma fé dada por Deus e implantada no seu coração pelo Espírito. Não um mero concordar intelectual com a Verdade, mas um vivo, espiritual, e vital principio no coração – uma fé que “purifica o coração” (At 15:9), que “atua pelo amor” (Gl 5:6), que “vence o mundo” (I Jo 5:4). Sim, uma fé que divinamente mantida em meio a provações por dentro, e de oposições por fora; uma fé que exclama “ainda que me mate, nEle confiarei” (Jó 13:15).
É bem verdade que essa fé não está sempre em atuação, nem é igualmente forte em todo o tempo em atuação, nem é igualmente forte todo o tempo. O beneficiário dela deve ser ensinado por dolorosa experiência que da mesma forma como ele não a criou, ele também não pode comandá-la; por essa razão ele se volta para o seu Autor e diz: “Senhor eu creio, ajuda-me com a minha falta de fé”. E é assim para que quando ler a Palavra seja capaz de apossar-se das suas preciosas promessas; quando prostar-se diante do trono da graça, ele seja capaz de lançar o seu fardo sobre o Senhor; quando ele levantar-se para seus deveres temporais, seja capaz de apoiar-se nos braços eternos; e quando ele for chamado a passar pelo vale da sombra da morte, clame triunfante “não temerei mal nenhum, porque Tu estás comigo” . “Senhor aumenta-nos a fé”.
Bem-aventurado o homem cuja força está em Ti, em cujo coração estão os caminhos aplanados.
(Salmos 84.5)
O Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão.
(Salmos 84.11)
Senhor dos Exércitos, bem-aventurado o homem que em Ti põe a sua confiança.
(Salmos 84.12)
Isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à Minha voz, e Eu serei o vosso Deus, e vós sereis o Meu povo; e andai em todo o caminho que Eu vos mandar, para que vos vá bem.
(Jeremias 7.23)
Assim diz o Senhor Deus: Ai dos profetas loucos, que seguem o seu próprio espírito e que nada viram.
(Ezequiel 13.3)
Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os Seus caminhos justos são; Deus é a verdade, e não há Nele injustiça; justo e reto é.
(Deuteronômio 32.4)
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a Sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos.
(1Pedro 1.3)
Assim diz o SENHOR que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque Eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és Meu.
(Isaías 43.1)
Nunca terão fome, nem sede, nem o calor nem o sol os afligirá; porque O [Senhor] que se compadece deles os guiará e os levará mansamente aos mananciais das águas.
(Isaías 49.10)
Eis que Deus é a minha salvação; Nele confiarei e não temerei, porque o Senhor Deus é a minha força e o meu cântico, e se tornou a minha salvação.
(Isaías 12.2)
Porque os montes se retirarão e os outeiros serão abalados; porém a Minha benignidade não se apartará de ti, e a aliança da Minha paz não mudará, diz o Senhor que se compadece de ti.
(Isaías 54.10)
Ele [Deus] revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas e com Ele mora a luz.
(Daniel 2.22)
Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus; quanto a eles, é Ele, sim, blasfemado, mas quanto a vós, é glorificado.
(1Pedro 4.14)
O Senhor está comigo; não temerei o que me pode fazer o homem.
(Salmos 118.6)
Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do Seu servo? Quando andar em trevas e não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor e firme-se sobre o seu Deus.
(Isaías 50.10)
Em paz também me deitarei e dormirei, porque só Tu, Senhor, me fazes habitar em segurança.
(Salmos 4.8)
Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas e nos currais não haja gado; todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação.
(Habacuque 3.17, 18)
Bem-aventurado o homem que suporta a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que O amam.
(Tiago 1.12)
Não serão envergonhados nos dias maus, e nos dias de fome se fartarão.
(Salmos 37.19)
Saberás, pois, que o Senhor, teu Deus, Ele é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que O amam e guardam os Seus mandamentos.
(Deuteronômio 7.9)
Meus irmãos, tomai por exemplo de aflição e paciência os profetas que falaram em nome do Senhor.
(Tiago 5.10)
Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento.
(Provérbios 3.5)
Reconhece-O em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas.
(Provérbios 3.6)
Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal.
(Provérbios 3.7)
[Deus] levanta o pobre do pó e desde o monturo exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do Senhor são os alicerces da terra, e assentou sobre eles o mundo.
(1Samuel 2.8)
Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor o sustém com a Sua mão.
(Salmos 37.24)
Assim como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que O temem. Pois Ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó.
(Salmos 103.13, 14)
Aniquilará a morte para sempre e, assim, enxugará o Senhor Deus as lágrimas de todos os rostos e tirará o opróbrio do Seu povo de toda a terra; porque o Senhor o disse.
(Isaías 25.8)
Ensina-me a fazer a Tua vontade, pois és o meu Deus. O Teu Espírito é bom; guie-me por terra plana.
(Salmos 143.10)
[Disse Jesus:] Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.
(Apocalipse 3.11)
É melhor confiar no Senhor do que confiar no homem.
(Salmos 118.8)
Não poderei Eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel?, diz o Senhor. Eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na Minha mão, ó casa de Israel.
(Jeremias 18.6)
Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos.
(Filipenses 4.4)
Foge também das paixões da mocidade; e segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor.
(2Timóteo 2.22)
Invoquei o Senhor na angústia; o Senhor me ouviu e me tirou para um lugar largo.
(Salmos 118.5)
Ah! nosso Deus, porventura não os julgarás? Porque em nós não há força perante esta grande multidão que vem contra nós e não sabemos o que faremos; porém os nossos olhos estão postos em Ti.
(2Crônicas 20.12)
Deus faz com que o solitário viva em família; liberta aqueles que estão presos em grilhões; mas os rebeldes habitam em terra seca.
É possível ser submisso e, ao mesmo tempo, desobedecer. Paulo nos diz em Romanos 13.1-2: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade, resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação.”
Poderíamos pensar que essa passagem ensina obediência incondicional a qualquer classe de autoridade. Na realidade, ela deve ser aplicada aos governadores descritos no verso 3, que diz: “Porque não são para temor quando se faz o bem, e, sim, quando se faz o mal”. Mas alguns governantes são o oposto disso. Eles aterrorizam os que fazem o bem e recompensam os que fazem o mal.
Estive em Uganda depois que Idi Amim assumiu o poder. Ele era um bom exemplo daquele tipo de governante iníquo. E eu afirmo que obedecer a pessoas como ele não é a vontade de Deus para as nossas vidas.
Realizamos um seminário em Burundi, em 1969, e havia uma atmosfera de tumulto no país. Várias centenas de irmãos africanos assistiram ao seminário. Eram homens de Deus muito amados. Logo depois do nosso seminário, aquele país teve uma mudança de governo.
Dois grupos de tribos rivais compunham a base da população de Burundi. Um dos grupos era amigável aos europeus, mas o outro lhes era hostil. Foi este grupo hostil que tomou o poder. O resultado foi uma guerra civil. Houve uma carnificina. Entre outras coisas, o novo governo ordenou que todos os pastores se apresentassem para serem presos (a tribo que mantinha amizade com os europeus era bem evangelizada). Para nossa consternação, alguns dos pastores que assistiram ao nosso seminário se apresentaram e foram mortos. Eles tinham um conceito errado acerca de submissão. Eram homens a quem eu havia ministrado. Muitos deles eu considerava como amigos.
Isso me fez revisar alguns ensinamentos sobre submissão muito em voga nos nossos dias. Não havíamos ensinado nada acerca de submissão àqueles pastores. Mas gostaria que tivéssemos prestado mais atenção ao que o Espírito dizia naquele seminário, porque ele estava nos avisando sobre o tumulto que se avizinhava. Se tivéssemos instruído bem aqueles pastores a que não obedecessem a esse governo hostil e a que, pelo contrário, resistissem a ele e fugissem, muitos talvez estivessem vivos agora.
O governo e a liderança aos quais Deus quer que obedeçamos são aqueles que se fazem terror para as más obras e que condecoram as boas. Mas quando um líder ou governo fica enlouquecido, devemos resistir-lhe.
O Que é Submissão
Submissão não tem nada a ver com a obediência em si. Submissão não é uma obediência inquestionável à autoridade; não é a resposta cega a todo tipo de ordem. Submissão é uma atitude do coração. É uma vontade firme de seguir as instruções que não violem:
(1) o que Deus nos diz (At 4.17-30); ou
(2) o que a Bíblia nos ensina (Js 1.8; Is 8.20; At 17.11); ou
(3) o que nossa consciência nos diz (At 24.16; Rm 14.23; 1 Pe 2.19; 2 Co 4.2; 2 Co 1.12; 1 Co 8.7-12;10.29).
Dentro desses limites, é bom que nos submetamos àqueles que nos dirigem no Senhor, no governo, na sociedade e no lar. Fora desses limites, devemos aprender a desobedecer, mantendo sempre no coração uma atitude de submissão.
Três Jovens Hebreus
O rei Nabucodonosor fez um grande ídolo de ouro (Dn 3) e o erigiu na planície de Dura. Para a dedicação do ídolo, ele estabeleceu as regras pelas quais todo o povo se prostraria e adoraria a imagem. Qualquer um que deixasse de cumprir esta ordem seria lançado na fornalha ardente.
Isso se transformou numa situação difícil para os três jovens hebreus, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Eles eram submissos e queriam servir ao rei, mas disseram-lhe: “Ó Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste” (Dn 3.16-18).
Esses homens tinham coragem. Eles eram submissos. Mas o que o rei pedia contrariava as Escrituras. Por isso foram lançados na fornalha ardente, mas Deus estava com eles e os manteve vivos e salvos.
Os Apóstolos
No Novo Testamento, os apóstolos foram presos por pregar o evangelho (At 4). No dia seguinte, os membros do Sinédrio chamaram a sua atenção para que não pregassem mais sobre Jesus. Mas Pedro insistiu em afirmar que para eles era mais importante obedecer a Deus que aos homens. Completamente frustradas, as autoridades deixaram-nos ir embora. Mais tarde, porém, as autoridades ficaram ainda mais alarmadas pelas atividades dos apóstolos.
“Levantando-se, porém, o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, isto é, a seita dos saduceus, tomaram-se de inveja, prenderam os apóstolos e os recolheram à prisão pública. Mas, de noite, um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, lhes disse: Ide e, apresentando-vos no templo, dizei ao povo todas as palavras desta vida” (At 5.17-20).
Onde houver líderes hostis ao evangelho ou aos mandamentos de Deus, devemos resistir-lhes. Deus é a mais alta autoridade e devemos ser submissos a ele em todo o tempo. Esses homens não eram rebeldes. Eles queriam apenas seguir ordens razoáveis. Mas quando as autoridades se tornam um terror para as boas obras, ou quando suas ordens violam os mandamentos de Deus, então devemos obedecer a Deus antes que aos homens. E da mesma forma como o Senhor ficou ao lado dos três na fornalha ardente, ele enviou o seu anjo à prisão para libertar os apóstolos.
Jônatas, um Filho de Rei
Jônatas era filho de Saul e este lhe disse que matasse Davi (1 Sm 19.1). Eu creio que os filhos devem obedecer a seus pais. A Bíblia ensina assim. Mas quando Jônatas recebeu ordem de matar, qual era sua obrigação diante da Palavra, diante de Deus e dos propósitos divinos? Era obedecer a Deus e desobedecer a seu pai. Nem sempre submissão significa obediência.
Jônatas não era um rebelde; era submisso. Mas foi desobediente neste caso. Desobedeceu a Saul porque Saul era um líder a quem Deus já havia rejeitado.
Há muitos líderes no mundo de hoje os quais o Senhor rejeitou. Deus requer de nós que nos alinhemos com sua Palavra e seus propósitos e não obedeçamos a tais líderes. Submissos, sim; obedientes, não.
Talvez haja no seu emprego pessoas que querem que você minta e defraude em favor da empresa, ou que acompanhe líderes sindicais trapaceiros. Você não deve violar as Escrituras à guisa de estar em submissão. A sua responsabilidade é tomar uma posição aberta em favor daquilo que é certo.
As Parteiras Hebréias
As parteiras hebréias de Êxodo 1 também nos instruem neste assunto. “O rei do Egito ordenou às parteiras hebréias, das quais uma se chamava Sifrá, e a outra Puá, dizendo: Quando servirdes de parteira às hebréias, examinai: se for filho, matai-o, mas se for filha, que viva. As parteiras, porém, temeram a Deus, e não fizeram como lhes ordenara o rei do Egito, antes deixaram viver os meninos” (vv. 15-17). Viva! para mulheres como estas que se levantam contra o mandado do rei, porque temem mais a Deus do que ao rei. “E porque as parteiras temeram a Deus, ele lhes constituiu família” (v. 21). Elas foram premiadas por sua fiel desobediência.
Não estou aqui encorajando a rebelião contra o que é certo, justo e bom.
Necessitamos de autoridade se queremos ordem. Todos nós devemos aprender a submissão. Mas uma obediência inquestionável ou cega a uma liderança errada não é a vontade de Deus para nossas vidas.
A Esposa Que Morreu
“Entretanto, certo homem, chamado Ananias, com sua mulher Safira, vendeu uma propriedade, mas de acordo com sua mulher, reteve parte do preço, e, levando o restante, depositou-o aos pés dos apóstolos” (At 5.1). Estavam fazendo aquilo para demonstração exterior, tentando fazer o povo crer que eram espirituais quando, na verdade, em seus corações, estavam agarrados ao dinheiro.
Deus julgou-os por hipocrisia. Primeiro, Ananias entrou e contou sua história enganosa e, logo em seguida, morreu. Depois, sua esposa Safira entrou e ratificou a mesma versão. Ela morreu porque estava em cumplicidade com o erro. Mesmo sendo uma esposa submissa, ela deveria ter desobedecido. Safira teria permanecido viva se tivesse deixado de cooperar com o plano do seu marido. Necessita-se de muito mais coragem para desobedecer do que para seguir a multidão.
Quem sabe você é uma mulher cristã, casada com um marido descrente; não é fácil quando ele lhe pede para fazer algo errado. Talvez ele queira que você o acompanhe em filmes censurados ou que faça outra coisa que você sabe ser errada. Não viole sua consciência nem as Escrituras quando aplicadas à sua vida, pois você dará contas a Deus pela maneira como recebeu essas autoridades superiores.
Isso nos coloca numa posição bem apertada no lar, no emprego, no governo ou onde quer que sejamos chamados a estar comprometidos com aquilo que é reto. Temos que desobedecer às ordens pecaminosas, senão sofreremos as conseqüências. Eu mesmo tive que abandonar certas organizações quando descobri desonestidade, infidelidade e manipulação do povo de Deus por trás de tudo! Deus deixa de contar conosco quando fazemos parte de algo errado.
Conclusão
“Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade: porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor” (Gl 5.13). Se é verdade que em algumas ocasiões devemos desobedecer, isso não deve servir para facilitar a manifestação de nossos desejos oportunistas ou fortalecer nossa obstinação natural e desejo de conseguir nossa própria vontade. Também não é uma forma de fugir de nossa responsabilidade quanto ao bom relacionamento com o cônjuge, o patrão ou o governo. Tendo dito isso, nunca comprometamos nossa integridade quando estivermos em situações que requeiram uma posição inequívoca de submissão às mais altas autoridades que são Deus, sua Palavra e as exigências de nossa consciência.
Devemos estar prontos a sermos impopulares, mal-entendidos, a passarmos por tolos, se necessário, pela causa de Cristo, a fim de manter sempre nossa integridade e comunhão com o Senhor. Porque quando estivermos na presença do Senhor no dia do juízo, seremos galardoados por nossa fiel obediência a ele somente. Se temos sido fiéis, mesmo que isso nos custe amizades cortadas e relacionamentos desfeitos nesta vida, Deus nos honrará naquele dia.
Não devemos endossar passivamente a maldade. Devemos usar nossa influência para combater o mal. Isto vai requerer de nós que estejamos sempre submissos e que desobedeçamos quando necessário.
Essa pergunta nos conduz para dentro do que tem sido, para muitos evangélicos, um território inexplorado. Pensamos na conversão como o momento em que a culpa de todos os nossos pecados – do passado, do presente e do futuro, são lavados pelo sangue remidor de Cristo. Como pecadores justificados pela fé e herdeiros de sua glória prometida, nos regozijamos na salvação e não atinamos mais para as subsistentes deficiências e como Deus pode ainda “pesá-las”.
Se questionados, explicamos nossa posição é a da verdadeira segurança evangélica. Mas o que é isso?
Os puritanos históricos também eram evangélicos, mas divergiam de nós nesse ponto consideravelmente. Lembravam que Cristo nos havia ensinado a orar diariamente por perdão. Um dos exercícios de disciplina espiritual deles (que ainda não é nosso, geralmente) era o auto-exame toda a noite a fim de discernir quais atos em particular, praticados ou omitidos, pelos quais eram passiveis de pedido de perdão.
Em primeiro plano em suas mente estava a santidade de Deus, o temor diante de sua ira, e da sua maravilhosa longanimidade em educar e corrigir seus irresponsáveis e recalcitrantes filhos. Nessa realidade se contextualizava a certeza que tinham de que o sangue precioso de Cristo de fato limpava os arrependidos de todos os pecados. A maioria dos evangélicos posteriores não chega ao pé deles. Estamos quase todos fora do passo marcado por eles.
A Escritura ensina que na avaliação de Deus alguns pecados são piores e implicam em maior culpa do que outros. Alguns pecados nos causam maior dano. Moisés classifica a derrocada do bezerro de ouro como um grande pecado (Ex. 32:30). Ezequiel em sua terrível alegoria disse que depois de que Aolá (Samaria) arruinou-se pela sua infidelidade a Deus, Aolibá (Jerusalém) “tornou-se mais corrupta … e sua luxúria e lascívia eram piores do que as de sua irmã” (Ez 23:11). João distingue pecados que não são dos que são irremediavelmente para a morte (1Jo 5:16). Isso tudo sem contar a advertência de Jesus acerca do pecado imperdoável (Mc 3:28-30).
As perguntas nºs 151 e 152 do Catecismo Maior de Westminster, de produção puritana, trazem clareza à matéria quando analisa os agravantes dos pecados, assim provendo meios de discernir a gravidade e a culpa deles. Sobre um prisma, todos os pecados são iguais por mais triviais que nos pareçam. Eles são dignos da “ira e maldição de Deus, tanto nessa vida como na vindoura e não podem ser expiados senão pelo sangue de Cristo.” Nenhum pecado é pequeno quando é cometido contra o grande e benevolente Deus. Por outro lado, porém, a gravidade de cada transgressão depende uma série de fatores.
Primeiro na medida em que os transgressores são mais conhecidos, aos olhos do público e são considerados dignos de fé pública, “guia para os outros, e que serves de modelo para serem seguidos por outros.” Por exemplo, Salomão em 1 Reis 11:9-10 e o servo negligente em Lucas 12:48-49- pessoas reconhecidamente confiáveis flagradas em pecado; Natã descrevendo o pecado de Davi com Bete-Seba em 2 Samuel 12:7-10; e os judeus apresentados como guias portadores da luz do céu em Romanos 2:17-23.
Segundo, as transgressões são categorizadas em função das pessoas ofendidas, ou seja, numa graduação que vai do Pai, Filho e Espírito Santo para “qualquer dos santos, particularmente o irmão mais fraco”. Por exemplo, ha os que publicamente desonram a Cristo, em Hebreus 10:28-29; e os que levam as pessoas a tropeçarem em Mateus 18:6, Romanos 14:13-15, e 1 Coríntios 8:9-12.
Terceiro, na medida em que se desfia a consciência e a censura impostas pelos outros, os transgressores agem “deliberadamente, intencionalmente, presunçosamente, impudentemente, orgulhosamente, maliciosamente, freqüentemente, obstinadamente, com gáudio, contumácia, ou reincidência após o arrependimento”. Assim temos um desafio cumulativo a Deus em Jeremias 5:8 e Amos 4:8-11; indiferença à consciência e correção em Romanos 1:32 e Mateus 18:15-17; e recaída da graça em 2 Pedro 2:20-22.
Quarto, as “circunstâncias dos tempos e lugares,” fazem o mal ser pior – por exemplo, a junção de pecado com a religiosidade hipócrita em Ezequiel 23:37-39, e envolvimento de outros no pecado de alguém em 1 Samuel 2:22-24.
Finalmente, há o pecado imperdoável, a resistência obstinada à luz do Espírito acerca da divindade e graça de Jesus Cristo, que leva a retirada de qualquer possibilidade de fé e arrependimento, e sua conseqüência letal. Sua natureza está evidente em Mateus 12:31-32 e Marcos 3:28-30.
Precisamos aprender a ver o pecado de forma translúcida, tratar a nós mesmos de forma realista e repudiá-lo e odiá-lo de todo o coração.
J. I. Packer is Board é da Junta de Dirigentes e Professor de Teologia do Regent College e Editor Executivo de Christianity Today.