O camaleão, quando está na grama para pegar moscas e gafanhotos, toma a cor da grama, assim como o pólipo fica da cor da rocha sob a qual se esconde, de modo que o peixe pode ousadamente chegar perto dele sem qualquer suspeita de perigo. Da mesma maneira, Satanás se transforma na forma que menos tememos e coloca diante de nós objetos de tentação que são os mais agradáveis à nossa natureza e, assim, pode logo nos aproximar de sua rede. Ele navega com qualquer vento e nos leva para aquele caminho em que nos inclinamos para a fraqueza da natureza humana. Nosso conhecimento nos assuntos da fé é deficiente? Ele, então, nos tenta ao erro. Nossa consciência é frágil? Ele nos tenta ao perfeccionismo e à muita precisão. Nossa consciência é muito larga, como a linha eclípitca? Ele nos tenta à liberdade carnal. Somos pessoas de espírito ousado? Ele nos tenta à presunção. Somos medrosos e temerosos? Ele nos tenta ao desespero. Temos uma disposição flexível? Ele nos tenta à inconstância. Somos rígidos? Ele trabalha para fazer de nós heréticos, cismáticos e rebeldes obstinados. Somos de temperamento austero? Ele nos tenta à indulgência e à pena tolas. Somos quentes em questões de religião? Ele nos tenta ao zelo e à superstição cegos. Somos frios? Ele nos tenta à mornidão laodicense. Assim, ele coloca suas armadilhas para, de um modo ou de outro, nos enlaçar.
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Existe uma maldição antiga que permanece conosco até hoje — a disposição da sociedade humana de ser completamente absorvida por um mundo sem Deus.
Embora Jesus Cristo tenha vindo a este mundo, este é o pecado supremo dos incrédulos, o qual levou o homem a não sentir — nem sentirá — a presença dEle que permeia todas as coisas. O homem não pode ver a verdadeira Luz, tampouco pode ouvir a voz do Deus de amor e verdade.
Temos nos tornado uma sociedade “profana” — completamente envolvida em nada mais do que os aspectos físico e material desta vida terrena. Homens e mulheres se gloriam do fato de que são capazes de viver em casas luxuosas, vestir roupas de estilistas famosos e dirigir os melhores carros que o dinheiro pode comprar — coisas que as gerações anteriores nunca puderam ter.
Esta é a maldição que jaz sobre o homem moderno — ele é insensível, cego e surdo em sua prontidão de esquecer que existe um Deus. Aceitou a grande mentira e crença estranha de que o materialismo constitui a boa vida. Mas, querido amigo, você sabe que o seu grande pecado é este: a presença eterna de Deus, que alcança todas as coisas, está aqui, e você não pode senti-Lo de maneira alguma, nem O reconhece no menor grau? Você não está ciente de que existe uma grande e verdadeira Luz que resplandece intensamente e que você não pode vê-la? Você não tem ouvido, em sua consciência e mente, uma Voz amável sussurrando a respeito do valor e importância eterna de sua alma, mas, apesar disso, tem dito: “Não ouço nada?”
Muitos homens imprudentes e inclinados ao secularismo respondem: “Bem, estou disposto a agarrar minhas chances”. Que conversa tola de uma criatura frágil e mortal! Isto é tolice porque os homens não podem se dar ao luxo de agarrar as suas chances — quer sejam salvos e perdoados, quer sejam perdidos. Com certeza, esta é a grande maldição que jaz sobre a humanidade de nossos dias — os homens estão envolvidos de tal modo em seu mundo sem Deus, que recusam a Luz que agora brilha, a Voz que fala e a Presença que permeia e muda os corações.
Por isso, os homens buscam dinheiro, fama, lucro, fortuna, entretenimento permanente ou apego aos prazeres. Buscam qualquer coisa que lhes removam a seriedade do viver e que os impeça de sentir que há uma Presença, que é o caminho, a verdade e a vida.
Eu mesmo fui ignorante até aos 17 anos, quando ouvi, pela primeira vez, a pregação na rua e entrei numa igreja onde ouvi um homem citando uma passagem das Escrituras: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim… e achareis descanso para a vossa alma” (Mt 11. 28,29).
Eu era realmente pouco melhor do que um pagão, mas, de repente, fiquei muito perturbado, pois comecei a sentir e reconhecer a graciosa presença de Deus. Ouvi a voz dEle em meu coração falando indistintamente. Discerni que havia uma Luz resplandecendo em minhas trevas.
Novamente, andando pela rua, parei para ouvir um homem que pregava, em um cantinho, e dizia aos ouvintes: “Se vocês não sabem orar, vão para casa, ajoelhem-se e digam: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador”. Isso foi exatamente o que eu fiz. E Deus prometeu perdoar e satisfazer qualquer pessoa que estiver com bastante fome espiritual e muito interessado, a ponto de clamar: “Senhor, salva-me!”
Bem, Ele está aqui agora. A Palavra, o Senhor Jesus Cristo, se tornou carne e habitou entre nós; e ainda está entre nós, disposto e capaz de salvar. A única coisa que alguém precisa fazer é clamar com um coração humilde e necessitado: “ó Cordeiro de Deus, eu venho a Ti; eu venho a Ti!”
Quando Será a Véspera?
Existe um tempo, não sabemos quando,
Um ponto, não sabemos onde,
Que marca o destino dos homens,
Para glória ou desgraça.
Existe uma linha a nós invisível,
Que cruza cada caminho;
O limite misterioso entre
A paciência e a ira de Deus.
Passar este limite é morrer,
Morrer como se em segredo:
Ele não apagasse o olhar que brilha,
Nem empalidecesse a saúde que incandesce.
A consciência pode estar todavia tranqüila,
O espírito leve e alegre;
Naquele que pensa estar agradando,
E nem cuida ser arremessado para longe.
Mas sobre esta testa, Deus tem colocado
Permanentemente uma marca
Invisível ao homem, porque o homem ainda
É cego e corre na escuridão.
E ainda que o caminho do homem condenado
Como o Éden possa ter florido;
Ele não sabia, nem sabe, nem saberá,
Nem sente que está condenado.
Ele pensa e sente que tudo está bem,
E cada medo é tranqüilizado;
Ele vive, morre, acorda no inferno,
Não somente condenado mas desaprovado.
Ó, onde está Tua misteriosa linha,
A qual nosso caminho cruza,
Além da qual o próprio Deus tem jurado,
Estar perdido quem dela passar?
Até onde podemos viver pecando?
Quanto Deus tolerará?
Quando a esperança termina? E onde começam
Os confins do desespero?
Uma resposta dos céus é enviada:
“Tu que te desvias de Deus
Enquanto és chamado, hoje, Arrepende-te!
E não endureças o teu coração.”
(C. H. Spurgeon)
Exames
Provas da faculdade, exames, dificuldades… Muitos estudantes acabam de passar estas datas temidas das quais dependem, mais ou menos, seu futuro terreno. Êxito ou fracasso, qualquer que seja o resultado de seus esforços, se o jovem cristão colocou nas mãos do Senhor o cuidado de conduzir sua vida, poderá dar-Lhe graças tanto por uma porta fechada como por uma aberta.
Mas não é destes exames que queremos falar-lhe agora. Tudo em nossa vida natural tem seu equivalente na vida espiritual. Cada um de nós nasceu certo dia em certa família composta por pais e irmãos. Tivemos de aprender a caminhar, falar, obedecer… Depois, veio a idade escolar, os estudos intermediários e, por fim, o exercício de uma profissão. Da mesma maneira, a vida espiritual de cada crente começa com o novo nascimento, que o faz entrar na família de Deus. Recém-nascido, seus primeiros balbúcios expressam a consciência da relação com o Pai: “Aba, Pai” (Rm 8.15). “Eu vos escrevi, filhos, porque conhecestes o Pai” (1Jo 2.13). Se é bem alimentado, se recebe os cuidados necessários, o recém-nascido em Cristo fará progressos que alegrem o coração do Pai e o de seus irmãos na fé. Dará seus primeiros passos no caminho cristão, aprenderá a obedecer, a orar, a dar testemunho. Então, goste ou não, deverá passar pela escola de Deus. Como em todas as escolas, na de Deus encontramos:
Um Professor. Quando Jesus estava na terra, Ele mesmo ensinava. Era o divino Mestre (Mt 7.29; Jó 36.22). Antes de Sua partida, confio o cuidado dos Seus ao Espírito Santo, Que O substitui atualmente. “Esse vos ensinará todas as coisas”, anunciou Jesus (Jo 14.26). todas as “matérias” que integram a totalidade da verdade são de Sua competência: o conhecimento de Cristo e de Sua Igreja, a doutrina, os aspectos proféticos, a vida cristã na prática, a qual, por sua vez, compreende o andar, o combate, a luz que o discípulo de Cristo irradie no meio do mundo, e o serviço sob seus diferentes aspectos. Não sejamos negligentes com nenhuma dessa “matérias”.
Uma Disciplina, ou seja, um conjunto de regras morais com suas respectivas sanções, cuja meta é que sejamos louvados por haver trabalhado bem, e censurados ou castigados quando agimos mal. Evitemos menosprezar essa disciplina e, igualmente, de desanimar quando somos repreendidos por Deus por meio dela. Seu objetivo é fazer de nós discípulos, homens maduros.
Um Livro: a Bíblia, suma de todo o conhecimento divino, prescrita e adaptada a todas as classes e idades como nenhum outro livro. De que livro escolar se poderia dizer isso?
Lições: umas, as teóricas, são ensinadas nas reuniões ou em nossas leituras pessoais da Palavra de Deus. Outras, as práticas, resultam da experiência cotidiana. Trata-se de aplicar em nossa vida diária o que temos compreendido pela inteligência e guardado na memória. Quais são as duas grandes lições que resumem o ensinamento da escola de Deus? Aprendemos a conhecer a nós mesmos, com nossas insuficiências, miséria e debilidades, e, simultaneamente, progredimos no conhecimento de Cristo com Sua perfeita suficiência, Sua misericórdia e Seu poder que se aperfeiçoa na fraqueza (2Co 12.9).
Exames, inevitáveis na escola de Deus. Geralmente, não são anunciados antecipadamente; são realizados, no mais das vezes, de surpresa. Por exemplo, hoje pode haver uma prova de paciência. Pouco importa o problema que se me apresente ou o instrumento do qual Deus se sirva: um contato com uma pessoa de caráter difícil ou da sucessão de pequenas contrariedades. Se eu não me preparei bem por meio da oração e da humilde confiança em Deus, nem sequer me darei conta de que se trata de uma prova. Só verei o instrumento e não a mão sábia que o conduz, a pessoa desagradável e não o divino Instrutor. Inevitavelmente, fracassarei: em lugar de pagar o mal com o bem (Rm 12.21), serei vencido pelo mal, neste caso a irritação ou a cólera. Freqüentemente, experimentamos exames de “prioridades”. Quando se me apresenta um determinado caso, a quem darei prioridade: a Cristo ou a outra pessoa? A Sua Palavra ou a uma leitura qualquer? A Seu serviço ou aos meus interesse?
Outro exemplo de exame: a Palavra me adverte sobre as armadilhas que o mundo e Satanás armam para o cristão; também me explica o meio de evitá-las. Mas chega o dia em que sou posto à prova: uma dessas armadilhas está realmente diante de mim. Se não creio no que a Palavra me diz ou se confio em minhas forças para enfrentá-la, fracassarei para minha completa confusão. Terei de “repetir” esta matéria e atrasar os progressos cristãos cujo conjunto constitui minha “escolaridade espiritual”.
Estes são exames nos quais ninguém pode colar, porque “todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos Daquele com Quem temos de tratar” (Hb 4.13). Cada um é julgado segundo seu verdadeiro nível e também por sua própria conta. Teremos de comparar-nos com os demais e contentar-nos com uma nota “aceitável” pretendendo que outros apenas obtenham um resultado “medíocre”, segundo nosso parecer. Mas o Espírito Santo, Que nos ensina, tem metas mais altas para nós. Ele nos apresenta o Modelo perfeito, excelente em tudo, e nos convida a seguir Suas pisadas; espera de nós alguma semelhança moral com Jesus. E este Homem perfeito não escapou da prova antes de começar Seu ministério. Ao se encontrar a Satanás no deserto, triunfou sobre toda tentação.
Vários jovens se esmeram em preparar sua vida profissional, ou seja, seu futuro terrenal. Parece-lhes que vale a pena dedicar-se durante meses ao estudo e expor-se a renúncias e esforços consideráveis. Até mesmo faltam às reuniões cristãs, crendo assim preparar-se melhor para um exame. Em contraste, não somos descuidados quanto a nosso futuro eterno? No entanto, da maneira como temos aprendido nossas lições espirituais dependerá não somente o serviço mais ou menos frutífero que possamos cumprir para o Senhor enquanto esperamos Seu regresso, mas também as coroas que Ele dará no dia das recompensas a fim de pô-las, para Sua própria glória, sobre a cabeça daqueles que as mereceram.
Desejamos fazer parte destes?
(Traduzido por Francisco Nunes de Exámenes, Um mensaje bíblico para todos, n. 11/2003, de J. Kn. Publicado por Ediciones Bíblicas Para Todos, Suíça.)
Leitura da Bíblia: Ez 44.15-18
Notemos, a principio, que há aparentemente pouca diferença entre ministrar à casa e ministrar ao Senhor. Muitos de vocês estão fazendo o máximo para ajudar seus irmãos e estão labutando para salvar pecadores e administrar as questões relacionadas à igreja, mas deixem-me perguntar-lhes: vocês têm procurado ir ao encontro das necessidades ao seu redor ou têm procurado servir ao Senhor? Vocês têm em vista o seu próximo ou Ele?
Sejamos bem francos. Trabalhar pelo Senhor, sem dúvida, tem suas atrações para a carne. Você pode achar isso muito interessante e ficar empolgado quando multidões se juntam para ouvi-lo pregar, e quando muitas almas são salvas. Se tiver de ficar em casa, ocupado de manhã à noite com coisas seculares, você, então, haverá de pensar: “Como a vida é sem sentido! Que bom seria se eu pudesse sair e servir ao Senhor! Se pelo menos eu fosse livre para andar por aí pregando ou mesmo conversando com as pessoas a respeito Dele!”
Isso, porém, não é espiritualidade; é meramente uma preferência natural. Oh, se ao menos pudéssemos ver que muita obra feita para Deus não é realmente ministrar a Ele! Ele próprio nos disse que havia uma classe de levitas que, diligentemente, serviam no templo e assim mesmo não O serviam, mas meramente serviam à casa. Serviço ao Senhor e serviço à casa parecem ser tão semelhantes que freqüentemente é difícil fazer diferença entre ambos.
Se um israelita viesse ao templo e quisesse adorar a Deus, aqueles levitas viriam em seu auxílio e o ajudariam a oferecer sua oferta pacífica e seu holocausto. Eles o ajudariam a levar 0 sacrifício ao altar e lá o imolariam. Certamente aquela era uma grande obra na qual eles deviam se envolver – restaurar pecadores e conduzir crentes para mais perto do Senhor! E Deus levou em conta o serviço daqueles levitas, que ajudavam as pessoas a trazer suas ofertas pacíficas e seus holocaustos ao altar. Ainda assim, Deus disse que isso não era ministrar a Ele.
Irmãos e irmãs, há um pesado encargo em meu coração para fazê-los perceber o que Deus está querendo. Ele quer ministros que ministrem a Ele. “Se chegarão a Mim, para Me servirem, e estarão diante de Mim, para Me oferecerem a gordura e o sangue (…) para Me servirem”.
O que eu mais temo é que muitos de vocês saiam e ganhem pecadores para o Senhor e edifiquem crentes, sem, no entanto, ministrar ao próprio Senhor. Muito do assim chamado serviço a Ele é simplesmente estarmos seguindo nossas próprias inclinações naturais. Temos tanta disposição para atividades que não suportamos ficar em casa; por isso corremos e corremos para nosso próprio alívio. Podemos estar servindo pecadores e estar servindo crentes, mas estamos a todo tempo servindo a nossa propria carne.
Tive uma querida amiga que agora está com o Senhor. Um dia, depois de termos passado juntos algum tempo em oração, lemos essa passagem em Ezequiel. Ela era bem mais velha do que eu e dirigiu-se a mim deste modo: “Meu jovem irmao, há vinte anos estudei pela primeira vez essa passagem da Escritura”. “Como você reagiu a ela?”, perguntei. Ela replicou: “Tão logo terminei de lê-la, fechei minha Biblia e, ajoelhando-me diante do Senhor, orei: ‘Senhor, faz com que eu seja alguem que ministre a Ti, não ao templo”‘. Será que nós também poderíamos fazer esta oração?
Mas o que nós realmente queremos dizer quando falamos em servir a Deus ou servir ao templo? Aqui está o que a Palavra diz: “Mas os sacerdotes levíticos, os filhos de Zadoque, que cumpriram as prescrições do Meu santuário, quando os filhos de Israel se extraviaram de Mim, eles se chegarão a Mim, para Me servirem, e estarão diante de Mim, para Me oferecerem a gordura e o sangue, diz o Senhor Deus”. As condições básicas para qualquer ministério que realmente possa ser chamado de ministério ao Senhor são: chegar-se a Ele e estar diante Dele.
Freqüentemente, como achamos difícil chegar a Sua presença! Recuamos diante da solidão, e, mesmo quando nos separamos fisicamente, nossos pensamentos ainda ficam vagando. Muitos de nós gostam de trabalhar entre pessoas, mas quantos de nós se achegam a Deus no Santo dos Santos? Entretanto, é somente quando nos aproximamos Dele que podemos ministrar a Ele. Entrar na presença de Deus e ajoelhar-se diante Dele por uma hora exige toda a força que possuímos. Temos de ser rigorosos para manter essa posição. Contudo, todo aquele que serve ao Senhor conhece a preciosidade de tais momentos – a doçura de acordar à meia-noite e gastar um tempo em oração, ou acordar bem cedo de manhã e levantar-se para um tempo de oração, antes de terminar o sono noturno. Deixem-me ser bem franco com vocês: a menos que realmente saibamos o que é achegar-se a Deus, não poderemos saber o que é servi-Lo. É impossível permanecer distante e ainda ministrar a Ele. Não podemos servi-Lo à distância. Há somente um lugar onde é possível ministrar a Ele, e esse é o Lugar Santo. No átrio exterior você se aproxima das pessoas; no Lugar Santo você se aproxima do Senhor.
A passagem que citamos enfatiza a necessidade de nos achegarmos a Deus, se quisermos ministrar a Ele. Também fala de permanecer diante Dele para ministrar. Parece-me que hoje todos estamos querendo nos movimentar; não conseguimos permanecer quietos. Há tantas coisas reclamando nossa atenção que estamos constantemente ocupados, não conseguimos parar por um instante. Uma pessoa espiritual, entretanto, sabe como permanecer quieta. Ela consegue permanecer diante de Deus até que Ele torne Sua vontade conhecida. Ela consegue ficar quieta e esperar as ordens.
Quero dirigir-me especialmente a meus cooperadores. Posso perguntar-lhes: todo o seu trabalho não é invariavelmente organizado e executado de acordo com um cronograma? E ele não tem de ser feito com grande pressa? Vocês podem ser persuadidos a fazer uma parada e não se mover por algum tempo? Isso é o que se menciona aqui: “chegarão (…) para Me servirem”.
Ninguém pode realmente ministrar ao Senhor e não conhecer o significado desta expressao: “Se chegarão a Mim, para Me servirem”. Tampouco pode alguém ministrar a Ele e não entender também esta expressão: “Estarão diante de Mim, para Me oferecerem”. Irmãos, vocês não acham que todo servo deve aguardar as ordens de seu amo antes de procurar servi-Lo?
Há somente dois tipos de pecado diante de Deus. Um é o pecado de rebelar-se contra os Seus mandamentos, isto é, recusar-se a obedecer quando Ele dá ordens. 0 outro é o pecado de avançar quando o Senhor não deu as ordens. 0 primeiro é rebelião; o segundo é presunção. Um é não fazer o que o Senhor exigiu; o outro é fazer o que o Senhor não exigiu. Ficar diante do Senhor trata com o pecado de fazer o que Ele não ordenou.
Irmãos e irmãs, quanto do trabalho que vocês fizeram foi baseado numa ordem clara do Senhor? Quanto vocês fizeram por causa de Suas instruções diretas? E quanto vocês fizeram simplesmente porque aquilo que fizeram era bom de se fazer? Deixem-me dizer-Ihes que nada prejudica tanto os interesses do Senhor como uma “coisa boa”. “Coisas boas” são o maior empecilho para o cumprimento de Sua vontade. Quando nos deparamos com qualquer coisa maligna ou impura, imediatamente reconhecemos nisso algo que o cristão deve evitar, e, por essa razão, as coisas que são evidentemente malignas não são tanto uma ameaça ao propósito de Deus como as coisas boas. Vocês podem pensar: “Isso não seria errado”, ou: “Aquilo é a melhor coisa que poderia ser feita”. Assim, vocês vão em frente e agem sem parar para perguntar se isso é a vontade de Deus. Oh, todos nós que somos Seus filhos sabemos que não devemos fazer nenhum mal, mas pensamos que uma vez que nossa consciência não proíbe tal coisa, ou se algo nos parece positivamente bom, isso é motivo suficiente para irmos em frente e fazê-lo.
Aquilo que vocês pensam fazer pode ser muito bom, mas vocês estão permanecendo diante do Senhor, aguardando Sua ordem a respeito daquilo? “Estarão diante de Mim” envolve permanecer na Sua presença e recusar a mover-se até que Ele dê Suas ordens. Ministrar ao Senhor significa isso. No átrio exterior é a necessidade humana que governa. Simplesmente permita que alguém venha para sacrificar um boi ou uma ovelha, e há trabalho para você fazer. No Santo dos Santos, entretanto, há completa reclusão. Alma nenhuma entra. Aqui, nenhum irmão ou irmã nos governa, nem alguma comissão determina nossas ações. No Santo dos Santos há somente uma autoridade – a do Senhor. Se Ele me designa uma tarefa, eu a realizo; se Ele nada me designa, eu nada faço.
Algo, porem, é exigido de nós quando permanecemos diante do Senhor e ministramos a Ele. Requer-se de nós que Lhe ofereçamos “a gordura e o sangue”. 0 sangue responde às exigências de Sua santidade e justiça; a gordura vai ao encontro de Sua glória. O sangue trata com a questão de nosso pecado; a gordura trata com a questão de Sua satisfação. O sangue remove tudo o que pertence à velha criação; a gordura introduz a nova. E isso é algo mais do que doutrina espiritual. Nossa vida da alma foi envolvida no derramamento de Sua alma até a morte. Quando derramou Seu sangue eternamente incorruptível, Ele não só estava derramando a própria vida, mas também toda a vida que o homem tinha por nascimento natural. Ele não só morreu, mas ressuscitou dentre os mortos e “a vida que agora vive, vive para Deus”. Ele vive para a satisfação de Deus. Ele oferece “a gordura e o sangue”. Nós tambem, que queremos ministrar ao Senhor, precisamos oferecer a gordura e o sangue. E o impossível é possível com base no que Ele fez.
Tal ministério, porém, está confinado a certo lugar: “Eles entrarão no Meu santuario, e se chegarão a Minha mesa, para Me servirem, e cumprirão as Minhas prescrições” (v. 16). 0 ministrar que é “a Mim” é no santuário interior, no lugar oculto, não no átrio exterior, exposto à vista pública. As pessoas podem pensar que não estamos fazendo nada, mas o serviço a Deus dentro do Lugar Santo transcende em muito o serviço ao povo no átrio exterior. Irmãos e irmãs, aprendamos o que significa permanecer diante do Senhor aguardando Suas ordens, servindo somente sob Seu comando e sendo governados por nenhuma outra coisa senão a Sua vontade.
A mesma passagem nos fala como devem se vestir os que ministram ao Senhor: “Usarão vestes de linho; não se porá lã sobre e1es, quando servirem nas portas do átrio interior, dentro do templo. Tiaras de linho lhes estarão sobre as cabeças, e calções de linho sobre as coxas”. Os que ministram ao Senhor não podem usar lã. Por que não? A razão é dada a seguir: “Não se cingirão a ponto de lhes vir suor” (vv. 17,18). Nenhuma obra que produz suor é aceitáve1 ao Senhor. Afinal, que significa suor? Todos sabemos que a primeira vez que suor é mencionado nas Escrituras foi quando Adão foi expulso do jardim do Éden. Depois que Adão pecou, Deus pronunciou esta sentença: “Maldita é a terra por tua causa: em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida (…) no suor do rosto comerás o teu pão” (Gn 3.17,19). Está claro que suor é uma condição de maldição. Porquanto a maldição estava na terra, ela cessou de dar seu fruto sem o esforço do homem, e tal esforço produzia suor. Quando a bênção de Deus é retirada, torna-se necessário o esforço carnal, e isso causa suor.
Toda obra que produz suor é positivamente proibida àque1es que ministram ao Senhor. Ainda hoje que dispêndio de energia há em obras feitas para Ele! Ah! poucos cristãos hoje podem fazer qualquer obra sem suor. A obra deles envolve planejamento e esquematização, exortações e instâncias, e muita correria.
Não pode ser feita sem grande zelo carnal. Hoje em dia, se não houver suor, não poderá haver obra. Antes de ser empreendida qualquer obra para Deus, há muita correria para lá e para cá, fazendo-se muitos contatos; há consultas e discussões, obtendo-se, por fim, a aprovação de diversas pessoas antes de ir em frente. Quanto a esperar quieto na presença de Deus e buscar Suas instruções, isso está fora de questao. No entanto, numa obra espiritual, o único fator a
ser levado em conta é Deus. A única Pessoa que se deve contatar é Deus. Oh! esta é a preciosidade da obra espiritual: ela está relacionada com Deus. E em relação a Ele há uma obra a ser feita, mas é obra que não produz suor. Se tivermos de divulgar a obra e utilizar grande esforço para promovê-la, então, é óbvio que ela não brota da oração na presença de Deus. Por favor, acompanhe-me quando digo que toda obra que é realmente espiritual é feita na presença de Deus. Se você trabalhar realmente na presença de Deus, ao entrar na presença dos homens, eles responderão. Você não terá de usar meios sem fim para ajudá-los. Obra espiritual é obra de Deus, e quando Deus trabalha, o homem não precisa despender muito esforço, a ponto de suar.
Irmãos e irmãs, vamos, com toda honestidade, examinar a nós mesmos diante de Deus hoje. Vamos perguntar-Lhe: “Estou servindo a Ti ou estou servindo à obra? 0 meu ministério é ‘para o Senhor’ ou é ‘para a casa’?” Se você está suando o tempo todo, então, você mesmo pode chegar à conclusão de que está servindo à casa e não ao Senhor. Se toda a sua atividade está relacionada com a necessidade humana, você pode ficar ciente de que está servindo a homens, não a Deus. Não estou desprezando o trabalho de imolar sacrifícios no altar; é uma obra para Deus e alguém tem de fazê-la, mas Deus quer algo mais do que isso.
Deus não pode garantir todos para o serviço a Si mesmo, porque muitos dos que são Seus relutam em abandonar a emoção e a excitação do átrio exterior. Eles são propensos a servir às pessoas. Mas, e quanto a nós? Oh, que digamos hoje ao Senhor: “Eu estou disposto a renunciar às coisas; eu estou disposto a renunciar à obra; eu estou disposto a renunciar ao átrio exterior e quero servir-Te no santuário interior”.
Quando Deus não conseguiu trazer todos os levitas ao local onde deviam ministrar a Ele, Ele escolheu os filhos de Zadoque dentre eles para este serviço especial. Por que Ele selecionou os filhos de Zadoque? Porque, quando os filhos de Israel se desviaram, eles reconheceram que o átrio exterior ficara irreparavelmente corrompido e por isso não procuraram preservá-lo, mas encarregaram-se de preservar a santidade do Lugar Santo.
Irmãos e irmãs, vocês conseguem suportar a idéia de abandonar a estrutura externa ou persistirão em montar uma proteçãao para preservá-la? É o Lugar Santo que Deus deseja preservar – um lugar totalmente separado para Ele, um lugar em que o padrão é absoluto. Oh! eu lhes suplico, diante de Deus, que ouçam Seu chamado para renunciar ao átrio exterior e a se devotar a Seu serviço no Lugar Santo.
Gosto de ler em Atos 13 sobre os profetas e mestres na igreja em Antioquia: “Servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse 0 Espirito Santo: Separai-me agora a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado”. Ali vemos o único princípio que governa a obra para Deus na dispensação do Novo Testamento. 0 Espírito Santo comissiona homens para a obra somente quando eles estão ministrando ao Senhor. Se o ministrar ao Senhor não for a única coisa que nos governa, a obra ficará em confusao. No início da história da igreja em Antioquia, o Espírito Santo disse: “Separai-Me agora a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado”. Deus não quer voluntários para Sua obra; Ele quer convocados. Ele não terá você pregando o evangelho só porque você quer. A obra do Senhor hoje está sofrendo sério dano nas mãos de voluntários; faltam aqueles que podem dizer como Ele: “Aquele que Me enviou”. Oh, irmãos e irmãs, a obra de Deus é Sua própria obra e não uma obra que você pode abraçar a seu bel-prazer. Nem igrejas, nem sociedades missionárias, nem equipes de evangelização podem enviar homens para trabalhar para Deus. A autoridade para comissionar homens não está nas mãos de homens, mas tão-somente nas mãos do Espírito de Deus.
Servir ao Senhor não significa que não servimos ao nosso próximo, mas significa que todo serviço a homens tem o serviço ao Senhor como sua base. É o serviço a Deus que nos impele a servir ao homem.
Lucas 17.7-10 nos diz claramente o que o Senhor quer. Há dois tipos de obra mencionadas aqui: arar o campo e guardar o gado. Ambas são ocupações muito importantes, ainda que o Senhor diga que, até mesmo quando um servo retorna de tal trabalho, espera-se que ele providencie a satisfação de seu amo antes de sentar-se para desfrutar sua própria comida. Quando voltamos de nossa labuta no campo, estamos aptos para complacentemente meditar no muito trabalho que executamos, mas o Senhor poderá dizer: “Prepara-Me a ceia, cinge-te”. Ele exige o ministrar a Ele. Podemos ter labutado num campo bem grande e cuidado de muitas ovelhas, mas toda a nossa labuta no campo e junto ao gado não nos isenta de ministrar à propria satisfação pessoal do Senhor. Essa é a nossa suprema tarefa.
Irmãos e irmãs, estamos realmente atrás de quê? Somente trabalhar no campo? Somente pregar o evangelho aos incrédulos? Somente cuidar do gado? Somente cuidar das necessidades dos salvos? Ou será que estamos cuidando a fim de que o Senhor coma para Sua plena satisfação e beber até que Sua sede seja saciada? Realmente, é-nos necessário também comer e beber, mas isso só deve acontecer após o Senhor estar satisfeito. Nós também precisamos ter nosso desfrute, mas isso jamais poderá ocorrer antes que o gozo do Senhor seja pleno. Perguntemo-nos: nosso trabalho ministra para nossa satisfação ou para a satisfação do Senhor? Temo que, ao trabalharmos pelo Senhor, freqüentemente ficamos satisfeitos antes que Ele fique satisfeito. Muitas vezes ficamos tão felizes com nossa obra enquanto Ele não encontra prazer algum nela.
Irmãos e irmãs, quando fizemos o melhor, ainda temos de admitir que somos servos inúteis. Nosso objetivo não é ministrar ao mundo, nem à igreja, mas ministrar ao Senhor. E bem-aventurados aqueles que conseguem diferenciar entre ministrar aos pecadores ou aos santos e ministrar a Ele. Tal discernimento não é facilmente adquirido. Somente mediante um tratamento drástico aprenderemos a diferença entre ministrar ao próprio Senhor e ministrar à casa.
No entanto, se o Espírito Santo tiver Seu caminho em nossa vida, Ele proverá de acordo com a necessidade. Busquemos a graça de Deus a fim de que Ele nos revele o que realmente significa ministrar a Ele!
(Doze Cestos Cheios, vol. 2, Editora Árvore da Vida)
Se seguirmos o mover de Deus ao longo da história da humanidade, notaremos o fluir da atividade divina passando de uma geração a outra, e em nossa geração, podemos vê-la fluindo ainda de forma ininterrupta, avançando firmemente..
Faz já algum tempo, senti-me profundamente comovido ao meditar a respeito de alguns dos escritos de Wesley. Por meio deste Seu servo, Deus fez algo tão poderoso que, possivelmente, os alcances de seu esforço não possam ser superados hoje em dia, não obstante ser inegável que Deus continua a mover-se desde a época de Wesley. A corrente do Espírito avança constantemente. A corrente espiritual é uma corrente que segue crescendo.
Nisso há um princípio que é necessário termos em conta: todo aquele que em seu dia e geração responde plenamente às exigências de Deus será levado adiante pela corrente do propósito divino. Se, entretanto, aferrar-se ao passado, querendo que Deus trabalhe como fez outrora, anelando que se repita algo que, a seu próprio juízo, é de muita importância devido ao seu valor espiritual, encontrar-se-á deixado de lado pela corrente principal do mover divino. Ser um Lutero no século 16 foi de muita importância, porém ser um Lutero no século 20 não seria suficiente. Ser um Wesley no século 18 foi de grande valor para o Senhor, porém não o seria no século 20. Cada instrumento levantado por Deus cumpre uma função determinada, e a contribuição que cada um faz à Igreja é adequada estritamente há essa hora, porém não servirá para edificar a Igreja numa etapa posterior de seu desenvolvimento.
É de lamentar que muitos fracassam ao não reconhecer o avanço da corrente viva do rio através da história da igreja. Nós, que vivemos hoje, herdamos uma imensa riqueza por intermédio dos santos que já fizeram sua contribuição à Igreja.. Nunca poderemos superestimar a grandiosidade de nossa herança nem ser suficientemente agradecidos a Deus por ela; porém, se hoje anelamos ser um Lutero ou um Wesley, seremos nada mais e nada menos que um fracasso. Não estaremos enquadrados no propósito de Deus para esta geração, mas retrocederemos, enquanto a corrente do Espírito continuará a mover-se. Toda a Bíblia, de Gênesis a Apocalipse, mostra uma corrente que avança. O Santo Registro, do princípio até o fim, nos mostra uma revelação progressiva do mover de Deus.
Em certa ocasião, um irmão me interrogou sobre a importância da Epístola aos Hebreus. Perguntei-lhe se havia notado alguma diferença significativa entre esse livro e o de Atos. Neste último, a natureza progressiva da atividade divina se percebe claramente, porém a revelação por meio da Epístola aos Hebreus assinala um marcado progresso no tocante à revelação do propósito divino. O avanço espiritual que se observa em Atos é óbvio e a forma de avanço do Espírito segue o programa claramente delineado no primeiro capítulo: “Em Jerusalém, em toda Judéia, em Samaria, e até os confins da terra. Da Judéia, a corrente fluiu para Samaria; porém, ao chegar a esse lugar não estancou ali, mas seguiu seu curso para Roma, porquanto estava destinada a alcançar até os confins da terra.
Ainda que possamos notar o constante avanço do propósito divino em todo o livro de Atos, na sua conclusão encontramos que o conceito do que é ser um cristão ainda não se havia esclarecido totalmente. Entretanto, ao ler a carta aos hebreus, notamos que o cristão saiu de um período de transição e sua personalidade integrou-se totalmente. Em Atos, ele é tanto judeu como cristão. Junto com outros cristãos, congrega-se fora do templo para ter comunhão com eles, porém ainda continua visitando o templo. Entretanto, quando chegamos à Epístola aos Hebreus, encontramos o que já não é judeu e cristão, mas é simplesmente cristão. E já não se encontra seus camaradas cristãos algumas vezes dentro do templo e outras, fora. O que eles podiam fazer quando o Espírito havia sido recentemente derramado em Jerusalém não pode fazer agora que a corrente do Espírito continua fluindo para os confins da terra. Em Hebreus, encontramos os que já deixaram para trás o templo pelo “verdadeiro tabernáculo que o Senhor levantou, e não o homem”, e que puseram de lado os muitos sacrifícios, porquanto, com “uma só oferta”, o crente foi declarado “perfeito para sempre”.
Em Atos, lemos que Paulo foi ao templo para cumprir um voto. Não nos apressemos a pensar que cometeu um erro. Não nos arrisquemos a aplicar o veredito final de Deus sobre Seus santos em cada época, porque o mover de Deus para a meta final é progressivo. O que se requer, tanto de você como de mim hoje em dia, não é que alcancemos o definitivo, mas que nossa estatura corresponda ao nível adquirido pelo desenvolvimento do propósito divino na presente época. Você e eu devemos achar-nos no ponto ao qual chegou a corrente do Espírito hoje, não no ponto que havia chegado em algum momento do passado nem no que alcançará no futuro. Não era errado que Paulo se purificasse no templo segundo a velha aliança, porém aquilo que era correto naquele momento já não o seria mais adiante. Portanto, o escritor aos hebreus explica que a realização do propósito de Deus ao estabelecer a nova aliança envolvia a total abolição da velha ordem, à qual os crentes judeus se aferravam tão tenazmente. Uma vez que a velha aliança cumpriu o propósito de Deus, teve de dar lugar à nova.
O livro de Atos é progressivo do princípio ao fim, e quando o relato se encerra, no capítulo 28, o Espírito não deixa de se mover; a corrente segue através das sucessivas gerações, enquanto Deus continua levantando instrumentos que contribuam concretamente, de acordo com a necessidade resultante do nível que o Espírito tenha alcançado em Seu poderoso fluir para adiante.
No Antigo Testamento, observamos que onde repousava a boa vontade de Deus não havia esterilidade. Deus se havia proposto ter uma “linhagem” e, portanto, em nenhuma geração permitiu que a linha genealógica se interrompesse, uma vez que, para obter seu propósito, necessitava da perpetuação dessa semente. É por isso que dependemos de nossos antepassados espirituais. Porém, não somente é necessário que aceitemos a herança que nos vêm deles, mas temos a solene responsabilidade de transmiti-la a outros. A pergunta que devemos fazer-nos não é: “Fluirá a corrente do Espírito nesta geração?”, mas: “Estaremos, tanto você como eu, envolvidos nessa corrente?”. Se fracassamos em cumprir com as exigências do propósito divino para o tempo presente, Ele encontrará outros que satisfaçam essa necessidade. Onde está o selo do Espírito hoje em dia? Onde está a autoridade espiritual hoje em dia? Está em nós ou não? Somente com a autoridade do Espírito, encontrar-nos-emos na corrente que flui para adiante.
Ao dar uma olhadela para a história secular e para a história da Igreja, observamos os caminhos de Deus à medida que Ele trabalha de acordo com Seu propósito. Fez surgir Lutero quando necessitou um Lutero, e ainda que Lutero tivesse suas debilidades, foi o instrumento adequado à necessidade divina daquele tempo. Muito devemos a Lutero, graças a Deus, visto que somos o fruto de seu trabalho. Ele, em seu dia, ofereceu à corrente do Espírito que avançava um caminho livre para que ela seguisse seu curso, e nós, que fomos alcançados por essa mesma corrente, temos o privilégio de oferecer-nos a ela para que avance um pouco mais em seu curso. Nossa maior glória deve ser: Ele abrir caminho para Si por meio de nossa vida. De outra maneira, Ele se voltará para outra direção, e, para nós, isso representará uma perda trágica. A corrente espiritual pode fluir nessa direção na atualidade, porém não podemos predizer para onde fluirá daqui a dez anos. Aceitemos o fato. Cada dia o Espírito passa por alto sobre este e usa aquele. Se hoje Lhe oferecemos resistência, quem sabe Ele terá de abrir caminho para Si em outra parte? Que pensamento tão solene!
Desde a era das trevas, quando a luz que iluminava a Igreja primitiva se havia apagado em grande parte, o Espírito Santo tem estado ativo, resgatando, por meio de uns e outros, a verdade perdida, de maneira que agora toda a verdade foi recuperada para a Igreja.. Faz mais de um século, a necessidade de um ministério compartilhado entre vários chamou a atenção dos santos, e em épocas mais recentes essa verdade tem sido ressaltada profusamente, ainda que tenha havido uma lamentável falta de desenvolvimento prático, pelo menos no que conhecemos. A recuperação da doutrina relativa ao ministério coletivo é uma coisa, a realidade deste ministério expressa pela vida da igreja é outra. Tendo em conta que é nosso privilégio sermos herdeiros de uma riqueza tão imensa, que vem sendo restaurada ao longo dos séculos, nós que vivemos no século 20 devemos assumir a responsabilidade a que nos desafia tão extraordinário legado. Toda essa riqueza foi posta a nossa disposição, não meramente para nosso enriquecimento, mas para o avanço do evangelho. Nossa herança de todo o conjunto das verdades nos desafia a um ministério coletivo que envolva cada aspecto da verdade.
Quando se houver alcançado um ministério cooperativo que abarque a todo o povo de Deus, cremos que se haverá dado as condições para o retorno do Senhor. Não é somente a proclamação de toda a verdade o que se necessita hoje em dia, mas, sim, a liberação da realidade espiritual que expressa tal verdade, a qual somente pode realizar-se à medida que nós permitimos que a poderosa e progressiva corrente do Espírito nos carregue.
(Traduzido por Gérson C. Lima do livro La Corriente del Espiritu, publicado pela Ediciones Hébron, Argentina)
Para o homem exterior ser quebrantado, é imperativo uma plena consagração. Mesmo assim, devemos entender que este ato de crise por si só, não resolverá a totalidade do nosso problema no serviço. A consagração é meramente uma expressão da nossa disposição para estar nas mãos de Deus, e pode ocorrer em apenas uns poucos minutos. Não pense que Deus pode acabar Seus tratos conosco neste tempo tão curto. Embora estejamos dispostos a oferecer-nos completamente a Deus, estamos apenas no começo da estrada espiritual. É como entrar pelo portão. Depois da consagração, deve haver a disciplina do Espírito Santo para nos tornar em vasos dignos para o uso do Mestre. Sem consagração, o Espírito Santo encontra dificuldade em nos disciplinar. Mesmo assim, a consagração não pode servir como substituto da Sua disciplina.
Aqui, pois, há uma distinção vital: nossa consagração somente pode ser de acordo com a medida do nosso discernimento espiritual e da nossa compreensão, mas o Espírito Santo disciplina de acordo com Suas próprias luzes. Realmente não sabemos o quanto a nossa consagração envolve. Nossa luz é tão limitada que, quando nos parece que está no seu auge, aos olhos de Deus é negra como breu. A exigência excede a tudo quanto temos a possibilidade de consagrar – pelo menos, no nosso entendimento limitado. A disciplina do Espírito Santo, por outro lado, nos é medida conforme nossa necessidade vista na própria luz de Deus. Ele conhece nossa necessidade especial e, portanto, pelo Seu Espírito, ordena nossas circunstâncias de tal maneira que leva a efeito o quebramento do homem exterior. Veja até que ponto a disciplina do Espírito Santo transcende nossa consagração.
Visto que o Espírito Santo opera conforme a luz de Deus, Sua disciplina é eficiente e completa. Freqüentemente estranhamos as coisas que nos acontecem, mas, se fôssemos deixados por conta própria, poderíamos enganar-nos com a melhor das nossas escolhas. A disciplina que Ele ordena transcende nosso entendimento. Quão freqüentemente somos apanhados despreparados e concluímos que, decerto, uma coisa tão drástica não é nossa necessidade. Muitas vezes, Sua disciplina desce sobre nós repentinamente, sem recebermos aviso prévio! Talvez insistamos que estamos vivendo “na luz”, mas o Espírito Santo está tratando conosco de acordo com a luz de Deus. A partir do momento em que O recebemos, Ele tem ordenado nossas circunstâncias para nosso proveito de acordo com Seu conhecimento de nós.
A operação do Espírito Santo em nossas vidas tem seu lado positivo bem como negativo – ou seja, há tanto um lado construtivo quanto um destrutivo. Depois de nascermos de novo, o Espírito Santo habita em nós, mas nosso homem exterior mui freqüentemente O priva de Sua liberdade. É como procurar andar com um par de sapatos do tamanho errado. Porque nosso homem exterior e o interior estão em desacordo entre si, Deus tem de empregar quaisquer meios de considera eficaz em demolir qualquer fortaleza sobre a qual nosso homem interior não tem controle algum.
Não é mediante o fornecimento de graça ao homem interior que o homem interior que o Espírito Santo quebranta o exterior. É lógico que Deus quer que o homem interior seja forte, mas Sue método é utilizar meios externos para diminuir nosso homem exterior. Seria quase impossível para o homem interior realizar isto, visto que, os dois são tão diferentes quanto à sua natureza que dificilmente podem causar qualquer ferida um ao outro. A natureza do homem exterior e a das coisas externas são semelhantes. Desta maneira, o primeiro pode ser facilmente afetado por estas últimas. As coisas externas podem ferir os homem exterior muito dolorosamente. É assim que Deus usa coisas externas para tratar do nosso homem exterior.
Você se lembra que a Bíblia diz que dois pardais são vendidos por um asse (Mt 10:29) e que cinco pardais são vendidos por dois asses (Lc. 12:6). O preço certamente é barato, e o quinto pardal é oferecido de graça. Mesmo assim, “nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai. E quanto a vós outros, até os cabelos da cabeça estão todos contados” (Mt 10:29, 30). Não somente cada cabelo é contado, como também é numerado. Podemos, portanto, ter certeza de que todas as nossas circunstâncias são ordenadas por Deus. Nada é acidental.
A providência de Deus é de acordo com Seu conhecimento das nossas necessidades, e tem em mira o despedaçar do nosso homem exterior. Sabendo que uma certa coisa externa nos afetará assim, Ele dispõe a situação a fim de nos fazer encontrar com ela uma vez, duas vezes, e talvez até mais vezes. Você não percebe que todos os eventos da sua vida durante os últimos cincos anos ou dez anos foram ordenados por Deus para sua educação? Se você murmurou e se queixou, você estava ignorando a disciplina do Espírito Santo. Lembre-se de que tudo quanto nos acontece é medido pela mão de Deus para nosso bem supremo. Embora, provavelmente não seja o que escolheríamos, Deus sabe o que é melhor para nós. Onde estaríamos nós hoje, se Deus não tivesse nos disciplinado assim por meio de ordenar nossas circunstâncias? É exatamente isto que nos conserva puros, andando nos Seus caminhos. Como são estultos aqueles que têm murmurações na sua boca e rebelião no seu coração diante das próprias coisas que o Espírito Santo lhe distribuiu sob medida para seu próprio bem.
Tão logo somos salvos, o Espírito Santo começa a distribuir disciplina; mas não pode agir livremente até que nossa consagração seja completa. Depois da pessoa ser salva mas ainda não consagrada, e enquanto ainda ama a si mesma mais do que a Deus, o Espírito Santo, mesmo assim, está operando para trazê-la sob controle e quebrantar seu homem exterior, afim de que, Ele possa operar sem impedimento.
Finalmente, vem um momento em que você percebe que não pode viver por si só e para si mesmo. Na luz vaga que você possui, você vem para Deus e diz: “Consagro-me a Ti. Quer venha a vida, quer venha a morte, entrego-me nas Tuas mãos” Isto fortalecerá a obra do Espírito Santo na sua vida. Nisto acha-se a importância da consagração: deixa o Espírito Santo operar sem restrição. Não ache estranho, portanto, quando muitas coisas inesperadas lhe acontecem depois da sua consagração.
Você disse ao Senhor: “Senhor! Faz o que achas melhor na minha vida.” Agora, depois de você ter-se colocado assim incondicionalmente nas Suas mãos, o Espírito Santo pode operar livremente em você. Para resolver de todo o coração que seguirá ao Senhor, você deve prestar bastante atenção à obra disciplinar do Espírito Santo.
O Maior Meio de Graça
Deus tem outorgado Sua graça a nós desde o dia em que fomos salvos. As maneiras pelas quais podemos receber graça da parte de Deus são chamadas os “meios de graça.” A oração e o escutar uma mensagem são dois exemplos, porque através destes meios, podemos aproximar-nos de Deus e receber graça. Este termo descritivo: “os meios de graça,” tem sido universalmente aceitos pela Igreja no decurso dos séculos. Recebemos graça através das reuniões, das mensagens, das orações, e assim por diante. Mas decerto o maior meio de graça que não podemos nos dar ao luxo de negligenciar, é disciplina do Espírito Santo. Nada pode ser comparado com este meio de graça – nem as mensagens, nem a meditação nem o louvor. Entre todos os meios de graça dados por Deus, parece que este é o mais importante.
Seguir a história deste meio de graça pode mostrar-nos quão longe já andamos com o Senhor. O que experimentamos diariamente, no lar ou na escola ou na fábrica ou na estrada, é ordenado pelo Espírito Santo para nosso máximo benefício. Se não tiramos proveito deste maior meio de graça, sofremos uma perda terrível. Nenhum dos outros meios pode substituí-lo, por mais preciosos que sejam. As mensagens nos alimentam, a oração nos restaura, a Palavra de Deus nos refrigera, e ajudar aos outros libera nosso espírito. Mas se nosso homem exterior permanecer forte, damos a todos aqueles que entram em contato conosco, a impressão de sermos mistos e impuros. As pessoas reconhecerão nosso zelo mas também nossos motivos mistos, nosso amor para com o Senhor, mas também nosso amor para conosco. Sentem que somos um irmão precioso, porém difícil, pois nosso homem exterior não foi quebrantado. Não nos esqueçamos que embora sejamos edificados através de mensagens, da oração, e da Bíblia, o maior meio de edificação é a disciplina do Espírito Santo.
A partir de então deve haver, da nossa parte, uma consagração completa de modo que devemos submeter-nos àquilo que o Espírito Santo ordena. Semelhante submissão traz bênçãos para nós. Se ao invés disto, disputamos com Deus e seguimos nossas próprias inclinações, perdermos o caminho da Sua bênção. Uma vez que reconhecemos que todas as providências de Deus são para nosso máximo proveito – até mesmo coisas que nos são desagradáveis – e estamos dispostos a aceitar estas coisas como medidas disciplinares da parte d’Ele, veremos como o Espírito Santo fará uso de todas estas coisas ao lidar conosco.
Tratamentos de Vários Tipos
Sejam quais forem as coisas ás quais você está ligado, Deus tratará delas uma após a outra. Nem sequer trivialidades tais como as vestes, o comer e o beber podem escapar à mão cuidadosa do Espírito Santo. Ele não negligenciará uma só área na sua vida. Você pode até mesmo ignorar sua afinidade por uma certa coisa, mas Ele sabe, e tratará dela de modo muitíssimo eficiente. Até que venha o dia em que todas estas coisas são destruídas, você não conhece a liberdade perfeita. Nestes tratamentos, você pode finalmente reconhecer a eficiência do Espírito Santo. Coisas há muito esquecidas, são trazidas à mente pelo Senhor. As obras de Deus são perfeitas, e nada menos do que a perfeição pode satisfazer a Ele. Deus não pode parar no meio do caminho. Às vezes, tratará com você através d’outras pessoas, planejando para você ficar junto com uma pessoa com quem está zangado, ou a quem despreza, ou de quem tem ciúmes; ou, muito freqüentemente, é através daqueles que você ama. Antes disto, você não sabia quão impuro e misturado você era, mas depois você reconhece quanto “lixo” havia em você. Você pensava que era totalmente do Senhor, mas, depois de receber a disciplina do Espírito Santo, começa a reconhecer os efeitos de longo alcance que as coisas externas tinham sobre você.
Além disto, a mão de Deus pode tocar na vida dos nossos pensamentos. Descobrimos que nossos pensamentos são confusos, independentes, descontrolados. Fingimos ter mais sabedoria do que outros. É então que o Senhor nos deixa colidir com um muro ou espatifar-nos até o pó – tudo para nos mostrar que não devemos ter a ousadia de usar nossos pensamentos desordenadamente. Uma vez que tenhamos sido iluminados nisto, temeremos nossos próprios pensamentos como o fogo. Da maneira como se recolhe a mão imediatamente diante a chama, assim nós também nos recolheremos instantaneamente quando encontramos nossos pensamentos descontrolados. Lembraremos a nós mesmos: “Não é assim que devo pensar; estou com medo de seguir meus próprios pensamentos.”
Além disto, Deus assim disporá nossas circunstâncias de modo que possa lidar com nossas emoções. Algumas pessoas são extremamente emotivas. Quando estão jubilosas, não podem se conter; quando estão deprimidas, não podem ser consoladas. A totalidade da vida delas gira em torno das suas emoções, e seu júbilo resulta em dissipação, e sua depressão em inatividade. Como Deus retifica esta situação? Coloca-as em situações em que não ousam ser demasiadamente felizes quando estiverem jubilosas, nem demasiadamente tristes quando estiverem deprimidas. Somente podem depender da graça de Deus e viver pela Sua misericórdia, não pelas suas emoções instáveis.
Embora sejam bem comuns as dificuldades com os pensamentos e emoções, a dificuldade maior e mais prevalecente é com a vontade. Nossas emoções são desregradas por nossa vontade não foi tratada. A raiz está em nossa vontade. A mesma coisa diz respeito a nossos pensamentos. Talvez posamos pronunciar com a boca as palavras: “Não se faça a minha vontade, e, sim, a tua,” mas quantas vezes realmente deixamos o Senhor assumir o controle quando as coisas acontecem? Quanto menos você conhece a si mesmo, tanto mais facilmente pronuncia tais palavras. Quanto menos iluminado você está, tanto mais fácil a submissão a Deus parece ser. Aquele que fala com facilidade barata comprovou que nunca pagou o preço.
Somente quando somos tratados por Deus é que realmente vemos quão endurecidos somos e quão dispostos a termos nossa própria opinião. Deus precisa tratar conosco para tornar nossa vontade terna e dócil. Pessoas resolutas estão convictas de que seus sentimentos, modos e julgamentos sempre estão certos. Considere como Paulo recebeu esta graça registrada em Filipenses: “Não confiamos na carne” (3:3). Nós, também, devemos ser levados por Deus a uma situação em que não ousamos confiar em nosso próprio julgamento. Deus permitirá que cometamos engano após engano até compreendermos que este será nosso padrão para o futuro, também. Realmente precisamos da graça do Senhor. Freqüentemente o Senhor permite que ceifemos conseqüências sérias dos nossos julgamentos.
Finalmente, você ficará tão aflito com seus fracassos que dirá: “Temo meus próprios julgamentos assim como temo o fogo do inferno. Senhor, tendo a cometer enganos. A não ser que Tu sejas misericordioso comigo, a não ser que Tu me apóies, a não ser que Tu me detenhas com Tua mão, errarei mais uma vez”. Este é o começo da destruição do homem exterior: quando você já não ousa confiar em si mesmo. Suas opiniões usualmente lhe vêm facilmente até que tenha sido tratado por Deus repetidas vezes e tenha sofrido muitos fracassos. Então, você se rende e diz: “Deus, não ouso pensar, não ouso decidir.” Esta é a disciplina do Espírito Santo: quando todos os tipos de coisas e todos os tipos de pessoas estão fazendo pressões de todas a direções.
Não pense que haverá qualquer relaxamento desta lição! Muitas vezes, o fornecimento da palavra de Deus pode estar em falta, ou outro meio de graça pode ser insuficiente, mas este meio de graça especial – a disciplina do Espírito Santo – sempre está conosco. Você pode dizer que não tem oportunidade de escutar a Sua palavra e ser suprido por ela mas isto nunca acontecerá no caso da disciplina do Espírito Santo. Dia após dia, Ele está planejando amplas oportunidades para você aprender.
Uma vez que você se rende a Deus, esta disciplina satisfará sua necessidade muito mais do que o fornecimento da Sua palavra. Não é apenas para os cultos, os habilidosos, os dotados; não, é o caminho para todo filho de Deus. O fornecimento da palavra de Deus, o poder da oração, a comunhão dos crentes – nenhuma destas coisas pode substituir a disciplina do Espírito Santo. È porque você precisa não somente ser edificado; precisa também ser quebrantado, de ser livrado de todas as numerosas coisas na sua vida que não podem ser levadas para a eternidade.
A Cruz em Operação
A cruz é mais do que uma doutrina; deve ser posta em prática. Não pense que o caminho para a humildade é lembrando-nos constantemente que não devemos ser orgulhosos. Devemos ser feridos uma vez após outra – ainda que chegue a vinte vezes – até que nos rendamos e já não somos orgulhosos. Nunca suponhamos que isto se realiza meramente por meio de seguir o ensino de um determinado irmão. Não, é porque nosso orgulho tem sido quebrado através do tratamento por Deus.
Mediante a operação da cruz, aprenderemos a depender da graça de Deus, não da nossa memória. Quer lembremos, quer não, permanece o fato de que Ele está realizando uma obra que é fidedigna e duradoura. Anteriormente, o homem exterior e o interior não podiam ficar de mãos dadas; mas agora o homem exterior espera meigamente, com temor e tremor diante de Deus.
Cada um de nós tem necessidade desta disciplina da parte do Senhor. Ao passarmos em revista a história do nosso passado, não podemos deixar de ver a mão de Deus lidando com a independência, o orgulho, e o egoísmo do nosso homem exterior. Descobrimos o significado das coisas que nos aconteceram.
A Liberação do Espírito, Watchman Nee
Leitura da Bíblia: Mc 4:5-6, 16-17; Os 14:5-7; Ct 4:12.
A partir das três passagens acima, podemos refletir sobre que tipo de viver entre os cristãos agrada a Deus, que tipo de viver e perseverante e imutável, e que tipo de viver pode sobreviver aos infortúnios e suportar testes. Por que alguns cristãos no inicio de sua experiência parecem tão brilhantes, mas depois de algum tempo não se pode encontrá-los? Por que é que alguns desistem na metade do caminho durante sua peregrinação? Por que é que alguns não conseguem seguir o Senhor ate o fim? Isto tem um relacionamento muito íntimo com o modo como vivem. Se um cristão não tem vida normal, ele e inseguro e é fácil desistir. Portanto, não devemos negligenciar esta questão.
UMA VIDA SUPERFICIAL
Marcos 4:5-6 diz: “Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o Sol a queimou; e porque não tinha raiz, secou-se”. Esta e uma das parábolas do Senhor Jesus sobre a semeadura de sementes. Nos versículos 16-17, o Senhor explica aos discípulos esta parábola: “Semelhantemente São estes os semeados em solo rochoso, os quais, ouvindo a palavra, logo a recebem com alegria. Mas eles não têm raiz em si mesmos, sendo antes de pouca duração; em lhes chegando a angustia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam”. Pela explicação do Senhor, vemos que esta e uma vida superficial que não pode suportar ou resistir ao teste das provações. Este tipo de vida aparentemente tem um bom começo, mas acaba miseravelmente. De acordo com este fenômeno, é algo que “logo nasceu”. Assim que brotou, obviamente a casca exterior da semente rompeu-se, e ela germinou. Isto quer dizer: a palavra não e mais simples doutrina para esta pessoa, mas foi transformada em vida. Como germinou e germinou rapidamente, igualmente, é como se o desenvolvimento fosse tão rápido e o progresso tão maravilhoso que ela tem razão de sentir-se satisfeita. Contudo, o fim é decepcionante, porque quando o sol está alto, ela é queimada e seca. Ela é a mais rápida para germinar, bem como para secar. Brotos que não podem resistir ao calor do sol têm pouca esperança de amadurecer e estão sujeitos a secar muito cedo. A condição da vida de muitos cristãos e exatamente assim. Muitos cristãos, imediatamente após ouvirem a palavra, prontamente a recebem com alegria sob a ilusão de que obtiveram tudo, entenderam tudo, estão preparados para pagar qualquer preço, e estão prontos para andar em qualquer caminho. Diante de Deus, eles têm a vontade e a consagração; diante dos homens, eles dão testemunho e são bastante zelosos. Contudo, quando menos esperam, quando lhes sobrevém alguma provação, eles logo começam a ficar abalados, sentem-se um tanto desanimados, acham insuportável, fogem diante do medo e, inevitavelmente, caem.
Irmãos e irmãs, para nós que já somos cristãos, o queimar do sol e indispensável porque ajuda nosso crescimento e auxilia nosso amadurecimento. Se você não pode manter-se em pé, e cai assim que encontra o calor do sol, isto indica quão superficial você é. o queimar do sol apenas exporá sua verdadeira condição; ele não roubará o que você realmente possui. É possível que a Palavra de Deus seja incapaz de suportar o queimar do sol? Não. O problema é como a Palavra de Deus é recebida. Por que ela germinou imediatamente, e secou assim que foi exposta ao calor do sol? Qual é a causa? Na Palavra do Senhor, podemos ver três razões para isto.
Primeira razão: Superficialidade do solo
A primeira razão é a superficialidade do solo. Isto significa que não há terreno e conseqüentemente nenhuma profundidade. Um cristão cujo solo é superficial nada tem interiormente. Quando tal pessoa ouve a palavra, toda frase parece ser prontamente recebida e bem compreendida. Ele está apto para transmiti-la a outras pessoas e pronto a dar testemunho diante delas. É tão fácil tal pessoa perder a verdade que ouviu, destruí-la, e desfazer o que disse a outras pessoas. Ela é facilmente satisfeita e também, sente fome facilmente; ela torna-se feliz e triste facilmente; ela com facilidade se entusiasma e também esfria; facilmente ri e chora. Tal pessoa é superficial; tal pessoa está vivendo em suas emoções e circunstâncias.
Sabemos que se uma árvore é alta, suas raízes devem ser profundas. Algumas podem atingir a profundidade de até três ou quatro quilômetros. Uma árvore que não consegue absorver água da superfície, sabe-se que aprofunda suas raízes até atingir a fonte de água. As palmeiras no Deserto da Arábia, apesar do calor do sol, permanecem com folhagem verde, porque extraem água descendo as profundezas, capacitando-as a resistir ao sol ardente. Se um cristão aprofundou suas raízes, ele também será capaz de resistir ao calor do sol. Oh! Todos aqueles que vivem nos seus sentimentos ou influenciados pelas circunstâncias são pessoas sem profundidade. Também aqueles que são propensos a oscilar por suas emoções, e são influenciados pelo ambiente, não tem profundidade. Aqueles cuja vida está profundamente enraizada não prestam atenção as circunstâncias, nem vivem por sentimento, mas somente por fé. Eles não olham nem dependem das circunstâncias, mas vêem o Senhor atrás delas. Tais pessoas têm o amparo, o suporte e o poder que vem de Deus, em vez de serem influenciados pelas circunstâncias. Se uma pessoa não vive olhando para o Senhor por trás das circunstâncias, mas para as emoções e circunstâncias, não haverá uma única verdade ou ensinamento que ela seja capaz de possuir profundamente. Quando as circunstâncias São favoráveis, ela é ativa e eufórica, mas assim que encontra provações, torna-se desanimada, depressiva e melancólica. Assim que a cruz a confronta, tal pessoa cai. Irmãos e irmãs, se vocês ficam abatidos e recuam quando encontram provações, isto prova que estão sem profundidade. Quando o sol os queima, imediatamente vocês murcham.
Segunda Razão: Falta de Raiz
A segunda razão e a ausência de raiz. Que é raiz? A parte de uma árvore exposta à vista é o tronco e o que está fora da vista, no solo, é a raiz; aquela parte com vida e que é visível são os galhos; a parte com vida, mas que é invisível é a raiz. Portanto, a raiz representa a vida escondida. Todo aquele que não tem raiz no Senhor, sua vida deve ser seca. Todo aquele que não tem vida oculta espiritualmente, e nada tem, além do que é manifesto diante dos homens, não tem raiz. Raiz e a parte invisível oculta; o que e exposto e visível não é raiz. Raiz é a invisível parte oculta; o que e exposto e visível não é raiz. Irmãos, vocês devem perguntar-se: além daquela parte de sua vida que é visível diante dos homens, quanto de vida oculta você tem diante do Senhor? Se tudo o que você tem é o pouco que é o exposto, nada há de maravilhoso porque você murcha assim que o sol se levanta e esquenta. Em nosso viver espiritual não há nada capaz de nos sustentar como a vida escondida. Se encontrarmos um irmão ou irmã que caíram, não olhemos a queda como um acontecimento acidental ou repentino. Ao invés disso, devemos perceber que anteriormente havia algo errado com sua vida oculta diante de Deus. Desde que ele não tem raiz, ele cai quando o sol se levanta para queimá-lo.
Em Mateus 6:6, o Senhor Jesus diz: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, e, fechada a porta, oraras a teu Pai que esta em secreto; e teu Pai que vê em secreto, te recompensara”. Fechar a porta é a vida oculta, e isso é raiz. Aqui, o Senhor fala de um modo peculiar: o Pai vê em secreto. Oh! a oração pode ser vista! Sempre pensamos que a oração é ouvida mas o Senhor diz que ela e vista. Portanto, algumas vezes não temos palavras na presença de Deus, mas apenas uma atitude – isto e precioso também. Oh! irmãos e irmãs, que proporção de sua vida é vista por Deus em secreto? Ou tudo o que vocês tem e visível diante dos homens? Quanto de sua vida espiritual diante de Deus nunca foi divulgado? Quanto da experiência que vocês tem é comparado com a que Paulo manteve em segredo das outras pessoas por quatorze anos? (2 Co 12:2). Se nada têm, isto indica que você não tem raiz. Se você e uma pessoa sem raiz, você imediatamente cairá quando o sol se levanta para queimá-lo. Irmãos e irmãs, daquilo que vocês possuem, apenas o que Pode sobreviver ao teste das provações é digno de confiança. Se vocês não aprofundaram suas raízes o bastante, vocês estão sujeitos a fracassar.
Terceira Razão: Empedramento do Solo
A terceira razão é que embaixo da superfície terrestre também há pedras. Não é que uma pessoa com pouca terra esteja sem vontade de aprofundar suas raízes, mas as pedras lá estão para obstruí-las. Superficialmente, ela é como as outras pessoas, mas em seu interior há pecados escondidos e ego endurecido. Na Bíblia, pedra tem diversos sentidos, um dos quais e o coração de pedra (Ez 36:26). Se desejamos aprofundar nossas raízes, não devemos endurecer nossos corações (Hb 3:8). Muitos cristãos nunca foram contrariados em seu modo de pensar e nunca foram quebrados. Eles sempre têm muitas razões para rejeitar a vontade de Deus e insistir em seus próprios pontos de vista, se uma coisa deve ser feita deste ou daquele modo. Eles têm pedras interiormente, e seu coração é muito duro. Deus tem de destruir suas pedras interiores antes que possam aprofundar suas raízes. Há apenas uma espécie de pessoa que aprofunda as raízes: aquele que teme a Palavra do Senhor (Is 66:5). Irmãos e irmãs, vocês precisam saber que um coração insubmisso a Deus e um coração de pedra. Devemos pedir a Deus que nos ilumine para ver quão grandes são as pedras em nós. Se temos pedras interiormente, não podemos aprofundar raízes. Então, quando o sol se levanta e esquenta, como não murchar?
As pedras não existem apenas por causa de um coração endurecido, mas também por causa de pecados ocultos. Talvez, em sua vida, haja um determinado pecado do qual você não se livrou, porque o preço é alto demais para que você tenha coragem de tratar com ele. Ou talvez a exigência de Deus seja forte demais para você ceder, resultando em argumentação e discussão com Deus. Se você tolera que seu pecado oculto permaneça, você não pode aprofundar raízes. Como, então, evitar de murchar quando o sol aparece e esquenta?
O QUEIMAR DO SOL
Irmãos e irmãs, sem luz nós não compreenderíamos quão superficiais somos. Se não fosse pelo queimar do sol, não poderíamos entender porque aqueles que desabrocham mais rapidamente, são também aqueles que murcham mais rapidamente. Quantas vezes nos enganamos sendo complacentes com nosso estado espiritual e vemo-nos como pessoas maravilhosas! Contudo, para nossa grande surpresa, quando o sol aparece e esquenta, imediatamente murchamos.
Por que Deus permite o queimar do sol e também consente que dificuldades nos sucedam? Irmãos, vocês devem saber que esta é a expressão final e máxima do amor do Senhor – a cruz. Oh! nada há que possa cultivar nossa vida espiritual tão bem quanto a cruz; nenhum teste pode ser melhor que a cruz. Um dia, quando ouvimos a palavra da verdade, aceitamo-la com alegria, imediatamente, e também consagramo-nos a Deus. Supomos que somos muito certos e super valorizamo-nos; assim Deus especialmente nos envia os testes e a cruz para que sejamos capazes de ver-nos. Conseqüentemente, um dia nós até mesmo temos uma controvérsia com Deus. O que esperamos de Deus não é esta direção, mas Ele verdadeiramente faz assim. Aonde Deus quer que vamos, não é aonde gostáramos de ir; o que Ele nos designa para fazer não é o que estamos dispostos a fazer. Portanto, não estamos satisfeitos; e inevitavelmente entendemos mal e culpamos Deus, e temos uma controvérsia com Ele. Irmãos, por favor, lembrem-se de que esta controvérsia é que os leva a condição de murchar. Todo murchar espiritual começa com desentendimento com Deus. Oh! se Deus cede e você vence, você esta condenado a murchar. Portanto, a cruz é-nos um teste para decidir se nossa vida penetrará nas riquezas ou murchara. Em outras palavras, se nossa vida será abundante ou secará depende de como tratamos com nossa divergência com Deus. Se você prevalece e Deus cede, não há outro resultado para sua vida a não ser murchar. Portanto você nunca deve regozijar-se por sua vitória aparente nem se deleitar em sua liberdade. Você precisa saber que isto simplesmente mostra que sua vida logo murchará, e que seu viver degenerar-se-á em breve. Isto e o que a experiência de muitos cristãos confirma. Não há uma vez em que Deus cede, e que sua vida permanece abundante. Portanto, se entre Deus e você ainda existe uma negociação não concluída, um problema não resolvido, e um ponto obscuro sobre a vontade de Deus, você deve ser extremamente cuidadoso. Se está em dúvida, insatisfeito com os arranjos de Deus e escolhe o caminho que você mesmo considera bom, então não precisa esperar ate o resultado tornar-se aparente; anteriormente você já começou a murchar.
Irmãos e irmãs, não devemos imaginar que realmente adquirimos algo simplesmente por ouvir uma mensagem. Deus terá de criar circunstâncias tais que vocês verdadeiramente sentirão a necessidade da palavra que ouviram, de maneira a testar se aceitaram realmente ou superficialmente a palavra. Deus tem de arquitetar uma circunstância para revelar-lhes que nenhum preceito da Escritura pode ser adquirido sem pagar-se um preço. Por exemplo, depois que ouviram uma palavra sobre paciência, Deus arranjar-lhes-á tribulação porque “tribulação produz paciência” (Rm 5:3). Quando ouvirem a palavra sobre obediência, Deus ira prová-los com situações difíceis para que aprendam a obediência pelas coisas que sofrem (Hb 5:8). Após ouvirem a palavra sobre doçura, Deus, um dia, leva-os, face a face com muitas pessoas e problemas irritantes, que os fazem aprender a “ser brando para com todos” (2 Tm 2:24). Depois de ouvirem a palavra que diz que devem ter fé, Deus parecera ocultar-Se e não lhes dar atenção quando chamarem por Ele, para que não vacilem por incredulidade, mas sejam fortes na fé, dando gloria a Deus (Rm 4:20). Cada vez que vocês ouvirem alguma palavra, se suportarem o teste, a palavra então estará garantida em vocês.
Deus nunca permitirá que paremos no estágio de ouvir uma mensagem e consagrar-nos. Ele deve testar-nos. Deus somente pode fazer uso daqueles vasos que ainda podem permanecer firmes após passar pelo teste da provação. Certa vez uma irmã idosa, ha muito tempo a serviço do Senhor, falou a um irmão jovem que começava a servir: “Todo pão colocado nas mãos do Senhor, Ele primeiramente parte, e então distribui a outras pessoas. Um pão não partido não pode tornar-se sustento para a vida de outras pessoas. E muito comum que, por um lado consagremo-nos a Deus, mas por outro lado, nosso corarão silenciosamente fala com esperança: Oh! Senhor, eu realmente já me consagrei a Ti, mas peço-Te que nunca me quebres! Todos nós esperamos que o pão permaneça intacto para sempre, e que fique permanentemente onde foi colocado. Mas nenhum pão nas mãos do Senhor fica inteiro. Se você não deseja ser quebrado pelo Senhor; então, não se coloque em Suas mãos”. Irmãos e irmãs, estas são palavras ditas pela experiência pessoal daqueles que conhecem o Senhor. Todo pão colocado nas mãos do Senhor é partido por Ele. Aqui é onde esta a dificuldade de muitos irmãos: após ouvir um sermão, alguém alegremente diz: “Oh! Senhor, eu ofereço-Te tudo o que tenho”. Mas, quando o Senhor esta partindo-o, esperava que isto não acontecesse. Irmãos e irmãs, enquanto estão nas mãos de Deus, vocês não estão dispostos a ser quebrados por Ele. Tal vida é a mais dolorosa. Se vocês esperam que sua vida seja abundante, devem permitir que Deus ordene muitos testes para prová-los.
VIDA NAS PROFUNDEZAS
Oséias 14:5-7 diz: “Serei para Israel como orvalho, ele florescerá como lírio, e lançará as suas raízes como o cedro do Líbano. Estender-se-ão os seus ramos, o seu esplendor será como o da oliveira, e a sua fragrância como a do Líbano. Os que se assentam de novo a sua sombra voltarão; serão vivificados como o cereal, e florescerão como a vide; a sua fama será como a do vinho do Líbano”. Nesta passagem, Líbano e mencionado três vezes: uma vez como um lírio, uma vez como uma oliveira e uma vez como o vinho. Por que e dada tal ênfase ao Líbano aqui? E porque o cedro da montanha do Líbano e muito alto e suas raízes são muito profundas. A Bíblia usa o cedro do Líbano para representar a maior e mais alta árvore na terra; ele também é apresentado como símbolo daquelas pessoas que aprofundam suas raízes. Nesta passagem, o lírio é a primeira alusão ao Líbano, depois a oliveira e finalmente o vinho. o fato de a Bíblia falar desta maneira tem um profundo significado. Apenas falaremos brevemente a esses respeito aqui.
Por que o lírio é comparado ao Líbano? Um lírio e puro e bonito. O lírio referido aqui cresce no deserto e não no jardim de uma casa. Não há jardineiro para cultivá-lo, mas depende unicamente do calor do sol, da chuva e do orvalho para sustento. Nós, cristãos, somos os lírios dos vales (Ct 2:1), confiando totalmente no cultivo e sustento de Deus. Uma vida espiritual pura e bela provém de uma comunhão ininterrupta com Deus. Portanto, é dito para crescer como o lírio e lançar suas raízes como o cedro do Líbano.
Por que uma oliveira é citada junto ao Líbano? Aos olhos dos homens, uma oliveira não tem beleza. Se dissermos que a beleza e a peônia (N.R. – erva com grandes flores, de grande beleza ornamental), e fácil para as pessoas entenderem, mas dever-se-ia dizer o contrário em relação a uma oliveira. Contudo, a Bíblia mostra que a beleza aos olhos de Deus não e a beleza superficial, mas o fruto na realidade. A oliveira e uma árvore que gera um fruto que produz óleo – sua beleza esta no seu fruto. A beleza de um cristão está em gerar o fruto do Espírito. Isto pode ser adquirido apenas lançando e fixando raízes nas profundezas. Portanto, é dito que sua beleza é como a oliveira e seu aroma como o Líbano.
Por que o vinho está relacionado ao Líbano? E dito: “florescerão como a vide”. Alguma vez já vimos a flor da vide? Sua flor é minúscula! Logo apos o florescer, as uvas aparecem. Nunca vimos a flor da vide num vaso de flores. Por que não é dito que a flor e como a do pessegueiro ou como o crisântemo? Porque a flor que Deus honra não e para as pessoas apreciarem, mas a que pode produzir fruto como a vida. O que Deus requer de um cristão e que lance raízes e produza frutos abundantemente. Eis porque é dito que eles florescerão como a vide, e a sua fragrância será como a do vinho do Líbano.
Líbano é citado três vezes aqui – todas com o propósito de chamar nossa atenção à vida nas profundezas. Embora esta vida nas profundezas seja como o lírio crescendo num vale isolado, como a oliveira que não é bonita exteriormente e como a vide que não se sobressai ao florescer, ainda assim ela e o resultado de olhar para Deus com simplicidade, e é capaz de produzir muito fruto. Este e o tipo de viver que um cristão deve ter. E impossível ter esta espécie de viver, a não ser que aprofundemos as raízes. Para atingir este tipo de viver deve haver um exercício regular diário. Separe pelo menos um pequeno tempo somente para orar ler a Palavra lendo e orando simultaneamente na presença de Deus. Se possível, também reserve algum tempo para orar pelos santos, pelas igrejas em vários lugares, e pela obra de Deus. Se um cristão não lê a Escritura e não ora toda manhã, é inútil falar sobre vida em profundidade. Lançar raiz não são meras palavras, mas uma prática verdadeira em nosso viver diário. Quando você começa a aprender, é necessário pagar um preço por isto. Possa o amor de Deus atrair-nos para as profundezas, dia após dia, para que possamos aprofundar nossas raízes cada vez mais.
Para viver uma vida nas profundezas, é necessário ter comunhão íntima e direta com o Senhor. Cantares 4:12 diz: “Jardim fechado es tu, minha irmã, noiva minha, manancial recluso, fonte selada”. Aqui é falado sobre um jardim. Como é visto na Bíblia, um jardim foi a primeira idéia de Deus.
Diferente de uma terra comum para plantação de um modo geral, ou de um campo especifico para lavoura, um jardim é somente para beleza e desfrute. Num jardim pode haver árvores, mas o propósito não é a madeira; ou pode haver árvores frutíferas, mas ainda o propósito não é gerar frutos. A importância de um jardim esta relacionada a suas flores. Elas foram plantadas apenas por sua beleza. Plantar flores e, portanto, para a satisfação dos olhos. Descrever este jardim como um “jardim fechado” significa que ele não é um parque público ao qual todos tem acesso para ter prazer, mas é fechado exclusivamente para Cristo. A beleza interior e para ser vista e apreciada somente por Cristo. Este tipo de viver não pretende agradar aos homens mas apenas a Cristo.
Este tipo de vida e “um manancial recluso”. Um manancial é para as pessoas usarem; embora seja assim, ainda está reservado para o Senhor.
Esta espécie de vida e “uma fonte selada”. Um manancial é produzido pelo trabalho humano, mas uma fonte não. Um manancial é para os homens, mas uma fonte e para Deus. Uma fonte e para a alegria e o contentamento que adquirimos na presença de Deus. Tal experiência não é para ser deliberadamente exposta a outras pessoas porque ela e uma fonte selada.
Resumindo, um cristão nunca deveria, intencionalmente, exibir sua beleza, busca e experiência espirituais para que outros vejam. Por outro lado, tudo deveria ser silenciosamente selado para o Senhor. Somente esta espécie de vida nas profundezas satisfará o coração do Senhor.
Irmãos e irmãs, nossa vida e muitas vezes tão superficial e uma grande parte dela é exposta na superfície. Possa o Senhor conceder-nos graça permitindo que a cruz faça uma obra profunda em nosso interior para que possamos firmar raízes a fim de ter vida nas profundezas para cumprir as exigências de Deus e satisfazer Seu coração.
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Doze Cestos Cheios, vol. 4, Editora Árvore da Vida.
Nunca se defenda (A. W. Tozer)
Todos nós nascemos com o desejo de defender-nos. E, caso insista em defender a si mesmo, Deus permitirá que você o faça. Porém, se você entregar sua defesa a Deus, então, Ele o defenderá. Ele disse a Moisés certa vez: “Serei inimigo dos teus inimigos e adversários dos teus adversários” (Êx 23.22).
Muito tempo atrás, o Senhor e eu chegamos juntos ao capítulo 23 do livro de Êxodo, e Ele me mostrou essa passagem. Já faz trinta anos que ela tem sido uma fonte de bênçãos indizíveis para mim. Não tenho de lutar. O Senhor é Quem luta por mim. E Ele certamente fará o mesmo por você. Ele será o Inimigo dos seus inimigos e Adversário de seus adversários, e você nunca mais precisará defender a si mesmo.
O que defendemos? Bem, defendemos nosso serviço e, particularmente, defendemos nossa reputação. Sua reputação é o que os outros pensam que você é, e se surgir alguma história sobre você, a grande tentação é tentarmos correr para acabar com ela. Mas, como você bem sabe, tentar chegar até a fonte de uma história assim é uma tarefa inútil. Absolutamente inútil! É como tentar achar o passarinho, depois de ter encontrado uma pena no gramado. Não poderá fazer isso. Porém, se se voltar completamente ao Senhor, Ele o defenderá completamente e providenciará para que ninguém lhe cause dano. “Toda arma contra forjada contra ti, não prosperará”, diz o Senhor, “toda língua que ousar contra ti em juízo, tu a condenarás” (Is 54.17).
Henry Suso foi um grande crente em dias passados. Um dia, ele estava buscando o que alguns crentes têm-me dito que também estão buscando: conhecer melhor a Deus. Vamos colocar isso nestes termos: você está procurando ter um despertamento religioso no íntimo de seu espírito que o leve para as coisas profundas de Deus. Bem, quando Henry Suso estava buscando a Deus, pessoas começaram a contar histórias más sobre ele, e isso o entristeceu tanto que ele chorou lágrimas amargas e sentiu grande mágoa no coração.
Então, um dia, ele estava olhando pela janela e viu um cão brincando no terraço. O animal tinha um trapo que jogava por cima de si, e tornava a alcançá-lo apanhando-o com os dentes, e corria e jogava, e corria e jogava muitas vezes. Então, Deus disse a Henry Suso: “Aquele trapo é sua reputação, e estou deixando que os cães do pecado rasguem sua reputação em pedaços e a lancem por terra para seu próprio bem. Um dia desses, as coisas mudarão”.
E as coisas mudaram. Não demorou muito tempo até que os indivíduos que estavam atacando a reputação de Suso ficassem confundidos, e ele foi elevado a um lugar que o transformou num poder em seus dias e numa grande bênção até hoje para aqueles que cantam seus hinos e lêem suas obras.
(Artigo extraído do livreto Cinco Votos Para Obter Poder Espiritual, de A. W. Tozer, Editora dos Clássicos, julho de 2004).
É comum ouvirmos os crentes dizerem: “Ah, como eu gostaria de obter a bênção da cura divina. Mas ainda não a obtive.”
E outros afirmam: “Eu já.”
Mas quando lhes pergunto: “O que obteve?”, não sabem responder.
Alguns dizem: “Recebi a bênção.” “Recebi a cura.” “Recebi a santificação.”
Mas, graças a Deus, o que devemos desejar não é a bênção, nem a cura, nem a santificação, nem outra coisa qualquer, mas Alguém muito superior. Devemos desejar Cristo, o próprio Cristo.
PRECISAMOS DE UMA PESSOA
Encontramos na Palavra a afirmação “Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças” (Mt. 8:17); “Carregando Ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados” (I Pe. 2:24). É a Pessoa de Jesus Cristo que devemos desejar. Muitos indivíduos têm uma idéia sobre Cristo, mas não passam disso. Têm um conceito na mente, na consciência e na vontade, mas Ele mesmo ainda não faz parte da vida deles. Assim só possuem um símbolo e uma expressão material de uma realidade espiritual.
Certa vez vi uma reprodução da Constituição dos EUA feita sobre uma chapa de cobre. Quando se olhava de perto, via-se apena um texto impresso. Mas quando se afastava um pouco, divisava-se na chapa a efígie de George Washington. Vistas de certa distância, as letras formavam os traços de Washington, e quem olhasse para elas enxergava apenas a pessoa e não as palavras, nem as idéias. Então ocorreu-me um pensamento: “É assim que devemos olhar para a Bíblia, para entender os pensamentos de Deus. Neles vemos o amoroso rosto de Jesus delineando-se em meio às palavras. Ali está o próprio Jesus, que se apresenta como a Vida, a Fonte de Vida, e a presença constante que a sustenta.”
Durante muito tempo orei a Deus pedindo a santificação, e muitas vezes achei que a havia recebido. Houve até uma ocasião em que senti algo diferente, e me agarrei àquela experiência, receoso de a perder. Fiquei acordado a noite toda, temendo que ela me escapasse, e é claro que, assim que a emoção e a sensação momentânea se esvaíram, ela desvaneceu também. Perdi-a, porque não me firmara em Jesus. É que estivera bebendo pequenos goles de um imenso reservatório, quando poderia estar imerso na plenitude de Cristo.
Às vezes, nos cultos, via pessoas dando testemunho sobre o gozo espiritual, e até achava que eu também o experimentara, mas não conseguia conservá-lo. É que minha fonte de alegria não era Jesus. Afinal, um dia, ele me disse com muita mansidão:
“Meu filho, receba-me, e eu próprio serei a fonte constante de tudo isso.”
Então resolvi despreocupar-me da santificação e da bênção em si, e passei a contemplar o próprio Cristo. Assim, em vez de ter uma experiência, entendi que tendo Cristo tinha quem era maior do que uma necessidade do momento, tinha o Cristo que era tudo de que necessitava. E ali O recebi, de uma vez para sempre.
Assim que O vi por esse prisma, experimentei um revigorante descanso. Tudo ficou acertado de uma vez por todas. Nele tinha tudo de que precisava, não apenas para aquele momento, mas para o outro, e o outro, e o outro, e assim por diante. Vez por outra, Deus me deixa entrever como será minha vida daqui a um milhão de anos, quando resplandeceremos “como o sol, no reino de (nosso) Pai (Mt. 13:43) e teremos “toda a plenitude de Deus” (Ef. 3:19).
MEU GRANDE SEGREDO
Se eu afirmasse agora que possuo uma fórmula secreta para se obter riqueza e sucesso, que recebi diretamente do céu, e que, por meu intermédio, Deus daria grandes quantidades dela a quem quisesse, todo mundo ficaria muito interessado. Pois quero mostrar-lhes na Palavra de Deus uma oferta muito mais valiosa que essa suposta fórmula. Inspirado pelo Espírito, o apóstolo Paulo diz que existe um “mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações” (Cl. 1:26). Trata-se de um segredo que o mundo tem procurado, mas não encontra; um segredo que os sábios estão sempre desejando. E o Senhor nos garante que “agora, todavia, se manifestou aos seus santos”. E Paulo viajou pelo Império Romano entregando essa mensagem a quem estivesse apto para recebê-la. Eis o segredo: “Cristo em vós, esperança da glória” (vs. 27).
O grande segredo é: “Cristo em vós”. E eu o passo a você agora, se quiser crer no que Deus diz. Para mim, ele tem sido maravilhoso. Faz alguns anos busquei a Deus, cheio de temores e de sentimentos de culpa. Apliquei esse segredo à minha vida e foi a solução para todas as minhas preocupações e meu fardo de pecados. Mas depois, após algum tempo, vi-me outra vez dominado pelo pecado, e a tentação me parecia forte demais. Busquei a Deus, e de novo Ele me disse: “Cristo em vós”.
Foi assim que obtive a vitória, o descanso, as bênçãos.
Antes era a bênção, agora é o Senhor.
Antes era o que eu sentia; agora é a Palavra.
Antes eu queria os dons; agora o Doador.
Antes queria a cura; agora basta-me o próprio Jesus.
Antes era o esforço penoso; agora, a confiança perfeita.
Antes era uma salvação incompleta; agora é a perfeição.
Antes me segurava nEle; agora Ele me segura firmemente.
Antes estava sempre à deriva; agora minha âncora está firme.
Antes era um plenejamento incessante; agora a oração da fé.
Antes era uma preocupação constante; agora Ele cuida de tudo.
Antes era o que eu queria; agora é o que Jesus disser.
Antes era uma petição constante; agora, adoração incessante.
Antes era eu quem trabalhava; agora Ele age por mim.
Antes eu tentava usá-Lo; agora é Ele que me usa.
Antes queria o poder; agora tenho o Todo-Poderoso.
Antes trabalhava por vaidade; agora, tão somente para Ele.
Antes tinha esperança de conhecer Jesus; agora sei que Ele é meu.
Antes minha luz era intermitente; agora brilha intensamente.
Antes esperava a morte; agora anseio por Sua volta.
E minhas esperanças estão firmadas no céu.
(Extraído do livro Jesus Cristo, Ele Mesmo, Editora Betânia)
“No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (João 7:37).
A paciência tem o seu perfeito trabalho no Senhor Jesus, e até o último dia da festa Ele proclamou aos judeus, assim como neste último dia do ano Ele nos proclama e espera ser gracioso para conosco. É verdadeiramente admirável a longanimidade do Salvador em suportar alguns de nós ano após ano, apesar de nossas provocações, rebeliões e resistência ao Seu Espírito Sano,. Maravilha das maravilhas é estarmos na terra da misericórdia!
A piedade expressa-se mais claramente, pois Jesus exclamou, o que implica não somente a altura da sua voz, mas a ternura de seus tons. Ele suplicou para que fôssemos reconciliados. “Oramos por vocês”, disse o apóstolo, “como se o próprio Deus suplicasse a vocês por nosso intermédio”. Que termos fervorosos, emocionantes, são estes! Quão profundo deve ser o amor que faz com que o Senhor chore pelos pecadores, e como uma mãe embale seus filhos em seu regaço! Certamente a cada apelo do Senhor nosso coração desejoso atenderá.
A provisão é feita mais abundantemente; tudo é providenciado para que o homem possa mitigar a sede da sua alma. Para sua consciência, a expiação traz paz; para sua compreensão, o exemplo traz a mais rica instrução; para seu coração, a pessoa de Jesus é o mais nobre objeto de afeição; para todo homem, a verdade como é encontrada em Jesus provê a nutrição mais pura. A sede é terrível, mas Jesus pode removê-la. Embora a alma esteja totalmente faminta, Jesus pode restaurá-la.
A proclamação é feita mais livremente para que cada sedento seja bem-vindo. Nenhuma outra distinção é feita senão a da sede. Quer seja a sede da avareza, da ambição, do prazer, do conhecimento ou de descanso, aquele que sofre disso é convidado. A sede pode ser má em si mesma, e não ser um sinal de graça, mas antes um sinal de pecado imoderado ansiando para ser gratificado com goles mais profundos de lascívia; mas não é a bondade na criatura que leva ao sedento o convite; o Senhor Jesus envia-o, gratuitamente, sem acepção de pessoas.
A personalidade é declarada mais plenamente. O pecador deve vir a Jesus, não a trabalhos, ordenanças ou doutrinas, mas para um Redentor pessoal, que carrega nossos pecados em seu próprio corpo sobre a cruz. O Salvador sangrando, morrendo e ressurgindo é a única estrela da esperança para um pecador. Oh! como anelo por graça, a vir agora e beber, antes que o Sol se ponha no último dia deste ano!
Beber representa uma recepção para a qual nenhuma aptidão é requerida. Um louco, um ladrão, uma prostituta podem beber; e tal pecaminosidade de caráter não é empecilho para o convite ao crente em Jesus. Não precisamos de taça de ouro, nem de cálice adornado, no qual transportar a água para o sedento; a boca da pobreza é convidada a inclinar-se e tomar goles da corrente que flui. Lábios cheios de bolhas, leprosos, sujos podem tocar a corrente do amor divino; eles não podem poluí-la, mas eles serão purificados. Jesus é a fonte da esperança. Caro leitor, ouça a voz amorosa do amado Redentor quando proclama a cada um de nós:
“SE ALGUÉM TEM SEDE, VENHA A MIM E BEBA”.
Introdução
É possível ser submisso e, ao mesmo tempo, desobedecer. Paulo nos diz em Romanos 13.1-2: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade, resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação.”
Poderíamos pensar que essa passagem ensina obediência incondicional a qualquer classe de autoridade. Na realidade, ela deve ser aplicada aos governadores descritos no verso 3, que diz: “Porque não são para temor quando se faz o bem, e, sim, quando se faz o mal”. Mas alguns governantes são o oposto disso. Eles aterrorizam os que fazem o bem e recompensam os que fazem o mal.
Estive em Uganda depois que Idi Amim assumiu o poder. Ele era um bom exemplo daquele tipo de governante iníquo. E eu afirmo que obedecer a pessoas como ele não é a vontade de Deus para as nossas vidas.
Realizamos um seminário em Burundi, em 1969, e havia uma atmosfera de tumulto no país. Várias centenas de irmãos africanos assistiram ao seminário. Eram homens de Deus muito amados. Logo depois do nosso seminário, aquele país teve uma mudança de governo.
Dois grupos de tribos rivais compunham a base da população de Burundi. Um dos grupos era amigável aos europeus, mas o outro lhes era hostil. Foi este grupo hostil que tomou o poder. O resultado foi uma guerra civil. Houve uma carnificina. Entre outras coisas, o novo governo ordenou que todos os pastores se apresentassem para serem presos (a tribo que mantinha amizade com os europeus era bem evangelizada). Para nossa consternação, alguns dos pastores que assistiram ao nosso seminário se apresentaram e foram mortos. Eles tinham um conceito errado acerca de submissão. Eram homens a quem eu havia ministrado. Muitos deles eu considerava como amigos.
Isso me fez revisar alguns ensinamentos sobre submissão muito em voga nos nossos dias. Não havíamos ensinado nada acerca de submissão àqueles pastores. Mas gostaria que tivéssemos prestado mais atenção ao que o Espírito dizia naquele seminário, porque ele estava nos avisando sobre o tumulto que se avizinhava. Se tivéssemos instruído bem aqueles pastores a que não obedecessem a esse governo hostil e a que, pelo contrário, resistissem a ele e fugissem, muitos talvez estivessem vivos agora.
O governo e a liderança aos quais Deus quer que obedeçamos são aqueles que se fazem terror para as más obras e que condecoram as boas. Mas quando um líder ou governo fica enlouquecido, devemos resistir-lhe.
O Que é Submissão
Submissão não tem nada a ver com a obediência em si. Submissão não é uma obediência inquestionável à autoridade; não é a resposta cega a todo tipo de ordem. Submissão é uma atitude do coração. É uma vontade firme de seguir as instruções que não violem:
(1) o que Deus nos diz (At 4.17-30); ou
(2) o que a Bíblia nos ensina (Js 1.8; Is 8.20; At 17.11); ou
(3) o que nossa consciência nos diz (At 24.16; Rm 14.23; 1 Pe 2.19; 2 Co 4.2; 2 Co 1.12; 1 Co 8.7-12;10.29).
Dentro desses limites, é bom que nos submetamos àqueles que nos dirigem no Senhor, no governo, na sociedade e no lar. Fora desses limites, devemos aprender a desobedecer, mantendo sempre no coração uma atitude de submissão.
Três Jovens Hebreus
O rei Nabucodonosor fez um grande ídolo de ouro (Dn 3) e o erigiu na planície de Dura. Para a dedicação do ídolo, ele estabeleceu as regras pelas quais todo o povo se prostraria e adoraria a imagem. Qualquer um que deixasse de cumprir esta ordem seria lançado na fornalha ardente.
Isso se transformou numa situação difícil para os três jovens hebreus, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Eles eram submissos e queriam servir ao rei, mas disseram-lhe: “Ó Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste” (Dn 3.16-18).
Esses homens tinham coragem. Eles eram submissos. Mas o que o rei pedia contrariava as Escrituras. Por isso foram lançados na fornalha ardente, mas Deus estava com eles e os manteve vivos e salvos.
Os Apóstolos
No Novo Testamento, os apóstolos foram presos por pregar o evangelho (At 4). No dia seguinte, os membros do Sinédrio chamaram a sua atenção para que não pregassem mais sobre Jesus. Mas Pedro insistiu em afirmar que para eles era mais importante obedecer a Deus que aos homens. Completamente frustradas, as autoridades deixaram-nos ir embora. Mais tarde, porém, as autoridades ficaram ainda mais alarmadas pelas atividades dos apóstolos.
“Levantando-se, porém, o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, isto é, a seita dos saduceus, tomaram-se de inveja, prenderam os apóstolos e os recolheram à prisão pública. Mas, de noite, um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, lhes disse: Ide e, apresentando-vos no templo, dizei ao povo todas as palavras desta vida” (At 5.17-20).
Onde houver líderes hostis ao evangelho ou aos mandamentos de Deus, devemos resistir-lhes. Deus é a mais alta autoridade e devemos ser submissos a ele em todo o tempo. Esses homens não eram rebeldes. Eles queriam apenas seguir ordens razoáveis. Mas quando as autoridades se tornam um terror para as boas obras, ou quando suas ordens violam os mandamentos de Deus, então devemos obedecer a Deus antes que aos homens. E da mesma forma como o Senhor ficou ao lado dos três na fornalha ardente, ele enviou o seu anjo à prisão para libertar os apóstolos.
Jônatas, um Filho de Rei
Jônatas era filho de Saul e este lhe disse que matasse Davi (1 Sm 19.1). Eu creio que os filhos devem obedecer a seus pais. A Bíblia ensina assim. Mas quando Jônatas recebeu ordem de matar, qual era sua obrigação diante da Palavra, diante de Deus e dos propósitos divinos? Era obedecer a Deus e desobedecer a seu pai. Nem sempre submissão significa obediência.
Jônatas não era um rebelde; era submisso. Mas foi desobediente neste caso. Desobedeceu a Saul porque Saul era um líder a quem Deus já havia rejeitado.
Há muitos líderes no mundo de hoje os quais o Senhor rejeitou. Deus requer de nós que nos alinhemos com sua Palavra e seus propósitos e não obedeçamos a tais líderes. Submissos, sim; obedientes, não.
Talvez haja no seu emprego pessoas que querem que você minta e defraude em favor da empresa, ou que acompanhe líderes sindicais trapaceiros. Você não deve violar as Escrituras à guisa de estar em submissão. A sua responsabilidade é tomar uma posição aberta em favor daquilo que é certo.
As Parteiras Hebréias
As parteiras hebréias de Êxodo 1 também nos instruem neste assunto. “O rei do Egito ordenou às parteiras hebréias, das quais uma se chamava Sifrá, e a outra Puá, dizendo: Quando servirdes de parteira às hebréias, examinai: se for filho, matai-o, mas se for filha, que viva. As parteiras, porém, temeram a Deus, e não fizeram como lhes ordenara o rei do Egito, antes deixaram viver os meninos” (vv. 15-17). Viva! para mulheres como estas que se levantam contra o mandado do rei, porque temem mais a Deus do que ao rei. “E porque as parteiras temeram a Deus, ele lhes constituiu família” (v. 21). Elas foram premiadas por sua fiel desobediência.
Não estou aqui encorajando a rebelião contra o que é certo, justo e bom.
Necessitamos de autoridade se queremos ordem. Todos nós devemos aprender a submissão. Mas uma obediência inquestionável ou cega a uma liderança errada não é a vontade de Deus para nossas vidas.
A Esposa Que Morreu
“Entretanto, certo homem, chamado Ananias, com sua mulher Safira, vendeu uma propriedade, mas de acordo com sua mulher, reteve parte do preço, e, levando o restante, depositou-o aos pés dos apóstolos” (At 5.1). Estavam fazendo aquilo para demonstração exterior, tentando fazer o povo crer que eram espirituais quando, na verdade, em seus corações, estavam agarrados ao dinheiro.
Deus julgou-os por hipocrisia. Primeiro, Ananias entrou e contou sua história enganosa e, logo em seguida, morreu. Depois, sua esposa Safira entrou e ratificou a mesma versão. Ela morreu porque estava em cumplicidade com o erro. Mesmo sendo uma esposa submissa, ela deveria ter desobedecido. Safira teria permanecido viva se tivesse deixado de cooperar com o plano do seu marido. Necessita-se de muito mais coragem para desobedecer do que para seguir a multidão.
Quem sabe você é uma mulher cristã, casada com um marido descrente; não é fácil quando ele lhe pede para fazer algo errado. Talvez ele queira que você o acompanhe em filmes censurados ou que faça outra coisa que você sabe ser errada. Não viole sua consciência nem as Escrituras quando aplicadas à sua vida, pois você dará contas a Deus pela maneira como recebeu essas autoridades superiores.
Isso nos coloca numa posição bem apertada no lar, no emprego, no governo ou onde quer que sejamos chamados a estar comprometidos com aquilo que é reto. Temos que desobedecer às ordens pecaminosas, senão sofreremos as conseqüências. Eu mesmo tive que abandonar certas organizações quando descobri desonestidade, infidelidade e manipulação do povo de Deus por trás de tudo! Deus deixa de contar conosco quando fazemos parte de algo errado.
Conclusão
“Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade: porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor” (Gl 5.13). Se é verdade que em algumas ocasiões devemos desobedecer, isso não deve servir para facilitar a manifestação de nossos desejos oportunistas ou fortalecer nossa obstinação natural e desejo de conseguir nossa própria vontade. Também não é uma forma de fugir de nossa responsabilidade quanto ao bom relacionamento com o cônjuge, o patrão ou o governo. Tendo dito isso, nunca comprometamos nossa integridade quando estivermos em situações que requeiram uma posição inequívoca de submissão às mais altas autoridades que são Deus, sua Palavra e as exigências de nossa consciência.
Devemos estar prontos a sermos impopulares, mal-entendidos, a passarmos por tolos, se necessário, pela causa de Cristo, a fim de manter sempre nossa integridade e comunhão com o Senhor. Porque quando estivermos na presença do Senhor no dia do juízo, seremos galardoados por nossa fiel obediência a ele somente. Se temos sido fiéis, mesmo que isso nos custe amizades cortadas e relacionamentos desfeitos nesta vida, Deus nos honrará naquele dia.
Não devemos endossar passivamente a maldade. Devemos usar nossa influência para combater o mal. Isto vai requerer de nós que estejamos sempre submissos e que desobedeçamos quando necessário.