“Não estejais inquietos por coisa alguma” (Fp 4.6).
A ansiedade é tão claramente proibida por Deus como é o roubo. Isso exige uma cuidadosa reflexão e um claro entendimento de nossa parte, a fim de não nos desculparmos por considerá-la uma simples “fraqueza”. Quanto mais estivermos convencidos da pecaminosidade da ansiedade, mais cedo perceberemos que ela desonra grandemente a Deus, e haveremos de “lutar contra” esse pecado (Hb 12.4). Mas como lutar contra o pecado da ansiedade?
Primeiro, supliquemos ao Espirito Santo que nos conceda uma convicção mais profunda da enormidade desse pecado. Segundo, façamos disso assunto de oração específica e séria, a fim de sermos libertados desse mal. Terceiro, fiquemos atentos ao começo da ansiedade e, tão logo estejamos conscientes da perturbação da mente, tão logo detectemos algum pensamento de incredulidade, elevemos o coração a Deus, suplicando-Lhe libertação desse pecado.
O melhor antídoto para a ansiedade é meditar com freqüência na bondade de Deus, em Seu poder e em Sua suficiência. Quando o santo consegue perceber confiantemente que o Senhor é seu pastor, forçosamente ele conclui: “Nada me faltará!” (Sl 23.1).
No texto de Filipenses, imediatamente após a exortação “Não estejais inquietos por coisa alguma”, lemos: “Antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ações de graças”. Não há nada grande demais nem pequeno demais para ser apresentado a Deus e lançado sobre Ele. A expressão “com ações de graças” é da maior importância; contudo, é o exato ponto em que muitas vezes falhamos. Ela significa que, antes de recebermos a resposta da parte de Deus, nós Lhe agradecemos por essa resposta. É uma confiança infantil, na expectativa de que o Pai será gracioso.
“Por isso, vos digo: não andeis cuidadosos quanto a vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que vestuário? […] Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.25,33).
Hoje fui levado a pensar no fim da vida de Davi, conforme o registro de 1Reis.
O último versículo do livro anterior, 2Samuel, fala de algo glorioso: “E edificou ali Davi ao SENHOR um altar, e ofereceu holocaustos, e ofertas pacíficas. Assim o SENHOR se aplacou para com a terra e cessou aquele castigo de sobre Israel”. Sem dúvida, é uma bela cena. Davi, arrependido de ter ordenado o censo do reino, arrependido por seu erro ter resultado na morte de setenta mil homens do povo, oferece holocaustos ao Senhor na eira de Araúna, que agora lhe pertence, pois ele não ofereceria ao Senhor, seu Deus, holocaustos que não lhe custassem nada (2Sm 24.20).
É uma bela cena para nossa visão das coisas espirituais: temos arrependimento, holocausto, louvor, perdão de Deus… Mas falta algo, não só nessa cena como em muitas outras da vida de Davi: sua família. Davi, mais uma vez, está desacompanhado de sua família: nem uma esposa (havia tantas que podiam estar com ele…), nem um filho (dos tantos…). Por quê?
O resumo de tudo é: Davi foi um fracasso como pai, como marido, como chefe de família. Como esse texto é uma consideração rápida sobre ele, não há como aprofundar exaustivamente a afirmação. Mas basta ler a história do rei de Israel, especialmente depois de 2Samuel 11: o adultério com Bate-Seba trouxe conseqüências, especialmente sobre sua família, da qual a espada nunca se apartou (12.10). O significado é que haveria guerras, lutas, desencontros, intrigas, mortes dentro da família, mas isso não explica a omissão de Davi como pai e como marido. Os capítulos 13 a 15 exemplificam isso vergonhosamente: sua omissão no caso de estupro de sua filha Tamar por Amnom, meio-irmão dela (portanto, filho de Davi), sua incapacidade de lidar com a rebelião de Absalão, preferindo fugir covardemente a enfrentá-lo e pô-lo em seu lugar. Davi parece ter medo de exercer suas obrigações como o cabeça da casa (que paradoxo com o assombrosamente corajoso jovem pastor que enfrentou o gigante filisteu ou com o apaixonado soldado que mata o dobro de filisteus que o necessário para pagar o dote da filha do rei!)
E foi esse Davi, o solitário homem cheio de esposas e de filhos, que adorou a Deus na eira de Araúna. Linda cena, mas… vazia. O rei está acompanhado apenas de seus escravos (24.20). Somente os servos ouviram aquela declaração, sobre o preço dos holocaustos, mas nenhum filho, nenhuma esposa. Nenhum deles teve oportunidade de ouvir esse princípio tão importante acerca do dar-se ao Senhor, do ser totalmente Dele em Seu serviço. O pai de muitos filhos não tem filhos. O marido de muitas esposas não tem esposa. Só escravos: pessoas que apenas obedecem, que não precisam aprender ou praticar nada. Só seguir seu dono.
Na página seguinte da Bíblia está 1Reis, que inicia dizendo: “Sendo, pois, o rei Davi já velho, e entrado em dias, cobriam-no de roupas, porém não se aquecia” (1.1). Do holocausto à velhice, do sacrifício ao frio, das ofertas ao não se aquecer. O que aconteceu nesse meio tempo? Segundo esse registro, nada. Nada de importante. Nenhum fato digno de nota. Agora há um rei velho, decrépito, cheio de roupas, que não se aquece. A cena deveria ser patética: um velho entrouxado de roupas luxuosas, cercado de roupas reais, e tremendo de frio, batendo queixo.
É comum os velhos sentirem mais frio. Lembro-me de meu pai, antes de partir para o Senhor, sempre com seu casacão ou com seu pala de lã, com frio. Mas a cena de Davi era patética por ele ser o rei, uma figura imponente, que deveria inspirar respeito e admiração, e por estar cheio de roupas, exageradamente vestido. O rei que tinha tudo não conseguia se aquecer.
Então, seus escravos tiveram uma idéia:
“Disseram-lhe os seus servos: Busquem para o rei meu senhor uma moça virgem, que esteja perante o rei, e tenha cuidado dele; e durma no seu seio, para que o rei meu senhor se aqueça. E buscaram por todos os termos de Israel uma moça formosa, e acharam a Abisague, sunamita; e a trouxeram ao rei. E era a moça sobremaneira formosa; e tinha cuidado do rei, e o servia; porém o rei não a conheceu” (vv. 2-4).
Quantas coisas há a se considerar nesses poucos versículos!
De onde os escravos tiraram essa idéia? Uma mulher que aquece mais que banhos quentes ou lareira ou aquecimento no quarto? Seria isso decorrência da fama de mulherengo de Davi, de sua lascívia, até agora, incontrolável? Seria esta a impressão final que Davi, o da eira de Araúna, passava a seus escravos: “Só uma mulher resolve meu problema”?
Por que os escravos se preocuparam com isso, não uma das tantas esposas ou um dos tantos filhos? Onde estão elas? Onde estão eles? Ninguém se preocupa com Davi? A preocupação deles é apenas com o reino (como se vê nos versículos seguintes). O que Davi fez para ser assim desprezado, deixado de lado, no fim da vida? É um velho! Merecia um pouco de atenção. Merecia? Não estaria ele colhendo o que semeou na família: desinteresse, omissão, ausência, destempero emocional…? Um velho friorento entregue pela família às idéias sem pé nem cabeça de seus escravos, que uma vez o viram apresentar holocaustos, mas muitas vezes o viram com mulheres, muitas e variadas. (Talvez mais vezes com mulheres do que vezes em comunhão com Deus…)
Se a intenção era mesmo apenas encontrar um cobertor humano para Davi, por que procurar “por todos os termos de Israel uma moça formosa” (v. 3)? Ela vai aquecer Davi por ser formosa? Ela não precisava ter outras habilidades para resolver a constante hipotermia do rei? Ou seria mais um enfeite do palácio de Davi, como o eram as outras esposas? Troféus expostos para ressaltar a virilidade de Davi? E escolheram uma “moça sobremaneira formosa” (v. 4). Uma modelo, uma miss, uma “uau!”. Era preciso mesmo isso? Parece-me apenas um conceito mundano, caído, de que beleza é o principal.
(Não são muitos os seduzidos [com trocadilho] por essa idéia? Não é imposto, a homens e a mulheres, um padrão, um conceito de beleza? Não são tantas as jovens escravizadas pela anorexia das modelos, pelo raquitismo das que desfilam nas passarelas? Não são tantas as mães que moldam suas filhas desde muito pequenas no padrão adulto de beleza artificial: maquilagem, roupas, erotismo precoce, músicas idiotas sobre “com quem será…”? Não são tantos os jovens cristãos atraídos pela falsa aparência exterior, ignorando a piedade, o “incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus” [1Pe 3.4]?)
Voltemos a Davi.
O que me assombrou pela primeira vez, como se a tinta da página ainda estivesse secando, nessa antiga passagem foi a ausência da família. “Davi, o que você fez com sua família?” Agora, o velho Davi tem nos braços uma mulher linda – imagino que a mais linda que ele já viu –, mas ele é velho e friorento. E a Bíblia registra, talvez como um louvor a ele, mas, ao mesmo tempo, para envergonhar sua virilidade, sua fama de conquistador: “Porém o rei não a conheceu” (1Rs 1.4).
Ah, se fosse em outros tempos! Davi, que não respeitou a mulher do próximo, ao preço de matá-lo para ficar com ela, que a fez deitar-se com ele (provavelmente usando sua autoridade imperial sobre os súditos), não teria deixado passar incólume uma moça sobremaneira formosa, entregue a seus braços lascivos. Mas agora ele está velho e friorento. Seu corpo está impotente. Sexo, que nunca o satisfez, agora não o satisfaz mais. Mulheres, que eram sua busca, seu alvo, sua certeza de satisfação, agora de nada lhe servem. Ele só queria um banho quente permanente.
Há um detalhe curioso: a Bíblia não registra que Abisague, a tal moça linda, conseguiu aquecer o rei. Diz apenas que ela o servia e cuidava dele (vv. 4,15). Trocava suas roupas? Trocava-lhe as fraldas geriátricas? Levava-o para o banho? Dava comida na boca? A pergunta surge de novo: “Davi, o que você fez de sua família? Por que nenhuma esposa cuida de você? Por que nenhum de seus filhos cuida de você? O que você se tornou aos olhos de sua família, Davi? O que sua família se tornou a seus olhos, Davi?” Davi parece se sentir indigno de pedir o socorro a qualquer de suas esposas ou de seus filhos. É minha inferência, minha leitura do quadro todo. Davi foi rei, com a dignidade real, até o fim, mas, em algum lugar do passado, ele perdeu a dignidade como marido e pai. Agora, está com frio. E abandonado aos braços de uma mulher linda.
Ainda há mais. Por causa da preocupação com o reino, não com o rei, Bate-Seba (sim, aquela com quem ele adulterara e cujo marido ele mandou matar) vai a Davi interceder por Salomão (filho legítimo do casal, pois gerado depois de Davi ter casado com ela). Mas a cena é… desagradável, na falta de outro adjetivo: “E foi Bate-Seba ao rei na sua câmara; e o rei era muito velho; e Abisague, a sunamita, servia ao rei” (v. 15).
Imagine a cena toda: aquele homem havia adulterado com a mulher e matado o marido (honesto, leal, decente, patriótico) dela. Depois, por culpa desse pecado, o primeiro filho deles morre. Talvez ela tenha pensado que, dada a loucura toda feita em nome do amor (da lascívia é mais exato), Davi a trataria como única, como a preferida, como a especial. Que nada! Em pouco tempo, por onde vai passando, Davi coleciona mais e mais mulheres. Bate-Seba era apenas mais uma, importante, talvez, por ser a mãe de Salomão, o futuro rei. Aquele homem agora é um velho, mas ainda está no comando. Bate-Seba não tem opção: tem de ir a ele. Ao chegar lá, o vê com Abisague, a mulher linda que o serve. Bate-Seba agora é idosa, enrugada; não é mais a mulher bonita que, ao se banhar, atraiu o rei com sua beleza nua. Talvez tivesse sido tão bonita quanto Abisague. Agora é velha e Davi é velho. E seu marido está, mais uma vez, com outra mulher.
E ela não se dirige ao marido: ela fala com o rei, com seu senhor (vv. 16-20). Ela não é a esposa: é a serva (v. 17), não mãe do filho, já que o filho, um servo, é filho apenas do rei (vv. 17, 19).
Com certeza, algumas dessas expressões são justificadas pela cultura palaciana, pelo protocolo real. No entanto, a cena toda é vazia de relacionamentos de amor, de laços de família, de ternura. (Compare com o relacionamento entre Jacó e José.) Davi é um rei só, só numa numerosa família, abandonado por aqueles a quem abandonou.
Por isso, o maravilhoso e incomparável rei Davi termina a vida em um versículo: “E Davi dormiu com seus pais, e foi sepultado na cidade de Davi” (2.10). Ninguém o pranteou, ninguém sentiu falta dele, nenhum feriado nacional, nenhuma comitiva palaciana, nenhuma esposa de luto, nenhum filho entristecido. Davi morreu. Só. Foi sepultado. E ponto.
Ao ler 1Reis e pensar nisso tudo, vieram-me ao coração pensamentos assustadores: “Quem vai cuidar de mim em minha velhice? Quem fará questão de cuidar de mim? O que semeio hoje em minha família? Que colheita vou ter?” O princípio é imutável: colhemos exclusivamente o que semeamos. Davi semeou solidão, omissão, abandono, desinteresse; colheu frio e tremedeira nos braços de uma linda estranha (e nem ela foi chorar sua morte).
O que eu semeio?
O que você semeia?
Ainda é tempo de iniciar uma nova semeadura.
(Publicado originalmente em 8.6.17; atualizado em 13.6.18)
Não sei ao certo há quanto tempo este blogue existe. Seu início se deu, com certeza, há mais de 20 anos, quando, ainda preso a uma seita cristã exclusivista, comecei a conhecer a rica herança espiritual dada pelo Senhor a Seu Corpo por meio de muitos e muitos filhos.
Conforme eu conhecia autores e suas obras, mais fascinado eu ficava… com o Senhor! Quão rico Ele é! Quão insondáveis são Suas riquezas! Quão vastos são Seus campos! Quão limitados são, mesmo os mais fiéis servos, para colher os frutos, para recolher as respigas! E quanta profundidade, quanta revelação, quanto alimento há no pouco que do Senhor conhecemos! “Eis que isto são apenas as orlas dos Seus caminhos; e quão pouco é o que temos ouvido Dele!” (Jó 26.14).
Angustiado com a limitação, com a pobreza a que meus irmãos eram submetidos, como eu, naquele ambiente, comecei a divulgar frases, pequenos trechos, capítulos de livros desses autores até então desconhecidos, pelo menos para mim. E aquele pouquinho do sabor de favos de mel começou a me aclarar os olhos (cf. 1Sm 14.27)! E isso foi o embrião do Campos de Boaz.
Em algum momento, criei uma página na internet. Recordo que passei pelos falecidos GeoCities e Multiply; mexi com HTML, apesar de minha completa inaptidão técnica. (E eu encontrava mais e mais preciosidades que precisavam ser conhecidas por outros sedentos.) Mais tarde, abriguei o blogue em um domínio que me pertencia; a seguir, passei-o para outro. No meio desse processo todo, conheci o Rafael, um mais que irmão, profissional da área, que me ajudou a tornar o Campos um pouco menos amador. Identificando-se com o objetivo que eu tinha, o Rafa assumiu papel importante nos bastidores. Por fim, no ano passado, Campos de Boaz passou a ter seu próprio domínio.
A tarefa era grande demais para ser realizada sozinho, mesmo com a ajuda especializado do Rafa. Graças ao Senhor, paralelamente a esse desenvolvimento técnico, Ele trouxe ainda outros cooperadores, como Maria, editora, Hannah, a artista, e os demais respigadores, que têm cooperado na produção de conteúdo e em sua publicação. Todos com o mesmo objetivo do início: levar ao povo do Senhor um pouco das muitas riquezas que Ele espalhou em Seus campos ao longo dos séculos. Todos trabalhando voluntariamente, por amor ao Senhor e a Seu povo, nesse singelo serviço.
Quem visita o Campos regularmente, ou quem é assinante, percebeu que ele está diferente. Na quarta-feira 9 de maio, depois de horas de trabalho, que culminaram muitas horas anteriores (eu, leigamente, imaginava ser coisa bem simples fazer um blogue bonito), conseguimos colocá-lo no ar. (Obrigado a todos que participaram, obrigado a cônjuges e filhos pela paciência e apoio.)
Adotamos novo tema, procurando com ele atender melhor aos que acessam por dispositivos móveis. Pensamos em uma identidade visual, para dar mais harmonia ao blogue e todas as suas partes.
Também teremos novidades ao longo do ano. Além de iniciarmos novas seções, pretendemos lançar dois livros gratuitos, em formato digital. Também planejamos o início da publicação, no segundo semestre, de um devocional que será enviado por e-mail diariamente, mas também será encontrado aqui, em nossa página no Facebook e no perfil no Twitter (outra novidade. Em breve, estaremos em outras redes sociais). Depois de completarmos sua tradução, o devocional será distribuído gratuitamente, em formato digital.
Em breve, a equipe receberá mais dois voluntários para a tradução. Apesar das limitações de todos, desejamos, com isso, ampliar o número de publicações inéditas no blogue.
Reconhecemos nossa incapacidade, nossa insuficiência, nossa inconstância. Mas temos o desejo de que o Senhor abençoe os poucos pães e peixes que Lhe apresentemos a fim de que uma parcela da multidão faminta que O segue seja saciada.
Se você tiver sugestões ou pensa que pode contribuir de alguma forma (contamos, claro, com suas orações!), escreva para contato(a)camposdeboaz.com ou deixe um comentário.
A primeira e tão bem-vinda palavra Dele para nós foi: “Vinde a Mim todos os que estais cansados” (Mt 11.28). Aquela labuta do fútil Adão estava sobre nós, tanto no pecado como na canseira das obras.
Deixamos isso na cruz do Senhor ou ainda o estamos suportando, em parte? Marta estava atarefada com muitas coisas, ainda que pensasse estar servindo seu Senhor! Estranho que tal serviço trouxesse tensão e irritação, ressoasse nos nervos e trouxesse um julgamento errado dos outros; contudo, essa dualidade que vemos em Betânia ainda não acabou; ainda a encontramos no serviço a Deus. E muitas “separações”, muitos afastamentos devem-se a isso, e muita é a perplexidade que vem desta outra palavra sobre o supremo serviço do Senhor: “Meu jugo é suave e Meu fardo é leve” (v. 30). Em face de algumas experiências [dos cristãos], essa frase soa irônica.
O Senhor não nos chama para tal labor, mas para o descanso. “Aqueles que crêem de fato entram no descanso” (cf. Hb 4.3) e: “Eu te darei descanso” (cf. Js 1.13). Ele promete descanso, não apenas do pecado, mas do trabalho inútil e desapontador. A maldição do trabalho de Adão em todas as suas formas gera nada além de um infrutífero cansaço, uma exaustão de esforço sem recompensa, e certamente “o suor da testa”. As energias da carne, a mera intensidade da alma, as chamas de uma paixão auto-criada, tudo isso causa febre, geralmente uma grande febre que nos torna desequilibrados para servir nosso Senhor quando Ele verdadeiramente necessita de nosso ministério.
Tão insistentemente o Salvador diz para a sinceridade e o impulso carnais: “Uma coisa é necessária: que você se aquiete e ouça Meu conselho, pois Eu sou seu Senhor”. Busque a quietude.
Pois as obras estão consumadas desde a fundação do mundo, e nada podemos fazer para torná-las mais perfeitas ou adicionar algo a elas. À parte Dele, nada há do que se fez.
E então? Há o lado bom, que é a boa parceria. Ele e nós devemos agora trabalhar juntos por meio de Seu Espírito que habita interiormente, assim como Ele e o Pai trabalharam juntos na terra mediante essa habitação. É o grande jugo, o eterno propósito de Deus; mas ele é fácil e leve, pois a carga está sobre o Espírito, dentro de nosso espírito, e não é uma pressão em algum lugar na alma: nem os nervos nem o cérebro são tentados por ele, nem a carne conhece seu peso. Porém o pilar interior de Sua força é o suporte, uma pressão de cima vinda do soberano amor.
Mas agora trabalhemos e nos alegremos em trabalhar. Existe labuta e talvez haja um feliz cansaço, mas não tensão.
Para concluir, eis aqui o segredo contido em uma experiência exultante: “Trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus que está comigo” (1Co 15.10). Paulo enfatizou grandemente estas últimas palavras, “a graça Deus que está comigo”, por toda a vida, pois o derradeiro toque sútil do “velho homem” que busca servir a Deus é dizer “eu” no templo de Sua glória. Como disse Andrew Murray: “Onde a carne busca servir a Deus há a força do pecado”.
“Levanta-Te, Senhor, ao Teu repouso, Tu e a arca da Tua força” (Sl 132.8).
Como Romanos 1 ilustra o ensino dado por Paulo em 1Tessalonicenses 5
Em Atos dos Apóstolos, Lucas afirma que, em seu Evangelho, ele relatara “tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar” (1.1). Lucas está dizendo que o Senhor era caracterizado por equilíbrio – não havia contradição entre Seus atos e Suas palavras. O Senhor manifestou harmonia entre vida e ensino – ambos eram claramente sujeitos à vontade e ao propósito de Deus.
Olhando para os escritos do apóstolo Paulo desse ponto de vista, podemos ver esse princípio aplicado a suas atividades pessoais em oração. Em 1Tessalonicenses 5 temos um exemplo do ensino de Paulo sobre oração, e, comparando-o com Romanos 1, veremos o equilíbrio do apóstolo, que é o que o Senhor exige de nós. Também podemos aprender um pouco sobre a importância de oração individual e particular.
A prioridade em oração (Rm 1.8)
“Primeiramente, dou graças a meu Deus”. Pare por alguns minutos e examine os capítulos iniciais das epístolas de Paulo, e veja o tamanho de sua lista de oração. Ele menciona o assunto nos versículos iniciais de seus escritos a cada cristão ou grupo de cristãos. Obviamente, colocar os santos perante o trono da graça era de suma importância para o apóstolo.
O louvor em oração (Rm 1.8)
“Dou graças a meu Deus”. Onde é que o louvor aparece em nossas orações? Paulo sempre começava suas orações com louvor, embora houvesse algumas igrejas a que escreveu em que não deve ter sido fácil achar alguma coisa digna de louvor. Lembrando que cada igreja é uma obra de Deus, Paulo oferece louvor a Deus por elas – aqui é “a vossa fé” que é “anunciada em todo o mundo”. Quaisquer que fossem os problemas, Paulo é capaz de mencionar o testemunho que aqueles cristãos tinham em todo o mundo, como um povo que tinha uma fé viva.
Note também que Paulo diz: “Dou graças o meu Deus […] acerca de vós todos”. Mesmo depois das críticas e dos ataques pessoais que sofrera por parte dos coríntios, Paulo podia escrever: “O meu amor seja com todos vós, em Cristo Jesus” (1Co 16.24). Podemos expandir nosso coração por meio da oração, e corremos o risco de estreitá-lo se formos seletivos em oração.
Tendo isso como pano de fundo, podemos ler 1Tessalonicenses 5.18: “ Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus”. É evidente, como podemos ver de Romanos 1, que Paulo não pediu de outros o que ele mesmo não estava pronto a praticar. Ele aprendeu sobre a vontade de Deus ao dar graças, e procurava ensinar aos outros a importância disso.
As pessoas da oração (Rm 1.8)
“Dou graças ao meu Deus por Jesus Cristo”. Vemos aqui que a oração é feita por intermédio de Jesus Cristo e dirigida a Deus. Note a expressão que Paulo usa: “meu Deus”. É bom lembrar que ele usa as mesmas palavras em 1Coríntios 1.4, Filipenses 1.3 e Filemon 4. Há certa intimidade nesse relacionamento. Paulo transmite a idéia de que comunhão com Deus em oração é um acontecimento tão freqüente e regular que justifica o uso de palavras que indicam a natureza pessoal do relacionamento. Deus é seu Deus. Paulo sente a proximidade da comunhão que tem com Deus por meio da oração. Embora as palavras exatas de suas orações não sejam conhecidas, ele pôde confiantemente dizer que Deus era testemunha do espírito e da constância de suas orações. Paulo poderia ter ecoado os sentimentos do escritor do hino: “Que privilégio levar tudo a Deus em oração”.
Em segundo lugar, podemos enfatizar a obra intercessora de Cristo. Ela nos assegura que nossas orações são aceitas, pois são oferecidas em Seu nome e por intermédio de Sua posição intercessora. O escritor de Hebreus, ao nos assegurar que “temos um grande sumo sacerdote”, nos convida: “Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno” (4.16). Sabemos que Deus compreende nossa estrutura, que Ele se comove com nossas enfermidades.
As perspectivas em oração (Rm 1.9)
“De como incessantemente faço menção de vós […] em minhas orações”. Paulo era um homem de hábitos contínuos e cuidadosos. Repare que ele está descrevendo suas próprias orações: “Eu faço menção” e “em minhas orações”. Suas orações pelos cristãos de Roma eram incessantes. Ao lermos os versículos iniciais das outras epístolas, encontramos o mesmo pensamento. Que testemunho da vida de oração do apóstolo! Como que para autenticar a verdade do que afirma, ele enfatiza: “Deus […] me é testemunha”. Embora Paulo estivesse descrevendo o que acontecia no lugar secreto de oração, não há como duvidar do peso de seu coração. Assim como fora responsável por pregar o evangelho e estabelecer o testemunho [de Deus em vários lugares], ele orava sinceramente pela subsistência e pela proteção desse testemunho.
Que valor isso dá ao ensino de Paulo aos tessalonicenses: “Orai sem cessar” (1Ts 5.7). Ele está ensinando a importância da oração na vida dos cristãos. É a comunhão e a coparticipação que nos sustentam nesse mundo. Como ele diz em Filipenses 4.6: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplica, com ação de graças”. Além disso, Paulo está também ensinando a importância de tais orações por outros cristãos. Quantos, do povo de Deus, têm sido amparados em tempos difíceis e penosos pelas orações contínuas do povo do Senhor! Parece que foi o que ocorreu com Paulo, como ele diz no verso 25: “Irmãos, orai por nós”. Por essa razão, ele diz: “Orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos os santos” (Ef 6.18).
Propósito em oração (Rm 1.10)
“Pedindo sempre […]”. Seu desejo era, pela vontade de Deus, visitar os irmãos em Roma. Ele almejava vê-los, e almejava fortalecê-los na fé. Este era o objetivo do ministério de Paulo: edificar e, assim, estabelecer o testemunho do povo do Senhor. Era esse o resultado pelo qual ele orou aqui. Mas vamos notar que a ênfase de sua oração não está em seu desejo, mas na “vontade de Deus”. Para que essa visita acontecesse, ele reconhece que é necessário ser da vontade de Deus.
Não importa quão constantes sejam nossas orações; acima de tudo, elas precisam estar de acordo com o propósito e a vontade de Deus.
“Se alguém vier a Mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser Meu discípulo” (Lc 14.26).
A palavra grega traduzida para “aborrecer” significa “amar menos em comparação a”. Jesus está nos chamando para ter um amor por Ele que é tão totalmente inclusivo, fervoroso e absoluto que todas as nossas afeições terrenas não podem chegar perto disso. Se nós tivéssemos esse inflamado, todo-consumidor, intenso e jubiloso amor por Cristo, não precisaríamos de esboços, diagramas e instruções nos dizendo como orar; nós oraríamos porque nosso coração estaria queimando de amor por Ele. Nós não ficaríamos entediados tentando preencher uma hora orando ambiguamente por necessidades de todo o mundo; Cristo seria o objeto de nossas orações, e nosso tempo de oração seria precioso. Nós gastaríamos horas atrás de portas fechadas, expressando a transbordante admiração e o doce amor que flui de nosso coração por Ele. Ler Sua Palavra jamais seria um fardo; nós não precisaríamos de fórmulas de como terminar a Bíblia em um ano.
Sabemos o que é buscá-Lo apenas porque somos gratos por Ele nos amar tão completamente?
Se nós amássemos a Jesus apaixonadamente, seríamos magneticamente atraídos a Sua Palavra a fim de aprender mais sobre Ele. E nós não nos atolaríamos com genealogias intermináveis e especulações sobre o fim dos tempos. Nós quereríamos somente conhecê-Lo melhor, ver mais de Sua beleza e glória para que pudéssemos nos tornar mais parecidos com Ele. Pense sobre isto: nós sabemos o que é semelhante a estar em Sua doce presença e não pedir nada? Buscá-Lo apenas porque somos gratos por Ele nos amar tão completamente? Nós temos nos tornado egoístas e egocêntricos em nossas orações: “Dá-nos, encontra-nos, ajuda-nos, abençoa-nos, usa-nos, protege-nos”. Tudo isso pode ser bíblico, mas o foco permanece em nós. Nós vamos até Sua Palavra buscando respostas para os nossos problemas, buscando orientação e conforto, e isso também é correto e recomendável. Mas onde está a alma motivada pelo amor de quem busca as Escrituras diligentemente, de quem quer apenas descobrir mais e mais sobre seu amado Senhor?
O Homem fiel do salmo 1 se torna o Homem desamparado do salmo 22, para que o homem corrompido do salmo 14 possa ser o homem perdoado do salmo 32.
No salmo 1, temos uma descrição de nosso bendito Senhor. Ele é o Homem fiel que sempre seguiu um curso reto, sem se desviar para a direita ou para a esquerda. Do lado negativo, Ele não andou, não se deteve, não se assentou no caminho dos pecadores. Do lado positivo, Ele se deleitou na lei do Senhor, na qual meditava dia e noite.
O Homem fiel do salmo 1 é desamparado no salmo 22, levando sobre Si o castigo que nós merecíamos. Ele foi desamparado para que nós fôssemos recebidos. Ele sofreu para que nós pudéssemos cantar. Ele foi ferido para que nós pudéssemos ser sarados. Ele entrou nas trevas para que nós pudéssemos viver em eterna luz.
O homem corrompido (Sl 14) que encontra o perdão se transforma no homem do salmo 32, que pode declarar do fundo do coração: “Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, cujo pecado é coberto” (v. 1).
Lembremos sempre do elevado custo de nossa redenção, e, como o salmista, exclamemos: “Bem-aventurados todos aqueles que Nele confiam” (Sl 2.12).
Estamos às vésperas de um novo ano. Podemos dizer, sem dúvida, que o Senhor nos trouxe até aqui: abençoou-nos, guardou-nos, corrigiu-nos, encorajou-nos, repreendeu-nos, alegrou-nos, sustentou-nos, capacitou-nos, renovou-nos, ensinou-nos, transformou-nos, amou-nos, disciplinou-nos, misericordiou-nos (como dizia certa irmã que conheci). Suas misericórdias se renovaram em cada uma das 365 últimas manhãs, permitindo-nos ter mais um ano.
Quer tenhamos andado no vale da sombra da morte, quer tenhamos desfrutado apenas de pastos verdejantes, o certo é que o Senhor não nos desamparou nem abandonou em nenhum momento. Ele é Emanuel, Deus conosco todo o tempo, mesmo quando está em silêncio, mesmo quando não O vemos, mesmo quando tudo indica que Ele nos deixou. Cada manhã é a garantia de que na próxima manhã Ele ainda estará conosco, com novas misericórdias.
Muitas pessoas supõem que tudo se fará novo (elas mesmas, o mundo, a sociedade) pelo simples fato de um novo ano se iniciar. Evidentemente, isso é uma tolice, uma expectativa que se frustrará logo no primeiro dia. Mas o início de um novo ano é um bom momento para considerarmos nossa caminhada passada com o Senhor, para renovarmos nossa entrega a Ele, para estabelecermos alvos na vida cristã. A leitura diária da Bíblia, por exemplo, é um desses louváveis compromissos a assumir com Deus, contando, sem dúvida, com Sua graça para cumpri-lo.
A equipe do Campos de Boaz decidiu partilhar com os leitores um pouco do que aprendeu com o Senhor nesse ano. Sem dúvida, foi um ano de experiências profundas, as quais não seria possível descrever aqui em sua totalidade. Decidimos, então, por apresentar um artigo Gotas de orvalho especial, mas escolhemos chamá-lo de Gotas de orvalho especiais, por conterem um pouco da história particular de cada um de nós com nosso amado Senhor.
Rafael Bernard
Seu Livro Antigo busca me dar esperança e refrigério:
Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?
(Mateus 6.26)
Não é necessário cedermos ao peso deste mundo, pois o Senhor pediu que nossa carga a colocássemos sobre Ele. E, seguindo a atenção requerida pelas palavras do Mestre, um poema-canção de Stenius Marcius encoraja e corrige, pois Sua graça nos basta:
Acordo
Me diga, andorinha, você que já voou o mundo inteiro
Se houve um momento só, por cima de um continente,
Por sobre qualquer cidade, em que te faltou o céu?
Será que o infinito espaço a teu redor é suficiente
Pra voares livre e viveres feliz?
Me diga, peixinho dourado, senhor do vasto oceano,
Que brinca nas correntezas, se esconde em velhos navios
Mergulha nas profundezas, sem nunca chegar ao fim:
Será que os sete mares que são teus têm bastante água
Pra nadares livre e viveres feliz?
Puxa uma cadeira, minh’alma, que eu quero te perguntar:
Por que me roubas a calma, me botas tristeza no olhar?
Vamos entrar num acordo, vida tranqüila viver:
Lembra daquilo que o Mestre falou:
“A Minha graça te basta!”
Portanto:
Porque todas estas coisas os gentios procuram. Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas; mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
(Mateus 6.32,33)
Jacilara Conceição
Minha gota é um hino/poema (citado abaixo) extraído de um livro em que ele foi mencionado, e fala de estágios de consagração da vida cristã.
Esse livro me trouxe muita luz com respeito ao que é ter uma vida conduzida pelo Espírito Santo, e o hino me impactou bastante, complementando a mensagem. Creio (mesmo em fraqueza e ainda não tendo alcançado esse nível) que, para termos uma vida cheio de Cristo e sermos conduzidos por Sua perfeita vontade, completando a carreira que nos foi proposta, precisamos nos dar completamente ao Senhor e vivermos na dependência Dele. Por isso, sugiro esse hino aos leitores do Campos de Boaz e oro para que não desviemos nossos olhos do Senhor, mas que busquemos conhecê-Lo mais e mais no próximo ano; que consagremos toda nossa vida ao Senhor, todos os dias de 2017. Assim, certamente, teremos um novo ano pleno e feliz na presença Daquele em quem há plenitude de alegria e delícias perpetuamente.
Grande abraço!
Ai! Que tempo vergonhoso, quando altivo resisti,
Ao meu Salvador bondoso, respondendo desdenhoso:
Quero o eu, não quero a Ti!
Mas o Seu amor vencia, quando sobre a Cruz o vi;
E Jesus por mim pedia, já meu coração dizia:
Quero o eu e quero a Ti!
Com ternura me amparava, graça e força recebi;
Mais e mais eu exultava, mais humilde segredava:
Menos do eu e mais de Ti!
Por seu grande amor vencido, tudo ao Senhor cedi;
Ao meu Salvador unido, este agora é meu pedido:
Não mais eu, só quero a Ti!
(Robert Hawkey Moreton)
Servant
Bem, a razão em especial da frase abaixo:
A consciência de nossos próprios males, falhas, incompreensões, escuridão e o nosso conhecimento parcial, deveria operar em nós uma opinião caridosa para com as pobres criaturas que, encontrando-se em erro, assim estão com os corações sinceros e retos, com postura semelhante aos que estão com a verdade.
(John Owen)
deve-se ao fato de Owen resumir, de modo tão claro, a extrema cegueira que se abatera sobre mim, quando fui legalista-fariseu. Todos estavam errados, menos eu, em termos de doutrina! Doutrina era (e é) importante para mim, mas ela não é um fim em si mesma, mas o meio pelo qual eu devo ter comunhão com o Senhor Deus. Eu percebi que, quanto mais legalista, mais vazio eu era. Quanto mais fariseu, mais “seco” por dentro eu me tornava. E menos apto a discernir o certo do errado! Sim! Por ser fariseu, eu imaginava que eu, não Deus, era o ponto focal da Verdade. Graças a Deus que Ele teve compaixão e misericórdia de mim.
O versículo bíblico seria Atos 20.24, por ser este versículo como o resumo ideal e perfeito de todo o ministério do Apóstolo para os Gentios. Resume de modo cabal o que deve ser o ministério de todo servo do Senhor:
Mas de nada faço questão, nem tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus.
Rogo humildemente suas orações, a fim de que eu glorifique a Cristo com meu viver. Isso é tudo o que importa, isso é tudo o que vale a pena.
Tathyane Faoth
Uma frase que me foi útil durante o ano:
Um casamento baseado em necessidades não dá testemunho da glória de Deus; focaliza-se em demandas pessoais que competem por supremacia.
(Dave Harvey).
Essa frase foi libertadora para mim porque me levou a perceber que buscar um casamento em que todas as necessidades fossem supridas não era o alvo de Deus para meu marido e para mim; mas que, ao contrário, nosso esperar em Deus, nossa fé, nosso exercício da misericórdia, nossa renúncia, nosso deixar sobre a cruz todo o nosso querer e confiar Nele e em Sua obra, isso, sim, traz a glória de Deus!
Maria de Luca
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações, para que também sejamos capazes de consolar os que passam por qualquer tribulação, por intermédio da consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.
(2Coríntios 1.3,4).
No meio de toda tribulação que passei esse ano, fui sempre lembrada que a Palavra de Deus é suficiente para alimentar a fé. Eu mesma precisei ser relembrada disso todos os dias, porque as muitas distrações, e as muitas dores, podem nos fazer esquecer das promessas de Deus. Em um momento especialmente difícil, repeti a estrofe de um hino de que gosto muito. Diz assim:
Se tribulado por provas
Meu coração desmaiar,
A minha fé esvair-se
E a esperança findar:
Que Tua fé me sustente
Com Teu divino poder,
E das riquezas na glória
Parte então eu vou ter.
Tens doce voz,
Ó Senhor da esperança
Meu coração se alegra em Ti.
As orações dos irmãos a nosso favor, as manifestações de carinho, as respostas às orações me relembravam do amor e do cuidado de Deus por nós. Fui lembrada das promessas de que, ainda que andemos pelo vale da sombra da morte, não precisamos temer mal algum, porque Ele está sempre conosco. Que o Senhor dirige nossa vida tão frágil e, apesar de tão indignos, Ele insiste em nos dar provas de Seu amor, ainda que a maior delas já tenha sido dada no Calvário.
Francisco Nunes
Esse foi um ano ímpar, sob vários aspectos. Ou, talvez, um ano absolutamente comum, como pode ser um ano para um pecador à espera da plena redenção. Nada há de novo debaixo do sol: por que me surpreendo, então?
Mas algo me surpreendeu, sim. Várias vezes, e cada vez eu era surpreendido como se fosse pela primeira vez. Expressei isso numa frase:
Que os filhos de Deus nunca deixem de se maravilhar com o fato de que um Deus perfeito atende a imperfeitas orações.
Quão consolador, quão encorajador, quão terno, quão indescritível, quão imerecido: Deus ouve nossas orações! Orações imperfeitas, orações titubeantes, orações medrosas, orações sem fé. Mas Deus as ouve. Não sabemos orar como convém, mas Deus nos ouve. Não perseveremos em oração como o Senhor disse ser nosso dever, mas Deus nos ouve.
Devemos orar, aprender a orar, continuar orando, insistir em orar, almejar ter uma vida de oração séria e profunda, mas nunca esquecendo: não é por nada disso que nossas orações são ouvidas. Elas são ouvidas simplesmente porque Deus é bom e as ouve.
Gotas de orvalho
A graça ilimitada de Cristo confronta nossas mais profundas necessidades. A presença prometida de Cristo confronta nossa triste e melancólica solidão. Jesus assim encheu de graça tão transbordante, com amor tão tenro, com simpatia tão requintada, com poder tão ilimitado, com recursos tão amplos, com uma natureza tão imutável, os quais permanecem diante de nós e dizem a cada coração cambaleante: “Não temas!”
(Octavius Winslow)
Cristo se manifesta especialmente em tempos de aflição, porque então a alma se une de modo mais íntimo a Ele pela fé. A alma, em tempos de prosperidade, dispersa seus afetos, folgando na criatura; mas há um poder unificador na aflição santa, pelo qual o crente (como na chuva uma galinha apanha material para seu ninho) reúne suas melhores afeições em seu Pai e seu Deus.
(Richard Sibbes)
Deus não olha para a oratória de suas orações, ou para quão elegante elas são; nem para a geometria delas, ou para quão longas elas são; nem para sua aritmética, ou para quantas elas são; nem para a lógica de suas orações, ou para quão metódicas elas são. Para a sinceridade delas: é para isso que Ele olha.
(Thomas Brooks)
Prazer em Deus é a saúde de sua alma. Essa é a chave da adoração aceitável. Deus não está satisfeito, nem nós somos renovados, por uma obediência repleta de tarefas, mas isenta de prazer.
(Richard Baxter)
Não há nada que nos faça amar tanto uma pessoa quanto orar por ela.
(Willian Law)
Eu orei pedindo fé, achando que ela me atingiria como um raio. Mas não recebi fé. Um dia eu li: “A fé é pelo ouvir, e o ouvir, pela Palavra de Deus” (Rm 10.17). Eu havia fechado a Bíblia e pedido fé. Agora, estou estudando minha Bíblia, e minha fé está crescendo dia a dia.
(D. L. Moody)
Quanto mais maduro para a glória estiver um crente, à semelhança do milho maduro, tanto mais inclinará a cabeça para o chão. Quanto mais brilhante e clara for sua luz, tanto mais perceberá suas falhas e fraquezas, aninhadas em seu próprio coração. Quando ele, a princípio, converteu-se, diria que percebia bem pouco dessas falhas e fraquezas, em confronto com o que percebe agora. Quer alguém saber se está crescendo na graça? Verifique, em seu próprio interior, se sua humildade está aumentando.
(J. C. Ryle)
Hino a ser cantado no início de um novo ano… e a cada dia!
I Surrender All
Letra de Judson W. Van de Venter (1855-1939), música de Winfield Scott Weeden (1847-1908). Inspirada em Lucas 14.33.
Letra original
All to Jesus I surrender,
All to him I freely give;
I will ever love and trust him,
In his presence daily live.
Refrain
I surrender all,
I surrender all,
All to thee, my blessed Savior,
I surrender all.
All to Jesus I surrender,
Humbly at his feet I bow,
Worldly pleasures all forsaken,
Take me, Jesus, take me now.
All to Jesus I surrender;
Make me, Savior, wholly thine;
Let me feel the Holy Spirit,
Truly know that thou art mine.
All to Jesus I surrender,
Lord, I give myself to thee,
Fill me with thy love and power,
Let thy blessing fall on me.
All to Jesus I surrender;
Now I feel the sacred flame.
Oh, the joy of full salvation!
Glory, glory, to his name!
Tradução
Tudo a Jesus eu rendo,
Tudo a Ele livremente dou.
Eu irei amá-Lo e confiar nele,
Em Sua presença diariamente viver.
Coro
Eu rendo tudo,
Eu rendo tudo,
Tudo a Ti, meu bendito Salvador,
Eu rendo tudo.
Tudo a Jesus eu rendo,
Humildemente, a Teus pés, eu me curvo.
Prazeres mundanos, todos renunciados.
Toma-me, Jesus, toma-me agora.
Tudo a Jesus eu rendo,
Faz-me, Salvador, totalmente Teu.
Deixa-me sentir o Espírito Santo
Realmente saber que Tu és meu.
Tudo a Jesus eu rendo,
Senhor, eu me dou a Ti.
Enche-me com Teu amor e poder,
Deixa Tua bênção vir sobre mim.
Tudo a Jesus eu rendo,
Agora eu sinto a chama sagrada.
Oh, a alegria da plena salvação!
Glória, glória, a Seu nome!
Tudo, ó Cristo, a Ti entrego,
tudo, sim, por Ti darei.
Resoluto, mas submisso,
sempre sempre seguirei.
Coro
Tudo entregarei, tudo entregarei;
Sim, por Ti, Jesus bendito, tudo entregarei.
Tudo, ó Cristo, a Ti entrego,
corpo e alma eis aqui.
Este mundo mau renego,
ó Jesus, me aceita a mim!
Tudo, ó Cristo, a Ti entrego,
quero ser somente Teu.
Tão submisso à Tua vontade,
como os anjos lá no céu.
Tudo, ó Cristo, a Ti entrego.
Oh! Eu sinto Teu amor
transformar a minha vida
e meu coração, Senhor.
Tudo, ó Cristo, a Ti entrego –
oh, que gozo, meu Senhor!
Paz perfeita, paz completa,
glória, glória ao Salvador!
História
Judson W. Van DeVenter foi criado em um lar cristão. Aos 17 anos, creu no Senhor Jesus. Na universidade, graduou-se em arte e trabalhou como professor e administrador de arte do ensino médio. Viajou muito, visitando várias galerias de arte em toda a Europa.
Van DeVenter também estudou e ensinou música. Ele dominava 13 instrumentos diferentes, cantava e compunha. Ele estava muito envolvido no ministério de música da igreja metodista episcopal de que participava. Então, ficou dividido entre a carreira docente bem-sucedida e seu desejo de fazer parte de uma equipe evangelística. Essa luta interior durou quase cinco anos.
Em 1896, Van DeVenter estava conduzindo a música de um evento da igreja. Foi durante essas reuniões que ele finalmente rendeu seus desejos completamente a Deus: ele tomou a decisão de se tornar evangelista de tempo integral. Ele mesmo narra:
A canção foi escrita enquanto eu estava conduzindo uma reunião em East Palestine, Ohio (EUA), na casa de George Sebring (notável evangelista, fundador da Conferência Bíblica Campmeeting Sebring, em Sebring, Ohio, e mais tarde desenvolvedor da cidade de Sebring, Florida). Por algum tempo, eu tinha lutado entre desenvolver meus talentos no campo da arte e ir para o trabalho evangelístico em tempo integral. Por fim, a hora crucial de minha vida veio, e eu entreguei tudo. Um novo dia se iniciou em minha vida. Eu me tornei evangelista e descobri, no fundo de minha alma, um talento até então desconhecido para mim. Deus havia escondido uma canção em meu coração e, tocando um doce acorde, Ele me fez cantar.
Ao se submeter completamente à vontade de seu Senhor, uma canção nasceu em seu coração.
Winfield Scott Weeden publicou vários livros de música religiosa, mas esta canção parece ter sido sua favorita: o título dela está gravado em sua lápide.
Pomba Minha, que andas pelas fendas das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-Me a tua face, faze-Me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce e a tua face, graciosa.
Como muitas vezes achamos difícil colocar-nos na presença do Senhor!
Evitamos a solidão, e, até quando nos desprendemos fisicamente de coisas exteriores, nossos pensamentos ainda continuam a devanear nelas. Muitos de nós podem gostar de trabalhar entre outras pessoas, mas quantos podem aproximar-se de Deus no Santo dos Santos?
Entrar em Sua presença e ajoelhar-se diante Dele por uma hora exige toda a forca que possuímos. Temos de ser severos com nós mesmos para fazê-lo.
Contudo, todo aquele que serve ao Senhor conhece o precioso valor desses momentos, a doçura de acordar à meia-noite e passar uma hora com Ele ou acordar cedo de manhã e levantar-se para passar uma hora em oração.
Deixe-me ser bem franco com você: você não pode servir a Deus à distância. Apenas aprendendo a aproximar-se Dele é que você pode saber o que é realmente servi-Lo.
Um novo ano é sempre um bom momento para (re)começarmos a leitura da Bíblia. Sei dos imensos desafios que a vida moderna nos impõe até mesmo (ou principalmente) com respeito a nossas disciplinas espirituais: comunhão com o Senhor, oração, leitura devocional e estudo das Escrituras, meditação, etc. Mas devemos insistir, pedindo a graça e o poder do Senhor. Não há outro meio de sermos cristãos maduros e bem firmados na verdade sem um contato constante, sério, profundo e intencional com o Livro Antigo.
Coletei na internet algumas sugestões de planos de leitura da Bíblia. Estão no arquivo zipado que você encontra aqui. Escolha o que for mais adequado a você e use-o com dedicação, diariamente.
Planos de leitura da Bíblia
O plano cronológico sugere a leitura dos livros da Bíblia, não na ordem em que se encontram, mas pela sequência dos fatos registrados.
O calendar_mccheyne apresenta o plano de leitura idealizado por Robert McCheyne, no qual há uma leitura individual e uma leitura em família. (É o que mais indico. Há alguns anos, desenvolvi uma Bíblia que traz essas leituras para cada dia do ano. Chama-se Bíblia Devocional Robert McCheyne. Você a encontra em boas livrarias.) E há um plano adaptado, que exclui uma das leituras.
Há um plano para ler a Bíblia toda em três meses e um para ler apenas o Novo Testamento, Salmos e Provérbios. Há planos para novos convertidos, para crianças, em que os livros são lidos de modo alternado ou misturados. Há um plano que considera os meses tendo 25 dias, para que haja tempo para meditação e para repôr alguma leitura.
Há dois planos em formato de planilha, que permitem acompanhar seu progresso (é preciso habilitar as macros).
Independente do método escolhido, o fundamental é o contato diário com a Palavra de Deus. Para isso, com certeza será preciso organizar a vida, estabelecer horários a fim de ser possível separar um tempo a cada dia para estar a sós com Deus e com Seu Livro.
Não há vida cristã sem a Palavra de Deus. Não há maturidade cristã sem contato constante e sério com a Sagrada Escritura. Não é possível conhecer de fato a Deus à parte da Santa Palavra. Não é possível conhecer a vontade de Deus sem buscá-la no Livro Antigo. Não é possível viver de modo agradável a Deus sem submeter-se ao Sagrado Livro. Não é possível ter uma fé robusta sem alimentá-la com o Santo Texto. Ninguém se volta para Deus sem voltar-se para Sua Palavra. Ninguém ama a Deus sem amar Seu Livro.
Leia a Bíblia na presença do Senhor, na dependência de Seu Espírito, sob a operação da cruz, com santo temor, com coração humilde, com santa expectativa, com alegria, com amor, com desejo de que Deus fale por meio dela. Já disse alguém: “Você quer ouvir Deus falar? Leia a Bíblia. Quer ouvir Deus falar com voz audível? Leia a Bíblia em voz alta!”
Desejo que o Senhor abençoe você a cada dia do novo ano por meio de Sua Palavra.
O versículo-chave de 2Timóteo 4 é este: “Sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério” (v. 5).
Tudo na vida deve ser considerado como uma oportunidade, quer para desenvolver as virtudes cristãs, quer para realizar a obra que Deus nos confiou. Negligenciar as oportunidades é um grande perigo, tanto na vida cristã como no serviço ao Senhor. Esse capítulo apresenta sete coisas que não devemos negligenciar.
1. O uso das oportunidades (vv. 1,2)
A realidade do juízo vindouro deve estar sempre diante de nós. Os vivos serão julgados na vinda do Senhor para estabelecer Seu reino, e os mortos, no término de Seu reino milenar – mas a única forma de alguém escapar da certeza do juízo é pela justificação que vem pela fé em Cristo. “Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto” (Ec 12.14).
Portanto, devemos estar sempre vigilantes a fim de aproveitar as oportunidades que possam surgir para pregar a Palavra. A palavra traduzida “pregues” (v. 2) traz a idéia de um servo do rei enviado para proclamar um decreto real. Isso enfatiza a dignidade de ser mensageiro do Senhor. As oportunidades não se limitam a certos dias ou horas; devemos sempre estar prontos para falar em nome do Senhor. As diferentes oportunidades exigem várias maneiras de agir – “redarguas, repreendas, exortes” –, mas sempre com paciência, e sempre com sã doutrina.
2. A vigilância contra a falsidade (vv. 3-5)
Também é muito perigoso negligenciar a vigilância contra a falsa doutrina. Paulo não se refere ao desejo de receber mais iluminação da Palavra de Deus, mas sim a pessoas que sempre querem ouvir qualquer novidade, contanto que não seja a sã doutrina, a qual “não suportarão”.
“Atendei ao que ides ouvir” (Mc 4.24) e “Vede […] como ouvis” (Lc 8.18) são palavras do Senhor Jesus que nos preparam para evitar a doutrina falsa. No versículo 5, Paulo dá a Timóteo quatro conselhos que o conservariam no caminho da verdade.
“Sê sóbrio em tudo”: a necessidade de ouvir e estudar a verdade com seriedade e perseverança.
“Sofre as aflições”: a necessidade de provar a verdade das promessas de Deus no meio das aflições.
“Faze a obra de um evangelista”: a necessidade de se envolver na obra de ganhar almas, mesmo não tendo dom especial para isso.
“Cumpre o teu ministério”: a necessidade de reconhecer e realizar o serviço que Deus lhe confiou, “como despenseiros dos mistérios de Deus” (1Co 4.1).
3. A importância de fidelidade (vv. 6-8)
Não podemos negligenciar a necessidade de fidelidade e consagração ao Senhor até o fim. É relativamente fácil ser fiel quando tudo vai bem, mas, quando surgem oposições ou sofrimentos, somos tentados a desistir. Paulo estava aguardando o cumprimento de seu serviço fiel, pronto para selar seu testemunho com o próprio sangue. Ele usa cinco figuras como ilustrações disso.
A libação, uma oferta de vinho que era derramada sobre o sacrifício no altar. Paulo está dizendo com isso que queria derramar todo o conteúdo de sua vida sobre o sacrifício de Cristo, sem reservar nada para si.
O viajante – “o tempo da minha partida”. Ele considerava a morte como o início de mais uma viagem, para estar ausente do corpo e presente com o Senhor.
O guerreiro. Paulo era como Eleazar, filho de Dodó, um dos valentes de Davi, que não largou mão da espada até que o Senhor tivesse efetuado um grande livramento (2Sm 23.10).
O atleta – “acabei a carreira”. Alguns começam a corrida da vida cristã em alta velocidade, mas desistem antes do final. Paulo perseverou até o fim.
A sentinela. Sempre vigilante para repelir qualquer ataque do inimigo contra a verdade.
Assim, aquele que sofreu tanto dos injustos juízes humanos tinha certeza de receber um galardão da mão do justo Juiz. Mas ele não será o único a receber; o galardão é para “todos os que amarem a Sua vinda”. A vinda do Senhor é algo que o crente fiel ama, antecipando o sorriso e a recompensa de seu Senhor; mas, para outros, ela será motivo de vergonha (1Jo 2.28).
4. As necessidades dos companheiros (vv. 9-12)
Paulo sempre apreciou seus companheiros. Agora na prisão, esperando ser morto em breve, ele ainda pensava em seus colaboradores, seguindo os movimentos deles e orando pela bênção de Deus sobre seu serviço. Lucas ficou com ele, e Paulo queria que Timóteo voltasse também, a fim de o confortar por causa do abandono de Demas, que amou “o presente século”.
Parece que Paulo, na prisão, dependia muito de Demas, e sentiu muito quando este o “desamparou”. No original, Paulo usa a mesma palavra que o Senhor usou na cruz, quando disse: “Por que me desamparaste?”. Não é sempre fácil ajudar um prisioneiro, e Demas acabou amando mais o mundo do que o aflito apóstolo, e o abandonou. Ele foi para Tessalônica; não sabemos por que, mas certamente não foi para visitar a igreja. Não devemos negligenciar o dever de assistir fielmente irmãos aflitos em suas necessidades.
5. As próprias necessidades (v. 13)
O inverno estava chegando, e Paulo já sentia a falta da capa que deixara em Trôade. É lícito e importante cuidar do corpo e da saúde. Mas Paulo sentiu uma necessidade ainda mais urgente: “os livros, principalmente os pergaminhos”. Talvez os “livros” fossem suas epístolas ou outro escrito que formaria parte do Novo Testamento. Mas, com certeza, os “pergaminhos” eram as Sagradas Escrituras do Antigo Testamento.
Maltratado pelos romanos e desamparado por seus amigos, Paulo queria “a paciência e consolação das Escrituras” (Rm 15.4). Ele não ia escrever mais cartas nem pregar mais sermões. Em poucos dias seria martirizado. Mas nos seus últimos dias ele ainda desejava afetuosamente, como menino novamente nascido (1Pe 2.2), o leite racional da Palavra de Deus. A Bíblia vem ao encontro de nossa necessidade, tanto na meninice como na juventude, tanto na meia idade como na velhice, tanto na vida de trabalho como na hora da morte.
6. Atitude em face da oposição (vv. 14-18)
Nesses versículos vamos observar a atitude do apóstolo diante dos que se opunham a ele. Alexandre, o latoeiro, causou-lhe muitos males. Sem dúvida, Paulo já o perdoara muitas vezes, mas seu último recurso é orar e entregá-lo ao Senhor (v. 14). Além disso, o apóstolo não deixou de aconselhar os outros acerca daquele homem (v. 15). Quanto aos que o abandonaram, sua atitude foi perdoar: “Que isto lhes não seja imputado” (v. 16). Quanto à obra, seu único motivo foi perseverar até cumprir totalmente a comissão que recebera (v. 17). E quanto ao futuro, ia apenas confiar no livramento do Senhor e sempre adorá-Lo. “A quem seja glória para todo o sempre. Amém” (v. 18).
7. A apreciação de amizades (vv. 19-22)
O nome de seus amigos e colaboradores era precioso a Paulo. Ele sempre fazia menção deles perante o trono da graça, e nunca esquecia de lhes mandar saudações em suas epístolas. Mas em tudo isso o apóstolo não queria negligenciar a coisa mais importante, desejando-lhes a bênção da presença e da amizade do Senhor: “O Senhor Jesus Cristo seja com o teu espírito”. Assim, as últimas palavras da última epístola que Paulo escreveu, logo antes de morrer, são uma oração desejando que seus leitores desfrutem a realidade da sã doutrina que ele tinha ensinado: “A graça seja convosco. Amém.” Desse modo seriam guardados dos muitos perigos que cercam o povo de Deus.
Todos são diferentes; e todos sabemos disso! Um sinal de amadurecimento é a habilidade de aceitar os outros, e não pensar que todo mundo precisa agir e pensar como você.
Uma ilustração muito clara dessas diferenças é vista nos homens que foram instrumentos no retorno da Babilônia e na edificação de Jerusalém: Esdras e Neemias, Ageu e Zacarias.
Quando Esdras ouviu do fracasso do povo em manter-se separado, ele arrancou os próprios cabelos, rasgou as vestes e se assentou atônito e em arrependimento perante Deus (Ed 9.3). E o que fez Neemias? Quando ouviu do casamento de israelitas com os gentios, ele arrancou os cabelos dos culpados, e não os dele (Ne 13.25; provavelmente admiramos mais essa reação!).
Esses atos tão diferentes refletem duas personalidades totalmente diferentes – no entanto, Deus usou o homem certo no momento certo. Mais importante ainda: eles trabalharam juntos para a bênção da nação.
Quando viajou para Jerusalém, Neemias foi acompanhado dos soldados do rei. A consciência de Esdras, no entanto, depois dele testificar sobre o cuidado soberano de Deus, não lhe permitiu pedir soldados para protegê-lo (Ed 8.21-23). Será que um estava certo e o outro, errado? O que temos aqui não é uma ética que se adapta às circunstâncias, mas sim consciências sensíveis e personalidades diferentes.
Ageu e Zacarias também foram, em muitos aspectos, diferentes. Ageu era o pregador prático, sem restrições, direto, tocando na consciência, despertando o povo de sua letargia. Ele via o presente e seus efeitos futuros. Zacarias era o visionário, o homem que via o futuro e seu impacto no presente. A pregação de Ageu é relativamente fácil de entender, mesmo que seja difícil de aceitar e executar. Zacarias é difícil de entender, mas emociona o coração. Cada um desses homens influenciou o povo de Deus e fez com que os judeus se levantassem e edificassem (Ed 5.1,2). Lemos que eles prosperaram graças ao profetizar de ambos homens (6.14).
O Senhor Jesus tomou um grupo de homens de diversos ambientes e profissões, e os transformou num grupo que “alvoroçou o mundo” (At 17.6). Nenhum especialista em recursos humanos ou recrutador de executivos teria escolhido qualquer um deles para um cargo de liderança. No entanto, o Senhor trabalhou pacientemente com eles e cumpriu Sua promessa: “Vinde após Mim e Eu vos farei […]” (Mt 4.19).
Até mesmo um olhar rápido na sua igreja local revelará muitas personalidades diferentes. Uma aceitação dos outros, uma visão que enxerga, não os problemas, mas o potencial de cada um, e uma disposição para trabalhar em equipe são importantes para o crescimento e prosperidade da igreja local.
Você pode preferir, como a maioria de nós, ter um Esdras, que arrancou o próprio cabelo, a um Neemias, que pode arrancar o seu cabelo. Você pode preferir o tom meigo e emocionante de Zacarias às palavras profundas e diretas de Ageu. Mas lembre-se: Deus é quem deu ambos, e “assim formou o corpo” (1Co 12.24) de acordo com Sua sabedoria.