É natural seguir a multidão e ir com a correnteza; é espiritual seguir a verdade e conter a correnteza. É natural ferir sua consciência e seguir a moda por ganho ou prazer; é espiritual sacrificar tudo no altar da verdade e do compromisso com Deus.
O velho e cansado apóstolo escreveu: “Ninguém me assistiu […] todos me desampararam” (2Tm 4.16). Ele compareceu sozinho diante de Nero, defendendo a verdade do Evangelho.
Noé construiu a arca e foi salvo só com sua família; seus vizinhos riram de sua “esquisitice” e morreram sem crer.
Abraão peregrinou e adorou sozinho. Seus vizinhos em Sodoma desprezaram o simples pastor, seguiram a própria carne e pereceram no fogo e enxofre.
Daniel comia e orava sozinho.
Elias sacrificou e testemunhou sozinho.
Jeremias profetizou e chorou sozinho.
O Senhor Jesus Cristo amou e morreu sozinho!
No deserto, Israel louvou Abraão e perseguiu Moisés. Nos dias dos reis, louvou Moisés e perseguiu os profetas. Nos dias de Caifás, louvou os profetas e perseguiu o Senhor Jesus. E multidões hoje, dentro e fora do cristianismo, aplaudem a coragem e o compromisso de patriarcas, profetas, apóstolos e mártires, mas chamam de teimosia ou exagero qualquer manifestação semelhante de fé.
Procuram-se homens e mulheres, jovens e velhos, que estejam dispostos a sacrificar fortuna, amizades, e a própria vida, por amor da verdade e do Deus da verdade.
A auto-comiseração é certamente pecado, mas como podemos levar a Deus o que nosso coração ainda não está convencido de ser pecado? Deus nos mostra por intermédio do profeta Jonas.
Há uma jovem aqui nesse café fazendo o que não tenho me permitido fazer há muito tempo. Ela está chorando, e, pela primeira vez, estou com inveja das lágrimas de alguém.
Muitos dias se passaram desde que, pela primeira vez, me encontrei sem inspiração pela vida. Vida! A completa existência vindo da inexistência. 1 de 0. Algo do nada. Como eu poderia estar tão sem inspiração? Descobri que isso não é tão difícil assim quando, no interior, há uma insatisfação com o próprio Criador da vida. É essa insatisfação que tem privado meu coração do louvor e do arrependimento, endurecendo-o pela auto-comiseração.
Deficiência e aflição
O termo “insatisfação” é mais freqüentemente um identificador do que um descritor; geralmente estamos insatisfeitos com algo do que estamos simplesmente insatisfeitos. Nosso desprazer funciona como um cartaz, apontando-nos para deficiência de seu objeto; usualmente nossa insatisfação fala sobre seu sujeito. Na auto-piedade, nossa insatisfação revela muito sobre a deficiência dentro de nós mesmos.
Passei a primeira metade de 2016, na véspera desse entendimento, murmurando pela suposição de que o problema reside em minhas circunstâncias, e não dentro de mim. Eu era a vítima. Fui eu a privada de alegria. Eu era como Habacuque com os frutos da figueira sem florescer, vinhas e campos infrutíferos e estéreis, currais de rebanhos vazios (Hc 3.17) – estava arruinada. Mas, diferente de Habacuque (vv. 18,19), minha canção acabava ali; e, onde a canção acabou, a insatisfação cresceu. Tornou-se amargura, e abundou.
Essa amargura emergiu mais duramente em uma noite de verão; eu estava num pequeno grupo quando, para finalizar um sermão sobre a nova série sobre Salmos de nossa igreja, um irmão conduziu-nos em louvor com esta canção:
Que o fraco diga: “Sou forte!” Que o pobre diga: “Sou rico!” Por causa do que o Senhor fez por nós! Dai graças com um coração grato, Dai graças Àquele que é santo, Dai graças porque Ele deu Seu Filho, Jesus Cristo.
Mas eu não conseguia. Quem poderia dar aquilo que não tinha? Da boca dos gratos, louvores fluíam linda e suavemente a meu redor; mas eu continuava como estava: calada e intocada por causa da frieza embutida bem no fundo de mim. Eu não podia agradecer, não!, muito menos entoar sem sinceridade uma melodia sobre o que o Senhor tinha feito, porque eu não conseguia ver o que em Cristo Ele fizera por mim. E não estava disposta a admitir que não conseguia. Estava mais envergonhada do que “derrotada”, estava sem gratidão pela cruz.
Não admira que, então, quando mais tarde busquei pelo salmo que mais mencionamos, deparei-me imediatamente com o salmo 40.17a: “Eu, na verdade, sou pobre e necessitado, mas o Senhor cuida de mim” – palavras que eram outrora um hino, mas que agora estavam entalhadas contra meu coração. Em meu triste descontentamento, na fria, rígida e oca depressão, me perguntei: “Senhor, Tu realmente cuidas de mim? Tu realmente me amas?”
Uma história como a nossa
No centro da história de Jonas existe esta questão: “Deus, Tu realmente me amas?” Porque, se Deus de fato amasse a Jonas, Ele o enviaria para Nínive, a cidade assíria?
Para seu desprazer, Jonas é de fato comissionado a ir a Nínive para pregar a mensagem do arrependimento a fim de que Deus mostrasse Sua misericórdia por um povo mau. Porém Jonas não obedece. Ele conhece muito bem a maldade dessa cidade. Ele também conhece a bondade de Deus. Jonas não quer ver o arrependimento dessa cidade. Ele não quer ter parte na restauração daquelas pessoas. Então, ele foge, embarcando num navio que vai para Társis, cidade oposta a Nínive.
Pelo fôlego de Deus, uma tempestade começa a se formar e as águas se enfurecem por conta da desobediência de Jonas. Ele é, então, jogado pelos marinheiros nas agitadas águas onde um grande peixe o engole inteiro. Por três dias e três noites, ali nas trevas do interior do peixe, Jonas é levado a aquietar-se e contemplar. Como tudo aquilo que antes era bom podia agora mover-se em declive para esse momento trevoso e solitário? Ali, no ventre do peixe, Jonas é trazido ao arrependimento e ao louvor, e, imediatamente após isso, é vomitado em terra firme.
Jonas ruma a Nínive para obedecer à comissão inicialmente designada a ele, e, como esperado, Nínive se quebranta em arrependimento. Mas Jonas está desagradado. “Eu Te falei que Tu eras gracioso e misericordioso, Deus. Eu Te falei. Eu sabia que Tu os perdoarias. Agora, permita-me morrer”. O Senhor responde desta forma: “É razoável essa tua ira?” (Jn 4.4). E, com isso, Jonas parte.
Sentado fora dos limites da cidade, Jonas olha para a distante Nínive no forte calor, quando, de repente, uma aboboreira brota e o livra do sol escaldante. Porém, rapidamente cai a noite. Novamente, Jonas está insatisfeito, e acha de novo melhor morrer do que viver.
Uma coisa. O Senhor responde mais uma vez ao exagerado apelo de Jonas com uma coisa: “É razoável essa tua ira por causa da aboboreira?” Jonas responde: “É justo que eu me enfade a ponto de desejar a morte” (v. 9). Sua amargura permanece a mesma, e também seu coração, imutável.
O pecado da auto-piedade
A auto-piedade é facilmente descoberta como um pecado; não obstante obrigue a uma suave canção, de todas as formas, é um pecado. Mas há mais dela do que um rápido e às vezes rejeitado chamado ao arrependimento revela, e a resposta de Deus à ira de Jonas demonstra exatamente isso. A auto-piedade tem várias faces: ira, tristeza, amargura (ou seja, ira não-tratada), desapontamento e dúvida, citando poucas delas – e todas elas apontam para alguma verdade de Deus e do mundo.
A auto-piedade é, essencialmente, idolatria
A auto-piedade corretamente revela que as coisas de modo geral não são do jeito que deveriam ser – que Jesus, também, lastimou por Seu amado amigo, chorando ao ver o corpo de Lázaro em repouso, e que nosso trabalho exaustivo também é parte da maldição de Adão ter de trabalhar pelo pão. A ira de Jonas corretamente reconhece que a fraqueza em qualquer de suas formas não é merecedora da graça de Deus. Não estamos errados em reclamar das injustiças da vida dentre de limites apropriados. Porém, tomando emprestadas as palavras de Ed Welch, “desejos não-atendidos se tornam desejos egoístas que se tornam necessidades”. A ira de Jonas – e a nossa também – que permanece sem ser atendida por Deus se torna ira egoísta e baseada em justiça própria. Ela se torna ira à qual se tem direito. E se torna idolatria.
É isso que a auto-piedade essencialmente é. É idolatria, porque a pergunta inicial: “Deus, Tu realmente me amas?”, é, na verdade, a declaração em nova forma: ”Deus, Tu não me amas; portanto, preciso me virar por mim mesmo”. Temos pena de nós mesmos porque cremos que não há ninguém mais que se compadeça de nós. Nosso próprio Deus nos traiu. Então, desejamos ser aprovados por qualquer ídolo. Desejamos ser justificados, porque, em nossa injustiça, nos sentimos esquecidos, abandonados, negligenciados, ignorados. Nós, como Jonas, temos pena de nós mesmos a fim de nos assegurarmos de que nossas lutas são de fato conhecidas.
Um novo fim
Em meio à irada miséria de Jonas, a palavra final do Senhor é esta:
“Tens compaixão da aboboreira, na qual não trabalhaste, nem a fizeste crescer; que numa noite nasceu, e numa noite pereceu. E não hei Eu de ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que há mais de cento e vinte mil pessoas que não sabem discernir entra a sua mão direita e a esquerda, e também muito gado?” (vv. 10-11).
Ao traduzirmos Jonas no curso de hebraico, meu professor Mike Kelly comentou: ”Por que ficar chateado? É algo passageiro. A aboboreira estava ali com um propósito; serviu a esse propósito e, então, morreu. Não se entristeça com isso”. Os antigos, ao lerem esse livro, talvez pensassem: “Onde está o Rei prometido? Quem são esses estrangeiros?” Eles talvez duvidassem de que Deus havia falado pelos profetas. Mas Deus nos confirma algo maior: Sua aliança. “Esses ninivitas estão servindo a Meu propósito. Eu estou no controle. Eles são parte de Meu plano. Porém, no grande esquema das coisas, são como essa aboboreira que cresceu sob a lua e pereceu na noite. Eles são temporários, e não irão frustrar Meu plano para Israel.”
Ao encararmos nossas lutas, podemos ser amargos como Jonas, mas, no final, essas coisas, todas essas coisas que surgem inesperadamente, que acabam inesperadamente, o nascer e o morrer das grandes coisas, das coisas terríveis – todas elas são coisas temporárias. Todas elas são transitórias e nenhuma delas, nem umazinha sequer, irá frustrar as promessas de Deus para nós, porque de fato até mesmo o mal mais vil não pode frustrar o plano de Deus para a salvação. Toda maldade tornou-se nada quando Cristo mergulhou nas profundezas de um grande peixe e levou tudo aquilo à cruz. Pela grande injustiça que Ele sofreu, somos redimidos.
E as frustrações? E as oportunidades perdidas? E os desapontamentos e arrependimentos? Ou talvez as profundas dores e sofrimentos? Anime-se, pois eles, também, não fazem oposição às promessas de Deus para nós – Suas promessas de nos perdoar e salvar; curar e limpar; justificar, adotar e santificar; guiar e proteger; ser para nós nossa paz e alegria; e nos levar um dia em glória para nosso verdadeiro lar. Pois todas as Suas promessas são sim e amém em Cristo – Naquele que sangrou, morreu e ressuscitou para nós, cuja pergunta: “Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonaste?” era, na verdade, a declaração: “Eu serei abandonado por Meu próprio Pai para que vós sejais bem-vindos”.
Não, não há porque termos pena de nós, pois somos amados.
1. O que será quando toda labuta da vida tiver terminado,
E nós tivermos entrado em nosso eterno descanso;
Quando a noite de choro tiver passado para sempre,
E contigo, Senhor, nós formos para sempre abençoados!
2. O que será quando todas as contendas terminarem
E todos os Teus santos, agora por toda parte espalhados,
Serão, sem qualquer sombra de variação,
Todos como Tu, Senhor, unidos a Teu lado!
3. O que será quando o dia da tristeza tiver findado,
E dor e aflição para sempre tiverem passado;
Quando contigo, Senhor, nós compartilharmos o resplendor eternamente
Em perfeita paz durante todo o dia perfeito!
4. O que será? Em bendita antecipação
Mesmo agora nosso coração se derrama em louvor a Ti;
Mas, quando nós Te virmos, face a face, em glória,
Então, mais puros e mais doces nossos louvores serão.
A linha dos fatos consumados. São os fatos que Deus já cumpriu. Por meio da cruz de Cristo, Deus considera algumas coisas como fatos consumados, ou seja, terminados, concluídos.
A linha da experiência. Cada cristão tem experiências boas, más ou neutras. Freqüentemente, são coisas que os demais irmãos na fé não podem ver, mas são muito reais para aqueles que as provou.
A linha do comportamento. Essa tem um caráter mais ou menos público, pois é visível para todos.
O ideal na vida cristã é que essas três linhas sejam paralelas. Em cada um de nós, a terceira linha é, em maior ou menor grau, paralela à segunda, ou seja, na maioria das vezes nosso comportamento está condicionado por nossas experiências. Na vida pública, manifestamos as histórias escondidas de nossas experiências interiores, pessoais.
Você, leitor, talvez reconheça que sua vida e seu testemunho para Cristo não são o que deveriam ser. Você gostaria que eles correspondessem mais aos atos consumados de Deus (a cruz e seus resultados); desejaria ser mais guiado pelo Espírito Santo, assemelhar-se mais a Cristo. Como mudar isso?
Ponha os olhos na primeira linha
Você nunca alcançará isso que deseja ocupando-se de si mesmo, apesar de muitos cristãos pensarem assim e se esforçarem durante meses e anos tentando alcançar um estado [espiritual] satisfatório. Se alguém se concentra totalmente na linha que quer traçar, a do comportamento, nunca conseguirá que ela se alinhe à primeira, a linha dos feitos de Deus. Fixe seus olhos na primeira linha, pela qual deve andar, e coloque a segunda linha paralela àquela; assim você terá o que deseja: [a terceira linha]. Para progredir, devemos ajustar-nos à ordem de Deus: nosso comportamento se rege por nossas experiências, e nossas experiências deveriam se caracterizar pelo conhecimento que temos dos fatos consumados de Deus.
Pôr os olhos na linha de Deus significa ser libertado do poder do pecado
Os capítulos 6 a 8 de Romanos falam especialmente da experiência e do comportamento, mas a linha dos fatos consumados de Deus aparece como o fio condutor dos três capítulos.
Permita-me perguntar-lhe acerca de seu estado espiritual. Como você avança? Na vida cristã, você continua tendo a alegria que tinha quando se converteu? Talvez aconteça com você o que acontece com muitos cristãos: experimentam fracasso em lugar de vitória, tristeza em vez de alegria. Talvez o testemunho do capítulo 7 pode lhe servir de consolo, pois praticamente não se pode cair mais baixo. O que a pessoa ali mencionada experimentou era apenas miséria, e se resume assim: “Eu sou carnal, vendido sob o pecado” (v. 14). E, como era de esperar, seu comportamento não era melhor: “Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço” (v. 19).
Então, o que ajudou essa pessoa em sua miséria? Precisamente o mesmo que vai ajudar você: o conhecimento dos fatos consumados de Deus. Eles aparecem em cada um desses capítulos, e você notará que eles não dependem de nós. Independentemente de quais sejam nossas experiências, a realidade desses fatos se mantém imutável. São eles:
“Nosso homem velho foi com ele [Cristo] crucificado” (6.6).
“Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo” (7.4).
“Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne” (8.3).
Esses versículos se referem a algo que Deus realizou para Si mesmo na cruz de Cristo, pois ali nosso velho homem foi crucificado, morremos para o pecado e o pecado foi julgado na carne.
Pare de olhar para si mesmo e olhe para o Senhor
Aproprie-se dessa nova realidade. Se nosso velho homem (tudo o que éramos como filhos de Adão) foi crucificado com Cristo, isso significa que Deus já acabou com ele, o velho homem, e não há razão para você continuar se queixando de seu estado depravado. Se estamos mortos para a lei, então, cada vez que você fracassa, não deve castigar-se com a dureza da lei; é melhor que se julgue à luz da graça de Deus. Se o pecado foi julgado na carne, então, é claro que na cruz Deus confrontou a raiz do problema e julgou o pecado, que é a origem do mal. Por que você não emprega melhor seu tempo meditando no grande amor de Cristo, o qual expressou-se em Sua morte, em vez de estar pensando no pecado, que foi a origem da morte do Senhor?
Jamais creia que o simples conhecimento dos três fatos mencionados acima, por mais valiosos que seja, produzirá algo por si mesmo. Esse conhecimento não lhe servirá de nada se não leva você a abandonar qualquer esperança de ter experiências satisfatórias ou um comportamento melhor mediante seu próprio esforço, se não move você, por meio do poder do Espírito Santo, a fixar os olhos no Senhor Jesus. Somente quando você permitir ao Espírito Santo encher seu coração da perfeição e da glória de Cristo, sua situação mudará e suas experiências e seu comportamento adquirirão outra dimensão.
Mantenha contato com o que é celestial
Um trem elétrico pode ilustrar isso muito bem, pois anda com a ajuda dos cabos conectados à corrente elétrica. Todo o funcionamento depende de seu contato permanente com o grande pantógrafo que está sobre a locomotiva. Se observar um trem à noite, você verá quão rápido ele vai e quantas luzes tem! Mas, de repente, não avança mais. O que aconteceu? O contato foi interrompido, e o motor ficou sem energia. Somente quando o Espírito Santo nos mantém em contato com a linha dos atos consumados de Deus seremos capazes de correr nossa carreira cristã e brilhar para Cristo.
Para concluir, observemos que em Romanos 6–8 cada uma dessas linhas pode ser vista. Se, por meio da graça de Deus, permanecemos conectados com Seus atos consumados, teremos uma experiência muito boa, que pode ser descrita assim: “Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte” (8.2).
Teremos a liberdade de viver com Cristo, Nele em quem nos alegramos, e, com respeito a nosso comportamento, seguiremos a exortação: “Apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça” (6.13).
Confiar em Deus nos momentos de adversidade é claramente algo difícil de fazer; não é como decidir ir ou não ao supermercado ou até mesmo realizar ou não um ato sacrificial.
A confiança em Deus é uma questão de fé, e a fé é um fruto do Espírito. Somente o Espírito Santo é capaz de tornar Sua Palavra viva em nosso coração e gerar a fé. Entretanto, somos nós que escolhemos pedir que Ele o faça; ou podemos escolher ser governados por nossos sentimentos de ansiedade, de ressentimento ou de pesar.
John Newton, autor do hino “Graça sublime” (Amazing Grace), viu o câncer consumir sua esposa lenta e dolorosamente no período de alguns meses. Caminhava de um lado para o outro no quarto, fazendo orações desconexas, fruto de um coração despedaçado pela dor.
Repentinamente, foi atingido por um pensamento com uma força incomum, que lhe comunicou o seguinte: “As promessas de Deus só podem ser verdadeiras; certamente o Senhor me ajudará, se eu tão-somente tiver a disposição de ser ajudado.”
Na mesma hora, ele disse em voz alta: “Senhor, eu certamente nada posso fazer sozinho, mas estou disposto, sem qualquer reserva, a ser ajudado por Ti.”
Durante toda aquela dolorosa provação, John Newton cumpriu, como de costume, com todos os seus deveres normais e ocasionais. Alguém que não o conhecesse, dificilmente seria capaz de dizer, por sua aparência, que estaria passando por momentos difíceis.
Como Newton foi ajudado? Ele optou por ser ajudado. Percebeu que seu dever era resistir ao pesar e à distração. Percebeu que era pecado se afundar na auto-comiseração e, então, se voltou para o Senhor sem fazer uma única pergunta, senão apenas sinalizando sua disposição de ser ajudado.
Ele não foi ajudado por consolações da mente, oriundas de sentimentos, mas por ser capacitado a perceber algumas das grandes e principais verdades da Palavra de Deus. O Espírito de Deus o ajudou, fazendo com que algumas das verdades necessárias da Palavra de Deus se tornassem vivas para ele.
Ele escolheu confiar em Deus; voltou-se para Ele com uma atitude de dependência e foi capacitado a discernir algumas das grandes verdades das Escrituras.
A escolha pessoal, a prática da oração e a leitura da Palavra foram os elementos cruciais para que ele fosse ajudado a confiar em Deus.
Donizete, um amado irmão, é o marido de Maria de Luca, essa querida irmã que coopera com o Campos de Boaz como editora. Ela é que tem publicado os últimos Gotas de Orvalho. O Doni está há mais de um mês na UTI. Por causa de dores de cabeça, foi fazer uma tomografia, que revelou um tumor no cerebelo. Feita a cirurgia, teve meningite, trombose e outras complicações. Ele está bem, recuperando-se, mas ainda amarrado à cama, pois não deve se mover, com dificuldade para falar, cansado. Depois que tiver alta, terá um longo processo de recuperação pela frente.
Doni e Maria têm um lindo casal de filhos.
A situação não é apenas de expectativa e de sofrimento. Deus tem usado isso para operar algo novo, maravilhoso na família e em todos os que os conhecem (eu me incluo como um especial privilegiado pela amizade desse casal). Recentemente, Maria me enviou um texto pelo WhatsApp que, com a permissão dela, publico aqui.
Sei que o apoio e as orações dos irmãos é que estão nos sustentando. Eu estou aqui, esperando no Senhor. Sei que Ele é poderoso. A mim, cabe apenas me humilhar na presença Dele e clamar por Sua misericórdia e compaixão até que se compadeça de nós.
Eu tive uma conversa com as crianças essa semana. Eu lhes expliquei, usando o salmo 139, que todos os nossos dias foram escritos na presença de Deus. E que, se o Senhor não voltar antes, cada um de nós será chamado a Sua presença quando Ele determinar. E por isso nós poderíamos descansar. Porque o papai só pode morrer se for o momento em que o Senhor chamar. E, mesmo que alguém esteja com plena saúde, se Ele chamar, esse alguém morrerá.
Então, um dia depois, meu filho foi disputar um campeonato com a equipe da escola. Foram bem colocados e ganharam até medalha. No dia seguinte, o pai de um de seus colegas trabalhou o dia todo normalmente. À noite, ao chegar em casa, sentiu-se mal. Teve um ataque fulminante do coração e morreu. Meu filho me disse que se lembrou do que eu havia falado.
Olho para o Doni dormindo no hospital e penso em tantas coisas que o Senhor está me ensinando com tudo isso enquanto ele dorme. Ensinando a meus filhos e a toda nossa família. Vejo o quanto minha fé é vacilante e como gostamos de ter o controle sobre tudo o que nos acontece. Como somos relutantes em nos jogar nos braços do Pai e dizer-Lhe que faça Sua vontade! Como ainda tememos a morte! Como ainda nos falta a coragem e a bravura de irmãos do passado cuja única coisa que temiam era desagradar o Pai! Que o Senhor, em Sua misericórdia, me encontre vigilante.
Eu respondi a ela:
Maria, eu seria muito leviano se tentasse acrescentar qualquer coisa ao que você disse. Mesmo concordar com isso, eu sinto, é, de minha parte, superficial, pois só consigo imaginar o que seja esse tempo.
O pouco que conheço do Senhor me faz saber que Ele é sempre bondoso, mesmo quando nos conduz pelo vale da sombra da morte. Fugimos tanto dela, e ela é tão real, precisa e inevitável. E nossos filhos precisam saber disso, pois, em Adão, somos todos perecíveis.
Muito obrigado por partilhar isso comigo. Sinto-me honrado por vocês e agraciado pelo Senhor em poder ler isso. Se me permite, eu gostaria de publicar um artigo no Campos, pedindo oração dos leitores também e partilhando esse texto. Não o farei sem sua autorização.
Li ontem num livro do Spurgeon: “É bom ficar sabendo que Deus não põe fardos pesados sobre ombros inexperientes. […] Não pense que, à medida que você cresce em graça, a vereda se tornará mais suave sob seus pés e os céus, mais serenos sobre sua cabeça. Ao contrário, reconheça que, conforme Deus lhe dá maior habilidade como soldado, Ele o mandará para empreitadas mais árduas ainda.” Que lhes sirva de consolo saber que Deus capacitou seus ombros para isso.
Saibam que amamos imensamente vocês.
Alguns dias depois, ela também me escreveu o seguinte:
Eu estava terminando de ler um livro do Jerry Bridges quando tudo começou. O nome do livro é Confiando em Deus, mesmo quando a vida nos golpeia, aflige e fere. É um livro doce, resultado do estudo do autor sobre a soberania de Deus enquanto via o câncer consumir a saúde da esposa, até que o Senhor a tomou para Si. Foi uma leitura proveitosa, tanto para mim como para o Doni, que estava na metade do livro e terminou de lê-lo já no hospital, antes da cirurgia.
O autor mostra tantos exemplos bíblicos de pessoas que sofreram dor e perda e, ainda assim, confiaram no Senhor. Dois apóstolos foram presos: Tiago e Pedro. A igreja orou pela libertação dos dois. Pedro foi liberto milagrosamente, enquanto Tiago foi decapitado. O que pensou a esposa de cada um deles?
Tenho aprendido com estes e tantos outros exemplos que “nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória”. Os dias não têm sido fáceis. Um dia recebo uma boa notícia, no outro, uma ruim. Mas tenho comigo que nossa frágil vida está em mãos seguras. Como dizia Spurgeon, “a menos que Deus me chame, eu não posso morrer”. E o contrário é igualmente verdadeiro. Se Ele chamar você, não importa se goza de boa saúde ou tem prosperidade financeira que lhe garanta recursos mil, você irá se encontrar com Ele.
Tenho vivido cada dia. Um de cada vez. Sem querer previsões, sem querer saber o que houve em casos como o dele. Confio apenas que Deus cuida dos Seus um a um. Ele escreve nossa história de maneira única. Embora os testemunhos sirvam sempre para nos dar alento, Hebreus nos alerta que, olhando para aqueles testemunhos, devemos imitar a fé que tiveram – e não os atos de fé.
Conheço irmãos por quem oramos quando não havia mais esperança, e Deus os curou. Outros, igualmente piedosos, foram chamados a Sua presença. Então, aguardo em Deus o desfecho de tudo isso, sabendo que Ele é Deus e só Ele merece toda honra. Se Ele for glorificado com a cura do Doni, amém. Mas, se não, que Ele igualmente seja glorificado.
Eu sou tão fraca e tenho uma fé tão vacilante! Mas tenho pedido a Deus que me fortaleça para que eu possa testemunhar sobre a paz de Jesus aos médicos com quem converso diariamente.
Lembro-me sempre da paz que havia entre os irmãos morávios, a qual levou John Wesley a procurá-los, porque, mesmo em meio à grande tormenta, nem suas crianças temiam a morte. E aquilo o atraiu. Um irmão fez-lhe algumas perguntas que o levaram posteriormente a ter uma experiência real com Jesus, e ele se tornou o maior pregador da Inglaterra.
Que o Senhor continue nos conduzindo, apesar de nossa fraqueza e grande debilidade. Ele é forte, capaz, bom e Todo-poderoso.
Partilho tudo isso com você, prezado leitor do Campos de Boaz, em primeiro lugar para pedir suas orações por todos eles. Como costumo dizer, orações são sempre bem-vindas! Orações pela plena recuperação do Doni, sem nenhuma seqüela, por paciência e confiança para o tempo que ele ainda terá de passar no hospital. Oração pela Maria, para que o Senhor a capacite, dia após dia, a esperar, confiar e ajudar seus filhos a também confiarem e esperarem no Senhor. Pelos filhos, para que, apesar da pouca idade, conheçam o Senhor no meio desse sofrimento.
Partilho também para que sirva de alerta: qualquer um de nós, e qualquer pessoa a quem amamos, a qualquer momento, pode ser chamado à presença do Senhor. Você está preparado? E seus filhos? Já conhecem o Senhor? São ajudados a confiar no Senhor? E seus amigos e parentes, a quem você muito ama, estão prontos para se encontrar com o Criador?
Por fim, divido isso para que lhe sirva de encorajamento. Em toda situação, Deus quer apenas uma coisa: conformar-nos mais e mais à imagem de Seu Filho. Se O buscarmos, se nos submetermos a Sua vontade, por vezes misteriosa e cheia de dor, se exercitarmos nossa confiança e submissão a Ele, Deus obterá em nós o que deseja.
Em Cristo, seu conservo
Francisco Nunes
Atualização em 10 de dezembro de 2016
Recebi hoje a seguinte notícia de nossa amada irmã Maria.
Bom dia! Notícias do Doni
É com o coração cheio de gratidão que informo que o Doni já está em casa.
Ainda há um processo de reabilitação em curso. Está reaprendendo a andar e a comer. Creio que em breve estará totalmente recuperado.
Nossa sincera gratidão a você que orou por nós durante todo esse tempo. Foram tempos difíceis e cremos que só suportamos tudo isso por causa das orações que recebemos. Através delas a graça de Deus esteve presente conosco, nos fortalecendo quando nossos joelhos fraquejaram.
Que esta mesma graça seja com você e com toda a sua família!
Senhor, no passado e nas eras distantes,
Muito antes daquilo que o homem pudesse ver,
Palavras de criação foram ditas,
Os céus e a terra começavam,
Tu estavas ali em toda a Tua glória –
Bendito Senhor, pomo-nos de joelhos –
Habitando, então, no amor irrestrito:
Com reverência agora nos rendemos a Ti.
Naquele amor nenhum pensamento pode penetrar;
Nem lábios humanos podem definir
Aqueles relacionamentos eternos,
Tão inescrutáveis, divinos!
Mas, no tempo, Tu irias, na humanidade,
Aqui o nome de Deus declarar,
Em uma maravilhosa, bendita relação
Que Tu poderias com outros compartilhar.
Toda a vontade Dele foi cumprida,
Toda a obra que Ele Te entregou foi feita;
Um em pensamento, plano e propósito:
Ele, o Pai, Tu, o Filho.
E na manhã da ressurreição,
Para Ti mesmo declaraste
Que Teu Pai era o Pai deles,
E de Teu amor eles agora poderiam partilhar.
“Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento” (1Co 14.15).
Com freqüência lemos a Palavra de Deus de modo superficial, e isso é para nosso prejuízo, sobretudo quando se trata de ensinos relativos à oração. O desconhecimento das principais passagens apresentadas no Novo Testamento pode acarretar conseqüências nefastas para a vida espiritual conduzindo ao desalento e à incredulidade. Quem de nós não tem experimentado estes sentimentos porque, aparentemente, sua oração não teve resposta? Desânimo, porque, havendo orado com insistência por determinados motivos, ao fim não obtivemos a respostas; incredulidade, porque Deus, o qual fez tantas promessas à oração com fé, parece ter permanecido surdo e sem cumprir Sua Palavra. Deus não é fiel a Suas promessas?
É, portanto, importante examinar com atenção algumas dessas promessas que, mesmo nos parecendo incondicionais, estão sujeitas a condições precisas.
1) “E tudo quanto pedirdes em Meu nome Eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em Meu nome, Eu o farei” (Jo 14.13,14).
A promessa repetida é alternada com uma condição essencial, que às vezes nos escapa. Estamos sempre conscientes de que nossas orações vão mais além de nossas próprias circunstâncias ou daquelas das pessoas pelas quais intercedemos? Elas interessam ao Pai e ao Filho. Deus, que vela pela glória de Cristo, não pode permitir o uso excessivo do nome de Jesus.
Para pedir algo em nome do Senhor devemos estar seguros de que nosso pedido é conforme o desejo Daquele a quem o Pai não pode recusar nada.
“Eu o farei”, afirma, então, o Senhor Jesus. Dito de outro modo, mediante o poder de Seu nome e pelo fato de que goza de um crédito ilimitado diante do Pai, achará resposta: Deus não pode recusar a petição de Seu Filho amado.
Essa consideração nos traz à memória o que o Filho és para o Pai e nos ensina a não usar o nome do Senhor em vão, como se fosse uma fórmula que solucionará tudo.
2) “Se vós estiverdes em Mim, e as Minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito” (Jo 15.7)
“Se vós estiverdes [ou, permaneceis] em Mim”, disse o Senhor a Seus amados discípulos. Tomando o exemplo do ramo, que deve permanecer na videira para dar fruto (v. 4), Jesus acaba de lhes relembrar o que é a dependência, essa grande virtude cristã. Assim, a oração é justamente a expressão dessa dependência. Alguém experimenta, ao mesmo tempo, a própria debilidade e o poder do Senhor, sua própria ignorância e a sabedoria do Senhor; ele toma o lugar que lhe corresponde e reconhece o lugar do Senhor. O Senhor tem todos os direitos sobre aquele que se inclina de joelhos diante Dele.
A Palavra nos comunica os segredos de Deus
O Mestre acrescenta: “E as Minhas palavras estiverem [ou, permanecerem] em vós”. Essa condição está ligada à primeira. A Palavra nos comunica os segredos de Deus. Ao lê-la, seremos capazes, pelo Espírito, de compreender Seus pensamentos. Então, se permanecermos nela e nos submetermos a ela, não teremos outros desejos além dos dela. “Pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito”, disse, então, o Senhor Jesus. Porque o que queremos é o que o mesmo Senhor deseja.
3) “Eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em Meu nome pedirdes ao Pai Ele vo-lo conceda” (Jo 15.16).
Aqui, a condição para que a oração seja respondida está ligada à do versículo 7, porque é absolutamente necessário depender do Senhor e conhecer Sua vontade por meio de Sua Palavra para saber como servi-Lo. Para o discípulo escolhido, estabelecido e enviado pelo Senhor, aqui se trata de ir e de dar fruto; por exemplo, o de realizar um serviço útil.
Que empregador envia seu trabalhador sem ter-lhe dado os meios para concluir o trabalho que lhe tenha ordenado? Se precisar de ferramentas ou de dinheiro, o trabalhador pedirá a seu devido tempo, e, tratando-se dos interesses do que o envia, o que pede não lhe poderá ser negado.
O mesmo ocorre, pois, com muito mais razão, no serviço cristão: o Senhor dá o necessário à pessoa que Ele envia. E, se Ele não dá nada, o obreiro do Senhor terá de perguntar-se: “Isso não significa que o que eu quero fazer não é o que me foi ordenado? Pelo contrário, se isso é um fruto que deve ser dado para Ele, um fruto que permanece, como o Senhor haverá de recusar o que Seu servo necessita?”
4) “Amados, se o nosso coração não nos condena, temos confiança para com Deus; e, qualquer coisa que Lhe pedirmos, Dele a receberemos, porque guardamos os Seus mandamentos e fazemos o que é agradável a Sua vista” (1Jo 3.21,22).
Aqui achamos duas condições que cercam uma promessa. A primeira é um coração que não nos condena. Dito de outro modo: é necessário termos uma boa consciência ao pedir algo a Deus, seja lá o que for. Como aproximar-nos Dele se temos algo condenável em nós? Perceberemos muito bem que a distância moral produzida por uma falta não-confessada nos faz fechar a boca.
Para compreender a segunda condição, guardar os mandamentos de Deus e praticar o que Lhe agrada, vamos usar uma ilustração: uma criança obediente, que agrada aos pais por seu comportamento, obterá deles tudo o que lhes pedir, porque eles têm confiança nela e sabem que fará bom uso daquilo.
Vemos que essas duas condições são complementares, ou melhor, constituem dois aspectos da mesma atitude. A primeira, uma boa consciência, manifesta nossos sentimentos com relação a Deus e nos dá segurança para dirigir-Lhe nossas orações. A segunda expressa os sentimentos de Deus: desde o momento em que colocamos em prática as coisas que Lhe são agradáveis, Ele se agrada também em atender a nossas petições. Tudo o que pedirmos, receberemos Dele. Mas, que bom estado espiritual é necessário de nossa parte!
5) “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á. […] Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que Lhe pedirem?” (Mt 7.7-11; ver tb. Lc 11.9-13).
Temos um Deus cheio de bondade, de quem não podemos esperar nada mais que boas coisas. Este Pai nunca dará uma pedra a algum de Seus filhos que Lhe tenha pedido um pão. Contudo, se nos enganamos e Lhe pedimos uma pedra, Ele nos dará uma pedra? Antes, Ele nos dará esse pão que não soubemos pedir. O coração de Deus está aberto para nós, assim como Suas mãos, mas não esperemos Dele alguma coisa que não se relacione com Sua natureza.
Tiago 4.2,3 nos dá dois motivos pelos quais não recebemos nada. O primeiro é simplesmente porque não pedimos. Por isso, o convite do Senhor: “Pedi […] buscai […] batei”.
O segundo é que pedimos mal: coisas más para nós, enquanto nosso Pai quer nos dar boas coisas. Tiago explica: “Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para gastar em vossos deleites”. Peçamos a Deus boas coisas para o bem de nossa alma, para o bem-estar espiritual de nossa família e da assembleia. Assim confirmaremos as promessas do Senhor: “Todo aquele que pede, recebe”.
6) “E, tudo o que pedirdes em oração, crendo, o recebereis” (Mt 21.22).
A condição enunciada aqui é a da fé de que fala também o versículo precedente, a respeito do milagre da figueira. É necessário compreender bem o que é a fé. Alguns a consideram como uma espécie de auto-sugestão, de persuasão interior. Por exemplo: em certos lugares se dirá a um enfermo ou inválido: “Você deve ser curado por meio da oração da fé; se não é curado, é porque não tem fé suficiente”. Desse modo, as pobres pessoas são afundadas no desalento, chamadas a olhar para si mesmas, a analisar sua confiança em Deus para tentar aumentá-la por suas próprias forças, e isso é um absurdo.
Deus não dá jamais Sua glória ao homem. É o que aconteceria se as respostas Dele dependessem somente da intensidade de nossas orações, da quantidade ou das condições em que são feitas (jejuns, correntes ou noites de oração, etc.). Com todas essas coisas, nosso astuto coração prontamente buscaria fazer valer seus direitos e méritos.
Temos um Deus cheio de bondade, de quem não podemos esperar nada mais que boas coisas
Pois bem: a fé não é somente uma certeza e uma convicção; é “a certeza daquilo que se espera, a convicção daquilo que não se vê” (Hb 11.1). A fé não é uma ponte que se apoia no vazio, nem uma âncora sem um lugar a que se apegue. Ela se apoia sobre algo que está fora dela; vem “pelo ouvir, e o ouvir, pela palavra de Deus” (Rm 10.17). Se não possuo promessas específicas da parte de Deus, não terei a liberdade de dizer a Deus como espero que Ele deva responder-me.
7) “Todas as coisas que pedirdes, orando, crede receber, e tê-las-eis. E, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas” (Mc 11.24,25)
A passagem corresponde ao que a antecede em Mateus, mas Marcos acrescenta outra condição suspensiva: o caso de, tendo algo contra alguém, não o perdoarmos. Observemos, em primeiro lugar, que isto é geral: não importa o quê nem contra quem. Assinalamos que o ressentimento é considerado aqui como humanamente justificado; nós somos a parte prejudicada, pois somos os que devemos perdoar. Com muito mais razão, essa restrição é aplicada a nós quando a falta é de nossa parte.
Antes de escutar-nos, o Senhor nos chama a pôr em ordem nossas relações com o próximo
8) “Tudo é possível ao que crê” (Mc 9.23).
Ainda que essa resposta do Senhor a um pai angustiado não esteja relacionada à oração, podemos relacionar essa promessa com os versículos mencionados acima (ver ponto 6). Ela nos confirma que podemos esperar grandes coisas de nosso Deus Todo-poderoso e que devemos voltar os olhos em direção a Ele, de onde vem o socorro. Ele pode responder a todas as nossas necessidades; Seu poder é infinito. Um versículo no capítulo seguinte afirma: “Todas as coisas são possíveis para Deus” (10.:27). Nele, vemos a ilimitada perspectiva que se abre à fé. Todo o que Deus pode, pode também a fé Nele.
Mas, entre todas as coisas possíveis para Aquele a quem se chama “o Deus do impossível”, pensaríamos em escolher a que nos parece mais fácil para Deus? Isso não seria fé, e sim falta de fé.
9) “E esta é a confiança que temos Nele: que, se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que Lhe fizemos” (1Jo 5.14,15).
Essa preciosa passagem nos lembra primeiro em quem temos crido (2Tm 1.12). Nossa fé, como acabamos de ver, se apoia nas promessas. Mas o valor de uma promessa está unida à qualidade daquele que a fez.
Pedro fala de “preciosas e grandíssimas promessas”, porque é um grande Deus quem as fez, e elas têm Cristo como garantia, precioso para o coração de Deus e do crente (2Pd 1.4).
A vontade divina, boa, agradável e perfeita, molda nosso entendimento e nos conduz a fazer petições sábias, de modo que possam ser ouvidas por Deus. Entre o versículo 14 e o 15 é possível que transcorra certo tempo, apropriado para exercermos a paciência da fé. Mas a fé tem o privilégio de considerar a coisa pedida já outorgada. Os verbos estão no presente: desde o momento em que a petição foi apresentada, sabemos que temos o que pedimos.
Nossa fé se apoia nas promessas
10) “Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por Meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles” (Mt 18.19,20).
Eis aqui duas promessas que se unem por meio da palavra “porque”. Bastará mesmo que dois crentes estejam de acordo em pedir qualquer coisa para que seja feita? Não, isdo poderia ser para o prejuízo deles. Essa promessa se une de forma muito entranhável à presença do Senhor prometida aos que se reúnem em Seu nome, isto é, reconhecendo Sua indiscutível autoridade. Isso dá a entender que as petições apresentadas terão Sua aprovação. Se desfrutamos dessa santa presença, como poderíamos formular petições sem reflexão? O nome de Jesus a que se reúnem os Seus é o que nos abre o coração de Deus. Ambos fatos estão sempre juntos.
Tendo considerado essas diversas passagens, talvez digamos com certo desânimo: “Se são tantas as condições a cumprir a fim de sermos favorecido pelo Senhor, não nos restam muitas oportunidades para a oração, estamos longe de conhecer sempre a vontade de Deus, raramente temos uma promessa específica sobre a qual descansar nossa fé, nem estamos comprometidos em um serviço que requeira pedir meios a nosso Pai Celestial. Então, por que somos convidados a orar sem cessar (1Ts 5.17), a orar “em todo o tempo com toda oração e súplica no Espírito (Ef 6.18)?”
Reconhecemos primeiramente que nosso Deus é soberano e que Sua graça jamais se deixará deter por nossa lógica humana. Ainda que Ele nos dê no Novo Testamento algumas normas para que compreendamos os princípios segundo os quais opera, às vezes é de Seu agrado intervir de uma maneira que nos é estranha, respondendo a nossas orações apesar de nossas incapacidades.
De algum modo receberemos uma resposta. Uma passagem posterior prova isso e nos alenta; até mesmo nos exorta a orar quaisquer que sejam as necessidades, os momentos e as condições: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus” (Fp 4.6,7).
Às vezes é de Seu agrado intervir de uma maneira que nos é estranha, respondendo a nossas orações apesar de nossas incapacidades
“Por coisa alguma”: é algo geral, sem nenhum tipo de limitação, nem em número nem em forma. Sem condição alguma: nada é demasiado grande nem demasiado pequeno para ser apresentado ao Senhor. Levamos uma carga ou temos preocupações que não podemos solucionar, e não conhecemos o pensamento do Senhor a respeito? Levemos a Ele. Neste caso, compreendemos que não podemos ter a promessa de de que nossa petição sera atendida segundo nosso desejo. Isso abriria a porta para qualquer tipo de oração que careceria de inteligência às quais Deus não poderia satisfazer. Não é dito, portanto, que teremos as coisas que pedimos, já que não sabemos qual é a vontade de Deus a respeito.
Mesmo assim, temos uma resposta para todo motivo, uma promessa de elevado preço: a paz de Deus guardará o coração do crente. É feita uma troca que me favorece: meu fardo para Ele. Sua paz para mim. Ela pode agora encher meu coração, qualquer que seja a forma pela qual Ele tratar o que acabo de depositar sobre Ele.
Um dia escutei duas linhas, nada mais,
Enquanto viajava ocupado numa vida falaz;
Aquilo, ao coração, trouxe certeza presente,
E nunca mais sairia do pensar de minha mente:
Só uma vida, que logo vai passar,
Só o que for pra Cristo irá ficar.
Uma vida só, isto mesmo, apenas só uma.
Cujas horas, fugazes, são como a bruma;
Então estarei com o Senhor no dia previsto,
Ali, em pé, diante do Tribunal de Cristo.
Só uma vida, que logo vai passar,
Só o que for pra Cristo irá ficar.
Só uma vida, ecoa uma voz no pensamento,
Rogando: “Escolha o melhor a cada momento”;
Insistindo que eu deixe minhas metas egoístas,
E me apegue a Deus, em meus atos e m’ia vista.
Só uma vida, que logo vai passar,
Só o que for pra Cristo irá ficar.
Só uma vida de anos breves na balança,
Cada um com fardos, temores e esperanças;
Todos com vasos que preciso encher,
Com o que é de Cristo ou com o meu querer.
Só uma vida, que logo vai passar,
Só o que for pra Cristo irá ficar.
Quando o mundo e as miragens vierem me tentar,
E Satanás quiser de minha meta desviar;
Quando um ego inflado quiser tomar o meu ser,
Ajuda-me Senhor, a sempre alegre dizer:
Só uma vida, que logo vai passar,
Só o que for pra Cristo irá ficar.
Dá-me, ó Pai, um só propósito eu ter:
Na alegria ou tristeza, a Tua Palavra viver;
Fiel e constante em qualquer tentação,
A Ti somente eu dedicar meu serão:
Só uma vida, que logo vai passar,
Só o que for pra Cristo irá ficar.
Que Teu amor atice a chama de fervor
E me leve a fugir deste mundo vil de dor;
Vivendo para Ti, e para Ti somente,
O teu prazer seja minha meta frequente.
Só uma vida, que logo vai passar,
Só o que for pra Cristo irá ficar.
Só uma vida eu tenho, sim, só uma, é verdade,
Pra poder dizer: “Seja feita a Tua vontade”;
E quando ouvir Teu chamado, finalmente,
Eu possa dizer que a vivi intensamente.
Só uma vida, que logo vai passar,
Só o que for pra Cristo irá ficar.
—
Só uma vida, que logo vai passar,
Só o que for pra Cristo irá ficar.
E se eu morrer, quão grande gozo terei ali,
Se minha chama de vida foi consumida só pra Ti.
“Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus […] remindo o tempo, porque os dias são maus” (1Co 10.31; Ef 5.16).
Charles Studd foi um milionário britânico e famoso jogador de críquete do século 19, que gastou seus bens e a vida servindo a Cristo na China, na Índia e em outros lugares.
Primeiro, quero considerar o fato de que vivemos em um mundo onde tudo é temporário. Tudo ao nosso redor está se degradando, morrendo, chegando ao fim. Qualquer que seja nossa atual condição de vida, partiremos em breve.
Beleza é apenas temporária. Sara foi uma mulher muito bonita, mas chegou o dia que em que Abraão, seu marido, disse: “Dai-me a posse de sepultura convosco, para que eu sepulte a minha morta” (Gn 23:4).
A resistência do corpo é apenas temporária. Davi foi um notável guerreiro, mas chegou o dia em que ele mesmo, em sua velhice, necessitou de atenção e cuidados tais como os que dispensamos a uma criança.
Esta é uma verdade dolorosa e humilhante, porém devemos prestar-lhe atenção. É uma verdade que o desafia, se você está vivendo somente para este mundo. Acordará você para o fato de que as coisas para as quais está vivendo são temporárias? Suas diversões e prazeres, seus negócios e lucros em breve acabarão, juntamente com todas as demais coisas em que você tem posto seu coração e sua mente. Você não é capaz de manter consigo estas coisas. Não poderá levá-las à eternidade. O mundo está perecendo. Dará você ouvidos ao que Deus afirmou em Sua Palavra: “Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra” (Cl 3.2)? “O mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente” (1Jo 2.17).
Entretanto, se você é um verdadeiro cristão, essa mesma verdade deve animá-lo e confortá-lo. Todas as suas provações e todos os seus conflitos são temporários. Brevemente chegarão ao fim. Suporte-os com paciência e olhe para além deles. Sua cruz logo será trocada por uma coroa, e você se assentará com Abraão, Isaque e Jacó no reino de Deus.
Todas as bênçãos do Espírito nos foram dadas nas regiões celestiais em Cristo (Ef 1.3), do lado celestial da cruz. Ele “nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (2.3). Porque você foi plantado na morte de Cristo, agora você é unido a Ele na vida Dele. Assim, não é somente “Cristo em você” como sua vida interior, mas “você em Cristo” como sua circunferência, seu meio ambiente, sua esfera. Se você vive na esfera de Cristo, as pessoas com as quais você tem contato se encontram com Ele, pois Ele está envolvendo você. Freqüentemente usamos a expressão “no Senhor”, mas será que sabemos o que ela significa? Em Cristo nos tornamos novas criaturas, as coisas velhas passam e tudo se faz novo; todas as coisas são de Deus. Nós nunca lutamos para entrar nessa vida abençoada nem a aprendemos por nossos próprios esforços. A verdade é que Cristo já concluiu a obra. Somos nós que precisamos cessar com nossos esforços próprios e esconder-nos Nele por fé, dizendo: “Daqui em diante eu estou em Cristo. Ele é meu esconderijo. Estou disposto a deixar as coisas velhas passarem, e a confiar Nele dia a dia para tornar novas todas as coisas”.
(Jessie Penn-Lewis)
A melhor ferramenta de Deus em nossa vida é a ferramenta do sofrimento.
(Corrie ten Boom)
A oração é o pulsar da alma renovada, e a constância desse pulsar é o teste e a medida da vida espiritual.
(Octavius Winslow)
Deus pode encontrar sentido em uma oração confusa.
(Richard Sibbes)
Agora, eu concentro todas as minhas orações em uma, que é esta: que eu morra para mim mesmo e viva somente para Cristo.
(Charles H. Spurgeon)
É teu amigo aquele que te impulsiona para que estejas mais perto de Deus.
(Abraham Kuyper)
As Escrituras nos ensinam a melhor maneira de viver, a maneira mais nobre de sofrer e o modo mais confortável de morrer.
Algumas partes das vestes do sumo sacerdote descritas por Moisés eram meros “memoriais”, ou lembretes das maiores e eternas coisas por vir. As doze pedras preciosas do peitoral do sumo sacerdote eram meramente “pedras de memória”. Elas testificavam sobre os fundamentos de doze pedras preciosas (Ap 21.19,20) da cidade eterna na qual os santos ressurretos de Deus habitarão (Êx 28.12,29; 39.7). O testemunho de Moisés sobre Melquisedeque, o sacerdote-rei, é a base do argumento sobre a intenção de Deus de deixar de lado o sacerdócio de Arão. E, por fim, o argumento sobre o descanso futuro do sétimo dia do Altíssimo se volta para o testemunho de Moisés em relação à obra da criação e à observância do descanso do sétimo dia sob a lei. O testemunho de Moisés, como afirma o Espírito de Deus, é incontestável – e os judeus estavam prontos para confessar isso. Nesta base, então, o apóstolo1 enquadraria seu argumento aos hebreus. Como poderiam eles se recusar a ouvir Moisés, sua testemunha confiável, quando ele testificou de um Mestre, Líder e Sumo Sacerdote maior?
Na afirmação “Cristo, como Filho, sobre a Sua própria casa” (Hb 3.6) não se destaca Sua fidelidade a um superior, e esse é o ponto agora diante de nós. “Tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus” (10.21; 1Pd 2.5; 4.17). De Moisés fora dito: “Fiel em toda a Minha casa”. Mas Cristo está sobre ela (10.21). Jesus estava aqui tipificado por José, tanto em sua humilhação como em sua exaltação. “José achou graça em seus olhos [de Potifar], e servia-o; e ele o pôs sobre a sua casa, e entregou na sua mão tudo o que tinha” (Gn 39.4). Deus “me tem posto [diz José novamente] por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa e como regente em toda a terra do Egito” (45.8). Faraó, diz Estêvão, “o constituiu governador sobre o Egito e toda a sua casa” (At 7.10).
“Cuja casa somos nós.”
Aqui, o sentido de “casa” é estreitado para significar “família”. Deus não está agora habitando “em templos feitos por mãos de homens” (17.24), pois qual edifício na terra poderia o homem construir que servisse à grandeza Daquele que enche o céu e a terra? Mas, enquanto isso, Deus olha para os redimidos de Cristo e habita neles, e a Igreja é a “morada de Deus em Espírito” (Ef 2.22), uma casa de pedras vivas (1Pe 2.5). É a nova criação espiritual, na qual o Altíssimo tem prazer. Os que crêem constituem o povo e a casa de Deus, sobre os quais Cristo preside. Mas é sob esta condição que habitam Nele: se retiverem firmemente o que já possuíam como crentes (e Paulo inclui a si mesmo, pois usa o pronome nós; Hb 3.14).
Eles deviam conservar “firmes a confiança e a glória da esperança até ao fim”. Qual é a esperança em questão? É aquela ligada ao chamamento celestial: a vinda de Cristo para reinar em Sua glória, e a associação de Sua fiel irmandade a Ele naquele dia. O esplendor dessa esperança foi ofuscada na mente deles devido à longa demora e pela pressão da perseguição. Esqueceram que “se sofrermos [com Cristo], também com Ele reinaremos” (2Tm 2.12). A vida de Cristo é o modelo a que os cristãos devem se moldar: primeiro sofrer; então, entrar na glória.
Que essa é a esperança é estabelecido por muitas provas. Esse é o propósito dos prévios dois capítulos de Hebreus, que apresentam Cristo como um segundo período a ser trazido à terra habitável. É o reino de justiça que alguém deve, como Seu seguidor, desfrutar com Cristo, no dia em que a perversidade dos inimigos de Cristo for abatida com mão forte e as obras de Deus forem postas em sujeição ao homem; é a grande salvação, o descanso de Deus, a primeira ressurreição (Hb 2.3; 4.1,3,10; Ap 20.5,6). É a vinda do reino milenar de Deus, de que Cristo tão frequentemente testificou. Porém nossa esperança é somente uma (Ef 4.4): sermos apreciados por patriarcas e profetas, e pelos aceitos por Deus mediante a Lei, assim como por aqueles julgados dignos mediante o Evangelho. É a esperança originada na liderança do Senhor. O desfrute da boa terra era a esperança ligada à missão de Moisés; a nossa é a glória de mil anos. Em Cristo “os gentios esperarão. Ora, o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pelo poder do Espírito Santo” (Rm 15.12,13). “A graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador, Jesus Cristo” (Tt 2.11-13).
Aumentar a fé dos cristãos no retorno de nosso Senhor e encorajar sua esperança do reino são os principais objetos desta epístola.
Vislumbres daquele dia foram dadas por Moisés nos descansos ligadas aos setes da Lei. Vemos isso também anunciado na promessa de Moisés ao subir a montanha; e após o banquete dos setenta anciãos na presença de Deus, quando ele os manda ficar onde estavam, pois retornaria para eles (Êx 24.14). Aumentar a fé dos cristãos no retorno de nosso Senhor e encorajar sua esperança do reino são os principais objetos desta epístola.
Quando no início creram, eles retiveram com alegre confiança interior a expectativa do breve retorno e reino de Cristo; e todo coração transbordava para os outros com exultação da glória a ser manifesta, e sua própria participação nela. “Venha, junte-se ao povo do Senhor! Ele virá brevemente para nos fazer Seus companheiros na glória!” Mas, com a demora de ano após ano, a confiança interior decaiu e o testemunho exterior, em conseqüência, enfraqueceu (Pv 13.12).
Em quarenta dias, a expectativa do reaparecimento de Moisés se foi, e, com sua extinção, despontou a idolatria; enquanto Arão, que deixara o alto posto que lhe fora dado e descera para a planície, tornou-se o culpado fabricante de um ídolo e seu sumo sacerdote.
O Espírito de Deus, então, nos ordena a nos mantermos firmes interiormente e a, exteriormente, testificar com ousadia aos demais acerca do retorno e do reino de nosso Senhor Jesus Cristo. Devemos ter firmeza até o fim – não até a nossa morte, mas até Seu reaparecimento. O enfraquecimento e o abalo dessa esperança produziram, quanto a seus efeitos, o endurecimento, a esterilidade e a desobediência dos cristãos hebreus, dos quais Paulo reclama.
“Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a Sua voz, não endureçais o vosso coração, como na provocação, no dia da tentação no deserto, onde vossos pais me tentaram, me provaram e viram por quarenta anos as minhas obras” (Hb 3.7-9).
O argumento que segue a 4.12 é uma exortação aos crentes buscarem o descanso milenar e a se guardarem de provocar Deus, como fez Israel, pois o mesmo Deus que excluiu Israel da terra da promessa excluirá os ofensores no dia da recompensa, quando Cristo tomar o reino. Paulo aplica a esse propósito as advertências de Salmos 95. Assim, essa passagem corre paralelamente com as advertências do Sermão do Monte, que foi também endereçado aos crentes, e com outras passagens que tratam da entrada no reino da glória. Muitas são as passagens que tratam da recompensa vindoura, que testificam da necessidade de diligência a fim de obtê-la e da probabilidade de ser perdida.
O apóstolo caracteriza a passagem que está prestes a dar como decisiva, pois é inspirada pelo Espírito Santo, o qual fala em Salmos e em toda a Santa Escritura. Então, nosso Senhor ensina: “O próprio Davi disse pelo Espírito Santo” (Mc 12.36). “A Escritura não pode ser anulada” (Jo 10.35).
A presente dispensação é descrita como hoje. É um período especial, (1) do chamado de Deus para a obediência a Cristo e (2) do julgamento de Seu povo a caminho da glória. Com a fé no sangue de Cristo, como o Cordeiro da verdadeira Páscoa, começa nosso resgate de Satanás, do mundo e da maldição. Então, vem a passagem pelas águas do batismo, após as quais o deserto tem início. Mas multidões de crentes preferem continuar no Egito, a despeito da ordem de avançar.
“Se ouvirdes […] a Sua voz”
Jesus é nosso Moisés, o Líder para a glória. “E o lugar do Seu repouso será glória” (Is 11.10, lit.). “Por que Me chamais ‘Senhor, Senhor’, e não fazeis o que Eu digo?” (Lc 6.46). “Este é o Meu amado Filho […] escutai-O” (Mt 17.5). A obediência ao Filho é obediência também ao Pai. Essa foi a palavra que veio de Deus, quando o quadro em miniatura do reino da glória foi dado [no monte da transfiguração]. “Nem todo o que Me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos céus” (7.21). Hoje é o convite e o dia do julgamento; amanhã, a glória.
Não obstante, no deserto Israel desobedeceu às ordens de provas de Deus. Jeová disse aos israelitas: “Eis que tenho posto esta terra diante de vós; entrai e possui-a” (Dt 1.8). Moisés reitera a palavra: “Eis aqui o Senhor, teu Deus, tem posto esta terra diante de ti; sobe, toma posse dela” (v. 21). Eles se recusaram, afirmando que não poderiam entrar por causa dos perigos.
“Não endureçais o vosso coração”
O obediente escuta, pois é a Palavra de Deus. Porém aqueles que são rebeldes desprezam as promessas, contestam as ameaças, não obedecerão às ordens. Eles se fortalecem em sua resistência ao Altíssimo. Quantos crentes vêem o batismo, no entanto, com vários pretextos desprezam a ordem e se recusam a confissão de Cristo que ele carrega consigo!
Quem, a não ser os crentes professos, desobedecem a Cristo?
“Como na provocação, durante o dia da tentação no deserto”
Logo após deixar o Mar Vermelho, e antes de chegar ao Sinai, Israel começou a provocar Deus pela murmuração por causa da necessidade de comida no deserto. Em Refidim, os israelitas murmuraram novamente. Estavam quase prontos a apedrejar Moisés, pois pensavam que a culpa fosse dele. O Senhor ajuda em ambos os casos, mas o lugar é chamado “Tentação” e “Luta” (Êx 17). Outra vez há um clamor por água, em Cades, e o lugar também é chamado de “Luta” (Nm 20). Moisés é conduzido a fazer menção disso, mesmo em sua palavra de bênção diante da morte: “E de Levi disse: Teu Tumim e teu Urim são para o teu amado, que tu provaste [tentaste] em Massá, com quem contendeste junto às águas de Meribá” (Dt 33.8).
Contudo parece, na passagem de que estamos tratando, que o Senhor considerou todo o tempo da jornada no deserto como um tempo de provocação e tentação. A maior crise ocorreu como registrada em Números 13 e 142, que analisaremos agora.
“Eles viram as Minhas obras por quarenta anos”
As obras da criação de Deus já haviam há muito sido completadas, e Seu repouso ali foi quebrado. Na criação, os anjos romperam em louvores e cantando hinos de alegria. Mas agora Deus trabalhava no interesse de novas obras de redenção para os israelitas: eles eram livres, eram povo de Deus. Ele os sustentou por quarenta anos, ainda que murmurassem contra Ele. Sua punição, então, seria que, quando o descanso de Deus chegasse, assim como com Seu antigo descanso na criação, eles não teriam parte nele.
Por quarenta anos o Senhor fora provocado; apesar de Suas obras maravilhosas a favor do povo, este não confiou e desobedeceu. Deus realizou as maravilhas da criação por apenas seis dias. Seus sinais redentores foram feitos por quarenta anos: sinais de poder contra os inimigos dos israelitas; sinais de favor para os israelitas, misturados com juízos contra os desobedientes que havia entre eles. As maravilhas da redenção são relatadas muito mais amplamente do que as da criação, pois elas diziam respeito a nós mais de perto, e são consideradas por nosso Deus como mais importantes e de maior glória para Ele. Mas Israel não percebeu seu significado; ele não se sujeitou ao Grande Governador.
O obediente escuta, pois é a Palavra de Deus.
Então, finalmente temos o efeito dessa contínua provocação ao Altíssimo. Ele foi ofendido. O mau comportamento de Seu próprio povo O tocou mais intimamente do que o dos egípcios. Ele descobre a fonte das provocações dos ofensores: “Estes sempre erram em seu coração” (Hb 3.10). Pois o coração por natureza é “inimigo de Deus” (Rm 8).
Eles não conheceram os caminhos de Deus
Os “caminhos” de uma pessoa significam sua conduta como consequência de seu caráter. Suponhamos que haja alguém que foi muito gentil para com um pobre homem em sua doença. Desse ato afirmo sua disposição permanente. Diria que é de um caráter benevolente. Então, de observarmos os efeitos afirmamos a natureza das coisas. […] Assim, os israelitas deveriam ter aprendido sobre o caráter de Jeová, sobre Seus atos com respeito a eles. Eles deveriam tê-Lo amado por Sua bondade e O temido por Sua impressionante justiça.
Eles não viram Sua razão nas várias provas acontecidas pelo caminho. Pensaram que, se Deus os guiasse, não haveria problemas. Porém, essa não era a mente divina. Ele condescendeu explicar-lhes Suas razões nessas provações. “E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os Seus mandamentos ou não” (Dt 8.2). Eles prometeram obediência perfeita; porém eram ignorantes a respeito de seu orgulho, de sua perversidade e de sua inimizade conta Deus, e o Altíssimo exibiria o mal do coração deles, o mal em suas palavras e ações. “Sabes, pois, no teu coração que, como um homem castiga a seu filho, assim te castiga o Senhor, teu Deus” (v. 5). Moisés, no fim, assume o mesmo procedimento. “Tendes visto tudo quanto o Senhor fez perante vossos olhos, na terra do Egito, a Faraó, e a todos os seus servos e a toda sua terra; as grandes provas que os teus olhos têm visto, aqueles sinais e grandes maravilhas; porém não vos tem dado o Senhor um coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de hoje” (Dt 29.2-4).
“Assim, jurei na Minha ira que não entrarão no Meu repouso”
Eis aqui – aquilo em que muitos não acreditarão – a ira de Deus contra Seu povo por causa da contínua desobediência. Não pode nem mesmo um pai estar de modo justo zangado com a desobediência e a provocação de um filho? Por fim, ocorreu Seu juramento de exclusão.
Olhemos um pouco mais de perto para a crise que suscitou esse juramento.
O povo propôs enviar doze espias para ver a terra antes de entrar nela. A proposta emergiu em parte da descrença; mas Moisés e o Senhor a sancionaram. Os espias retornaram após quarenta dias, trazendo testemunho da fertilidade da terra, e também exemplares de uvas, romãs e figos encontrados nela. “Vamos possuir a boa terra”, disse Calebe. Então, os espias sem fé se opuseram a ele. Tão gigantescos eram os habitantes, tão fortificadas e grandes eram as cidades que eles não poderiam possuí-la. Todo o povo tomou o partido da descrença. Pesaram seus próprios poderes contra os obstáculos a serem superados, e deixaram o poder de seu Deus. Cada um encorajou o outro a não crer, até imaginaram e disseram que Jeová somente os havia guiado pelo deserto com o propósito de entregá-los à espada dos cananeus! Calebe e Josué foram encorajá-los. “A terra é boa! Se nosso Deus for conosco, os cananeus não poderão se opôr a nós. Não se rebelem contra o Senhor!” “Mas toda a congregação disse que os apedrejassem; porém a glória do Senhor apareceu na tenda da congregação a todos os filhos de Israel. E disse o Senhor a Moisés: Até quando Me provocará este povo? E até quando não crerá em Mim, apesar de todos os sinais que fiz no meio dele?” (Nm 16.10,11). Moisés intercedeu, ou toda a congregação seria destruída. Em resposta, “disse o Senhor: Conforme à tua palavra lhe perdoei. Porém, tão certamente como Eu vivo e como a glória do Senhor encherá toda a terra,3 e que todos os homens que viram a Minha glória e os Meus sinais, que fiz no Egito e no deserto, e Me tentaram estas dez vezes e não obedeceram à Minha voz, não verão a terra de que a seus pais jurei, e nenhum daqueles que Me provocaram a verá” (vv. 20-23).
Agora segue uma íntima aplicação dessa história para os crentes hoje.
“Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel [de incredulidade], para se apartar do Deus vivo” (Hb 3.12).
Três vezes a expressão “qualquer de vós”4 é trazida para alertar os crentes hebreus daquele tempo. “Para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (v. 13). “Pareça que algum de vós fica para trás” (4.1). O Espírito Santo previu que a objeção seria feita: “Apliquem todo tipo de advertência aos professos: eles não são dos nossos! Como podem os crentes ser acusados de incredulidade no coração?” Mas como poderiam crentes apartarem-se, no coração, do Deus vivo? Vejamos um exemplo. “Por que o Senhor nos traz a esta terra, para cairmos à espada e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos ao Egito? E diziam uns aos outros: Constituamos um líder e voltemos ao Egito” (Nm 14.3,4). Era o voltar atrás do coração, não realizado em ato porque Deus chegou para impedir.
Ao ouvir isso, deveríamos supor que uma negativa deve ter, por algum acidente, caído do texto, e que deveríamos ler: “Vede, irmãos, que não há em qualquer de vós um coração mau e infiel”. “Nenhum de vós se endureceu pelo engano do pecado”. Mas não: é endereçado aos descrentes entre os crentes! Em qual coração não há um pouco desse velho fermento? Os israelitas deixaram o Egito por fé na mensagem de Deus dada por Moisés, mas a alma deles recuou quando foram colocados face a face com os obstáculos na terra. “Então eu vos disse: Não vos espanteis nem os temais. O Senhor, vosso Deus, que vai adiante de vós, Ele pelejará por vós, conforme a tudo o que fez convosco, diante de vossos olhos […] Mas nem por isso crestes no Senhor, vosso Deus“ (Dt 1.29,30,32).
“Mas por que comparar um povo que anda segundo a carne com o agora povo regenerado de Deus?”
Porque assim Deus faz aqui! Porque, mesmo no regenerado, estão os remanescentes do velho Adão.
“Mas a igreja de Cristo não está debaixo da lei, mas debaixo da graça, e nenhum perigo pode ameaçá-la.”
Se é assim, esta epístola é um erro, pois é baseada no princípio oposto: que, embora os crentes estejam agora salvos pela graça, eles, no aspecto do galardão, devem, como o antigo povo de Deus, ser tratados “de acordo com as obras”. A Epístola aos Hebreus é de Deus?
“Um coração mau e infiel [de incredulidade], para se apartar do Deus vivo”
O “Deus vivo” desta passagem é o Senhor Jesus. Foi declarado que Ele é o Criador e o Sustentador de tudo. [No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.1-3).] “Eis que Deus é grande, e nós não O compreendemos, e o número dos Seus anos não se pode esquadrinhar” (Jó 36.26). Pedro assim confessou Cristo: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16). E o Filho é da mesma natureza de Seu Pai. Assim Jesus, em ressurreição, descreve a Si mesmo: “Eu sou o primeiro e o último, e o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno” (Ap 1.17,18). Ele é o Senhor da vida; provou assim ser na ressurreição; [Aquele que irá] introduzir outros no reino pela primeira ressurreição, por meio de Seus méritos (5.9,10). O Novo Testamento nos diz também que os israelitas no deserto tentaram a Cristo (1Co 10.9).
“Não seria melhor voltarmos ao Egito? E diziam uns aos outros: Constituamos um líder e voltemos ao Egito” (Nm 14.3,4). Esse foi o afastamento de coração entre eles e Jeová. E um risco semelhante estava assaltando os cristãos hebreus. Eles foram tentados a retornar a Moisés e à Lei, deixando Jesus, o Senhor, por causa da perseguição e dos perigos do caminho para Seu reino milenar.
A fé amolece o coração; a incredulidade o endurece.
“Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (Hb 3.13).
O remédio a ser oposto a esse perigo é uma constante exortação de uns aos outros. Quanto quer que dure o perigo da queda, esse é o período que Deus chama de Hoje. “Hoje não endureçais vosso coração”. Estamos em constante perigo; apliquemos constantemente essa arma da exortação. Vigiemos para não deixar de confiar em Deus e para não retrocedermos com medo dos inimigos a serem encontrados, assim perdendo o dia de especial glória para o qual fomos chamados. Busquemos o prêmio de nosso chamado. Busquemos “em primeiro lugar o reino de Deus e sua [ordenada] justiça” como o meio para isso (Mt 6.33).
Aquele que ouve a Palavra de Deus não deve endurecer o coração. A fé amolece o coração; a incredulidade o endurece. A fé nos faz tremer de Sua Palavra; a incredulidade faz pouco das promessas e dos avisos do Senhor. “Desprezaram a terra aprazível; não creram na Sua palavra” (Sl 106.24). Quando os israelitas foram mandados a subir, eles não foram, apesar de Deus estar com eles. Quando foram proibidos, eles subiram, ainda que Deus estivesse contra eles. Tudo vai bem conosco quando reverenciamos a autoridade de Deus manifestada em Sua Palavra. Mas permanecer em oposição a toda ordenação Dele é perigoso. O pecado se espalha pela alma como um câncer. Nós podemos nos fazer de surdos às ameaças de Deus, mas, por fim, elas se provarão verdadeiras. Podemos nos encorajar ou consolar com o número daqueles que, como nós, desobedecem; mas a multidão dos desobedientes em Israel era teve desculpa. Seiscentos mil homens, e um igual número de mulheres, pereceram: foram apenas dois que entraram.
Essa palavra de advertência é também como um espelho para nós na história apresentada. Calebe acalma os murmúrios dos israelitas diante de Moisés, e exorta-os a subirem de uma vez e possuírem a terra. Mais tarde, Calebe e Josué exortam o povo a obedecer; mas a multidão furiosamente resiste ao apelo e clama que os dois fiéis sejam apedrejados. Então, toda esperança de restauração do povo se vai, quando a exortação é rejeitada e o coração está endurecido a ponto de procurar a morte dos servos fiéis. O pacto de Deus, assim, vai adiante contra os descrentes e rebeldes, e, enquanto eles tentam, presunçosamente, subir, são abatidos diante do inimigo, pois o Senhor não estava com eles. Quantos estão agora endurecendo-se contra o batismo, “o Reino Pessoal”, e a recompensa segundo as obras!
Notas
1O autor acredita que Paulo, chamado de “o apóstolo”, é o autor de Hebreus. Essa é a opinião mais comum entre os cristãos, mas não é unânime. (N. do R.)
2É notável que a referência aos capítulos 13 e 14 ocorra logo após a referência, em Hb 2.2, a Moisés como o “servo fiel” em Nm 12. (N. do E.)
3Eis aqui uma pista de “Meu descanso”. Eis aqui uma intimação do dia milenar, quando toda a terra será cheia da glória de Deus e o “Filho do homem” será seu centro (Sl 8). (N. do E.)
4Nos três versículos citados, as mesmas palavras gregas são usadas, apesar da diferente tradução em cada um deles. (N. do R.)